sexta-feira, 23 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13182: Notas de leitura (593): "O Eco do Pranto - A criança na poesia moderna guineense", recolha e coordenação de António Soares Lopes (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Novembro de 2013:

Queridos amigos,
Conforme anota Leopoldo Amado na introdução, uma plêiade de jovens poetas entrou em cena no período que precede a independência guineense e nela vai viver as primeira décadas, são estros líricos que apontam para novas direções e, de um modo geral, a criança, em metáfora, é a tocha que ilumina os caminhos sombrios daqueles tempos de derrisão e múltiplas derrotas do sonho coletivo em tempos melhores, sonhos do desenvolvimento, da criatividade.
Tal como Cabral dizia que as crianças eram as flores da luta dos independentistas, estes poetas agarram-se à ternura e à inocência ofendidas para acender o rastilho da esperança, às crianças tudo se deve prometer, têm o futuro por sua conta.

Um abraço do
Mário


O Eco do Pranto:
A criança na poesia moderna guineense

Beja Santos

“O Eco do Pranto, A criança na poesia moderna guineense” é uma recolha e tem coordenação de António Soares Lopes, prefácio de Leopoldo Amado, Editorial Inquérito, 1992. Ao tempo, era pertinente a observação de Leopoldo Amado de que a poética guineense ainda estava profundamente marcada pela temática revolucionária, uma constante em obras como a de Vasco Cabral e Amílcar Cabral. A geração subsequente à independência tornou mais amplo o leque temático, e chegados os anos de 1990 era já possível pôr em coletânea poemas dedicados à criança, mesmo com ligações ao período libertador e ao tratamento poético, por vezes melancólico, dos estados de deceção pelo país à deriva, mais pobre e com elevado sentido de derrotismo. A coletânea abre as hostilidades com Agnelo Regalla, jornalista e político. Ele é autor da poesia “O Eco do Pranto”.

Associando Amílcar Cabral à expressão que as crianças eram as flores da luta em curso, dedicou ao líder assassinado um poema que assim se inicia:

No chão vermelho
Do teu sangue, camarada,
Caem como gotas de orvalho
As lágrimas sinceras da dedicação.
As flores da nossa luta
Que tu com carinho plantaste
Estão a desabrochar
Em gargalhadas infantis


- O poema “Saudade” é de 1973 e correlaciona a luta com o futuro melhor para as crianças:

Sinto… A amargura dos que vão
Na onda dos emigrados.
Sinto também,
A secura nos meus lábios
E o último prazer daquele beijo
Na tua face, Mãe.
Na minha bagagem,
Só roupas e alguns livros,
A tua fotografia
o sofrimento de um Povo escravo.
Trago ainda comigo
A recordação das crianças
Com fome e sem escola.
Estou a vê-las
Com cestos à cabeça,
E o passo apressado
De quem tem a noção do tempo;
E assim lá vão…
São homens pequeninos,
Sonhando com livros,
Brinquedos e jogos, como todas as crianças.


- António Soares Lopes, jornalista, denuncia no seu poema “Teto do Silêncio” as degradantes condições de vida da criança:

Ergo a minha voz
e firo o teto do silêncio
Nego a morte de crianças
porque há míngua de medicamentos.

Na angústia
liberto o verbo
mordo o pólen da desgraça
que graça
nesta África desventurada
em obra
e graça
subdesenvolvendo-se.
............

Exorcizo o paludismo
apeio a poliomielite
amputo a desgraça
encho a taça de ternura
e fica a graça da criança
florescendo a vida.


Conduto de Pina, técnico de artes decorativas, no seu poema “Criança” exalta a inocência, a candura, a promessa de amanhã radiosos, verseja em moldes clássicos:

Não sabes odiar, não sabes desprezar
Só queres criancinha, amigos arranjar
Na tua inocência, na tua espontaneidade
Dizes o que ouves, p´ra um novo amigo cativar.


- Félix Sigá, músico e compositor, dirige-se ao filho, pioneiro, acalenta-o com esperança em tempos de tanta desorientação:

Não deites lágrimas no meu pranto
............

Com liturgias frustradas
Esvaem-se idolatrias
por pseudo-mitos
E este Povo martirizado
embrenha-se sempre
pelas veredas do PAIGC
Na senda do progresso e felicidade
para sua e tua gerações


Hélder Proença, deputado escritor e responsável político, escreve uma vibrante elegia intitulada “O baque do pranto em dez poemas com terra e lágrimas”, é uma construção rigorosa e clássica, como se exemplifica

Não era dia nenhum
quando o pêndulo emudeceu
e o sorriso murchou
na flor da idade.
Não era tarde nenhuma
aquela hora
em que não se ouvia
a tua respiração.


- Jorge Cabral, diplomata de carreira, é portador de uma lírica luminosa, ritmada, cândida, pronta a ser soletrada na própria escola, como se exemplifica com o seu poema “Bom Dia, Menino”:

Bom dia, menino

Agora que saíste
vencedor
da tua primeira luta
pela vida

Sê bem-vindo
e perdoa-nos
pela imperfeita herança
deste presente amargo e fugaz feito
de esperança e ilusão
de jardins por regar
e corações por limpar
de penumbra por iluminar
e prantos por secar
de dor por consolar
e sonhos por realizar
de miséria por aliviar
e morte por ressuscitar

A coletânea inclui ainda poemas de Mariana Ribeiro, Pascoal D’Artagnan Aurigemma e Vasco Cabral. Enfim, um retrato das gerações mais jovens associadas à luta pela independência e amargados pelos sonhos desfeitos.
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13162: Notas de leitura (592): "Operação Mar Verde" em banda desenhada, por A. Vassalo (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13181 - Agenda cultural (317): «Toda a China» (Vol. II), de António Graça de Abreu: sessão de lançamento, dia 26 de Maio, às 18h30, na Livraria Bertrand, Picoas Plaza, Lisboa. Convite especial aos camaradas da Tabanca Grande


Convite para o lançamento do 2º volume do livro "Toda a China", do António Graça de Abreu. O 1º volume foi lançado em 22/10/2013, conforme notícia dada no nosso blogue

1. Mensagem, de 21 do corrente, do nosso camarada 
Antonio Graca de Abreu: [, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74]


Meu caro Luís

Espero-te reabitado, com essas ancas e pernas capazes de correr pelo mundo. Ainda vamos um dia os dois, ou com um grupo de malta boa, a pé, até à Guiné.

Tenho mais um livro pronto, é o Toda a China II. Peço-te que publiques a notícia do lançamento no blogue.

É sempre bom ter a companhia dos ex-camaradas da Guiné nestes eventos. Dá-me mais força e alegria.

De resto neste segundo volume de tantas viagens pela China falo da Guiné. Transcrevo, da pag 73 :

"Outra vez os enormes atalhos da China.

24 horas certinhas de viagem desde Lisboa, (via Munique e Pequim) para Harbin, capital da província de Heilongjiang, a mais setentrional de todas as províncias chinesas,

paredes meias com a Sibéria Oriental russa. Um velhinho Boeing 737 da China Eastern, a companhia aérea destas paragens, faz as duas horas do voo final desde Pequim até Harbin. Lá em baixo, um vasto tapete de nuvens que escurecem com o avançar para norte e com o cair da tarde. Ao descer, acabamos de entrar por dentro das nuvens, com o avião a voar meio em parafuso, quase às arrecuas em busca do aeroporto de Harbin. Nuvens e mais nuvens negras, poços de ar e mais poços de ar, chuva e mais chuva. As cartilagens do avião gemem, rangem de velhice. Vai-se soltar uma asa, cair um motor. Perdi todos os medos de viajar de avião nos recuados tempos do meu Comando de Operações na guerra da Guiné, 1972/1974, nos DO 27, nos Noratlas, nos Dakotas, até nos helis, os fantásticos Alouette 3 voando a rapar sobre rios, bolanhas e florestas. Agora, Maio de 2013, não é exactamente receio mas uma acre sensação de desconforto.

De repente, no meio de tanta chuva, as nuvens acabam, ficam por cima e planamos a menos de um quilómetro do solo. Em baixo, corre o rio Songhua bordejado por diques, mais os campos de terra negra, e o aeroporto encharcado em água.Estou no norte da Manchúria, na província chinesa que dá pelo nome de Heilongjiang黑龙江 que significa “rio do Dragão Negro”. O rio, também conhecido como Amur, faz a fronteira com a Rússia e o esturjão é o mais famoso habitante das suas águas frias, porque as ovas do peixe são aqui transformadas, dizem, no melhor caviar do mundo. A província de Heilongjiang é cinco vezes maior do que Portugal e, tal como toda a Manchúria, só passou a fazer parte do Império chinês a partir de 1644 quando os manchus se assenhorearam do poder imperial em Pequim e depois em toda a China.
(...)"


Abraço forte,

António Graça de Abreu

2.  Press-release da editora Guerra & Paz, enviado a 15 do corrente pelo autor:


«Toda a China» constitui o primeiro olhar completo, global e compreensivo, de um português sobre a China. Depois de apresentar o primeiro volume em Outubro, António Graça de Abreu completa agora «Toda a China», um guia indispensável, que reúne as múltiplas vivências de 37 anos de viagens e estadas na China, tão grande como a Europa. Um título que chega às livrarias a 21 de Maio.

Pouquíssimos estrangeiros e não muitos chineses conhecerão o mundo chinês de forma tão exaustiva: são quase quatro décadas de extraordinárias jornadas contidas em livro.

Com uma escrita descomplexada e fascinante e com fotografias do autor, «Toda a China» é mais do que um guia de viagens. É um livro que nos dá a conhecer a história, o património cultural, as transformações sociais e políticas e a forma de vida da China. Seja pelas grandes cidades ou pelo infindável campo chinês.

De avião, por comboio, barco, autocarro, automóvel, mota, bicicleta, camelo ou teleférico, António Graça de Abreu percorreu 9,6 milhões de km2, 22 províncias, cinco regiões autónomas e quatro municípios centrais, além de Macau, Hong Kong e Taiwan. Um mundo inteiro que o autor lhe dá a conhecer em dois volumes de «Toda a China».

A sessão de lançamento de «Toda a China» (Vol.II) decorre no dia 26 de Maio, às 18h30, na Bertrand do Picoas Plaza, em Lisboa. Conta com apresentação da Prof.ª Dr.ª Annabela Rita, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Grata pela atenção,

Vânia Custódio | Comunicação
–––––––––––––––––––––––––



R. Conde Redondo, 8, 5.º Esq.
1150-105 Lisboa | Portugal
Tel. (+351) 213 144 488
Tlm. (+351) 913 050 026
Guerra e Paz

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Nota do editor:

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13180: Convívios (599): Rescaldo do XIX Encontro do pessoal do BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71), realizado em Ançã - Cantanhede no passado dia 17 de Maio de 2014 (César Dias)

1. Mensagem de César Dias (ex-Fur Mil Sapador da CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71), com data de 21 de Maio de 2014: 

Amigo Carlos
Aqui estou novamente a solicitar-te, caso possa ser, que publiques mais este Convívio do BCAÇ2885. 

Teve lugar mais uma vez na Quinta do Pingão, em Ançã - Cantanhede.
Apesar da situação actual, conseguimos reunir neste encontro 112 pessoas, que além de conviverem, prestaram homenagem aos 6 camaradas que nos deixaram durante este último ano.

Ficou combinado que o próximo será em Arganil.

Envio-te algumas fotos onde podes encontrar alguns camaradas da Tabanca Grande.

Grato pela tua atenção, recebe um forte abraço.
César Dias


Pessoal da CCAÇ 2588/BCAÇ 2885 

Pessoal da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885 

Pessoal da CCS/BCAÇ 2885 



Provavelmente dois camaradas da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885 acompanhados do seu Comandante, ex-Cap Mil Jorge Picado - Legenda de CV

Fotos editadas por CV
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Nota do editor

Último poste da série de 20 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13170: Convívios (598): Rescaldo do Encontro do pessoal da CCAÇ 816, realizado no passado dia 10 de Maio de 2014 nas Caldas das Taipas (Rui Silva)

Guiné 63/74 - P13179: Efemérides (158):Inauguração de um Monumento aos Combatentes do Ultramar do Concelho de Portimão, levado a efeito no passado dia 9 de Abril de 2014 (Arménio Estorninho)

1. Em mensagem do dia 12 de Maio de 2014, o nosso camarada Arménio Estorninho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, IngoréAldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), enviou-nos a sua reportagem da inauguração de um bonito Memorial aos Combatentes do Concelho de Portimão.

O Núcleo de Lagoa/Portimão da Liga dos Combatentes, comemorou várias efemérides e uma inauguração, muito importantes na vida dos Portugueses e dos Combatentes Lagoenses e Portimonenses.

Assim, no passado dia 9 de Abril, cerca das 10 horas, em Lagoa no Jardim do Combatentes da Grande Guerra, onde se situa o Monumento aos Combatentes do Ultramar, foi levado a efeito uma comemoração preleminar do Dia do Combatente “Batalha de La Lys.”

Foto 1 – Lagoa – Jardim dos Combatentes da Grande Guerra – Parada junto ao Monumento aos Combatentes do Concelho de Lagoa. 

Foto 2 – Lagoa – Jardim dos Combatentes da Grande Guerra – Major Oliveira do RI 1 - Tavira; Dr. Águas da Cruz, Presidente da Assembleia Municipal de Lagoa e Sr. Jaime Marreiros, Presidente do Núcleo de Lagoa-Portimão. 

Foto 3 – Lagoa – Cemitério Municipal – Sarg. Chefe Ref. Fernando Rodrigues depositando flores na Campa de Família do Domingos Ramos, Capitão da FA POOC.


Nesta mesma data, pelas 15 horas, aconteceu um dos mais importantes acontecimentos da vida do Núcleo de Lagoa/Portimão da Liga dos Combatentes. Um sonho concretizado, ou seja, o da inauguração do Monumento ao Combatente, o qual é um marco decisivo de demonstração de vivacidade e de presença deste Núcleo na Cidade de Portimão. O local de implantação do Monumento é a Rotunda do Sapal, em frente ao edifício da Câmara Municipal de Portimão.
Também marcaram a sua presença: Associação de Paraquedistas do Algarve – Albufeira; Delegação de Fuzileiros do Algarve; Núcleo de Faro; Núcleo Lagos e Núcleo de Olhão da Liga dos Combatentes. 

Foto 4 – Portimão – O Presidente da Comissão de Honra ao Monumento, Coronel Ref. Jaime Marques, dando início à Inauguração e Homenagem ao Combatente Portimonense.

Foto 5 – Portimão – Implantação do Monumento aos Combatentes do Concelho de Portimão. Na cerimónia de inauguração do Monumento, o Presidente do Núcleo Lagoa/Portimão da LC, Sr Jaime Marreiros, discursou e começou por agradecer e mencionar a presença de todos. 

Foto 6 – Portimão – Inauguração do Monumento ao Combatente – O Presidente do Núcleo de Lagoa-Portimão, Sr. Jaime Marreiros, tecendo considerações. 

Srª Presidente da Câmara Municipal de Portimão, Drª Isilda Gomes; 
Sr. Presidente da Assembleia Municipal de Portimão, Dr. Francisco Florêncio; 
Sr. Presidente da Direcção Central da Liga dos Combatentes, Gen. Chito Rodrigues; 
Srs. Presidentes de Câmaras; 
Srs. Autarcas; 
Entidades Civis Militares e Religiosas; Srs. 
Convidados; 
Combatentes…! 

Foto 7 – Portimão – Panorâmico da assistência na inauguração do Monumento ao Combatente. 

Hoje é um dia histórico para os combatentes do Ultramar, suas famílias, e para a Cidade de Portimão. 
Estamos aqui a comemorar duas efemérides e uma inauguração, muito importante na vida dos Portugueses e dos Combatentes Portimonenses: 
Em 28 de Julho de 1914 inicia-se a Primeira Grande Guerra Mundial, comemorando-se este ano o centésimo aniversário desse acontecimento; 
Comemora-se o 40º Aniversário da Revolução do 25 de Abril; 
Hoje, aqui e agora, comemora-se a inauguração deste Monumento aos Combatentes Portimonenses na Guerra do Ultramar. 

… Para os Portimonenses passará também a ser um dia de comemoração pela construção do Monumento que recorda os seus heróis desconhecidos, caídos em defesa da Pátria, honrando as Forças Armadas de Portugal e a Cidade que os viu nascer. 

Foto 8 – Portimão – Memorial dos Combatentes naturais do Concelho de Portimão, falecidos na Guiné. 

Foto 9 – Portimão – Memorial dos Combatentes naturais do Concelho de Portimão, falecidos em Angola. 

Foto 10 – Portimão – Memorial dos Combatentes naturais do Concelho de Portimão, falecidos em Moçambique. 

…Seguindo-se uma dissertação sobre agradecimentos a Sócios do Núcleo e a várias Individualidades, sem os quais este Monumento não seria possível:
- Sócio José Rosa Sampaio, na pesquisa de nomes; 
- Sócio José Alberto Lélis Cruz, na construção da obra; 
- Sócio Francisco Vieira da Silva, na disponibilidade de colaboração; 
- Coronel Jaime Sequeira Marques, por presidir à construção da obra; 
- Presidente da Câmara M. de Portimão Drª Isilda Gomes, colocou ao dispor do núcleo toda a parte logística que foi possível; 
- Ao ex-Presidente da C.M. de Portimão Dr. Manuel da Luz, por abrir as portas para um processo de instalação; 
- (Dirigindo-se aos familiares presentes, (em momento de comoção disse) sei quão difícil e doloroso é perder aqueles que nos são tão queridos e que partiram na flor da vida em defesa da Pátria. Estejam eles onde estiverem estarão sempre nos nossos corações e nas nossas memórias. 
… Não posso terminar sem recordar com saudade um homem grande portimonense que foi Presidente deste Núcleo, que foi um militar íntegro, humanista, reconquistador de Nambuangongo, Héroi Nacional e que hoje estará satisfeito por saber que foi feita justiça nesta Cidade. 
Bem haja Sr. Coronel Armando da Silva Maçanita. 

Viva o Núcleo Lagoa/Portimão…! 
Viva a Liga dos Combatentes…! 
Viva Portimão…! 
Viva Portugal…!

Foto 11 – Portimão – O Presidente de Honra do Núcleo Lagoa/Portimão, Sr. Paulo Neto, tecendo o historial da vida do Núcleo de Portimão. 

O Presidente de Honra do Núcleo de Lagoa/Portimão da LC, Sr. Paulo Júdice Neto, tomou a palavra para tecer o historial da vida do Núcleo de Portimão, desde a data de 1987/88 em que um grupo de Combatentes o decidiu criar.
… O primeiro requisito para qualquer organização é o Presidente. Assim, quando a grande figura de Militar e Portimonense, Cor. Armando Maçanita nos disse sim, tivemos resolvida a questão.
… A Liga de seguida criou o Núcleo de Portimão que começou a funcionar predominantemente, em mesa do estabelecimento “Casa Inglesa.”
… Entretanto funda-se uma Sede provisória, cedida gratuitamente em prédio cheio de irregularidades e dívidas às Finanças. 
… Mas não se pode forçar a natureza das coisas, nem a qualidade das pessoas. Fomos chamados à realidade do encerramento da Sede, selada a porta por decisão Judicial ou Fiscal. 
… Por respeito ao Coronel Maçanita, que quis persistir, e também por nosso brio pessoal, transferimo-nos para Lagoa, onde tínhamos a nossa mais firme base de apoio. Estava encerrado o primeiro ciclo da vida deste Núcleo. Muito obrigado por me terem escutado…! 

Foto 12 – Portimão – General Chito Rodrigues Presidente da DC da Liga dos Combatentes, discursando. 

O General Chito Rodrigues Presidente da DC da Liga dos Combatentes, teceu algumas considerações sobre as dificuldades exístentes em muitos ex-Combatentes, na falta de apoio na saúde, na comida, no lazer dos sem abrigo e os que se batem pela sua perene…
… Têm aumentado os combatentes e as famílias carenciadas e vulneráveis e, consequentemente, tem aumentado o esforço de apoio indespensável;
Hoje é um dia de festa, de luta, de coragem e de determinação da honra da defesa do País… 
… A 1ª Grande Guerra era por seis dias e levou cinco anos. Hoje Militares Portugueses batem-se no Afeganistão, na Bósnia e outros teatros de operações; 
Deve dar-se um momento de tolerância àquele Militar que foi fuzilado porque passou para o inímigo… 
… Cristo do capim são todos aqueles Militares que viram os Camaradas morrerem. 

Foto 13 – Portimão – Em Parada um Pelotão do Regimento de Infantaria de Tavira (RI 1). 

O Poeta Popular Nautílio Martins, em lembrança do seu irmão, o 1.º Cabo José Manuel Lopes Martins, falecido em combate na Guiné, em 1966, fez a leitura de uma quadra, sendo extraída uma estrofe:

Foto 14 – Portimão – O Poeta Popular Nautílio Martins, lendo a quadra com o titulo “Lembrança de Um Irmão.” 

Foste um dos milhares 
Perdidos pelos familiares 
Numa guerra incompreendida 
Cumprindo aquilo que lhes ordenaram 
Com heroicidade lutaram 
E deram a própria vida.

Que a paz e a compreensão 
Sejam valores da Nação 
E na Pátria nossa terra 
Nunca em algum momento 
Se erga um monumento 
A lembrar uma nova guerra.

Foto 15 – Portimão – Monsenhor Dr. Coronel Luís Cupertino, no uso da palavra.

Coronel na Ref. Capelão Luís Cupertino teve a sua intervenção tecendo várias lembranças sobre os acontecimentos havidos aquando como Alferes destacado no Batalhão 1858, Guiné 1965/67;
Como Tenente no Batalhão 12 no Comando de Sector de Carmona, Angola 1969/72;
No Posto de Capitão Capelão exerceu funções de Professor da Academia.

Foto 16 – Portimão – A Presidente da Câmara Municipal de Portimão, Drª Isilda Gomes, na sua intervenção.

 A Presidente da Câmara Municipal de Portimão, Drª Isilda Gomes, tendo tomado a palavra, começou por agradecer a presença de todos na Cidade de Portimão, para assistirem à inauguração do Monumento ao Combatente;
... Dissecando sobre os Militares que estiveram nas várias frentes de guerra, evocando os jovens que deram a sua vida e que ainda é do antes do 25 de Abril, tendo perdido muitos amigos;
…. Seu avô combateu na Batalha de La Lys, tendo escrito em verso o seu passado;
…. Não vamos apelar às guerras, agora são novas as dificuldades e vamos vencê-las.

Viva Portimão…!
No fim da cerimónia cantou-se o Hino Nacional.

Com um abraço
Arménio Estorninho
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Nota do editor

Último poste da série de 22 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13177: Efemérides (157): Como é que a revista Plateia e o seu correspondente local, João Benamor, 1º sargento e cartunista, "viram" o baile dos finalistas da Escola Técnica de Bissau em 5/6/1965... e as perturbações da "ordem pública", provocadas por uma "bando de energúmenos", possivelmente influenciados pelos relatos das tropelias dos "teddy boys" de Liverpool... (Virgnio Briote)

Guiné 63/74 - P13178: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (6): A três semanas da nossa festa de convívio anual, temos 70 inscrições... e um passatempo para saber "quais são as cinco frases de que os grã-tabanqueiros mais gostam e que melhor caraterizam o espírito da Tabanca Grande"... Deixa um comentário ou manda um mail até aos próximos quinze dias...

I. Amigos e camaradas: 


No dia 14 de junho, em Monte Real, por ocasião do IX Encontro da Tabanca Grande, gostaríamos de poder anunciar aos participantes quais são as 5 (cinco) frases que melhor nos definem, votadas por  todos aqueles que se reconhecem no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné...  

Fica aqui o desafio a cada um de vocês, leitores, registados ou não no blogue, para escolherem as 5 (cinco) frases de que mais gostam, da lista a seguir, numerada de 1 (um) a 25 (vinet e cinco).  

Podem votar na caixa de comentários ou mandar um mail (luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com).

Só serão válidas as respostas de leitores identificados pelo nome e apelido, ou por endereço de email válido. A resposta pode ser dada de maneira simpes e expedita.  

Exemplo: "As frases de que mais gosto são (máximo,  cinco)... 1, 4, 8, 17, 24".

Tanto possível, as escolhas devem ser públicas, a menos que o votante peça nos peça para não ser  divulgado o nome... Também aqui, neste passatempo inocente,  se aplica a frase  "17. Os camaradas da Guiné dão a cara, não se escondem por detrás do bagabaga"... Faremos depois o apuramento dos resultados, usando para o efeito a folhinha Excel agora tão na moda em Portugal... 

Vinte e cinco frases que ajudam a distinguir um grã-tabanqueiro, isto é,   um leitor do nosso blogue que se identifica com a "cultura" da Tabanca Grande, independentemente de estar ou não estar (ainda) registado como membro... 

1. O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!

2. Lembra-te, ó português: bandeira dos cinco pagodes, é na loja do chinês.

3. Não deixes que sejam os outros a contar a tua história por ti.

4. Cabral só há um, o de Missirá e mais nenhum.

5. Camarada e amigo... é camarigo!

6. Dez anos a blogar, pois é!, 

    são cinco comissões na Guiné!

7. Camarada não tem que ser amigo:
    é o que dorme no mesmo buraco, na mesma cama, no mesmo abrigo.

8. Para que os teus filhos e netos não digam, desprezando o teu sacrifício:  

    " Guiné ? Guerra do Ultramar ? Guerra Colonial ? Não, nunca ouvi falar!"

9. Uma vez combatente, combatente para sempre!

10. Desaparecidos: aqueles que nem no caixão regressaram.

11. Os filhos dos nossos camaradas, nossos filhos são.

12. Sim, senhor ministro, somos uma espécie em vias de extinção...  

      E já demos instruções ao último que morrer,  para ser ele próprio a fechar a tampa do caixão.

13. Camarada, que a terra da tua Pátria te seja leve!

14. Ainda pior do que o inferno da guerra, 

      é o inverno do esquecimento dos combatentes...

15. Rapa o fundo do teu baú da memória...

16. Recorda os sítios por onde passaste, viveste, combateste, amaste, sofreste, viste morrer e 

      matar,  mataste, e perdeste, eventualmente, um parte do teu corpo e da tua alma...

17. Os camaradas da Guiné dão a cara, 

      não se escondem por detrás do bagabaga...

18. Tabanca Grande: onde todos cabemos com tudo o que nos une  

      e até com aquilo que nos separa.

19. Partilhamos memórias e afetos.

20. Lá vamos blogando, recordando, (sor)rindo, 

      e às vezes cantando, gemendo e chorando!

21. E também lá vamos facebook...ando e andando!

22. Sabemos resolver os nossos conflitos... sem puxar da G3!

23. A 'roupa suja' lava-se na caserna, não na parada.

24. 'Periquito' salta pró blogue, que a 'velhice' já cá está!

25. 'Um blogue de veteranos, nostálgicos da sua juventude' (René Pélissier dixit)



II. A três semananas da nossa festa, em Monte Real, dia 14 de junho, atingimos as 70 inscrições... Vamos lá,. retardatários, não deixem para a última hora... 

Camarada, mesmo se não puderes, por qualquer razão (que a gente compreende e aceita), diz-nos que "ESTÀS VIVO", faz a tua prova de vida e desejo-nos um "BOM DIA" no dia 14 de junho. (Podes usar o email ou a caixa de comentários):

Alcídio Marinho e Rosa (Porto)
António Faneco e Tina (Montijo / Setúbal)
António Fernando Marques e Gina (Cascais)
António José Pereira da Costa e Isabel (Mem Martins / Sintra)
António Manuel Sucena Rodrigues + Rosa Pato, António e Ana Brandão (Oliveira do Bairo)
António Maria Silva (Cacém / Sintra)
António Martins de Matos (Lisboa)
António Sampaio & Clara (Leça da Palmeira / Matosinhos)
António Santos, Graciela & mais 7 do clã (Caneças / Odivelas)
António Sousa Bonito (Carapinheira / Montemor-o-Velho)

Carlos Vinhal & Dina (Leça da Palmeira / Matosinhos)

David Guimarães & Lígia (Espinho)
Delfim Rodrigues (Coimbra)

Eduardo Campos (Maia)
Eduardo Jorge Ferreira (Vimeiro / Lourinhã)

Fernando Súcio (Campeã / Vila Real)
Francisco Palma (Estoril / Cascais)

Hugo Guerra, Ema e neto Daniel (Marvila / Lisboa)
Humberto Reis e Joana (Alfragide / Amadora)

Joaquim Luís Fernandes (Maceira / Leiria)
Joaquim Mexia Alves (Monte Real / Leiria)
Jorge Canhão & Maria de Lurdes (Oeiras)
Jorge Loureiro Pinto (Agualva / Sintra)
José Barros Rocha (Penafiel)
José Casimiro Carvalho (Maia)
José Louro (Algueirão / Sintra)
José Manuel Cancela e Carminda (Penafiel)
Juvenal Amado (Fátima / Ourém)
Júlio Costa Abreu e Richard (Holanda)

Luís Encarnação (Cascais)
Luís Graça & Alice (Alfragide /Amadora)
Luís Moreira (Mem Martins / Sintra)

Manuel Augusto Reis (Aveiro)
Manuel Joaquim (Agualva / Sintra)
Manuel Resende & Isaura (Cascais)
Mateus Oliveira e Florinda (Boston / EUA)
Miguel Pessoa & Giselda (Lisboa)

Raul Albino e Rolina (Vila Nogueira de Azeitão / Setúbal)

Vasco da Gama (Buarcos / Figueira da Foz)
Virgínio Briote e Irene (Lisboa)

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Nota do editor:

Postes anteriores da série > 


16 de maio de 2014 > Guiné 63774 - P13150: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (4): Sondagem: Resultados definitivos (n=74): cerca de 40% vão ao encontro, sozinhos ou acompanhados; os restantes ainda não sabem (28%) ou não irão mesmo (32%)... A um mês do encontro temos 51 inscrições

12 de maio de 2014 > Guiné 63774 - P13130: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (3): Sondagem: Resultados preliminares (n=52): cerca de metade dos nossos respondentes têm intenção de ir a Monte Real, no dia 14 de junho... E já temos 47 inscrições de magníficos grã-tabanqueiros e seus gloriosos acompanhantes!

8 de maio de 2014 > Guiné 63/74 – P13114: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (2): Respondam à nossa sondagem, inscrevam-se já e surpreendam-nos com mais um razão a acrescentar às 10 razões fundamentais por que devemos estar todos juntos, em Monte Real, no próximo dia 14 de junho...

30 de abril 2014 > Guiné 63/74 – P13074: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (1): 10 razões para estarmos todos juntos, em Monte Real, no dia de 14 de junho de 2014, sábado, das 10h às 20h…

Guiné 63/74 - P13177: Efemérides (157): Como é que a revista Plateia e o seu correspondente local, João Benamor, 1º sargento e cartunista, "viram" o baile dos finalistas da Escola Técnica de Bissau em 5/6/1965... e as perturbações da "ordem pública", provocadas por uma "bando de energúmenos", possivelmente influenciados pelos relatos das tropelias dos "teddy boys" de Liverpool... (Virgnio Briote)







Recorte(s) da página da revista "Plateia", numa das suas edições semanais (c. julho de 1965), onde na crónica de João Benamor, 1º sargento do exército, e conhecido cartunista, se dá um inusitado destaque ao "baile dos finalistas", na Associação Comercial  (*)... Os desacatos que ocorreram são vistos como um "caso de polícia". Não há nenhuma referência a "militares", muito menos a "tropas de elite"... Mas, lembra o cronista, os desacatos continuaram na via pública e, o que era mais grave, "a uma dezena sde metros da entrada principal do palácio do governador provincial", gen Arnaldo  Schulz (1910-1983), o primeiro a acumular os cargos de governador e comandante chefe (1964-1968)...

Presumimos que não tenha havido qualquer intervenção da censura, já que a revista "Plateia" deveria ser considerada "inócua"... Era, todavia, uma das revistas da metrópole mais lidas pelos nossos militares no Ultramar.


Imagem digitalizada e gentilmente disponibilizada pelo Virgínio Briote, um histórico do  nosso blogue (um dos primeiros comandos do CTIG, Brá, 1965/66), nosso editor jubilado, e que participou nestes acontecimentos... Titulo da responsabilidade do editor. Edição de L.G.

[Foto à esquerda: fur mil  João Parreira, cap milç  Maurício Saraiva, alf mil Virgínio Briote e fur mil Fernando Marques de Matos... Em BRá, setembro de 1965...Foto de V.B. O Matos, comandante de secção do Gr Cmds Diabólicos é, nem mais nem menos, um conterrâneo meu, lourinhanense, grande amigo do meu pai e meu amigo recente, que me fala sempre com grande apreço e admiração do nosso VB, seu antigo comandante].


PS - A referência do correspondente da "Plateia", em Bissau,  aos "teddies", "teddy-boys", britânicos, não deixa de ser hilariante!... Sobre a Plateia, "revista semanal de espectáculos" ver aqui:  publicou-se desde 1951 até 1986:

(...) Revista semanal (no início com periodicidade quinzenal), com um formato generoso, com muitas fotografias, a preto-branco, e diversos artigos relacionados com o mundo do espectáculo nacional e estangeiro. Na sua fase inicial tinha normalmente 32 páginas e mais tarde passou para as 70. Na época e durante muito tempo, era uma das janelas onde era permitido contemplar, subtraídas das suas roupinhas exteriores, as mais belas mulheres do mundo do entretenimento, da música, cinema e televisão. Eram frequentes as capas ou posters centrais (separatas) com estrelas de Hollywood.

A “Plateia” teve um percurso de grande sucesso, sobretudo nas primeiras duas décadas da sua publicação, mas terminou oficialmente em 1986, já com mais de um milhar de edições, certamente pelos problemas decorrentes das grandes alterações do mercado editorial do género. (...)

Embora semelhante em muitos aspectos na matriz editorial, a “Plateia”, mais elitista, até porque mais cara, fez um percurso de sucesso lado a lado com outra estrela da companhia, a revista “Crónica Feminina”, lançada uns anitos mais tarde (1956). Todavia, também esta acabou por morrer pelos anos 80. (...)


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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de maio de 2014  > Guiné 63/74 - P13176: Efemérides (153): Ainda a propósito do baile dos alunos finalistas da Escola Técnica de Bissau na Associação Comercial, Industrial e Agrícola, em 5 de junho de 1965: Apanhei 3 dias de prisão simples, dados pelo comandante militar, brig Gaspar de Sá Carneiro (Virgínio Briote, ex-alf mil cav, cmd, cmdt Gr Cmds "Os Diabólicos", CCmds / CTIG, Brá, 1965/66)

Guiné 63/74 - P13176: Efemérides (156): Ainda a propósito do baile dos alunos finalistas da Escola Técnica de Bissau na Associação Comercial, Industrial e Agrícola, em 5 de junho de 1965: Apanhei 3 dias de prisão simples, dados pelo comandante militar, brig Gaspar de Sá Carneiro (Virgínio Briote, ex-alf mil cav, cmd, cmdt Gr Cmds "Diabólicos", CCmds / CTIG, Brá, 1965/66)


Guiné > Bissau > Quartel General > 24 de agosto de 1965 > Despacho, em papel azul,  do brigadeiro Gaspar de Sá Carneiro,  comandante  militar, punindo com 3 dias de prisão simples o alf mil inf Virgínio Briote, da CCAV 489 [, e na altura, comandente do Gr Cmds "Os Diabólicos", pela sua participação nos incidentes ocorridos na Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Bissau, por ocasião do baile dos alunos finalistas da Escola Técnica de Bissau, em 5 de junho de 1965. Ao alto, no lado esquerdo, o comandante da CCmds / CTIG, sediafa em Brá, o cap art Nuno Rubim, dá conhecimentoao interessado, em 2/9/1965,  do despacho do Comandante Militar.Em baixo, o Virgínio Briote, no mesmo dia, decalara que "tomou conhecimento"...


Fonte: Imagem digitalizada e disponibilizada pelo Virgínio Briote (2014). [Edição e legenda: LG]

1.Troca de emails, com data de ontem, entre o Virgínio Briote 
e o editor L.G.:

(i) 1º mail do Virgínio Briote [, foto à direita, Brá, set 1965]:

Caros Camaradas,

Fiquei muito surpreendido quando hoje ao abrir o blogue deparei com a história passada em Junho de 1965 no baile dos finalistas da Escola Técnica de Bissau. (*)

Passadas estas décadas tenho a dizer que não me sinto nada confortável por ter interrompido a festa dos finalistas. E para completar o assunto envio-vos o despacho do Brigadeiro Sá Carneiro e uma imagem da Plateia daqueles anos, em que o correspondente em Bissau, um 1º Sargento, relata os acontecimentos, documentos que encontrei ainda há poucos meses.

Um abraço a todos do


vb

(ii) Resposta do editor L.G.:

Meu caro Virgínio:

Há coisas nas nossas vidas passadas de que hoje nos arrependemos. Mas eu procuro recusar essa perspetiva. Arrepender ? Não faz sentido... Com 50 anos de diferença, não temos nem podemos ter a mesma leitura dos factos... Felizmente, não houve vitímas mortais (como acontecerá, dois anos depois, entre camaradas páras e fuzos!...) nem, espero bem, reações de stress póstraumático (RSPS)...

Caro amigo e camarada, são os nossos "pecadilhos" de juventude... Quem não os teve, é porque não viu nem viveu...

Os documentos que me mandaste e que eu vou apreciar, posso publicá-los em teu nome ?

Outra coisa: vejo que a saúde está melhor e que vamos ter o privilégio da vossa presença, tua e da Irene, em Monte Real, no dia 14 de junho... Eu cá "andando e recuperando" da minha artroplastia total da anca da perna direita...

Um xicoração. Luis

(iii) 2º mail do Virgínio Briote:

Viva Luís,

Podes publicar, claro. Quando há um ano vendemos a casa que era dos meus pais, perto de Apúlia, tive que arrumar e dar destino à tralha toda que lá havia. E numa mala grande encontrei mais alguma papelada da Guiné. Nem sei como lá foram parar esses papeis. Julgo que a última vez que os vi foi em Bissau...

Vamos gostar de vos ver em Monte Real. Que te adaptes bem às novas suspensões.

Um abraço

vb

PS - Também tenho a ideia que o director da Escola Técnica de Bissau era o Dr. Amaro Pereira (o António Estácio deve tê-lo conhecido bem). Foi este senhor que pôs água na fervura, minutos depois da nossa entrada, e num gesto de grande generosidade aceitou a nossa presença nos trajes em que nos encontrávamos. E eu em conversa com o Godinho lá o convenci a ficarmos para uma dança, agradecer e sair. E não me lembro de ter visto ou ouvido alguém do nosso grupo a discordar. O problema foi depois, fomos ultrapassados pelos acontecimentos e a situação ficou incontrolável.



Guiné > Bissau > Associação Comercial, Industrial e Agrícola > 5 de junho de 1965 >O baile dos alunos finalistas da Escola Técnica de Bissau. Imagem da revista Plateia, de julho de 1965, digitalizada e gentilmente cedida pelo Virgínio Briote.

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Nota do editor:

Vd. poste anterior da série > 21 de maio de 2014 >  Guiné 63/74 - P13171: Efemérides (152): O baile dos alunos finalistas da Escola Técnica de Bissau na Associação Comercial, Industrial e Agrícola, em 5 de junho de 1965: "Alto lá e pára o baile!" (depoimentos de Virgínio Briote, João Parreira e Luís Rainha)

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13175: Lembrete (3): Lançamento do livro "O Corredor da Morte", de Mário Vitorino Gaspar, 22 de maio, às 17h30, no Forte do Bom Sucesso, Belém, Lisboa, com apoio da Liga dos Combatentes e da associação APOIAR





1. Mensagem,  de 11 do corrente, do nosso camarada e grã-tabanqueiro Mário Gaspar [ex-fur mil at art, minas e armadilhas, CART 1659, "Zorba", Gadamael e Ganturé, 1967/68; autor do livro "O corredor da morte", a ser lançado no Forte do Bom Sucesso, Belém, Lisboa, no próximo dia 22 de maio]:


Homem Grande da Tabanca:

Divido o livro em três partes:

(i) a minha operação ao coração e o quanto estive perto da morte, fugindo dela; 

(ii) episódios da minha vida infanto-juvenil, escrita com a beleza de uma poesia dedicada ao bom e ao belo;

(iii)  e a minha história militar e o que pensava e fiz antes da partida para a Guiné para onde fui mobilizado como Furriel Miliciano, Atirador, Especialista de Explosivos, Minas e Armadilhas, na Companhia de Artilharia 1659 (CART 1659), mais conhecida por "Zorba" para Gadamael Porto e Ganturé, desde Janeiro de 1967 a Outubro de 1968. 

E no livro - quase na totalidade - narro operações militares, patrulhas, emboscadas, ataques aos aquartelamentos desde Mejo, Guileje, Gandembel, Sangonhá, Cacoca, Cameconde e Cacine. 

Foco o nosso desespero ao assistir às mortes e aos ferimentos dos nossos camaradas, narro episódios de levantamento - principalmente de minas - do PAIGC e também da montagem e desmontagem de minas, armadilhas e fornilhos não só por mim montadas.

E o livro indica ter existido algo de comum na minha vida: “O Corredor da Morte”:

(i) estive no “corredor da morte”, quando fui sujeito a uma operação cirúrgica ao coração, ficando em coma;

(iii) estive no “corredor da morte”, quando manuseava explosivos, minas e armadilhas; 

(iii) estive no “corredor da morte” quando frequentemente tinha de participar nas emboscadas no famigerado “corredor da morte”, também chamado “corredor de Guileje”, junto à fronteira da ex-Guiné Francesa, hoje Guiné Conacri.

Os intervenientes, portanto Oficiais, Sargentos e Praças não possuem nem rosto nem nome, embora na grande maioria dos casos estejam identificados.

A CART 1659 que tinha como lema “Os Homens não Morrem” era constituída por verdadeiros heróis, aliás como todos os outros jovens que combateram na Guerra Colonial, nas três frentes.

Dos mortos que esta Companhia teve, constam os nomes, dos feridos pensei não os enumerar, o que não é desrespeito.

Depois descrevo a minha abreviada participação na APOIAR – Associação de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas do Stress de Guerra.

Sendo um dos fundadores, iniciei o primeiro mandato, de mais de dois anos como Vogal e Secretário; o segundo mandato, de dois anos como Vice Presidente, e o terceiro e quarto mandato, mais de seis anos como Presidente. Sempre na Direção Nacional. Fui fundador e o primeiro Diretor do Jornal APOIAR.

O Lançamento do Livro “O Corredor da Morte”, da autoria de Mário Vitorino Gaspar,  é no dia 22 de Maio pelas 17H30, no Forte do Bom Sucesso, em Belém – Lisboa.

A mesa de lançamento do livro, terá a seguinte composição:

1 – Preside a Mesa o Presidente da Direção Central da Liga dos Combatentes, General Joaquim Chito Rodrigues;

2 – Professora Ermelinda Caetano fará a apresentação do livro e representará a Associação Cultural e Social dos Seniores de Lisboa – Academia de Seniores de Lisboa;

3 – O Psiquiatra Doutor Afonso de Albuquerque, autor do prefácio do livro,  falará decerto sobre a sua Comissão em Moçambique como Médico, assim como da sua intervenção em trabalhos científicos em Portugal sobre o estudo do Stress Pós-Traumático de Guerra;

4 – Eu, autor do livro;

5 - Jorge Gouveia,  Presidente da APOIAR – Associação de Apoio aos Ex- Combatentes Vítimas do Stress de Guerra.

Envio em anexo o Convite e Cartazes que se encontram expostos em vários locais.

Cumprimentos do Homem da Tabanca Grande

Mário Vitorino Gaspar

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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12947: Lembrete (2): Lançamento do livro "Da Guiné Portuguesa à Guiné-Bissau: Um Roteiro" por Francisco Henriques da Silva e Mário Beja Santos, a ter lugar no Salão Nobre da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, Largo S. Domingos, Lisboa, amanhã, dia 9 de Abril, pelas 18 horas (Francisco Henriques da Silva / Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13174: Tabanca Grande (435): Francisco Monteiro Galveia, a residir em Fronteira, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 616 (Empada, 1964/66), grã-tabanqueiro nº 656

Francisco Monteiro Galveia.
Foto atual

1. Resposta, de ontem,  do Francisco Monteiro Galveia, que passa a ser hoje o membro nº 656 da nossa Tabanca Grande


Aqui estou de novo, Xiko Galveia... A primeira foto foi tirada em Empada na varanda do Posto Administrativo em 1965. Vou procurar enviar novamente uma foto recente (vd. anexo).

Fiz a recruta em Quelus, especialidade em Campo de Ourique e Trafaria, mais  um mês de estágio em Estremoz e  um mês de férias, seguindo-se  a CCaç  616... Amadora, poucos dias,  e o barco Quanza a caminho da Guiné.

Os primeiros dias de viagem foram muito difíceis. O refeitório era no porão com um cheiro a tintas frescas, vómitos por tudo quanto era sítio... Valeu-me ter travado conhecimento com o chefe da cozinha do barco e, a partir daí, passei a ter rancho melhorado, fazendo parte da equipa da cozinha. Ainda levei umas sandes de bifanas para terra. 
1º cabo cripto Galveia,
na varanda do posto adminis-
trativo de Empada (c. 1964/66). 

Chegado a Bissau,  integrei o Centro Cripto local  enquanto a CCaç  616 esteve em Bissau, onde se trabalhava até à exaustão, das 9h às 21h,  com um pequeno intervalo para refeição, das 21h às 9h sem intervalo, mais a passagem de serviços uns aos outros. Quando se  trabalhava de noite, tinha que se descansar  de dia e dormir na caserna onde estava a CCaç  616 instalada com barulhos por todo o lado. 

O centro Cripto tinha pouco pessoal para o serviço que tinha, todos os dias se acumulava mais serviço, mensagens tipo rotina muitas não chegaram a ser decifradas (como haviam de ter resposta), e mesms as de  tipo urgentes passavam de uns dias para outros seguintes. 

As comunicações via rádio eram muito ruins, pelo que as mensagens chegavam sempre adulteradas, muitas vezes, depois de decifrar não se conseguia ler nada que fizesse sentido, chegava a passar por todos os operadores para as descriptar. 

Findo este período,  segue-se Empada em que eu era um desconhecido da maioria dos componentes da CCaç 616 e eu também conhecia poucos companheiros. Posteriormente falarei alguma coisa de Empada. 

Conheço bem o Joaquim Jorge, foi Comandante interino muito tempo da 616, é um homem com um H grande é a pessoa certa para falar dos acontecimentos que nos rodearam.

Um abraço.
Xico Galveia.

2. Comentário de L.G.:

Camarada Galveia, estás apresentado à Tabanca Grande, cabendo-te o lugar nº 656 (**). Podes agora sentar-te à vontade à sombra do nosso mágico, portentoso, protetor poilão. Acreditamos que há um irã bom, acocorado no alto do poilão da Tabanca Grande, que nos protege...contra os diabos maus da vida e do mundo. 

Como grã-tabanqueiro, tens direitos e deveres, sendo o mais importante o direito (e o dever) de honrar a memória de todos os nossos camaradas e de partilhar as tuas memórias.

Fazemos encontros, convívios, almoços, etc., a que não és obrigado a ir. Mas, por exemplo, gostávamos de te conhecer, em carne e osso, em Monte Real, no dia 14 de junho próximo, no IX Encontro Nacional da Tabanca Grande. Desafia o Joaquim Jorge para aparecer.

Um alfabravo (AB) do Luís Graça e demais editores e colaboradores do blogue.

PS - Se quiseres ser conhecido e tratado por Francisco Galveia (como consta na tua página do Facebook) diz-nos que a gente corrige...

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Notas do editor:

(*) Vd,. poste de 19 de maio de 2014 >  Guiné 63/74 - P13165: O nosso livro de visitas (177): Francisco Monteiro Galveia, que vive em Fronteira, Alto Alentejo... Foi 1º cabo cripto na CCAÇ 616 (Empada, 1964/66) e pede para integrar a Tabanca Grande

(**) Último poste da série > 14 de maio de  2014 > Guiné 63/74 - P13138: Tabanca Grande (434): Luís Cândido Tavares Paulino, ex-Fur Mil da CCAÇ 2726 (Cacine e Cameconde, 1970/72) - Grã-Tabanqueiro 655

Guiné 63/74 - P13173: (De) Caras (18): Pedido de desculpas... Afinal não foi o oficial da GNR quem, em Portalegre, no antigo aquartelamento do BC1, nos mandou comprar a bandeira portuguesa na loja do chinês (Vasco da Gama, ex-cap cav, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74)

1. Com pedido de publicação, aqui vai um email, datado de 19 do corrente,  do nosso grã-tabanqueiro Vasco da Gama:


Camaradas, porque não me pareceu correcto colocar directamente nos comentários o texto que anexo, aqui estou a dar-vos conhecimento do mesmo para que vocês o possam fazer, acrescentando o que lhes aprouver.

Muito obrigado. Um abraço amigo do Vasco



Assunto - Pedido de desculpas (*)

Meus queridos Camaradas

Recebo amiúde telefonemas de Camaradas da minha Companhia a recordar este ou aquele acontecimnto, a perguntar pela saúde, se a consulta correu bem ou mal, a combinar novo encontro, a convidar para o baptizado do neto....enfim, vivências comuns entre Amigos.

Depois de vários deles me terem perguntado: “Já viu o nosso vídeo'”? (refiro-me ao vídeo da reunião da minha querida Companhia C.Cav. 8351 no passado 3 de Maio em Portalegre), hoje mesmo o fiz e atentei particularmente no meu discurso. Terei exagerado no que disse? Não importa agora falar sobre isso, pois o que está dito, dito está!

Na sequência da conversa que acabei de ter com o meu Camarada Parola, este esclareceu-me de que, ao contrário do que me foi dito em Portalegre e do que escrevi, o oficial de dia NÃO lhe disse : “vá comprar uma bandeira à loja dos chineses”.

O oficial apenas disse que o quartel não tinha bandeira disponível para nos ceder, tendo o meu Camarada Augusto Covas dito ao Parola: “Vamos comprar uma bandeira à loja dos chineses” e foi isso que fizeram! 

Aqui estou a pedir públicas desculpas por ter induzido em erro os Camaradas que se deram ao trabalho de ler o meu texto.

Tenho demasiado respeito e carinho por este local de encontro para me “ficar nas covas” .

Quanto ao resto, incluindo a não disponibilidade de uma bandeira de Portugal para cobrir a lápide onde figuram os nomes dos meus Companheiros que tombaram na Guiné, à falta de afecto e solidariedade para com a minha CCav. 8351, está dito e aqui o repito. Ninguém mo disse, vivi-o!

Tal como o grande José Régio, considerado por alguns dos intelectuais da nossa praça como poeta menor, também a minha querida CCav 8351 teve um tratamento pouco consentâneo com o respeito que lhe é devido.

Vasco A. R. da Gama

[Negrito, do autor; realce a amarelo, do editor]

2. Comentário de L.G.: 

Vasco, errar é humano. E pedir desculpas mais humano é. Muitos dos nossos conflitos (a começar pelos que temos tido, aqui, na Tabanca Grande, e que felizmente não têm sido muitos nem de maior gravidade, em 10 anos de existência...) resultam de problemas de perceção e comunicação, em última análise de "mal entendidos" (como diz o povo)...

Aqui fica o teu pedido de desculpas, mais um exemplo da tua grande nobreza de caráter, o que não invalida a constatação da desconsideração de que foram objeto os bravos tigres de Cumbijã, em Portalegre, nas antigas instalações do BC1, hoje centro de formação da GNR. Vemo-nos em Monte Real, no dia 14 de junho.  Guardo o meu alfabravo fraterno e solidário para te dar, ao vivo, nesse dia e lugar,  na festa anual da Tabanca Grande.
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 16 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13151: (De) Caras (17): A nudez da pedra, o Vasco da Gama e os seus "tigres do Cumbijã"... Convívio anual da CCAV 8351 (Cumbijã, 1972/74)

Guiné 63/74 - P13172: Blogpoesia (381): De Catió ao Cachil, na minha canoa, ao som da serenata de Schubert... (J. L. Mendes Gomes)


Guiné > Região de Tombali > Ilha do Como > Cachil > 1966 > Interior do aquartelamnento

Foto: © Benito Neves (2008). Todos os direitos reservados.



Guiné > Região de Tombali > Catió > BCAÇ 619 (1964/66) > Grupo de oficiais à mesa, no famoso bar Tombali, em Catió. Há dois palmeirins, da CCAÇ 728: o alf mil J.L. Mendes Gomes, o 2º a contar da direita, de óculos escuros, assinalado com um círculo vermelho; e o alf mil Gonçalves, o 1º a contar da esquerda. Os restantes pertenciam à CCS do BCAÇ 619, então sedeado em Catió, com destaque para o major Luís [António Moura] Casanova Ferreira [, hoje coronel reformado,] de bivaque na cabeça e camuflado, ao fundo (era o homem grande da logística do batalhão e foi um dos mentores e atores do 25 de Abril). Da direita para a esquerda, são ainda visíveis o alferes de transmissões do batalhão - o Teixeira; a seguir ao J.L.Mendes Gomes, o alferes, do Pel Art, de apelido Maia); e por fim, o alferes Pires Marques, de cavalaria (Pel Rec).

Foto do álbum do nosso camarada e amigo J. L. Mendes Gomes, ex-alf mil da CCAÇ 728, (Cachil, Catió e Bissau, 1964/66), jurista reformado e poeta, vivendo entre Mafra e Berlim.

Foto (e legenda): © J. L. Mendes Gomes (2006). Todos os direitos reservados.



De Catió ao Cachil
(na minha canoa...)


por J.L. Mendes Gomes


Tomo minha canoa,
Dum tronco apenas.
Vou serenamente,
De Catió ao Cachil.

Rio Cumbijã ou seu afluente,
Já não lembro o nome.

Agora posso olhar
Ambas as margens,
Sem espingarda nas mãos.

Rio cinzento,
Sinuoso,
Ora tão largo,
Ora tão estreito.
Jacarés a dormir.

Há jagudis,
De asas tão largas,
Poisados nas árvores.
Parecem lacraus.
Onde metem o bico,
Tudo se vai.
Só dá para fugir.
Há tanta lama,
Debaixo dos ramos.
Fazem trincheira.
Ninguém se atreve
A pôr-lhe os pés.

Ao cabo dum dia,
Sempre a remar,
Chego esvaído
Ao cais do Cachil.

Ele lá está,
Chão de palmeira.
Que estrada-avenida,
Sempre a subir.

Vou a caminho.
Pé ante-pé.
Sobre os toros.

Lembro o passado.
Vestido de tropa.
Olhos trementes.
O inimigo à espreita.

Depois da granada,
Para espantar jacarés,
Lançávamo-nos ao rio,
Ó que banhoca.
Parecia uma praia,
Povoada de peixes,
Que o estrondo matou.

E aquele quartel,
Onde passei nove meses,
Era um palácio real,
Defendido com todos os dentes.
Hoje é repasto de rãs,
Cobras, serpentes.
Pedaços de vidas,
Tão jovens,
Que não mais voltam a ser.
Ali jazem sepultados.
Porquê?...E para quê!?...

Que fadário mais triste!.


Ouvindo “serenata de Schubert
Berlim, 10 de Maio de 2014
15h47m
Joaquim Luís Mendes Gomes


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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13113: Blogpoesia (381): Gestor de ausências (António Eduardo Ferreira)