terça-feira, 27 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13200: (In)citações (64) Nunca é demais... reafirmar o apreço pelo alto serviço prestado pela Marinha no apoio às unidades do setor de Catió... [ Manuel Lema Santos / Benito Neves / Victor Condeço (1943-2010) ]


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Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67 > 22 de fevereio de 1967 > Regresso da Op Sobreiro. Fotos do álbum de Benito Neves, ex.fur mil

Fotos (e legendas): © Benito Neves (2010). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem, de 25 do corrente, de Manuel Lema Santos [,1º tenente da Reserva Naval,  imediato na NRP Orion, Guiné1966/68; membro da nossa Tabanca Grande desde 21 de abril de 2006] [, foto à esquerda]:

Caro Luis Graça e restantes Companheiros Tertulianos,

Não posso passar ao lado da leitura de textos do Benito Neves (*) e outros Camaradas ou Companheiros sem que, tendo partilhado missões e vivências em cenários demolidores da razão humana, me perfile num cumprimento sentido e pesaroso pelo desaparecimento prematuro, quer do Victor Condeço quer de muitos outros camaradas. Alguns, meus amigos pessoais e que por lá deambularam comigo.

Conheci-o [, ao Victor Condeço,]  em escassas mensagens trocadas, grandes na dimensão da partilha e o inquestionável orgulho e gratidão que tanto ele como o Benito Neves reafirmaram no repetido apreço do alto serviço que a Marinha e as imortais LD, LDP ou LDM representaram na sobrevivência daquelas unidade militares sitiadas em remotos aquartelamentos "cus de judas" e outros em "nenhures". Todos lá sabemos ir sem GPS...

Benito Neves
Mais tarde, foi-me concedida a honra e o prazer de integrar o grupo
de um almoço-convívio por eles organizado num restaurante, e imagine-se, com um antigo guerrilheiro do PAIGC, também a senhora, a filha do casal e já com uma neta. A continuidade do Benito Neves no envio de documentos históricos não representa para mim uma novidade. Prefirirei saudá-lo como um necessário e aplaudido regresso. A memória histórica da região de Catió passa necessariamente por testemunhos como o dele. Obviamente que não só o dele, mas também o dele.

Mais do que alargar-me em romagens de saudade à minha memória histórica Guiné, prefiro reencaminhar antigos camaradas e companheiros para as linhas que então publiquei, suportado pelas mensagens trocadas com o saudoso Victor Condeço e o Benito Neves.

Muito grato fico pelo conhecimento que me deste! 

Abraço amigo para todos,

Manuel Lema Santos
 
PS - Vd. poste no meu blogue Reserva Naval > 2 de abril de 2010 > Nunca será demais... .as acções das LD’s, LP’s, LDP’s e LDM’s na Guiné!

Victor Condeço
(1943-2010)
Com especial destaque para a mensagem [, em comentário, de 3 de abril de 2010, ] do Victor Condeço [1943-2010]:

(...) 'Nunca é demais...' afirmar que para Catió, a Marinha foi crucial para a sua sobrevivência como localidade e como região.

A ligação a Bissau e a outras povoações fazia-se antes da guerra, como sabemos, pela estrada para Buba, que a meio percurso ligava com a de Bedanda.

O início das hostilidades na zona, em 25 Junho 1962, com o afundamento da jangada de Bedanda, abatizes nas estradas e os cortes de fios telefónicos, a vila de Catió ficou isolada.

As estradas acabariam por ser abandonadas, a partir desta altura o transporte de pessoas e bens era quase integralmente feito por via fluvial.

Até Fevereiro de 1968 a pista de aviação só permitia a operação de Helis, DO-27 e as Cessna dos TAG, só a partir desta data com o aumento da mesma, passaram ali a operar os velhos Dakotas da Força Aérea.

Foi já durante a minha comissão, entre finais de 1967 e início de 68, que foram feitos trabalhos de desmatação ao longo daquela estrada a partir do cruzamento de Camaiupa, na tentativa de a reabrir, o que nunca foi conseguido.

Esta operação mobilizava todos os dias uma enorme quantidade de meios tanto de Catió, como de Cufar de Bedanda.

Os trabalhos, foram interrompidos se não erro, após a chegada do novo CMDT Chefe Brig Spínola e nunca reatados no meu tempo.

Por tudo isto pode avaliar-se a importância que a Marinha teve na criação das condições para a manutenção desta Sede de Circunscrição, que tão disputada foi pelo PAIGC.

Com um abraço
Victor Condeço (...)
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Notas do editor

(*) Vd. postes de:


24 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13189: Memória dos lugares (267): Cachil, na ilha de Caiar, a sudoeste de Catió, na margem esquerda do Rio Cobade

25 de maio de  2014 > Guiné 63/74 - P13191: Memória dos lugares (268): Cachil, que eu conheci em julho/agosto de 1966... Suplício de Sísifo... e de Tântalo: rodeados de água, mas a potável tinha que vir de barco, em garrafões, de Catió ... (Benito Neves, ex-fur mil, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67)

Guiné 63/74 - P13199: Manuscrito(s) (Luís Graça) (29): "A boda e a baile mandado... não vás sem ser convidado"... E os bailes que organizávamos, na tabanca do Bataclã, nos intervalos da guerra ?

1. Há um provérbio nortenho que diz: "A boda e a baile mandado... não vás sem ser convidado"...

No norte, e em especial na região de Entre Douro e Minho, faziam-se bailes "particulares" na casa de um homem de "respeito", com "filha casadoira", que contratava um tuna rural (viola, violão, rabeca...) e um "mandador"...

E claro, convidava os seus amigos e vizinhos e mais aqueles das suas relações que na próxima também o haveriam de convidar,  a ele e á sua filha...

A figura do "mandador" tinha duas funções: (i) por um lado, era um homem que sabia da "poda", isto é, tinha voz, sabia mandar, e sobretudo sabia das coreografias, das voltinhas que os pares tinham que dar (e daí a expressão "baile mandado", que é de influência francesa); (ii) por outro era um "homem respeitado, respeitador, e que sabia impor o respeito" (às vezes,  tinha que ser à chapada e a varapau)...

Porque,  no baile com mandador no Norte, os homens estão de um lado e as mulheres do outro. E o "mandador" no meio da sala... Os "homes" (sic) só dançam por indicação do mandador; as raparigas não podem dar o nega, recusar um convite para dançar,  a menos que já estejam "comprometidas"... (Nesse caso, só dançam com o namorado ou o noivo; e ai dela se se "astreve" a violar a regra!)...

A primeira vez que fui a um baile destes, com "mandador", tive que esperar a minha vez para dançar... E quando a vez chegou, a tuna tocava "a dança do fado"... Eu, que vinha de Lisboa, terra do fado, nunca tinha dançado o fado e fiquei meio enrascado, tendo que disfarçar a minha santa ignorância no que dizia respeito à coreografia...

Sim, senhor, eu sabia (iu melhor, soube mais tarde, por ter estudado o assunto) que o fado em tempos (séc. XIX) era (i) batido, (ii) dansado e (iii) cantado... Agora é só cantado!... E muitas vezes tristemente maltratado...

Está visto que, no antigamente, neste bailes, havia muitas vezes porrada... Eram sempre mais os machos que as fêmeas "descomprometidas", isto é, elegíveis para dançar...

Em Bissau, no final dos finalistas, a lógica era a mesma (*)...

Camaradas, levem isto para a brincadeira (**)...

Marco de Canaveses > Uma tuna rural dos anos 40 do séc. XX... 


(Fonte: AGUIAR, P. M. Vieira de - Descrição Histórica, Corográfica e Folclórica de Marco de Canaveses. Porto: Esc Tip Oficina de S. José. 1947). (Reproduzido com a devida vénia...)


2. Comentário de Rui Silva ao poste P13177 (*)
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Se é para falar de bailes na Guiné, oh carago!,  há muito que contar ai há, há.

Começaram logo em casa do Sr. Rui libanês em Bissorã após um mês de chegarmos à Guiné, passando pelas verbenas do Sporting em Bissau, na sede do Benfica ali na estrada que ligava a praça do Império ao aeroporto, acabando na Associação Comercial aonde entrei porque houve engano.

Com "molho" ou sem "molho". Havia por ali muito menino que,  se não houvesse porrada nem parecia dia...
Hoje lemos o jornal a uma sombra e de óculos já com algumas dioptrias, mas naquele tempo o que a gente queria era dar à perna (ou às pernas). (...)

3. Comentário de L.G.:

Rui, quem é que não gostava da "bailação" ? Em Bambadinca, em Bafatá, em Bissorã, em Bissau... Toca a falar desses bailes, que fazíamos no intervalo da guerra... Até Monte Real, dia 14 de junho, ainda há tempo para escreveres uma crónica... Ab. Luis

PS - Também eu tenho um caso de um baile para contar; na  extensão de Bambadinca do Bataclã de Bafatá, e que acabou  dramaticamente, às tantas da manhã,  com a tentativa de reanimar, no posto médico, uma criança, filha de uma das nossas amigas, acometida de um grave (e fatal) problema de insuficiência cardiorrespiratória...Possivelmente, seria um caso de morte súbita durante o sono...

Um dia vou arranjar tempo e coragem para reconstituir este trágico episódio... se os meus camaradas, presentes nessa noite, me ajudarem a refrescar a memória... Há pormenores a rever. O médico de serviço, esse, lembro-me bem dele, também estava presente, tentando divertir-se: era o Alf Mil Méd Joaquim Vidal Saraiva, da CCS/BART 2917 (, o tal que ficou retido um dia no mato, connosco, CCAÇ 12 e Pel Caç Nat 52, na Op Tigre Vadio, uma operação a uma base do PAIGC em Madina / Belel, em Março de 1970; nunca tinha visto um médico a "alinhar" numa operação, no mato, e a sofrer connosco)...

Apesar de todos os esforços (e sobretudo do nosso Pastilhas e do dr. Vidal Saraiva), a criança morreu nas nossas mãos, já no posto médico de Bambadinca...  Ou já vinha morta, da morança onde a malta dançava...Sei que o baile acabou, com grande consternação... Fizemos, logo de manhã cedo,  uma coleta para pagar o funeral, em Bafatá...Já não me recordo bem do nome da jovem mãe, uma das nossas companheiras de noitadas, mas penso que era a Ana Maria...

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Notas do editor:

(*)  Vd. poste de 22 de maio de  2014 > Guiné 63/74 - P13177: Efemérides (157): Como é que a revista Plateia e o seu correspondente local, João Benamor, 1º sargento e cartunista, "viram" o baile dos finalistas da Escola Técnica de Bissau em 5/6/1965... e as perturbações da "ordem pública", provocadas por uma "bando de energúmenos", possivelmente influenciados pelos relatos das tropelias dos "teddy boys" de Liverpool... (Virgnio Briote)

E ainda: 

22 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13176: Efemérides (153): Ainda a propósito do baile dos alunos finalistas da Escola Técnica de Bissau na Associação Comercial, Industrial e Agrícola, em 5 de junho de 1965: Apanhei 3 dias de prisão simples, dados pelo comandante militar, brig Gaspar de Sá Carneiro (Virgínio Briote, ex-alf mil cav, cmd, cmdt Gr Cmds "Os Diabólicos", CCmds / CTIG, Brá, 1965/66)

(**) Último poste da série > 22 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13176: Efemérides (153): Ainda a propósito do baile dos alunos finalistas da Escola Técnica de Bissau na Associação Comercial, Industrial e Agrícola, em 5 de junho de 1965: Apanhei 3 dias de prisão simples, dados pelo comandante militar, brig Gaspar de Sá Carneiro (Virgínio Briote, ex-alf mil cav, cmd, cmdt Gr Cmds "Os Diabólicos", CCmds / CTIG, Brá, 1965/66)

Guiné 63/74 - P13198: Agenda cultural (318): Lançamento do livro "Militares e política: o 25 de Abril" (organizado por Luísa Tiago de Oliveira) - 28 de Maio, 18h, ISCTE-IUL, Edifício II, Auditório B203

 1. Mensagem da nossa leitora Luisa Tiago Oliveira:

Data: 24 de Maio de 2014 às 19:11

Assunto: Lançamento de "Militares e política: o 25 de Abril" (organizado por Luísa Tiago de Oliveira) - 28 de Maio, 18h, ISCTE-IUL, Edifício II, Auditório B203


Caras e caros possíveis interessados:

O Centro de Estudos de História Contemporânea do ISCTE-IUL, a Estuário edições e a organizadora têm o gosto de o/a convidar para o lançamento do livro Militares e Política: o 25 de Abril, apresentado por João Freire e Jacinto Godinho, incluíndo ainda a apresentação de duas peças jornalísticas.

Assinalando o 40.º aniversário da Revolução portuguesa, publica-se o livro Militares e Política: O 25 de Abril. A obra inicia-se com uma abertura testemunhal e literária de Almada Contreiras, sobre a escolha do Grândola para sinal da Revolução. Segue-se uma primeira parte que se debruça sobre os três ramos militares e a mudança política, tendo capítulos de Aniceto Afonso, Pedro Lauret [, membro da nossa Tabanca Grande,] e Luís Alves de Fraga

A segunda parte analisa o fim da PIDE/DGS e a libertação dos presos políticos em Portugal e nas ex-colónias, sendo composta por capítulos de Luísa Tiago de Oliveira e Ana Mouta Faria, revelando aspectos até hoje desconhecidos.

A sessão decorrerá no dia 28 de Maio, quarta-feira, às 18 horas, no auditório B203 do edifício II do ISCTE-IUL.

​Com os melhores cumprimentos,

Luisa Tiago de Oliveira

Departamento de Historia
ISCTE, Instituto Universitario de Lisboa | Lisbon University Institute
Av. Forcas Armadas 1649-026 Lisboa | +351217903915
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Guiné 63/74 - P13197: Parabéns a você (739): António Manuel Salvador, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 4740/72 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série > 26  de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13193: Parabéns a você (738): Carlos Alberto Cruz, ex-Fur Mil da CCAÇ 617 (Guiné, 1964/66); Carlos Nery, ex-Cap Mil, CMDT da CCAÇ 2382 (Guiné, 1968/70); Gabriel Gonçalves, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 2589/CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71); João Santiago, Amigo GranTabanqueiro e Jorge Narciso, ex-1.º Cabo Esp de MMA da BA 12 (Guiné, 1970/72)

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13196: Notas de leitura (594): "Planta da Praça de Bissau e suas Adjacentes", por Bernardino António Álvares de Andrade (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Novembro de 2013:

Queridos amigos,
O documento do tenente Bernardino António Álvares de Andrade, datado de 1796, é uma peça a todos os títulos de inegável importância.
Trata-se de uma profissão de fé nas potencialidades da Guiné, sugere-se a um ministro de D. Maria I que a Guiné tem que entrar no mapa, são necessários soldados, a ocupação, o conhecimento das populações, a negociação com os régulos, a competitividade naval, a “racionalização” da escravatura e cultivo da terra que, como ele diz, dá tudo.
Faz recomendações numa escrita entusiástica, é um prosélito. Ninguém lhe terá ligado, a sua memória foi parar à Biblioteca do Porto e interessou Damião Peres que a publicou pela primeira vez em 1952.
Bernardino de Andrade viveu e morreu no absoluto olvido.

Um abraço do
Mário


Planta da Praça de Bissau e suas adjacentes: 
Uma memória ímpar da Guiné no declínio do século XVIII

Beja Santos

Esta “Planta da Praça de Bissau e Suas Adjacentes” conheceu a sua primeira edição em 1952 e a segunda em 1990. A introdução e anotações históricas couberam a uma figura eminente da historiografia portuguesa da primeira metade do século XX, Damião Peres. A Academia Portuguesa da História não ficou indiferente a um manuscrito inédito guardado na Biblioteca do Porto, o seu autor, Bernardino António Álvares de Andrade, revelava um entusiasmo incomum acerca das potencialidades agrícolas do território guineense, então com dimensões mais vastas que as atuais. Escreveu uma memória original onde admitia a possibilidade de uma integral ocupação portuguesa daquele território, achava que mais do que o fornecimento de escravos e marfim a Guiné tinha todos os predicados para um desenvolvimento modelar.

Bernardino de Andrade embarcou para a Guiné em 1765, ia servir voluntário no posto de tenente, com exercício de engenheiro, seria um dos artífices na construção da fortaleza de Bissau. Estivera preso por apropriação abusiva de dinheiros, terá preferido ir até à Guiné e ver a sua pena comutada. Os dados estudados por Damião Peres confirmam que o seu trabalho foi reconhecido e recebeu vários louvores. Decidiu viajar para fora de Bissau, internou-se até ao curso superior do Geba, fez negociações com o régulo de Bissau com vista a manter a concórdia durante o levantamento de fortificações. A fortaleza de Bissau está concluída em 1774, Bernardino de Andrade é ali colocado como tenente e no ano seguinte é igualmente inspetor do hospital militar. É por essa época que começa a emitir pareceres para Lisboa. Oiçamos Damião Peres: “Abordando o problema da guarnição militar, afirmava ser insuficientes as três companhias, com o total de 240 soldados, mal chegava para guarnecer os postos da praça, não havendo assim as reservas necessárias para acudir às necessidades militares de Cacheu, Farim, Ziguinchor e principalmente Geba, povoação de grandes lucros, acrescentando que a essa falta de soldados se somava a de material militar e ferramentas”. E faz alvitres, que os soldados se dediquem à agricultura nas horas livres, já que a terra de Bissau tem capacidade para ser cultivada de milho, mandioca e outros frutos, sugere ao governador ferramental agrícola e sementes bem como uma atafona (moinho manual) para moagem dos cereais. Assegura que a terra é boa para produzir toda a qualidade de pão. Os anos passam e Bernardino de Andrade parece ter vivido numa completa obscuridade profissional. Convém não esquecer que a época é marcada por uma certa esperança no que a Companhia do Grão-Pará e Maranhão iria fazer quanto ao povoamento e desenvolvimento.

Que a sua afeição pela Guiné terá sido intensa e duradoura comprova o facto de aos 68 anos de idade ter entrado num concurso para provimento do lugar de governador da Praça de Bissau, invocando antigos serviços na Guiné. Indeferido. Observa Damião Peres: “Cm o seu menor posto, que era o de tenente, reformado, e com uma vaga aprendizagem de engenharia, não podia queixar-se de ter sido objeto de um tratamento injusto. Deve então ter começado, no declínio de uma apagada velhice, o olvido dos seus préstimos e o olvido do seu nome”.

A sua memória tem cerca de 26 páginas, é uma minuciosa e animada exposição relativa às possibilidades de desenvolvimento económico da terra guineense e do progresso moral das suas populações nativas, não tem paralelo com qualquer outra documentação do seu tempo. Tem a data de 1796 e é dirigida a Luís Pinto de Sousa Coutinho, ministro e secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra. Depois de saudar o governante, apresenta aquela região da Guiné “muito fértil de arroz, milho, gado vacum, de toda a qualidade de caça, assim terrestre como volátil por toda a marinha e rios de peixes; os nacionais são homens formosos, e bem proporcionados, famosos lavradores, bons marinheiros e de natureza guerreiros; as mulheres igualmente os acompanham em todas as ações, não usam vestidos, unicamente traçam sobre os ombros um pano; nesta Ilha toda a pedra é férrea, tem salitre, a que os nacionais chamam sal de vaca”.

Informa que os filhos da colónia levam uma vida primitiva, inaceitável. Volta aos louvores da agricultura: “Achei em todo o país desta colónia, ou seja na Ilha de Bissau ou na terra firme, produzir-se perfeitamente toda a qualidade de pão; tendo mais a vantagem de frutificar duas vezes num ano a mesma semente, e o mesmo sucede nas searas de milho”. Diz mesmo que o linho se cria com perfeição e abundância. E passa a propor ao governante um conjunto de providências que devem chegar ao conhecimento da Augusta Soberana, D. Maria I: que sejam enviados para a Praça de Bissau mil dos filhos da Ilha de S. Tiago e duzentos europeus, que fossem operários de todas as artes mecânicas, e recorda o tremendo sacrifício em vidas que foi a construção da fortaleza de Bissau; que aumente o tráfego marítimo e que as mercadorias fiquem sob inspeção do governador, estabelecendo-se um giro mais rápido para que a escravatura chegue aos portos da América sem detença; que a rainha nomeie um governador prudente, amante da Pátria, verdadeiro, observante das leis divinas e humanas e desinteressado; igualmente que a rainha enviasse para a colónia ministros do Sagrado Evangelho e que os sacerdotes sejam obrigados ao ensino da religião cristã e das primeiras letras (e dá o exemplo do que os ingleses estão a fazer na Serra Leoa). Faz-se depois um comentário aos pontos assinalados na planta de Bissau, começa na praça de S. José, a freguesia de Nossa Senhora das Candeias, armazém da fazenda real, hospício, a seguir descreve a localização dos Papéis, várias ilhas e ilhetas, refere Bolama, o Ilhéu do Rei, a boca do rio de Geba, a povoação de Porto Gole, vários rios. A sua descrição permite ver que conheceu perfeitamente o rio Geba e a povoação de Geba, como se transcreve: “A povoação de Geba dista de Bissau 123,5 léguas, é tão antiga como o descobrimento de Bissau, é povoada por mil vizinhos; está circundada por todos os lados de gentio e à margem do mesmo rio, os povoadores deste sertão se dividem em três classes, gentios, mouros e Fulas, todos estes homens são sumamente amigos do campo e da lavoura pelo que se ajudam mutuamente no dito trabalho, com o qual cultivam com muita abundância milho de toda a qualidade, feijão, grão, arroz, algodão, anil, etc.”. E prossegue: "da povoação de Geba continua o rio do mesmo nome, seguindo sempre o rumo de leste, na longitude de 50 léguas, há uma grande pedra que impede a navegação do mesmo rio desta pedra para cima, a 60 léguas de distância há uma lagoa também de água doce que mostra ser o seu horizonte de 20 léguas de distância, dizem os moradores vizinhos daquela que dela desabam quatro rios; dois por mim conhecidos que é o Geba e o Senegal, o terceiro dizem eles ir para a Costa da Mina e o quarto para a Ásia”. A preocupação permanente de Bernardino de Andrade é vencer todos estes obstáculos, como ele diz “tirá-los do abismo da rudez”.

As anotações históricas permitem ao leitor conhecer o que era Bissau antes da fortaleza construída na contemporaneidade de Bernardino de Andrade, como se efetuaram as negociações com os régulos de Bissau, como a marinha de guerra participou nos trabalhos destas fortificações.

Documento espantoso, e mais espantoso ter ficado no silêncio dos arquivos até 1952.

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Nota do editor

Último poste da série de 23 de Maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13182: Notas de leitura (593): "O Eco do Pranto - A criança na poesia moderna guineense", recolha e coordenação de António Soares Lopes (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13195: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (8): Continuam abertas as inscrições (n=78) e continuam a chegar as votações (n=55) para a escolha das "cinco frases ou slogans que melhor caraterizam o espírito da Tabanca Grande"... Ao mesmo tempo, amigos e camaradas vão fazendo a "prova de vida"...


Figura - As cinco frases de que os grã-tabanqueiros mais gostam e que melhor caraterizam o espírito da Tabanca Grande.



I. Eis os resultados preliminares (n=55) da nossa votação das 5 (cinco) frases ou slogans que melhor caracterizam o espírito da Tabanca Grande. A 5ª (e última) são, ex-aequo, as frases nºs Oito e Dezanove, com 21 votos. A mais votada, com 33 votos, é a frase nº Um, seguida da frase nº Três (n=29).-

As frases escolhidas são:

1. O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!

3. Não deixes que sejam os outros a contar a tua história por ti.

18. Tabanca Grande: onde todos cabemos com tudo o que nos une  e até com aquilo que nos separa.

14. Ainda pior do que o inferno da guerra,  é o inverno do esquecimento dos combatentes...

8. Para que os teus filhos e netos não digam, desprezando o teu sacrifício:  " Guiné ? Guerra do Ultramar ? Guerra Colonial ? Não, nunca ouvi falar!"

19. Partilhamos memórias e afetos. (*)


II. É bom saber que todos estes camaradas, a seguir listados por ordem alfabética, quiseram colaborar connosco neste passatempo, fazendo ao mesmo tempo... a sua "prova de vida"!

Eis a lista de grã-tabanqueiros que nos responderam (n=55):

Alberto Branquinho
 Alcides Silva
Antonio Carvalho (Mampatá)
António Eduardo Carvalho
António J. Pereira da Costa
Antonio João Sampaio
António Levezinho
António Santos
António Sucena Rodrigues
Bernardino Cardoso
Candido Morais
Carlos Alberto Cruz
Carlos Vinhal
César Dias
Eduardo Estrela
Ernesto Ribeiro
Germano Penha
Helder Sousa
Idálio Reis
Joao Alberto Coelho
João José Lourenço
João Sacôto
Jorge Pinto
Jorge Portojo
Jorge Rosales
Jorge Santos
José Carlos Pimentel
Jose Colaço
José da Câmara
José Dinis C. Sousa e Faro
José Manuel Cancela
José Manuel Matos Dinis
José Pardete Ferreira
José Rocha
Juvenal Amado
Luís Graça
Luís Paulino
Manuel Carvalho
Manuel Joaquim
Manuel Luis
Manuel Maia
Manuel Reis
Mário Gaspar
Mario Oliveira
Mário Pinto
Mário Vasconcelos
Marques de Almeida
Martins Julião
Rui Santos
Rui Silva
Toni Borié
Torcato Mendonça
Valdemar Silva
Vasco da Gama
Vasco Pires

A votação continua até ao fim do mês.Estamos,longe, portanto de ter fechado as "urnas" (*)


III. Entretanto prosseguem as inscrições no IX Encontro Nacioanal da Tabanca Grande, a realizar em Monte Real, em 14 de junho deste ano, ou seja, a menos de 3 semanas.

Há ainda um bom número de camaradas e amigos que deixaram a inscrição para o fim, mas que já manifestaram a sua intenção de vir. Outros há, e infelizmente bastantes, que por razõe diversas (conflito de agenda, problemas de saúde do próprio, da esposa ou outros familiares, e sobretudo  dificuldades financeiras)  não poderão partilhar a alegria do nosso convívio anual, este ano na sua 9ª edição. Temo-nos reunido todoos anos desde 2006.

Cito aqui um camarada, muito presente e ativo na vida do no nosso blogue (, nomeadamente ao nível da sua participação como comentador), que não vou identificar, por razões óbvias, e que me disse o seguinte, em mensagem de 24 do corrente:

Caro Luís: Como sabes, não estarei em Monte Real, no próximo dia 14 de junho, como bem gostaria. A circunstância (infelizmente comum a muitos portugueses) de ter as minhas duas filhas desempregadas obriga-me a ter agora uma vida mais austera, no sentido de poder partilhar a minha reforma com elas. Não estou a queixar-me porque há quem esteja muito pior - justamente aqueles pais que também não têm reforma nem trabalho. Esta é a razão porque não estarei em Monte Real. (...) Vai para ti um grande abraço e votos de saúde e felicidade.

Como eu temia mas já calculava, este ano o número de inscrições está abaixo da fasquia esperada, por comparação com os últimos anos:


Infografias: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)


Recorde-se que o primeiro encontro, m 2006, foi na Ameira, Montemor-O-Novo, o segundo em Pombal, o terceiro e  o quarto em Ortigosa, Monte Real, Leiria, e partir daqui em Monte Real, no Palace Hotel Monte Real. O ano de 2012, om um total de 200 participantes,  pode-se considerar atípico: houve, nesse ano, a motivação adicional do livro do Idálio Reis, oferecido generosamente, com dedicatória autografada, a todos os presentes.

Na melhor das hipóteses, este ano,  poderemos chegar aos 90 particpantes, no máximo 100...A crise bateu forte e feio e os "veteranos" da Guiné são hoje um grupo particularmente fragilizado... Vamos ter que repensar o modelo do nosso convívio anual... Há malta a fazer o "rateio" dos convívios (companhia, batalhão, Tabanca Grande). E há gente com filhos desempregados em casa... O mesmo é dizer que a fanília com salários ou reformas mais reduzidos no seu valor... Vir a Monte Real é, para muitos de nós, um luxo: para além da despesa de inscrição, são os transportes, as portagens, e eventualmente a estadia... Mais um razão para valorizar a presença dos que querem e podem vir. Os ausentes serão lembrados com o espírito de amizade, camaradagem e solidariedade que é timbre da nossa Tabanca Grande.(**)
(...) Vinte e cinco frases que ajudam a distinguir um grã-tabanqueiro, isto é, um leitor do nosso blogue que se identifica com a "cultura" da Tabanca Grande, independentemente de estar ou não estar (ainda) registado como membro...

1. O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!

2. Lembra-te, ó português: bandeira dos cinco pagodes, é na loja do chinês.

3. Não deixes que sejam os outros a contar a tua história por ti.

4. Cabral só há um, o de Missirá e mais nenhum.

5. Camarada e amigo... é camarigo!

6. Dez anos a blogar, pois é!,
são cinco comissões na Guiné!

7. Camarada não tem que ser amigo:
é o que dorme no mesmo buraco, na mesma cama, no mesmo abrigo.

8. Para que os teus filhos e netos não digam, desprezando o teu sacrifício:
" Guiné ? Guerra do Ultramar ? Guerra Colonial ? Não, nunca ouvi falar!"

9. Uma vez combatente, combatente para sempre!

10. Desaparecidos: aqueles que nem no caixão regressaram.

11. Os filhos dos nossos camaradas, nossos filhos são.

12. Sim, senhor ministro, somos uma espécie em vias de extinção...
E já demos instruções ao último que morrer, para ser ele próprio a fechar a tampa do caixão.

13. Camarada, que a terra da tua Pátria te seja leve!

14. Ainda pior do que o inferno da guerra,
é o inverno do esquecimento dos combatentes...

15. Rapa o fundo do teu baú da memória...

16. Recorda os sítios por onde passaste, viveste, combateste, amaste, sofreste, viste morrer e
matar, mataste, e perdeste, eventualmente, um parte do teu corpo e da tua alma...

17. Os camaradas da Guiné dão a cara,
não se escondem por detrás do bagabaga...

18. Tabanca Grande: onde todos cabemos com tudo o que nos une
e até com aquilo que nos separa.

19. Partilhamos memórias e afetos.

20. Lá vamos blogando, recordando, (sor)rindo,
e às vezes cantando, gemendo e chorando!

21. E também lá vamos facebook...ando e andando!

22. Sabemos resolver os nossos conflitos... sem puxar da G3!

23. A 'roupa suja' lava-se na caserna, não na parada.

24. 'Periquito' salta pró blogue, que a 'velhice' já cá está!

25. 'Um blogue de veteranos, nostálgicos da sua juventude' (René Pélissier dixit)



(**) Último poste da série > 23 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13185: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (7): Temos 20 exemplares do livro do Nuno Rubim, para distribuir em Monte Real, no dia 14 de junho, aos participantes, grã-tabanqueiros, "camaradas que apreciem a nossa antiga história militar" (Nuno Rubim / Luís Graça)

Guiné 63/74 - P13194: Tantas vidas (Gil da Silva Duarte / Virgínio Briote) (1): Tantos anos depois... Recordar, porquê ?




Oeiras, Amadora > Academia Militar > Aquartelamento da Amadora > 1963 [Recorde-se que a Academia Militar toma esta designação em 1959, e tem o seu antecedente histórico na Escola do Exército, fundada em 12 de Janeiro de 1837 pelo Marquês de Sá da Bandeira. A sua sede é no Paço da Raínha ou Palácio da Bemposta, na Rua Gomes Freire, em Lisboa,. com um polo nma Amadora, desde 1959

O município da Amadora foi cirado em 11 de setembro de 1977, por secessão das freguesias da Amadora e da Venteira, do nordeste do concelho de Oeiras. Entre os seus símbolos, contam-se o Aqueduto das Águas Livres, bem como os campos de aviação que tiveram tanta importância na emergência da aviação em Portugal, sendo que ainda hoje o Estado-Maior da Força Aérea Portuguesa se situa no concelho, na freguesia de Alfragide. Na foto acima, veem-se os primeiros prédios da Reboleira, mais tarde freguesia, hoje extinta com a divisão municipal de 2013].

Foto: © Virgínio Briote (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]


1 Mais um texto do Virgínio Briote, seguramente rapado do fundo do seu "baú"... Foi-nos enviado em 21 do corrente. Vai  por certo merecer a atenção e o interesse daqueles que, como eu, reconhecem nele uma sensibilidade especial para recordar o passado, tentando em vão esquecê-lo.

Lembre-se que o Virgínio Briote, nosso coeditor (,jubilado por razões de saúde, ) nasceu em Cascais, foi alf mil em Cuntima, CCAV 489 / BCAV 490 (jan/mai 1965); fez o 2º curso de Comandos do CTIG; comandou o Grupo Diabólicos (Set 1965 / set 1966); regressou a casa em janeiro de 1967; trabalhou numa multinacional da indústria farmacêutica; é casado com a Maria Irene, ptofessora do ensino secundário reformada; e vão estar, o casal, em Monte Real, connosco, no IX Encontro Nacional da Tabanca Grande.

Durante os primeiros anos do nosso blogue, o Virgínio Briote foi um membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia, como então lhe chamávamos), fidelíssimo, dedicado, empenhado, ativo, produtivo, ao mesmo tempo que ia produzindo e publicando textos, pessoalíssimos, belíssimos, no seu blogue Tantas Vidas: as dele, as do Gil Duarte, as da Teresa, sempre a Teresa, as do Capitão Valentim, as do Capitão Leão, as de uma geração inteira, de homens e mulheres, que amaram e desamaram, viveram e morreram, lutaram e perderam, a Dora, a Clara, a Matilde, o Leonel, o Manaças, o Marcolino da Mata e tantos outros, figuras de carne e osso que povoaram Brá, Bissau, Mansoa, o norte, o sul, o leste, as bolanhas, as picadas, as matas da Guiné... Foi o retrato de uma geração que ele construiu , como um puzzle, a partir da sua experiência, como comando e como homem, no TO da Guiné, nos anos de 1965/67...

Temos pena que, mais recentemente, ele tenha decidido desativar o seu blogue, Tantas Vidas (*). Matei por isso saudades, ao ler, de um só fôlego, o notável texto que se a seguir se reprodu, e que julgo ser inédito..

Ainda não perdi, totalmente, a esperança de um dia ainda conseguir publicar uma antologia dos seus textos.
Mas será que ele vai aceitar o meu desafio (que é sobretudo um pedido, de um leitor, amigo e camarada que o admira) para ele ir alimentando, discreta e pausadamente, esta série Tantas Vidas ?... Não combinei nada com ele nem posso assegurar a continuidade da série...

Não se trata de ressuscitar o seu blogue mas de dar a conhecer, a uma público, mais vasto, o dos seus camaradas e amigos da Guiné, sobretudo os que chegaram mais tarde à Tabanca Grande alguns dos melhores textos que ele na altura produziu (Hoje o blogue tem 6 vezes mais membros registados do que em 2006).

Se publicarmos pelo menos 6 postes está justificada a razão de ser da sére,,, E o Virgínio Briote, ou melhor, o seu heterónimo (Gil Duarte ou Gil da Silva Duarte) ainda tem muita cousa guardada no "baú"... (LG)


2. Tantas vidas (Gil da Silva Duarte / Virgínio Briote) (1) > Tantos anos depois. Recordar, porquê?

por Gil da Silva Duarte 

[pseudónimo literário de Virgínio Briote, aqui na 5ª Rep, Café Bento, Bissau, maio de 1965 ]  


Sou o sargento-mor R. F. do Arquivo Histórico-Militar, estou encarregado de fazer a história dos Comandos. O seu nome tem-me aparecido aqui em relatórios de operações e numa série de documentos. Tenho contactado com várias pessoas que fizeram a guerra da Guiné consigo, o sargento Mário Dias, o furriel João Parreira, o Marcelino da Mata e outros.

A razão do meu telefonema é saber se dispõe de documentação desse tempo e que me possa ajudar a reconstituir a história. Dos anos mais recentes tenho tudo, agora dos primeiros anos da formação dos comandos falta-me informação documentada. Que já tinham passado muitos anos, quase quarenta, que arrumara tudo em casa do pai, na aldeia de Fonte Seca, lá para o norte. Que, quando lá fosse, procuraria o material que tinha trazido e se o encontrasse, teria muito gosto em o entregar ao Arquivo.

Quando se voltou a sentar em frente ao computador, os olhos saltaram pela janela para o movimento da avenida. Por uns momentos, muita coisa começou a andar para trás.

As guerras são muito monótonas, não há variedade, sempre a mesma história, tiros, granadas, feridos, mortos. Está tudo contado há muito tempo. Porquê recordar?

Os factos das guerras têm pouco interesse, parece-me, são sempre iguais, vulgares. Afinal, uma batalha é o resultado de um trabalho de alguns dias, o planeamento. Depois é o estardalhaço de meia dúzia de minutos, estrondos, rebentamentos, gritos de ataque e de dor. Só isto.

Outra história é o que as guerras fizeram das pessoas, as que intervieram e as outras.

Fornadas de jovens, arrancados ao trabalho e ao estudo, espalhados pelas Mafras e Taviras do País, encaixotados nos comboios, nas camaratas, nos camarotes ou nos porões sujos e escuros dos Uíges, de G3 na mão pelas matas, savanas, tarrrafos e bolanhas, corações aos saltos, T6 e Fiats G-91 no ar, helis à procura de locais para pousarem, macas com feridos e mortos, os regressos aos abarracamentos, partir para outra, sempre assim, até ao fim dos dois anos. As guerras são todas assim, Comos, Madinas, Guidages, Guilejes, Gadamaeis foi tudo igual, já está tudo contado.

O que está pouco contado é o que se passou a seguir. O regresso, o esquecimento, o deles não, que bem queriam mas não conseguiam. O sentimento de culpa por não terem desertado passou a viver em muitos deles. E, valha a verdade, tudo foi feito para que vivessem assim, esquecidos. Para que aqueles jovens que deram tudo o que tinham, se envergonhassem de terem defendido um governo colonialista. Foi o que Portugal lhes deu, interrompeu-lhes as vidas, ainda no começo, depois despacharam-nos com uma guia de marcha para as famílias, que tomassem conta deles.

Tempos depois, entrou no escritório que o pai tinha na casa de Fonte Seca. Olhou para a papelada acumulada, mais de quarenta anos de pó, do pai e dele. Gavetas para fora, virou-as ao contrário. Papéis amarelecidos, fotos daquele preto e branco com muitos anos.

Tudo fora da ordem, coisas misturadas, um papel com uns apontamentos à mão, numa letra de alguém que devia estar com uma pressa danada, uma data de Janeiro de 65, uma foto logo a seguir com quatro camaradas sorridentes, empoleirados numa barcaça do navio, as fardas novinhas, ainda com os vincos a notarem-se nos calções, as pernas e os braços muito brancos, o sol a dar-lhes com um mar calmo à volta.

E logo a seguir outra foto, com um deles a escorrer sangue que foi com certeza vermelho por uma daquelas pernas abaixo, 12 de Setembro de 65, granada, só isso nas traseiras da foto.

Há pretas bonitas aí onde estás? Dizem aqui que elas andam nas ruas sem soutien, já viste alguma, uma madrinha de guerra curiosa. Uma boina que já foi preta, um emblema de plástico, uma Playboy com a Marilyn na capa, as folhas da revista com sinais de muito uso, muitas mãos passaram por ali, pelo menos um pelotão inteiro, corneteiros e tudo.

Um papel azul de 35 linhas, oficial, do Exército Português, DESPACHO, o título a meio, meia dúzia de linhas muito bem arrumadas, que é para aprenderes a respeitar a ordem pública. Mais uma foto, uma balanta, sorridente, uma cabaça com água na cabeça, as mãos a segurá-la, a água, sorridente também, a escorrer-lhe pelas mamas empinadas, mais apetitosas ainda.

Uma clareira, o sol a inundar a imagem, um pelotão em fila de pirilau, uns a olhar para o chão, outros para muito longe dali. Um relatório de operações, um ataque fulminante das NT desbaratou totalmente as forças IN que os emboscaram. Perseguidos pelo pelotão do alferes T., foram deixando para trás o material que abaixo se indica. E indicava-se. Uma granada de mão ofensiva, um porta-cartucheiras, cerca de 100 munições de vários calibres e mais material não especificado.

Uma carta de Bissau, uma foto com uma dedicatória, para nos momentos de solidão te lembrares de mim. E outra foto, uma mesa cheia de garrafas de cerveja, e um gajo com cara de sono, olhar morto, apalermado para a câmara.

E mais papéis. Outro documento do Exército, tão oficial como o outro, com o título a meio, PUNIÇÃO e mais uma série de linhas muito bem organizadas, letras a baterem certinhas, como se tivesse sido um designer a arrumá-las. Meu querido filho, nesta altura que te escrevo já deves estar a fazer as malas para te vires embora. Embora ainda não, mãe, há ainda muita tralha para pôr na ordem.

Outro documento do Exército, letras muito bem organizadas, o s também, sempre a insistir em querer ficar um pouco acima das outras, mas o título sempre a meio, LOUVOR, estás a ver como estás a aprender a respeitar a ordem estabelecida? Não tarda e estás feito um cidadão como deve ser, cumprir primeiro, cumprir segundo, cumprir terceiro e por aí fora.

Talvez depois tenhas um prémio, quem sabe?

Escrevo-lhe esta para lhe dar conhecimento que o meu marido, chamado Roberto, soldado do seu grupo, já não me escreve vai para dois meses e meio. Eu sei que não lhe aconteceu mal nenhum porque as más notícias correm muito depressa, não é? Peça por tudo ao meu marido que me escreva, por amor de quem lá tem, senhor alferes, que eu sei que é um homem direito.

Sabes onde te estou a escrever? Na cama, com a tv em frente, a ver o diário da volta, os ciclistas, serra da Estrela acima, com um calor que não imaginas. Fui sair depois do jantar, apanhar um pouco de fresco até à baía, encontrei o idiota do P., não me larga nem por nada, vim logo a correr para casa. O calor, aqui dentro de casa, pega-se. À falta de um balde de gelo onde eu coubesse, meti-me no chuveiro, e deixei-me estar com a água a correr até a mãe bater à porta. Nem roupa nem nada, estou assim, com o livro em cima dos joelhos, a servir de secretária. Ainda te lembras do pôr-do-sol no Monte Brasil? E daquelas tardes loucas nos Biscoitos, os dois sós, sem roupa?

Ordem de serviço, abates à carga, transferências, punições, louvores, comissões dadas por finda, prorrogações de comissão por mais um ano. Mais e mais fotos, uma cópia da operação Vamp, setas a vermelho e verde no croqui a papel vegetal. Que é que interessa agora se este croquis mente, se a entrada para o acampamento não foi por aí, mas sim pelo trilho que vem do Senegal?

Star 6.35, modelo CU. Cortesis de Star-Firearms
Estojo, que é isto? A Star do pai, uma 6,35. Pegou nela, as seis balas no carregador, a cor dos cartuchos, os projécteis prateados, como se tivessem saído ontem da fábrica! Veio-lhe à memória a jura que fizera a ele próprio, ainda na Guiné, de nunca mais voltar a pegar numa arma.

Uma data de horas a separar a papelada, cartas, fotografias, tanto tempo passado e parecia-lhe ter sido ontem. Vieram as recordações, uma, depois outra, uma catadupa a seguir e a Guiné a voltar à tona do charco.

No dia seguinte, num princípio de uma tarde de Janeiro, com a Star do pai no bolso do blusão, montou na bicicleta e foi pelo caminho fora, a caminho da Barca do Lago.

O areal imenso de há quarenta anos estava muito mais pequeno. Seria assim ou os olhos já não eram os mesmos? Bicicleta encostada a um eucalipto, meteu-se pela areia fora, sentou-se em frente à casa dos Reids. Uma história infeliz nos meados dos anos 50 veio-lhe à lembrança. O dono daquela casa magnífica, nunca se soube porquê, metera uma bala na boca.

Pegou na Star, esteve uns momentos a mirá-la, depois lançou-a, bem para o meio das águas. Sentado, uma tarde num instante, reviu a vida toda para trás, os Rasas todos que conhecera, ele próprio. O Cávado, em frente, cheio de preguiça, sem vontade de se perder no mar.

Gil da Silva Duarte.

Às 5 horas de uma tarde cheia de sol, em Janeiro de 2005

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Nota do editor:

(*) Vd, I Série > Poste de 10 de fevereiro de 2006 >  Guiné 63/74 - DXIX: Tantas Vidas, o blogue do nosso camarada Virgínio Briote

(..)  Temos mais um camarada nosso que se tornou bloguista: o Virgínio Briote (ex-alferes miliciano comando, Brá, 1965/67). É com muita satisfação ( ) que vejo o nosso VB a dar os primeiros passos na pilotagem do seu próprio blogue... A gente já sabia que ele tinha o bichinho da escrita. A blogosfera é um outro passo a seguir, lógico e natural... Sentimo-nos honrados por ele ter andado também connosco, nestes últimos meses...O VB (...) comunicou-me que o blogue foi uma surpresa e uma prenda dos filhos: que ternura!... O blogue chama-se Tantas Vidas.

"Estou a aproveitar o espaço para treinar, relato pequenas histórias do dia a dia e vou publicar algumas partes dos meus dias na Guiné". Desde 6 de Fevereiro de 2006, o italiano (sic) já lá pôs uma meia dúzia de boas estórias na categoria Guiné.

Tem outra secção (ou categoria) chamada Contos Curtos, altamente promissora (Que estória, de primeira água, a do Inácio, militante delicado!)...

O nosso VB, um andarilho do mundo, promete: talento, sensibilidade, fino trato, sentido de humor, capacidade de efabulação, matéria-prima, mundo percorrido, vidas vividas... nada lhe falta. Tivemos aqui o privilégio de publicar algumas peças dele, que são de antologia...

Espero que ele continue a aparecer por aqui, quanto mais não seja em patrulha... de nomadização. Boa saúde, boa navegação, camarada! E que o teu belo exemplo contagie outros amigos e camaradas. Por que viver e escrever... é preciso!

PS - Adorei o poste 1. O Caminho para lá: deliciosa descrição da viagem até Guiné, no Alfredo da Silva, com as peripécias do Capitão Matos e do Alferes Gil no Funchal, no Mindelo, em Bissau... Cinco estrelas, VB!

[Estes links foram descontinuados, com a desativação do blogue Tantas Vidas] [LG]

Guiné 63/74 - P13193: Parabéns a você (738): Carlos Alberto Cruz, ex-Fur Mil da CCAÇ 617 (Guiné, 1964/66); Carlos Nery, ex-Cap Mil, CMDT da CCAÇ 2382 (Guiné, 1968/70); Gabriel Gonçalves, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 2589/CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71); João Santiago, Amigo GranTabanqueiro e Jorge Narciso, ex-1.º Cabo Esp de MMA da BA 12 (Guiné, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13187: Parabéns a voce (737): Rui Gonçalves dos Santos, ex-Alf Mil, CMDT da 4.ª CCAÇ (Guiné, 1963/65)

domingo, 25 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13192: Convívios (601): Rescaldo do último Encontro da tertúlia da Magnífica Tabanca da Linha, levado a efeito no passado dia 15 de Maio de 2014 (José Manuel Matos Dinis)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), o animador-mor da "Magnífica Tabanca da Linha", com data de 16 de Maio de 2014:

Carlos, bom dia!
Vou tentar despachar em duas penadas, para evitar críticas contundentes e dolorosas, sobre o elegante acontecimento de ontem, no restaurante de Oitavos, sito numa derivada da estrada do Guincho.
Se tiveres tempo para uma edição especial, esquece, aproveita e vai descansar, que a malta ainda não acordou da digestão.

Um abração
JD


O que se passou foi mais ou menos o seguinte: 

Estavam 30 pessoas inscritas, e o restaurante fez a despesa correspondente com generosidade, mas nunca tinha acontecido: faltaram uma data deles.
Uns por doença, já justificada, outros porque se esqueceram, outros, sabe-se lá porquê.
Indigestões benfiquistas? Não creio.
À última da hora ainda foi cooptado o Castanheira, e também apareceu o AGA que já dispensa apresentações e marcações, bem como o Lema Santos, que acompanhou o Carlos Silva. Duas estreias, portanto.

 O dia apresentou-se radioso, quente, e limpo, a proporcionar uma excelente vista sobre a paisagem, que do céu azul brilhante, escorria pela encosta escura da serra de Sintra, que de longe deixava espraiar um cenário de pinheiros, bordejados pela espuma do mar, e que ganhava amplitude a partir do ponto altaneiro de Oitavos. O pessoal regalou-se deslumbrado, enquanto fazia tempo para o inicio do almoço.

A ementa foi reforçada nas entradas, que desta vez sobraram e foram a contento. O prato principal foi recordativo da Guiné, e consistiu de bianda com estilhaços. Só que os estilhações eram uma quantidade generosa de gambas, acolitadas por bruxas, pedaços de lavagante, envolvidos por navalheiras, e cobertos por mexilhões da Nova Zelândia.
Quando cheguei, depois de um percalço, já o pessoal tinha despachado as entradas, mas ainda houve sobras para além do que comi. Quando a mariscada foi servida, o pessoal calou-se, serviu-se, repetiu indiscriminadamente, e logo se constatou que sobrava comida do mar, que o pessoal tinha saudades era do arroz.
A acompanhar, havia vinhos brancos e tintos da Ferreirinha (Esteva), e as garrafas secavam perante o agrado geral. Com menos escolha, mas bem servido, seguiu-se o período da sobremesa doceira, com dois bolos de bolacha e outros dois brigadeiros, que chegaram e sobraram para as encomendas.
O Humberto até caprichou com laranja da época, pois parece que anda a privar-se de açucares.
Rematou-se com cafés incluídos e digestivos a pedido. Portanto, nada a apontar, atrevo-me até a dizer, que este foi o melhor almoço e serviço de que já beneficiámos.

Houve tempo para muita conversa, toda a gente mostrou estar em boa forma física e anímica, destacando-se o famigerado fadista ribatejano, Ármando Pires de nome artístico, o qual cirandou por todos os espaços, ora deitando abaixo, ora louvando desembaraços, já que lhe sobrava tempo, talento e venenos variados; no entanto, entre os ausentes, temos que destacar os que não puderam deslocar-se por questões de saúde:
primeiro foi o Veríssimo, a contas com dores na região lombar. Ainda me ofereci para o massajar com óleos perfumados do oriente, mas ele dispensou a boa-vontade.
Depois foi o Marcelino, que me havia referido desejar estar com a malta, pois é grande apreciador destes convívios entre camaradas. Mas ele debate-se com um problema de saúde, e o último tratamento tem-lhe provocado diarreias consecutivas, que o deixam muito preocupado, debilitado, e dependente de uma casinha próxima.
Finalmente, foi o Colaço, que no próprio dia, em consequência de desgraças devidamente justificadas coincidente com a derrota dos passarinhos (apresentou relatório do hospital), acabou por merecer a benevolente justificação do Senhor Comandante, que o anima para a próxima maré.

Não inscrito, mas a alimentar a expectativa, o Senhor Comandante-Chefe também não compareceu, mas ainda recentemente se deslocou à Cidadela, pelo que deve estar a recuperar do esforço, a quem desejamos rápidas e efectivas melhoras.

Em suma, se com o calor chegámos, com o calor estomacal partimos, todos em evidentes manifestações de contentamento.
O último período é dedicado às senhoras, desta vez três heróicas desafiantes da bianda, que não desistem de acompanhar os maridos, e de contribuir para a contenção do comportamento dos veteranos.

P.S.
Por razões de modéstia pessoal, e porque o Senhor Comandante mo determinou, não falo de mim, sempre importante para a fabricação dos relatos, chato, provocador, e catalisador de provocações e ameaças.

JD
(à espera da promoção a coronel)

************

2. Segue-se uma selecção de fotos e respectivas legendas da responsabilidade do editor

 Quiçá, à espera de mesa mais farta: Luís Moreira, António Maria, Jorge Pinto e Miguel Pessoa

 António Graça de Abreu e Manuel Lema Santos em conversa amena

 Entre flores, à sombra como convém às senhoras: Gina Marques e Giselda Pessoa

Sorridentes para a fotografia: Mário Fitas, Manuel Resende, Jorge Rosales e um camarada não identificado

 José Rodrigues e Carlos Silva

Já instalados à mesa: João Sacôto, João Martins e Manuel Lema Santos

 Nesta mesa: Giselda Pessoa, Humberto Reis, António Fernando Marques e esposa Gina

À espera da promoção a coronel, José Manuel Matos Dinis. Será que o camarada do lado poderá mover alguma influência?

 Quase que apetece dizer: mesa dos VIP's

Os olhos também "comem"

 Armando Pires, o famoso Furriel Enfermeiro da 2861, Ribatejano e Fadista

A amizade é um sentimento muito bonito. Que o digam o Manuel Joaquim e o Manuel Lema Santos

E por fim, porque é o mais importante, El Comandante Jorge Rosales

OBS: - Como se depreende umas fotos são do camarada Manuel Resende e as outras não
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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13186: Convívios (600): Encontro do pessoal da CCAÇ 799 / BCAÇ 1861 (Cacine e Cameconde 1965-67), a levar a efeito no próximo dia 14 de Junho de 2014 na Sertã

Guiné 63/74 - P13191: Memória dos lugares (268): Cachil, que eu conheci em julho/agosto de 1966... Suplício de Sísifo... e de Tântalo: rodeados de água, mas a potável tinha que vir de barco, em garrafões, de Catió ... (Benito Neves, ex-fur mil, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67)


Guiné > Região de Tombali > Ilha de Caiar > Cachil > CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67) Julho de 1966



Guiné > Região de Tombali > Ilha de Caiar > Cachil > CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67) Um abrigo (T 3)



Guiné > Região de Tombali > Ilha de Caiar > Cachil > CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67) > 1966 > Intrerior do aquartelamento  

Fotos (e legendas): © Benito Neevs (2010). Todos os direitos reservados.




Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Porto interior (no Rio Cadime, e não Cadima, afluente do Rio Cagopère) > Álbum fotográfico do Victor Condeço (1943-2010)> Foto 11 > "Marinheiros da lancha LP2 de reabastecimento ao Cachil". [, Em cima, no cais os garrafões de vridro, que eram, usados no transporte de vinho, e que foram aqui adaptados para o transporte de água potável de Catió para o Cachil]".

Foto (e legenda): © Victor Condeço (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné Todos os direitos reservados.


1. Mensagem de ontem, do Benito Neves:

Caro Luís, espero que te encontres muito melhor e em franca recuperação.

Pois, na verdade, estava convencido que te tinha transmitido as minhas "notas" sobre a estadia da minha CCav 1484 no Cachil onde, embora por pouco tempo, demos cobertura à rendição da CCaç 726 pela CCaç 1587 no período de Julho/Agosto de 1966.

Mas a "odisseia" do transporte da água não se circunscreveu apenas àquele período. A lancha LP2 (ou batelão que a substituía) estava estacionado no porto interior de Catió e a "guarnição militar", ao longo de 16 meses (salvaguardada a necessidade operacional),  era composta por elementos da CCav 1484 - diariamente.

A "odisseia" da água já a tinha relatado em comentário ao Poste 6944 onde o Alberto Branquinho fez um excelente trabalho sobre a água que se bebia.(*)

Aqui vão mais duas ou três fotos sobre o Cachil, que já anteriormente havia enviado. (**)

2. Comentário de L.G.:

Segundo informação do José Colaço, a última companhia que passou pelo Cachil foi a CCAÇ 1620 (esteve lá de 20/3 a 11/7/1968). Portanto, o aquartelamento (?) só foi abandonado no tempo do Spínola.... Escreveu ele: "É do conhecimento geral que à minha companhia [, CCAÇ 557,[]  e ao 7º destacamento de fuzileiros coube-lhes a missão de ocupar o Cachil na operação Tridente. Tterminada a operação,  a missão foi concluir o forte apache ou a fortaleza de troncos de palmeira, como lhe chamou o sargento comando Mário Dias, onde permanecemos 10 meses e uma semana de 23-01 a 27-11-1964.A ultima companhia do abençoado trotil foi a CCaç 1620 (de  20/03 a 11/07 de 1968). Temos alguém no blogue desta companhia que nos relate o encerramento?" (***).

Cachil, tal como outros aquartelamentos do sul, foi "desatividado", ou em linguiagem mais prosaica, abandonado, devido ao isolamento, às dificuldades de abastecimento e, provavelmente, ao baixo moral das tropas. Como é sabido, isso aconteceu na sequência da nova orientação estratégica dada por Spínola que chega à Guiné como brigadeiro, em maio de 1968. Na região de Tombali, há outros aquartelamentos e destacamentos que são abandonados, dentro de uma lógica de custo-benefício, e não propriamente por mérito (militar) do PAIGC: estou-me a lembrar de Cacoca, Sangonhá, Ganturé, Gandembel... Mas também no leste, Ponta do Inglês (subsetor do Xime), Béli, Madina do Boé... E outros mais, incluindo tabancas em autodefesa e destacamentos de milícias (por ex., Madina Xaquili). Cito de cor... Este processo de reestruturação do nosso dispositivo militar no 2º semestre de 1968 e 1º semestre de 1969, ainda está mal documentada no nosso blogue. Acho que devíamos continuar a falar do Cachil...

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(***) Vd. também poste 24 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13188: Memória dos lugares (266): Cachil, o meu suplício de Sísifo durante 30 dias (Benito Neves, ex-fur mil, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67)

sábado, 24 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13190: Bom ou mau tempo na bolanha (57): Duas personagens (Tony Borié)

Quinquagésimo sétimo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.


Companheiros, com a ajuda do “nosso Blogue”, que o “comandante Luis” criou e, nós todos vamos alimentando com as nossas memórias, os nossos comentários, as nossas críticas na descoberta da verdade e, de vez em quando, a “descoberta” de mais um companheiro que também por lá andou e agora se deu a conhecer.

Neste contexto, já lá vai algum tempo que vamos falando quase semanalmente, no nosso caso, com a ajuda do Carlos Vinhal que nos vai corrigindo e, temos partilhado a nossa vivência naquele conflito e não só, às vezes saem algumas conversas que não têm nada, ou quase nada, a ver com a guerra lá vivida na Guiné, mas a intenção foi quase sempre partilhar os momentos maus, menos maus, bons, menos bons e, às vezes, fazer-vos esquecer por alguns momentos o conflito por que passámos e, agora passado meio século, “por enquanto ainda respirando, claro, com a ajuda de alguma medicina de manutenção diária, que me faz respirar e andar normalmente, dando-me muito tempo livre, que às vezes utilizo revendo alguma informação, recuperada e partilhada por familiares de segunda geração, onde vou manuseando com algum cuidado, papeis e fotos antigas, além de vos contar o que por aqui vai passando, pois a memória continua “à solta”, encontra tudo e, hoje essa mesma memória “esbarrou-se”, perdoem o termo, com o “Sidney Poitier”, e decidi colocar estas duas personagens, que são a mesma pessoa, nas minhas memórias daquele conflito, porque parecendo quase mentira, aconteceram e, entendi que os meus companheiros deviam saber, pois às vezes sucedem coisas que não parecem lá muito normais, mas vou colocar esta conversa com todos vocês, dentro daquele ditado popular em que o povo diz, “como o mundo é pequeno”.

Isto andou tudo dentro de mim, como se fosse um “segredo”, pois na altura em que aconteceu, “humilhou-me”, mas não faz mais sentido continuar calado, pois nesta idade, nunca se sabe quando vem o dia de amanhã, ou se até por acaso existe amanhã, portanto vou “desabafar”, com todos vocês, que considero uma segunda família, vou contar-vos tudo, seguindo a minha memória, colocando-me no papel de como era conhecido lá em Mansoa naquele tempo, contando como tudo se passou, embora a linguagem talvez fosse outra e a conversação também talvez fosse diferente, mas passou-se mais ou menos assim.


A primeira personagem era um africano, ainda jovem, natural da zona onde o então Cifra estava estacionado, que era Mansoa, creio que era o único funcionário, ou um dos funcionários do que se dizia que era uma espécie de câmara municipal da referida vila, onde por acaso, até lhe emitiu um bilhete de identidade em seu nome, do qual vos mostro uma cópia, com uma fotografia tirada naquele tempo, com a roupa emprestada por um alferes miliciano do Agrupamento, onde encobri as impressões digitais e outros dados a que não era muito conveniente dar publicidade, mas ainda lá está: residência “Mansoa”, no lugar de “sinais particulares”: “tatuagem patriótica no braço direito”, que me tem acompanhado pela vida fora, onde mais abaixo, dizia: “Secção Ultramarina da Guiné do Arquivo de Identificação, 15 de Fevereiro de 1966”, portanto no princípio do ano do meu regresso, que creio que era igual aos que eram emitidos aos naturais, que o requeriam para poderem transitar no território, sem serem incomodados pelos militares.


O tal africano falava e escrevia português, educado na comunicação com os militares, convivia com o Cifra na sede do clube de futebol local, no qual era, se não estou em erro, membro da referida direcção, sabia discutir qualquer tema onde entrasse desporto e mesmo a História de Portugal. Opinava sempre com bom senso e com uma calma, como se tivesse mais idade do que aparentava. Fixava o nome dos militares que frequentavam a sede do clube de futebol, e não só, pois a quase todos tratava pelo nome.

Parecia incrível, todas estas virtudes, num homem natural desta vila, pois dava a entender que nunca tinha saído da província, mas ele certo dia disse ao Cifra:
- Estudei numa escola católica, lá na capital, mas sou natural daqui, desta região, onde me sinto muito bem.

Era o que se podia dizer, “um bom companheiro”.

O Cifra, deixou de o ver no clube e perguntou ao rapaz que servia no bar:
- Onde é que se meteu o “Sidney Poitier”?

Era assim que o Cifra e os outros militares lhe chamavam por ser parecido com um actor americano, que na altura protagonizava alguns filmes de cowboys, que os militares viam, nessa mesma sede.
O rapaz, responde ao Cifra, com uma cara, mostrando alguma tristeza:
- Como posso eu saber, Cifra. Ninguém sabe, desapareceu. Talvez o pessoal mau, o levou pela noite escura.

E tinha desaparecido.

E com ele desapareceu também quase todo o arquivo dos residentes na área, que até aquela data se tinham registado na câmara da vila e, se foi ele ou não, nunca ninguém soube, pelo menos enquanto o Cifra por lá viveu.

Os anos passaram, e eis a segunda personagem, agora falando eu, na minha pessoa.


Terminei a minha comissão de serviço militar na então Província da Guiné, regressei a Portugal, emigrei para os Estados Unidos e, como funcionário da multinacional onde trabalhei por mais de trinta anos, logo nos primeiros anos veio trabalhar um homem para um departamento diferente de onde eu exercia as minhas funções, que nas feições era parecido com o tal amigo “Sidney Poitier”, mas usava o cabelo grande, que formava uma pequena “bola” à volta da cabeça, barba um pouco crescida, mas muito bem aparada, a quem nós chamávamos “Jean”, pois nunca consegui esquecer o seu nome.

Falava muito bem inglês, com sotaque da Inglaterra, confundia-se muito bem com os diversos emigrantes que também lá trabalhavam, oriundos do Haiti, com quem por diversas vezes o ouvia falar e a conviver, na língua materna desses emigrantes, que era o francês.

Na altura do lanche, por vezes o pessoal estava junto e eu já andava desconfiado, estava mesmo quase para o questionar, mas só me apercebi, quando vi o suposto, “Sidney Poitier” entrar, sentando-se em frente a mim, abriu um envelope e começou a ler uma carta. Colocou o envelope, mesmo na minha frente, que tinha colados diversos selos dos correios da Guiné-Bissau, como fosse um País independente, onde se destacava a figura do líder Amílcar Cabral. Creio que os selos não tinham o carimbo de nenhuma estação de correio de qualquer País.
Muito admirado, olhei-o de frente e, agora sim, questionei-o.

O suposto, “Sidney Poitier”, a quem nós chamávamos “Jean”, talvez tivesse feito tudo isto de propósito, provocando-me ou talvez para demonstrar a vitória na sua luta, respondeu-me naquele português, com sotaque de África, que todos nós conhecemos, com algumas palavras em inglês pelo meio e, que eu logo reconheci, com muita gentileza, aliás como sempre falava, mais ou menos com estas palavras, talvez não fossem iguais, mas o conteúdo de toda a conversação, era este:
- Eu reconheci-te, és a mesma pessoa que era o militar do País invasor. Não disse nada, para não levantar problemas aqui neste local de trabalho, pois como sabes, eu convivia com os militares, vigiava-vos, sabia quase tudo de vocês e, antes que os militares me prendessem e matassem, tive que me retirar de Mansoa, fui servir o meu movimento de libertação, residindo num País vizinho. Passei a ser inimigo declarado, ambos temos os nossos ideais e, é por eles que lutamos. Peço-te por favor que mantenhas o silêncio de quem eu sou, que eu farei o mesmo a teu respeito. Como estás a ver pelos selos deste envelope, o meu País já é independente há alguns anos e, os militares portugueses são uns intrusos no meu País, como todo o mundo sabe, só menos Portugal. Tenho muito orgulho em fazer parte do movimento de libertação do meu País, que por enquanto governa em algumas zonas que já são consideradas livres, estou aqui para estudar, estou quase a acabar os meus estudos e, em breve vou regressar a África, esperando que os intrusos saiam definitivamente, para que possamos governar o nosso País em paz.

Foram mais ou menos estas palavras, mas de vez em quando parava de falar e olhava-me, as suas palavras deixavam de ser gentis, falava-me com alguma arrogância, demonstrando mesmo alguma intimidação. Claro que eu fiquei embaraçado e um pouco humilhado com todas estas palavras, para mais num local onde mais de cinquenta por cento dos empregados eram afro-americanos. Com toda a certeza que lhe devia ter respondido com algumas palavras amargas, mencionando nomes e adjectivos, que talvez não fossem muito próprias para o encorajar na sua luta, mas era o sentimento que tinha eu e, muitos dos combatentes que por lá tinham vivido dois anos de sofrimento, vendo morrer muitos companheiros naquele conflito em África.


Passámos a conversar mais algumas vezes, mas poucas, pois da parte dele mostrava sempre uma pequena indiferença para comigo, podia mesmo dizer que a minha presença não lhe era agradável. Uma vez lembrei, entre outras coisas, as raparigas que eram minhas amigas, na altura em que estive em Mansoa, e que tinham passado para a guerrilha, que ele afinal também conhecia, mas as suas palavras, além de serem proferidas com educação, não escondiam alguma fúria.

O “Jean”, trabalhava como ajudante na área onde se processava o alumínio em pó, que era moído juntamente com um lubrificante que o transformava em pasta, num departamento que muitos diziam ser um trabalho de “brancos”, pois a cor do material, “pintava” quem manuseava aquele produto de branco.

Durante o pouco tempo que lá trabalhou, passava muitas horas a ler e a estudar, procurava o silêncio, falava muito pouco, mas sempre com educação. Nunca soube por que razão, mas coincidência ou não, passadas umas semanas de nos conhecermos de novo, largou o emprego e nunca mais o vi.

Tudo isto aconteceu talvez por altura dos anos de 1972 ou 1973, não me lembro ao certo e, como costuma dizer o companheiro Veríssimo:  “Pronto, está dito, está dito”.

Tony Borie, Maio de 2014
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Nota do editor

Último poste da série de 17 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13158: Bom ou mau tempo na bolanha (56): Las Vegas, Las Vegas (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P13189: Memória dos lugares (267): Cachil, na ilha de Caiar, a sudoeste de Catió, na margem esquerda do Rio Cobade



Guiné > Mapa da província > 1961 > Escala 1/500 mil > Pormenor > Posição de Cachil, na ilha de Caiar, a sudoeste de Catió... As ilhas de Caiar, Como e Catunco, estavam separadas do continente, a norte pelo Rio Cobade, a oeste pelo Rio Tombali, a leste pelo Rio Cumbijã, e a sul pelo oceano Atlântico... A ligação de Cachil (na margem esquerda do Rio Cobade)  a Catió fazia-se de barco, pelo Rio Cobade e depois pelo seu afluente, o Rio Cagopère (em cuja margem direita se  situava o porto exterior de Catió).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)



Guiné > Ilha do Como > 1964 > Op Tridente (de 14 de Janeiro a 24 de Março de 1964)

Infografia: © Mário Dias (2005). Todos os direitos reservados


"A designada Ilha do Como é, na realidade, constituída por 3 ilhas: Caiar, Como e Catunco mas que formam na prática um todo, já que a separação entre elas é feita por canais relativamente estreitos e apenas na maré-cheia essa separação é notória.

"Na ilha não existia qualquer autoridade administrativa nem força militar pelo que o PAIGC a ocupou (não conquistou) sem qualquer dificuldade em 1963. As tabancas existentes são relativamente pequenas e muito dispersas. Possui numerosos arrozais, o que convinha aos guerrilheiros pois aí tinham uma bela fonte de abastecimento, acrescido do factor estratégico da proximidade com a fronteira marítima Sul e o estabelecimento de uma base num local que facilitava a penetração na península de Tombali e daí poderia ir progredindo para Norte.

"Não tinha estradas. Apenas existia uma picada que ligava as instalações do comerciante de arroz, Manuel Pinho Brandão (na prática, o dono da ilha) a Cachil. A partir desta localidade o acesso ao continente (Catió) era feito de canoa ou por outra qualquer embarcação. A casa deste comerciante era, se não estou em erro, a única construída de cimento e coberta a telha.

"Portugal não exercia, de facto, qualquer espécie de soberania sobre a ilha. Tornava-se imperioso a recuperação do Como. Foi então planeada pelo Com-Chefe a Operação Tridente na qual foram envolvidos numerosos efectivos, divididos em 4 Agrupamentos (...), num total de cerca de 1200/1300 homens"


Fonte: Mário Dias > Guiné 63/74 - CCCLXXII: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): Parte I (Mário Dias) (15 de Dezembro de 2005)


Guiné > Região de Tombali > Carta de Catió > 1956 > Escala 1/50 mil >  Posição relativa da Catió, com os seus portos, interior (no Rio Cadime, afluente do Rio Capère) e exterior (no Rio Cagopère, afluente do Rio Cobade, que por sua vez liga(va) o Rio Tombali ao Rio Cumbijã).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014).





Guiné > Região de Tombali > Ilha de Caiar > Cachil > CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil (1964/66) > Desembarque no Cachil,  a norte da iha de Caiar,  princípio de Dezembro de 1965


Guiné > Região de Tombali > Ilha de Caiar > Cachil > CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil (1964/66) >  O cais de abicagem, feito de troncos de palmeira... Na foto,  a mascote da companhia, o Toby, de raça boxer, ferido em combate. .  Fotos do álbum do ex-alf mil João Sacôto).

Foto: © João Sacôto (2011). Todos os direitos reservados



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Porto interior (no Rio Cadime, afluente do Rio Cagopère) > Álbum fotográfico do nosso saudoso camarada Victor Condeço (1943-2010) > Foto 1 > " Aproximação ao porto interior de Catió no rio Cadime da lancha de transporte LP2, que fazia o reabastecimento diário do pão e da água ao Cachil na Ilha do Como [1967/1968]. ".



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Porto interior (no Rio Cadime, e não Cadima, afluente do Rio Cagopère) > Álbum fotográfico do Victor Condeço> Foto 2 > "- Lancha do Cachil LP2, em manobra de atracação ao cais do porto interior de Catió no rio Cadime. Neste dia [11 de Julho de 1967] os passageiros eram um pelotão da CArt 1687 em trânsito do Cachil para Cufar, onde renderia por troca outro pelotão da CCaç 1621, concluindo-se assim a troca das companhias".

Fotos (e legendas): © Victor Condeço (2010). Todos os direitos reservados.
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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13188: Memória dos lugares (266): Cachil, o meu suplício de Sísifo durante 30 dias (Benito Neves, ex-fur mil, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67)