quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13713: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (6): Homenagem a Mário Lima e Aguinaldo de Almeida, já falecidos, meus colegas do BNU, em Bissau (António Medina, ex-fur mil inf, CART 527, Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65; natural de Santo Antão, Cabo Verde, vive hoje nos EUA)



Aguinaldo Almeida (já falecido), quadro do BNU de Bissau e autor da introdução, que a seguir se publica, nos Cadernos de Poesia "Poilão", editado pela secção cultural do Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do BNU - Banco Nacional Ultramarino, Bissau.




Fotos: © Albano de Matos (2014). Todos os direitos reservados



Albano Mendes de Matos
1. Mensagem,  de 7 do corrente, do Albano de Matos


Caro Luís,

Só agora vi que o nome do Aguinaldo não está correto. É Aguinaldo Almeida.

O Aguinaldo esteve na minha casa no verão de 1974, quando vim da Guiné, de férias, depois, perdi-lhe o rasto. Ele estava cá, de férias.

Envio a foto do Aguinaldo e o original da Introdução do POILÃO, que ele assinou.
Abraço.




Elemento gráfico da capa do documento policopiado do Caderno de Poesias "Poilão", editada em dezembro de 1973 pelo Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (O GDC dos Empregados do BNU foi criado em 1924).

Considerada a primeira antologia da poesia guineense, esta edição (, 700 exemplares, policopiados, a stencil, ) deve muito à carolice, ao entusiasmo, à dedicação e à sensibilidade sococultural de dois homens: (i) o Aguinaldo de Almeida, caboverdiano funcionário do BNU, infelizmente já falecido(segundo informação que nos acaba de dar o nosso grã-tabanqueiro António Medina); e (ii) o nosso camarada Albano Mendes de Matos (hoje ten cor art ref; tenente  art,  GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74;  foi o "último soldado do império"; é natural de Castelo Branco, vive no Fundão; é poeta, romancista e antropólogo].


2. Mensagem que enviei há dias, em 7 deo corrente,  ao nosso camarada da diáspora António Medina [ex-fur mil inf, CART 527, Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65; natural de Santo Antão, Cabo Verde, foi funcionário do BNU, Bissau,  de 1967 a 1974; vive hoje nos EUA]:

Assunto: Colega do BNU, em Bissau, Mário Lima, poeta

António: Como vai essa saúde ? E a disposição ? Viste o poste sobre o teu aniversário ?

Outra coisa: ainda te tembras do Mário Lima, teu colega  do BNU e patrício ? Escrevia poesia e está nesta antologia, organizada pela vossa casa de pessoal, em dezembro de 1973... E de uma tal Maria Caela ? Tens alguma pista sobre esta mulher ?... Vê aqui (*).

Manda notícias. Um abraço fraterno. Luís Graça
António Medina



3. Resposta do António Medina, na volta do correiro, 
8 de Outubro de 2014 às 00:22

Meu caro Luis:

Antes de mais os meus cumprimentos e agradecimentos pelos teus votos de Feliz Aniversário no Blogue e que tomei conhecimento naquele mesmo dia. Infelizmente tinha acabado de falecer no Rio de Janeiro um meu irmão, vitima de doenca, que me transtornou um pouco.

O Senhor Mário Lima foi de facto meu colega no BNU em Bissau, na altura desempenhando as funções de Chefe de Servicos. Funcionário muito competente, era amigo e respeitava os seus subalternos, procurando e contribuindo para que todos os mais jovens tivessem boa aprendizagem do sistema bancário, o que fez com que a Filial de Bissau fosse conhecida como Campo de Treino, para posteriormente serem transferidos para outras paragens.

Mário Lima.
Foto: Cortesia de RTC

Óptimo tocador de violão, algumas vezes aos sábados não se importou que o visitassemos para se ouvir o seu dedilhar pelas cordas bem afinadas do seu instrumento, interpretando mornas e coladeiras.

O Mário Lima na cidade da Praia, depois da Independência, foi um dos negociadores que ajudou a implementar o Banco de Cabo Verde, foi um dos seus Directores em exercicio até se reformar. Faleceu a 7 de Janeiro deste ano corrente de 2014, vítima de doença prolongada.

Maria Caela (*), nome que vive no meu subconsciente até agora, imagino se tratar de alguma morena criola, dengosa, da Boa Vista donde Mário Lima também era natural e que por qualquer razão lhe mereceu os versos. Assim como existe uma outra morna de nome Maria Barba (Bárbara), também da Boa Vista, pessoa esta já de certa idade que ainda conheci em Bissau (**). Entretanto te prometo olvidar meus esforcos no sentido de obter informações sobre a Maria Caela.


Guiné > Bissau > c. 1965/66 > Um edifício que faz parte das memórias e do imaginário de juventude de alguns dos nossos camaradas de armas, como o Virgínio Briote.


Foto: © Virgínio Briote (2005). Todos os direitos reservados


Já agora aproveito para  prestar,  a tíulo póstumo,  uma pequena homenagem a Aguinaldo Almeida colega e bom amigo. Impulsionador de várias actividades entre empregados do BNU, lecionando em horas extras alunos que precisavam de melhor preparação académica para um futuro melhor, preparando Ralies Auto, etc, ainda me lembro da apresentação da peça teatral "A Hora de Todos",  na Associação Comercial de Bissau, que bastante agradou os assistentes.

Por agora é tudo.
Um abraco do colega e camarada
AMedina


3. Recorde da  imprensa caboverdiana sobre o Mário Lima, que nos mandou o António Medina:

A Semana > 21 de dezembro de 2007

Notícias > Mário Lima prepara livro sobre a banca

21 Dezembro 2007

O escritor Mário Lima tem em preparação um livro sobre a história da banca em Cabo Verde. Quadro do Banco Nacional Ultramarino durante 21 anos, o autor decidiu juntar duas das suas paixões: a literatura e o mundo das finanças.

A obra, em fase de revisão, abordará a génese e aspectos vários da história e evolução das instituições bancárias do país.

Mário Lima, natural da Boa Vista, foi durante 21 anos quadro do BNU, sendo que parte do período que passou na instituição foi vivido na Guiné Bissau onde também colaborou em alguns jornais. Viveu também em São Tomé e Príncipe antes de retornar a Cabo Verde.

Em São Vicente, onde estudou o secundário, foi fundador da Academia Cultivar, de onde saíram alguns dos criadores do jornal Certeza: Nuno de Miranda, Arnaldo França e Tomaz Martins.

Ensaios, crónicas e crítica literária fazem parte da sua produção intelectual, onde se destaca também um conto - O Emigrante - vencedor de uma menção honrosa.

Membro fundador da Associação de Escritores Cabo-Verdianos, Mário Lima tem se dedicado, desde há muitos anos, à poesia e, em Março deste ano, publica finalmente o seu primeiro livro: Minhas Aguarelas no Espaço e No tempo traz poemas inspirados pelas vivências e observações do quotidiano. A obra será em breve secundada pela publicação do seu novo livro, desta feita de cariz histórico/científico.

(Reproduzido aqui com a devida vénia)

 _____________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 7 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13703: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (5): dois poemas do caboverdiano Mário Lima, "Retrato de Maria Caela" e "Menina Santomense"....Quem teria sido essa mulher fatal, caboverdiana, Maria Caela, que um dia saltou no cais do Pidjiguiti ?

(**) Ver aqui a letra desta morna, a que o Bana, o "rei da morna",  deu a sua voz inconfundível. A melodia parece ser do final do séc. XIX, enquanto a  letra original seria  da cantora Maria Bárbara,,, É um tocante diálogo - podia ser um fado de despedida! -  entre o tenente Serra, e a Maria Bárbara, a quem ele pede para cantar mais uma morna, na sua festa de despedida, a caminho de Lisboa (***)...

Maria Barba [Bárbara] | Bana [Adriano Gonçalves mais conhecido por Bana (Mindelo, Cabo Verde, 1932 – Loures,   2013]


Maria Bárbara, canta mais uma morna,
Senhor Tenente um' ca podê cantà màs,
Maria Bárbara, canta mais uma morna
Senhor Tenente um' ca podê cantà màs.

Um' ti ta bai nha caminho pa manga
Pa matança di cafanhot'
Um' ti ta bai nha caminho pa manga
Pa matança di cafanhot'

Senhor Tenente Serra kuand' bôcê bà pa Lisboa
Ca bôcê s'quècé di nôs
Senhor Tenente Serra kuand' bôcê bà pa Lisboa
Ca bôcê s'quècé di nôs

Maria Bárbara, eu não hei-de esquecer,
Eu não hei-de esquecer principalmente de ti,
Maria Bárbara, eu não hei-de esquecer,
Eu não hei-de esquecer principalmente de ti.

Maria Barbara, canta mais uma morna,
SenhorTenente um' ca podê cantà màs,
Maria Barbara canta mais uma morna,
Senhor Tenente um' ca podê cantà màs

Nha mae é fraca e nha pai é malandre'
S'un ca bai um' ta bà prese' pa porto
Nha mae é fraca e nha pai é malandre'
S'un ca bai um' ta bà prese' pa porto

Um' ti ta bai nha caminho pa manga
Pa matança di cafanhot'
Um' ti ta bai nha caminho pa manga
Pa matança di cafanhot'

Senhor Tenente Serra kuand' bôcê bà pa Lisboa
Ca bôcê s'quècé di nôs 
Senhor Tenente Serra kuand' bôcê bà pa Lisboa
Ca bôcê s'quècé di nôs

Maria Bárbara, eu não hei-de esquecer,
Eu não hei-de esquecer principalmente de ti,
Maria Barbara, eu não hei-de esquecer,
Eu não hei-de esquecer principalmente de ti...


[ Letra recuperada por LG, a partir daqui:

http://www.cifraclub.com.br/bana/maria-barbara/  ]

(***) Eis a história desta morna (e dos seus protagonistas):

 A Semana > Opinião > Otília Leitão > Postal de Lisboa, 20 Março 2008

(...) Clarisse [Pinheiro, a viver em Portugal] fala com emoção de sua “mãe Bárbara” ou da “Maria Barba”, a autora da morna com o seu nome, que a voz do grande Bana imortalizou. É uma das mais belas e mágicas músicas que eu, como muitas outras pessoas que conheço, interiorizei como uma grande paixão do oficial de cavalaria e engenheiro civil, Serra, obrigado a partir para Lisboa. Afinal, era uma desgarrada de despedida e saudade porque o amor era pela Victória, sua amiga, de quem o Tenente que habitava numa rocha, teve duas filhas que vivem actualmente na América. (...)

Os protagonistas que deram alma a esta morna cantada também por outras vozes da modernidade, já morreram. Ele em Lisboa. Ela, no dizer de Clarisse, uma “moça bonita” da Boa Vista que tinha a particularidade de ser “tão expressiva na alegria como na tristeza”, morreu, na Guiné-Bissau, ao fim de 34 anos, em 1974, no raiar da Independência. (...)

(...) Desde criança, Maria Bárbara cantava tão bem que era habitual vê-la em cima de uma cadeira, de vestido domingueiro, animando festas e convívios, conta Clarice. “Eu era ainda bébé, nem tinha dentes, quando a minha mãe veio cantar ao Palácio de Cristal no Porto, e foi recebida e cumprimentada por Craveiro Lopes” (****), diz a filha reportando-se a 1940 quando Maria Barba, em representação da colónia de Cabo Verde, participou na grande Exposição do Mundo Português. Pese embora a insistência de alguns empresários para que a sua mãe ficasse em Portugal, ela escolheu regressar à Boa Vista. Pouco depois parte para a Guiné.

Por causa da letra de “Maria Barba” - a morna mais antiga que faz uma referência a Lisboa e a primeira que foi gravada na sua versão integral e a duas vozes (Luís de Matos e Maria Alice) no CD “Lisboa nos Cantares Cabo-verdianos” - não resisti a uma provocação: “Oh Clarisse! Quantas paixões silenciosas, por diversos motivos, não existiram?!”. Mas Clarisse foi convicta: “Não! Ele era casado com a Victória! Essa era a sua paixão!” e sorriu. É seguramente uma Morna de despedida e saudade de alguém muito estimado, mas que tem uma postura típica do período colonial em que Lisboa, a cidade que Hans Christian Andersen já em 1866 considerava “luminosa e bela”. Era o "Eldorado", de onde se esperava que viesse a salvação de todos os males do arquipélago.

 Clarisse Pinheiro desmistifica a minha ilusão doce e diz-me que Maria Barba quer satisfazer o pedido do Tenente Serra em cantar mais nessa festa de despedida. Contudo tem uma tarefa a cumprir: ”Tinha que ir fazer uma matança de gafanhotos”, uma praga que afectava as culturas e que obrigava a que cada família cedesse uma pessoa para o fazer. Como o pai já tinha falecido e a mãe era “fraca” ela era a representante da família.

Testemunhos de vários artistas boavistenses, como António “Sancha” Neves e Noel Fortes, referem a existência de várias versões desta Morna do final do século passado, da qual a Maria Barba aproveitou a melodia para improvisar. A versão do grupo Djalunca da Boa Vista parece ser a mais fiel à letra original (...).

Clarisse Pinheiro que ouviu muitas vezes sua mãe cantar, disse que Bana se encontrou com Maria Barba na Guiné, onde ouviu pela primeira vez na rádio a sua morna. “Não há registo, não há direitos de autor, nunca foi reposta essa verdade”, observa a filha mais nova de Maria Barba que apenas conheceu Bana em Portugal, num espectáculo na FIL, movida por esse «ânimu»s que lhe fora transmitido pela mãe. No entanto, explicou, foi um cumprimento fugaz e banal, esfumando-se a expectativa de qualquer eventual reconhecimento, disse.

Clarisse nasceu em Santa Catarina, Santiago, em 1932, de um parto solitário executado pela sua própria “mãe Barba” e testemunhado pela sua irmã Aldônça, então com dois anos. Divergências entre o casal, ligadas ao facto da sua mãe, ainda menor, ter sido raptada pelo marido e de um casamento mal visto pela família, fizeram Maria Bárbara regressar à Boa Vista, dias depois, de barco. Ainda em 1940 e porque a crise da segunda guerra mundial se fazia sentir no aumento do custo de vida, as três, aconselhadas por um tio escrivão, rumaram à Guiné num barco de Manito Bento que, antes de chegar ao destino, se perdeu pela Gâmbia. (..)

Tinha 16 anos quando sua irmã, que vivia em Bafatá, casou com um bisneto do governador Honório Barreto, e viveu na Guiné-Bissau até 1980. Geria uma farmácia do seu companheiro que conheceu na pele as perseguições da PIDE (polícia política do regime colonial). Actualmente, Fernando Lima, com 80 anos, é apenas seu amigo. Ali conheceu Amilcar Cabral, entre outras destacadas personalidades que recorriam aos seus serviços. “O pai de Aristides Pereira (primeiro presidente de Cabo Verde independente) era padre e baptizou os meus filhos”, recorda. Clarisse, não conhece Cabo Verde. Apenas aqui voltou em 1957, aos 25 anos para descobrir no Tarrafal, seu pai, que entretanto já tinha onze filhos... Nunca mais voltou e as suas referências reportam-se essencialmente à Guiné-Bissau. Não resistindo à continuada degradação da sua vida, num período pós-revolucionário, fixou-se em Portugal onde estão também dois filhos e quatro netos, sem que alguma vez se tenha desligado desta triologia feminina: a mãe e as duas irmãs. (..,)

 [Excertos reproduzidos com a devida vénia]

(****) Lapso: deve ter sido o Òscar Carmona, por ocasião da Exposição Colonial, inaugurada no Palácio de Cristal, em junho de 1934... O Craveiro Lopes foi o presidente da República, do regime do Estado Novo, que se lhe seguiu, depois da sua morte em 1951...

A Maria Bárbra, que teve a primeira filha, em 1930, e ainda era menor quando casou, terá nascido nos primeiros anos da República, em meados da década de 1910... Morreu em 1974, com cerca de 60 anos... Em 1934, quando veio ao Palácio de Cristal, deveria ter 20 anos,,,Viveu 34 anos na Guiné, para onde foi viver em 1940... Mas antes disso ainda esteve, "em representação da colónia de Cabo Verde", na Exposição do Mundo Português (que decorreu en Lisboa, entre 23 de Junho e 2 de Dezembro de 1940).

O António Medina diz que ainda a conheceu, em Bissau, já com uma "certa idade", ou seja,  precocemente envelhecida... Esta história da festa de despedida do tenente e engenheiro Serra ter-se-á passado no final dos anos 20...

Há divergência entre a letra original e letra cantada pelo Bana... Ela não diz que o pai é malandro, mas, sim, que já morreu... E como a mãe, era fraca, ela tinha de ir, por ordem da polícia, matar gafanhotos, como representante da família, pelo que não podia ficar a cantar na festa de despedida do senhor tenente:

(...) Amim’ ti ta bai nhâ camin pâ Manga
Nhâ mãe ê fráca, nhâ pai ê môrte
Amim’‘m câ tem q’êm raspondê pa mim,oi,oi (...)

E o tenente responde:

Maria Barba, canta mais uma Morna,
Porque eu falarei com o vosso cabo-chefe,
Maria Barba, canta mais uma Morna,
Se tu fores presa, responderei por ti.

Guiné 63/74 - P13712: O meu Natal no mato (41): Natal de 1972 – CART 3494 (Jorge Araújo)

1. Mensagem do nosso camarada Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/1974), com data de 24 de Setembro de 2014:


Caríssimo Camarada Luís Graça,

Espero que estejas já na plenitude da mobilidade, após a intervenção cirúrgica.

Na sequência do meu comentário ao P13645, sobre a História do BART 3873, do qual fazia parte a minha CART 3494, e conforme prometido, anexo algumas fotos do Natal/1972, para os devidos efeitos.

Porque a gestão do tempo da vida académica não é tarefa fácil, voltarei à V. companhia logo que possível.


Um abraço,

Jorge Araújo.
Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494
___________
Nota de M.R.: 

Vd. Também o último poste desta série em:


Guiné 63/74 - P13711: Memória dos lugares (274): As estradas (cortadas) de Bissorã-Biambe e Bissorã-Encheia, em plena região do Oio (Carlos Fortunato, ex-fur mil trms, CCAÇ 13, Os Leões Negros, 1969/71, e presidente da direção da Ajuda Amiga)


Guiné> Mapa da província (1961) > Escala 1/500 mil > Pormenor: posição relativa de Bissorã, Biambe e Encheia, entre Mansoa, Binar e Bula, em plena região do Oio... A  vermelho, está sinalizada Queré, uma base do PAIGC, ativa em 15/3/1970. As estradas Biambe-Bissorã e Encheia-Bissorã estavam na altura cortadas.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)


1. Recentemente,  na Guiné-Bissau, a 26 de setembro último, à noite, no troço da estrada que liga as povoaçoes Bissorã-Encheia [, v d. mapa, a tracejado, a vermelho], um miniautocarro (vulgo, "toca-toca") pisou um engenho explosivo abandonado, provocando a morte de 23 pessoas e diversos feridos.

Especulou-se de imediato se o referido engenho, descrito  como uma "mina antitanque" (, possivelmente uma mina A/C,  reforçada, ) remontaria ao tempo da "luta de libertação/guerra colonial", se à guerra civil iniciada a 7 de junho de 1998 (*)...

De qualquer modo, e para além do trágico balanço em mortos e feridos, para nós, antigos combatentes,  este brutal acidente veio-nos trazer logo, à memória, mais uma vez, o pesadelo das minas, e suscitar a inevitável pergunta: Encheia, Bissorã, onde é que isso fica no mapa ?

Com a devida vénia, fomos à página do nosso querido amigo e camarada, grã-tabanqueiro da primeira hora,  Carlos Fortunato (ex-fur mil trms,  CCAÇ 13, Bissorã, 1969/71), e presidente da direção da ONGD Ajuda Amiga), "desenterrar" esta pequena crónica, já velhinha, sobre "a estrada do Biambe - 15/03/1970".  Estamos-lhe gratos e mandamos-lhe, daqui, uma alfabravo fraterno,

Reparo, entretanto, que a CCAÇ 2531 não está representada por ninguém na Tabanca Grande,  o que é uma pena...

Sempre solidários, e lutando contra ventos e marés, o Carlos Fortunato e demais amigos da ONGD Ajuda Amiga (de que fazem parte vários membros da nossa Tabanca Grande) prepararam já o próximo Contentor de Ajuda 2015, como se pode ler aqui, em notícia de 16 de julho último:

(...) A ONGD Ajuda Amiga,  depois de ter enviado e distribuído 2 contentores em 2014, prepara agora o envio do próximo contentor em 2015, o qual está planeado para ocorrer em Janeiro de 2015, 2/3 dos bens estão já em caixas etiquetadas e prontos a seguir. (...)

Está também em marcha a campanha contra o ébola:

(...) A Ajuda Amiga juntou-se aos que combatem o ébola e iniciou este mês [outubro de 2014]  a campanha de recolha de apoios e preparação para o combate preventivo contra o ébola, com o objectivo de evitar a sua disseminação à Guiné-Bissau, o que a acontecer será uma catástrofe para a Guiné-Bissau face ao pobre sistema de saúde existente, e será também uma porta que se abre para facilitar a sua entrada em Portugal. (...)

Contactos da Ajuda Amiga: telemóvel >  937 149 143;  Email: jcfortunato@yahoo.com

(LG)

2. Memória dos lugares > A estrada do Biambe - 15/03/1970 (**)
por Carlos Fortunato  [, foto atual à esquerda]

Numa das confraternizações realizadas no bar do aquartelamento do Biambe, entre a recém chegada CCAÇ 13, e a CCAÇ 2531, o capitão Goulão ofereceu um whisky ao alferes Pimenta, e este aceitou pedindo um whisky com gelo, mas o Goulão disse-lhe que gelo era coisa que não havia.
–  Não há aqui gelo, mas em Bissorã há. –  retorquiu o Pimenta.
–  Mas não há estrada, pois esta foi cortada, quando as pontes foram destruídas. –  explicou o Goulão.
–  Abre-se uma estrada. –  insistiu o Pimenta.

A estrada de Biambe para Bissorã estava efectivamente cortada, pois tinha sido destruída a ponte que fazia essa ligação; de igual modo estava cortada a ligação de Encheia para Bissorã, pois tinha sido também destruída essa ponte; assim apenas a estrada do Biambe para Encheia estava operacional.

A CCAÇ 2531 tinha feito recentemente um reconhecimento da zona e havia ficado com uma ideia por onde esta poderia passar, que era seguir pela estrada do Biambe para Bissorã, atravessar uma pequena zona de mato, abrindo uma ligação para a estrada Bissorã-Encheia, pois a partir desse ponto, não existiam pontes e poderia chegar a Bissorã facilmente.

As boas regras mandavam que a estrada fosse picada previamente, pois poderia estar minada, e que existissem grupos a fazer segurança ao longo da mesma, dada a sua proximidade da base do Queré, mas o alferes Pimenta era um homem dos rangers, e trazia consigo uma certa dose de loucura, e o capitão Goulão, era conhecido como o "maluco do Biambe", ou seja,  foi o mesmo que juntar gasolina com fogo, e lá se partiu para Bissorã para ir buscar gelo, com uma GMC à frente a servir de rebenta minas.

Loucuras que se cometem quando se é jovem...

A guerrilha alertada esperou o regresso da coluna, e flagelou a mesma, mas foi rapidamente colocada em fuga face à resposta dada.

Esta estrada serviria mais tarde para a CCAÇ 13 regressar a Bissorã.

A história da CCAÇ 2531 narra assim esta acção, a 15 de Março de 1970:

"Acção 'Borla'

Coluna auto Biambe-Bissorã com a finalidade de abrir o itinerário entre as duas localidades.

Forças empenhada - 03 G. Comb.

A acção teve início às 14h00, durou 04 horas.

Às 17h40 quando as NT regressavam ao Biambe, 01 grupo In com cerca de 40 elementos emboscou-as, utilizando morteiro 60 e armas automáticas, durante 15 minutos na região de Mansoa 2A8 (estrada) causando 02 feridos ligeiros (01 oficial e 01 sargento)."



Publicado em 29/02/2003, por Carlos Fortunato

[Portal CCAÇ 13 - Leões Negros]
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 7 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13705: (In)citações (69): Quando a rotina é traiçoeira ou o flagelo das minas que continuam a vitimar civis na Guiné-Bissau (Nelson Herbert)

(**) Último poste da série > 17 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13620: Memória dos lugares (273): Ganjola, destacamento de Catió, na margem direita do Rio Ganjola, vista pelo saudoso Victor Condeço (1943-2010), ex-fur mil mec armamento, CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69)...Foi também lá que tombou, em combate, em 23/1/1965, o lourinhanense José António Canoa Nogueira (sold, Pel Mort 942 / BCAÇ 619, Catió, 1964/66)

Guiné 63/74 - P13710: Parabéns a você (796): José Carmino Azevedo, ex-Soldado Condutor Auto do BCAV 2868 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 7 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13702: Parabéns a você (795): Jorge Rosales, ex-Alf Mil da 1.ª CCAÇ (Guiné, 1964/66)

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13709: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXIV: o Artur, que arranjava sempre desculpas para se baldar... ao mato. Porque, afinal, na guerra e noutras situações-limite em que se arrisca a vida, "quem tem cu tem medo"... (Agostinho Evangelista, ex-sold inf, 1º pelotão)









1. Continuação da publicação das "histórias da CCAÇ 2533", a partir do documento editado pelo ex-1º cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias). (*)

Temos, de novo,  o ex-sold Agostinho  Gomes Evangelista, do 1º pelotão,  a contar-nos aqui uma história, com piada,  sobre um camarada, o Artur, que arranjava sempre  umas desculpas para se baldar... ao mato (pp. 84/85)... Aliás, era para isso que também serviam as doenças, da cabeça, do estômago, do cú...

 Porque afinal de contas, na guerra e noutras situações-limite em que se arrisca a vida, "quem tem cu tem medo", já lá diz o nosso povo, para logo acrescentar: "Quem tem medo, fica em casa"... E, mesmo assim, o céu pode-nos cair em cima...  (LG)

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P13708: Biblioteca em férias (Mário Beja Santos) (11): Viagens pelo Norte de Espanha: Bilbau é muito Bilbau, e ainda bem. E sigo para Logroño

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Setembro de 2014:

Queridos amigos,
A viagem realizou-se no início de Setembro, penso que estão esquecidos mas eram dias acalorados.
Cheguei a Bilbau com 36º, não esmoreci, não se peregrina na expetativa de um puro deleite com o Guggenheim, não há caloraça na bolanha que nos intimide. E Bilbau é mesmo Bilbau, o diálogo entre o antigo e o moderno é ousado e provocante, a cidade está bem emoldurada, as colinas dão-lhe graciosidade, passeei-me com a recordação de uma fotografia de Robert Capa, datada de 1937, Bilbau vai ser bombardeada, todos olham para o céu, uma mãe aperta a mão da filha, a Guerra Civil foi implacável com o País Basco. Adiante.

Foi viagem inesquecível. É bom partilhá-la convosco.

Um abraço do
Mário


Biblioteca em férias (11)

Viagens pelo Norte de Espanha: Bilbau é muito Bilbau, e ainda bem. E sigo para Logroño

Beja Santos

Braque é a recordação pictórica mais impressiva que trouxe do Guggenheim Bilbau. Trata-se de uma grande retrospetiva organizada por ocasião do 50º aniversário da morte do grande artista (1882-1963), foi primeiramente apresentada o Grand Palais de Paris, no Outono de 2013, cobre todas as etapas da trajetória de um dos artistas mais importantes do século XX. Criador, juntamente com Picasso e Juan Gris, do cubismo nos seus diferentes matizes, iniciador dos papiers collés, Braque veio a centrar a sua obra posterior na exploração metódica da natureza morta e da paisagem. Continua a ser considerado o pintor francês por excelência, herdeiro da tradição clássica e percursor da abstração do Pós-Guerra. Exposição gigante, impossível a digestão em horas de tão faustoso banquete, abarca o seu génio prolífico, desde o período fauvista até à sua obra tardia, parece que se conseguiu concentrar neste evento prodigioso o que nos legou de mais representativo, incluindo a sua passagem pelas artes cénicas, pela escultura, até às paisagens aparentemente rudimentares do final da sua vida. Recordo que ando com um singela câmara, não posso usar o flash e é por isso que o que vos mostro é uma mera reprodução do que podem encontrar no site do Guggenheim, mas eu devorei tudo com estes olhos que a terra há de comer, saí dali alquebrado mas radioso, de alma plena. Bonda de adjetivos, abram-se as alas para Monsieur Braque, vejamos primeiro uma natureza morta, de 1934:


Para aguçar o apetite de quem segue esta viagem, esta exposição reúne qualquer coisa como 250 peças, entre óleos, aguarelas, esculturas e outros, até material documental que esclarece outros aspetos da sua atividade, como a colaboração que teve com Picasso, a estreita relação da sua arte com a música, a cumplicidade com poetas e alguns intelectuais renomados do seu tempo. Foi também a ocasião para ver fotografias da obra de Braque da autoria de Man Ray ou Henri Cartier-Bresson. E põe-se em sequência três imagens que vão do fauvismo ao cubismo, digam lá se Monsieur Braque não ultrapassou todas as vanguardas.




É altura de sair do Guggenheim Bilbau onde pontifica o titânio como se fosse uma metalização sob a forma de escamas de peixe, estou rendido a este extraordinário edifício, a tudo o que de ousado e atrevido ele pode significar, estou deleitado com o último grande museu do século XX. E agora vou para o casco velho de Bilbau.



Contorno o rio, agora tenho tempo para ver a ponte de Santigo Calatrava e detenho-me mesmo em frente a uma estação de metro desenhado por Norman Foster, aproveitou uma velha fachada e gerou uma lógica sublime entre o antigo e o prenúncio de futuro. Atravesso uma ponte e vou até à zona antiga. Paro no Arenal, um amplo passeio que acolhe muitas das atividades urbanas. Toda esta zona teve de ser reabilitada depois das inundações de 1983, é aqui que se ergue o Teatro Arriaga. É lindo que se farta, por favor, confiram se vale a pena ou não vir aqui ouvir música, teatro ou ópera, desculpem a imagem truncada:

Entrei na zona antiga, vinha inicialmente com vontade de visitar o museu do povo basco, acabei por me desconcentrar em certos pormenores e ainda bem. Vejam esta fonte, um resquício do século XIX, pois está lá claramente escrito que foi erigida (ou refeita?) em 1800:


E sigo para o mercado, é obra de grande requalificação, gostei, passei-me entre talhos e peixarias, estancos de especialidades e de bons vinhos, os olhos também comem, fica-se com a sensação que os bilbaínos não se tratam mal com as coisas da mesa e que gostam de espaços iluminados com vitrais vistosos:


Imaginem que na montra de uma retrosaria, pasme-se, encontrei este cartaz anti-touradas, achei-o profundamente original, é daquelas coisas que nos levam a acreditar que uma imagem vale por mil palavras:


E agora vou à última etapa antes de partir de comboio para Logroño, o Museu de Belas Artes de Bilbau, alguém me disse que foi impecavelmente renovado, dá gosto ir conversar com os primitivos catalães, os flamengos, os piedosos pintores espanhóis do Século de Ouro, há lá obras de Ribera, Murillo e Zurbarán, mas de gente muito mais próxima e que tanto aprecio, como Bacon, Chillida e Tàpies. A fachada, envidraçada, tem pouco para contar. Mas um pormenor me tocou, um diálogo entre o antigo e o remodelado, uma boa escultura ergue-se, voadora, e sobrepõe-se aos painéis de vidro, impressionou-me:


O que me parecia uma visita para encarar de frente algumas obras-primas como a morte de Lucrécia, de Lucas Cranach, o Velho, transformou-se num festival em torno da arte japonesa e do japonismo, surpreendente. O museu alberga uma impressionante coleção, a chamada coleção Palacio de arte oriental, mais de 200 peças, foi um festival à volta de pinturas, estampas, sabres, caixas de todos os tamanhos, objetos Namban e cerâmica para a cerimónia do chá. Algumas destas peças são excecionais, digo-vos eu. Está na hora de partir, da estação ferroviária de Bilbau para Logroño, a capital de La Rioja, são quase três horas vendo e apreciando espinhaços e cordilheiras, e muitos quilómetros de vinhedo à beira do rio Ebro. Será um belo passeio, digo-vos eu. Mas não resisti, antes de partir, em registar este espetacular vitral, não há muito restaurado, vem do tempo em que a dignidade do trabalho era cantada e exaltada nos espaços públicos, era arte pública para desfrutar e respeitar a dignidade do trabalho de um povo. Como podem ver:


Ainda não vos disse mas arrefeceu de ontem para hoje, estão só 30 graus, o melhor é andar pela sombra, foi o que fiz pelos jardins de Bilbau, bem floridos e mantidos, e agora vou de abalada, nem pressinto a belíssima viagem que me espera e o prazer de visitar Logroño, tão agradável surpresa parecia-me impensável.
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13674: Biblioteca em férias (Mário Beja Santos) (10): Viagens pelo Norte de Espanha: Bilbau e o indispensável Museu Guggenheim

Guiné 63/74 - P13707: Álbum fotográfico do Victor Neto, ex-fur mil, CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) > Cachil: parte II: tempo de lutar, tempo de folgar, tempo de rezar


Foto nº 8 > Tempo de lutar...



Foto nº 20 > Tempo de folgar...



Foto nº  22 > Tempo de rezar

Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) >



Fotos (e legenda): © Victor Neto / José Colaço (2014). Todos os direitos reservados [Edição: LG]



1. Fotos falantes do Cachil, diz o José Colaço. E, se são falantes, (quase) não precisam de legenda... Pertencem ao álbum do ex-fur mil Victor Neto (CCAÇ 557, Cachil, Bissau, Bafatá, 1963/65).

Continuamos a aguardar uma resposta ao convite (público)  para ele, Victor Neto,  ingressar na Tabanca Grande. É um camarada do tempo da caqui amarelo, que pertenceu, tal como o José Colaço, aos bravos do Cachil, um buraco, um inferno feito de mosquitos e pântanos, no dizer do nosso Jorge Portoxo... (LG)

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Nota do editor:

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13705: (In)citações (69): Quando a rotina é traiçoeira ou o flagelo das minas que continuam a vitimar civis na Guiné-Bissau (Nelson Herbert)

1. Mensagem do nosso amigo Nelson Herbert Lopes, jornalista da Voz da América (VOA), com data de 29 de Setembro de 2014:

...de quando a rotina é traiçoeira!

A notícia da morte de pelo menos 20 civis guineenses, na explosão de uma mina anti-tanque no eixo viário Bissora- Binar, não só enluta o país... a Guiné-Bissau como sugere a urgência de uma abordagem e intervenção do Estado à altura de um tal flagelo...
É que quatro décadas volvidas sobre o fim da guerra de libertação nacional ou colonial... e um pouco mais de uma década sobre o conflito militar de 1998/99, ainda que em "surdina" e na "calada", as minas anti-pessoais e anti-carros ainda matam na Guiné-Bissau...

Conheço e visitei, ao longo da minha carreira jornalística, vários campos de minas em países e regiões então em guerra... de Moçambique a Angola passando pela região senegalesa do Casamance à Guiné-Bissau... isto para além da cobertura de conferencias mundiais afins...
Experimentei o calafrio peculiar de quem por razões profissionais teve que caminhar por campos, fazendo fé nos sapadores, "desminados" ...para constatar, num exercício masoquista próprio da profissão... o expectável: a dor, os estigmas e os estragos causados pela quiçá mais traidora dos artefactos bélicos...

Por mais garantias de sucesso dos esforços de desminagem, a incerteza e a desconfiança, essas sempre pairam! A experiência e a prudência assim aconselham.
Recordo-me neste particular de um episódio nos finais da década de 90 com Angola então a braços com as sequelas da guerra... Numa reportagem aos esforços de desminagem em curso na picada que liga Cunhinga ao Bié, no centro de Angola, a garantia da via estar completamente livre de tais engenhos explosivos, era num esforço quase que em vão isto ante a intranquilidade minha (para já não havia os tais ditos coletes de protecção pró meu SIZE), vezes sem conta, reiterada numa aparente sinceridade, pelos sapadores em acção...

... e lá fizemo-nos à picada... ladeada de ferro contorcido de tanques e viaturas militares e civis esventrados, atestando o quão suicida fora a veleidade da aventura por aquele outrora corredor da morte...
Sem sobressaltos percorreu-se o trajecto de "inspecção" da rota rumo a um povoado, onde sob a mulembeira a nossa reportagem era aguardada por um grupo de populares estropiados testemunhos vivos, porque vítimas de um tal infame artefacto bélico... ...a rotineira ida às lavras no cacimbo da madrugada, tinha sido fatal, num dia de má memoria, algures num passado que se fazia presente!

...absorto por um continuo exercício de compreensão das imagens de estropiamento legadas pela guerra, como se fosse possível compreender a guerra... nos escritórios da delegação da VOA em Luanda, soava o telefone...

Pouco mais de uma semana sobrepunha-se à experiência minha por um campo (des)minado em Angola... Qual arauto da "ma nova", num angustiante relato do que acabara de testemunhar, o correspondente da VOA no Bié anunciava do outro lado da linha:
- "Chefe uma mina anti-tanque arrastada eventualmente pelas enxurradas acaba de vitimar uma vintena de civis angolanos transportados na carroçaria de um tractor comercial que regressava das lavras"

A picada tinha por sinal, sido a calcorreada na semana anterior...
As garantias de segurança, seguramente as mesmas... a rotina essa sim... e que fora traiçoeira!

Nelson Herbert
Washington Dc, USA


Picada em fase de desminagem em Angola...

Ler o artigo publicado em 12 de Setembro de 2005 na Voz da América: Campos de minas antipessoais e antitanques identificados.
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13423: (In)citações (68): A propósito do texto do Francisco Baptista, espelhado no post 13420, sob o tema "Lançados no mundo sem motivo nem explicação... difícil de levarmos a vida a um final digno" (José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P13704: Convívios (634): 22 ex-militares e 42 familiares da CART 1802 (Nova Sintra, 1987/69)... No passado dia 27, em Vila Velha de Rodão, terra natal do "nosso primeiro" Silvério Dias, o "poeta todos os dias", antigo locutor do PFA

1. Mensagem do nosso camarada Silvério Dias, com data de hoje:



[ex-1º srg art ref, com 9 anos de Guiné, esteve na CART 1802 (Nova Sintra, 1967/69) e depois no QG, como radialista do PFA - Programa das Forças Armadas (1969/74; e ainda como civil, delegado de proppaganda médica, em 1974/76;  poeta, é autor do blogue Poeta Todos Os Dias; é natural de Sarnadinha, Vila Velha de Ródão]



Reunião de antigos combatentes - Companhia de Artilhara 1802 (Guiné, 1967-69) 


Cada vez em menor número mas defensores do ideal, "Conviver é Reviver", os "Pioneiros de Nova Sintra" reencontraram-se em Vila Velha de Ródão, no passado dia 27 de Setembro, para o habitual almoço e convívio.

Recebidos "à boa maneira beirã", foram obsequiados com abundante e variada degustação de produtos regionais, gentileza da edilidade local que se agradeceu na pessoa do excelentíssimo Presidente, Snr. Luís Miguel Ferro Pereira.

Também, e da parte do Vereador da Cultura e Vice-Presidente, Snr. José Manuel Alves, a oferta de lembranças alusivas ao Concelho, calou fundo em todos nós.

Bem-hajam, foi o agradecimento que deixámos.

Cumpriu-se deste modo o desejo expresso pelo "nosso sargento" Silvério Dias, natural do Concelho de VVR, que,  como "Poeta de Sarnadinha", registou o evento para a posteridade:

ENCONTRO DA CART 1802

Nos quiseram "Pioneiros"
Por algo que não desejámos.
Em Nova Sintra, os primeiros,
E por mais lados andámos.
Alguns por lá ficaram,
Moram connosco em saudade.
Aos seus que os choraram,
A nossa sentida fraternidade.

Cada vez já somos menos
Nestes encontros anuais.
Por dificuldades nos perdemos.
Muitos, não virão jamais!
Valem as nossas gerações,
Filhos, alguns netos até, 
São as novas "comissões"
Dos "Pioneiros da Guiné".

Bem-vindos, todos os presentes.
Hoje, minh'alma se encanta.
Germinaram as boas sementes,
Pois nasce o fruto quando se planta.
Plantei a ideia e pegou,
De semente ou por estaca?
Não interessa, ela vingou,
Na criação desta nova etapa.

Eu, o Albino e também o Capela,
Vos encaminhámos a esta terra.
Me direis, não é bela?
Partilhai, pois, o que ela encerra.
Um minuto de silêncio, devido
Aos que já tenham partido.
E agora, em passo de corrida,
Vamos saborear, a boa comida!

Notas à margem:

A reunião fez-se no Cais Fluvial do Rio Tejo, Efectuaram-se passeios de barco às celebres Portas de Ródão, visitas ao Castelo do Rei Wamba e o almoço foi servido na Quinta das Olelas, Retaxo (Castelo Branco).

Há fotografias a divulgar. Esperamos que os fotógrafos as apresentem.
Presentes, 22 ex-militares e 42 familiares.

Para o próximo, Silvério Dias, "decano da Companhia", espera mais!




Página do posto de turismo de Vila Velha de Ródão,  uma região fascinante a exoplorar, com uma valioso património natural e cultural desconhecido de muitos portugueses...

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Nota do editor:

Último psote da série > 28 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13661: Convívios (632): Encontro de 4 magníficos Especialistas das Transmissões em Grilo, Baião (Manuel Dias Pinheiro Gomes)

Guiné 63/74 - P13703: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (5): dois poemas do caboverdiano Mário Lima, "Retrato de Maria Caela" e "Menina Santomense"....Quem teria sido essa mulher fatal, caboverdiana, Maria Caela, que um dia saltou no cais do Pidjiguiti ?






(...) "A história do Banco Nacional Ultramarino, fundado em 1864, está também indiscutivelmente ligada ao último século da presença portuguesa nos antigos territórios ultramarinos portugueses. E foi assim que também na Guiné, o BNU marcou a sua presença.

"De harmonia com o contrato de 30 de Novembro de 1901, celebrado entre o Estado e o Banco Nacional Ultramarino, este ficava obrigado, entre outras ações, a estabelecer no prazo máximo de seis meses agências na Ilha do Príncipe, Bolama, Cabinda, Inhambane, Quelimane e Macau.

"O Banco teria ainda de exercer gratuitamente as funções de Tesoureiro do Estado no Ultramar, nas localidades onde tivesse instalado filiais ou agências.

"Foi assim, como consequência deste contrato que o Banco abriu a primeira Agência em Bolama, em 1902, com apenas dois empregados e o gerente – o Sr. João Baltazar Moreira Júnior." (...)

Texto e fotos: Cortesia de Gabinete do Património Histórico da CGD, Miguel Costa, Junho de 2013  

PS - Recorde-se aqui que, dos nossos camaradas que combateram na Guiné e que fazem parte da Tabanca Grande, há pelo menos um que, depois do regresso à vida civil, foi funcionário do BNU na filial de Bissau, até  1974. Referimo-nos ao caboverdiano António Medina, hoje a viver nos Estados Unidos da América.




Elementos gráficos da capa do documento policopiado do Caderno de Poesias "Poilão", editada em dezembro de 1973 pelo Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (O GDC dos Empregados do BNU foi criado em 1924). Com o 25 de abril de 1974, esta coleção não teve continuidade: estava prevista publicação de um 2º caderno («Batuque», com poemas do Albano de Matos) e de um 3º, dedicado ao Pascoal D'Artagnan, que é o maior parte desta antologia da poesia guineense, a primeira que se publicou, em língua portuguesa (segundo o nosso camarada Albano de Matos).


O nosso camarada Albano de Matos.
 Foto atual
1. Do poeta, hoje divulgado, Mário Lima, caboverdiano, bancário, não temos mais referrências. Sabemos que foi o Aguinaldo de Almeida  quem contactou e selecionou os poetas "civis". Ao Albano de Matos coube a tarefa de incluir os poetas "militares". Talvez o António Medina nos possa dizer algum mais sobre o seu ex-.colega de trabalho e patrício Mário Lima.

Como já o dissémos,  esta antologia, deve muito à carolice, ao entusiasmo, à dedicação e à sensibilidade sococultural de dois homens: (i) o Aguinaldo de Almeida, funcionário do BNU; e (ii) o nosso camarada Albano Mendes de Matos [, hoje ten cor art ref, esteve no GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74, e foi o "último soldado do império"; é natural de Castelo Branco, vive no Fundão; é poeta, romancista e antropólogo] [Foto atual, acima]].

Temos uma cópia, em pdf, do Caderno de Poesias "Poilão", que ele nos mandou,.

Temos também a sua autorização para reproduzir aqui, para conhecimento de um público lusófono mais vasto, este livrinho de poesia, de que se fizeram, policopiados, a stencil,  apenas 700 exemplares, distribuídos em fevereiro de 1974, em Bissau. O editor literário é o Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (BNU), cuja origem remonta a 1924.







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Dois poemas de Mário Lima, funcionário do BN, natural de Cabo Verdem pp. 15/17. Quem teria sido essa mulher fatal, caboverdiana, Maria Caela, que um dia saltou no cais do Pidjiguiti ?