quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14199: Cartas de amor e guerra (Manuel Joaquim, ex-fur mil, arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) (18): Férias

1. Em mensagem do dia 26 de Janeiro de 2015, o nosso camarada Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67), depois uma longa ausência para recuperar energias, enviou-nos a sua décima oitava "Carta de Amor e Guerra".


CARTAS DE AMOR E GUERRA

18. Férias


Bissorã, 13/9/1966 - Fur. Milicianos Adrião Mateus e António Magalhães, da CArt 1525, e Manuel Joaquim (CCaç 1419) posam na pista de aviação enquadrados por camaradas da CArt 1525 e ansiosos por partir para férias. No fundo da foto percebe-se a imagem do DAKOTA CR-GAT que levará os três para Bissau. 

Foto: © Adrião Mateus. 

Vale de Figueira, 13/3/66

(... ... ...)
Faltam poucos meses para gozares as tuas férias. Regozijo-me com o saber que terás possibilidades disso. Mas, meu querido, tal como vivo contente, ansiando a hora de te abraçar, tremo de temor e de insegurança; receio este encontro contigo. (...).

Meu querido, sê razoável e compreensivo ao analisares o que vou dizer-te. (...). Sugiro-te que seria melhor não regressares daí sem teres terminado definitivamente a comissão estipulada.
Mais vê:

Depois de passares cá as férias, já com perfeito conhecimento e experiência do que por aí se passa, será bastante mais difícil e doloroso teres de voltar para o mesmo inferno. É que já vais com os olhos bem abertos. Não vais decerto como quando foste inicialmente, com a esperança de que isso aí é melhor do que o que por cá se conta.

Para mim também terá um sabor bastante amargo. Compreendes-me, querido? Não quero dizer, terminantemente, que não venhas. Faz o que entenderes. É apenas uma opinião minha.
(... ... ...)

Bissorã, 17/3/66
(... ... ...)
Esperemos que isto vá correndo razoavelmente e cá fico a pensar, para já, em Setembro, altura em que irei ter contigo. Mas ainda falta tanto tempo! (...). Escolhi Setembro por verificar que seria essa altura aquela em que eu mais precisaria de descansar. Além disto arranjaria alento para a arrancada final, sempre a mais difícil de suportar.

Setembro será o mês do ano! Será o mês do nosso encontro. Ah, quanto eu desejo abraçar-te, quanto desejo ouvir-te, minha querida, sentir-te feliz junto de mim!
(... ... ...)

Vale de Figueira, 23/3/66

Tenho comigo a tua última carta. Gosto muito dela, meu querido. E, perante a tua alegria e todo o teu entusiasmo pela possibilidade de uma visita próxima, peço-te desculpa se as minhas palavras, que já deves ter em teu poder, ensombram de algum modo toda essa alegria, toda essa esperança. Decerto, meu querido, que compartilho também essa alegria. Mas eu desperdiço muitas vezes possíveis momentos de felicidade, só porque o terrível pessimismo anda comigo.

Vem sim, meu amor. Eu quero-te aqui comigo. Receio esse contacto? São preocupações antecipadas que nada adiantam. É muito mais sublime e nobre encarar os problemas de frente e resolvê-los calmamente no momento oportuno. (...).

Meu M. querido, (...) parte da última carta é já sem valor. Porque eu quero que venhas. Queria mesmo que viesses hoje se tal fosse possível ... Peço muita desculpa se te indispus e quero agora significar todo o meu apoio ao teu projecto de férias. (...). Ah, Setembro! Quando apareces? (...).
(... ... ...)

Quinta de S. Lourenço, 9/4/66
(... ... ...)
Meu querido M., tenho a comunicar-te que passei um domingo de Páscoa na mais completa satisfação e alegria que me foi possível. Estive com os teus pais no Casal Novo.

E então, gostas? Sabes que tu, meu amor, estiveste sempre presente? Não sentiste? Eu sei que te alegras com a nossa alegria, que sentes a nossa tristeza, que comungas da nossa possível felicidade.
Domingo de Páscoa fizeste connosco o voto de em Setembro nos encontrarmos de novo. Saudosamente te esperamos.
(... ... ...)

Maqué, 10JUL66

Não, não mudei de terra. Estou, simplesmente a "estagiar" num "lindo sítio" (...) onde o meu grupo faz segurança a uma ponte. (...). O abrigo onde estamos instalados é uma autêntica fortificação. Ainda bem. (...). Salve-se a pele que o resto suporta-se. (...).

Em Setembro aí estarei. Não poderei faltar. (...). Anseio pelas férias. Não interessa que passem depressa ou que, ao regressar, sinta ainda maior dor do que a que senti quando vim da 1ª vez.
Preciso, em primeiro lugar, de descanso. Depois ... preciso de vos ver, a ti e a todos os elementos que mais unidos estão a este teu querido.
(... ... ...)

Vale de Figueira, 12/7/66

(... ... ...)
Estamos a poucos meses do nosso reencontro mas parece-me que agora os meses têm mais dias e os dias mais horas. É a ansiedade, a vontade de precipitar esse acontecimento (...). Aguardemos então esse dia com alegria e certeza (...).
(... ... ...)

14/9/1966 - Chegada a Lisboa

Após o entusiasmo da chegada, surgiu o problema da repartição do tempo de férias de modo a poder visitar os meus familiares e amigo(a)s mais chegado(a)s. Era previsível que, no fim, alguém se queixaria.


Lockheed L-1049G Super-Constellation: Terá sido este o avião utilizado para as minha férias. Fez a carreira Lisboa-Bissau no período de 1961-1967. 

Imagem retirada, com a devida vénia, de «restosde coleccao.blogspot.com»

Cacém, 15/9/66

Reencontrei-te! ... Nos beijos e abraços, gestos de amor e paixão, toda a diversidade de sentimentos, de estremecimentos, de sensações neles experimentei! (...) Não te reconheci, de início, no meio da multidão, meu querido. Era o nervosismo, a ansiedade de cair nos teus braços e de depor nos teus lábios ardentes e sensuais o calor dos meus beijos, (...). Lembras-te do que te disse ontem?

Custaram-me mais a aguentar os momentos de expectativa que antecederam a tua chegada, (...), do que todo o tempo que já passei afastada de ti. (...).

Beijos da tua N., extensivos à tua mãezinha.

Até sábado, meu Amor

Foi chegar e partir de novo no dia seguinte, agora a caminho de Pombal, para os braços da Mãe querida. E os dias de férias lá foram sendo geridos com base em três polos: Pombal, Leiria (ligações escolares e profissionais) e Lisboa (área de trabalho e de residência da namorada).

Logo verifiquei que o tempo era pouco para o que queria fazer. Ainda por cima tinha programado encontrar-me com algumas das minhas correspondentes. Não tendo transporte próprio, estava sujeito aos horários de comboios e de autocarros, transportes lentos e por vezes escassos.

Foi um mês de lufa-lufa, de um lado para o outro. Se houve razões de queixa da Mãe, a verdade é que nunca mas mostrou. Não aconteceu o mesmo com a namorada.

Eu queria acudir a todo o lado, actualizar-me recolhendo informações sobre o que se passava na chamada Metrópole, discutir os problemas político-sociais, esquecer-me do dia-a-dia da guerra, coisa difícil de esquecer quando estava entre os meus entes mais queridos. O tema "guerra" e o fantasma do meu regresso estavam sempre presentes, o tempo tinha outra dimensão, parecia-nos muito mais perto o dia do doloroso regresso.

Perante isto surgiram alguns desentendimentos, não com a Mãe mas com a namorada. Esta, ao invés de ter tido umas semanas felizes junto de mim, deu por si a lamentar-se pelas minhas "longas" ausências. Sabia e compreendia bem que minha mãe tivesse prioridade mas via os outros como seus "inimigos" na luta pela minha presença. Disfarçou mais ou menos bem até ao fim das férias. Mas durante o tempo de espera de embarque, no aeroporto, apareceu-me fria e distante, de pouca conversa e dispersiva nos diálogos, comportamento que atribuí às amarguras da despedida. E assim, disto convencido, regressei à Guiné a 19 de Outubro.

Logo na sua carta de 23 de Outubro me deu o toque quanto à razão da sua frieza na despedida. Poderia o caso ter ficado por aqui mas resolvi replicar a tal toque, defendendo o meu comportamento, de que resultou uma polémica que durou bastante tempo. E só então percebi que não houve só prazer e alegria no nosso encontro e quão difícil lhe foi suportar as minhas ausências, ausências que ela não imaginara virem a ser tão frequentes, principalmente as motivadas pelos encontros que tive com as minhas correspondentes.


Lockheed L-1049G Super-Constellation em Bissalanca, aeroporto "Craveiro Lopes". 

Imagem em postal ilustrado, edição «Foto Serra-Bissau».

Mansoa, Outubro-24/66

Cá estou, minha querida, respirando o calor e o "calor" deste famigerado ambiente. Um poucochinho roído de saudades, com uma vontade doida de correr para ti. Cá, a situação continua na mesma. Ainda estou em Mansoa mas talvez vá hoje para Bissorã. Se não for, melhor. Tenho de aproveitar todas as oportunidades que se me deparam para me safar da guerra. Eu quero é ir para ti (...).
(... ... ...)

Cacém, 23/Outubro/1966

Não infiras, pelo meu comportamento um pouco frio na despedida, que nele haveria sinais de desprendimento. (...). Se o sentiste, e agora doi-me sobremaneira, se o meu comportamento devido ao meu estado psíquico nesse dia te induziu a tais conclusões, quero dizer-te agora para o não levares a sério. Contrariamente a tudo isso, e abstendo-me já de pieguices e lamúrias, amo-te cada vez mais e também cada vez mais de maneira diferente, com mais conhecimentos, mais responsabilidades na arte de amar e de me fazer amar.

Com esta nova separação, corajosa e duramente enfrentada, (...), começou para mim mais uma etapa para uma nova vitória para, novamente minada pela saudade, voltar a experimentar a alegria incontrolável do reencontro. (...).

Sem dúvida, meu M. querido, a despedida terá sido bem mais dolorosa para ti. Esperam-te mais uns meses de árdua labuta. Quando actuamos porque é forçoso actuar, em prol do que nunca ousaríamos levantar um dedo, amarfanhando princípios e ideais, nada nos poderá sorrir (...).
Mais um esticão e estarás de volta, meu Amor. Reage ao desalento como sempre o tens feito e, se possível, abstém-te, torna-te estranho a todo esse ambiente de guerra e devassidão política em que estás metido. É a minha opinião, na ânsia de ajuda que te quero prestar.
(...)

Há ainda uma coisa que hoje quero referir, meu M. querido. As nossas relações neste curto período de contacto não se processaram dentro daquele quadro de harmonia que eu esperava. Não tenho de me queixar pois para tal dei contributo. Actuei, reconheço-o, umas vezes por orgulho mas verdadeiramente mais por teimosia e despeito. Nem por isso expresso o meu total arrependimento porque não seria verdadeira ao afirmá-lo.

Meu Amor, é assim a tua N. A que encontraste, modificada, mais bela mercê do teu entusiasmo e da ansiedade em a sentires real a teu lado, reflexo da felicidade e do entusiasmo que a dominavam; a que deixaste, mais melancólica mas mais gaiata, reflectindo as certezas da nossa magnífica união, a total certeza na sobrevivência do nosso Amor; e ainda a que encontrarás no teu regresso, mais bela ainda, mais mulher na reflexão da suprema ventura de nos sabermos definitivamente a respirar no mesmo ambiente, (...).

Nestas três pessoas descortinarás a tua mulher, estou certa. Essa hora soará e as páginas que escreveremos de aí em diante ofuscarão brilhantemente a fúnebre e horrenda palavra guerra, a qual agora nos aparece como prato diário. Paz queremos nós! É esta a ambição que se nos instila para seguramente virmos a alcançar essa paz, (...).

Amorosamente te beijo e abraço, meu querido.

Tua N.
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11767: Cartas de amor e guerra (Manuel Joaquim, ex-fur mil, arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) (17): Jovens politicamente atentos

Guiné 63/74 - P14198: Em busca de... (253): João Fernando Lemos dos Santos, ex-Soldado Condutor Auto da CART 1742 (Abel Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742, Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), com data de 27 de Janeiro de 2015, no sentido de encontrar um seu camarada e amigo de Unidade:

Procuro o meu camarada João Fernando Lemos dos Santos, Soldado Condutor Auto, NM 02688066, que prestou serviço militar na Guiné, integrado na CART 1742, "Os Panteras", que esteve em Nova Lamego e Buruntuma nos anos de 1967 a 1969.

O Lemos foi o "arquitecto" do Memorial que a Companhia deixou em Buruntuma e, velhinho, ainda lá se encontra.

A informação não confirmada é que o Lemos, depois do serviço militar, foi para Lisboa, mas ultimamente surgiram indicações de que reside na zona da Figueira da Foz.

Durante a vida militar foi residente na Rua Dr. Albano Sá Lima em Leça da Palmeira - Matosinhos.

Qualquer informação pode ser encaminhada para o Abel Santos da 4.ª Secção/4.º Pelotão/CART 1742, para os telefones: 229 955 690 ou 919 253 200.


 De pé, da esquerda para a direita: Lemos, Pereira, Eusébio, Santos e Aníbal

Da esquerda para a direita: Lemos e Santos

Buruntuma - Memorial da CART 1742, "arquitectado" por João Fernando Lemos dos Santos.
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14187: Em busca de... (252): exemplares de 1970/71 da revista "Presença" do Movimento Nacional Feminino (Júlio César, ex-1º cabo, CCaç 2659, Cacheu e Teixeira Pinto, 1970/71)

Guiné 63/74 - P14197: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (29): Aeronáutica na Guiné - Os CESSNA dos TAGP e os seus pilotos (Jorge Araújo)


1. O nosso camarada Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/1974), enviou-nos a seguinte em 9 de Janeiro:


AERONÁUTICA NA GUINÉ - OS CESSNA

Caríssimo Camarada Luís Graça,

Bom dia... e bom Ano.

O P14134, hoje publicado, fez-me recordar a única viagem aérea realizada num Cessna. Creio que foi em Fevereiro/1974 (?) quando me desloquei de Bafatá a Bissau, por um motivo que já não tenho presente.

Independentemente desse detalhe, o que importa neste caso é adicionar mais um pequeno contributo à causa da historiografia da aeronáutica - militar e civil - do nosso tempo no CTIG.

Quanto ao piloto dessa viagem singular, não sei de quem se trata. No entanto, seria interessante, decorridos que estão mais de quarenta anos, poder identifica-lo neste espaço de partilha.

Para o efeito, anexo uma foto desse dia e dessa viagem feita no CESSNA - CR - GBA [para a colecção dos Cessna].


Um abraço,

Jorge Araújo

Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494
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Nota de M.R.: 

Vd. Também o último poste desta série em:



terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14196: Blogpoesia (400): Auschwitz (J. L. Mendes Gomes)



Polónia > Entrada para Auschwitz II-Birkenau, o campo de extermínio do complexo de Auschwitz.
Património Mundial da UNESCO (Cortesia de Wikipedia)


Auschwitz...

por J.L. Mendes Gomes

impossível de ver e não chorar...
sinto vergonha da humanidade!...
o que é capaz de realizar.
para que serve a inteligência?
essa força e esse dom
da natureza,
tão sublime,
que te faz um ser superior
à toda a multidão de seres...
em toda a terra.

como foi possÍvel
descer tão baixo,
muito pior que a animalidade...
é leal.
só mata para sobreviver...

porquê reduzir a nada
os milhões de iguais,
com vontade de os exterminar...
e o seu direito de viver...

pela forma a mais cruel...
impossível para uma fera, a mais animal...


sinto horror...
sinto pavor de ti!
pelo que me podes vir a fazer!...

ouvindo Brendan Perry

Slubice, Polónia, 
27 de Janeiro de 2015
22h00m
Joaquim Luís Mendes Gomes

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Nota do editor:

Último poste da série > 30 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14096: Blogpoesia (399): "Eu e a Mina", de Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil Art.ª, Minas e Armadilhas da CART 1659

Guiné 63/74 - P14195: Memória dos lugares (284): Bissau. fortaleza da Amura: fiz lá serviço de sargento de dia e de guarda, e conheci um preso que tinha as chaves da prisão... (Mário Gaspar, ex-fur mil at art MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)


Bissau > Outubro de 1968 > O Máruio Gaspar junto ao forte da Amura.. Esta foto à anterior às obras de remodelação da fortaleza. Recorde-se que,alguns meses depois, no o início do ano de 1969, o novo Governador da Guiné, brig António Spínola,  terá manifestado o seu interesse em “cuidar da Fortaleza de S. José da Amura”, motivo pelo qual o arquiteto Luís Benavente terá sido requisitado para elaborar os estudos e o plano de actuação necessário.  Data deste período (e desta campanha de obras) a instalação na fortaleza do Comando Chefe [, QG/CCFAG - Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné], da Companhia de Polícia Militar, de um destacamento adido à Polícia Militar e do Comando Chefe do Agrupamento de Bissau.


Foto: © Mário Gaspar (2015). Todos os direitos reservados


1. Mensagem do Mário Vitorino Gaspar (ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68), autor do livro de memórias "O Corredor da Morte" [Lisboa, 2014]


Data: 13 de janeiro de 2015 às 21:08

Assunto: Forte da Amura (*)

Caros Camaradas:

Existiu uma Guerra, uns a denominam Guerra do Ultramar, mas para mim foi uma Guerra Colonial. Iniciada em 1961, dizem que terminou em 1974, mas mentira, nem mesmo em 1975 porque ela continua bem infiltrada dentro de cada um de nós. Se a pretendermos narrar, hoje, amanhã é tarde, temos pouco tempo à nossa frente. Não querendo que seja narrada, sem mentiras e omissões, temos de dar as mãos, e todos os camaradas contribuírem. Se tal não se pretender porque é prejudicial para alguém, então partam para outra – mas não contem comigo:

a) Blogues em que se contem anedotas – e existem por aí tantos!... que tal umas almoçaradas e jantaradas em louvor aos que morreram?

b) É com muita tristeza que ao consultar o Arquivo Histórico-Militar, e já lá fui as vezes suficientes para o verificar, tantas contradições e as tais omissões – e quem omite mente – de pôr as mãos à cabeça;

c) Depois uns senhores Gungunhanas surgem de barriga cheia, no seu trono, como donos da palavra, e sem respeito algum pelos outros – a pessoa a quem me dirijo sabe bem do que falo – e é pena;

d) O nosso blogue é uma família, e o local de troca de mensagens, não é uma arena; estudei em Vila Franca de Xira e sei bem como marra o boi. Não gostando das esperas de toiros, deixei de as frequentar.


Em relação ao Forte da Amura o que posso dizer? Cumpri a Comissão isolado no mato e não em Bissau. O que assisti em Bissau – em Setembro/Outubro de 1967 – quando estava no período de gozar licença invadiu-me de tristeza. Tiroteio em Bissau? Então não eram as Tropas Especiais que andavam em Guerra em plena cidade aos tiros após um jogo de futebol ?! (**)

(i) estive no Forte da Amura e fiz Sargento de dia e Sargento de Guarda, até ao embarque, em outubro de 1968;

(ii) o quartel não era de todo mau;

(iii) os s meus pequenos-almoços eram no "Zé da Amura", com uns pombos verdes fritos e cervejas;

(iv) conheci lá o  Marco Paulo que me ofereceu mancarra e cerveja que rejeitei;

(v)  havia alguém que não queria que eu morresse à sede e me enviava cervejas fresquinhas, mas nunca tive conhecimento quem era;

(vi) tinha um preso a meu cargo e, se não tenho a sorte de perguntar a razão de não estar preso, talvez não tivesse vindo com a minha Companhia;

(vii) quem passou a comissão de serviço no Forte da Amura teve muita sorte, coitados daqueles que estiveram nos "cus do mundo",  isolados no mato;

(viii) em Bissau havia muita mulher branca e até muita miúda cabo-verdiana linda.

Cumprimentos

Mário Vitorino Gaspar

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 20 de janeiro de  2015 > Guiné 63/74 - P14165: Memória dos lugares (282): Gadamael... O enigma da palavra ASCO que consta de um edifício em ruínas (que era messe de oficiais no tempo da CART 2410...) pode estar decifrado: seria o acrónimo da casa comercial Aly Souleiman & Companhia que existia em 1956 (Luís Graça / Mário Vasconcelos)

(**) Vd. poste de 2 de janeiro de  2010 > Guiné 63/74 - P5580: FAP (44): A verdade sobre os incidentes, em Bissau, em 3 de Junho de 1967, entre páras e fuzos... (Nuno Vaz Mira, BCP 12)

Guiné 63/74 - P14194: Casos: a verdade sobre... (7): O tema da Guerra da Guiné a imputar-nos a execução de detidos, de prisioneiros e da mutilação dos cadáveres voltou à Tabanca Grande (Manuel Luís Lomba)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), com data de 23 de Janeiro de 2015:

Prezado amigo e camarada Carlos Vinhal.

A atitude do jornalista escritor José Vicente Lopes de eleger o blogue como fonte, viva, para a reconstrução da história da Guerra da Guiné é sábia da parte dele e gratificante para nós. Essa guerra onde empenhamos a juventude, a saúde e avida é um romance real e nós os seus actores.

Copiei o estilo dos camaradas António Rosinha e C. Martins para o texto anexo e dá-lhe o destino que entenderes.

Com um abraço e expectativa das notícias prometidas...

Manuel Luís Lomba


“Uma Guerra Desnecessária”… 

O tema da Guerra da Guiné a imputar-nos a execução de detidos, de prisioneiros e da mutilação dos cadáveres voltou ao convívio da Tabanca Grande, neste mês de Janeiro, efeméride do início da sua guerra “militar”, com o ataque a Tite, em 23/01/63), da derrota, morte e eventual profanação do cadáver do comandante paigcista Jaime Mota(1), em 7/01/74, na mesma altura em que, ali ao lado, o pelotão dos 29 valentes derrotava o cerco e assalto combinados de infantaria, artilharia e blindados do IN a Copá, narrado pelo camarada António Rodrigues(2).

Exército Português há só um, o fundado por D. Afonso Henriques e mais nenhum!

Em 1128, o rei fundador, ao comando da sua primeira batalha, derrotou o IN galego Fernão Peres de Trava, não o matou, não o maltratou e concedeu-lhe o dom da sua pessoa para o escoltar até à sua mãe, não como prisioneiro, não obstante vitorioso, mas como um homem e companheiro afectivo dela.
Num teatro de guerra, D. Afonso Henriques elevou ao auge o seu respeito pela dignidade humana do combatente.

As guerras são loucura humana, injustas, desnecessárias, exceptuando as de legítima defesa.

Quando o nosso compatriota Amílcar Cabral detonou a Guerra na Guiné, éramos país com mais de 8 séculos de história civilizacional e pluricontinental há 5 séculos. A nossa Constituição, essa lei fundamental, imperava em toda a dimensão da portugalidade e reconhecida por todas as instâncias internacionais.

“Vestiram-nos a camisola” (a farda) e expedidos para a Guiné, fazer uma guerra para acabar com aquela guerra…

Jamais o Povo da Guiné-Bissau beneficiará de cooperação tão extensa e profunda como a que lhe prodigalizou o Exército Português, ao custo de sangue, suor e lágrimas, como contrapartida…

Amílcar Cabral trocou a ética e tradições do Exército Português, que terá servido até à patente de alferes miliciano, pela doutrina e métodos de guerrilha de Mao Tsé Tung, líder da China, onde se tirocinou, em 1960, com passaporte de cidadão português…

Correspondemos sempre por cima aos martírios que nos eram impostos no teatro de operações, cedo nos apercebemos que Amílcar Cabral sabia muito melhor o que fazia do que nós que aquela guerra da Guiné não acabaria no binómio derrota-vitória: só teria fim por desistência, por falta de comparência…
Como assim, se Portugal era país, tinha exército e o PAIGC era exército e não era país? Paradoxalmente, de derrota em derrota, o PAIGC levou os portugueses a desistir primeiro… E não lhe entregaram um país em Bissau; foram desfazer-se dele, em Argel…

Por esse formato de independência, pouco mais sobrou para o Povo da Guiné-Bissau que o PAIGC de Conakry, Moscovo e Havana e o seu exército… A história vem tratando a Guerra da Guiné como “Uma Guerra Desnecessária” – citando Churchil…

No tocante aos aludidos crimes de guerra, a criminalidade é imanente à condição humana (está bem dito, Luís Graça?). Pela multiplicidade da gente que a informa, a sociedade castrense não será excepção à regra. Há muitas provas da coragem de muitos em não pactuar com ela, pelo silêncio, sabendo de antemão que passariam a ser pisados.

Trazemos à colação o testemunho e autocrítica do coronel Vasco Lourenço, o principal motor do MFA, vertidos no seu livro Do Interior da Revolução (Âncora Editora, 2009), pags. 38 e 39.

Era comandante da subunidade de Cuntima, mandou prender dois régulos, conotados com o IN, entendeu despachar o mais notório para a sede do batalhão, para ser interrogado por especialista, com as mãos algemadas atrás das costas. Só que aquele detido era príncipe da sua etnia e reagirá, não à detenção, mas ao que considerou grave afronta à sua condição, com uma greve de fome, até à morte. O general Spínola levantou-lhe um auto de averiguações e só não o terá punido porque o seu comandante do batalhão reclamou junto do Comandante-chefe a responsabilidade da ocorrência; mas não deixou de ser transferido de Cuntima para Nema…

É este o meu (nosso) Exército e D. Afonso Henriques o seu patrono…

O exército do PAIGC foi o primeiro a atormentar a vida dos guineenses, começando por destruir a sua economia, os seus equipamentos sociais, a matá-los e a estropiá-los.

O Exército Português bombardeava e assaltava as suas bases, na floresta; o exército do PAIGC flagelava as vilas e tabancas densamente povoadas, que aboletavam guarnições militares (chegou a dirigir 300 por mês). As baixas dos relatórios registam as vítimas do costume: velhos, mulheres, crianças e incapazes…

Em 1962, o exército do PAIGC começou a atormentar e a matar guineenses em Catió, Susana, Varela, S. Domingos - e nunca mais parou…

A malta grisalha que foi envolvida nessa guerra, vai-se reunindo a curtir a nostalgia do tempo que não volta, sem patriotismo africano saudosista. Haja libertação e libertadores, mas mitologias à parte.

Amílcar Cabral foi o instituidor da pena de morte na Guiné, há 100 anos abolida por Portugal, aplicando-a a delitos comuns e a delitos políticos, no I Congresso de Cassacá, em Fevereiro de 1964, e ordenou execuções imediatas. Quando em 1 de Junho de 1970 foi a Roma receber as bênçãos de S. S. o Papa Paulo VI, poucos dias antes havia ordenado fuzilamentos em Quitafine, pelo delito de oposição política, entre os quais o de Abdulai Seck, chefe da segurança do partido, em Ziguinchor.

Todos os homens são iguais e guerra é guerra – parafraseando o ex-sapador Braima Cassamá.

Um abraço para o Luís Graça, os editores, camaradas intervenientes, extensivo ao José Vicente Lopes(3).

Descansa em paz, comandante Jaime Mota.

Manuel Luís Lomba
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Notas do editor

(1) Vd. postes de:

15 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14150: Casos: a verdade sobre... (1) Jaime Mota (1940-1974), combatente do PAIGC, natural da ilha de Santo Antão, Cabo Verde, morto em 7 de janeiro de 1974, em Canquelifá por forças da CCAÇ 21 (Virgínio Briote / Amadu Djaló / José Vicente Lopes)

15 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14151: Casos: a verdade sobre... (2): Jaime Mota (1940-1974), combatente do PAIGC, natural da ilha de Santo Antão, Cabo Verde, morto em 7 de janeiro de 1974, em Canquelifá por forças da CCAÇ 21 - Parte II (Virgínio Briote / Rachid Bari, ex-sold trms, CCAÇ 21, Bambadinca, 1973/74, natural do Quebo e residente em Portugal)

17 de janeiro de  2015 > Guiné 63/74 - P14156: Casos: a verdade sobre... (3): Jaime Mota (1940-1974), combatente do PAIGC, natural da ilha de Santo Antão, Cabo Verde, morto em 7 de janeiro de 1974, em Canquelifá por forças da CCAÇ 21 - Parte III (Luís Graça / José Vicente Lopes / José Manuel Matos Dinis)
e
18 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14160: Casos: a verdade sobre... (4): Jaime Mota (1940-1974), combatente do PAIGC, natural da ilha de Santo Antão, Cabo Verde, morto em 7 de janeiro de 1974, em Canquelifá por forças da CCAÇ 21 - Parte IV: "Guerra é guerra, meu irmão", dizia-me em 2008 o antigo guerrilheiro Braima Cassamá que reencontrei em Guileje (José Teixeira)

(2) Vd. poste de 7 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14128: Efemérides (181): Copá – Janeiro de 1974 (António Rodrigues, ex-sold cond auto, 1ª CCAV / BCAV 8323, Bolama, Pirada, Paunca, Sissaucunda, Bajocunda, Copá e Buruntuma, 11973/74)

(3) Vd. postes de:

3 DE AGOSTO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10221: Notas de leitura (387): Aristides Pereira, Minha Vida, Nossa História, entrevistas de José Vicente Lopes (1) (Mário Beja Santos)

6 DE AGOSTO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10230: Notas de leitura (388): Aristides Pereira, Minha Vida, Nossa História, entrevistas de José Vicente Lopes (2) (Mário Beja Santos)
e
10 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10247: Notas de leitura (390): Aristides Pereira, Minha Vida, Nossa História, entrevistas de José Vicente Lopes (3) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 27 de Janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14193: Casos: a verdade sobre... (6): Tratamento de prisioneiros do PAIGC (ex-fur mil armas pesadas inf, CCAÇ 2366 / BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70)

Guiné 63/74 - P14193: Casos: a verdade sobre... (6): Tratamento de prisioneiros do PAIGC (ex-fur mil armas pesadas inf, CCAÇ 2366 / BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70)


Guiné > Região de Cacheu > Jolemete > CCAÇ 2366 (1968/70) > Guerrilheiro do PAIGC, feito prisioneiro depois de cair num fornilho das NT.
Fotos: © Manuel Carvalho (2015). Todos os direitos reservados



1. Mensagem de Manuel Carvalho (ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf, CCAÇ 2366/BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70):


Data: 26 de janeiro de 2015 às 21:38
Assunto: Tratamento de prisioneiros do PAIGC

Caros Luis e Vinha

Acerca do assunto prisioneiros e seu tratamento, lembrei-me de um homem do PAIGC que aprisionamos,  ferido em Jolmete,  e junto envio duas fotos uma com os enfermeiros a tratar o homem e outra a enviar o guerrilheiro para Bissau.
Espero que as fotos deem para ver.

As coisas passaram-se mais ou menos assim: andávamos em patrulhamento nas matas do Jol, cerca de noventa homens,  sem encontrarmos nada de especial. A  noite estava a chegar e a ideia era regressar ao quartel até porque já estavamos muito cansados.

Havia ali vários trilhos com sinais de serem utilizados recentemente e resolvemos montar uma armadilha (fornilho),  meia duzia de granadas defensivas atadas num arbusto junto ao trilho com o araminho a atravessar e há  que regressar ao quartel.

Estavamos a andar há cinco ou dez minutos e ouvimos o rebentamento da armadilha, corremos para lá e estava o homem ainda consciente,  ferido,.  mas parecia que não era grave.Ele vinha de calção curto e ao sentir o arame na canela mergulhou logo e como as granadas eram normais,  os quatro segundos salvaram-lhe a vida.

Como podem ver pelas fotos o camarada era muito corpolento e cansados,  como estavamos, não nos apetecia nada carregar com ele ás costas  mas quem manda manda e lá improvisamos uma maca com dois paus e dois dolmens e lá nos pusemos ao caminho, Não faltaram protestos e uns palavrões mas lá chegamos em bem ao quartel já noite avançada.

Tratamos os ferimentos que eram superficiais e fizemos um pequeno interrogatório em que o homem disse que era bazuqueiro e exercia a sua atividade na Caboiana e ia de férias. Tanto quanto me lembro,  foi um interrogatório sem grandes problemas embora não tenha participado nisso.

Como era normal enviamos o individuo para Bissau conforme foto e não soube mais nada sobre este caso.

Um abraço para todos
Manuel Carvalho
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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de janeiro de 2015 >  Guiné 63/74 - P14182: Casos: a verdade sobre... (5): Soldados metropolitanos "desaparecidos" ou torturados, depois da sua captura pelo inimigo... (José Belo, ex-alf mil inf, CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70)

Guiné 63/74 - P14192: Parabéns a você (853): Mário Serra de Oliveira, ex-1.º Cabo Escriturário da BA 12 (Guiné, 1967/68)

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Nota do editor

Último poste da série de 26 de Janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14188: Parabéns a você (852): Fernando Macedo, ex-1.º Cabo Apont Art.ª do 5.º Pel Art (Guiné, 1971/72)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14191: Historiografia da presença portuguesa em África (55): Revista de Turismo, jan-fev 1956, número especial dedicado à então província portuguesa da Guiné: anúncios de casas comerciais - Parte VII (Mário Vasconcelos): Quem não se lembra da Casa António Pinto ou "Pintosinho". alegadamente a melhor e a mais moderna loja da província ?






Foto: © Mário Vasconcelos (2015). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Continuação da publicação de anúncios de casas comerciais, da Guiné. Reproduzidos, com a devida vénia, de Turismo - Revista de Arte, Paisagem e Costumes Portugueses, jan/fev 1956, ano XVIII, 2ª série, nº 2. (*).

Trata-se de uma gentileza do nosso camarada Mário Vasconcelos [,ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72,Mansoa, e Cumeré, 1973/74; foto atual à direita] que descobriu um exemplar, já raro, desta edição, no espólio do seu falecido pai.

O anúncio que hoje divulgamos é de uma conhecida casa de Bissau, do nosso tempo, a Casa António Pinto, ou "Pintosinho", alegadamente a melhor e a mais moderna loja da província (, em 1956, já não se dizia, ou pelo menos, não se escrevia,  colónia...).

O António Pinto, que ficava na Rua Dr. Oliveira Salazar [, lamentavelmente não temos um mapa de Bissau com as designações das ruas do nosso tempo...],  tinha tudo,  a começar pelas "últimas novidades", desde a ourivesaria às armas, munições e demais artigos de caça e desporto, par de rádios e máquinas fotográficas (como a Zeiss Ikon)...Era o representante,na Guiné, de uma série de marcas famosas, desde os relógios "Longines" às máquinas de escrever "Hermes", além dos "whisk" (sic, em inglês, batedeira, utensílio de cozinha...) das melhores marcas...

Há algumas referências ao Pintozinho (ou Pintosinho) no nosso blogue:

(i) Foi no Pintozinho que o nosso camarada César Dias comprou um máquina e um projetor de slides" (*);

(ii) A nossa amiga Cristina Allen que esteve em Bissau, em abril de 1970, faz referência à prisão de Pintozinho e de mais dois homens de negócio de Bissau, presume-se que por parte da PIDE/DGS, a par da detenção do seu (dela) amigo Quito Fogaça (**);

(iii) Seguindo o Carlos Silva, o Pintozinho também tinha uma filial em Farim ("Existiam alguns estabelecimentos comerciais, Mharon Saad, libanês, Pintozinho, Pinheiro, e outros onde a malta comprava os seus relógios, Breitling, Rolex, Yema, gravadores, ventoinhas, tapetes, bandeirolas com motivos orientais, etc.").(****) 

Outros camaradas usam a grafia Pintosinho (como de resto constava da tabuleta da loja: "Casa Pintosinho", Bissau, embora a grafia correta me pareça ser "Pintozinho") (*****). (LG)


Guiné > Bissau > 1956 > O "Pinto Grande", loja de Augusto Pinto, irmão do António Pinto, cuja loja era mais conhecida por Pintosinho.(pu Pintozinho).

Foto: © Mário Vasconcelos (2015). Todos os direitos reservados [Edição: LG]




Guiné > Bissau > Anos 50 > Primeira rua a ser alcatroada em Bissau. O edifício à esquerda era o estabelecimento comercial conhecido por Pinto Grande, irmão de um outro Pinto conhecido por “Pintosinho” [,o António Pinto, ] por ser (o estabelecimento) de menores dimensões [vd. foto acima]. O “Pinto Grande” [, de Augusto Pinto], embora continuando a ser chamado por esse nome, foi, durante a guerra, propriedade de um comerciante anteriormente estabelecido em Bolama, de nome Ernesto de Carvalho que o tomou de trespasse. 


Foto: © Mário Dias (2006). Todos os direitos reservados


Guiné > Bissau > s/d [ c. 1960/70] > Rua Dr. Oliveira Salazar. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 135". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte, SARL). 

Era nesta rua, na Bissau Velha, que ficava a Casa Pintosinho.  Colecção de postais da Guiné, do nosso camarada Agostinho Gaspar, natural do concelho de Leiria, ex-1.º  cabo mec auto rodas, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74). 

Digitalização e edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).

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Notas do editor:

(*) Últrimo poste da série > 24 de janeiro de  2015 > Guiné 63/74 - P14178: Historiografia da presença portuguesa em África (50): Revista de Turismo, jan-fev 1956, número especial dedicado à então província portuguesa da Guiné: anúncios de casas comerciais - Parte VI (Mário Vasconcelos): (i) João Said Handem (Gadamael); (ii) Jacinto Maria de Figueiredo Duarte (Bedanda, com filial no Chugué e Cafine); (iii) Michel Ajouz (Bissorã); e (iv) Hipólito da Costa Ribeiro (Fulacunda): compra e venda de mancarra, coconote, óleo de palma, fazendas, miudezas, mercearias...

(**) Vd. poste de 21 de dezembro de  2014 > Guiné 63/74 - P14061: A minha máquina fotográfica (16): Comprei uma Olympus 35 SP e um projetor de "slides" na casa Pintozinho, em Bissau (César Dias, ex-fur mil sapador, CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71)

(***) 24 de dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3667: As Nossas Mulheres (5): De Bissau a Lisboa, com amor (Cristina Allen)

(...) ix) Senhor Quito Fogaça e sua mulher, Fernanda:

Ele, natural de Bissau, fora companheiro de escola do Nino e ela, minha conterrânea. Tiveram a imensa bondade de me ceder toda a sua casa como se fosse minha. Estranhamente, após a prisão de Pintozinho (e de mais dois homens de negócios de Bissau) também o Quito foi preso e, passados dias, guardado em casa. Jamais esquecerei este generoso casal.

(****) Vd. poste de 1 de fevereiro de 2008 >  Guiné 63/74 - P2496: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (5) (Carlos Silva)

(*****) Vd., por ex., os postes de:

22 de outubro de 2013 >  Guiné 63/74 - P12188: Páginas Negras com Salpicos Cor-de-Rosa (Rui Silva) (26): Como se faz acabar o vício de cravar cigarros aos outros

(...) Na Guiné, mais propriamente em Bissau, fomos encontrar coisas boas no comércio. Uma surpresa! Logo ali na rua paralela à marginal, na Casa Pintosinho, haviam as últimas novidades eletrónicas. Os melhores rádios, transistors, pick-ups, aparelhagens de som, máquinas de barbear e todo o mais. Akai e Pioneer era do mais reclamado e moderno. Estavam na moda. (...)


6 de setembro de 2009 > Guiné 63/74 – P4903: Notas de leitura (20): Histórias do pessoal da CCAÇ 2382, por Manuel Traquina (Parte I) (Luís Graça)

(...) De Bissau, o Traquina deixa-nos dois ou três apontamentos que nos ajudam hoje a reconstituir ‘puzzle’ do roteiro da capital da Guiné, que “naquele tempo vivia à base dos militares” (p.55).

Tinha já então “uma larga avenida que descia da Praça do Império, onde se situava o Palácio do Governador até ao porto, o chamado Cais do Pijiguiti [, que em rigor é apenas uma parte do porto…]. Aqui começava a outra, também bonita, avenida marginal ornamentada com algumas palmeiras” (p. 56).

Havia um florescente comércio. Podia-se comprar “de tudo um pouco”, incluindo artigos que não vistos na Metrópole e sobretudo que era inacessíveis à maior parte das bolsas dos portugueses. “As vésperas de embarque eram grandes dias de negócio, eram centenas, ou mesmo milhares de militares que iam regressar a Portugal, e normalmente todos faziam as habituais compras nas lojas de Bissau (entre outras lembramos a Casa Escada, o Taufik Saad, a Casa Pintosinho e a Casa Gouveia)”… Era aí que se faziam as compras de última hora, as lembranças para amigos e familiares. “Na baixa da cidade cada porta era uma loja, os artigos orientais com a etiqueta ‘Fabricado em Macau’ invadiam já as lojas, muito antes de chegarem a Portugal” (p. 55). (...)


Guiné 63/74 - P14190: Notas de leitura (674): “Senhor médico, nosso alferes”, por José Pratas, By the Book, (www.bythebook.pt, telefone 213610997), 2014 (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Janeiro de 2015:

Queridos amigos,
Preparam-se para uma grande, grande revelação: primorosamente escrito, sentido até à medula, este médico militar é finalmente portador da mensagem de gratidão que devemos a estes provedores que nos ajudavam a mitigar todo o tipo de sofrimento, incluindo o moral e o psicológico.
Por favor, não deixem de ler esta obra-prima de memórias: é necessário encomendar, trata-se de uma edição de autor, inexplicavelmente este texto extraordinário não deve ter interessado a nenhuma casa editora.
Não vou apostar, mas deve ter sido a grande surpresa em livros da guerra de 2014.
Não percam!

Um abraço do
Mário


O médico militar na guerra colonial: um testemunho surpreendente (1)

Beja Santos

É uma revelação… mas que grande revelação! José Pratas, especialista em Gastrenterologia, Chefe de Serviço da Carreira Hospitalar dos Hospitais Civis de Lisboa, fez a sua comissão na Guiné entre 1971 e 1973, na região do Gabu e no chão Manjaco, e foi igualmente Adjunto do Delegado de Saúde de Nova Lamego (Gabu-Sara) e de Teixeira Pinto (Canchungo). Agora decidiu passar a limpo as suas memórias, entrega-nos um documento estarrecedor, vai direitinho para o topo da literatura da guerra colonial, sem nenhum favor: “Senhor médico, nosso alferes”, por José Pratas, By the Book, (www.bythebook.pt, telefone 213610997), 2014. O que levou este autor a responsabilizar-se pela edição da sua obra quando é indiscutível o seu valor literário, a sua originalidade, a sua pertinência, uma agudeza de espírito que perpassa por todo o seu olhar, e que acaba por ser extensivo às três frentes da guerra colonial? Pode conjeturar-se que a Guiné está fora de moda e que estas memórias não chegam a ser um embaraço para as novas gerações, são um antolho, estão para lá da imaginação das gerações que navegam no digital e que não enfrentam nas ruas os deficientes das Forças Armadas. No entanto, edita-se muito sobre Angola e Moçambique, romances, memórias e investigação histórica, o que leva a pensar que não é o fascínio africano que arrefeceu, mas há uma grande indiferença sobre aquele mundo do arame farpado, das viaturas atascadas, dos gritos lancinantes dos feridos, dos tiroteios, das emboscadas e das explosões das minas anticarro. Em dado passo José Pratas exproba esta amnésia do poder político que recai sobre os antigos combatentes: os povos que esquecem os seus bravos não terão um final mais feliz do que o daqueles que queimam os seus livros; e mais adiante mostra a sua expetativa de “que as novas gerações recuperem da história recente o exemplo de resistência e luta pela sobrevivência, que talvez lhes sirva nas adversidades atuais que o país enfrenta”.

Pescando e convivendo numa pescaria de rio, vendo-se ao fundo o chamado tarrafo

Mas vamos ao que importa: os médicos militares estão de parabéns, têm aqui o seu cronista bem documentado a explicar a todas as gerações o que foi a guerra, por onde passava o poder do médico. Até onde podia chegar este médico militar? José Pratas faz o enquadramento: “Com os escassos recursos disponíveis, os médicos deveriam ser os provedores da saúde física e mental de dezenas ou centenas de militares que junto deles encontrassem o abrigo para muitos dos seus padecimentos. Por isso lhes competia, para além de socorrer os feridos e confirmar os mortos, a obrigação moral e o dever profissional de se baterem pela melhoria razoável dos meios e das condições de sobrevivência que, apesar dos constrangimentos, ajudassem a minimizar as circunstâncias da guerra: vigilância da qualidade e quantidade da alimentação dos militares; higienização de abrigos e dormitórios; carência de material e equipamento sanitário adequados aos condicionalismos do isolamento; pedagogia dos hábitos de saneamento básico junto das populações e introdução de procedimentos clínicos elementares, por exemplo, na área da saúde materno-infantil”.

Como se chegava a médico militar? O autor esclarece: “Concluído o 1º ciclo do COM, aos médicos, estava-lhes destinada a Escola de Serviço de Saúde na Estrela, em Lisboa, onde os esperava, durante cerca de três meses, um obsoleto e imbecil programa, deslocado dos contornos e exigências da guerra que iriam enfrentar. Entre despropositados conceitos de higiene e enfadonhas noções de organização sanitária, decorreram doze semanas de tédio e desperdício de tempo, consumido num insulto à inteligência de cada um”. Numa noite de tempestade de inverno, o nosso alferes médico encontrou um telegrama debaixo da porta: “Embarque 28.12.1971/04 horas, destino CTIG, comparência imediata STOP”. É assim que ele vai aterrar em Pirada, mesmo junto à fronteira do Senegal. É aqui que presta consultas internacionais, diariamente acorriam largas dezenas de doentes, muitos deles oriundos do Casamansa, e dá-nos o ambiente: “No interior da tenda militar, mastigavam-se nuvens de poeria irrespirável que aquela gente levantava ao arrastar-se no seu jeito indolente, derretidos em cascatas de suor. Pirada era um forno. O furriel enfermeiro José Luís Passos, partilhava comigo o tremendo sacrifício que fazíamos para atender, depois da consulta militar, toda esta multidão. Com pouco mais de 20 anos, o Passos era já merecedor de um louvor pela sua destemida disponibilidade, certa vez que foi necessário integrar um pelotão que partiu em socorro do destacamento de Copá, que estava a ser flagelado num ataque com feridos”. E exalta o míster destes enfermeiros: “Tecnicamente mal habilitados, como não podia deixar de ser, compensavam com a sua generosidade e dedicação o que lhes faltava em preparação profissional. Era neles que no interior do mato, em momentos de atribulação, os militares e as populações depositavam confiança”.

Homem Grande da etnia Balanta do sul da Guiné

E fala dessas consultas de rotina, os analgésicos, antidiarreicos e antipalúdicos, das febres, da malária, “e das doenças envergonhadas, homens e mulheres escorrendo as consequências venéreas de relações promíscuas, passando pelas gigantescas hérnias inguino-escrotais e os intransportáveis hidrocelos, ocultados sob coloridos panos enrolados à cintura”. E os acidentes, as quedas dos coqueiros, as lesões por armas de fogo, uma lista inenarrável de situações. E conta histórias, José Pratas é espirituoso, frontal, compassivo, lembra os médicos que morreram em África, caso do João Cantante abatido por um míssil que atingiu a DO em que voava, em 1973. Como recorda o alferes Ferreira doente mas inquebrantável em não arredar do seu destacamento a 35 quilómetros da sede do batalhão, percebe-se a emoção e a admiração no relato: “Quando lá cheguei, nesse manhã cinzenta e aguaceira de Setembro, era preciso transpor um extenso lamaçal onde as botas se inundavam nos charcos povoados de mosquitos e batráquios que abriam o caminho à nossa frente. De um buraco, emergindo do chão, assomou do seu abrigo, emagrecido e frágil, o alferes Ferreira; a expressão sofrida, o brilho lardáceo da pele, o olhar vazio, a barba de vários dias. Apertei-lhe a mão húmida e trémula. Preveniu-me, obstinado: 
- Não quero ser evacuado. Ajuda-me a tratar-me. Tenho muito frio e muita sede!
Apesar da minha insistência para o trazer comigo, o Ferreira resistiu aos meus argumentos e aceitou apenas a minha prescrição: comprimidos para a malária e um litro de soro que eu levava na mala. Permaneci com ele por algum tempo ainda, enquanto éramos observados pela inquietação dos soldados que se interrogavam, intranquilos pela saúde do seu comandante de pelotão. 
- O nosso alferes vai ficar bem, disse-lhes na despedida.
Para trás ficou um punhado de homens, ou miúdos crescidos, atascados na sua solidão, no seu silêncio e na sua sorte”.

Mas que grande livro! Porque esperam os editores?

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14177: Notas de leitura (673): “O Império da Visão, fotografia no contexto colonial português (1860-1960)”, organização de Filipa Lowndes Vicente, Edições 70, 2014 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P14189: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XXI: outubro de 1973: Flagelação, pela primeira vez, do reordenamento de Nhabijões, de maioria balanta, com parentes no mato...



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Mapa de 1955 (Escala 1/50000) > Detalhe: o núcleo populacional de Nhabijões (círculo a azul).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015). Todos os direitos reservados






Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Nhabijões > CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) > Um grande aglomerado populacional, de maioria balanta, com parentes no "mato", e que era considerada sob "duplo controlo"... A dispersão das diversas tabancas (1 mandinga e 4 balantas: Cau, Bulobate, Dedinca e Imbumbe), sua proximidade ao Rio Geba, fazendo ponto de cambança para a margem direita (Mato Cão, regulado do Cuor...) e as duas grandes bolanhas (um delas a de Samba Silate, uma enorme tabanca destruída e abandonada no início da guerra), foram motivos invocados para começar a construir, a partir de novembro de 1969, um dos maiores reordenamentos da Guiné no tempo de Spínola, com cerca de 300 moranças e equipamentos como escola e mercado. A aposta era também a conquista da população, fugida no mato e sob controlo do PAIGG, vivendo ao longo da margem direita do Rio Corubal (desde a Ponta do Inglês até Mina/Fiofioli). Este trabalho, na área da promoção económica e social das populações de Nhabijões, iniciado  pelo BCAÇ 2852, continuou com os batalhões seguintes (BART 2917, 1970/72; BART 3873, 1972/74)...

Fotos: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Edição e  legendagem: L.G.)

1. Continuação da publicação da História do BART 3873 (que esteve colocado na zona leste, no Setor L1, Bambadinca, 1972/74), a partir de cópia digitalizada da História da Unidade, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte (*)

[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, a Companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e não como voluntário, como por lapso incialmente indicamos); economista, bancário reformado, formador; foto atual à esquerda].

O destaque do mês de outubro de 1973 (pp. 70/73) vai para:

(i) em 27 de outubro de 1973, terminou o tempo normal de comissâo do BART 3873 no CTIG (... mas os seus militares só irão regressar a casa, via TAM, no início de abril de 1974!);

(ii) como alegada prova do cumprimento da sua missão, o BART 3873. na sua história, diz que "o inimigo foi remetido aos seus lugares de refúgio";

(iii) pela primeira vez na história da guerra, o grande reordenamento de Nhabijões, de maioria balanta, foi flagelado, ao mesmo tempo que o destacamento do Mato Cão; Nhabijões,. no subsetor de Bambadinca, era então um importante aglomerado habitado por gente com parentes no "mato", e que era tradicionalmente considerado, antes do reordenamento,. como um conjunto de tabancas "sob duplo controlo";

(iv) o Xitole foi atacado, mas da margem esquerda do Rio Corubal (Região de Quínara);

(v) a 28 de outubro de 1973 há eleições para a assembleia nacional, com um total de 1,8 milhões de recenseados (!); estavam em causa 150 deputados. Mota Amaral e Correia da Cunha são os únicos ex-deputados da ala liberal que se mantêm nas listas da Ação Nacional Popular;

(vi) ao nível da acção psicológica e da promoção social, há a registar a construção do novo reordenamento de Samba Silate, a construção de escolas em Mansambo e Enxalé, e a cobertura, com chapas de zinco, de 100 moranças no reordenamento de Bambadincazinho...










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Guiné 63/74 - P14188: Parabéns a você (852): Fernando Macedo, ex-1.º Cabo Apont Art.ª do 5.º Pel Art (Guiné, 1971/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 25 de Janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14183: Parabéns a você (851): João Alberto Coelho, ex-Alf Mil Op Esp do BART 6522 (Guiné, 1972/74)

domingo, 25 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14187: Em busca de... (252): exemplares de 1970/71 da revista "Presença" do Movimento Nacional Feminino (Júlio César, ex-1º cabo, CCaç 2659, Cacheu e Teixeira Pinto, 1970/71)

Capa da revista Presença, do Movimento Nacional Feminino, edição nº 1, outubro de 1963. Cortesia do blogue Livros Ultramar - Guerra Colonial

1. Mensagem do nosso camarada Júlio César, membro da nossa Tabanca Grande desde Julho de 2007, ex-1º cabo, CCAÇ 2659 / BCAÇ 2905 (Cacheu, 1970/71):

Data: 8 de dezembro de 2014 às 14:30

Assunto: Revistas Literárias


Boa tarde Luís Graça

Lembro-me, muito vagamente ( a memória já me atraiçoa) de ler umas revistas que nos chegavam, (ao Cacheu, em 1970 e 1971) via Movimento Nacional Feminino, nomeadamente o Jornal do Exército e uma outra, Sentinela, creio, onde escrevi um ou outro poema e um ou outro conto/artigo.


Onde poderei arranjar estas Revistas? Será que ainda existem?


Caso o meu querido amigo saiba de algo, agradeço a dica ou então, porque não uma sondagem acerca deste tema.


À tua consideração

Um abraço

Júlio César C. Ferreira

ex-1º cabo, CCaç 2659/BCaç. 2905, Cacheu e Teixeira Pinto 1970 1971

2. Comentário de L.G.:

Júlio, julgo que te queres referir á revista "Presença", essa, sim, editada pelo Movimento Nacional
Feminina, desde 1963, com apoio (subsídios) dos Ministérios da Defesa e do Ultramar.

Fica aqui o nosso apelo aos camaradas, eventuais colecionadores de papeis antigos, do nosso tempo. Pode ser que alguém tenha exemplares da revista "Presença" e até mesmo do Jornal do Exércitom, da época em que estiveste na TO da Guiné (1970/71).

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Guiné 63/74 - P14186: Libertando-me (Tony Borié) (1): A leste do paraíso, a oeste do Inferno

Primeiro episódio da nova série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.




Companheiros,
Hoje regressamos à guerra, a uma guerra que eu não sei dar qualquer nome, mas oficialmente, chamaram-lhe A guerra do Golfo, alguns até lhe chamaram a guerra do petróleo e, creio que todo o mundo, ainda hoje continua a sofrer os efeitos dessa guerra, creio que foi o início da guerra moderna, onde participou o nosso filho, Anthony Sérgio, um jovem, tal como nós éramos quando fomos para a guerra da Guiné, tinha corpo de atleta, praticava futebol na equipa do High School, jogava ténis, no parque, na frente da nossa casa, onde era o responsável pela área de desportos do referido parque, além de trabalhar em part-time, num estabelecimento da cidade, entre outras coisas. Ajudava a limpar a neve, por altura do inverno e, era um dos estudantes mais populares de High School, da cidade, onde na altura vivíamos.

Em casa, o nosso herói era o Tony, como quase todos lhe chamavam e, talvez influenciado, também entre outras coisas, pelas fotos que via do pai, que foi combatente na guerra colonial, em África, quando os USA se envolvem na Guerra do Golfo, o tal conflito militar travado entre o Iraque e forças de uma coligação internacional, liderada pelos USA e patrocinada pelas Nações Unidas, com a aprovação do seu Conselho de Segurança, autorizando o uso da força militar para alcançar a libertação do Kuwait, ocupado e anexado pelas forças armadas iraquianas, o nosso Tony, com o tal orgulho, talvez herdado do pai, pois a pátria amada, neste caso o Uncle Sam, chamava por si, e assim, alista-se no Corpo de Marines dos Estados Unidos.


A mãe dizia a chorar:
- Tal pai, tal filho, agora levam o meu filho para a guerra!


Ninguém lhe conseguiu tirar da ideia, o seu dever de cidadão e, depois de algum tempo, vai receber rigorosa instrução no “Marine Corps Recruit Depot Parris Island”, que está situado em Port Royal, no Estado de Carolina do Sul, próximo da cidade de Beaufort, que é onde os novos Marines, que residem a leste do Mississippi River, recebem o seu inicial treino, passando depois a outras bases de instrução e, quando já se encontrava como militar qualificado e pronto para combate, é colocado em diferentes partes do globo, acabando por ser enviado para o Golfo Pérsico, onde se encontrava uma formidável força de meios humanos e uma imensa quantidade dos mais modernos equipamentos militares, desencadeando em seguida uma campanha relâmpago que consumou a libertação do território kuwaitiano com extrema e surpreendente facilidade.





Dizem que foi uma das campanhas militares, (talvez o inimigo não tivesse grande poder de defesa), mais fascinantes e inovadoras da moderna história militar, introduzindo no campo de batalha sofisticação tecnológica e poder de fogo sem precedentes. Novos equipamentos foram adicionados nesta guerra, entre outros, os “aviões Stealth”, que são aqueles que possuem um radar baixíssimo, transversal, que se pode confundir com uma ave que ande a voar pela área da sua operação, ou as “bombas inteligentes”, que como quase todos sabem, é uma bomba guiada destinada a atingir com alto grau de precisão alvos específicos, minimizando a morte de pessoas ou a destruição de monumentos históricos, sendo esta a especialidade do nosso Tony, manusear e activar este tipo de bombas.


Talvez fosse a primeira guerra onde os jornalistas participaram, dando notícias ao minuto. Este novo tipo de guerra catapultou para a fama e reconhecimento mundial uma relativamente pouco conhecida empresa de notícias, que pela primeira vez acompanhou e transmitiu em direto um conflito militar, de seu nome CNN.

O nosso Tony continuou por mais um tempo à volta do mundo, estacionando em diferentes bases, onde passado uns anos e alguma experiência em como as pessoas vivem, se amam, se odeiam, se matam, ou simplesmente tentam sobreviver, termina a sua comissão no Corpo dos Marines e regressa a sua casa, com “Honor”.

Nós fomos esperá-lo à Base Militar de San Diego, na Califórnia, fazendo a viagem juntos, de regresso, por terra até Nova Iorque.

Quando regressámos a casa, a sua mãe voltou a dizer, chorando, tal como a mãe Joana dizia, muitos anos atrás:
- Ai, o meu querido filho voltou da guerra, está de novo comigo!

Hoje, o nosso Tony fez de nós um avós babados pois deu-nos dois lindos netos, continua a viajar por todo o mundo, tal como quando era um “Marine”, mas agora no exercício da sua profissão, mas retorna sempre às montanhas do estado de Pennsylvania, onde vive com a sua família.

Tony Borie (pai), Janeiro de 2015
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