sexta-feira, 13 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14356: A minha mãe, Maria Eugénia da Conceição Vitorino Gaspar, a minha Padeira de Aljubarrota (Mário Vitorino Gaspar)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Vitorino Gaspar (ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68), com data de 3 de Março de 2015:

Caros Camaradas e Amigos
Nós temos bem de agradecer aos nossos pais: – e “Meu pai, meu velho, meu camarada".
Idêntico o procedimento para as “Nossas mães, verdadeiras padeiras de Aljubarrota”.
E como foi afirmado, e com pleno direito de não esquecer: - “… fotos do álbum de família que correm o risco de desaparecer com o tempo… Interessa-nos salvaguardar (e divulgar) aquelas que têm a ver com a juventude e a tropa dos nossos progenitores...
Sabemos das dificuldades que eles passaram nos anos 30/40, ensombrados pela tragédia da crise económica e social e pelas guerras que também nos tocaram, directa ou indirectamente (guerra civil de Espanha, II Guerra Mundial…)”.

Atrevo-me a enviar também um texto sobre “A Minha Mãe”, e não fico chateado, de modo nenhum, por não ser publicado.

Tenho a dizer-lhes que sinto enorme prazer em pertencer a uma Família de Amigos que possuem elos fortes com a Guiné. Fui, sou e continuarei a ser contrário a qualquer guerra, mesmo a que vem mascarada como de “Missão de Paz, Técnico-Militar no Estrangeiro” e outros termos para emoldurarem a guerra.
Sou contra, mas cumpri, não com Portugal, o Estado ou país, mas cumpri o que a consciência ordenou. Fui combatente, sou combatente e combato e jamais deixarei de o fazer.

A Amizade está em segundo lugar em toda a minha vida. Prezo e defendo os Amigos.
Mas tinha de ser: em primeiro lugar está a Família.

Gosto muito do Tejo e da minha bonita terra onde nasci: Sintra.

Um abraço a todos os Amigos da Tabanca Grande
Mário Vitorino Gaspar


A minha mãe, Maria Eugénia da Conceição Vitorino Gaspar


Para mim chama-se simplesmente MÃE – filha de José Vitorino e Rosa Vitorino, nasceu em A-do-Barriga, concelho de Arruda dos Vinhos, distrito de Lisboa.
A minha mãe teve mais dois filhos: o Ramiro Fernando e o José Alberto. A minha mãe foi, e é, o primeiro e grande amor da minha vida.

Tenho-a prisioneira dentro de mim, no meu coração, na minha mente, desde que os meus olhos se abriram para o mundo. Ali estava ela, sorrindo. Hoje continua a sorrir e sempre sorrirá.
Um sorriso da minha mãe, que supera em beleza o mais belo quadro pintado por um grande mestre da pintura, um artista, talvez uma rosa vermelha, que significa amor e paixão, luzindo suas coloridas cores irisada, ou ainda a papoila, com o significado de fragilidade, que parece de beleza efémera e mensagem, num vasto campo de trigo e um girassol, que dizem significar felicidade, e possuindo um ano de vida, que abre suas pétalas mui luzidias de manhã e fecha à tardinha.

Um sorriso da minha mãe que supera em beleza quem sabe se a dança aérea, como se de ballet se tratasse – num qualquer palco do mundo – de borboletas, que é um símbolo de ligeireza e de inconstância, de transformação e de um novo começo, voando livremente num dia de primavera. E o voo em liberdade das andorinhas, vestidas como viúvas, na primavera ou no verão em Portugal – e que passam o outono e o inverno em África – que simbolizam a boa sorte, a pureza e a fidelidade.

Um sorriso da minha mãe que supera em beleza as pombas brancas, que simbolizam a paz, que o mundo e principalmente o homem necessitam, esvoaçando pelo céu pintado pela natureza de um azul puro.

Mentalmente, beijei milhões de vezes a minha heroína, o meu grande primeiro amor – quando algum problema me surgia, ou surge, é ela que me ajuda – na realidade, beijei-a milhares de vezes. Senti e sinto o aroma dos seus beijos no meu rosto.

O amor que sentia pelos seus três filhos e seis netos, não igualava qualquer outro amor, consigo avaliá-lo quando recordo o nascimento dos meus sobrinhos, e principalmente do nascimento dos meus filhos, visto ter sido eu que dei a notícia dos acontecimentos. Senti a sua alegria.
Algo me intrigava, era o amor que sentia também pelos sete sobrinhos. Hoje entendo! Vivia em paz, pretendendo a paz para os seus entes queridos.

A minha mãe é simplesmente o amor – o primeiro e único verdadeiro e puro sentimento – que perdurará para toda a minha vida.
A minha mãe, foi e será, a minha padeira de Aljubarrota, e que já me perdoou pelas ocasiões em que a fiz chorar – embora não fosse essa a minha intenção – tanto de tristeza como de alegria.

Em ocasiões amargas da vida não brotava dos seus olhos uma lágrima, pretendendo assim não levar os outros a pensar ser dolorosa a situação.
Via-a chorar muitas vezes, mas fazia-o silenciosamente. Bebi, por vezes, as suas lágrimas
Foi o amor de mãe que me deu a força anímica para fazer frente à minha vida.

Na minha despedida dos meus pais, quando parti para a Guiné, não verteu uma lágrima. Meu pai, que nunca vira sinais de água salgada vertida dos olhos, chorou. A única vez que o vi chorar.

Nos seus olhos, na sua boca e nos seus gestos, encontrava o amor de mãe, um amor mais destemido que todos os amores, muito mais inflexível, um amor para durar para sempre.

Estive junto dela quando estava à porta da morte. Depois de ser sujeita a uma operação cirúrgica no Hospital de Vila Franca de Xira, teve alta e fui visitá-la. Preparei-lhe um banho, visto ela já não estar em condições de o fazer e, e enquanto a lavava ela disse:
– Filho, tantas vezes que te dei banho, e agora és tu que me dás banho!

Depois piorou, informaram-me que tinha sido internada e fui visitá-la. Quando entrei no Serviço de Urgência do Hospital não a reconheci entre os doentes, em qualquer cama na enfermaria. Vim mais tarde, ter passado por ela.
Perguntei à enfermeira onde se encontrava a minha mãe, tendo-me dado a informação. Descobria-a finalmente. Voltei para junto da sua cama. Sei que me reconheceu. Fiquei envergonhado, sentindo-me muito mal comigo.

Via-a, embora ficasse triste por verificar tão diferente se encontrava. Era a minha mãe e aproximei-me, após a enfermeira me ter feito sinal para ir junto do seu leito. Beijei-a na testa. Foi o único beijo que até à data dava na testa da minha mãe. Após a enfermeira me ter feito sinal para me afastar, dei-lhe outro beijo na testa. Num rosto desfigurado pela doença, nasce o sorriso da minha mãe. Ela não falou. Foi a despedida. Foi a despedida.
Foi a despedida.
Foi d derradeira vez que a beijei, ainda com vida. Não o esqueço!

Faleceu nesse mesmo dia. E não chorei. Nem sequer no velório, onde a beijei pela última vez. Acho que verti lágrimas interiormente.

Guardo o seu sorriso, segurei-o entre mãos e transporto comigo para sempre…

“Tudo aquilo que sou, ou pretendo ser, sou devedor ao devo-o ao anjo, minha mãe”.
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Guiné 63/74 - P14355: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXIX: Quando falhava o abastecimento, ainda havia o recurso à "bianda com marmelada"...


Beldade... de Canjambari [Fotógrafo desconhecido]


Canjambari... Um bar ou cantina onde podia faltar muita coisa, até o feijão mas não a cerveja... "estupidamente gelada", como na letra da célebre canção de Chico Buarque, de 1977 (*) [Fotógrafo desconhecido]


1. Continuação da publicação das "histórias da CCAÇ 2533", a partir do documento editado pelo ex-1º cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias). (**)

Hoje reproduz-se  mais dois textos deliciosos, da autoria do ex-alf mil Timóteo Rosa, do 4º pelotão : (i) o cardápio do rancho da CCAÇ 2533, planeado para o mês de jullho de 1969 (p, 94); e (ii) o "apicultor" da companhia, o srgt Félix (p. 97)...

Quem disse que a malta rapava fome no CTIG e não tinha sentido de humor ?... Por outro lado, nunca será de mais recordar, como facto digno de nota, que esta publicação é uma obra coletiva, feita com a participação de diversos ex-militares da CCAÇ 2533 (oficiais, sargentos e praças), num louvável esforço  de partilha de memórias comuns...

A brochura, com cerca de 6 dezenas de curtas histórias, de uma a duas páginas, e profusamente ilustrada (cerca de meia centena de fotos), chegou  às mãos dos nossos editores, em suporte digital, através do Luís Nascimento, que vive em Viseu, e que também nos facultou um exemplar em papel. para consulta. Até ao momento, e com muita pena nossa, ele é o único representante da CCAÇ 2533, na nossa Tabanca Grande, apesar dos convites, públicos, que temos feito aos autores cujas histórias vamos publicando.

Temos autorização dos responsáveis pela edição e pelos  autores para dar a conhecer, a um público mais vasto de amigos e camaradas da Guiné, as aventuras e as desventuras vividas pelo pessoal da CCAÇ 2533, companhia independente que esteve sediada em Canjambari e Farim, região do Oio, ao serviço do BCAÇ 2879, o batalhão dos Cobras (Farim, 1969/71). O primeiro excerto destas histórias foi publicado em 16 de abril de 2014, com um texto do ex-comandante da companhia, o cap inf Silvino R. Silva, hoje cor ref.


P. 94

p. 97

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Notas do editor:

(*) Feijoada completa 
Chico Buarque/1977
Para o filme Se segura malandro de Hugo Carvana

[Letra, reproduzida aqui, com a devida venia... da página oficial do cantor]


Mulher
Você vai gostar
Tô levando uns amigos pra conversar
Eles vão com uma fome que nem me contem
Eles vão com uma sede de anteontem
Salta cerveja estupidamente gelada prum batalhão
E vamos botar água no feijão

Mulher
Não vá se afobar
Não tem que pôr a mesa, nem dá lugar
Ponha os pratos no chão, e o chão tá posto
E prepare as linguiças pro tiragosto
Uca, açúcar, cumbuca de gelo, limão
E vamos botar água no feijão

Mulher
Você vai fritar
Um montão de torresmo pra acompanhar
Arroz branco, farofa e a malagueta
A laranja-bahia ou da seleta
Joga o paio, carne-seca, toucinho no caldeirão
E vamos botar água no feijão

Mulher
Depois de salgar
Faça um bom refogado, que é pra engrossar
Aproveite a gordura da frigideira
Pra melhor temperar a couve mineira
Diz que tá dura, pendura a fatura no nosso irmão
E vamos botar água no feijão


1977 © Marola Edições Musicais
Todos os direitos reservados. Copyright Internacional Assegurado. Impresso no Brasil


14 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13893: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXVI: O finório e o 1º sargento (José Luís Sousa, ex-fur mil, 1º pelotão)

6 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13854: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXV: (i) o final da comissão em Farim, com os últimos mortos e feridos na zona de Lamel;: (ii) humilhados e ofendidos: regressados á Pátria, somos obrigados a ir a Chaves, num comboio ronceiro, entregar meia dúzia de trapos desfeitos, os restos das nossas fardas ! (Agostinho Evangelista, 1º pelotão)

8 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13709: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXIV: o Artur, que arranjava sempre desculpas para se baldar... ao mato. Porque, afinal, na guerra e noutras situações-limite em que se arrisca a vida, "quem tem cu tem medo"... (Agostinho Evangelista, ex-sold inf, 1º pelotão)

24 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13642: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXIII: O quotidiano em Canjambari...(Agostinho Evangelista, 1º pelotão)

16 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13614: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXII: No T/T Niassa,, em 24/5/1969, a caminho do "desterro"... (Agostinho Evangelista, 1º pelotão)

28 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13542: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXI: Lembranças de Chaves (Agostinho Evangelista, 1º pelotão)

10 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13481: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XX: a festa dos meus 25 anos, em Farim (Carlos Simões, ex-fur mil op esp. 1º pelotão)

quinta-feira, 12 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14354: Meu pai, meu velho, meu camarada (42): 1.º Cabo Manuel de Assunção Peres (1912-1997), meu sogro, que fez tropa em Elvas... Um dia, quando teve uma curta licença para férias, foi a pé até Castro Verde (, o que em linha reta são mais de 200 km)... (José Colaço)

1. Mensagem do nosso camarada José Colaço (ex-Soldado TRMS da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), com data de 4 de Março de 2015:

O meu pai, meu velho, na inspecção saiu-lhe a fita vermelha. Mas,  como os pais das nossas mulheres nossos pais são, apresento-lhes o meu sogro, meu camarada, pai da  mulher com a qual casei em 1973 e que tem tido a paciência de me aturar e desculpar desde essa data até aos dias presentes.

José Colaço



Manuel de Assunção Peres


2. Este nosso camarada Manuel de Assunção Peres, nasceu em 17 de Abril de 1912  e faleceu em 29 de Dezembro de 1997, vítima de cancro pulmonar, talvez devido ao tabaco pois era um fumador viciado desde os bancos da escola primária. Quando morreu, tinha uma memória perfeita tanto em matemática como em português, disciplinas que gostava e que dominava com alguma facilidade.

Fez a tropa no quartel de Elvas, tendo sido promovido a 1.º Cabo.

Histórias da sua vida militar não as registei em papel nem em memória, culpa minha porque ele falou várias vezes no assunto, mas uma que me chamou a atenção e que registei em parte, foi quando lhe foi concedido um curto período de férias.

Ele  mais um camarada do concelho de Odemira  deram corda aos cordões das botas e marcharam a pé,  de Elvas...  até Castro Verde [, são mais de 200 km em linha reta!].

Um abraço
Colaço
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14353: Meu pai, meu velho, meu camarada (41): Jorge Manuel Augusto da Silva, o "binte oito", era um orgulhoso sapador de assalto, da arma de engenharia... Fez a tropa em Tancos, em 1947, ainda chegou a jogar futebol e era amigo do histórico guarda-redes do Porto, o Barrigana (Henrique Cerqueira)

Postes anteriores (desde o nº 30 da série):

3 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14316: Meu pai, meu velho, meu camarada (40): Torcato Prudêncio da Silva (1915-1977) faria 100 anos no passado dia 28 de fevereiro...Na tropa (entre 1936/37 e 1943), foi da arma de artilharia, como o filho que o recorda hoje com muita saudade (Torcato Mendonça, ex-alf mil art, CART 2339, Mansambo, 1968/69)

4 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11803: Meu pai, meu velho meu camarada (39): Amadeu Simões Picado, ilhavense, 1º cabo quarteleiro, da arma de engenharia, integrou o corpo expedicionário português, em França, na I Guerra Mundial (1917/18), e emigrou depois para os EUA onde trabalhou quase sempre como pescador... Só o conheci aos 9 anos, em 1946... (Jorge Picado)

8 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11358: Meu pai, meu velho, meu camarada (38): Evocando a figura de Luís Henriques (1920-2012) que há precisamente um ano se despedia da terra da alegria (Luís Graça / Pedro Martins)

19 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11275: Meu pai, meu velho, meu camarada (37): Memórias do Mindelo, São Vicente, Cabo Verde, no dia do pai...

11 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10924: Meu pai, meu velho, meu camarada (36): Fotos recentes do Mindelo, em memória do meu avô Luís Henriques (1920-2012) (João Graça)

13 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10793: Meu pai, meu velho, meu camarada (35b): José Baptista de Sousa (1904-1967), capitão médico-cirurgião, expedicionário, um 'anjo di céu', em São Vicente, fev 1942/ set 1944 - Parte II (Adriano Miranda Lima)

12 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10790: Meu pai, meu velho, meu camarada (35a): José Baptista de Sousa (1904-1967), capitão médico-cirurgião, expedicionário, um 'anjo di céu', em São Vicente, fev 1942/ set 1944 - Parte I (Adriano Miranda Lima)

23 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10712: Meu pai, meu velho, meu camarada (34): Tropas expedicionárias portuguesas, em São Vicente, Cabo Verde, 1941/45, mostram solidariedade com o povo sofrido da ilha (Adriano Miranda Lima, cor inf ref, Tomar; cortesia de Praia de Bote)

7 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10496 Meu pai, meu velho, meu camarada (33): Mais notícias das forças expedicionárias da ilha de São Vicente, Cabo Verde (1941/45) (Adriano Miranda Lima, cor inf ref)

Guiné 63/74 - P14353: Meu pai, meu velho, meu camarada (41): Jorge Manuel Augusto da Silva, o "binte oito", era um orgulhoso sapador de assalto, da arma de engenharia... Fez a tropa em Tancos, em 1947, ainda chegou a jogar futebol e era amigo do histórico guarda-redes do Porto, o Barrigana (Henrique Cerqueira)


Jorge Manuel Augusto da Silva, natural do Porto, fez a tropa em 1947... 
Era soldado sapador de assalto... e conhecido pelo "Binte Oito"


1. Mensagem do nosso amigo e camarada Henrique Cerqueira [ [ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, e CCAÇ 13, Bissorã, 1972/74; casado com a Maria Dulcinea (NI), também nossa grã-tabanqueira]


Data: 8 de março de 2015 às 11:32
Assunto: Meu pai,meu velho , meu camarada


Caro Camarada Luís Graça:

Há muito tempo, mais precisamente a partir da altura em que publicaste um dos primeiros postes sobre o tema " Meu pai, meu velho, meu camarada " (*),  que senti um grande carinho pelo tema. No entanto não ganhava coragem para escrever sobre o pai do qual passei quase toda a minha vida a ouvir as suas estórias de quando esteve na tropa (hoje são os nossos filhos e netos a ouvir as nossas).

Bom,  e vai daí, tu relanças novamente o tema e então lá fui procurar no meu "baú" das recordações e encontrei a caderneta militar do meu pai . E assim sendo vou tentar escrever algo que homenageie a memória do meu e de todos os nossos pais que são: "O Meu Pai , Meu Velho, Meu Camarada ". Espero não ser muito aborrecido mas vou escrever principalmente com o coração e amor pelo meu pai já retirado desta vida terrena.

Apresento o Meu pai, Jorge Manuel, que  foi Sapador de Assalto em Tancos [em 1947].

Sempre ouvi falar o meu pai e muitos dos seus amigos da altura que ele era um pouco irrascível na sua vida militar, mas sempre que era necessária aplicação da sua especialidade,  ele então tinha que ser o melhor. Era com muito orgulho que me contava a vitória obtida numa competição (???) entre vários países da NATO, numas provas militares . E como ele era Sapador de Assalto, orgulhava-se de ser bom a lidar com explosivos.

Uma outra estória muito engraçada (para mim,  claro) foi a sua narrativa de uma célebre "fuga" de que foi protagonista precisamente do interior do Castelo de Almourol. Segundo ele a tropa de Tancos na altura fazia serviço nesse famoso Castelo. Pelos vistos,  o meu pai era um "bom Casanova" e nem as muralhas de um Castelo o detinham quando havia "rabo de saia" nas redondezas.

Já agora o meu pai também foi um excelente jogador de futebol mas, que também acabou por ser irradiado dessa atividade por ter "acertado o passo" a um árbitro e a um polícia. Não pensem que o meu pai era um violento, era sim um rebelde e talvez em demasia para a época.

Estou aqui a pensar que tinha tanto, mas tanto para contar sobre o meu pai, mas não sai... não sai mesmo e por isso vou ficar por aqui e até vou pensar ainda se mando ou não este escrito para a malta ler.

Ah!,  é verdade,  o meu pai era conhecido na tropa pelo "Binte Oito" (28),  á moda do Porto,  já se vê. Era eu miúdo e conheci um famoso jogador da altura que era o saudoso Barrigana [, Frederico Barrigana, 1922-2007], penso que jogava no Salgueiros ou Porto. Estava ele junto do meu pai e só falavam da tropa e era então "Binte oito prá qui....binte oito prá acolá"....

Meu Pai, Meu Amigo, Meu Camarada,  que saudades tenho de ti. Dá um beijo à Mãe e aguarda por mim.

Um grande abraço a todos os Pais, Amigos e Camaradas da nossa Tabanca Grande.
Henrique Cerqueira

PS  - Envio em anexo algumas imagens possíveis da Caderneta militar do meu pai, achei particular graça às páginas descritivas do material  recebido para uso pessoal.












Folhas da caderneta militar de Jorge Manuel Augusto da Silva, pai do nosso camarada Henrique Cerqueira


Fotos : © Henrique Cerqueira (2015). Todos os direitos reservados.

Guiné 63/74 - P14352: Convívios (656): IX Encontro dos Combatentes do Ultramar do Concelho de Matosinhos, levado a efeito no passado dia 7 de Março de 2015, em Leça da Palmeira (Carlos Vinhal)

IX ENCONTRO DOS COMBATENTES DO ULTRAMAR 
DO CONCELHO DE MATOSINHOS

DIA 7 DE MARÇO DE 2015

Foto de família, com alguns dos participantes no IX Encontro dos Combatentes da Guerra do Ultramar do Concelho de Matosinhos, tirada na marginal de Leça da Palmeira

No passado sábado, dia 7 de Março de 2015, cumpriu-se o IX Convívio dos Combatentes do Ultramar do Concelho de Matosinhos, assim designado agora por se estenderem estes Encontros aos camaradas de Angola e Moçambique.
Modéstia à parte, os Organizadores do evento consideram que foi um êxito, não só pelo número de participantes, 110, mas pelo recorde de presença de senhoras.

Conforme o programa estabelecido, pelas 11 horas foi celebrada uma Missa de Sufrágio pelos camaradas caídos em campanha e já durante a vida civil, presidida pelo, já nosso amigo, Padre Marcelino da Capela do Espírito Santo de Leça da Palmeira.
 
Exterior da Capela do Sagrado Coração de Jesus, em Leça da Palmeira

 O senhor Padre Marcelino durante a celebração da Missa

O Padre Marcelino realçou a presença dos muitos combatentes e familiares nesta celebração. Lembrou o sacrifício que foi imposto a uma geração e o sentido de união que persiste, volvidos já mais de 50 anos desde o início da guerra. Disponibilizou-se a receber-nos sempre que queiramos a sua colaboração espiritual. Agradeceu e declinou, por motivos de saúde, o convite que lhe formulámos para almoçar connosco. 

Tirada a foto de família com alguns dos participantes no Encontro, o destino foi o Tryp Porto Expo Hotel onde iria decorrer o almoço.

Após a recepção aos participantes pelo camarada Ribeiro Agostinho, a "alma" destes Convívios, foi dado o tiro de partida para a mesa das "entradas". 

O primeiro obstáculo a vencer foi a mesa dos frios

A Mesa VIP, com: Abel Santos, à esquerda; Dr. Eduardo Nuno, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos; camaradas Francisco Oliveira, António Maria, António Vieira e Dr. Pedro Sousa, Presidente da União de Freguesias Matosinhos/Leça da Palmeira.

Nesta perspectiva da Mesa: O TCor Armando Costa, Presidente da Direcção do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes; Dr. Eduardo Nuno e o camarada Francisco Oliveira.

Vista parcial da sala de jantar

Ex-Combatentes dos três teatros de operações: António Coelho, Moçambique; António Silva, Angola e António Sampaio, Guiné.

No decorrer do almoço houve lugar às habituais, e sempre desejadas, alocuções por parte das personalidades presentes. Abriu as hostilidades o senhor TCor Armando Costa da Liga dos Combatentes que salientou o papel desta instituição ao serviço de todos os combatentes, particularmente o Núcleo de Matosinhos que se tem empenhado na concretização dos projectos levados a cabo neste Concelho.

TCor Armando Costa no uso da palavra

O senhor Dr. Pedro Sousa, Presidente da União das Freguesias Matosinhos/Leça da Palmeira, apesar de por motivos oficiais não poder estar presente no almoço, não deixou de comparecer para cumprimentar os combatentes e deixar algumas palavras de apreço.

O senhor Dr. Eduardo Nuno, Vice-Presidente da Edilidade, também deixou algumas palavras de simpatia por mais esta manifestação de camaradagem e união entre quem lutou há tantos anos numa guerra que ninguém quis e que felizmente já acabou.

O camarada Ribeiro Agostinho, o principal impulsionador destes convívios, deixou uma palavra de agradecimento aos combatentes e familiares presentes e às personalidades que ali representavam a Edilidade e a Liga dos Combatentes.

Nesta foto, atrás, de pé: O combatente Ribeiro Agostinho, TCor Armando Costa, Dr. Pedro Sousa, Dr. Eduardo Nuno e os combatentes Francisco Oliveira, António Maria e Carlos Vinhal. Falta o camarada Abel Santos que estava do lado contrário da objectiva.

Um dos momentos de animação protagonizado pelo nosso velho amigo Victor

O Coro do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, com algumas ausências, actou interpretando alguns trechos da Música Popular Portuguesa. Finalizou a sua actução com o Hino da Liga dos Combatentes...

...ouvido de pé e em silêncio por todos os presentes.

Cerca das 18 horas o pessoal começou a retirar. Tenhamos força e engenho para voltar a reunir as hostes no próximo ano.

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Texto e edição de fotos: Carlos Vinhal
Fotos: Abel Santos, Carlos Vinhal, Ribeiro Agostinho e Raul Ramos
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14348: Convívios (655): Encontro Pré-Primaveril da Magnífica Tabanca da Linha, dia 19 de Março de 2015, no sítio do costume (José Manuel Matos Dinis / Jorge Rosales)

Guiné 63/74 - P14351: Blogoterapia (266): O Senhor M. Proust escreveu milhares de páginas "À la recherche du temps perdu"... Será que nós estamos escrevendo milhares de postes, à procura da juventude "perdida" na guerra? (Vasco Pires, ex-alf mil art. cmdt do 23º Pel Art. Gadamael, 1970/72)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 11 de Março de 2015:

Pois é Luis, como dizia o meu avô, do alto da sua "sabedoria Bairradina": pela boca, morre o peixe, e tu "implacável" editor, te encarregaste da cobrança.

Vamos lá tentar então, mesmo sabendo que estou entrando "numa rua escura" ou ao menos mal iluminada.

Nós, da nossa geração, nascemos numa "ilha ".

Ao passo que no resto da Europa, tudo tinha sido destruído pela Segunda Guerra, - infra-estruturas, estruturas e superestruturas - neste nosso "Jardim à beira mar plantado" tudo continuava de pé.

Éramos também filhos da "Guerra fria", bombardeados pela propaganda dos dois lados.

Sabemos hoje que o nosso "Último Imperador ", tinha a "certeza" que Portugal não sobreviveria sem o "Império", a máquina de propaganda, alardeava que éramos um País multirracial e pluricontinental.

E lá fomos nós para outro Continente "dilatar a fé e o Império", erámos jovens inocentes na maioria, alguns de nós, nunca tínha visto o mar nem um comboio.

Alguns outros se achavam bem informados, porque ouviam a BBC ou a Rádio Moscovo.

Sei, havia também os "filhos" da República Velha, o meu avô era um deles, culpando os "Jesuítas" de todos os males da Nação.

Também não éramos (somos) Europeus, nem antropológica nem culturalmente, mais tarde nos convenceram do contrário, e vimos no que deu!

Enquanto todos os países coloniais negociavam a transição, nós fomos à guerra, guerra politicamente perdida "ab initio".

Pergunto eu então, o que eu tenho a ver com esse soldado largado nas "bolanhas" Africanas?

Ah, sim, entre eu hoje, e o jovem Soldado de Artilharia, há as memórias.

O Senhor M. Proust escreveu milhares de páginas "À la recherche du  temps perdu", será que nós estamos escrevendo milhares de postes, à procura da juventude "perdida" na guerra?

E as memórias, serão reprodução de vivências, ou construções mentais? Memória involuntária ou memória voluntária?

Nesta hora lembro a frase afixada na fachada da República Praquistão, na Coimbra de então: "Não sou eu nem o outro, sou algo de intermédio..." Mário de Sá-Carneiro.

Há sim muitas perguntas, mas (felizmente) temos o Blog à procura das respostas!

Forte abraço
VP
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Guiné 63/74 - P14350: Parabéns a você (873): Manuel Luís R. Sousa, Sargento Ajudante Ref, ex-Soldado At Inf do BCAÇ 4512 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 11 de Março de 2015 > Guiné 63/74 - P14346: Parabéns a você (872): Artur Soares, ex-Fur Mil Mec Auto da CART 3492 (Guiné, 1972/74) e Joaquim Sequeira, ex-1.º Cabo Canalizador do BENG 447 (Guiné, 1965/67)

quarta-feira, 11 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14349: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (22): Procura-se letra e/ou registo sonoro de "Djiu di Galinha" [Ilha das Galinhas], canção de José Carlos Schwarz, imortalizada por ele e por Miriam Makeba, a 'Mama Africa' (Helena Pinto Janeiro, investigadora, FCSH / Universidade NOVA de Lisboa)

1. Mensagem da doutoranda Helena Pinto Janeiro, e investigadora no Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade NOVA de Lisboa:


De: Helena Pinto Janeiro [hjaneiro@gmail.com]
Enviado: terça-feira, 6 de Janeiro de 2015 18:07
Para: Luís Graça
Assunto: Registo sonoro (ou letra) de "Djiu di Galiña", de José Carlos Schwarz

Caro Professor Luís Graça

Antes de mais, os meus parabéns pelo seu magnífico blogue.

Vi lá uma referência a uma música sobre o campo de trabalho da ilha das Galinhas, escrita e cantada por um preso ("Djiu di Galiña", de José Carlos Schwarz) e gostaria de saber se tem ideia (ou se alguém do seu grupo alargado de seguidores na blogosfera) de quem poderá ter o disco, ou uma gravação áudio, ou ao menos da letra da canção, ou quaisquer outros elementos sobre a canção (data, editora, etc.) ou sobre o autor (datas exactas em que esteve preso, etc.)...

Muito obrigada e votos de bom ano

Helena Pinto Janeiro
Instituto de História Contemporânea da FCSH da UNL

2. Comentário dos editores:

Não encontramos na Net a letra da célebre canção do malogrado José Carlos Schwarz (1949-1977),  mas cujo registo áudio pode ser ouvido aqui, na página de Fernando Casimiro (Didinho): Memorável José Carlos Schwarz.

A canção de Djiu di Galinha (aqui na versão do autor, poeta e músico, 3' 26'') ficou celebrizada pela Miriam Makeba, a "Mama Africa" (1932-2008).  O "Djiu de Galinha, de J. C. Schwarz (e não Schwartz), faz parte do álbum "Welela" (1989).
C apa do álbum "Welela" (1989). Cortesia da
página oficial de Miriam  Makeba (1932-2009)
interpretação, em 1989,  da grande cantora sul-africana.

O nosso grã-tabanqueiro António Estácio, guineense e transmontano, do chão de papel, grande apaixonada das coisas da sua terra (tem um livro de 400 páginas sober Bolama e precisa de patacão para o lançar...) traduziu-nos o título dessa canção que em crioulo quer dizer muito simplemente "Ilha das Galinhas".

E a propósito, temos 6 referências sobre este topónimo, Ilha das Galinhas, no arquipélago dos Bijagós, onde foi criada, em 1934, uma "colónia penal e agrícola", e onde em 1973/74 estiveram detidos guineenses como o Norberto Tavares de Carvalho, o "o Cote", e o José Carlos Scwharz.

José Carlos Schwarz nasceu em Bissau a 6 de Dezembro de 1949. Era fillho de Carlos Hans Schwarz, funcionário público (, eletricista, diz-nos o Estácio) e de Justina Schwarz, caboverdiana, doméstica.  O avô paterno era alemão (,e provavelmente, de origem judia, pelo apelido), que terá andado por Bolama, Farim e Bissau (não se sabendo ao certo quando emigrou para a Guiné, talvez nos finais do séc. XIX ou na altura da 1 Guerra Mundial). O Estácio já não o conheceu, conheceu conheceu o filho e o neto.

Dele, José Carlos Schwarz,  escreveu o Norberto Tavares de Carvalho, o "Cote". que também esteve deportado na  Ilha das Galinhas:

(...) "José Carlos, como se sabe, nasceu na Guiné. De pai guineense de origem alemã e de mãe caboverdiana, fez os seus estudos primários e secundários em Bissau, Dakar e Mindelo. Fã de Kanté Manfila, fundou a orquestra «'Cobiana Jazz' com o Aliu Barri e opôs-se abertamente à opressão colonial portuguesa. A voz do José Carlos, incontestavelmente bela, explorando inteligentemente o verbo crioulo, elevou o 'Cobiana Jazz'  ao mais alto pedestal da cultura musical guineense. Preso pela Pide/Dgs, foi libertado após o golpe de estado ocorrido em Portugal em 25 de Abril de 1974. No pós libertação, optou também, como o Jim Morrison nos seus tempos, pela canção de protesto (Protest-song) contra os desvios à moral social e à linha ideológica de Amilcar Cabral, líder da revolução guineense-caboverdiana, assassinado em Conacri em Janeiro de 1973.(...)

"Quando circularam boatos em Bissau de que as canções do José Carlos iam ser censuradas pelas autoridades, Myriam Makeba apregoou de que se a « Apili », o best seller do José, fosse censurada em Bissau, ela mesma cantá-la-ia em todos os Palácios de África. O aviso foi eficaz." (...)

Pelas notas biográficas que estão disponíveis na Net (e em especial o texto do Norberto Tavares de Crarvalho, o "Cote", já aqui reproduzido pelo Virgínio Briote no nosso blogue) (*), o José Carlos Schwarz fez o ensino primário em Bissau, frequentou o liceu de Bissau, e terá prosseguido os estudos liceais em Dakar e Nindelo (aqui, em 1966).

O Estácio ainda se lembra bem dele: morava em Santa Luzia e ia a cavalo (!) para o liceu. Nessa altura ainda não era conhecido como músico. No então liceu Honório Barreto terá tido a nossa dra. Clara Schwarz como sua professora de francês... Apesar do apelido comum, não eram família... (Como se sabe, pelo lado paterno, a Clara é de origem polaca).

Em 1967 o José Carlos parte com a mãe para Portugal onde o pai estava em tratamento por motivos de saúde. E aqui tem o seu primeiro contacto a música "soul" e "jazz", ao mesmo tempo que  começa a despertar  a sua consciência nacionalista.

No princípio de 1970, funda com Ali Bari e outros o mítico grupo musical 'Cobiana Djazz' (que tem gravados dois discos). Gravou com a Miriam Makeba o seu Lp "Djiu di Galinha", editado postumamente.

Morreu prematuramente aos 27 anos, em 1977, quando desempenhava o cargo de Encarregado de Negócios da Guiné-Bissau em Cuba, num acidente aéreo: o avião da Aeroflot que vinha de Lisboa, despenhou-se, ao aterrar no aeroporto de Havana. Ainda hoje subsiste a dúvida se foi acidente ou sabotagem. (**)

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Notas do editor:

(*) 22 de outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2203: Artistas guineenses (2): José Carlos Schwartz (Didinho/V.Briote)


(...) Com o "Cobiana Jazz", o José Carlos Schwarz, o Aliu Barry e as suas retaguardas musicais, entram de rompante no conflito colonial, mudando forçosa e radicalmente uma parte dos peões avançados pelo Spínola, que constituiam, em grande parte, os alicerces da nova política colonial de alienação e submissão da juventude e da massa popular.

Confiantes nas suas acções mobilizadoras, os dois líderes resolvem participar, de maneira frontal, nas actividades da "Zona Zero", a principal antena do PAIGC em Bissau, dirigida por Rafael Barbosa.
No auge das suas actividades contra o Governo Colonial, José Carlos e Aliu Barry decidiram colocar uma bomba na própria delegação da PIDE/DGS em Bissau. Partiram de motorizada que deixaram banalizada nos arredores, atravessaram o portão principal e foram depositar o engenho na porta de grelhas, envidraçada do lado de dentro. Tratava-se de um potente explosivo de comando por relógio. Uma bomba-relógio!

Seguiu-se depois uma violenta explosão que fez voar em pedaços as grelhas e os vidros da porta da PIDE. José Carlos e Aliu tinham ousado desafiar o inimigo numa das suas mais protegidas fortalezas.
A fama do "Cobiana Jazz" percorrera praticamente toda a Guiné. José Carlos que entretanto fora chamado à tropa, bem como o Aliu Barry, viu-se afectado como condutor de camião em Fá Mandinga onde os Comandos Africanos recebiam preparação. Poucos meses depois seria o José Carlos convocado a Bissau onde receberia a ordem de prisão da PIDE. Aliu Barry teria a mesma sorte.

Deportados para a Colónia Penal da Ilha das Galinhas, Aliu cumpriu aí a sua sentença de dois anos. José Carlos só passou três meses na Ilha, tendo sido retornado ao Pavilhão de isolamento da Segunda Esquadra em Bissau para aí concluir o resto da sua pena fixada em três anos.

Esta dupla sanção dever-se-ia aos seus presumíveis contactos com a população da Ilha das Galinhas ou ao facto de que, entretanto, a PIDE teria descoberto outros casos em que estaria implicado e o teria reconvocado a Bissau. José Carlos defendia a segunda hipótese. Mas o afecto que dedicava aos Bijagós que constituíam a população da Ilha das Galinhas, era eloquente. Aliás, chegou a reivindicar essa paixão no seu famoso "djiu di Galinha"(...)


Foi quando a PIDE o transferiu da Ilha das Galinhas para Bissau, que o conheci de perto. Pois em Novembro de 1972, na sequência de uma greve de estudantes, precedida de manifestação no Palácio do Governo, tinha sido detido pela PIDE, por ordem do General Spínola.

Ocupei momentaneamente a cela n° 12 do Pavilhão de isolamento. O José Carlos encontrava-se na cela n° 16, a última do corredor. Quando lhe expliquei que fazia parte de um grupo de estudantes que fora reivindincar um tratamento mais condigno no plano dos estudos, entusiasmou-se tanto que pronunciou a frase : "É o segundo Pindjiguiti !"

Fui libertado algumas horas mais tarde em troca duma advertência pronunciada pelo Inspector-Adjunto da PIDE, Raimundo Alas, que não tinha matéria suficiente para me prender: "Não é porque o vizinho quer aumentar o seu terreno que vai estendê-lo sobre as margens do outro vizinho." Confesso que até hoje, não percebi o sentido desta frase.

A sentença caiu sobre mim em Maio de 1973. Quando me empurraram na cela n° 6 e fecharam a porta, senti umas batidas na parede, lembrei-me logo da técnica e respondi batendo na mesma. Uma voz vinda do fundo do corredor inquiriu: "Quem é?" O José Carlos Schwarz encontrava-se ainda na mesma cela de há seis meses atrás !

Estivemos juntos, eu na minha cela e ele na sua, durante cerca de quatro meses. Falamos de tudo e de nada. Fiquei desiludido ao saber que, afinal, havia traição na "Zona Zero". (..:)

Durante esse periodo tive o grande privilégio de ser um dos primeiros padrinhos das belas e salientes canções que o José Carlos compôs durante o seu cativeiro. "Minino de criaçon", "Muscuta", "Quê qui minino na tchôra", "Djénabu", "N’djanga" e toda a série que se lhes seguiu. Realizávamos até sessões de discos pedidos: eu animava e ele cantava." (...)

Guiné 63/74 - P14348: Convívios (655): Encontro Pré-Primaveril da Magnífica Tabanca da Linha, dia 19 de Março de 2015, no sítio do costume (José Manuel Matos Dinis / Jorge Rosales)

S. Ex.ª O Senhor Comandante Jorge Rosales


1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71 e actual Amanuense da Magnífica Tabanca da Linha:

Carlos,
Por ordem de S. Exa. venho submeter ao teu cuidado a publicação da seguinte convocatória. Desenrasca-me, que o Comandante anda fera.

Com um abraço
JD


Camaradas,
Encarregou-me S. Exa. o Senhor Comandante de convocar a tertúlia para um encontro que ele chama de pré-primaveril, no próximo dia 19 de Março, e para o efeito do costume.

Como habitualmente, só se paga o desfrute da paisagem magnifica, que mantém os 15 aéreos, talvez mais 1 de gratificação.
Como podem notar com facilidade, o governo parece que tem dificuldades em aumentar a inflação, mas S. Exa., com aquele saber adquirido em Porto Gole, fá-lo com a agilidade de um Cisco Kid.

Para não causar perturbação durante a actividade manducante, a ementa repete-se com aquele cimento de bianda com marisco, acompanhado pelo instrumento tinto da marca Esteva. Mas também há brancos, entradas, sobremesas e café, conformemente tem sido do agrado geral.

As inscrições são aceites até à próxima segunda-feira, dia 16, e não são admitidas rebaldarias, nem que o José de Sousa chegue da Jamaica.

Eu já cumpri a primeira parte da minha obrigação, comunicar. A outra parte espero resolver no dia citado, quinta-feira, em Oitavos.

JD
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14347: Convívios (654): XXXII Encontro Nacional dos Oficiais, Sargentos e Praças do BENG 447, dia 9 de Maio de 2015, na Tornada, Caldas da Rainha

Guiné 63/74 - P14347: Convívios (654): XXXII Encontro Nacional dos Oficiais, Sargentos e Praças do BENG 447, dia 9 de Maio de 2015, na Tornada, Caldas da Rainha

Conforme solicitado pelo nosso camarada Lima Ferreira, ex-Fur Mil TRMS que serviu no BENG 447, estamos a dar conhecimento do 32.º Encontro Nacional dos Oficiais, Sargentos e Praças que prestaram serviço no BENG 447.

O Convívio será no dia 9 de Maio de 2015 no Restaurante "O Cortiço", na Tornada, Caldas da Rainha.


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Nota do editor

Último poste da série de 24 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14294: Convívios (653): Dia do Combatente de Gondomar, Sábado dia 7 de Março de 2015, Fânzeres (Carlos Silva)

Guiné 63/74 - P14346: Parabéns a você (872): Artur Soares, ex-Fur Mil Mec Auto da CART 3492 (Guiné, 1972/74) e Joaquim Sequeira, ex-1.º Cabo Canalizador do BENG 447 (Guiné, 1965/67)


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Nota do editor

Último poste da série de 10 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14338: Parabéns a você (871): Joaquim Cruz, ex-Soldado Condutor Auto Rodas do BCAÇ 4512 (Guiné, 1972/74)

terça-feira, 10 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14345: Efemérides (184): Rescaldo do Dia do Combatente de Gondomar, levado a efeito no passado dia 7 de Março de 2015 (Carlos Silva)

1. Mensagem do nosso camarada Carlos Silva (ex-Fur Mil Inf CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71), com data de hoje 10 de Março de 2015:

Olá Carlos
Boa saúde
Junto um resumo da comemoração do dia do combatente de Gondomar Agradeço que publiques no blogue

Um abraço
Carlos


Comemoração do “Dia do Combatente de Gondomar” 7 de Março de 2015

Homenagem aos Combatentes Gondomarenses Mortos na Guerra em África 1961-1974

O evento teve o apoio da Câmara Municipal de Gondomar e da União de Freguesias de Fânzeres e de S. Pedro da Cova, foi promovido por um grupo de ex-combatentes gondomarenses, contou com a presença de muitos ex-combatentes e seus familiares, bem como de entidades públicas e privadas, e com o seguinte programa:

10H30 – Concentração junto da igreja matriz de Fânzeres.

11H00 – Na paróquia de Fânzeres, missa de acção de graças e de sufrágio em memória dos ex-combatentes gondomarenses falecidos.

12H00 - Após a Missa seguiu-se em romagem até ao Monumento “Aos Heróis de Ultramar”, situado na Praceta Heróis de Ultramar, para prestar homenagem aos 83 combatentes gondomarenses que tombaram por PORTUGAL em África, cujos nomes constam no Memorial, existente no mesmo local.

Gondomar – Fânzeres, Praça e Monumento aos Heróis de Ultramar 

Aqui as cerimónias contaram com a presença de muitos ex-combatentes e seus familiares, entidades públicas e privadas e iniciaram-se com a apresentação de cumprimentos às entidades convidadas, seguindo com:

- Alocução proferida por um ex-combatente sobre o objectivo do evento e da homenagem aos combatentes gondomarenses mortos em África;

Da esqª para a dta: Apresentadora, ex-combatentes Mário Guimarães; Carlos Silva; Dr. Marco Martins, Presidente da Câmara e Dr. Daniel Vieira, Presidente da União de Freguesias de Fânzeres e S. Pedro da Cova 

- Alocução proferida pelo Dr. Daniel Vieira, Presidente da União de Freguesias de Fânzeres e S. Pedro da Cova;

- Alocução proferida pelo Dr. Marco Martins, Presidente da Câmara Municipal de Gondomar;

Dr. Marco Martins, Presidente da Câmara Municipal de Gondomar no uso da palavra 

- Apresentação de armas por um Pelotão do Comando Operacional do Porto em honra dos combatentes mortos e um minuto de silêncio [não houve toque a mortos, porque o militar clarim não integrou esta unidade]

Memorial 

13H00 - No final das comemorações seguiu-se o almoço de confraternização na (Tabanca dos Melros) - Quinta dos Choupos-Restaurante Choupal dos Melros, em Fânzeres

O Grupo da "Metralha"

Vamos conversando, enquanto se espera pelas entradas
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14325: Efemérides (183): 5 de março de 1973, Guileje: a morte de um mártir/herói da guerra, o alf mil Vitor Lourenço, da CCAV 8350 (J. Casimiro Carvalho)