quarta-feira, 8 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14446: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (2): Partida para Bolama, IAO e visita do General Spínola

1. Mensagem do nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), com data de 25 de Março de 2015:

Olá camaradas amigos Carlos Vinhal e Luís Graça.
Em anexo segue mais uma parte das minhas memórias no seguimento do anterior texto, e 2 fotografias.
Para quando der jeito publicar se assim o entenderem.

Abraço fraterno
António Murta


CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA - GUINÉ, 1973-74

[Recapitulando: 16-03-1973 – Partida de Lisboa; 22-03-1973 – Chegada a Bissau, pequena incursão na baixa da cidade à noite, primeiras decepções, regresso ao Uíge].


2 - PARTIDA PARA BOLAMA

Deitei-me à 1h30 da madrugada (última noite no navio), para me levantar às 3 horas e preparar a saída para Bolama, com os soldados de duas Companhias, a bordo de uma LDG da Marinha. Pelo menos outra se lhe seguiria com o resto das tropas. Saímos de Bissau às 5 horas da madrugada e chegámos a Bolama às 10 horas. Era uma sexta-feira, 23 de Março de 1973.

[Lamentavelmente não tenho notas nem memória para descrever a viagem que deve ter sido uma experiência única. Pela mesma razão ficará sem registo o desembarque que, para a grande maioria, foi a primeira vez que pisaram solo africano].

Não recordo se a LDG ficou ao largo, se atracou no cais. Essas situações dependiam sempre do estado das marés que, em toda a costa da Guiné, e pelo seu interior adentro, é sempre de alguns metros de altura. O que recordo foi a recepção que nos fizeram dezenas de crianças e algumas mulheres, habituadas que estavam a que à sua terra estivessem sempre a chegar novos contingentes, à medida que outros saíam. E zumbiam à volta dos tropas a oferecer os préstimos das lavadeiras que, sabiam, poucos iriam dispensar. Pediam também dinheiro (patacão) de mão estendida. Eram uns safados e umas safadas, muito batidos naqueles contactos, mas muito bonitos e gentis. Foi o primeiro contacto com o calor humano local, a suavizar angústias, medos indefinidos e dúvidas sobre o futuro.

Faltava instalarmo-nos e fazer o reconhecimento da cidade. Um espanto! Como fora possível que uma cidade daquelas, tão pequena e desprezada, tenha sido a capital da Guiné? Só estou a ver uma explicação: em toda a Guiné não havia outra com melhores condições e infra-estruturas para ser a capital da colónia. Até ao desenvolvimento de Bissau. (Ou seria por estar a bom recato das beligerâncias do interior da colónia? Ou para evitar novas ocupações estrangeiras? Em termos de história, isso foi anteontem, em quinhentos anos de presença portuguesa...). Ainda assim, uma avenida – não asfaltada – leva-nos, subindo, a um grande jardim público abandonado, no topo do qual se apresenta o imponente edifício que fora a Administração da colónia. Lateralmente e não muito distante havia o Hotel Turismo, pequeno mas com alguma nobreza, que fora a filial do Banco Nacional Ultramarino inaugurado em 1903 e que, agora, era a Messe de Oficiais.

Para além dos quartéis, havia as escolas, a igreja, a tipografia, o Clube dos Bombeiros com os seus matraquilhos, ping-pong e bar, onde íamos à civil beber uns copos e observar as senhoras brancas, mulheres dos outros oficiais. Junto ao cais, na baixa, havia uma piscina que só utilizei uma vez por receio daquelas águas. Melhor que tudo era o restaurante de portugueses onde, quando era possível, tirávamos a barriga e a alma de misérias.

Esta pequena urbe empoeirada e quente não é nada do que tinha imaginado mas, nas horas amenas dos fins de tarde, dava-me imenso prazer deambular pelas suas ruas quase desertas, apreciando as suas casas coloniais, muito abandonadas, com as sua varandas típicas, e ir descendo até ao cais onde me sentava sozinho a assistir ao pôr-do-sol, imaginando as praias da minha Figueira da Foz. Depois, lembrava-me que estava sentado ao contrário, virado para o canal de Bolama e para o continente, e que à minha esquerda tinha o norte e não o sul, e levantava-me irritado e virava costas. Para mais, dali de frente, de S. João, é que têm partido os mísseis do PAIGC nos ataques à cidade, segundo nos dizem, para susto dos periquitos. Mas, quando podia, voltava lá.

Nesses entardeceres cálidos e perfumados mas cheios de luz, era um espectáculo apreciar os bandos de morcegos, aos milhares, num esvoaçar barulhento e nervoso. Tudo era novidade. E os abutres (jagudis) com o seu ar decrépito nos ramos secos das árvores? Quando escurecia continuavam a ver-se as suas silhuetas, atentas e diligentes, para bem da salubridade da cidade.

O que para mim foi mais desagradável, quase chocante, foi o primeiro contacto com os habitantes da periferia na zona ribeirinha da cidade, na quase totalidade de confissão muçulmana. Numa das minhas deambulações, passei frente às suas modestas moradias e pude ver como me olhavam quase com hostilidade, tal como em Bissau à chegada, enfiados nas suas enormes roupas brancas, barretes da mesma cor, sentados às portas (parece que nunca tinham nada para fazer...), a mascar qualquer coisa (coca?) e a cuspir para o chão. Quase que não vi mulheres (estariam a trabalhar?) mas tinham que ser muitas, já que cada homem podia ter duas, três, quatro ou mais, segundo a suas posses!... Além disso havia muitas crianças. Pude ver, ainda, nos que caminhavam, como eram muito magros e, alguns, bem altos. Outros, mais jovens, passeavam-se aos pares agarrados pelo dedo mindinho. Se fosse na Metrópole seria um escândalo, mas ali era normal e não tinha nada a ver com o que parecia.

Apesar do registo de algumas notas mais cinzentas, não fora o objectivo que ali nos tinha levado, e poderia dizer que era bom estar em Bolama. De bom grado aqui passaria a comissão, mesmo se o preço fosse ficar sem saber como era o resto da Guiné.


26 de Março a 22 de Abril de 1973 – IAO (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional)

Relata a história do meu Batalhão: «A IAO teve lugar na ilha de Bolama de 26MAR73 a 22ABR73. Foi um período duro de instrução, em que o esforço despendido, não terá talvez correspondido totalmente aos resultados obtidos, mas melhorou substancialmente a sua preparação».

Realmente, ainda antes de irmos para o interior da ilha, ali bem junto da cidade começaram exercícios bem duros, como atravessar na maré baixa zonas de lodo a dar pela cintura, com armas às costas e demais equipamentos. Era até desfalecer. Tive o privilégio de me poupar a parte destes exercícios por ter iniciado um período de aperfeiçoamento da prática com minas e explosivos, a minha especialidade.

Ainda na cidade de Bolama, um dia marcou de forma diferente a rotina dos afazeres da preparação militar. Foi a chegada do General Spínola (Caco-Baldé, como era conhecido), para dar as boas vindas ao Batalhão.


27 de Março de 1973 – (terça-feira)[ou dia 28?] – Chegada do General Spínola

Há muito que todo o Batalhão se encontrava em formatura frente ao edifício da Administração, no topo do grande jardim central de Bolama, aguardando a chegada do General. A meio da manhã já a temperatura começava a tornar-se insuportável, e a exposição ao sol e a quase imobilidade, não tardaria a fazer as primeiras vítimas de insolação. Finalmente ouve-se um helicóptero e não muito depois surgiu o General com o seu séquito. Aguardavam-no individualidades militares e os chefes nativos das tabancas locais. Provavelmente também representantes da Igreja, não recordo.

Enfim, toda a escadaria do edifício da Administração estava repleta de individualidades para assistir à cerimónia que não passava de uma rotina para a maioria deles. Essa rotina compreendia a apresentação do Batalhão a sua Excelência, a passagem de revista às tropas, o discurso de boas vindas e o desfile em parada. Tudo muito solene e rígido como convinha, porque sua Excelência era o Comandante-Chefe de toda a tropa na Guiné e o Governador da Província Ultramarina da Guiné. Todos estavam suspensos dos seus gestos, das suas palavras e do fuzilamento dos seus olhares. Éramos muitos, já enervados, para um só actor: autoritário, arrogante e vaidoso.

Bolama, 27 de Março de 1973 – Desfile perante o General Spínola, da 2.ª CCAÇ do BCAÇ 4513

4.º Grupo de Combate comigo à frente seguido dos dois Furriéis do Grupo

E as coisas começaram a não correr muito bem logo no início, na apresentação do Batalhão. Como era da praxe, o Comandante do Batalhão, TCor C. A. S., colocado na frente das tropas, em continência, apresentou o Batalhão. Para surpresa de todos, com um berro, o General disse:

- Centre-se em relação ao Batalhão!.

Desprevenido, o Tenente Coronel, olhou à esquerda, olhou à direita e deu uns passos laterais tentando centrar-se melhor. Repetiu a continência, repetiu o pedido de apresentação e, o General, no mesmo tom de voz, repetiu a ordem para que centrasse em relação ao Batalhão. Parecia demais para ser verdade, mas era o que estava a acontecer. Puro e gratuito achincalhamento na presença de todos os subordinados de um militar que fora o Comandante do Regimento de Infantaria das Caldas da Rainha, (meu comandante aí), entidade militar de respeito naquela Unidade e em todos os actos públicos da referida cidade, enfim, ali reduzido a um militarzeco desautorizado perante todos os homens que era suposto vir a comandar. (Talvez por isto não tenha comandado nada, porque logo após o final da IAO, mas já em Aldeia Formosa, foi evacuado para a Metrópole por motivo de doença em que nunca acreditei).

Como me tinham prevenido os “velhinhos” de Bolama, com ar de gozo, o discurso que o General faria às tropas, começaria assim: «Conheço-vos a todos! É como se tivesse vindo convosco no barco. Etc., etc.» 

E o General disse-nos do alto da escadaria: «Conheço-vos a todos! É como se tivesse vindo convosco no barco. Também eu sou um soldado como vocês! Etc. etc.». (Por sermos assim uns soldados tão iguais, é que ele tratou o Tenente Coronel daquela maneira...). 

Prosseguiu o discurso e, no final deste, (penso que foi por esta ordem), desceu das alturas e passou em revista as tropas. Também neste caso os “velhinhos” tinham prevenido: «Ele vai deslizar na vossa frente em passo curto e não vai tirar os olhos das vossas caras. A espaços, pára, e fixa com tal profundidade os olhos de quem tem na frente que, não raro, o coitado desmaia e cai-lhe aos pés... Especial atenção aos Alferes!, diziam ainda».

E assim foi. Não recordo se alguém desmaiou, mas foi como me tinham dito. Claro que o estado de quase insolação também ajudava. Por acaso também parou na minha frente, com o caco a brilhar de um lado e do outro lado o olho a vazar-me profundamente, as comissuras dos lábios torcidas para baixo e um semblante tétrico. Não era mais alto do que eu. Mantive-me firme olhando-o com a mesma intensidade, mas evitando ares de desafio que poderiam deixar-me marcado na sua memória. Mas é verdade que me incomodou.
(...)

[A este propósito, talvez venha a calhar um dia, tecer alguns comentários sobre a minha inadequação (intrínseca) ao serviço militar e à sua hierarquia, apesar do respeito que me merecem aqueles que seguem esse modo de vida. Pode ser que até dê uma boa polémica...].

Acabado o discurso seguiu-se o desfile das tropas. Junto uma fotografia e um corte da mesma com o Grupo de Combate a desfilar.

(continua)

Texto e fotos: © António Murta
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Nota do editor

Primeiro poste da série de 16 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14373: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (1): Embarque para a Guiné, 16 de Março de 1973

Guiné 63/74 - P14445: Imposição de Medalhas Comemorativas das Campanhas a dois militares da CART 1742, no passado dia 27 de Março no antigo RAP 2, em Vila Nova de Gaia (Abel Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), com data de 28 de Março de 2015:

Amigo Carlos,
Envio-te para publicação umas fotos de camaradas combatentes que foram agraciados, dois deles pertencentes à minha CART 1742, sendo eles: Manuel Maria Gouveia Lopes, Furriel Miliciano Enfermeiro e António Joaquim Castro Oliveira, 1.º Cabo.
Esta cerimónia decorreu no antigo RAP 2, em Vila Nova de Gaia, no dia 27 de Março de 2015 pelas 11 horas, contando com a presença de vários Oficiais das Forças Armadas, e foi presidida pelo Senhor Tenente-General AGE Carlos Filipe Antunes Calçada.


Monumento ao Combatente

As Forças em Parada

O TGeneral Antunes Calçada ao centro com boina escura

Um grupo de combatentes, com o Oliveira em primeiro plano, e logo atrás o Lopes

A Medalha das Campanhas

O ex-1.º Cabo da CART 1742, António Joaquim Castro Oliveira, no momento em que lhe era imposta a Medalha Comemorativa das Campanhas

Alguns do Combatentes a quem foram impostas Medalhas das Campanhas

O ex-Fur Mil Enf da CART 1742, Manuel Maria Gouveia Lopes, no momento da imposição da sua Medalha

Senhor Tenente-General Carlos Filipe Antunes Calçada na sua alocução aos presentes

O desfile das Forças em Parada

O Lopes à esquerda da foto e o Oliveira à direita, ladeiam o Senhor TGeneral Antunes Calçada

O Oliveira e o Lopes junto ao Monumento aos Combatentes
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Guiné 63/74 - P14444: Os nossos seres, saberes e lazeres (83): Mau tempo no canal: do Faial ao Pico, ali perto está S. Jorge (2) (Mário Beja Santos)

1. Dizia-nos o nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) na sua mensagem de 18 de Março de 2015:

Queridos amigos,
Pela primeira e talvez última vez na minha vida, fui duas vezes numa semana aos Açores.
Aqui vos deixo o relato da ida ao Pico, com mau tempo no canal, a montanha cheia de forro, impossível de fotografar, seria blasfémia reproduzir o que vem nas brochuras turísticas. Havia ventania a rodos, o avião foi parar à Horta, seguimos para a Madalena, passeei ao fim do dia.
Na manhã seguinte, deu para ir a S. Roque, havia luz, parecia que S. Jorge queria que eu lá fosse e eu cheio de saudades pelas férias que lá passei com as minhas queridas filhas.
Espero que gostem.
Estou sempre pronto para regressar àquelas ilhas de que me sinto cativo e nativo.

Um abraço do
Mário


 Mau tempo no canal: do Faial ao Pico, ali perto está S. Jorge (2)



Regressou-se à Madalena, o viandante banqueteou-se com sopa de peixe e polvo panado, uma delícia, e bebericou um vinho translúcido da ilha, um néctar perfumado. Deitou-se a ouvir os ventos uivantes, e tinha a manhã livre, a comemoração do Dia Mundial dos Direitos do Consumidor, ao que veio, é para mais tarde. Vamos então passear pela Madalena e conhecer os seus trunfos, depois da igreja. Aqui está o edifício da câmara, o viandante gosta do escudo nacional com as pombas do Espírito Santo, ao contrário da Terceira os picoenses ou picarotos são pouco dados às cores berrantes, com exceção do vermelho das janelas e portas daquelas casas com adegas que podemos ver nos Biscoitos, na Mirateca, no Cais do Morato ou em Cachorro, povoações que visitaremos mais adiante.


Há aqui uma lembrança do tempo antigo, irresistível, o solar aponta para as águas do canal, o que espevita o fotógrafo amador é a qualquer coisa de quinhentista desta arquitetura vernacular, por isso fotografa-se com gosto.


O Museu do Vinho estava fechado, mas é uma estrutura tão bem disposta e integrada entre currais que tinha que ficar para a história desta viagem com prazos estritamente marcados. E vamos seguir.


Os senhores da associação de consumidores, gentis, conhecedores e amantes destas belezas, induziram o seu convidado a ir até ao lugar do Cachorro, muito procurado na estação balnear, tem recantos que dão para perceber que aqui se passam férias de sonho, e com vista para o Faial e para S. Jorge. O fotógrafo amador bem esperou uma ondulação muito forte, mas não ficou desapontado com o resultado da imagem, a permanente tensão entre as águas revoltas e o que resta do vulcão.


Estamos agora no Lajido, há para aqui muitas casas de Verão e estruturas museológicas do vinho. O turista gostou muito desta casinha, pois vai fazer parte da história da viagem. E agora vamos para S. Roque do Pico, terra de baleeiros e suas lembranças.





Aqui temos S. Roque, vistas amplas, o antigo cais da baleia, a fábrica (hoje museu) e o monumento aos baleeiros. Em 1992, aqui chegou o viandante, vindo da Calheta de S. Jorge, em dia límpido de Verão, com muito bom tempo no canal. Agora, nostalgicamente, o viandante olha para o fundo, para aquele ponto onde está a calheta e tem muitas lembranças.





Correu tudo muito bem em Lajes do Pico, sessão na Biblioteca Dias de Melo. Quando o viandante foi para a Guiné, levava na bagagem o livro “Pedras Negras”, que o José Dias de Melo lhe oferecera em Ponta Delgada, em data incerta, ou 1967 ou 1968. E comoveu-se com as fotografias do escritor e falou desse encontro ao vereador que presidiu à sessão. A grande surpresa foi ter recebido como lembrança um livro de Dias de Melo. O último trabalho foi uma manhã a falar aos jovens da Madalena, o viandante estava inspirado, mas o mais importante foi a captação destas imagens na Filarmónica, recordar o fervor musical dos açorianos, talvez só comparável com as gentes da Figueira da Foz, não há aldeia sem banda, todos os eventos são abrilhantados com fagotes, trompas e trombones. Homenagem a quem põe música nos nossos corações!
Acabou-se o trabalho, do Pico segue-se para S. Miguel para tomar avião para Lisboa. O Viandante já está cheio de saudades, como diz o outro as saudades são só as do futuro. Pois guardo estes Açores como células vivas do que somos como gente do Atlântico, a mística e a bruma.
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Notas do editor

Poste anterior de 1 de Abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14427: Os nossos seres, saberes e lazeres (81): Mau tempo no canal: do Faial ao Pico, ali perto está S. Jorge (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 1 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14428: Os nossos seres, saberes e lazeres (82): Berlim, cidade ainda hoje invisivelmente dividida: as marcas da guerra e do terror (Parte II) (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P14443: Parabéns a você (887): José Augusto Ribeiro, ex-Fur Mil Art da CART 566 (Guiné, 1963/65)

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Nota do editor

Último poste da série de 7 de Abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14439: Parabéns a você (886): António Rocha e Costa (Lelo), ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2539 (Guiné, 1969/1971); Fernando Manuel Belo, ex-Soldado CAR do BCAV 8323 (Guiné, 1973/74) e Mário de Azevedo, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 6 (Guiné, 1970/72)

terça-feira, 7 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14442: Agenda cultural (386): Dora Alexandre, jornalista, apresenta “O Outro Lado da Guerra Colonial” (José Saúde)


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.

Dora Alexandre, jornalista, apresenta “O Outro Lado da Guerra Colonial”

No próximo dia 21 de abril, terça-feira, 18h30, loja FNAC do Colombo, Dora Alexandre, jornalista, apresentará a sua obra “O Outro Lado da Guerra Colonial”.

O livro tem o prefácio do Prof. Adriano Moreira e a apresentação ficará a cargo de Joaquim Furtado, jornalista, e autor da série televisiva “A Guerra”. José Arruda, presidente da Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA), estará também na mesa onde debitará a sua versão sobre o conflito nas antigas províncias ultramarinas.

A obra conta histórias da guerra em África e a Dora sublinha que “o lançamento deste livro é uma obra coletiva de 58 pessoas – 57 entrevistados e eu. As histórias são vossas, eu apenas as alinhavei”.

Sendo o momento, mais um, acarinhado pelos antigos camaradas que pisaram o palco da guerrilha de além-mar, atrevo lançar o repto para a vossa presença profícua no lançamento de uma obra que relata instantes que cada um de nós, antigos combatentes, palmilhámos num palanque deveras severo.

Reconheço que o tempo, sempre inacabado, é substancialmente propício a memórias antigas que jamais esqueceremos. O sentir os alaridos de uma peleja com a qual convivemos, lança odores que, naturalmente, partilharemos para um infinito sem retorno.

E é justamente com este eficaz propósito, e como um dos camaradas entrevistados, que deixo o meu alerto para que ninguém falte a um lançamento onde se cruzarão memórias bem como relatos deveras interessantes dos nossos tempos de antigos combatentes em solo africano.

A Guiné, obviamente, estará presente e eu como RANGER lá debito a minha opinião sobre uma especialidade que muito me ensinou. 

Eis a lista de entrevistados:

Ilustrino Alexandre Júnior, Marinha, Guiné 1971-73 / Angola 1974-75 (PAI); Domingos Machado, Exército, Angola 1973-74; Octávio de Matos, Artista; Belmiro Tavares, Exército, Guiné 1964-66; Francisco Nicholson, Artista; Carlos Miguel, Exército (Psico), Guiné 1967-69; Carlos Pereira, Exército, Angola 1964-65; Mário Gualter Pinto, Exército, Guiné 1969-71; Carlos Rios, Exército, Guiné 1965-67; João Paulo Diniz, Exército, Guiné, 1970-72; Manuel Valente Fernandes (Médico) Guiné 1973-74; Farinho Lopes, Exército, Moçambique 1970-72; José Santos, Exército (Enfermeiro) Guiné 1971-73; Fernando Costa, Exército, Guiné 1972-74; José Manuel Lopes, Exército Guiné 1972-74; Rui Neves, Força Aérea, Angola 1970-72; Amílcar Mendes, Comandos, Guiné 1972-74; José António Pereira, Comandos, Guiné 1972-74; Romão Durão, Marinha, Angola 1968-70 / Angola 1971-75; João Maria Pinto, Exército, Moçambique 1969-71; Armando Carvalhêda, Exército, Guiné 1972-73; António Almeida, Exército, Moçambique 1972-74; Alfredo Brás, Marinha, Moçambique 1970-1974; João Mota, Exército, Angola 1965-66; Vítor Oliveira, Força Aérea, Guiné 1967-69; José Pedro Reis Borges, Força Aérea, Angola 1972-74; Hugo Borges, Paraquedistas, Guiné 1972-74; José Avelino Almeida, Exército, Guiné 1970-72; Luís Rolo, Exército (Enfermeiro) Angola 1970-72; António Prates da Silva, Polícia Aérea, Angola 1974-75; Vítor Norte, Exército (Enfermeiro) Guiné 1973-74; Luís Pinhão, Paraquedistas, 1973-74; Carlos Vinagre, Comandos, Angola, 1971-73; Rosa Serra, Paraquedistas (Enfermeira) Guiné 1969-70 / Angola 1970-71 / Moçambique 1973; António Godinho Luís, Comandos, Angola, 1961-63; António Leal, Comandos, Angola, 1961-63; Rui Mendes, Exército, Angola, 1962-64; Raul Patrício Leitão, Fuzileiros, Moçambique 1966-68 / Missão Hidrográfica N.H. «Carvalho Araújo», Angola e S. Tomé, 1970-75; José Paracana, Exército, Guiné, 1971-73; João Dória, Exército (Médico) Guiné, 1968-70; Io Apolloni, Artista; António Vasconcelos Raposo, Fuzileiros, Angola, 1973-75; Nuno Mira Vaz, Paraquedistas, Angola 1963-65 / Guiné 1966-68 / Guiné 1970-72 / Moçambique 1973-74; Rodrigo, Artista; Mário Henriques Manso, Fuzileiros, Angola 1963-65, Angola 1966-68; Nazário de Carvalho, Exército (Capelão) Moçambique 1961-64 / Guiné 1964-66 / Angola 1970-72; José Romeiro Saúde, Ranger, Guiné 1973-74; Joaquim Santos, Exército, Guiné 1967-69; Agostinho Rocha, Exército, Angola 1965-67; Manuel Roque dos Reis, Fuzileiros, Moçambique 1968-70; José Manuel Parreira, Fuzileiros, Guiné 1964-66 / Angola 1966-69; Otelo Saraiva de Carvalho, Exército, Angola 1961-62 / Guiné 1971-73; Manuel Lopes Dias, Exército, Moçambique 1970-71; António Carreiro e Silva, Fuzileiros, Angola 1967-69 / Angola 1972-74 / Guiné 1974; Francisco Guerreiro Soares, Fuzileiros, Angola 1964-66 / Guiné 1969-71 / Guiné 1972-74; Carlos Alberto Acabado, Força Aérea, Angola 1963-65 / Angola 1965-70 / Angola 1971-75; Norberto Cardoso, Exército, Angola 1974-75 e Manuela Maria, Atriz, Angola e Moçambique 1962, Guiné 1967. 

Um abraço camaradas, 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 


Guiné 63/74 - P14441: (Ex)citações (270): Não confundir a CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74) com a CART 6250/73, comandada pelo cap art António Ferreira da Silva (Cumeré, Caboxanque e Ilondé, maio/out 1974) (Luís Eiras / Rui Pedro Silva / Carlos Coutinho)

1. Mensagem do Luís Leiras (ex-alf mil art, CART 6250/73, Cumeré, Caboxanque e Ilondé, mai/ou 1974) (*):

Caros camaradas,

Estive na Guiné e regressei, fez no passado 16 de outubro 40 anos, apesar disso, todos os factos desse tempo estão perfeitamente vivos na minha memória.

O que referi, está perfeitamente correto, todas as considerações tecidas á volta do tema CART 6250/73 são alheias à minha comunicação.

O crachá da CART 6250 a que pertenci pode ser visualizado em http://carloscoutinho.terraweb.biz/Guine_Paginas/CTIG_Artilharia_Companhias.htm que, como podem ver, é diferente daquele que alguém juntou à minha informação e que pertence a outra Companhia, a 6250/72.

A [CART] 6250/73 era comandada pelo Capitão Ferreira da Silva, tinha como Alferes o Saraiva, o Coentre, eu próprio, os três da Arma de Artilharia e o Alferes Pinho, dos Comandos.

Com esta informação espero poder acalmar o "ruído" á volta deste tema e esclarecer algumas dúvidas sobre o assunto.

Cumprimentos

Luís Eiras

2. Comentário de Rui Pedro Silva (*)

2.1. Camaradas

Confirmo que a Cart 6250/73, comandada pelo cap art António Ferreira da Silva , substituiu, em Caboxanque, em Maio de 1974, a CCav 8352, que eu comandava. A sobreposição teve uma curta duração. Um mês depois do 25 de Abril fomos supreendidos com a nossa rendição e a colocação no Combis,  num processo muito rápido e relativamente ao qual o pessoal da Cart manifestava algum descontentamento e incompreensão. Para não tornar o comentário muito extenso reservo para um futuro poste o relato desta rendição

Um abraço, Rui Pedro Silva

2.2. Camaradas

Chamo a vossa atenção e muito especialmente ao Luis Eiras para este post datado de 10/09/2009 do operador cripto Mascarenhas. Transcrevo o poste:

CART 6250/73 - GUINÉ

Em serviço na Guiné de Absril a Outubro de 1974, com passagem pelo Cumeré, Caboxanque e Ilondé, o objectivo é de reunir os camaradas da companhia para organizar convívio de confraternização.

Contactar o Operador Cripto Mascarenhas - 96 552 46 27

Um abraço

Rui Pedro Silva

3. Comentários de Carlos Coutinho (*)

3.1. Caros camaradas.

Talvez seja do vosso conhecimento, mas tenho um enorme espólio de Guiões e Distintivos do Ultramar. Não estive na Guiné, mas em Angola, mas isso não obsta que não siga o vosso Blog, quase diariamente. Há a CART 6250 de 72 e a CART 6250 de 73, cujos distintivos são totalmente diferentes. (Há mais unidades com o mesmo Némero, só mudando a data de incorporação ).

Creio que o mal entendido reside aqui. Digam-me como enviar as imagens das 2 Companhias. O distintivo mostrado é da CART6250/72, é em metal pintado, o da CART 6250/73, é mais ou menos oval, tem a legenda GUINÉ no topo, em baixo CART6250 e no meio a granada da Artilharia, é em aluminio.

Atenciosamente,  Carlos Coutinho

3.2. Dou como exemplo de Unidades que após deixaram de ter numeração sequencial, na Guiné:

Bart 6520/72 e 6520/73
Bart 6521/72 e 65221/74
Cart 6251/72 e CART 6251/73.

Há mais uma Unidadee de Caçadores e outra de Cavalaria, há em Angola e também em Moçambique. Isto deve-se que a partir de, mais ou menos de 1970,  a numeração das unidades deixou de ser sequencial, e passou a ter o ano de incorporação adstrito para se diferenciarem. Já havia unidades com o numero 9900 e tal. Se falarem com o camarada Marcelino ele poderá esclarecer estas questões pois também esta a par das listas de Unidades do Ultramar.

4. Comentário do editor L.G.:

Camarada Luís Eiras, obrigado pelos teus esclarecimentos... Estive fora de Lisboa, nas miniférias da Páscoa, e acabei, por sem querer, alimentar a confusão à volta da CART 6250/73... Devia ter pesquisado melhor o assunto, mas não tinha tempo nem acesso à Net. Aqui fica o teu esclarecimento e o meu pedido de desculpas Agradeço igualmente o contributo de outros camaradas como o Rui Pedro Silva e o Carlos Coutinho (*).

Entretanto, diz-nos se sempre pensas vir ao nosso X Encontro Nacional, em Monte Real, no próximo dia 18. O prazo para as inscrições termina na sexta-feira, dia 10. Vai lá estar malta que passou por Caboxanque como o ex-cap mil Rui Pedro Silva, da companhia que vocês foram render, a CCAV 8352.

Um abraço. Luis
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Notas do editor:

Guiné 63/74 - P14440: Memória dos lugares (288): Betelhe, Ilha Caravela, região Bolama-Bijagós (Patrício Ribeiro)



Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama-Bijagós > Ilha Caravela > Betelhe > Fevereiro de 2015 > 
Bajuda


Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama-Bijagós > Ilha Caravela > Betelhe > Fevereiro de 2015 > Tabanca


Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama-Bijagós > Ilha Caravela > Betelhe> Fevereiro de 2015 > Celeiros



Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama-Bijagós > Ilha Caravela > Betelhe > Fevereiro de 2015 > Bijagó, de pé


Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama-Bijagós > Ilha Caravela > Betelhe > Fevereiro de 2015 > Mulher grande



Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama-Bijagós > Ilha Caravela > Betelhe > Fevereiro de 2015 > Bijagó sentado


Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2015). Todos os direitos reservados.



Guiné-Bissau > Região Bolama - Bijagós > Cortesia de Wikipedia > "Caravela é uma ilha do arquipélago de Bijagós, constituindo um setor da região de Bolama, na Guiné-Bissau. Localizada a 37 km da costa continental, tem 128 km² e é a ilha mais a norte daquele arquipélago, caracterizando-se por densas florestas, vastos mangais e praias de areia branca" (...) Tinah cerca de 10500 habitantes em 2001.


1. Mensagem, com data de ontem, do nosso querido amigo (e camarada) Patrício Ribeiro, empresário na Guiné-Bissau:


Amigos,

Envio algumas das fotos que tirei em Fevereiro na Ilha da Caravela, na tabanca de Betelhe, durante os meus trabalhos.

Como poderão verificar, nada mudou, a cultura Bijagó mantém-se...

Façam os vossos comentários.

Abraço
Patricio Ribeiro

IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau
Tel / Fax 00 245 3214385, 6623168, 7202645, Guiné Bissau
Tel / Fax 00 351 218966014, Lisboa 

[Foto à esquerda: Patrício Ribeiro, português, natural de Águeda,  criado e casado em Angola, com família no Huambo,  ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, 
a viver na Guiné-Bssau desde 1984, fundador, 
sócio-gerentee director técnico da firma 
Impar, Lda.]

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Nota do editior:

Último poset da série > 26 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14409: Memória dos lugares (286): A entrega do Cumeré ao PAIGC

Guiné 63/74 - P14439: Parabéns a você (886): António Rocha e Costa (Lelo), ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2539 (Guiné, 1969/1971); Fernando Manuel Belo, ex-Soldado CAR do BCAV 8323 (Guiné, 1973/74) e Mário de Azevedo, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 6 (Guiné, 1970/72)



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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14437: Parabéns a você (885): Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Guiné, 1971/73)

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14438: Notas de leitura (700): “Operação Gata Brava": A BD original de António Vassalo Miranda (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Junho de 2014:

Queridos amigos,
Este criador de BD não é um nome estranho no blogue, já foi mencionado a propósito de outro trabalho “Operação Mar Verde”.
Tem um traço esplêndido, a ilustração é acompanhada de um texto sugestivo, trama dinâmica que assegura uma leitura absorvente. Bom seria que os nossos confrades abrissem os cordões à bolsa e mostrassem o que têm de BD e as guerras em África.
Foi graças à gentileza da Associação dos Comandos que tive acesso a esta preciosidade. A BD precisa de ser acarinhada. Tem reais potencialidades para chegar a um outro público que não o dos devoradores de livros.

Um abraço do
Mário


Operação Gata Brava: A BD original de António Vassalo Miranda

Beja Santos

A BD na guerra colonial tem dado provas de boa saúde, artistas meritórios revelam sucesso mas carecem de chegar ao grande público. Entre os nomes mais destacados desta expressão artística temos António Vassalo Miranda, de quem já fizemos referência. Para o conhecer melhor, o Google faz dele uma cabal apresentação e das suas obras mais representativas.

Falemos hoje do seu álbum "Operação Gata Brava", prova inegável do seu indiscutível talento. A BD ilumina os factos fundamentais que levaram Alpoim Calvão novamente ao Sul da Guiné onde destruiu um barco que tinha sido capturado pelo PAIGC no início da guerra, uma operação de grande arrojo e heroísmo.

Em 5 de março de 1970, os serviços de Radiotelegrafia em Bissau apanharam uma mensagem de Quitáfine para Boké, ficava-se a saber que o navio ia em breve recolher o agente Marcel a Kadigne. Calvão já afundara o “Patrice Lumumba” e aprisionara alguns dos seus elementos. Virá a descobrir-se que o barco que recolherá o agente Marcel era o “Bandim”, capturado pelo PAIGC em maio de 1963 na região de Cacine. Calvão é transportado pelo patrulha “Lira”, vai em direção à foz do rio Cacine. São arreados dois zebros, os botes com oito homens mergulham na noite, aproximam-se do canal e pelas 5h30 da manhã os botes anicham-se no tarrafo onde ficam emboscados. Já fora assim na Operação Nebulosa, em que se afundara o navio-motor Patrice Lumumba. Ali ficam, enquanto a Força Aérea informa que Bandim já partira de Kadigne.

Para movimentar a história, o autor, durante a longa espera, põe os militares a conversar sobre proezas anteriores e figuras de porte excecional. São lembrados os Furriéis Miranda e Artur Pires, o Cabo Marcelino da Mata e o Alferes Leonel Saraiva e os episódios vividos na Ilha do Como. Miranda dera provas de ser destemido e dotado de um impressionante sangue frio, como também se comprovou na “passagem do inferno”, que era uma passagem que ligava Cavane, na Ilha do Como, à floresta através de um arrozal. Miranda, aproveitando os intensos bombardeamentos da Força Aérea lança um ataque sobre as linhas inimigas, não desfaleceram mesmo quando um T6 foi atingido.

Entretanto, passam dois guerrilheiros numa canoa, os emboscados deixaram-nos seguir. O Tenente Barbieri insiste com Galvão para que conte mais façanhas da Operação Tridente que ele vai descrever e BD ilustra. A “Tridente” fora a maior escola de guerrilha que houvera até então. Para Calvão, não se soubera tirar partido dos resultados. Tudo começara depois do PAIGC ter anunciado que havia a República Independente do Como. O comandante Paulo Costa Santos propusera a Tridente, e assim tivera origem a operação mais longa, mais dura e a que mais efetivos envolveu e que fora para o narrador a melhor escola prática que nos graduara na arte da guerra. Calvão descreve o desembarque dos fuzileiros em Caiar de colaboração com a CCAÇ 557 e com os Comandos. O PAIGC tentou desalojá-los, em vão. A artilharia, formada por dois canhões 8,8, sediada na base da praia de Caiar, foi batendo com uma precisão admirável as zonas pré-estabelecidas; e a força aérea deu constantemente o seu apoio. Fuzileiros, Paraquedistas e Comandos e Exército, foram devassando o reduto defensivo do PAIGC. Calvão continua a sua narrativa relatando casos de heroísmo e desprezo pela morte, e de novo refere o Sargento Miranda, os 1ºs Cabos Marcelino da Mata e Jamanca que tinham ido ao socorro do Sargento Perry. No final da operação, o PIAGC retirou para o continente. O Tenente-Coronel Fernando Cavaleiro passeou-se no interior da ilha acompanhado de meia dúzia de homens. Deixou-se uma pequena guarnição em Cachil Pequeno. É nisto que alguém visa que se está a ouvir um barco, de facto era o navio-motor Bandim a aproximar-se. Inicia-se a caçada, um dos zebros, onde vai Barbieri, ataca por estibordo, Calvão e os seus homens por bombordo.

A BD torna-se um documentário poderoso, avassalador, o Bandim cercado, as tropas da Guiné Conacri a ripostar da margem esquerda, sem qualquer efeito. Uma granada de bazuca entra pelo albói da popa e vai explodir no interior da embarcação, o barco perde velocidade, e depois encalha. Trava-se a última batalha, assalta-se o Bandim, todos estão mortos. É impossível tirar dali o Bandim, ele vai ser destruído com petardos de trotil. Assim terminara a operação Gata Brava, os botes afastam-se e noite alta os fuzileiros são recolhidos pelo navio-patrulha Lira. A BD termina com António Spínola a felicitar Alpoim Calvão.

Este é, em síntese, o conteúdo de uma BD muito expressiva produzida por alguém que tem um traço magnífico.


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Nota do editor

Último poste da série de 4 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14432: Notas de leitura (699): “Elefante Dundum – Missão, testemunho e reconhecimento”, por João Luíz Mendes Paulo, edição de autor, 2006 (2) (Mário Beja Santos)