domingo, 26 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14530: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de abril de 2015 (20): Como em anos anteriores, houve missa em sufrágio pelos camaradas e amigos já falecidos

Foto n.º 1 - Celebração da Missa de Sufrágio pelos camaradas amigos que já nos deixaram

Foto n.º 2 - Aspecto da assistência

Foto n.º 3 - O camarada António João Sampaio numa das Leituras

Foto n.º 4 - O camarada Joaquim Mexia Alves lendo uma Oração de Acção de Graças

Foto n.º 5 - O senhor Pe. David Nogueira, Pároco da Paróquia de Monte Real

Foto n.º 6: em primeiro plano, o Carlos Vinhal (direita) e o Francisco Silva, o nosso cirurgião ortopedista  (esquerda)... Em segundo plano, a Helena Fitas, e o nosso poeta J. L. Mendes Gomes (autor de As Baladas de Berlim) e o Mário Fitas (, veteranos da região de Tomabli, um em Catió e o outro em Cufar)

Foto n.º 7 - À saída da missa

Leiria - Monte Real - Palace Hotel Monte Real - X Encontro Nacional da Tabanca Grande - 18 de abril de 2015 - Fotos da missa das 11h30 por sufrágio dos nossos camaradas e amigos já falecidos....

Sempre rezámos, desde pequenos, afinal somos descendentes de povos monoteístas, que acreditavam num só e num mesmo Deus, e que há mais de um milénio habita(va)m a nossa terra... Somos descendentes desses cristãos, judeus e muçulmanos...

Sempre rezámos na Guiné, em plena guerra, crentes e não crentes, uns com mais fé do que outros... Sempre rezámos, a Deus, a Alá, aos Bons Irãs... Sempre rezámos, cada um à sua maneira... A espiritualidade não é monopólio dos crentes, nem muito menos não deve ser confundida com religião. Na nossa ecuménica Tabanca Grande a liberdade (de pensamento, de expressão, de crenças...)  é "sagrada"... Ser livre é também aceitar que o outro não tem que pensar e sentir e acreditar como eu...

Há 11 anos que fazemos aqui a pedagogia da liberdade, aceitando-nos uns aos outros, independentemente das nossas convicções religiosas, filosóficas, políticas e até clubísticas... Talvez por isso temos como regra fundamental não trazer para o blogue a atualidade "político-partidária" (no sentido restrito do termo), nem tão pouco o futebol, a religião ou outras questões que, sendo importantes, podem ser fracturantes... Afinal, e como costumamos dizer, "na nossa Tabanca Grande cabemos todos com tudo o que nos une e até com aquilo que nos pode separar"...

A missa foi  celebrada pelo pároco de Monte Real, Pe. David Nogueira (foto n.º 1 e 5). Temos uma dívida de gratidão para com ele e para com o nosso camarada Joaquim Mexia Alves (foto n.º 4) que, mais uma vez, foi o elemento de ligação da comissão  organizadora com o pároco de Monte Real que assegurou o serviço religioso. Temos pena que o jovem sacerdote não tenha podido depois conviver connosco à mesa, devido aos seus afazeres.

Esperamos reencontrar-nos para o ano.

Texto: Luís Graça
Fotos: © Manuel Resende  e Carlos Vinhal (2015). Todos os direitos reservados (Editadas por CV)
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14529: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de abril de 2015 (19): No Encontro Nacional da Tabanca Grande não haverá cerimónias com fardas, bandeiras, ou medalhas que distingam uns ou outros (Francisco Baptista)

Guiné 63/74 - P14529: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de abril de 2015 (19): No Encontro Nacional da Tabanca Grande não haverá cerimónias com fardas, bandeiras, ou medalhas que distingam uns ou outros (Francisco Baptista)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 13 de Abril de 2015.

Vejo-os ao sol na parada do quartel, sentados, vestidos com a farda n.º 1, muitos com divisas de oficiais superiores e alguns, menos, com estrelas de generais. Alguns com boinas, a maior parte com bonés de pala, todos com os sapatos bem engraxados e com a farda bem lavada e engomada. São alguns dos responsáveis, ou foram, pela defesa da Nação, das suas fronteiras, dos seus órgãos e dos símbolos que a representam.
Como guardiões de entidades tão significativas, têm que demonstrar aos cidadãos firmeza, aprumo e verticalidade. São os nossos generais, brigadeiros, coronéis, tenentes-coronéis e majores.
Por serem homens organizados e fardados, por terem comandado tantos portugueses, eles e outros anteriores, carregam aos ombros, nas suas estrelas e divisas, toda a longa tradição militar da nação que começa logo com a sua fundação.
São homens obedientes e autoritários, a instrução militar que tiveram ensinou-os a serem obedientes aos superiores e autoritários para com os subordinados. A disciplina militar não admite discussões ou conciliação, a razão está sempre do lado do chefe. Uma ordem não permite adiamentos, não se pode parar a batalha para discutir a eficácia das ordens do comandante.

A guerra, essa desordem da paz nacional ou internacional, tem que ser combatida com dureza para com o inimigo e para com os subordinados que devem cumprir todas as ordens mesmo quando as achem desajustadas. Causa algum temor e reverência, à comunidade de cidadãos, a contemplação de tantos comandantes militares, pelo seu ar severo e autoritário. A par destes nossos guerreiros, a nossa Pátria milenar, poderá evocar outros homens, com fardas, os padres, frades e bispos no campo da educação, e da formação espiritual. A grande História tem-nos ensinado, que tanto uns como outros podem ser muito bons e úteis à nação quando não extravasam as funções que lhe são atribuídas e podem ser muito maléficos quando saem desses limites, pois têm uma força material e espiritual terrível.

 A convivência demasiado próxima e dependente entre qualquer destas instituições e os vários regimes, nunca beneficiou muito o regime democrático. Neste plano há apenas um militar sem farda, de bengala, que parece dormir ou ver uma mensagem no telemóvel, enfim parece que desertou da ordem geral. Há a parada dos soldados, impecáveis no aprumo e nas suas fardas camufladas, que tanto fascínio provocavam nos anos sessenta e setenta entre as jovens desse tempo, quando marchavam ou corriam nas nossas vilas e cidades que elas não conseguiam "agarrar", tão jovens pois eles tinham missões em África durante dois anos ou mais que os iam impedir de gozar as suas companhias. Era o tempo de adiar o amor, o futuro, a vida .
Por outro lado os graduados, sobretudo os oficiais da Academia, já com outro estatuto nesse tempo pela elegância e postura com que se distinguiam pelas suas fardas e posições de comando, povoavam os sonhos de muitas jovens da nossa burguesia.

Noutro plano vejo os paisanos, ex-militares como eu, rapazes do meu tempo, quase todos mais velhos do que os militares, uns com blusões, outros com casaco e gravata, com os braços cruzados ou com as mãos cruzadas pelos dedos, alguns mais aprumados, outros mais descontraídos. Atendendo à pose destes sexagenários e septuagenários, talvez da parte dos militares houvesse algum oficial mais diligente com vontade de dar uma hora de ordem unida a estes paisanos um pouco desalinhados.
Sem atender a legendas vejo depois os "milicianos" a serem agraciados pelos militares com medalhas que não serão de ouro, talvez cobre ou outra liga em nome da Pátria e da Instituição Militar que está sempre disponível a agraciar todos os paisanos que a respeitem e que colaboram com ela na defesa da Pátria. Vejo-os na parada, já em conjunto, com as suas medalhas, uns alinhados, outros nem tanto, como filhos fiéis que sempre procuraram um reconhecimento e um lugar na pátria-mãe, pelos sacrifícios que fizeram por ela.

O local próprio para impor medalhas militares são os quartéis, sendo os mais indicados para essa função, os oficiais superiores, tal como os sacramentos religiosos, devem ser ministrados pelos padres nas igrejas. Instituição militar que confraternizando bem com a Igreja, outra Instituição milenar, mas que em períodos críticos ou de mudanças de regime, por ordens dos vencedores, acabou por ocupar conventos que depois foram transformados em quartéis.

Monte Real, 14 de Junho de 2014 > IX Encontro da Tabanca Grande > Fátima Anjos, Francisco Baptista e Hélder V. Sousa. 

Monte Real tem um Palace Hotel, uma construção nobre, palaciana, provavelmente do início do século XX, até adequada pela sua grandiosidade a grandes cerimónias e rituais, mas no X Encontro Nacional da Tabanca Grande não haverá cerimónias com fardas, bandeiras, ou medalhas que distingam uns ou outros. A César o que é de César, a Deus o que é de Deus. Que o Encontro de Monte Real continue em boa confraternização, sem pompa nem circunstância, com o mesmo espírito democrático e de camaradagem aberta a todos, com que foi criada a Tabanca Grande.

Um bom convívio, um abraço de amizade e parabéns ao Luís Graça, ao Carlos Vinhal e aos outros organizadores, pelo pleno conseguido com as duzentas inscrições.

Um abraço a todos os camaradas
Francisco Baptista
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 Nota do editor

Último poste da série de 25 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14526: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de abril de 2015 (18): Envio dois poemas que fiz na noite em que não dormi (Mário Vitorino Gaspar)

Guiné 63/74 - P14528: Libertando-me (Tony Borié) (14): O aeroporto era já ali

Décimo quarto episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66.




Faltava pouco para as quatro horas da tarde, atravessávamos a “Woodrow Wilson Bridge”, que é a ponte, na parte leste da cidade de Washington, onde existe a fronteira entre os estados de Maryland e Virgínia, é uma estrada rápida, o tráfico é intenso, mas deslizava suave e controlado, muitos letreiros de estrada avisando e dando informações do que por lá havia, constantemente apareciam nos diversos painéis de computador, aquelas palavras mágicas, dizendo “denuncie qualquer veículo suspeito ou pessoa que conduza agressivamente”. Nós, que desde New Jersey, levámos com um trânsito lento, alguns acidentes, paragens constantes para controle e pagamento de portagens, tudo o que nos surgisse pela frente já não seria qualquer novidade, mas aquela longa fila de viaturas militares, em sentido ao norte, eles lá iam, passado umas milhas, novas filas, eram aqueles jeeps baixos, camiões cisterna, camiões gigantes com carros de combate em cima, com frentes agressivas, alguns com atrelados, com pinturas amarelas, verdes, castanhas, cinzentas ou pretas, onde predominava o amarelo torrado, (como “torradas” ficam, as zonas por onde essas viaturas passam, quando em combate), camufladas, confundindo-se com o ambiente, com a estrada, com o trânsito, com o céu e com o horizonte.

Vendo todo este cenário, os malditos pensamentos da guerra que tínhamos vivido lá na Guiné, começámos também, sem notarmos, a ficar agressivos, a proferir palavras agressivas, a dizer mal de tudo, até da nossa própria alma, a lembrar-nos que somos “veteranos de uma maldita guerra de guerrilha”, que em determinado momento da nossa vida, “passámos um cheque em branco à ordem do Governo de Portugal, por um montante de... até..., incluindo a nossa própria vida”, o que infelizmente, muitas pessoas hoje não entendem esse facto, até que a nossa companheira e esposa nos chamou à realidade, dizendo, “olha, vamos na estrada, controla-te, temos uma longa distância pela frente”.

Tudo isto se passou por volta dos princípios dos anos noventa do século passado e, o cenário e as palavras agressivas que proferíamos na altura, sem o sabermos, eram o início do que foi a maior mobilização de recursos humanos e materiais desde o final da Segunda Guerra Mundial, era o início do que mais tarde viriam a chamar de, “Operation Desert Storm” e que, por isto ou por aquilo, viria a modificar o sistema de vida das pessoas em todo o mundo e que, também por isto ou por aquilo, juntou uma imensa quantidade dos mais modernos equipamentos militares na zona do Golfo Pérsico, desencadeando de seguida uma campanha relâmpago que esmagou a oposição que por lá havia, com extrema e surpreendente facilidade.


O nosso destino era o estado da Florida, conduzíamos na altura uma viatura de carga e de aluguer, onde levávamos alguns materiais, haveres, recordações, “tarecos”, uma vida de “coisas”, com destino à construção da nova residência que estávamos a iniciar, no estado da Florida. Depois de entregarmos a referida viatura na agência, já num táxi, a caminho do aeroporto, para regresso a New Jersey, o condutor, talvez apercebendo-se do nosso sotaque, confundiu-nos com o “resto do mundo”, com “os outros”, pensando talvez que andávamos por ali somente de visita, começou a falar mal da reputação da mãe do nosso presidente, da futura guerra, para que nos “vamos envolver”, mais isto e mais aquilo, com muitas palavras agressivas e obscenas, dizendo também mal de tudo, até da própria alma. A nosso favor foi que o aeroporto era já ali.

Tony Borie, Abril de 2015
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14489: Libertando-me (Tony Borié) (13): Era mesmo ele, o Vítor Carvalho

Guiné 63/74 - P14527: No 25 de abril eu estava em... (25): Tomar, RI 15, era 1º cabo miliciano e fui destacado para defender a estratégica barragem de Castelo de Bode, com mais 14 homens, e descobri, nessa missão, que a solidariedade afinal não era uma palavra vã (Eduardo Magalhães Ribeiro, ex-fur mil op esp, CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, 1974)




Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 > O Eduardo (em cima) e o filho, Carlos Eduardo (em baixo, à esquerda, tendo a seu o José Almeida e a Antónia, de Viana do Castelo...).

O Eduardo foi buscar o filho ao aeroporto, a Lisboa. Trabalha na... Roménia.  Presumo que tenham vindo de férias... Ainda passaram, a correr, por Monte Real, a caminho de casa. Almoçaram connosco e continuaram a viagem até casa... Um gesto de grande camaradagem e de carinho que todos apreciámos... [No foto acima, o Eduardo, de pé, está a falar com o Mário Fitas (Cascais), o Rui Silva e a esposa Regina Teresa (Feira), habituais participamtes do nosso encontro anual.] (LG)

Fotos: © Manuel Resende (2015). Todos os direitos reservados.


Capa dos cadernos do ex-ranger Magalhães Ribeiro, que fez parte do lote dos últimos soldados do império... Recorde-se quie ele foi furriel miliciano da CCS do Batalhão 4612/74 (Mansoa, 1974). Foi mobilizado para a Guiné já depois do 25 de Abril de 1974. Chamei a esses cadernos o "Cancioneiro de Mansoa"... Na capa, reproduzida acima,  pode ler-se: (i) em Lamego... ser ranger; (ii) em Tomar... participar no 25 de Abril; (iii) em Mansoa, Guiné... arriar a última Bandeira.


Foto: © Magalhães Ribeiro (2005). Todos os direitos reservados.


1. Num caderno, de 47 páginas, de que  o nosso camarada Eduardo Magalhães Ribeiro [ foto à esquerda,  "quando pira"], me ofereceu um cópia quando o conheci pessoalmente, no seu local de trablho, no centro do Porto, ele conta, em verso, as peripécias da sua atribulada vida militar. 

 Esses versos já foram aqui reproduzidos, originalmente, há largos anos (*)... Como escrevi na altura, o "Cancioneiro de Mansoa" está imbuído da ideologia (ou da mística) dos rangers, mas tem a curiosidade de ser um documento pessoal,  escrito por um dos últimos guerreiros do império e, para mais, ao longo dos anos que se sucederam ao 25 de Abril de 1974 em que o autor também participou... com um missão de retaguarda: a defesa da barragem de Castelo de Bode, um ponto absolutamente estratégico (já que a grande Lisboa dependia dela para o abastecimento de água e de energia elétrica)... 

A barragem era gerida então pela CPE - Companhia Portuguesa de Electricidade (nascida, no final da década de 1960, resultante da fusão das empresas concessionárias da produção e Transporte da rede eléctrica primária; nacionalizada em 1975, estaria mais tarde,  em 1976, na origem da  EDP)

Esta sua participação nas operações no 25 de abril, mesmo que fora dos holofotes da ribalta e da história, é conhecida dos mais antigos membros da Tabanca Grande, mas não da maioria que chegou depois de 2007 (*)... Justifica-se por isso a reedição destas quadras singelas do nosso "ranger" (que eu depois convideu  para coeditor).  

É uma dupla homenagem, (i) ao 25 de abril de 1974 (com tudo aquilo que ele significa para todos nós, independentemente da leitura que cada um possa faz desse acontecimento histórico, que todos vivemos); e (ii) ao nosso camarada Magalhães Ribeiro que merece todo o nosso apreço, amizade e camaradagem... 

Curiosamente, o Eduardo estaria longe de imaginar, em 26 de abril de 1974, que ainda haveria de ir trabalhar para a EDP como técnico de manutenção de barragens... Enfim, mais uma terceira razão para dar a conhecer esta versão poética de uma missão que ele executou, com prontidão, galhardia  e espírito de desenrascanço, que são timbre de qualquer "ranger", e longe de imaginar que, quatro meses depois, estaria em Mansoa a arriar a última portuguesa no território da ex-Guiné portuguesa (**)... (LG)



O 25 de Abril, a Barragem [de Castelo de Bode] e a CPE [, Companhia Portuguesa de Eletricidade]

por Eduardo Magalhães Ribeiro

Depois das Caldas da Raínha,
Lamego e Évora longe vão,
Seguiu-se a cidade de Tomar,
1ª Companhia de Instrução.

Regimento de Infantaria 15,
Ía eu no décimo mês militar,
Em Abril de setenta e quatro,
Aconteceu numa noite de luar.

Gerou-se confusão no quartel,
Alguém correu a dar o alarme,
Corria o dia vinte e cinco
Ordem: "Toda a gente se arme!"

Falava-se numa revolução,
Tropas a avançarem p’rá Capital,
A ocuparem as rádios e a TV
E outros d’importância vital.

Como achei aquilo estranho
E estava a ficar ensonado,
Fui tomar um banho e deitei-me;
De manhã... ruídos por todo o lado!

Os ouvidos todos nos rádios,
Seguiam os acontecimentos,
Alguns mostravam indiferença,
Outros devoravam aqueles momentos.

- O nosso Capitão quer vê-lo, já!, 
Diz-me de repente um soldado;
Ao chegar junto dele reparei
No seu ar nervoso e preocupado.

- Meu capitão, bom dia, dá-me licença?
- Tenho uma missão p’ra lhe confiar...
Há um levantamento militar geral...
Com intenção do regime derrubar!

- Veio ordens para os Pides prender,
E controlar todos os pontos vitais...
Por isso, tenho aqui neste mapa
Já definidos todos os locais!

E, perante a minha curiosidade,
Disse: - Em Lisboa rein’a confusão...
O Movimento das Forças Armadas
É dono do Poder e da Decisão.

- Dividi as missões e o pessoal,
A si, tocou segurar a barragem…
Castelo de Bode, veja aí no mapa…
Um Cabo, treze homens, siga viagem!

Chegado lá, estudei a área,
Rio, coroamento, margens e central,
Sete homens vigiam, sete descansam,
Olhos atentos a algo anormal.

Mandei montar a tenda no jardim,
As horas passaram rapidamente,
O tempo do almoço passou e, nada…
- Liga o rádio p’ró quartel, urgente!

Diz o Cabo: - Está avariado!-...
Ora, sem rádio e sem almoço,
Também se passou a hora de jantar
E, para comer, nem um tremoço.

O Cabo começou então a divagar:
- Ou está tudo morto no quartel,
E s’esqueceram de nós aqui,
Ou foram p’ra Lisboa, c’um farnel!

Entretanto no nosso controle auto,
Os civis davam sinais de alegria,
Faziam-me perguntas suspeitas
Qu’eu declinava, e não respondia.

Ao fim da manhã do outro dia,
Deleguei o comando ao Cabo,
E fui pesquisar os arrabaldes,
Pois à vista, p’ra comer, nem um nabo.

Contado todo o dinheiro, concluí:
- Nunca vi gajos tão tesos, porra!
Lembrei-me da regra simples da tropa:
Quem não se desenrasca, que morra!

Na margem direita, um pouco abaixo,
Vi uma estalagem da CPE,
Qualquer coisa da Electricidade,
E com coragem avancei, pé ante pé.

Expus ao chefe o meu problema
E descobri, naquela fresca manhã,
Que a palavra solidariedade
Afinal não era uma palavra vã.

A tropa não era só marcar passo!,
Permitia conhecer outras terras,
Com belas paisagens e monumentos,
Por entre cidades, vales e serras.


Autor: Magalhães Ribeiro - 1º Cabo Miliciano
1ª Companhia de Instrução - 4º pelotão

sábado, 25 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14526: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de abril de 2015 (18): Envio dois poemas que fiz na noite em que não dormi (Mário Vitorino Gaspar)

1. Ainda a propósito do nosso X Encontro, o nosso camarada Mário Vitorino Gaspar (ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68), enviou-nos dois poemas da sua autoria.

Caros Camaradas 
Envio os poemas elaborados para o “X ENCONTRO NACIONAL DA TABANCA GRANDE”, noite que não dormi. 

Um abraço
Mário Gaspar



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Nota do editor

Último poste da série de 23 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14511: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de abril de 2015 (17): Distribuição de Certificados aos tertulianos totalistas dos 10 Encontros nacionais e admissão de duas novas tertulianas: Graciela Santos (hnº 682) e Lígia Guimarães (nº 683)

Guiné 63/74 - P14525: Efemérides (186): Dia 9 de Abril de 2015 - Dia do Combatente - 97.º Aniversário da Batalha de La Lys e Romagem ao túmulo do Soldado Desconhecido, na Batalha (Carlos Vinhal)

Dia do Combatente - 97.º Aniversário da Batalha de La Lys 

Romagem ao túmulo do Soldado Desconhecido, na Batalha

A Direção do Núcleo de Matosinhos organizou, no dia 9 de Abril, uma deslocação à Batalha, num autocarro alugado, com um grupo de 51 participantes entre sócios, familiares e amigos, acompanhados por seis elementos da Direção e o sócio Porta-Guião, Combatente Patrocínio Amorim, a fim de estarem presentes na cerimónia.

Depois do almoço no Regimento de Artilharia de Leiria, dirigiram-se ao Santuário de Fátima onde se realizou, da parte da tarde, uma visita à Exposição “Neste Vale de Lágrimas”, onde se encontra “O Cristo das Trincheiras”, e à Capelinha das Aparições.

Deste dia ficam algumas fotos:


Interior do Mosteiro da Batalha


Autoridades e Convidados presentes




Desfile das Forças em Parada

Desfile dos Guiões dos Núcleos da Liga dos Combatentes

O Porta-Guião do Núcleo de Matosinos, Patrocínio Amorim, o terceiro a partir da esquerda

Secretária de Estado Adjunta e da Defesa Nacional, Dra. Berta Cabral; General Ramalho Eanes e General Chito Rodrigues

Entrada para a Exposição "Neste Vale de Lágrimas"


O Cristo das Trincheiras

A Representação do Núcleo de Matosinhos fotografada no Regimento de Artilharia de Leiria

Fotos: © Núcleo de Matosinhos da LC
Texto editado por Carlos Vinhal a partir do texto enviado pelo Núcleo de Matosinhos da LC
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de Abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14500: Efemérides (185): Tabanca de Matosinhos, 10 anos de convívio fraterno e solidariedade que merecem ser festejados, com um almoço especial, animado com fados e guitarradas, na 4ª feira, dia 29 de abril, no sítio do costume, o Restaurante Milho Rei, Rua Heróis de França 721, Matosinhos, telef 22 938 5685 (José Teixeira)

Guiné 63/74 - P14524: Convívios (669): XX Encontro do pessoal do BCAÇ 2885 (Mansoa, 191979/71) comemorativo do 44.º aniversário do seu regresso à Metrópole, a realizar no dia 16 de Maio de 2015 em Arganil (César Dias)

1. Em mensagem de 24 de Abril de 2015, o nosso camarada César Dias (ex-Fur Mil Sapador da CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71), solicita a divulgação do 20.º Convívio comemorativo do 44.º aniversário do regresso à Metrópole do BCAÇ 2885, a realizar no dia 16 de Maio em Arganil.



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Nota do editor

Último poste da série de 22 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14504: Convívios (668): XIX Encontro do pessoal da CCAÇ 2660 (Teixeira Pinto, 1970/71), dia 23 de Maio de 2015 em Travanca-Amarante

Guiné 63/74 - P14523: Agenda cultural (392): "O medo à espreita", documentário (Portugal, 2015, 86'), de Marta Pessoa, hoje, às 18h00, no Cinema São Jorge, no âmbito do Indie Lisboa 2015 - 12ª Festival Internacional de Cinema Independente








"O cinema independente celebra-se, duplamente, no dia da liberdade. A 25 de Abril, será exibido o mais recente documentário de Marta Pessoa: O Medo à Espreita. Um olhar sobre os passos escondidos e as manobras secretas da PIDE, a política política do Estado Novo, e que ainda marcam, hoje, as vidas e memórias de quem sofreu com as suas perseguições e torturas. A sessão especial terá lugar hoje, às 18h, na Sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge, com a presença da realizadora. Um filme que promete não fazer esquecer os que sofreram, em Portugal, com os passos secretos da ditadura".


O Medo à Espreita
18:00 | 25 DE ABRIL DE 2015
Cinema São Jorge - Sala Manoel de Oliveira

Marta Pessoa, Documentário, Portugal, 2015, 86'

Secção: Sessões Especiais

Sinope:

Depois de “Lisboa Domiciliária”, estreado nas nossas salas em 2009, Marta Pessoa filma outras memórias secretas: a de cidadãos que viveram, até à queda do Estado Novo, uma vida de perseguição pessoal e política. Ao longo de toda a sua existência, uma das piores faces da ditadura movia-se por passos secretos, informações ocultas, e perseguições, no dia-a-dia, a pessoas suspeitas de viverem contra o regime. “O Medo à Espreita” é o retrato, assim, de pessoas que viveram diariamente debaixo da sombra dos informadores da PIDE/DGS e da sua tortura. Mas é também o retrato de um país onde o instrumento da denúncia cresceu para além dos círculos políticos para se instalar, sorrateiramente, no nosso quotidiano.

PS1 - Bilhete  com desconto: (i) jovens até aos 30, (ii) maiores de 65 anos, (iii) desempregados (mediante a apresentação de cartão do IEFP): 3,5€.

PS2 - A nossa amiga Marta Pessoa é também a realizadora de Quem Vai à Guerra [Portugal, Real Ficção, 123', 2011, disponível em DVD, € 10]. E foi a diretora de fotografia do filme de Silas Tiny, Bafatá Filme Clube  (Portugal e Guiné-Bissau, 2012, 78').
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P14522: Agradeço aos amigos atabancados as mensagens de parabéns que me enviaram a propósito do meu aniversário (David Guimarães)

A pedido do nosso camarada David Guimarães, (ex-Fur Mil, At Inf, MA da CART 2716, Xitole, 1970/1972), publicamos o seu postal de agradecimento pelas mensagens de parabéns a ele enviadas a propósito do seu aniversário ocorrido ontem, dia 24 de Abril.


Guiné 63/74 - P14521: Manuscrito(s) (Luís Graça) (55): I'm sorry





O Paço da Ribeiro (finais do séc. XV / princípios do séc. XVI) com a Casa da Indía, perpendicular ao Rio Tejo, tendo à sua esquerda a Ribeira das Naus e à direita o Terreiro do Paço. Este conjunto monumental, sede do império, foi completamente  destruído pelo terramoto de 1755. Reprodução de azulejo da Fábrica Santana, Rua do Alecrim, 95, Lisboa, 

Foto (e legenda): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados

I’m sorry!

Não tenho boas recordações
do império,
nem da sua praça,
nem do seu paço,
nem do seu terreiro.

Só sei que não consegui defendê-lo,
ao império,
e às joias da coroa,
até à última gota do meu sangue,
como deveria ser o meu desidério...


Pergunto, desolado:
em que repartição da pátria
é que eu poderia apresentar
os restos da minha farda de soldado,
com as minhas desculpas, 
o meu  pedido de perdão ?

Ou até apresentar-me,
de baraço ao pescoço,
qual Egas Moniz dos anos 70
do século vinte ?

Peço desculpa,
se houve aqui um erro de casting,
ou se alguém, na tropa,  entrou e saiu,
e me trocou os papéis,
as botas 
ou as voltas,
ou se o império, 
pura e simplesmente,
nunca existiu.


Lisboa, terreiro do paço, fevereiro de 1977

Luís Graça
v6 25 abr 2015

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Guiné 63/74 - P14520: Memórias de Gabú (José Saúde) (54): Amarras do medo



1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua magnífica série.

As minhas memórias de Gabu
Amarras do medo

Manietados pelas amarras do medo, fomos antigos combatentes que, não obstante a nossa jovialidade, conhecemos os horripilantes terrores da guerra colonial. No horizonte de além-mar vislumbravam-se, a espaços, sinais de esperança. Uma esperança por todos ambicionada e literalmente com honra concretizada.

Porquê estas breves palavras de liberdade? Há 41 anos que as armas justamente se calaram nas antigas províncias ultramarinas. Eu, furriel miliciano de Operações Especiais/Ranger, tive o condão em pertencer a uma lista imensa de camaradas que prestávamos serviço militar obrigatório na Guiné.

Em Gabu cruzei a guerra com a paz. Vivi intensamente os momentos que se seguiram após a Revolução dos Cravos. Os primeiros contactos com os guerrilheiros do PAIGC e o subsequente duvidar da facilidade deparada. Estávamos em liberdade e o inimigo de ontem eram os homens que agora conviviam libertos das amarras do medo.

Lembro-me de as cavaqueiras, precisamente no bar de sargentos de Nova Lamego, entre antigos opositores no palanque da peleja. Recordo, infelizmente, as armas que outrora serviram, única e exclusivamente, para matar outros homens. Os confrontos diretos onde os horripilantes sons das armas se difundiam num horizonte manchado pela negridão de uma África sempre harmoniosa. Porra, porquê aquela malvada guerra? O regime novo assim o ordenava e nós lá partíamos desconhecendo o destino.

Escalpelizando esses enviesados trilhos guineenses, somos forçados a mergulhar em realidades que tendem cair no limbo do esquecimento, essencialmente por parte daqueles que fogem do tema como o diabo foge da cruz. Não fomos e não seremos reconhecidos por uma gentalha de malfeitores que desconhece o sofrimento dos soldados portugueses nas “trincheiras”. Ponto final.

Todavia, existe uma certeza que ainda nos prende o coração: miúdos de 20, 21, 22 e 23 anos foram heróis numa guerra para a qual foram atirados à força e mal preparados para lidar com a guerrilha.

Conheci essa indesmentível verdade. Coloco-me, justamente, no leque de “putos” que tinham como missão comandar outros “putos” apesar do momento hostil vivido. Não temiam a imprevisibilidade da densidade de um mato que escondia inesperados encontros sempre indesejados. Iam em frente. Desafiavam o medo. 

O 25 de Abril foi o momento solene para todos os camaradas que combatiam nas três frentes de guerra - Angola, Moçambique e Guiné - se libertassem das amarras do medo e gritassem bem alto “viva a liberdade”.

Os alaridos das armas deram então lugar às tréguas. Os inimigos definiam-se em abraços fraternos. Porém, existia em cada um de nós uma imensurável raiva do passado. Revíamos os camaradas mortos, os estropiados, os feridos com menos gravidade e desconhecíamos o futuro. Um futuro onde hoje damos contas de camaradas que jamais conseguiram reencontrar-se com a estabilidade emocional numa sociedade que os renega. Sofrem do stress pós traumático de guerra. 

Camaradas, é tempo de vivermos Abril, é verdade, mas no nosso baú de antigos combatentes existem mágoas que ainda mexem com o nosso ego. 


Revejo a portas-de-armas do nosso quartel em Nova Lamego. Nativos que procuravam quiçá ajuda. Nas suas caras, com idades transversais, notavam-se sinais de medo e de incertezas no futuro. Tentavam um presumível “assalto” ao quartel. Queriam arroz e outros bens alimentícios. A sua ingenuidade parecia atroz. As forças da ordem no futuro imediato chamavam-se PAIGC. Eles, membros de uma população com a qual habitualmente convivíamos, por lá ficaram sujeitos a um novo regime e nós partimos.

Sinais de Abril que cruzavam fronteiras e que libertavam as amarras do medo de um exército que ambicionava o seu regresso a casa. E foi assim o culminar da Revolução dos Cravos em Abril de 1974.

Um abraço camaradas, 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 


sexta-feira, 24 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14519: (Ex)citações (272): Os bailaricos de Jolmete com instrumentos oferecidos pelo MNF (Manuel Carvalho)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Carvalho (ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf, CCAÇ 2366/BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70), com data de 11 de Abril de 2015:

Boa noite Carlos
Ao ver o poste sobre os instrumentos musicais oferecidos pelo MNF para Bambadinca(*), lembrei-me que nós CCAÇ 2366 também recebemos uma oferta semelhante em meados de 68 pouco tempo depois de chegarmos a Jolmete.

Como a população era pouca e a maioria vinha do mato e pernoitava tudo dentro do arame farpado procurávamos animar um pouco o ambiente e então os instrumentos eram fundamentais.

Fizemos um ou outro bailarico inclusive na recepção aos periquitos da CCAÇ 2585, outras vezes cantávamos e tocávamos, enfim o que era preciso era animar a malta.

Já não me lembro o que foi feito dos instrumentos, se vieram se ficaram lá.

Tenho pena destas fotos não serem vídeos com som. As baterias parecem iguais.

Carlos estás à vontade para fazeres o que muito bem entenderes com este material.

Um grande abraço
Manuel Carvalho










Fotos: © Manuel Carvalho
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 10 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14455: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (97): José Maria de Sousa [ Ferreira, minhoto de Braga, com escola de condução no Porto], ex-sold mec aut (BART 1904 e PINT, Bambadinca, 1968/70) descobre os seus companheiros do conjunto musical, da CCS/BCAÇ 2852, a quem o Movimento Nacional Feminino ofereceu, em 1969, os instrumentos

Último poste da série de 16 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14479: (Ex)citações (271): Também estive na Op Bola de Fogo, de 8 a 14 de abril de 1968, no apoio à construção do aquartelamento de (e depois nos reabastecimentos a) Gandembel (Mário Gaspar, ex-fur mil MA, CART 1659, Gadamael, jan 67 / out 68)