quinta-feira, 21 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14643: Memórias da CCAÇ 2616 (Buba, 1970/71) (Francisco Baptista) (7): O acidente grave e único do ex-furriel enfermeiro Antunes

1. Em mensagem do dia 16 de Maio de 2015, o nosso camarada Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), enviou-nos mais uma Memória da sua CCAÇ 2616.


Memórias da CCAÇ 2616

7 - O acidente grave e único do ex-furriel enfermeiro Antunes




Na nossa companhia, a CCaç 2616, em 1970, em Buba, havia dois furriéis que eram uns grandes cómicos, num português mais castiço, eram uns grandes pândegos. Por sorte minha um deles pertencia ao mesmo pelotão que eu, ajudou-me muito, melhor dizendo soubemos entender-nos bem e colaborar, como grandes amigos, nas tarefas que nos eram impostas.

Neste caso falo do Zamith Passos que para lá do cumprimento eficaz das suas responsabilidades de camaradagem e comando, tinha um humor e graça quase permanentes que ajudavam tanto à boa disposição de todos. Magro e de estatura entre o baixo e o médio, falando de grandes cómicos do cinema mudo, podia ser o Estica.

Bem, ao outro grande cómico não se podia chamar Bucha, pois ele era de estatura média, sem ser magro também não era gordo.
Tinha igualmente muita piada que ia distribuindo com remédios, pomadas e injeções que administrava aos militares ou à população nativa na enfermaria. Era o nosso furriel enfermeiro, José Alberto G. Antunes.

Além de camaradas alegres e brincalhões, que ajudavam tanto todos os outros a suportar aquele exílio forçado, eram, entre eles, dois grandes amigos.
Talvez por serem amigos, durante muito tempo pensei ser essa a relação causal para o facto de o Antunes ter saído para o mato com o nosso pelotão num dia de Junho de 1970. Posteriormente alguém me terá dito, que ele saiu connosco porque havia dois cabos enfermeiros de férias.

Por uma ou outra razão, ou por ambas nesse dia o Antunes, furriel enfermeiro saiu connosco. Ao atravessar o rio Grande Buba, no seu teminus, na maré baixa, com água até aos joelhos, houve um acidente com o RPG-7. A granada que estava dentro saiu disparada, atravessou o corpo do furriel enfermeiro, no baixo- ventre e foi explodir na outra margem.

Do que pude ver e do inquérito que foi feito sobre o acidente recordo de se falar que o soldado que transportava a arma terá escorregado e que ao cair na água ou ele ou um curto circuito provocado pela água terá originado o disparo da granada, comprida, mas com pouco diâmetro.

Foi uma situação aflitiva para todos os camaradas do pelotão, que dadas as circunstância e o estado do Antunes, ficaram muito emocionados e temeram pela vida dele.
Naturalmente a situação tornou-se mais aflitiva para ele, que nunca perdeu a consciência, estava cheio de dores e com ferimentos graves no baixo ventre e temia muito pela sua gravidade. Emocionou-me muito ouvi-lo despedir-se da mãe e da namorada nessa hora difícil e incerta.

Estávamos a cerca de dois a três quilómetros do quartel.

Entretanto tínhamos comunicado, via rádio, para o quartel e os fuzileiros vieram rapidamente e levaram-o num zebro, e pouco depois foi evacuado para o Hospital de Bissau, donde foi posteriormente para o Hospital de Lisboa.

Soubemos depois que felizmente o Antunes se tinha safado, provavelmente terá andado a bater à porta de S. Pedro que lhe terá recusado a entrada por já lá haver muitos cómicos, por não ter ido acompanhado com o seu duplo, o Zamith Passos, nem ter levado o furriel Varela, o grande cineasta do cinema mudo, a preto e branco, que fazia a cobertura de todos os grandes acontecimentos sociais e militares em Buba e penso que ainda fazia sessões fotográficas de borla para as beldades da terra.

A extensão dos males que sofreu nunca soubemos muito bem.

Passados meses após o meu regresso encontrei-o em Lisboa, por um feliz acaso da sorte. Estava feliz já tinha um filho da Graça, sua mulher, ao tempo namorada, de quem o ouvi despedir-se naquela hora aflitiva em Buba. Falou-me nisso não só pela alegria de ser pai mas também pelo receio que teve de ficar impotente pois a granada passou muito perto de vários órgãos vitais, entre eles os sexuais.
Meus amigos, o Antunes para cantor de ópera "castrato" já estava velho. Já não teria voz para encantar o público e ter aquele grande êxito, que pudesse compensar essa perda tão importante para um macho lusitano.
Depois vim para o norte, mais próximo das minhas origens e perdi o contacto com este grande camarada e amigo.

Nesse tempo, mais próximo dos tempos da Guiné, a minha reação e penso que a de muitos camaradas era esquecer e evitar até os amigos com quem tínhamos convivido tão perto e quase diariamente.
Tínhamos boas recordações de muitos e grandes amigos mas vinham sempre associadas a eles desgostos de perdas de outros, desgostos associados a um tempo perdido e uma derrota que já tínhamos assumido antes dessa batalha inglória.

Confesso, nunca o disse a ele, que uma vez vi o meu grande amigo Zamith Passos em Viana do Castelo, já passados talvez dez anos, depois do meu regresso, e evitei falar com ele.
Zamith Passos que reencontrei há pouco mais de um ano tinha perdido o contacto do Antunes há já longos anos. Falamos recentemente nele e como seria agradável que ele estivesse presente no almoço da companhia no dia 2 de Maio.
Por um acaso de inspiração rara, eu perguntei-lhe se sabia o nome dele completo.

2 de Maio de 2015 - Convívio da CCAÇ 2616

Concluindo o Antunes foi descoberto e está cá bem vivo e com o humor de sempre a confraternizar com os camaradas da companhia que puderem estar presentes.

Apesar do grande ferimento e de todo sofrimento e incomodo associado, este nosso camarada, teve uma sorte danada.
Segundo ouvi contar, terá sido, ele poderá confirmar isso, o único caso, em toda a guerra do Ultramar, de alguém que conseguiu sobreviver a uma situação semelhante.

 2 de Maio de 2015 - Ex-Fur Mils Antunes e Zamith Passos

 2 de Maio de 2015 - Ex-Fur Mil Enf Antunes e ex-Alf Mil Francisco Baptista

Um brinde ao Antunes, à vida, à alegria e à saúde dele e de todos os camaradas!

Com alguma emoção li este texto no almoço da companhia, com o Antunes ao meu lado, com um ar mais saudável do que a maioria dos camaradas.

 2 de Maio de 2015 - O ex-Soldado Granja e o ex-Alf Mil Francisco Baptista

2 de Maio de 2015 - Os ex- Alf Mils Baptista e Folque

Houve outros casos de mortos ou feridos mas pessoalmente, por circunstâncias várias nunca acompanhei o sofrimento de ninguém como o deste camarada.

Os mortos por minas ou balas, perto da Bolanha dos Passarinhos, nem um grito de despedida soltaram.

Como num filme antigo a preto e branco, a minha memória parece conservar ainda, em câmara lenta, alguns desses episódios tristes.

Por hoje já basta.
A todos um grande abraço
Francisco Baptista
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13848: Memórias da CCAÇ 2616 (Buba, 1970/71) (Francisco Baptista) (6): Uma consulta no HM 241 interpretada como um abandono do pelotão que comandava

Guiné 63/74 - P14642: Agenda cultural (401): Conferência "Filhos da Guerra", Festival Rotas & Rituais, 2015, Lisboa, Cinema São Jorge, 6ª feira, 22, 19h30... Participantes: Catarina Gomes (moderadora), Margarida Calafate Ribeiro (Os netos que Salazar não teve), Luís Graça (Que guerra se conta aos filhos?) e Rafael Vale e Reis (Filhos do vento: direito ao conhecimento das origens genéticas?)... Entrada gratuita... Às 18h, inauguração de exposição sobre o tema


Guiné > Zona leste > Região de Gabu >  Nova Lamgo > CCS/BART 6523 (1973/74) > O fur mil op esp José Saúde e a "menina do Gabu"... que não chegou a conhecer o pai..- Terá morrido aos 12 anos, segundo informação da mãe (foto abaixo).




Guiné > Zona leste > Região de Gabu >  Nova Lamgo > CCS/BART 6523 (1973/74) > A mãe da "menina do Gabu"


Fotos (e legendas): © José Saúde  (2011). Todos os direitos reservados.


(...) Era linda! Por ironia do destino não consigo lembrar-me do seu nome. Sei, e afirmava o povo com certezas absolutas, que era filha de um camarada, furriel miliciano, que anteriormente esteve em Nova Lamego. Era uma criança dócil. Meiga. Recordo que a sua mãe era uma negra, muito negra, com um rosto lindo e um corpo divinal. Conheci-a e verguei-me perante a sua sensibilidade feminina. Da menina, agora feita senhora, nunca mais soube.

Os seus cabelos eram loiros. Maravilhosos. De cor morena, e de olhos negros, a criança, ainda de tenra idade, era de facto graciosa. Simpática, e de sorriso aberto, a menina espalhava simpatia nos braços de um qualquer soldado… desconhecido. Perdi algum tempo a deliciar-me com a sua meiguice. Dei-lhe o carinho dos meus braços e o seu sorriso tenro transmitiu-me um infinito afecto. Hoje, lamento a ausência do seu nome. Ficou retida na minha memória a sua pequena fisionomia. A sua imagem dócil deixou-me saudades. A menina foi, afinal, mais um dos “filhos do vento” que marcaram os conflitos em África.


(...) Do pai nada se soube. Partiu. A mãe, uma cidadã comum de uma tabanca, conviveu de perto com uma menina nada parecida com outros meninos com os quais partilhava brincadeiras de crianças. E assim terá crescido. Com a minha saída de Nova Lamego perdi-lhe o rasto. Não sei qual terá sido o seu futuro. Será, hoje, uma mulher ilustre na Guiné? Terá procurado futuro num país distante? Ter-se-á encontrado com o seu pai? Será que ele a reconheceu como filha? Será que sua mãe, outrora esbelta e linda, fez dela uma mulher digna no seio do seu clã? Será que estamos agora na presença de uma cidadã guineense com nome internacional? Enfim, um rol de interrogações que me conduz à decência de procurar no infinito do horizonte alvíssaras da sua presença. Fica o pedido! (...) (*)



1.  Festival Rotas & Rituais, 2015 > Filhos da Guerra | Conferência

Lisboa | Cinema São Jorge
6ª feira, 22 de maio de 2015 | 19h30
Sala Montepio


Filhos da Guerra

Sinopse > Entre 1961 e 1975, cerca de um milhão de homens portugueses foram enviados para três frentes de batalha, na tentativa de manter um moribundo império colonial. Há uma geração de filhos que cresceu com histórias desta guerra, umas contadas, outras mais ou menos escondidas. Com o passar dos anos, os álbuns de fotografia foram sendo arrumados nas arrecadações de muitas casas portuguesas.

O que trans­mi­ti­ram estes pais sobre as suas expe­ri­ên­cias de guerra?

O que se pode con­tar a um filho? Terão alguns des­tes homens con­tado aos seus filhos por­tu­gue­ses que têm irmãos afri­ca­nos que nunca conheceram?

Nos sítios onde houve guerra, alguns des­tes ex-militares fize­ram filhos a mulhe­res afri­ca­nas. Na altura, havia quem lhes cha­masse por­tu­gue­ses sua­ves, hoje, filhos do vento. São homens e mulhe­res, que eram cri­an­ças e que hoje são adul­tos, e que con­ti­nuam a per­gun­tar “quem é o meu pai tuga?”.

Cata­rina Gomes


FILHOS DE CÁ E FILHOS DE LÁ | CATARINA GOMES

Jor­na­lista do Público há 17 anos e autora do livro Pai, tiveste medo? (edi­ções Matéria-Prima) que reúne doze his­tó­rias sobre a guerra colo­nial vista por filhos de ex-combatentes, sendo tam­bém ela filha de um ex-combatente. Do livro nas­ceu a repor­ta­gem Filhos do Vento. Em 2015, a jor­na­lista rece­beu o Pré­mio AMI – Jor­na­lismo Con­tra a Indi­fe­rença com duas repor­ta­gens, uma sobre o desa­pa­re­ci­mento de um pai que tinha Alzhei­mer (Perdeu-se o pai de José Car­los) e outra sobre his­tó­rias de filhos de doen­tes com lepra sepa­ra­dos dos pais à nas­cença (Infân­cias de Vitrine).


OS NETOS QUE SALAZAR NÃO TEVE ! MARGARIDA CALAFATE RIBEIRO

Dou­to­rada em Estu­dos Por­tu­gue­ses pelo King’s Col­lege de Lon­dres, é investigadora-coordenadora no Cen­tro de Estu­dos Soci­ais da Uni­ver­si­dade de Coim­bra e res­pon­sá­vel pela Cáte­dra Edu­ardo Lou­renço da Uni­ver­si­dade de Bolo­nha e apoio do Ins­ti­tuto Camões. Das suas publi­ca­ções destacam-se os livros África no femi­nino: as mulhe­res por­tu­gue­sas e a Guerra Colo­nial, Uma his­tó­ria de regres­sos: impé­rio, Guerra Colo­nial e pós-colonialismo e ainda, em con­junto com Roberto Vec­chi, Anto­lo­gia da memó­ria poé­tica da guerra colo­nial. Entre 2007 e 2011, coor­de­nou o pro­jecto Os filhos da guerra colo­nial: pós-memória e representações.


QUE GUERRA SE CONTA AOS FILHOS? | LUÍS GRAÇA

Soció­logo de for­ma­ção e dou­to­rado em saúde pública pela Uni­ver­si­dade Nova de Lis­boa, é inves­ti­ga­dor e pro­fes­sor uni­ver­si­tá­rio, além de direc­tor da Revista Por­tu­guesa de Saúde Pública´(desde 2007). Tem uma página pes­soal na inter­net sobre saúde e tra­ba­lho desde 1999, e desen­volve o blo­gue Luís Graça & Cama­ra­das da Guiné, desde 2004, um caso raro de par­ti­lha de memó­rias e afe­tos entre anti­gos com­ba­ten­tes da guerra colo­nial, com­posto por cerca de 700 membros.


FILHOS DO VENTO – DIREITO AO CONHE­CI­MENTO DAS ORI­GENS GENÉTICAS? |  RAFAEL VALE E REIS

Assis­tente con­vi­dado da Facul­dade de Direito da Uni­ver­si­dade de Coim­bra e inves­ti­ga­dor do Cen­tro de Direito Bio­mé­dico da Facul­dade de Direito, da Uni­ver­si­dade de Coim­bra. Inte­gra a equipa do Obser­va­tó­rio Per­ma­nente para a Adop­ção no âmbito do Cen­tro de Direito da Famí­lia da Facul­dade de Direito de Coim­bra. É autor de O Direito ao Conhe­ci­mento das Ori­gens Gené­ti­cas, publi­cado em livro pela Coim­bra Edi­tora em 2008.



Convite extensivo a todos os amigos e camaradas da Guiné (**)


2. Perguntas ao noss editor Luís Graça

A Catarina Gomes, jornalista do Público, que vai moderar a conferência, e que me comvidou para participar, mandou-me a seguinte mensagem ontem:

Caro professor,

Aqui lhe deixo algumas das perguntas a que gostava que tentasse responder na sua intervenção, que deverá ter 10 a um máximo de 15 minutos. O nosso painel [, Filhos da Guerra,] começa às 19h30, a exposição dos Filhos do Vento inaugura às 18h00.

  • Que guerra se conta aos filhos? 
  • Existe o direito ao silêncio?
  • Será que alguns destes pais contaram aos seus filhos que deixaram ou poderão lá ter deixado filhos?
  • Que relações eram estas entre ex-combatentes e mulheres locais durante a guerra?
  • Têm esses filhos direitos a procurar os seus pais? 
  • Têm estes pais direito a não ser encontrados?

Até sexta.

Catarina Gomes

__________

Notas do editor:


(...) Confirmava-me, recentemente, o camarada Amílcar Ramos, ex Furriel Miliciano BAA,  residente em Castelo Branco, e meu companheiro da Messe de Sargentos em Gabú, que no ano de 1999 visitou a Guiné e, como é óbvio, o Leste do País, sendo que dessa viagem ressalta uma visita a Bafatá e Gabú, locais onde prestou serviço, tendo então reencontrado velhos amigos e amigas que lhe comunicaram a morte da tal “Menina do Gabú"”.

Dizia-me o antigo camarada que ao ler os meus apontamentos (...) , decidiu contactar e elucidar-me sobre o infeliz desaparecimento daquela pequena flor que ousei trazer à estampa.(...) 


quarta-feira, 20 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14641: Os nossos seres, saberes e lazeres (94): Bruxelles, mon village (Parte 6) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 20 de Abril de 2015:

Queridos amigos,
O viajante está prestes a regressar, empanturra-se de alguma da muita beleza disponível. A retrospetiva Chagall foi um assombro, asseguro-vos. Comprou-se algum bricabraque, este viajante é adicto de adelos, fancaria avulsa, livros que não interessam a ninguém, até têxteis, fotografias de desconhecidos e quejandos. Para que não haja ilusões, regressa pronto a partir, mal haja oportunidade, tem ali sempre um ancoradouro à sua espera, tudo lhe é familiar, ou quase tudo, já tem manhas por espetáculos a preço módico e há livros a um euro que são um fausto. É por isso que já está cheio de saudades do futuro e avisa solenemente que nessas circunstâncias voltará a fotografar e a comentar, como diário sentimental.

Um abraço do
Mário


Bruxelles, mon village (6)

Beja Santos


Por mim, não me teria custado nada começar o dia na Place du Jeu de Balle, a Feira da Ladra onde é possível encontrar loiça da Vista Alegre, álbuns fotográficos dos anos 1950, fotografias da mítica rainha Astrid, rendas e bordados, entre tanta quinquilharia há por vezes imprevistos que enchem de gozo o acumulador em viagem. Mas não, em vez do Petit Sablon, o viajante vai para o Grand Sablon, mais chique, com lojas de antiguidades de cortar o fôlego, a que é possível encontrar um desenho de Degas, o mais sofisticado mobiliário Art Deco, porcelanas requintadas, arte africana topo de gama, e mais recentemente a arte oriental, os mercadores russos trazem do bom e do melhor. E é no Grand Sablon que está a Igreja de Notre Dame, entro no templo praticamente vazio com a música de Bach em fundo. Percorro a nave central e aqui depara-se numa coluna: “Aqui vinha a rezar Paul Claudel”, foi aqui um dos seus primeiros postos de diplomata, lembrei-me da sua obra-prima “A anunciação feita a Maria”, traduzida por Sophia de Mello Breyner, tenho esta peça de teatro como um dos dez textos fundamentais do século XX. Tirada a imagem, sentei-me a agradecer a Claudel os tesouros que nos legou.


O púlpito de Notre Dame du Sablon é gigantesco, cingi-me a este pormenor, a águia está pronta a escutar uma prédica de sapiência, o Espírito Santo está vigilante, é um daqueles momentos em que se deplora, contrito, que a máquina fotográfica não possua outra pujança para captar todo este trabalho de talha, magnificente.


Temos ao fundo duas pinturas neogóticas, entre finais do século XIX, princípios do século XX. Mas a minha questão de fundo, o meu embevecimento é esta barcaça, o seu assumido grau de ingenuidade, a delícia de dois equilíbrios, o cromático e as figuras, a imagem da Senhora parece que se vai lançar nos ares, daqui a pouco. Saio entusiasmado, estou pronto para mergulhar noutro oceano de religiosidade, o do grande Marc Chagall, ele está aqui muito próximo, nos Museus Reais de Belas Artes da Bélgica.




Como é que é possível ter em exposição mais de 200 telas, aguarelas, esquiços, desenhos representativos de diferentes épocas, provenientes das sete partidas, é que me faz pasmar, só os milhões para segurar os bilhões expostos. Ainda por cima, a retrospetiva Chagall percorre todas as etapas da sua carreira artística, desde as primeiras pinturas em 1908 até aos seus trabalhos gigantescos dos anos 1980. Em grande ecrã, estão aqui os seus temas favoritos: a cultura judaica, as tradições populares, a iconografia de uma aldeia judaica russa, os seus trabalhos à volta da literatura do século XVII, as dimensões da sua pesquisa em torno da luz e da cor. Mas estou absolutamente seguro que andamos todos aos encontrões de sala em sala empolgados por este estilo pessoalíssimo de alguém que andou pela revolução cubista e que rapidamente se individualizou, o Chagall poético, arrebatado, atraído por diferentes religiosidades, alguém que nos leva pela mão e de sala em sala nos deixa de boca aberta. Agora vou descansar os pés, cá fora o dia está magnífico, ando a borboletear pelos jardins e pelas galerias, como uma boa sopa e uma sandes farta-brutos, vou-me lançar noutra exposição de estalo, chama-se Faces Then, são retratos renascentistas dos Países Baixos, estão no Bozar, o Palácio das Belas Artes de Bruxelas, um polivalente que mete teatro, cinemateca, uma sala de música onde podemos ouvir a Maria João Pires ou o Jordí Savall.


É também para mim mistério como aqui se juntam três grandes exposições, a dos tesouros otomanos aparece referenciada como uma das mais importantes exposições do ano. Este é um pormenor de entrada deste palácio luxuoso, bem marmoreado, elegante, vem dos tempos em que a arte era obrigatoriamente servida em templos aparatosos e luxuosos.


Ainda não encontrei explicação para esta apresentação das fainas artísticas como guloseimas visuais. Entramos no templo das Belas Artes, lá em cima já nos acenam três exposições e à entrada somos minuciados com vídeos e instalações, parece a grande feira das imagens. Não resisti a captar este vídeo, o jovem torce-se e retorce-se ao som de World Music. É de questionar se esta avassaladora ocupação dos espaços não acaba por nos distrair da razão fulcral do que aqui nos traz, deixando outros espaços vazios. Enfim, um pouco de conversa fiada.



Entrei num festival de retratos renascentistas, estou atento à ousadia museográfica que permite tirar partido de 50 retratos do século XVI, todos eles provenientes de artistas dos Países Baixos. São, por definição, registos circunstanciais, mas acontece que génios da pintura como Quentin Metsys ou Joos van Cleeve ganharam a imortalidade graças a estas telas de uma grande beleza e cujos pormenores permitem estudar a opulência, a moda, a religiosidade, o valor desta exposição é o saber fazer a síntese entre realismo e idealização, temos aqui uma paleta generosa da gestualidade estética a oscilar entre o protestantismo e o catolicismo, entre o luxo descarado e a pose contida, o estatuto é para ostentar dentro dos cânones da conta peso e medida.


Em finais da Idade Média, aqui se construiu o Hotel Ravenstein, hoje um dos ícones da arquitetura civil de Bruxelas. É contíguo ao Bozar, em frente está um edifício onde durante muito tempo funcionou o Comité Económico e Social Europeu. Mas tratou-se de uma fotografia sentimental. Aquela montra à direita, hoje de uma loja de material discográfico de ponta foi até ao fim do século passado a Galeria Tempera, onde vim tantas vezes, no regresso do dia de trabalho, descansar os olhos diante de sanguíneas, óleos, desenhos ou aguarelas e de onde pude trazer algumas pérolas que espalho pelas minhas paredes, companheiras indefetíveis.


E assim se chegou ao fim das férias. A seguir o almoço, o André Cornerotte leva-me a Zavantem, Aproveitamos a manhã para o último passeio, há anos que não vinha ao Parque de Schaerbeek, valeu a pena, a vegetação está molhada, mas pé entre pé aproximo-me deste cortador que anda pelas árvores e que olha para os céus, sonhador e confiante no seu destino. Vai ficar com uma marca de água de que o viajante quer regressar, já sabe que a viagem nunca acaba, o viajante é que muda de intenções, os seus humores oscilam, mas neste caso o seu amor por Bruxelas é inabalável. Ele promete voltar, e nessa altura captará outras imagens para que o leitor também se aproprie deste afeto inextinguível.
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Nota do editor

Último poste da série de13 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14609: Os nossos seres, saberes e lazeres (93): Bruxelles, mon village (Parte 5) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P14640: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (31): Em busca das minhas raízes nalus / In search of my Nalu family origins (Nigel Davies, historiador britânico, originário da Serra Leoa / British historian, specialising in the study of Sierra Leone Creole people)


1. Mensagem de um nosso  leitor, do Reino Unido, originário da Serra Leoa, Nigel Davies:

From: Nigel Davies

Date: 2015-04-11 16:43 GMT+01:00

Subject: Towl family of Guinea/Guinea-Bissau


Dear Professors Ribeiro, Graca, Vinhal:


I am an independent historian, mainly specialising in the study of the Sierra Leone Creole (Krio), people of Sierra Leone. (*)

I am quite familiar with your eminent work on the history of Africans, and as a historian similarly interested in this area of research, I greatly appreciate your scholarship in this area of study.

I am getting in contact with you because I noticed your blogspot posting on the Towl/Camara family of Victoria in Kafarande, Guinea, Rio Nunez. I noticed your blog spot:


18 de julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3070: Antropologia (6): O povoamento humano da zona do Cantanhez: apontamentos (Carlos Schwarz, Pepito) (*)

  http://blogueforanadaevaotres.blogspot.co.uk/2008/07/guin-6374-p3070-antropologia-6-o.html.


I am a descendant of the Towl family and I have been researching the family history of the Towl or Camara family of the Rio Nunez, a royal family descended from Mandab Camara, a Nalu from Guinea-Bissau, whose son, Tokhoye Tawouli,  settled in the Rio Nunez in 1825 and established the Towl royal family line. 

Tokhoye married Magboya Ratcha, the daughter of a local chief, Mango Ratcha in Guinea. Tokhoye and Magboya Ratcha had a first-born son called Boya Lamina, who was at one time the King of the Nalus until his death and succession (his younger brother Youra Towl succeeded him and then his nephew, Dinah Salifou). 

Boya Lamina had a son called Sekou Tomas, who married a very light-skinned Baga woman called Josephine. This union produced at least five or six children-Sekou Togba, the eldest, Samuel Tomas, Joseph Tomas (d. Congo), Isata Kamara (later Esther Thomas, my second great grandmother), and two other sisters, both of whom also settled in Sierra Leone-and one of them was known as Miriam Priddy. 

Isata Kamara or Esther Thomas, my great grandmother settled in Sierra Leone as a six year old girl and was raised as a Sierra Leone Creole in the Settler Town area of Freetown. Like her Baga mother, she was quite fair, with long hair, and may have had partial Fulani or perhaps European ancestry on her maternal line. She married John William Campbell, a Sierra Leonean and had six children including my late great grandmother, Sarah Rebecca Letitia Campbell, (1908-2009).

There was a document that was held in our family archive, 'Tawoulia or Tawel, Regnante Famille du pays Nalou au Rio Nunez, Perfecture of Boke from 1820 to 1952' published in 1999 by Elhadj Sankoumba Camara. However, my mother threw away this document and I have been trying to regain an original copy ever since. All the photographs on your blog spot are instantly recognizable, as they are derived from that document.

Do you have any contact in Guinea who would be able to get me an original copy of this document? I am willing to pay whatever costs for the item, however I am not presently in contact with my remaining relatives in Guinea and so I don't have any contacts in Guinea who could get me a copy of this precious document.

I attach my curriculum vitae and a copy of the only remaining photograph I have of Boya Lamina, my fourth great grandfather.

I look forward to hearing from you.

Kind regards, Nigel Browne-Davies



Guiné-Conacri > Posição relativa ao Rio Nunez : a nordeste Boké e a sua noroeste Cacine, Guiné-Bissau. Ou Rio do Nuno, em homenagem ao nosso grande navegador Nuno Tristão, mas não é pacífico que ele chegado exatamente à foz deste rio...onde teria encontrado a morte.

Adapt. com a devida vánia do mapa do Google.


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné



Foto de Boya Lamina, o primeiro rei dos Nalus  (1837-1840), segundo Nigel Davies... Seria o seu "fourth great grandfather" [, em português, tetravô, ou pai do trisavô ou avô do bisavô...]... No poste do Pepito, esta é a foto de Biya Salifo,esse sim, o primeiro rei (1837-1840), tendo-lhe sucedido o seu irmão Boya Lamina (1840-1857).



Foto de Boya Lamina, 2º rei dos nalus (1840-1857), segundo o Pepito, que cita Camará (1999):

(...) "A principal tentativa, para a criação de um Reino Nalú, remonta aos anos de 1780, na tabanca de Caniop, zona de Boké, na que é hoje a Guiné-Conacri. Tudo começa com o casamento entre Tokhoye e Boya do qual nascem 4 filhos varões, por esta ordem: Salifo, Lamine, Youra e Carimo. Nesta altura todas as tabancas Nalús funcionavam de forma autónoma, não havendo nenhuma autoridade superior que as unisse.

"Com a morte do pai Tokhoye, em 1837, Boya Salifo, o primogénito, assume a liderança de um processo com vista à união de todos os Nalús à volta de uma só autoridade, representada por ele. Para isso contou com o apoio dos outros 3 irmãos que se desdobraram em visitas e contactos a todas as tabancas habitadas por Nalús, especialmente em duas zonas: na baixa do Rio Nuno e entre os rios de Cacine e Tombali. 

"O processo é coroado de sucesso, tendo oReino dos Nalús tido 4 chefes durante toda a sua existência: o primeiro foi Boya Salifo que reinou durante 3 anos, de 1837 a 1840, ano da sua morte; a ele sucedeu-lhe Boya Lamine que chefiou os nalús durante 17 anos, de 1840 a 1857, igualmente ano da sua morte (...).

"Segue-se-lhe, Boya Youra Tawel, o qual reina durante 28 anos, entre 1857 e 1885, tendo dividido o Reino Nalú em quatro províncias: Socoboli, Tonkima, Caniop e Cacine. Em 1860, com as etnias Landumas e Mikiforés a desentenderam-se, Youra começa a conquista de novos territórios para preservar a segurança das suas fronteiras contra as intenções expansionistas do chefe do Futa. Em 1863 dispunha de um grande território e reino. Nomeia então chefes para cada província. Para Cacine foi designado Saiondi, filho de Boya Salifo.

"Com a morte deste último [o Boya Youra,], em 1857 [lapso, deve ser 1885], o primeiro filho de Salifo Boya, Diná Salifo, assume a chefia para um reinado de cinco anos que termina com a sua prisão pela França e respectiva deportação para Saint Louis, no Senegal, onde acaba por falecer em 1897 (...)

A sua prisão prende-se com o seu completo desacordo com a França, decorrente da elaboração da Convenção Franco-Portuguesa de 1886, em que se procede a uma nova delimitação das suas respectivas possessões, na qual a França cedia a Portugal a zona de Cacine por troca com a Casamança" (...) (**)

2. Tradução para português:

De: Nigel Davies

Data: 2015-04-11 16:43 GMT+01:00

Assunto: A família Towl [ou Tawel] da Guiné-Bissau

Caros Professores Ribeiro, Graça, Vinhal,

Sou um historiador independente, particularmente interessado  no estudo do povo crioulo (em inglês, Krio people) da Serra Leoa). (**)

Estou bastante a par do vosso notável trabalho sobre a história dos povos africanos e eu próprio como historiador tenho interesse nesse tópico. Só tenho a agradecer o vosso trabalho académico nesta área de estudo.

Permito-me entrar em  contato com vocês, na sequência do vosso poste  sobre a família Towl / Camara de Victoria,  em Kafarande, Guiné-Conacri, Rio Nunez.  Tomei boa nota do vosso poste no blogue:

18 de julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3070: Antropologia (6): O povoamento humano da zona do Cantanhez: apontamentos (Carlos Schwarz, Pepito) (*)

 http://blogueforanadaevaotres.blogspot.co.uk/2008/07/guin-6374-p3070-antropologia-6-o.html.

Sou descendente da família Towl [ou Tawel] e  tenho feito  pesquisas sobre  a história da família Tawel ou Camará,  do Rio Nunez, uma família real que descende de Mandab Camará, um Nalu da Guiné-Bissau, cujo filho, Tokhoye Tawouli,  se instalou na região do  Rio Nunez em 1825, tendo dado origem ao ramo da família real Tawel.

Tokhoye casou com  Magboya Ratcha,  a filha de um chefe local, Mango Ratcha, da Guiné-Conacri. Tokhoye e Magboya Ratcha tiveram um filho primogénito chamado Boya Lamina, que foi então o primeiro rei dos Nalus, tendo-lhe sucedido, depois da morte, o seu irmão mais novo Youra Tawel e,  em seguida, o seu sobrinho, Dinah Salifu.

Boya Lamina, por sua vez,  teve um filho, chamado Seku Tomas, que se casou com uma mulher, da etnia Baga,  de pele muito clara,  chamada Josephine. Desta união nasceram  pelo menos cinco ou seis filhos: Seku Togba, o mais velho, Samuel Tomas, Joseph Tomas (que norreu no Congo), Isata Kamara (mais tarde Esther Thomas, minha segunda bisavó), e duas outras irmãs, que se estabeleceram, ambas, na Serra Leoa. Uma delas era conhecido como Miriam Priddy.

Isata Kamara (ou Esther Thomas), minha bisavó,  foi para a Serra Leoa, ainda  menina, com seis anos, tendo sido criada como crioula da Serra Leoa na área colonial  da cidade de Freetown.  Tal como a sua mãe, de etnia Baga,  era de pele bastante clara, com cabelos longos, e provavelmente com  uma parte de ascendência  fula ou talvez europeia, do lado materno. Casou-se com John William Campbell, nascido na Serra Leoa, e teve seis filhos, incluindo a minha falecida bisavó, Sarah Rebecca Letitia Campbell (1908-2009).

Havia um documento, guardado no  nosso arquivo de família, 'Tawoulia ou Tawel, Regnante Famille du pays Nalou au Rio Nunez, Préfecture de Boke 1820-1952 ", publicado em 1999 por Elhadj Sankoumba Camara. Infelizmente, a minha mãe deitou  fora este documento. Eu tenho tentado desde então arranjar  uma cópia do original.  Todas as fotografias no vosso blogue  são facilmente reconhecíveis, já que  são extraídas do supracitado documento.

Pergunto-vos se vocês têm  algum  contacto na Guiné-Conacri que me permita  obter uma cópia original desse documento?  Estou disposto a pagar o que se for preciso. No entanto, não tenho atualmente quaisquer contactos com os meus parentes que ficaram na Guiné-Conacri. Enfim, eu não possuo contatos na Guiné-Conacri que me ajudem a  obter uma cópia deste documento precioso.

Anexo o meu "curriculum vitae" (***), bem como  uma  cópia da única fotografia  que tenho de Boya Lamina, meu quarto bisavô.

Estou ansioso para conhecer a vossa resposta

Atenciosamente,

Nigel Browne-Davies



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Setor de Bedanda > Iemberem > Simpósio Internacional de Guileje > Março de 2008 > Visita ao sul > Dois homens grandes da Guiné, o Engº Agrónomo Carlos Schwarz (Pepito, para os amigos) (1949-2014), fundador e director executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento e o 'Aladje' Salifo Camará, régulo de Cadique Nalu e Lautchandé, antigo Combatente da Liberdade da Pátria, "o rei dos nalus", então  com 87 anos (morreu em 2011).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.


3. Reply to Mr. Nigel Davies

Welcome to our blog. We are friends of the people of Guinea-Bissau . We are old Portuguese soldiers during the colonial war (1963/74 ) in that  speaking Portuguese African country, Blog editors are not academic people, except myself,  the blog founder,  and university teacher. The document you are looking for  is in French and the source is at Conakry, not Bissau. Unfortunately , our friend Carlos Schwarz, ' Pepito ' ( nickname ) , died suddenly last year. I can give you the contact of his widow,  Mrs . Isabel Levy Ribeiro, who lives in Bissau. He was a close friend of the former king of Nalus, Salifu Camara.

We wish could help you more. But we can maintain this contact. Good luck for you research on the history of your family. Our best greetings. Luís Graça

Resposta a Nigel Davies:

Seja bem-vindo ao nosso blogue . Somos amigos do povo da Guiné-Bissau, antigos combatentes portugueses durante a guerra colonial (1963/74) naquele país africano de língua oficial portuguesa. Os editores não são pessoas acadêmicas , com exceção do fundador, Luis Graça, que é professor unibversitário. O documento que você procura é em francês e a fonte é Conacri, não Bissau. Infelizmente o nosso amigo Carlos Schwarz, mais conmhecido por 'Pepito',  morreu subitamente no ano passado. Posso dar-lhe o contacto da sua viúva, Isabel Levy Ribeiro, que vive em Bissau. Ele era muito amigo do anterior rei dos nalus, Salifu Camará.

Gostaríamos de poder ajudá-lo mais. Podemos manter este contacto. Desejamos-lhe  boa sorte na procura de mais elementos sobre a história da sua família. As nossas melhores saudações. Luís Graça (****).

__________________ .

Notas do editor:

(*) Vd. Wikipédia, a enciclopédia livre > Crioulos da Serra Leoa

(...) Os Crioulos da Serra Leoa ou Krio (também Creo ou crioulo) é uma expressão designada aos não-nativos africanos, uma comunidade de cerca de 200 000 descendentes de escravos libertos das Índias Ocidentais, América do Norte e da Grã-Bretanha.

Os Krio vivem principalmente no leste de Serra Leoa, principalmente na capital, Freetown. A sua língua é a língua krio, falada por cerca de 98% da população do país, apesar de os krio serem uma minoria. (...)


Vd,. também entrada em inglês ou português, na Wikipedia >  Serra LeoaFreetown | Sierra Leone Creole People

(**)  Vd. poste de > 18 de julho de  2008 > Guiné 63/74 - P3070: Antropologia (6): O povoamento humano da zona do Cantanhez: apontamentos (Carlos Schwarz, Pepito)

[2008, 18 july > Guinea 63/74 - P3070: Anthropology (6): Human settlement in the area of Cantanhez: notes (Carlos Schwarz, Pepito)]

(...) Fonte citada pelo autor do artigo, Carlos Schwarz da Silva, 'Pepito0 (1949-2014):

Elhadj Sankoumba Camará, 1999. Tawoulia ou Tawel, Famille regnante du pays Nalou au Rio Nunez, Préfecture de Boke de 1820 a 1952. Conakry.  [in francês / french]

English title: Tawoulia or Tawel, ruling family of Nalou country at the Rio Nunez, Préfecture of Boke, from 1820 to 1952. Conakry.

(***) Nigel Davies > Abridged CV::

(...) Nationality: British

 (...)  Research Focus

My main focus of research is the study of coastal elites in British West Africa, particularly during the late eighteenth and nineteenth centuries. Although my main focus is on repatriated freemen and ex-slaves in Sierra Leone and Liberia, I have also conducted research on nineteenth century ‘educated Africans’ in Ghana, Nigeria, the Gambia, Fernando Po, Cameroon and Senegal. My research focuses on different aspects including family histories, colonial identity, and the study of mixed race and westernized blacks in West African societies. My aim is to examine these dynamics in order to understand the various similarities among members of the West African coastal elite, and their cultural outlook and similarities with black elites in the Americas and middle-class families in Britain.

Education

BPP University College (Law School), (2013-2014)
Graduate Diploma in Law: Commendation

Queen Mary, University of London, (2010-2013)

BA (Honours) History: high Upper Second Class Honours

(...) Undergraduate Dissertation title: ‘The role of the Sierra Leone Creole people in the Hut Tax War of 1898: Aggressors or Victims?’

Dissertation summary: My dissertation was an examination of the role that the Freetown press and individual Creole traders in the hinterland may have had in exacerbating or inciting indigenous peoples in the Sierra Leone Protectorate to rebel against the colonial government in the 1898 Hut Tax War.

 (...) Editorial work

Journal of Sierra Leone Studies

Position: Member of the Editorial Board

 (...) Krio Descendants Union Historical Journal

Position: Editor and founder

(...) Krio Descendants Union Calendar (2011)

Position: Contributor

- Researched and wrote ‘The Origin of Krio Surnames’

- Article was included in the 2011 Krio Descendants Union Calendar


Published work

Transactions of the Historical Society of Ghana

§ ‘The Brothers Easmon: The emergence of a Nova Scotian medical dynasty in Sierra Leone and the Gold Coast’, Transactions of the Historical Society of Ghana (New Series), Number 16, 2014

Summary: Article outlines the origins of the Easmon medical dynasty in the former British West African colonies of the Gold Coast and Sierra Leone.

Journal of Sierra Leone Studies

§ ‘The role of the Sierra Leone Creole people in the Hut Tax War of 1898: Aggressors or Victims?’, Journal of Sierra Leone Studies, Volume Three, Edition One

Summary: Article outlines the role of the Sierra Leone Creole (Krio) in fomenting the 1898 rebellion in the Protectorate of Sierra Leone and examines whether the Creole were victims or the aggressors in the conflict.

§ ‘A Precis of Sources relating to genealogical research on the Sierra Leone Krio people’, Journal of Sierra Leone Studies, Volume Three, Edition One

Summary: Article provides information on archival records held in the United Kingdom, North America, and Sierra Leone that are pertinent for researching Sierra Leone Krio genealogy.

§ ‘Lieutenant Macormack Charles Farrell Easmon: A Sierra Leonean Officer in the First World War’, Journal of Sierra Leone Studies, Volume Three, Edition Two

Summary: First academic article to examine the history of possibly the only black African commissioned to serve as a British officer in the First World War.

§ ‘The British Library Endangered Archives Programmes 284 and 443: A Short note on the digitisation of records at the Sierra Leone Public Archives’, Journal of Sierra Leone Studies, Volume Three, Edition Two

Summary: Provides an overview of the important work of the British Library Endangered Archives Programmes and outlines records held at the Office of the Registrar-General in Freetown which also require urgent measures for preservation.

§ ‘William Smith, Registrar of the Courts of Mixed Commission: A Photograph of an African Civil Servant in the nineteenth century’, Journal of Sierra Leone Studies, Volume Three, Edition Two

Summary: A biographical sketch of a nineteenth century African civil servant and contains a rare photograph (from a private album) of the subject of the article.

Black History Month Magazine 

‘Nelson Mandela: Freedom Fighter and Trailblazing Father of a Nation’, [Cover article], Black History Month Magazine, October 2014

Summary: Wrote the cover article on the life, legacy, and achievements of Nelson Mandela in South Africa and abroad.

‘Africa’s own Officer in the First World War: Lieutenant Macormack Charles Farrell Easmon’, Black History Month Magazine, October 2014

Summary: Summarises the life story and significance of Macormack Easmon, who was possibly the only black African to serve as a British medical officer in the First World War.

‘The Krios of Sierra Leone: A Unique Heritage linked to Britain and beyond’, Black History Month Magazine [co-authored], [circulated with the Telegraph newspaper], October 2013

Summary: Co-authored an article highlighting the unique culture and heritage of the Sierra Leone Krio people, a small ethnic group in the peninsula of Sierra Leone.

Black History Magazine 

‘The Krios of Sierra Leone: Celebrating their heritage and discoveries’, Black History magazine publication, October 2013 [co-authored]

Summary: Co-authored an article on the discoveries and contributions of Sierra Leone Creole medical doctors to the discovery of sickle cell, Blackwater fever, and the analysis of the breakdown of insulin in the human body.

The Network for Change [Web Article]

‘The Importance of History, Part 1’, The Network For Change, 20 August, 2013

Summary: Outlines the historical importance of Sierra Leone and particularly the need to preserve oral histories and archival records contained at the Sierra Leone Public Archives in Freetown, Sierra Leone. (...)

Presentations:

‘Thomas Peters and the founding of Freetown’, Krio Descendants Union, Southwark City Council and Sickle Cell Society Black History Month event, The Crypt, St. Peter’s Church, 12 October, 2012

Summary: Prepared and researched a presentation given before an audience of 130 people; the presentation received the highest rating as the most interesting aspect of the event based on feedback surveys filled in by the audience.

‘A presentation on Dr. Davidson Nicol’, Krio Descendants Union, Southwark City Council and Sickle Cell Society Black History Month event, The Crypt, St. Peters Church, 12 October, 2012

Summary: Prepared a presentation on Dr. Davidson Nicol, the first scientist to analyse the breakdown of insulin in the human body, before 130 people; the presentation received high ratings in feedback surveys filled in by the audience.

‘Black History in London: The Sierra Leone and Caribbean connection’, Krio Descendants Union, Southwark City Council Black History Month event, The Crypt, St. Peters Church, 11 October, 2013

Summary: Prepared and researched a presentation given by Dr Morgan Dalphinis before an audience at a Southwark Black History Month Event; the presentation received the highest rating of the event based on feedback surveys completed by the audience.

‘An Overview of Krio History, Webinar, Roots to Glory

Summary: Prepared and gave a web presentation on Sierra Leone Krio history to an African American audience who had undertaken DNA tests and had ancestral ties to Sierra Leone.

‘An Overview of Krio History’, Sickle Cell Society, Liverpool Maritime Museum, 4 October, 2014

Summary: Prepared and gave a presentation on the connection between the discovery of sickle cell and Sierra Leone Krio history to an audience at the Liverpool Maritime Museum.

‘Stella Marke and Frances Wright: Pioneer Female Lawyers’, ‘Acknowledging the Legacies of our past generations: Celebrating Early Krios from Sierra Leone’, Krio Descendants Union, Southwark City Council Black History Month event, The Crypt, St. Peters Church, 10 October, 2014

Summary: Prepared presentation on Stella Thomas and Frances Wright, the first West African female lawyers.

‘Samuel Ajayi Crowther’, ‘Acknowledging the Legacies of our past generations: Celebrating Early Krios from Sierra Leone’, Krio Descendants Union, Southwark City Council Black History Month event, The Crypt, St. Peters Church, 10 October, 2014

Summary: Prepared and researched a presentation on Samuel Ajayi, the first African to be consecrated as an Archbishop of the Church of England. Presentation was given before an audience comprised of Sierra Leoneans.

‘Lieutenant M.C.F. Easmon in the First World War’, ‘Acknowledging the Legacies of our past generations: Celebrating Early Krios from Sierra Leone’, Krio Descendants Union, Southwark City Council Black History Month event, The Crypt, St. Peters Church, 10 October, 2014

Summary: Prepared and gave a presentation on Lieutenant Macormack Easmon, a Sierra Leonean who was possibly the only black African to serve as a British officer in the First World War.

‘Adelaide Casely-Hayford: An African nationalist, educationalist, and feminist’, ‘Acknowledging the Legacies of our past generations: Celebrating Early Krios from Sierra Leone’, Krio Descendants Union, Southwark City Council Black History Month event, The Crypt, St. Peters Church, 10 October, 2014, URL: http://youtu.be/ibP7gc_06KY

Summary: Prepared and gave a presentation on Adelaide Casely-Hayford, one of the few Sierra Leoneans to permanently settle in Britain during the late Victorian era.

‘John Henry Smythe: A Sierra Leonean Pilot in the Second World War’, Krio Descendants Union, Southwark City Council Black History Month event, The Crypt, St. Peters Church, 10 October, 2014.

Summary: Prepared and researched a presentation on John Henry Clavell Smythe, a Sierra Leonean pilot in the Second World War who was one of the first West Africans to serve in the Royal Air Force.

‘An Overview of Krio History’, Sickle Cell Society, Black and Asian Workers’ Group, Home Office of the United Kingdom, 16 October, 2014

Summary: Prepared and gave a presentation on the connection between sickle cell and Sierra Leone Krio history before the Black Workers’ Group at the Home Office.

'Black Englishmen': Sierra Leoneans in the British Archives,’ ‘What's Happening in Black British History? A Conversation,’ Institute of Commonwealth Studies, The Chancellor’s Hall, Senate House, London,’ 30 October, 2014

Summary: Researched and gave a presentation on the links between the development of the Sierra Leone Creole community and Black British history.

 (...) Media appearances

Short Documentary Clip

Krio Descendants Union London Luncheon Sale 2013 Highlights, URL: https://www.youtube.com/watch?v=yWRriuLj4Bw

Television 

Africa Wrap with Charles Aniagolu, Arise News Network, 9 October, 2014, URL: http://www.arise.tv/arise-news-show/africa-wrap-09-10-8614.

Summary: Appeared as a historian and member of the Krio Descendants Union to discuss Sierra Leone Creole history and the 2014 Southwark City Council Black History Month event.

Princess of Arize with Princess Deun, Black Entertainment Network, 4 April 2013, URL: http://youtu.be/TGN1D7htkok, URL 2: http://youtu.be/VpzfXgv0-Ys, URL 3: http://youtu.be/ryQEObIdPmo

Summary: Appeared as the lead historian for the Krio Descendants Union delegation.

Blog radio 

‘The Importance of History: Can events and experiences of our past shape our future’, Powordful conversations with Olive Lazure-Guillias, Blog Radio, 9 October, 2013, URL: http://www.blogtalkradio.com/olivegl/2013/10/09/can-events-and-experiences-of-our-past-shape-our-future

Summary: Invited to discuss the importance of history and my research focus on Sierra Leone (...)


Guiné 63/74 - P14639: Memória dos lugares (292): Reordenamento e destacamento de Nhabijões (António Mateus, Guifões, Matosinhos; ex-1º cabo at inf, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Junto a um abrigo em Bambadinca: o  António Mateus (1º  cabo at inf), ao centro; à direita o 1º cabo cripto, Gabriel Gonçalves...

São dois membros da nossa Tabanca Grande e partiram para a Guiné no mesmo dia que eu, no mesmo transporte de tropas, o Niassa, em 24 de maio de 1969... Vai fazer este ano 46 anos... Pertencíamos todos a uma estranha companhia que só levava meia centenas de graduados e especialistas, a CCAÇ 2590, mais tarde CCAÇ 12, formada por praças (uma centena) do recrutamento local...

À esquerda, parece-em ser um 1º cabo condutor auto, de quem me lembro perfeitamente, mas não sei o nome... Recentemente perdi o contacto (telefónico) do Mateus, estou á espera de o recuperar  para pora poder esclarecer este e outros pontos... O emdereço de email do Mateus é do genro, Emanuel...




Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Destacamento de Nhabijões  (?) > O 1º  cabo António Mateus, no  espaldão da bazuca 8.9. (Houve diversos acidentes mortais com esta arma, totalmente desadequada para a luta antiguerrilha; para defesa de umn destacamento ou tabanca não era má, operada a partir de uma vala ou espaldão, e à falta de artilharia, sempre podia causar alguns estragos aos assaltantes; pelo menos, fazia barulho...).


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Destacamento de Nhabijões  (?) > O 1º Cabo António Mateus, com um instrumento tradicional balanta, de cordas... O camarada à sua esquerda deveria pertencer à CCS do batalhão que estava em Bambadinca (possivelmente BART 2917, 1970/72).



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Destacamento de Missirá ou Nhabijões (?) > O 1º Cabo António Mateus, à esquerda, com um camarada que não consigo identificar (possivelmente operador de transmissões ou condutor)....



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Destacamento de Missirá ou Nhabijões (?)  > Vendo meljhor a base do monumento, esta foto deve ter sido tirada já no final da comissão do António Matues (1º trimestre de 1971), em Nhabijões... 

Inicialmente pus  a hipótese de ter sido numa altura em que o 3º Gr Comb da CCAÇ 12, (comandando pelo alf mil at inf Abel Rodrigues)  esteve em reforço do Pel Caç Nat 52, em Missirá (, quando este era comandado pel alf mil Beja Santos), mas isso só poderia ter sido  antes do Mateus ter sido ferido, portanto, antes de 7 de setembro de 1969.... 

Na base do monumento, constam os aquartelamentos por onde andou o Pel Caç Nat 52, "Os Gaviões" (cuja divisa era "Matar ou Morrer"): por ordem cronológica, Porto Gole, Enxalé, Missirá, Bambadinca e Nhabijões... Deve ter sido depois do fim da comissão do Beja Santos, no 1º trimestre de 1970, e portanto já em Nhabijões... O Pel Caç Nat 52 esteve em Bambadinca, tendo o Pel Caç Nat 63, do Jorge Cabral, ido guarnecer Missirá.  

Do lado esquerdo estão os nomes dos camaradas do Pel Caç Nat 52 mortos em combate: (i)  1º cabo Pires, soldados  (ii) Abdulai Camará, (iii)  Sadjo Baldé e (iv) Uam Sambú (, morreu na missão do sono, em Bambadincazinho, em 1/1/1970, em resultado de acidente com arma de fogo).

Talvez o Beja Santos e o Jorge Cabral possam dar mais pormenores sobre esta foto.



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Destacamento de Nhabijões  (?)  > O António Mateus o primeiro da direita... Ao centro,  um condutor auto,lembro-me perfietamnete da sua cara bem como do camarada a seu lado...

O reordenamento de Nhabijões (com cerca de 3 centenas de moranças) era o maior ou um dos maiores então em construção no CTIG... Foi um perfeito disparate, um sorvedouro de dinheiro, um elefante branco!... Está por fazer o balanço, no nosso blogue, das experiências de reordenamentos no CTIG.


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Destacamento de Nhabijões (?) > O António Mateus, ao centro, com a G3 às costas, junto a um curso de água... (Seria o Rio Undunduma ?).

Fotos: © António Mateus (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]



1. Mais fotos do álbum do meu camarada da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (1969/71), António Mateus, de seu nome completo António Braga Rodrigues Mateus. As fotos vieram  sem legenda. 


Nasceu em 18 de novembro de 1947. É casado com a Laura, tem uma filha. E fez-nos chegar, através do email do seu genro, Emanuel Azevedo (mais conhecido por Tito), as fotos da praxe, bem como mais aklgumas que já publicamos

O António Mateus foi gravemente ferido na Op Pato Rufia, em 7 de setembro de 1969, e evacuado para o HM 241. No meu caso, foi o meu batismo de fogo... . Eu estava a escassos metros dele. 

Depois de ter estado emigrado em França. fixou-se em Guifões, Matosinhos onde é vizinho do Albano Costa, e tem hoje o seu negócio próprio

Depois de regressar do hospital, em data que já não posso precisar (talvez finais de 1969, princípios de 1970), o António Mateus foi integrado na força que defendia o destacamento do reordenamento de Nhabijões, composto por militares (em geral, com algum "handicap" físico, resultante de ferimentos em combate ou acidente) da CCAÇ 12, da CCS do BCAÇ 2852 (e depois do BART 2917) e outros (como o Pel Caç Nat 52). Creio que ficou lá o resto da comissão. Também eu passei por lá, pro Nhabijões... (LG)

PS - O pessoal de Bambadinca deste tempo (1968/71) vai reunir-se, em mais um convívio anual, na Trofa, no dia 30 de maio de 2015.

_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 14 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14613: Memória dos lugares (291): Bissau, Bambadinca e Farim, em 2011 (José Maria Sousa Ferreira, ex-viola solo do conjunto musical "Os Bambas d'Incas", Bambadinca, 1968/70)

Guiné 63/74 - P14638: Parabéns a você (907): Mário Pinto, ex-Fur Mil Art da CART 2519 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 19 de Maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14633: Parabéns a você (906): Francisco (Xico) Allen, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 3566 (Guiné, 1972/74)

terça-feira, 19 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14637: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (5): A caminho de Nhala

1. Em mensagem do dia 12 de Maio de 2015, o nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), enviou-nos mais uma página do seu Caderno de Memórias.


CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74


5 - A CAMINHO DE NHALA

28 de Abril de 1973 (sábado) – A caminho de Nhala

Partimos para o interior sul da Guiné, destinados ao Sector S-2, com sede em Aldeia Formosa. Amanhã partirá o resto do Batalhão. A viagem, por rio até Buba, fez-se em lanchas da Marinha, LDG ou LDM, já não recordo. Depois de amontoar o pessoal, bagagens e equipamentos, a lancha entra Rio Grande de Buba acima. Fico desconcertado com o estuário do rio, desmesurado, parece que ainda estamos no oceano. Mais adiante, as margens do rio, longínquas, entram com a sua vegetação densa e assustadora água adentro. Ou é o rio que se agiganta floresta dentro em ambas as margens? Começam a aparecer os primeiros afluentes, qual deles o mais grandioso. Para quem, como eu, ignora tudo de navegação, fica admirado de o piloto ir tão seguro, no meio do rio, sem embicar por engano num daqueles afluentes. Começa a anoitecer. A lancha, que até aí avançava a toda a potência, de repente, apaga todas as luzes e passa a seguir de mansinho, com os motores a ronronar em surdina, num som cavo e profundo. Daí a pouco não se vê nada e perde-se a noção da trajectória do barco. É como se vogássemos no breu, sobre o silêncio sepulcral do rio e da floresta. Demora até que os olhos se habituem à escuridão e comecem a distinguir a massa escura das margens. O pessoal, como sempre muito expedito, acomoda-se como pode, a monte, e prepara-se para passar a noite na paz possível do momento. Nota-se uma certa apreensão com aquelas margens. Nunca se sabe quando dali pode surgir um ataque. Eu, sempre inapto para me acomodar de qualquer maneira, vagueio nas zonas menos apinhadas mas acabo por me sentar de encontro à cabine da lancha numa espécie de arca de chapa que, afinal, é a blindagem de um motor eléctrico. Sinto por baixo de mim a vibração do motor e uma zoada contínua e incomodativa. Daí que estivesse livre o lugar, penso. Fico virado para a amurada de bombordo e para a margem negra onde julgo ver duendes e afins que correm no escuro acompanhando a lancha. Mas o cansaço e as emoções vencem-me e adormeço beneficiando da lassidão que me dá o ronronar da lancha.

De repente acordo ao som de tiros, estremeço, abro os olhos e é dia. Ferido pela luz, semicerro os olhos, levanto-me e tento perceber o que está a acontecer à minha volta. Os tiros - de G3 - continuam, mas como todos estão serenos em redor, alguns ainda dormindo e outros cavaqueando entre risadas, sento-me de novo tentando aquecer e endireitar o pescoço que está afectado pela posição em que dormi. Mais tiros. Percebo que é à proa e, irritado, levanto-me para ver o que passa. Espantoso! Um marujo munido de garrafas vazias vai-as atirando com força lá para a frente e outro, de G3 em punho, tenta acertar-lhes na água enquanto não se afundam. Fiquei furioso. Apeteceu-me abordá-los e perguntar-lhes se a barca não tinha patrão... Mas contive-me, não fossem atirar-me borda fora. Por outro lado - há sempre um outro lado -, comecei a ficar mais tranquilo em relação à segurança da viagem: se estavam naquela galhofa em pleno dia, deviam saber que o podiam fazer. Era porque estávamos a chegar e o perigo tinha ficado para trás. E não me enganei. A lancha parecia seguir a toda a potência mas, subitamente, abranda e vira um pouco à direita. Descobre-se um cais e os primeiros edifícios de Buba, até aí encobertos pela densa vegetação da margem. O rio, tão dentro já do território, continua ainda imponente.

Estamos, enfim, em Buba, a dois passos de Nhala. O espectáculo que vislumbro da amurada, virado para a ponte-cais e a rampa de terra vermelha que leva aos primeiros edifícios do aquartelamento – que por serem num ponto alto ocultam a tabanca e o resto -, deixa-me, nesse instante, uma imagem tão amável de África, tão marcante, que nunca mais esqueci. Mas tanto pode ser a “porta” de entrada para o Éden, como para o inferno. Só o tempo revelará.

Bem no cimo, à esquerda, um edifício de tipo colonial e uma enorme árvore florida de vermelho - jacarandá (?) -, chamam a atenção ainda antes do desembarque. Do lado direito, junto de uma árvore de porte e altura descomunais, percebe-se um dos edifícios do aquartelamento.

Buba, 1973 – Vista a partir da rampa que vem do rio. Slide feito muito depois do dia da chegada, a partir de um ângulo oblíquo em relação à primeira visão e num dia sem esplendor.

Buba, 1973 – Vista parcial do aquartelamento, lado direito, obtida de costas para o rio.

Buba, 1973 – Ao cimo da rampa com o Rio Buba ao fundo.

Buba, 1973 – Fotografia da praxe para impressionar a namorada e a família. Eu, sobre o obus 14.

Buba, 1973 – Fotografia da praxe para impressionar os amigos. Bajudas e mulheres de Buba.


29 de Abril de 1973 (domingo) – Coluna auto para Nhala. 

Desembarcamos e tudo foi descarregado da LDG para o chão firme, e daí para cima das viaturas que nos aguardavam para nos levarem a Nhala. A tropa que nos veio buscar, pela indumentária desleixada e pelos rostos duros e mal-amanhados, parece gente que sempre viveu ali, no pó e no perigo sob aquele sol escaldante. Mas o seu à-vontade e desembaraço, muito nos tranquilizou e deu confiança para entrarmos picada fora, tentando imitá-los no que desse e visse.

[Nesta altura não poderia ainda saber que, no espaço de poucos meses, todos nos confundiríamos: no aspecto desleixado, no desembaraço/desenrascanço mas, também, no medo e na fome, na sede e nas loucuras. Qualquer que fosse a parte do território que calcorreasse, ficava impressionado com a uniformidade do aspecto e do comportamento das tropas. Tirando os nossos antecessores do caqui amarelo, é de supor que sempre assim tenha sido, em toda a parte, antes e depois de nós].

Íamos, pois, a caminho de Nhala. Os meus soldados iam um bocado tensos, armas viradas para o mato e ar preocupado mas, os “velhinhos”, iam mais descontraídos e felizes, pois seríamos nós a rendê-los, mais tarde ou mais cedo, terminada que estava, quase, a comissão deles. A coluna corria, ora ligeira, ora muito lenta, aos solavancos devido ao piso irregular em certos troços. A picada era também muito estreita na maior parte do trajecto, havendo zonas em que as árvores e o capim alto, quase nos roçavam a cara. A certa altura, em campo mais aberto e a exigir outras atenções, passamos junto do que me pareceu um canavial, cheio de ninhos pendurados, para lá do qual se via uma bolanha (Bolanha dos Passarinhos?). Desse lado, mesmo junto da picada, vejo com espanto e confusão, uma tabuleta com a indicação «PISCINA» apontada para a bolanha e para o mato além dela. Por momentos, com ingenuidade, cerrei o sobrolho e interroguei-me: Piscina, num lugar destes? Breves segundos. Percebi logo que, apesar das agruras da guerra, alguém com humor e imaginação tentara amenizar a tensão aos passantes. Pela minha parte conseguiu-o.

[Na verdade, viria a encontrar muitos outros sinais deste libertador humor e, na picada que sai de Nhala para Mampatá, até encontrei uma placa, entre outras, que indicava «FIGUEIRA DA FOZ», virada para o matagal. Quando fiz esse trajecto pela primeira vez, tive “um baque”, mesmo perante o óbvio anacronismo. Mas sempre que passava por lá, coisa estranhíssima, ver aquela placa aquecia-me a alma, mesmo se depois me abalroassem a melancolia e a nostalgia. Era também frequente ver nas velhas picadas, pregados no alto das árvores, os emblemas e os brasões de Unidades que por aquela região se haviam fixado, feitos em tampas de bidons, alguns pintados a primor. Pareciam feitos para perpetuar memórias mas, ao mesmo tempo, podiam também ser um sinal para o inimigo: estamos aqui. Não sei. Sei apenas que as novas vias asfaltadas, que rasgaram a região, cobriram com um manto de esquecimento todas essas memórias].

Entre Buba e Nhala eram cerca de 13 quilómetros. Estamos quase a chegar e a expectativa aumenta. Para o bem e para o mal, será a nossa base nesta guerra. É domingo, pois, nesta tarde soalheira de 29 de Abril de 1973. [Quem diria que neste mesmo dia, cinco anos depois, nasceria a minha única filha: a Joana].

A coluna entra em Nhala pela esquerda duma tabanca e depois vira quase a 90 graus e pára no troço que separa a tabanca do aquartelamento. É um conjunto populacional e militar separados apenas pela via que prossegue para Mampatá e Aldeia Formosa.

(continua)

Texto e fotos: © António Murta
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Último poste da série de 12 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14603: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (4): Segunda semana de campo

Guiné 63/74 - P14636: Agenda cultural (400): Apresentação do livro do Capitão-de-Mar-e-Guerra da Marinha dos EUA John Cann, "Contra Insurreição em África, 1961-74, O modo português de fazer a guerra" e "A Marinha em África – Angola, Guiné e Moçambique – Campanhas Fluviais", dia 20 de Maio, pelas 15 horas, no IASFA/Cooperativa Militar, na Rua de S. José, Lisboa (Manuel Barão da Cunha)

















 C O N V I T E


O Generais Presidentes do IASFA, da Liga dos Combatentes e da Comissão Portuguesa de História Militar convidam para o dia 20 de Maio, pelas 15 horas, no IASFA/Cooperativa Militar, na rua de S. José, Lisboa, para a apresentação da obra literária do Capitão-de-Mar-e-Guerra da Marinha dos EUA John Cann, que falará em Inglês, autor de "Contra Insurreição em África, 1961-74, O modo português de fazer a guerra". Ed. Atena, 1999 Lisboa, Prefácio, 2005 (2.ª edição actualizada); e "A Marinha em África – Angola, Guiné e Moçambique – Campanhas Fluviais". Lisboa, Ed. Prefácio, 2009. Academia de Marinha.
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14634: Agenda cultural (399): 8ª edição do festival Rotas & Rituais, 2015... Os 40 anos de independência dos países africanos de expressão oficial portuguesa... Conferências, exposições, cinema, música...Lisboa, Cinema São Jorge, de 22 a 29 de maio de 2015... Cerca de 25 eventos, tudo ou quase tudo de entrada gratuita... Alguns destaques: Filhos do vento (exposição), Filhos da guerra (conferência), Lantanda (cinema), "My heart of darkness" (cinema), Os Tubarões (música)...

Guiné 63/74 - P14635: Ser solidário (183): Parto para Bissau no dia 29 e levo alguma ajuda para a Associação Fidju di Tuga (que ainda está por legalizar) (Catarina Gomes, jornalista e escritora)

1. Da nossa amiga Catarina Gomes, jornalista do "Público" e autora do livro "Pai, tiveste medo ?" (Lisboa, Matéria Prima Edições, 2014):


Data: 19 de maio de 2015 às 10:27
Assunto: Filhos do vento

Caros Carlos Vinhal e José Nunes,


Parto para a Guiné dia 29 de Maio, onde estarei até 5 de Junho, precisamente para tentar escrever sobre esta associação [, Filhos de Tuga,] que surgiu na sequência de uma reportagem feita por mim já lá vão dois anos, no Público:

http://www.publico.pt/temas/jornal/em-busca-do-pai-tuga-26784585


Estou a tentar angariar e levar o que a associação me pediu, já tenho uma máquina fotográfica digital dada por um ex-combatente, um gravador áudio dado por um filho de ex-combatente, falta o computador portátil. (*)

Estou também a tentar que tenham uma conta para receber donativos a partir de Portugal, consegui que tenham a possibilidade de ter uma sem comissões no Banco da África Ocidental, que está em articulação com o Montepio mas dizem-me do banco precisamente que eles precisam de ter a
escritura feita e eles não têm verbas para isso. Não sei como se resolve este problema antes da minha partida...

Fernando Hedgar da Silva. presidente
da associação Fidju di Tuga
Deixo-vos o contacto do presidente Fernando Hedgar da Silva:
002455880597

E o email: shedgar.fds@gmail.com

Nem sempre os contactos são fáceis.

Deixo-vos também um convite para estarem presentes na exposição e conferência para debater precisamente  o tema dos filhos do vento e que eu ajudei a organizar, é esta sexta, dia 22, no cinema São Jorge. (**)

Ao vosso dispor,

Catarina Gomes


2. O nosso camarada José Nunes, e mail de 18 do corremte, ja nos tinha alertado para a situação da associação Fidju di Tuga, ainda não legalizada. Esse email foi reencaminhado para a Catarina Gomes:

Camarada, está a ser criada na Guiná a Associação Fidju di Tuga, segundo me informaram carece de tudo,e para a sua legalização e escritura notarial não dispõem de verba. Não seria possivel sensibilizar os nossos camaradas do Blogue e fazer-mos uma "quete"e enviar para Bissau, para assim ajudar aqueles filhos de nossos Camaradas que por lá foram abandonados ?!

Penso que com a ajuda da AD seria mais fácil concretizar.

Abraço
José Nunes
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 12 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14602: Ser solidário (182): Vamos apoiar, com material de escritório, a Associação Fidju di Tuga, com sede em Bissau