quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15117: Os nossos seres, saberes e lazeres (115): Un viaggio nel sud Italia (6): Em Tivoli, Villa Adriana e Villa Gregoriana (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Agosto de 2015:

Queridos amigos,
Acreditem que é verdade, para quem gosta da Antiguidade, belos jardins e natureza edénica, Tivoli é um destino fabuloso.
Já vos tinha falado de Villa d'Este, um interior cheio de arte e jardins inesquecíveis.
Quando lera o clássico de Marguerite Yourcenar "Memórias de Adriano" ficara-me aquele travo de conhecer o complexo monumental que ele aqui construíra, com magnificência e requinte. E lera que Villa Gregoriana era um dos lugares mais cantados de sempre, Goethe sentira-se deslumbrado quando aqui viera visitar a grande cascata, o Vale do Inferno dentro de uma envolvente prodigiosa. Asseguro-vos que foi um dos dias inesquecíveis da minha vida.

Um abraço do
Mário


Un viaggio nel sud Italia (6)

Beja Santos

Em Tivoli, Villa Adriana e Villa Gregoriana


Foi um dia inteiro, de manhã cedo a quase o sol-posto, a deambular por estas duas famosas maravilhas de Tivoli e do património mundial. Villa Adriana espalha-se pelo vale e em termos arqueológicos é um dos sítios de maior significado da Roma antiga. A vila foi construída pela vontade de Adriano que acompanhou pessoalmente o projeto (118-138 depois de Cristo). Tem estas muralhas gigantescas, pode-se adivinhar a monumentalidade dos conjuntos, ruas e pontos de passagem, espelhos de água, termas, bibliotecas, teatros e templos. Adriano é imperador quando Roma está no auge das fronteiras e do acesso às riquezas. Deve ter tido meios suficientes para pôr de pé esta vila com 300 hectares. Para sabermos um pouco dele, temos uma obra-prima de Marguerite Yourcenar, “Memórias de Adriano”, à nossa disposição, e é bem fácil: a sua cultura, o seu humanismo, a sua conceção do poder, a sua tristeza e reflexão sobre a mortalidade depois de ter morrido Antínoo, a paixão da sua vida.




O turista é confrontado por uma manhã com um sol de fornalha, há felizmente água nalgumas bicas, é sempre urgente dessedentar-se, e então parar pausadamente nas construções que restam desta vila monumental: as habitações da guarda pessoal do imperador, o vestígio de umas termas, um lago onde o imperador tinha refeições, podendo ver do outro lado um templo de grandes dimensões.




O lago foi concebido com todos os requintes, com imensa estatuária, há para ali umas cariátides que lembram o Pártenon, de Atenas, o templo era imenso, e não resisti a guardar imagem deste crocodilo que Adriano deve ter contemplado muitas vezes.


Para quê torturar o leitor com dezenas e dezenas de imagens com o que resta das pequenas e grandes termas, o Canópio, o Palácio Imperial com a Praça Dourada, o Teatro Marítimo, o edifício dos Cem Pequenos Quartos, o Poecilo? Como num jogo do rato e do gato, a fugir ao braseiro do sol, e a suspirar por um granitado ou uma coisa mais fresca pelas goelas abaixo, por ali circulava e aconteceu esta imagem que tanto me compraz, é o resto de um templo ao lado das grandes termas, e se não é exatamente assim o imperador Adriano que me perdoe, mas presto-lhe homenagem por ter construído o que construiu, estou satisfeito pelo claro-escuro e o céu azul de tons ferretes. Já chega, ando aqui há horas a fio, o estômago a bater horas, impõe-se o repouso, espera-me outro espetáculo, a Villa Gregoriana.


Ainda o imperador Adriano não sonhava em construir aquele complexo monumental e houve para aqui uma vila de Manlio Vopisco que foi destruída por uma enxurrada, este rio Anio não é para brincadeiras. Mas as cascatas deste lugar fazem parte deste antigo lugar romano então chamado Tibur, passou a ser uma etapa obrigatória para peregrinos, viajantes e artistas que iam a caminho de Roma. Goethe passou pelo Tivoli e escreveu que tinha visto um dos espetáculos naturais mais extraordinários, tratava-se de uma paisagem que “nos enriquece o mais íntimo da alma”. De onde vem a fama multisecular da Villa Gregoriana? Aqui entrelaçam-se mito, natureza e história, o mito de bosques sagrados, das águas que descem para os infernos, passando pelas grutas de Neptuno e das sereias, aqui se escondia a Sibila, a divindade dos oráculos, e a Vila impôs-se tendo no topo a acrópole e os templos.




Visita-se a Villa Gregoriana não só para admirar a grande cascata, mais de 100 metros de água a jorrar em catadupa, mas há condutas realizadas artificialmente após a grande catástrofe de 1826 que levaram a redefinir a organização deste espaço edénico, o turista sabe que tem um mar de tranquilidade à sua espera, um desfrute paisagístico ímpar, alguém trabalhou para isso. Em 1828, o governo pontifício (Tivoli pertencia ao Papado) decretou grandes obras, e é no tempo de Gregório XVI (1831-1846) que se encontrou uma solução para salvar a cidade da fúria das águas construindo canais artificiais que levam as águas do rio diretamente para fora da cidade. E por ali andamos a subir e a descer, a bisbilhotar grutas, a ouvir a água em cachoada, os lugares selvagens e a composição harmónica do ecossistema, entramos em túneis das águas, admiramos o Vale do Inferno e até podemos imaginar o efeito devastador que terá tido o bombardeamento de 26 de Maio de 1944. Depois, este espaço de natureza eleita ficou transformado em vazador do lixo, foi necessário uma grande recuperação que ainda hoje é tutelada pelo Fundo Ambiental Italiano. Foi um dia e peras. Vou jantar um excelente ossobuco, a contemplar esta bela cidade de Tivoli. Parto amanhã cedo para a mais esperada das paragens, Assis. Ainda não sei que uma maravilhosa experiência está à minha espera. Eu depois conto.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15093: Os nossos seres, saberes e lazeres (114): Un viaggio nel sud Italia (5): Em Tivoli, passeio alucinatório em Villa d’Este (Mário Beja Santos)

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15116: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (20): De 5 a 21 de Agosto de 1973

1. Em mensagem do dia 12 de Setembro de 2015, o nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), enviou-nos a 20.ª página do seu Caderno de Memórias.


CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74 

20 - De 5 a 21 de Agosto de 1973


Da História da Unidade do BCAÇ 4513:

AGO73/05 – Durante a Op. “OUSADIA SATÂNICA”, na região (GUILEGE 3 E 8-93) foi detectado GR IN NEST (grupo inimigo não estimado) progredindo no sentido S/N que ao aperceber-se da presença das NT, após breves disparos, se pôs em fuga, não tendo resultado a perseguição que lhe foi movida. Dada a ausência absoluta de guias para a região do UNAL era fundamental conseguir-se capturar algum elemento IN que pudesse servir de guia. Chuvas intensas e constantes prejudicaram toda esta acção.

AGO73/06 – No prosseguimento da Op. “OUSADIA SATÂNICA”, surgiram alguns casos de doença entre as NT (paludismo, esgotamento, etc.) que obrigaram a fazer regressar uma das CCAÇ até BOLOLA para promover as evacuações. Três horas depois novos casos de doença surgiram e dada a impossibilidade de prosseguir a operação, por o objectivo ainda estar muito distante, não haver guias, se ter perdido o trilho e as NT se encontrarem esgotadas pelo esforço e pelas chuvas que continuam a cair insistentemente, foi determinado o regresso das forças a BUBA. [Sublinhados meus].

AGO73/07 – As forças empenhadas na Op. “OUSADIA SATÂNICA” foram autotransportadas para os respectivos aquartelamentos.


Do Resumo dos Factos e Feitos do BCAÇ 4513: [Tudo em maiúsculas no original]

D – Por determinação do CCFA o BCAÇ 3852 que já havia terminado a comissão, desloca-se para BISSAU a fim de embarcar para a Metrópole. O BCAÇ 4513/72 assume a responsabilidade do Sector S-2, com as suas companhias sediadas em A. FORMOSA, BUBA e NHALA, além de duas companhias de reforço sediadas respectivamente em MAMPATÁ e CUMBIJÃ. É durante este período que chega ao sector o BCAÇ 4516, que substitui na missão de intervenção na área de CUMBIJÃ-NHACOBÁ o BCAÇ 4513/72. A missão do Batalhão agora de quadrícula, abrange todo o Sector S-2, com excepção da subsector de CUMBIJÃ atribuída ao BCAÇ 4516.


Das minhas memórias:

7 de Agosto de 1973 – (terça-feira) – O regresso a “casa”. 

Era o tão aguardado regresso a casa: Nhala, finalmente. Ainda que quase todos combalidos, ainda que com um futuro de muito esforço pela frente, ainda que sujeitos a actividades de risco, nada importava, se pudéssemos sempre regressar a casa. Por poucos dias ainda estaríamos em sobreposição com a CCAÇ 3400 do BCAÇ 3852 que viemos render, mas depois tudo ficaria por nossa conta. Era uma sensação indescritível, que nos incutia confiança e optimismo. Quando cheguei a Nhala vi que a cobertura da minha palhota-estúdio/fotográfico tinha sido arrancada em parte, por maldade de um macaquinho domesticado pela população (segundo me disseram). Em plena época das chuvas o efeito no material e nos equipamentos foi devastador e definitivo. O que numa situação normal me causaria profunda tristeza, naquelas circunstâncias somente me deu pena. Às urtigas o “estúdio”! O importante era que tinha regressado a casa.

Às 00h01 do dia 10, (preciosismo da tropa), o Sector S-2 passou para a responsabilidade do BCAÇ 4513. Era como se nos houvessem devolvido os territórios que tinham sido sempre nossos. Para os protegermos, protegendo-nos a nós, ainda teríamos muitas canseiras mas, no final regressaríamos a casa. Já não era sem tempo: tínhamos chegado ali em Abril e só então, já entrados em Agosto, parecia termos destino definitivo. Havia que limpar os lustres e os espelhos, mudar os cantos à casa, arejar e sermos felizes. Patacoadas... No resto dos dias nem sempre foi assim.

Carta para a Metrópole:

Com data de 10 de Agosto, em carta para a namorada, depois de pedir desculpa pela longa ausência de correspondência e como que a justificar essa ausência, dou nota de detalhes das operações atrás referidas a caminho do Unal, que se me haviam apagado completamente da memória, mas também do meu optimismo em relação ao regresso a Nhala. (...).

”Estou há três dias em Nhala e, desta vez, creio que será definitiva a minha estadia aqui, a menos que, novamente surjam alterações imprevistas. Estou a recompor-me lindamente dos efeitos causados por estes últimos tempos. [Sobre a ida ao Unal]: Houve uma altura em que se supôs que já lá não iríamos, até que o Comandante do Batalhão foi a Bissau falar com o Spínola para que ele autorizasse o nosso regresso aos locais que nos tinham distribuído ao princípio, ou seja, a minha Companhia vinha para Nhala, e as outras iriam para os respectivos sítios, enquanto Cumbijã e Nhacobá seriam ocupados pelo Batalhão novo que está a chegar. O General autorizou os nossos regressos, mas pouco depois impôs como condição a nossa ida ao Unal. [Não tenho a menor ideia desta informação].
(...) Todas as companhias estão desfalcadas de pessoal por doença e, o meu grupo, por exemplo, tinha passado de 21 para 7 homens apenas.
(...) [Sobre a primeira operação, “Ousadia”]. Saída no dia 1 do destacamento de Cumbijã para o mato. Algumas horas a andar à chuva e dormida no mato. Noite perturbada pelo ruído de barcos a motor no estreitíssimo rio que teríamos que atravessar, mas não podemos denunciar a nossa presença. Partida de manhã (cerca de 250 homens). Depois de algum tempo a andar, caímos numa emboscada junto ao tal rio.
(...)  [Depois do regresso a Cumbijã], descansámos o resto do dia mas, no dia seguinte, fazem-nos sair em viaturas até Buba, onde também descansámos o resto do dia. Nessa altura eu já não aguentava mais e resolvi não alinhar no dia seguinte. [Inicia-se a operação “Ousadia Satânica”].
(...) Chegaram a pouco mais de meio caminho e houve novo contacto com os turras, quando os nossos surpreenderam uma enorme coluna apeada de carregadores, fortemente defendida por militares. Houve “festa rija” e o pessoal prosseguiu, chegando a andar cerca de 30 km. Como já tinham dormido no mato duas noites, e já se tinham acabado as rações de combate, além de andarem já com mais doentes nas macas, resolveram regressar. [A seguir faço comentários a uma reportagem passada aqui na televisão sobre a inauguração – não sei de quê -, feita pelo Ministro do Ultramar na Guiné. Ao cenário montado para a cerimónia, chamo-lhe uma fantochada que envolveu cerca de 3000 homens (não visíveis) na protecção e que, ainda assim, na véspera, entre eles houve um soldado pára-quedista morto e vários feridos].

[Acabo a carta dizendo que eram 24 horas e estava a escrever ao livre, de vez em quando sobressaltado por disparos na cercadura do aquartelamento].

“(...) É que os rapazes que estão de vigia nos postos são da Companhia “velhinha” que nós viemos render e, como daqui a 6 dias vão embora por terem terminado a comissão, estão excitadíssimos e não param de dar tiros”.


Da História da Unidade do BCAÇ 4513:

AGO73/08Regressou a CUFAR o Exmo. Coronel CURADO LEITÃO, Comandante do CAOP-1. que fizera PC (Posto de Comando) em A. FORMOSA durante a Op. “OUSADIA” e Op. “OUSADIA SATÂNICA”. [Sublinhados meus].

AGO73/09 – (...)

AGO73/10 – A partir das 00.01 o Sector S-2 passou à responsabilidade do BCAÇ 4513.

AGO73/12 – Em 121315AGO73, GR IN estimado em 40 elementos foi interceptado por forças da 1.ª CCAÇ na região (XITOLE 2 F 0-20). O IN reagiu com armas automáticas e RPG sem consequências para as NT. O IN sofreu 3 ou 4 feridos a avaliar pelos rastos de sangue. Foram capturados 3 elementos da população, um dos quais DEMBA DJASSI, de 17 anos, aluno da ESCOLA PREPARATÓRIA MARECHAL CARMONA DE BISSAU, confessou estar voluntariamente com o GR IN. Foram todos enviados à REPINFO/CCHEFE. Foram apreendidas 2 GR/RPG ao IN.

AGO73/14 – Deslocamento para Buba do Comando e CCS/BCAÇ 3852 e CCAÇ 3399.

AGO73/15Chegada ao Cumbijã do 1.º escalão do BCAÇ 4516, constituído pela sua 1.ª CCAÇ.


Das minhas memórias: 

15 de Agosto de 1973 – (quarta-feira) – Os que partem e os que chegam.

Começou o movimento extraordinário de colunas auto entre A. Formosa/Buba/A. Formosa. De saída, passou no dia anterior para Buba parte do BCAÇ 3852. Deviam ir felizes, imagino, mas exauridos por uma comissão muito prolongada para além do tempo normal. Nesta data (15), passaria no sentido Buba/A. Formosa a 1.ª CCAÇ do novo batalhão (BCAÇ 4516) com destino ao Cumbijã. Fui com o meu grupo fazer a protecção à coluna na picada Nhala/Mampatá. Saímos cedo e instalámo-nos perto de Samba-Sabali, creio, sob uma chuva gelada. Gelada, mas pior que todas as outras que antes nos flagelaram. (Seguem-se umas fotografias de um dia assim, mas no aquartelamento de Nhala, submetido a verdadeiro dilúvio).

Foto 1 - Aproximação do dilúvio. Cada um foge como pode.

Foto 2 - Começa o dilúvio. Seria assim também para quem estivesse no mato.

Foto 3 - Fotografia na direcção da luz, que era cada vez menos embora se estivesse a meio da tarde.

Foto 4 - Fotografia feita para o lado oposto, que era a saída para a fonte. Parecia noite.

Voltando à mata de Samba-Sabali. Foi uma espera longa e martirizante e, apesar de estarmos habituados à chuva, nunca antes tínhamos passado tanto frio. Recordo bem que tive de sair da mata para ficar na picada em pé, de braços e pernas abertos, por não suportar o contacto da roupa gelada com a pele. E foram horas assim. Num aerograma para a Metrópole refiro que estava um céu de chumbo, dia escuro, e de chuva tão prolongada e fria que, apesar de serem 15 horas, tinha as mãos azuis.

Só mais tarde e com menos chuva, passou então a coluna. Como era hábito, o meu pelotão estava invisível na mata e eu junto à picada a dar sinal da nossa presença e de que tudo estava bem.

Fiquei a ver passar aqueles rostos assustados, ainda sem saberem que iam para o inferno. Às tantas, entre todos aqueles soldados anónimos, reconheci um e tive um “baque”. Fitei-o sempre até perder de vista a sua viatura e, julgo, ele também me reconheceu. Era o Manel. O Manel era um rapazinho do interior, - Beiras ou Norte -, do nosso querido Portugal que, como tantos outros, era analfabeto. Isto nos anos 1972/73 do século XX e em plena Europa Ocidental, etc., etc. (Tinha acrescentado mais uma notas mas nem as transcrevo, porque se o tema já na época me era insuportável, ainda hoje me deixa furibundo. Podem-me vir falar do colégio de Bissau, de Luanda ou de Lourenço Marques, para as elites já se vê, mas neste rectângulo de 1 por 2 metros, fora das grandes cidades e do litoral, poucos completavam a instrução primária. Era o atraso, a miséria e o desamparo que imperavam. Sei do que falo, pois fiz a minha instrução primária por várias escolas do Norte e do Centro e fiquei marcado por tanta miséria que vi. Cheguei a ir descalço sobre a neve para a escola da Praia de Esmoriz, (1961-62), quase 2 km, em solidariedade com os desgraçados dos meus companheiros que era assim que andavam sempre. Fi-lo à revelia dos meus pais que achavam que eu não resolveria nada com a solidariedade. Mas fi-lo, e depois ainda tinha de dar parte do meu pão com marmelada quando na escola enxameavam a pedir uma “bucha”. Mais a Norte, do concelho de Paredes, nem quero falar).

Voltando ao Manel: era um analfabeto especial, não sendo único. Só sabia que era Manel, não sabia a data de nascimento, não sabia dizer de onde era, tão só o lugarejo onde nascera, não sabia para que lado era o Porto, Lisboa ou o mar. Não sendo doente mental, era tão primário e básico que o seu intelecto não devia ser superior ao de uma criança de menos de dez anos (dessa época). Para saber mais dele, pedi ajuda aos seus novos companheiros na tropa que me explicaram tudo, enquanto ele, com um sorriso de menino, se limitou a ouvir sem abrir a boca. Eram os seus amigos que o traziam no comboio para Tomar e, no sentido inverso, o deixavam na estação mais próxima do seu lugarejo, bem como lhe resolviam todos os pequenos problemas que se lhe deparavam na sua nova vida.

Quando formámos batalhão em Tomar e eu dei a formação de Especialidade ao que seria o meu pelotão, ele integrava-o como muitos outros analfabetos. (Em Nhala cheguei a ter uma classe de alunos que começaram pelo ABC e outros para fazerem a 4.ª classe). Salvo erro, dei como inaptos três soldados nessa Especialidade de Tomar, ele obviamente incluído, não sem alguma resistência dos superiores que viam escassear os homens que, para canhão, serviam perfeitamente. A minha ideia era safá-los da Guiné, nessa altura com a pior reputação em termos de guerra, e quando se dizia que os próximos batalhões iriam para Angola e Moçambique. Agora constato que, com as boas intenções, apenas prolonguei em muitos meses o seu tempo de tropa. Não recordo se tive oportunidade de o procurar após a instalação em Cumbijã.

O novo batalhão, agora a chegar, foi flagelado em Bolama com 8 foguetões. Houve 6 mortos e 15 feridos, quase todos da população. O meu batalhão escapou à regra, porque houve flagelações antes e depois de te termos lá estado.


Da História da Unidade do BCAÇ 4513: 

AGO73/17 – Em 172230AGO73, GR IN NEST dinamitou a estrada MAMPATÁ-COLIBUIA, numa extensão de 40 metros na região (GUILEGE 4 G 6-21) local situado entre os dois pontões destruídos anteriormente. NT reagiram com fogo de artilharia e morteiro.

AGO73/18A CCAÇ 3400 foi deslocada para BUBA, para seguir para BISSAU. [De Buba partiu, juntamente com a CCAÇ 3398, em LDG para Bissau no dia 19 e, para a Metrópole, em 8 de Setembro. (Da H. da U. do BCAÇ 3852)].

[Finalmente iria abandonar a minha palhota e passar a dispor de instalações boas e quase novas. Passaria a dormir numa cama de madeira, ter casa-de-banho, tudo paredes meias com a messe e o bar. O que é que se poderia querer mais? Sorte...].

AGO73/19 – Apresentou-se em A. FORMOSA vindo de BISSAU no NORDATLAS o novo Comandante do Batalhão – TEN COR INF.ª C. A. S. R.
- Chegaram a A.FORMOSA, vindos de BUBA o Comando e CCS/BCAÇ 4516 e a sua 2.ª CCAÇ.
- Em 191500AGO73, forças da CART 6250, quando procediam ao levantamento de minas NT na região (XITOLE 4G 7-22) encontraram cerca de 30 cargas trotil em petardos de 200gr, abandonados pelo IN aquando da sabotagem da estrada em 172230AGO73.

AGO73/20 – (...)

AGO73/21 – Comandante do Batalhão deslocou-se a NHALA e BUBA.
- Chegou de BUBA a 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4516.
- Em 211815AGO73 GR IN NEST flagelou durante 25 minutos o destacamento de CUMBIJÃ da direcção de NHACOBÁ com cerca de 40 GR CAN S/R 82 da região (GUILEGE 6 A 2-34) e 30 GR MORT 82 da região (GUILEGE 6 A 7-54) causando 1 morto e 3 feridos ligeiros às NT. NT reagiram com fogo de Artª e Mort. [Sublinhei a negrito].


Das minhas memórias: 

21 de Agosto de 1973 – (terça-feira) – Grande flagelação a Cumbijã).

Apenas chegados há quatro meses ao Sector e parecia já ter decorrido uma vida, tal a intensidade com que se viveu esse curto período de tempo. Este dia não fugiu à regra. Em Nhala recebemos o novo Comandante do Batalhão, a quem foi apresentado o pessoal e mostradas as instalações. Pessoa simpática e acessível, no final deixou-se fotografar com alguns dos graduados presentes.

Foto 5 - O novo Comandante do Batalhão Ten Cor C. A. S. R. ao centro com o Comandante da Companhia Cap. B. C. e um grupo de alguns graduados. Eu sou o primeiro da direita à frente. (Fotografia adquirida em Nhala)

Não era sem tempo a sua vinda para o Batalhão, substituindo o Comandante Interino Major D. M. sobre quem, até à data, tinha pendido toda a responsabilidade dos atribulados meses antecedentes.

Chegou de Buba com destino ao inverosímil aquartelamento de Nhacobá a 3.ª CCAÇ do novo BCAÇ 4516. Nem quero pensar no choque que deve ter sido para estes “periquitos”.

Cumbijã foi mais uma vez flagelada mas, agora, com uma brutalidade inusitada, havendo um morto a registar e vários feridos. Mereciam melhor sorte, estes infaustos valentes. Em carta de 23-08-1973 para a Metrópole, dou conta de mais este duro golpe para a CCAV 8351 de Cumbijã, e refiro ter sofrido um morto a Companhia do Cap. Vasco da Gama que ainda devia estar na Metrópole de férias. Dos feridos, um em estado grave, digo que pertenciam à nova Companhia ali instalada há uns dias apenas, (1.ª CCAÇ do BCAÇ 4516). (...).

Este ataque certeiro a Cumbijã, sempre o supus, devia ter sido o resultado do aperfeiçoamento, ao longo das anteriores flagelações, dos militares de IOL (Informação, Observação e Ligação) do PAIGC formados na ex-URSS. Isto sabia-se mas faltavam elementos que o confirmassem. Dizia-se que conseguiam pôr uma granada de canhão dentro do espaldão dos nossos obuses. Só precisavam de um bom ponto de observação próximo do alvo. Certo dia, no regresso do mato com o meu grupo vi, acima das copas altas das árvores, uma palmeira que sobressaía em altura das demais e que tinha algo de diferente que, de longe, parecia um serrote vertical. Andámos às voltas até chegar junto dela e, nunca visto, tínhamos à nossa frente um tronco enorme com degraus desde o chão até ao topo. Eram travessas de madeira pregadas ao tronco pelo centro, fazendo um “degrau” para cada lado. Isto aconteceu nas imediações de Cumbijã. Era, de certeza, um posto IOL. Já não recordo mas, devo ter destruído o escadório ou registado a sua posição para a comunicar ao Comandante de Companhia.

Resumindo este 21 de Agosto, diria que foi muito marcante para todos: para nós do BCAÇ 4513 porque, várias vezes flagelados em Cumbijã sem consequências, pensámos então com alívio, mas sem gáudio, obviamente, que sorte tivemos de já não estarmos lá; para os “periquitos” do novo Batalhão porque, mal chegados, apanharam um susto que os deve ter deixado em pânico e a maldizer a sorte; e para a CCAV 8351 que, repito, tem sido martirizada no seu próprio aquartelamento, para não falar das acções espinhosas em que esteve envolvida. Aproveito para, a todos esses bravos Tigres do Cumbijã, render a minha sincera homenagem: aos seus mortos e aos que resistiram e ainda resistem.

(continua)
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Nota do editor

Poste anterior da série de 8 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15087: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (19): De 26 de Julho a 4 de Agosto de 1973

Guiné 63/74 - P15115: (Ex)citações (293): Os MiG fantásticos que determinaram o abandono da Guiné (Manuel Luís Lomba)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705,  Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), com data de hoje, 15 de Setembro de 2015:

Olá, camarada e amigo Carlos Vinhal. 

Enquanto a "peste grisalha" dos combatentes não desaparecer, a Guerra da Guiné e as suas circunstâncias cairão na História e não cairão no esquecimento. 

Envio-te o meu contributo.

Abraço 
Manuel Luís Lomba


Os MiG fantásticos que determinaram o abandono da Guiné

Neste mês de Setembro, efeméride da declaração unilateral da independência da Guiné, José Matos, investigador vocacional, António Martins Matos, soldado dos seus céus e outra malta da Tabanca Grande, revisitaram a Operação Mar Verde e debateram a prestação de MiG fantásticos, para o desfecho intempestivo da guerra da Guiné.

Andei a esgaravatar esse chão e biquei o seguinte.

Essa operação a Conacri, a maior além fronteiras, depois dos Descobrimentos, ousara a resolução simplista da Guerra da Guiné – morto o bicho, acabava a peçonha – empreendida por uma pequena força anfíbia, dirigida a 26 objectivos, que alcançou êxito completo em 21 e falhou 5.

Dos primordiais, libertou os 26 camaradas em cativeiro na prisão privativa do PAIGC e afundou a marinha do PAIGC, mas falhou o golpe de Estado, a captura de Amílcar Cabral, do seu Estado-Maior e a destruição no solo dos MiG, dada a ausência de meios para os destruir em combate.

O falhanço desses objectivos será devido ao vício ou dolo das informações, encomendadas pela PIDE aos Serviços Secretos franceses, à tibieza do Conselho Superior de Defesa Nacional, do seu presidente Marcelo Caetano e dos outros, a dirimir a Guerra da Guiné nos gabinetes em Lisboa.

Por fuga de informação escapada na véspera (dizia-se com origem no Estado Maior português) o inquieto Sekou Touré temeu o envolvimento da sua aviação, que conotava à oposição, desterrou os seus 8 MiG  para Labé, a 150 quilómetros de distância, que ficaram inoperacionais, pelas más condições da pista e o despedimento dos seus pilotos-instrutores argelinos.

Amílcar Cabral encontrava-se na Roménia, em digressão pela Europa do leste, e o seu Estado-Maior ausentara-se de Conacri, em segurança.

Os portugueses começaram por neutralizar a Guarda Republicana, a sua guarda pretoriana, e quando o Chefe da polícia de Conacri e o Chefe do Estado-Maior-General se apresentaram no palácio, em sua salvaguarda, o ditador borrava-se todo, a oferecer-lhes a rendição, tomando-os por chefes vitoriosos de um putsh.

Os portugueses já navegavam no mar alto, na manobra da retirada, e o Secretário de Estado da Juventude conseguiu que um MiG levantasse voo, pilotado por guineano que, lá das alturas, começou a canhonear um cargueiro cubano ancorado no cais, convencido que bombardeava um vaso de guerra português.

Assim, as primeiras vítimas dos MiG que ensombravam a Guerra da Guiné foram a tripulação do cargueiro cubano Conrado Benitez e o diligente Secretário da Juventude, Alfa Diallo, que Sekou Toure mandou catrafilar na cadeia, por ter ousado comentar que a causa do insucesso fora devida ao despedimento dos pilotos argelinos…


Um exemplar do caça MiG 15, de origem soviética. Em 22 de Novembro de 1970, um dos objectivos da Operação Mar Verde era a destruição dos MiG 15 e MiG 17 estacionados no aeroporto de Conacri. Era uma ameaça real para a nossa Força Aérea e para os nossos aquartelamentos no sul da Guiné? A sigla MiG quer dizer, em russo, Gabinete de projectos aeronáuticos da URSS, que se especializou no desenho e construção de aviões de caça e de intercepção. Mikoyan e Gurevich são os apelidos dos seus dois primeiros engenheiros-chefes. O MiG 15, monolugar, com uma velocidade máxima de 1076 km/h, tornou-se célebre durante a guerra da Coreia. O MiG 17 combateu na guerra do Vietname... O MiG 19 já era supersónico... Fonte: Wikipedia (Foto: copyleft).


Amílcar Cabral tombou dois anos depois, passado pelas armas de correligionários em dissidência e Fidel Castro voou para Conacri, qual subempreiteiro da sanha soviética e internacionalista para correr Portugal da África a tiro, sempre mais preocupado com os outros que com o seu próprio povo, e em apoio moral e material a duas ditaduras – Sekou Touré e o PAIGC. Havana exportou logo 4 pilotos de MiG 15, chegados em Fevereiro, e 4 de MiG 17F, chegados em Maio de 1973, ofereceu ajuda técnica, canalizou avultada ajuda financeira e o aeródromo de Labé entrou em requalificação. Esses famigerados MiG  estariam mesmo inoperacionais: não foram vistos durante a crise dos “3G” – Guileje, Gadamael e Guidaje –, a despeito da continuada provocação dos cavaleiros aéreos de Bissalanca, no apoio aos soldados sobre a terra nas povoações fronteiriças, recorrentes na largada de “bilhas” sobre Candiafra, Simbeli e Koundara, depois de haverem derretido Cumbam-Hory.

O MFA nascia em Bissau, em Agosto de 1973, como extensão do PAIGC, ainda a lamber as feridas das suas vitoriosas derrotas em Gadamael, Guileje e Buruntuma, devidas ao dom da aviação de Bissalanca e à inexistência da própria que, coincidentemente, mandou 40 bissau-guineenses para Moscovo seleccionar e dar-lhes formação de pilotos e demais especialidades de aeronaves - muitos os chamados, mas poucos os escolhidos. A declaração unilateral da independência foi lida em Setembro, pelo que a resposta dada por Aristides Pereira ao Herbert está consentânea. Contudo, como não há aviões sem base, ninguém nasce piloto e a sua construção é demorada, nem os MiG nem os pilotos que fizeram o ronco em Bissau, após o MFA entregar a sua chave ao PAIGC, em 10 de Setembro de 1974, seriam bissau-guineenses.

Ciente da declaração da independência em Setembro de 1973, a União Soviética incluíra no seu Plano Anual de Desenvolvimento (orçamento de Estado) para esse ano, o fornecimento de MiG à Guiné-Bissau, a instalar numa base operacional, financiada pela doação de 10 milhões de coroas, prevista no orçamento do reino da Suécia para o mesmo ano. O problema era onde.

O presidente Senghor não a admitia no Senegal e Sekou Touré, escarmentado pela Operação Mar Verde, não queria MiG de outrem sobre a sua cabeça, mas terá chegado a admiti-la em Kampera, próxima à zona desertificada de Madina do Boé, a cerca de 100 quilómetros do aquartelamento de tropa portuguesa mais próximo, que seria Cubucaré. O problema ficou insolúvel: a opinião pública sueca opor-se-ia ao financiamento da construção dessa base, fora do território libertado pelo PAIGC…

Ante a ordem cronológica desses factos acontecimentais, o crescimento dos medos, temores, relatórios específicos, precauções e “caldos de galinha”, no seio da comunidade militar na Guiné serão legítimos; mas, naquela altura, não havia nem MiG´s nem pilotos bissau-guineenses a ameaçar o conforto das messes e da capital Bissau.

A crise dos “3G” da Guiné provocou o parto do MFA, o detonador da implosão da realidade política e social do Portugal africano.

Será mister aos combatentes, nomeadamente aos da Tabanca Grande, que viveram esse tempo e a sua circunstância, que sentiram a Guerra da Guiné no corpo e na alma, contraditar os mitos e bluffs a ela referidos e nunca se conformar com o branqueamento da verdade dos factos.

O Exército Português que servimos na Guiné foi o verdadeiro, fundado por D. Afonso Henriques, em 1127,  e, em desagravo da sua honra, mau grado as circunstâncias, trazemos à colação que a maioria dos camaradas mortos e feridos no contexto da famigerada crise dos “3G” não foram tombados nem por MiG nem pelo poderoso poder de fogo da sofisticada artilharia do PAIGC, mas pela pugnacidade dos seus guerrilheiros e sapadores, pisando o chão dos campos de batalha.

E ainda que bastaram dois soldados do ar de Bissalanca e a sua audácia, para prevenir em Buruntuma, o destacamento mais exposto da Guerra da Guiné, a recorrência do facto acontecimental do abandono e destruição de Guileje…

Abraços – e até ao meu regresso.
Manuel Luís Lomba
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15096: (Ex)citações (292): Cruzei-me, por certo, com o José Matos, pai, entre março e maio de 1964, no RC 7, e depois no sul da Guiné... E aviões estranhos, só vi os das rotas aéreas internacionais (Manuel Lomba, ex-fur mil, CCAV 703 / BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66; autor do livro "Guerra da Guiné: a batalha de Cufar Nalu", Faria, Barcelos, 2012)

Guiné 63/74 - P15114: Inquérito online: num total de 86 votos apurados, mais de metade (53,5%) diz que que no seu tempo "já se falava da existência de aviões inimigos nos céus [do CTIG]"... Mário Gaspar, ex-fur mil, da CART 1659, garante que viu 3 MiG no cruzamento de Gadamael/Guileje, no final da comissão, em meados de 1968... Ao Jorge Canhão (3ª C/BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74) mostraram-lhe, na secretaria, fotos de MiG 15 e MiG 17 para comparar com os nossos Fiat G-91

MiG 17F - Cortesia do portal Área Militar > Aviões e helicópteros....
[Edição: LG]
A. Sondagem: 


"No meu tempo, já se falava da existência de aviões inimigos nos céus da Guiné"




Resultados finais apurados, num total de 86

1. Sim, já se falava > 46 (53,5%)

2. Não sei / não me lembro > 9 (10,5%)

3. Não, não se falava > 31 (36,0%)

Sondagem fechada em 14/9/2015 às 16h54




B. Comentário, enviado em 12 do corrente, do nosso amigo e camarada Mário Gaspar, cuja saúde não vai bem, e a quem desejamos força e coragem:


[Mário Vitorino Gaspar: ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68;ex-dirigente da Associação APOIAR]



Caros Camaradas, depois de um iluminado ter a grande ideia interessante de em pleno "corredor da morte" plantar o "inferno de Gadamael", a minha Companhia a CART 1659,  após ataques do PAIGC a Guileje, foi chamada a dar apoio.

Ao chegar ao cruzamento Gadamael/Guileje,  o PAIGC fugiu, deixando no solo granadas e porta-granadas (tenho fotos, uma pode ser vista no meu Livro "O Corredor da Morte"). Estávamos no fim da Comissão e as preocupações eram muitas principalmente em Guileje, Gandembel (um verdadeiro inferno, e é pena que esses nossos camaradas que muito sofreram apareçam a narrar suas histórias). Ganturé (destacamento de Gadamael Porto) também tem as suas histórias, os três mortos da 1659 faziam parte dos militares de Gantureé. 

Enquanto a CART 1659 monta segurança no "cruzamento".  sobrevoam três MiG sobre nós. Disse, em voz alta: 
- Estamos fodidos, se estes começam a intervir!...

Mas tudo ficou guardado no tal baú do esquecimento. Quando for descoberto - duvido pela simples razão de me ser dito nos tais "Recursos Humanos" do Porto, e não sei a razão dos mesmos terem saído de Lisboa, afinal está ainda ser a capital. Pois aquilo que entendi foi que não existem só as Cadernetas Militares e os Processos Individuais como uns outros "Documentos escondidos e proibidos ou talvez confidenciais". 

Talvez até quem acabou por ser o tal Abibo Injassom, o Régulo de Ganturé, isto porque existe a versão, que não se digo ser verdadeira, ter sido um indivíduo entregue ao regime, existem situações que jogam em seu favor, sei ser verdade, mas depois tudo joga contra, lembrar a "Operação Rinoceronte", quando andou perdido 11 dias o Silva. Conheço o suficiente para desconfiar desse Abibo, Tenente de 2ª linha e tendo um nome que quer dizer AMOR. 

Os MiG estiveram lá e não entendo porque não actuaram logo, sendo verdade ter o napalm, e não só, sido utilizado por nós. Somente muito após o 25 de Abril se assumiu. 

Gostava que este meu testemunho fosse público e os camaradas comentassem: (i) não esquecer Madina de Boé: e (ii) não esquecer a saída de Guileje para Gadamael, que considero a única alternativa, e alguns camaradas condenam; em Bissau existiram muitos juízes.
Um abraço a todos, e difíícil para mim. Estou doente e não sinto os dedos e o telemóvel é táctil. Tive de encurtar o texto. Mário Vitorino Gaspar 


Guiné > Região de Tombali > Buba; Junho de 1973 > 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612 (1972/74) > O Jorge Canhão, "na LDG [, Lancha de Desembarque Grande,] a caminho do inferno [, Gadamael]", em reforço temporário ao COP 5, de 18 de junho a 13 de julho de 1973.

Foto: © Jorge Canhão (2011). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


C. Comentário (*)  do Jorge Canhão, que vive em Oeiras (ex-Fur Mil At Inf da 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74):

No tempo em que estive na Guiné (Out 72 a Ago 74) nunca vi nenhum MiG, no entanto foi-me apresentado um pequeno "álbum de fotografias" na secretaria da minha companhia  (3ª C/BCaç 4612/72) onde estavam pelo menos 3 fotos dos MiG 15 e outras tantas do MIG 17, em diversas posições para se comparar com as fotos do Fiat G 91.

A minha reacção nesse momento foi:
- O que fazemos?...Saudamos os aviões, ou "atacamo-los" de G3 ?...

Defesa anti-aérea ?...só de fisga. Eram as FFAA que tínhamos...carne para canhão.

Abraços

Guiné 63/74 - P15113: Parabéns a você (963): Ribeiro Agostinho, ex-Soldado TRMS da CCS/QG/CTIG (Guiné, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 10 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15097: Parabéns a você (962): Rui Baptista, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3489 (Guiné, 1971/74) e Tony Grilo, ex-Soldado Ap Artilharia do BAC 1 (Guiné, 1966/68)

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15112: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte XIII: Férias na metrópole, 1969: fotos aéreas da chegada a Lisboa...


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3



Foto nº 4


Foto nº 5

Portugal continental > 1969 > Vistas aéreas do território... Fotos tiradas do avião da TAP, Bissau-Lisboa... É fácil reconhecer as fotos de Lisboa e estuário do Tejo (nºs 1, 2 e 3) bem como a do  cabo Espichel, na pensínula de Setúbal  (nº 4): estão claramente identificados o farol (1) e o santuário de nossa senhora do cabo Espichel (2)... Tenho dúvidas sobre a nº 3:  será a margem sul do rio Tejo ? será o estuário do rio Sado ? ou a ria Formosa ?...

O Jaime ficou de mandar as legendas... E escrever algo mais sobre as suas férias de 1969...  Na época, não havia avião direto para o Porto... Presume-se que o Jaime tenha apanhado o comboio para chegar depois até casa, na Senhora da Hora, Matosinhos...

Entretanto, fica aqui o convite para mais camaradas falaram das suas férias na metrópole, aqueles de nós, felizardos, que conseguiram vir de férias à metrópole, pelo menos uma vez... Excecionalmente houve quem conseguisse vir duas vezes...

Terão sido as melhores férias das nossas vidas ? Que recordações temos dessa viagem (de ida e volta) e do tempo de férias ? Será que conseguimos pôr a guerra entre parênteses ? Onde passámos as férias ? Junto da família e dos amigos ? Sei que alguns aproveitaram para... se casar!... Seguramente ninguém veio, à metrópole (ou à Madeira, ou aos Açores...),  fazer turismo... Já estávamos, muitos de nós, "apanhados do clima", quando chegámos a casa, com muitos meses de Guiné...

Julgo que a maior parte de nós - dos que tiveram a sorte de poder vir de férias à metrópole - vieram tentar carregar baterias e respirar à tona de água... Não foi fácil, em muitos casos nem sequer  terá sido bom... Vinha-se a meio da comissão, e ainda faltava a outra metade... Foi penoso voltar para a guerra, em muitos casos... Falo, pelo menos, por mim... Confesso que não tenho recordações felizes das "férias" que fiz na metrópole, em meados de 1970, um ano depois de ter chegado à Guiné... (LG)

Fotos: © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]


1. Continuação da publicação do belíssimo álbum fotográfico do Jaime Machado, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, maio de 1968 / fevereiro de 1970, ao tempo dos BART 1904 e BCAÇ 2852) (*):


[foto atual à esquerda; o Jaime Machado reside em Senhora da Hora, Matosinhos; mantém com a Guiné-Bissau uma forte relação afetiva e de solidariedade, através do Lions Clube; voltou à Guine-Bissau em 2010]


Recorde-se que o  Jaime Machado tinha sob o seu comando um pequeno grupo de pessoal: Pel Rec Daimler 2046, num total de 14 elementos... Chegou a Bambadinca dia 7 de maio de 1968, tendo ficado às ordens do comando do BART 1904 (Bambadinca, maio /setembro 68) e depois do BCAÇ 2852 (Bambadinca, outubro 68/fevereiro 70). Conheci-o em julho de 1969, quando a CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 ficou adida ao setor L1 (Bambadinca). O Jaime Machado e os seus bravos deixaram Bambadinca em fevereiro de 1970.

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Guiné 63/74 - P15111: Agenda cultural (423): Convite para a apresentação do livro "Cabra-Cega: Do seminário para a guerra colonial", da autoria de João Gaspar Carrasqueira, dia 17 de Setembro de 2015, pelas 15 horas, na ADFA (Associação dos Deficientes das Forças Armadas), Av. Padre Cruz, em Lisboa. A apresentação estará a cargo do Dr. Mário Beja Santos (António Marques Lopes)

1. Mensagem do nosso camarada A. Marques Lopes, Coronel Inf, DFA, na situação de reforma, ex-Alf Mil da CART 1690 (Geba, 1967) e da CCAÇ 3 (Barro, 1968), com data de 12 de Setembro de 2015:

Caríssimos
Quando foi anunciado o lançamento do livro em Matosinhos houve várias ideias para que fosse apresentado também na zona sul. Vai ser feito agora.
Envio-vos, com pedido para que seja publicada, a notícia dada pelo jornal "Elo" da ADFA.
Tive de fazer-lhe correcções porque tinha erros (podem ver a notícia original pela consulta do jornal de Agosto 2015).

Abraço
A. Marques Lopes

C O N V I T E

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Nota do editor

Último poste da série de 14 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15109: Agenda cultural (422): Almeida: Museu Histórico Militar: Exposição Temporária: “Guerras Peninsulares - Recriação de um Acampamento Militar”, até 30 de setembro

Guiné 63/74 - P15110: Notas de leitura (756): “Direitos Humanos na Guiné-Bissau, Eu conto como foi!”, por Fernando Gomes, Chiado Editora, 2014 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Outubro de 2014:

Queridos amigos,
Fernando Gomes é uma notabilidade política da Guiné-Bissau, em 2012 era Ministro do Interior, foi deposto e partiu para o exílio onde escreveu as suas memórias como fundador e presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, ajudou a criá-la no início da abertura democrática e só deixou de ser presidente a partir do momento em que passou a exercer funções políticas como deputado e depois ministro.
É uma oportunidade para se ficar a conhecer os enviesamentos de todo o processo político a partir da abertura ao pluripartidarismo até ao golpe militar de 2012, estão ali processos incríveis, prisões arbitrárias, graves desmandos contra os direitos humanos na Guiné-Bissau.

Um abraço do
Mário


Direitos Humanos na Guiné-Bissau: Eu conto como foi

Beja Santos

“Direitos humanos na Guiné-Bissau, eu conto como foi!”, por Fernando Gomes, Chiado Editora, 2014, é uma detalhada narrativa da ascensão dos direitos humanos, que muito devem à tenacidade e motivação daquele que fundou e presidiu durante muito tempo a Liga Guineense dos Direitos Humanos.

Fernando Gomes doutorou-se em Direito Internacional, matriz das ciências jurídicas que nunca mais abandonou. Entre 1991 e 1992, já à frente da Liga, foi o promotor e coordenador da Campanha Nacional de Luta pela Abolição da Pena de Morte na Guiné-Bissau. Em 1996, foi laureado com Prémio Internacional dos Direitos Humanos de Espanha e no ano seguinte foi eleito Vice-Presidente da Federação Internacional dos Direitos Humanos. No campo político, de 2004 a 2008, foi deputado da Assembleia Nacional Popular. De 2008 a 2011, foi Ministro da Função Pública, Trabalho e Modernização do Estado. De 2011 até ao golpe de Estado de 2012, foi Ministro do Interior da Guiné-Bissau. Este seu livro foi escrito no exílio, o seu autor quer mostrar como vale a pena defender o direito à paz, ao pão e à liberdade do seu povo, é um testemunho sobre a luta pela afirmação dos direitos humanos num país onde até há pouco campeou a arbitrariedade e a prepotência indiscriminadas.

Ele conta como, com dezasseis anos, foi preso pela primeira vez, ele fundara a Comissão Estudantil de Bambadinca e a JAAC – Juventude Africana Amílcar Cabral denunciou-o como sabotador. Foi sujeito a interrogatórios duros. Deveu a sua liberdade a Buscardini, então Secretário-Geral do Ministério do Interior. A partir daí, fizeram-lhe o reconhecimento a sua dinâmica militância. Conclui do seu douramento em Leninegrado, começou a trabalhar em Bissau como assessor do Procurador-Geral da República, com ele virá a ter desinteligência, pôs o seu lugar à disposição e logo conheceu a retaliação, veio a Polícia Judiciária e despejou-o de casa. Por sua vez, Nino Vieira demitiu o Procurador-Geral da República. Em 1991, conseguiu criar a Liga dos Direitos Humanos da Guiné-Bissau, de que se afastará em 1999, quando decidiu candidatar-se à presidência da República. Estava lançado na política, e hoje dela sofre as consequências.

Com detalhe, descreve a criação da Liga, com quem, como, a rede de estruturas, os apoios financeiros de países cooperadores, como dentro da Liga foi criado o Gabinete de Assistência Jurídica à Criança e à Mãe, como lutou pela abolição da pena de morte, como a Liga se sentiu gratificada e motivada com a construção do entro de Formação de Direitos Humanos, em Quinhamel. O conflito armado da Guiné-Bissau, de 1998 a 1999, levou a Liga a intervir, foi criado o Observatório Internacional dos direitos humanos para o conflito armado da Guiné-Bissau e, simultaneamente, o Movimento Nacional da Sociedade Civil para a Paz, Democracia e Desenvolvimento, a quem continua ligado.

Conta histórias verídicas e prende-nos a atenção, a sua prosa vibra e não lhe recusamos sinceridade, logo o caso de 50 africanos presos, em Julho de 1996, em regime de extrema desumanidade, numa esquadra em Bissau, africanos de várias nacionalidades, negociados pelas autoridades espanholas e o governo guineense, e transportados pelos próprios espanhóis, eram indesejáveis e por isso foram deportados. A Liga desencadeou com o apoio da Amnistia Internacional uma intensa campanha para forçar as autoridades espanholas a receber de volta as 50 pessoas igualmente deportadas. As pessoas acabaram por ser postas em liberdade, cada um seguiu o seu destino. A Liga interveio também no caso dos “Anguentas”. Com o desfecho da guerra civil, muitos dos jovens militares que tinham lutado por Nino Vieira foram presos, alguns foram mortos e outros andavam a monte. A Liga pediu à Junta Militar que lhe fosse confiada a guarda de todos esses jovens, comprometeu-se a prepará-los com vista à sua reinserção social. A Junta concordou e em cerimónia realizada na base aérea foram entregues os jovens militares, num total de 200.

Fernando Gomes fala do caso Vaz Mané, produtor radiofónico, detido em finais de Janeiro de 2003, sem culpa formada, alegadamente por ter criticado o então presidente da República, Kumba Ialá. A Liga condenou a sua tensão e igualmente endereçou uma carta aberta à comunidade internacional apelando à sua intervenção com vista à libertação de políticos como Carlos Correia, Francisca Pereira, Filinto Barros, entre outros. Vaz Mané voltou a ser preso no ano seguinte, e depois de exposto publicamente foi mandado para casa sem qualquer justificação. É extenso o rol de denúncias de perseguições e arbitrariedades. Em Novembro de 2000, aquando do assassinato de Ansumane Mané, muitos foram presos e torturados, Fernando Mendes foi um deles, depois eram libertados sem qualquer explicação convincente.

Mais adiante, relata ao pormenor uma tentativa de destruição da Liga, vários elementos da sua direção lançaram calúnias sobre gestão danosa da direção de Fernando Mendes, ele foi novamente preso, é um dos momentos mais empolgantes dados os aspetos tenebrosos do enredo.

O conjunto de documentos em anexo poderá revelar-se no maior interesse para os estudiosos: índice cronológico dos factos relatados sobre a Liga Guineense dos Direitos Humanos (1991-2000); Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos; Relatório sobre os Direitos Humanos nos PALOP.
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15101: Notas de leitura (755): A revista Visão e a BD da guerra colonial (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P15109: Agenda cultural (422): Almeida: Museu Histórico Militar: Exposição Temporária: “Guerras Peninsulares - Recriação de um Acampamento Militar”, até 30 de setembro




Almeida > Museu Histórico Militar > Cartaz da Exposição Temporária: “Guerras Peninsulares - Recriação de um Acampamento Militar” [ de 6 de agosto a 30 de setembro]




Vista aérea de Almeida e a sua famosa "estrela"... Cortesia de Turismo de Portugal > Centro > Museu Histórico Militar de Almeia [Edição: LG ]


1. A sugestão é do nosso amigo e camarada Eduardo Jorge Ferreira [ex-alf mil, PA, BA 12, Bissalanca, 1973/74,  nosso grã-tabanqueiro Eduardo Jorge Ferreira,  presidente da assembleia geral da Associação para a Memória da Batalha do Vimeiro...]


O Museu Histórico Militar de Almeida tem patente,  na sala de exposições temporárias de 6 de agosto a 30 de setembro, a exposição subordinada ao tema, “Guerras Peninsulares - Recriação de um Acampamento Militar”.

As figuras que se apresentam são representativas dos exércitos de então, são articuladas e permitem compor vinhetas ilustrativas do quotidiano de um acampamento militar aliado. 

Esta exposição faz parte de um projeto da Escola Secundária José Saramago, de Mafra,  intitulado, “As linhas de Torres e Mafra”.

É importante mencionar que o acervo resulta da compra de figuras comerciais e do trabalho manual dos alunos da escola, bem como da participação de artesãos locais, nomeadamente as fardas portuguesas.

[Fonte:  informação extraída do sítio da CM Almeida, com a devida vénia].


Data Início: 06-08-2015 | Data de Fim: 30-09-2015 17:30
Local Evento: Museu Histórico Militar de Almeida

2. Sobre o Museu Histórico Militar de Almeida vd. aqui vídeos e outros sítios na Net:

Museu Histórico Militar de Almeida ainda é pouco conhecido (Sapo Vídeos, 2009) (1' 34'')

Terceira Invasão de Napoleão a Portugal, em 1810  (You Tube, 2010) (7' 48'')

Recriação histórica do cerco de Almeida  (You Tube. ) (3' 


Evoquemos também a memória dos nossos camaradas mortos na guerra colonial (1961/74), naturais do concelho de Almeida: foram 15, dois dos quais na Guiné. Para informação mais detalhada, veja-se aqui a página do Portal UTW - Ultramar Terraweb, fundado e dirigido pelo nosso amigo e camarada António Pires.

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Nota do editor:

domingo, 13 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15108: Libertando-me (Tony Borié) (34): Oh pá, empresta-me aí três pesos

Trigésimo quarto episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66, enviado ao nosso blogue em mensagem do dia 7 de Setembro de 2015.




...Oh pá, empresta-me aí três pesos

Não queremos lembrar mais uma vez que lá fomos parar, porque um tal Álvaro Fernandes, por volta do ano de 1446, largando do sul da Europa, navegando quase sempre com terra à vista, alcançou território da Guiné, claro, escreveu as coordenadas no livro de bordo. Anos mais tarde outro navegador, de nome Diogo Gomes, achando curiosidade de onde vinha aquela água lamacenta, onde havia alguma vegetação, aquilo devia de ter interesse, sobe o rio Geba e pouco mais, até que outro explorador de nome Pedro Sintra, andou por lá, gostou daquela costa, pelo menos junto ao mar e recomendou a sua colonização, talvez por pessoas das ilhas de Cabo Verde, pois estavam habituadas ao calor infernal que por lá havia. Assim, forçados ou não, estabeleceram-se, formando uma aldeia em Cacheu, depois continuaram a exploração, no verdadeiro sentido da palavra, até que nós Europeus, lá fomos parar em defesa da nossa Pátria, da nossa bandeira.

Até aqui já todos nós sabemos, mas tenho uma questão que é, quanto ganhávamos nós, naqueles anos da “farda amarela”, lá na Guiné, em pleno cenário de guerra, como soldados ou 1.ºs Cabos? Não nos lembramos, mas cremos que o “pré” não chegava a quatrocentos escudos mensais. Metade ficava na Europa, para ajudar a sobreviver a mãe Joana e o pai Tónio, portanto andava pelos duzentos escudos mensais para pagar à lavadeira, cigarros, bebidas alcoólicas e outras despesas.

Era pouco? Muito pouco? Assim, assim? Francamente que era pouco, ao meio do mês já se andava à crava de cigarros, a solução era activar o sistema bancário do aquartelamento, que era um sistema em que acreditávamos, os mais poupados emprestavam aos mais gastadores, onde nós nos incluíamos, já nos conhecíamos, a palavra dada era um valor, pois só acreditando uns nos outros é que o dinheiro tem valor, sem essa credibilidade o dinheiro é apenas papel.


Um aceno, um gesto com os dedos, uma piscadela de olho entre nós, activavam a prática do sistema bancário. O “Mister Hóstia”, aquele soldado do Pelotão de Morteiros, muito educado e religioso, era o “Federal Banco de Reserva”, nós éramos, os outros, talvez o povo, onde existe algumas pessoas que, por isto ou por aquilo, em termos do tal papel impresso, a que chamam dinheiro, não conseguem viver com o miserável salário que auferem, mas o “Mister Hóstia”, uma pessoa simples que não conhecia o sistema actual de que emprestando muitas vezes, faz aumentar, às vezes centenas ou milhares de vezes, o valor do seu dinheiro. Ele emprestava muitas vezes e não fazia render o seu dinheiro, mas também não perdia, o seu lucro era a simpatia com que o tratávamos, além de pequenos presentes simples, como rebuçados e chocolates, às vezes roubados no bar, na messe dos sargentos, ou dizendo-lhe que sim, que íamos assistir à missa dominical, onde ele era um dos intervenientes.

O “Mister Hóstia” fazia favores, hoje, os favores matam mais do que uma bala traiçoeira numa emboscada no meio de uma savana ou daquele tarrafo e rios de lama, onde o catrapum-pum-pum da “costureirinha”, que era aquela maldita metralhadora com que os guerrilheiros nos combatiam, ou a explosão de uma granada de morteiro, nos martirizava e destruía lentamente.

Nós, hoje, somos impotentes na tentativa de parar a manipulação do dinheiro, porquê? Porque fomos ensinados a acreditar em pedaços de papel impressos, julgando que têm um valor especial e, porque sabemos que os outros também acreditam, por isso estamos dispostos a trabalhar todas as nossas vidas para o conseguir, o que estamos convictos que afinal, os outros também acreditam.

Tony Borie, Setembro de 2015.
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15078: Libertando-me (Tony Borié) (33): O Sonho Americano (3)/a>

sábado, 12 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15107: O segredo de... (26): Ser ou não ser furriel na data de embarque (Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil da CCAÇ 1546)

1. Em mensagem do dia 2 de Setembro de 2015, o nosso camarada Domingos Gonçalves, (ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68) enviou-nos o seu terceiro segredo.

Prezado Luís Graça: 
Confesso, por este meio, mais um dos meus pecados, 

Um grande abraço
Domingos Gonçalves

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Tinha no meu pelotão um furriel, (quando cometi este pecado ainda era cabo miliciano) do qual só posso dizer que era um bom rapaz.
Nado e criado na zona da Ribeira, no Porto, tinha todas as virtudes, e também alguns defeitos do ambiente em que crescera.
Uma das virtude, que cultivava, era a seguinte: Não gostava que lhe pisassem os calos.
Por isso, quando lhos calcavam, reagia mal. Daí que, entre ele e o comandante de companhia, que era especialista em calcar calos, gerou-se um sentimento de repulsa mútua.

O comandante, - na altura tenente -, andava à procura de uma oportunidade para lhe dar uma porrada. Estávamos num pequeno aquartelamento, no Pragal, perto do Cristo Rei, a aguardar embarque para a Guiné.
Num certo fim de dia, com outros colegas cabo milicianos, ele foi jantar num restaurante da zona, e embriagou-se. Coisas da vida, que aconteciam. Dadas as circunstâncias, as bebedeiras funcionavam, para alguns colegas, como uma espécie de refúgio, onde durante um pequeno período de tempo se esqueciam de um fantasma, que se chamava Guiné.

No regresso ao aquartelamento, devido ao estado em que se encontrava, perdeu, resumindo, o aprumo exigido a um militar fardado. O comandante da companhia, que andava à procura de um pretexto para dar uma porrada no rapaz, quando alguém o informou do sucedido, obrigou uma das testemunhas a elaborar a respectiva participação. Depois, por despacho, incumbiu-me de elaborar o processo de averiguações.

O cabo miliciano era do meu pelotão, e repugnava-me o facto de ser eu a propor qualquer porrada, face aos factos que fossem averiguados. Interroguei as testemunhas indicadas pelo autor da participação, que confirmaram que de facto tinham visto: o rapaz a vomitar, a contorcer-se, etc.

Interroguei o prevaricador, que confirmou os factos de que era acusado, mas que desabafou:
- Já viu a minha sorte! Vou para a Guiné como cabo miliciano. Sou casado! O gajo se puder, FFF.

Perguntei-lhe:
- Quem estava contigo no restaurante, durante o jantar? - Ele indicou-me o nome.

Voltei a perguntar:
- São teus amigos? Confias neles? Vão ser tuas testemunhas.
- Claro que confio.

Continuei:
- Então, se eles concordarem, vão dizer que durante a refeição tu não bebeste vinho, nem qualquer bebida alcoólica. Estavas mal disposto, e apenas bebeste água das pedras.

O rapaz olhou-me, com um olhar malandro que o caracterizava, sorriu-se, e perguntou:
- Vai fazer isso?
- Vou tentar, - respondi-lhe.

Interroguei, depois, os colegas que tinham estado com ele, pedi-lhe que lessem o texto do depoimento, com o qual concordaram.

Resumindo: Juraram por Deus dizer a verdade, e só a verdade, declarando que o colega estava doente, e que as cenas constantes na participação só podiam ser causadas pela forte dor de estômago, que já no restaurante o atormentava.

As conclusões foram óbvias. Não havia matéria que justificasse a aplicação de qualquer porrada. E entreguei o processo.

O comandante da companhia, - na altura tenente -, leu as conclusões, olhou-me com um olhar, daqueles olhares que nunca mais se esquecem, deu um murro na secretária, mas não disse qualquer palavra. Eu, também não abri a boca e, respeitosamente, retirei-me. E o cabo-miliciano, a partir da data do embarque, foi promovido a furriel, e a vida continuou...
Não houve porrada nenhuma, nem no Pragal, nem depois na Guiné.

Um abraço para todos os camaradas
Domingos Gonçalves
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15053: O segredo de... (25): A caneta do Governador (Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil da CCAÇ 1546)

Guiné 63/74 - P15106: Manuscrito(s) (Luís Graça) (64): Lisboa, sete colinas e uma paixão... E viva o Festival Todos 2015, 7ª edição - Lisboa, Colina de Santana, Campo Mártires da Pátria, de 9 a 13 de setembro de 2015


Festival Todos 2015 , 7ª edição. Colina de Santana, Campo Mártires da Pátria. Calçada de Santana, 10 de setembro de 2015. Atuação da Fanfarra Turbo Clap - Mazalda, França


Texto, fotos e vídeo: © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados


Lisboa, sete colinas, o rio, uma paixão




por Luís Graça 


Lisboa, sete colinas, o rio, uma paixão,
que deram origem
à arte e à ciência de fazer cocktails
de cores, sabores e sentimentos.

E tu, querida,
eras uma das meninas que ficava bem,
à janela, recortada,
em pórtico manuelino da Casa dos Bicos
ou nos vergéis
da estória da Nau Catrineta,
desenhando frágeis castelos de Espanha
nas areias movediças de Portugal.

Lisboa, menina e moça,
cidade de memórias e de afetos,
tu podias não saber nada de geografia,
nem da didática da educação de adultos,
nem da fisiologia do coração,
nem de macroeconomia,
nem de desenho a três dimensões,
nem do risco sísmico,
nem sequer do simples risco de existires e de estares viva,
mas sempre tiveste por perto
o estúpido pirata de perna de pau,
vesgo e maneta,
irrompendo os teus sonhos
com o pesadelo do sentimento de um ocidental
na ponta mais fina de uma espada,
guardada na Torre de Belém.

Lisboa,
o casario, o castelo, a mouraria,
e, rente ao chão, a devoção,
a procissão da senhora da Saúde,
que nos valia nos anos de peste,
nos meses de guerra,
nas semanas de fome
e nos dias de depressão,
a depressão funda, cavada,
do vale de Alcântara até Xabregas.

Lisboa, a Torre do Tombo,
os livros, os incunábulos, os alfarrabistas,
as pedras, as cantarias, as traves mestras
que nos falam da cidade em construção,
dos arquitetos, dos trolhas, dos estucadores,
das gaiolas pombalinas,
dos tristes,
dos saudosos da partida,
dos pintores de tabuletas e de retábulos dourados das igrejas,
dos aguadeiros,
do poço do mouros e do poço dos negros,
dos almoxarifes,
dos vedores,
dos provedores,
dos coveiros da pátria,
dos enfermeiros-mores,
dos físicos e dos tísicos,
dos barbeiros-sangradores,
dos palácios e conventos bem postos e melhor compostos,

do Carmo e da Trindade, outrora de pedra e cal,
dos agiotas, das tenças e das mercês,
dos engenheiros hidráulicos,
dos agrónomos,
dos agrimensores,
dos silvicultores do pinhal 

quando el-rei faz anos,
dos santos inquisidores, 

dos pregadores dominicanos,
das freiras e das frieiras
que é coçá-las e deixá-las
no cemitério de todos os prazeres.

Ah, aí onde a vida acaba,
numa cena canalha,
na ponta de uma naifa no Bairro Alto das fadistas
e na Baixa Chiado dos seus chulos.
Mas não de tédio, minha querida,
diz o pregão da varina,
nem de desesperança,
que ainda a noite é uma criança,
e enquanto houver o 28 para a (Des)Graça,
com bilhete de ida e volta,
as Escadinhas do Duque
ou a Calçada do Combro
e os escombros do terramoto
por subir, trepar ou escalar.
E os filetes de alfaquique ou peixe-galo
com açorda de ovas
que não vão à mesa do rei,
e os pastéis de Belém, mesmo com IVA,
e o bife dos ricos à Marrare
e as iscas, dos pobres, com elas
nas carvoarias dos galegos
e o cheiro a carvão e a sardinha,
linda que tresanda,
nas ruelas e vielas dos bairros impopulares,
por fim reordenados,
e livres do tifo, da febre amarela,
da cólera, do bacilo de Koch
e das paixões cegas da alma.

E o Portugal very tipical do António de Ferro,
descalço e de barrete encarnado,
com que te quiseram tramar,
e as sécias e os peraltas da Belle Époque,
que a Avenida da Liberdade
acaba na rotunda das edificantes públicas virtudes
e no beco dos mais torpes vícios privados.

Tu, terna, eterna, Olissipo,
onde o azul do céu é único,
diz o ofício do turismo,
e nos leva a todos os caminhos do infinito.
Ulisses sabia-o
e bem guardado estava o segredo,
no mais fundo do tempo,
e por isso fundeou no estuário do teu Tejo,
e te fundou e fecundou,
e trouxe com ele a caixinha de Pandora,
e os perfumes inebriantes das mais belas:
troianas, fenícias, gregas,
cartaginesas, romanas,
celtas, ibericíssimas,
judias sefarditas, 
godas, visigóticas,
mouras encantadas,
berberes, azenegues,
futa-fulas, mandingas,
pretas da Senegâmbia,
crioulas de carapinha e olhos verdes,
ameríndias, guaranis,
umbundas e quimbundas,
de bunda larga,
bárbaras, belas, pérfidas, cruéis, ubérrimas,
santas e peregrinas,
errantes e penitentes,
místicas, algures perdidas,
loucamente perdidas e recolhidas
nos caminhos marítimos para as Índias.

Que te importa, amor,
se Lisboa já não é uma praça forte,
uma bolsa contra os valores
daqui d’el-rei,
que o paço e o terreiro,
o trono e a régia cabeça,
a casa da rainha e o infantado,
tremem e estremecem,
mas não caem,
entre o Martinho e a Arcádia,
na iminência de um atentado,
terrorista,
ou da implosão do euro.
Dantes chamava-se anarquista,
à bomba regicida,
quando a palavra de ordem era
a bolsa ou a vida,
abaixo o Estado!

E não havia as avenidas novas, do Ressano Garcia,
nem o risco dos arquitetos estadonovistas,
nem o cordão sanitário,
nem a construção a custos controlados,
nem o prémio Valmor,
nem o Siza nem o Carrilho nem o Moura,
nem o fundo de mão de obra,
nem o Dow Jones ou o NASDAK,
muito menos a apagada e vil tristeza
que te matou,
meu irmão Luís de Camões.

E estavas tu, querida,
postada à janela,
descalça e de xaile preto,
em sossego e bom recato,
com vistas largas para o casario, a sé, o castelo,
o mar da palha,
o mundo vário,
a rua do ouro e a da prata,
o augusto senhor dom José a mata-cavalos,
a serra, a arrábida fóssil,
a armada outrora invencível,
a ribeira das naus,
e as iscas com elas a cinco paus,
o turista, o voyeurista,
o motorista
do senhor ministro sem pasta
nem forragem para o gado na canícula do verão,
nem para os puros sangues lusitanos
da alcáçova dos senhores,
nem sangue nem soro para os heróis menores,
anónimos,
da guerra colonial,
que vieram morrer na praia do 10 de junho,
o velho do Restelo,
que já foi praia sem bandeira azul nem glória,
o velho do Restelo agora ainda mais velho
e mais estupidamente lúcido e cruel,
o Cesário e a sua idiossincrasia,
o Cesário, verde e rubro, nos estádios dos eurofutebóis,
mais o Eça de Queiroz, o estrangeirado,
que te amava à maneira dele, 

qui t'aimait, malgré lui,
a Sofia, a deusa, a olímpica,
o Almada e os seus marinheiros sem futuro,
o Bocage e o seu filho, Ary,
debochados, panfletários,
mais o O'Neil, que era tão louco quanto irlandês,
e o luminoso Eugénio mais a sua sombra, Andrade,
e ainda a Amália
e a nossa estranha forma de vida,
e tantos outros poetas que te cantaram,

ó minha cidade
e que morreram de amores e desamores por ti,
entre o Cais das Colunas e o Cais do Sodré.

Ah, e o Pessoa,
subindo e descendo o Chiado,
de braço dado,

contigo,
recitando-te o heterónimo:
a rapariga inglesa, tão loura, tão jovem, tão boa
que queria casar comigo…
que pena eu não ter casado com ela…
teria sido feliz ?
mas como é que eu sei se teria sido feliz ?


Esquece o Álvaro, o Campos, o sedutor, 

e as noivas de Santo António que ficaram por casar,
e deixa-me pôr-te a caminhar
pelos caminhos ínvios e íngremes
desta cidade-sortilégio,
que nós amamos no singular
e maltratamos no plural… 

Valha-nos São Vicente, os seus corvos e a sua barca,
que erros de calceteiro e de autarca,
de médico e de monarca
a terra os cobre.

E se, contudo, há um privilégio,
é sempre o da amizade e do amor,
é esse de poder ter-te
ao alcance da mão e do coração dos amantes, 

descendo a encosta do castelo
até à praça de São Domingos,
ou entre o Rossio e o Terreiro do Paço, 
com a rua Augusta, de permeio,
entre a liberdade sem rua nem abrigo
e os segredos de polichinelo 

da tua caixa de correio.

É, enfim, esse privilégio de poder dizer-te,
no regresso da última nau do império:
como é bom rever-te,
Lisboa, Tejo e tudo.

Lisboa, Terreiro do Paço, 20 de maio de 2006.
Revisto,  Campo Mártires da Praça, 11 de setembro de 2015.




Lisboa > Museu de Lisboa - Torreão Poente, Terreiro do Paço > 6 de setembro de 2015 > Exposição "A Luz de Lisboa" (a não perder, até 17 de dezembro)


Lisboa > Museu de Lisboa - Torreão Poente, Terreiro do Paço > 6 de setembro de 2015 >  A estátua equestre de D. José


Lisboa > Museu de Lisboa - Torreão Poente, Terreiro do Paço > 6 de setembro de 2015 > Exposição "A Luz de Lisboa"  > Janela sobre o Tejo



Lisboa > Museu de Lisboa - Torreão Poente, Terreiro do Paço > 6 de setembro de 2015 > Exposição "A Luz de Lisboa"  > A partida de um navio de cruzeiro, visto de uma varanda do torreão



Lisboa > Museu de Lisboa - Torreão Poente, Terreiro do Paço > 6 de setembro de 2015 > Exposição "A Luz de Lisboa"  > Um dos grandes pintores da cidade; Carlos Botelho (Lisboa, 1895- Lisboa., 1982): Ramalhete de Lisboa (1935). Museu da Cidade de Lisoa (reproduzido aqui com a devida vénia).




Lisboa >  Cais da Ribeira ; 6 de setembro de 2015 >  Turistas, desenhando o Tejo

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Nota do editor:

Último poste da série 19 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15020: Manuscrito(s) (Luís Graça) (63): Lourinhã, paisagens jurássicas