sexta-feira, 13 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16084: Na festa dos 12 anos, "manga de tempo", do nosso blogue (10): Mais capelas numa terra de que se dizia ser de fraca fé cristã... Fotos: Pepito (1949-2014), José Neto (1927-2007), Renato Monteiro, Jacinto Cristina, Joaquim Ruivo e João Martins


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > A última doação à Capela de Guileje, uma imagem de N. Sra. de Fátima, trazida de Portugal por António Camilo e Luís Branquinho Crespo. (*)


Foto: © Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Nucleo Museológico Memória de Guiledje > 2010 > Doação à Capela de Guileje, uma imagem de N. Sra. de Fátima, trazida expressamente de Portugal por António Camilo e Luís Branquinho Crespo . O António Camilo (à direita), ao lado do Pepito (1949-2014).(*)

Foto: © Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > A capelinha construída no tempo do Zé Neto (1929-2007)... Havia três imagens da N. Sra. de Fátima, de diversos tamanhos... Guileje foi "terra de fé e de coragem" (Zé Neto).


Foto: © Zé Neto / AD - Acção para o Desenvolvimento. (2007)/ Blogue Luís Grça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > A capela, da CART 1613 (1967/68),  agora renascidas cinza, graças ao empenho da população local, da AD,  do Pepito e do Domingos Fonseca, e da boa vontade de alguns velhos tuga, o "grupo de amigos da capela de Guileje".A data da sua inauguração oficial foi 20 de janeiro de 2010 (com a presença de nossa amiga Júlia Neta, viúva do Zé Neto, entre outra gente ilustre)... Guileje voltou a ser um local de paz, de fé, de solidariedade, de (re)encontro, de ecumenismo, de esperança (**)

Foto: © Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.





Guiné > Zona Leste > Contuboel > Tabanca dos arredores > CART 2479 (1968/69) > O fur mil at art Renato Monteiro com "um instruendo, mais alto ainda do que a fotografia revela"...Trata-se de um capelinha dedica a N. Sra. de Lurdes... "Quanto à localização da capela, terá sido em Contuboel?" - pergunta o Renato... Eu acho que sim, das memórias que ainda conservo de Contuboel (onde estive pouco mais de um mês e meio e onde funcionava em 1969 um Centro de Instrução Militar). É possível que estivesse ligada a uma missão católica. Havia alguns brancos em Contuboel, e nomeadamente um madeireiro. (***)

Fotos: © Renato Monteiro (2007). Todos os direitos reservados



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > O Cristina com um camarada junto á capela de Piche 

Fotos: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.




Guiné > Bissau > "Capela de Santa Luzia em Bissau. Nesta Capela esteve, em câmara ardente, uma das primeiras vitimas da guerra: um capitão de Cavalaria,  bem conhecido em Bissau por ser um grande desportista [, António Lopo Machado do Carmo]..  [O Joaquim Ruivo, na foto à esquerda,  diz, a seu respeito que  foipara a Guiné "como 1º cabo mecânico de armas pesadas", sendo colocado numa unidade de artilharia (obus 8,8), formada por naturais da Guiné. "Fui em Outubro de 61 e vim em Fevereiro de 64. Por isso tenho mais tempo de paz que de guerra."] (****)

Foto (e legenda): © Joaquim Ruivo (2013). Todos os direitos reservados



Guiné > Bissau < Junho de 1968 > Capela do Hospital Militar 241 > Foto nº 9/199. do álbum do ex-alf mil art João Martins (ex-Alf Mil Art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69)


Foto (e legenda): © João José Alves Martins (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Quem disse que a Guiné era uma terra fraca, em termos de fé cristã ?  É verdade que a população cristã, no nosso tempo, era quase residual, a maioria sendo animista e muçulmana. E continua a ser: cerca de 90%. dos guineenses são não-cristãos.

Apesar do crescimento do Islão, a Guiné-Bissau continua a ser um país laico, e com tradição de tolerância religiosa...

 O número de capelas e de outras manifestações da fé cristã multiplicaram-se ao longo da guerra colonial (1961-1974). Juntamos mais algumas fotos, que ilustram este fenómeno socioantropológico.  (*****).

Atualmente, na Guiné Bissau, cerca de 40% a 45% são muçulmanos,  "mais concentrados no interior do País do que na zona costeira". Os animistas ("adeptos das religiões tradicionais" serão cerca de 45% a 50%..."e o resto da população é composta por cristãos que representam 5 a 8%", lê-se no sítio Guiné-Bissau: um país de língua portuguesa. Num país onde não estatísticas, estes números só podem ser estimativas (grosseiras).

(****) Vd. poste de 12 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10928: Tabanca Grande (380): Joaquim Ruivo, grã-tabanqueiro nº 598, alentejano, ex-1º cabo mec , obus 8.8, BAC (Santa Luzia, Bissau, out 61 / fev 64)

(*****) Último poste da série > 7 de maio de  2016 > Guiné 63/74 - P16060: Na festa dos 12 anos, "manga de tempo", do nosso blogue (9): De quantas tabancas é feita a Tabanca Grande ?... Relembrando o feliz acaso do reencontro, 40 anos depois, do Zé Manel Matos Dinis com "o senhor Rosales", na Quinta do Paul, Ortigosa, em 20 de junho de 2009, por ocasião do nosso IV Encontro Nacional, e que esteve na origem da criação da Magnífica Tabanca da Linha...

Vd. também:

Guiné 63/74 - P16083: Efemérides (223): Comemoração do Dia do Combatente de Matosinhos e do VII aniversário do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, levada a efeito no passado dia 30 de Abril (1) (Carlos Vinhal)

No passado dia 30 de Abril comemorou-se o Dia do Combatente de Matosinhos e o VII aniversário do Núcleo da Liga dos Combatentes.

Foi mais um dia memorável que contou com a presença do Vice-Presidente da Direcção Central da LC, o senhor Major-General Fernando dos Santos Pereira Aguda, em representação do senhor Tenente-General Chito Rodrigues, ausente no estrangeiro.

Do programa fazia parte uma cerimónia pública junto ao Memorial aos Combatentes, sito na freguesia de Matosinhos, para homenagear os 70 camaradas matosinhenses caídos em campanha.
 

Combatentes, familiares, povo anónimo, autoridades militares e civis, e uma pequena força militar, começaram a concentrar-se cerca das 10h15 da manhã.

Panorâmica das autoridades civis e militares presentes, tendo por trás numerosa assistência
Foto: Núcleo

Às 10h30 deu-se início à cerimónia com a prestação das honras militares ao Vice-Presidente da Direcção Central da LC.
Foto: Abel Santos 

Seguiu-se a deposição de coroas de flores, na base do Monumento aos Combatentes, pelo Núcleo de Matosinhos da LC e Câmara Municipal. 
Foto: Núcleo

Prestando homenagem aos nossos camaradas mortos: a Presidente da Assembleia Municipal; o Vice-Presidente da Câmara Municipal; o Vice-Presidente da Direcção Central da LC; o Presidente do Núcleo de Matosinhos da LC e o 2.º Comandante da Zona Marítima do Norte... 
Foto: Núcleo

Seguiu-se a execução dos toques pelo terno de clarins da Brigada de Intervenção e as honras militares tradicionais a cargo de uma força militar do Regimento de Transmissões do Porto. 
Foto: Abel Santos

A cerimónia religiosa esteve a cargo do Diácono Agostinho. 
Foto: Abel Santos

Seguidamente usaram da palavra:

Vice-Presidente da Direcção Central da LC, Major-General Fernando Pereira dos Santos Aguda
Foto: Núcleo

Presidente da Direcção do Núcleo de Matosinhos da LC, Ten-Coronel Armando Costa. 
Foto: Abel Santos

Vice-Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, Dr. Eduardo Pinheiro. 
Foto: Núcleo

Encerrando-se a cerimónia com a entoação do Hino da Liga dos Combatentes efectuada pelo Grupo Coral do Núcleo de Matosinhos.
Foto: Dina Vinhal 

O camarada José Trindade (um dos heróis da CCAÇ 2317, Guiné, 1968/69), Porta-Estandarte do Núcleo de Matosinhos da LC
Foto: Núcleo

A comemoração deste dia teve continuidade na Sede do Núcleo em Leça do Balio.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de abril de 2016 Guiné 63/74 - P16020: Efemérides (222): O nosso camarada Carlos Cordeiro, na qualidade de aluno, investigador e professor da Universidade dos Açores, foi homenageado no passado dia 14 de Abril por esta academia, a que esteve ligado durante 40 anos (José Câmara / Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P16082: Agenda cultural (481): Apresentação dos livros "As Guerras do Capitão Agostinho", da autoria de Carlos Gueifão e "Luvuéi, A Maior Emboscada Sofrida Pelos Comandos", da autoria de Antero Pires, dia 17 de Maio de 2016 (3.ª feira), pelas 15 horas, na Messe do Militar do Porto, Praça da Batalha (Manuel Barão da Cunha)

 


Em mensagem de 8 de Maio de 2016, o nosso camarada Manuel Barão da Cunha, Coronel de Cav Ref, que foi CMDT da CCAV 704 / BCAV 705, Guiné, 1964/66, deu-nos conta da apresentação de mais dois livros da colecção Fim do Império, sobre Angola, a levar a efeito no próximo dia 17 de Maio na Messe Militar do Porto.




15.º CICLO DE TERTÚLIAS FIM DO IMPÉRIO

PORTO, 17 DE MAIO, 3.ª FEIRA, ÀS 15 HORAS

MESSE MILITAR DA BATALHA

Apresentação dos 22.º e 23.º livros Fim do Império:

"As Guerras do Capitão Agostinho", de Carlos Gueifão, Capitão Miliciano em Angola


"Luvuéi, A Maior Emboscada Sofrida Pelos Comandos", autoria de Antero Pires, Sargento Comando em Angola.

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Nota do editor

Último Poste da série de 3 de abril de 2016 Guiné 63/74 - P15933: Agenda cultural (473): Integrada no 15.º Ciclo das Tertúlias Fim do Império, dia 7 de Abril de 2016, pelas 18 horas, apresentação do livro "Ten. General Tomé Pinto - O Capitão Quadrado", no Palácio da Independência, em Lisboa (Manuel Barão da Cunha)

Guiné 63/74 - P16081: Nota de leitura (838): Alexandre Herculano e a Questão de Bolama (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Julho de 2015:

Queridos amigos,
Tardou mas chegou, há muito que idealizava pôr no blogue este texto de grande riqueza como peça oratória, mostra que Herculano se estreou bem na vida parlamentar, e a questão de Bolama foi um pretexto. Devido às suas funções como bibliotecário da Casa Real, o historiador e homem público dispõe de muita informação, sabe que as coisas em África estão em franca decadência, que os territórios coloniais portugueses vão sendo infiltrados por outras potências. É uma intervenção em que ele pede a atenção ao poder político para cuidar do património africano. Sabemos que Herculano foi um dos maiores escritores do seu tempo e é o fundador da nossa historiografia, é uma satisfação ler esta intervenção vigorosa e vibrante de um nacionalista do seu tempo.

Um abraço do
Mário


Alexandre Herculano e a Questão de Bolama

Beja Santos

Herculano, fundador da nossa moderna historiografia, medievalista insigne, escritor consagrado em vida, autor da paradigmática História de Portugal onde recuperou em bases rigorosas a formação do nosso País, teve uma breve passagem pelo Parlamento entre 1840 e 1841, estreou-se como tribuno em 4 de Julho de 1840. A questão de Bolama foi o pontapé de saída, mas Herculano pretendia ir mais longe, como foi.

Naquele tempo, o parlamentarismo andava a par da encenação dos dotes do tribuno. Levava-se uns apontamentos escritos mas a eloquência era fundamental e o prémio eram os aplausos do partido amigo e as vaias e apupos da oposição. São tempos extremamente difíceis, a guerra civil ainda não sarara todas as feridas e os governos de setembristas e cartistas sucedem-se uns aos outros. Eis como Herculano se dirige aos seus pares, naquele dia de Julho de 1840:

“Falo da violação do nosso território em Guiné.
Sr. Presidente, eu não sei qual seja pior: se insultar a nossa bandeira e tomar os nossos navios, se violar território de uma província portuguesa e declarar em seguida que esse território pertence a quem violou.
Aproveito esta ocasião para fazer algumas reflexões sobre o discurso de um senhor Deputado pela Madeira, que falou na sexta-feira passada. Sua Excelência disse que esse negócio de Casamansa é um daqueles que soam muito e valem pouco: disse que era bárbaro o nome de Casamansa; disse, enfim, que a França dizia ter direito àqueles territórios, e que a ele não lhe importa esta questão. Se o senhor Deputado entende que perdemos tantas léguas de costa de uma província nossa nada vale, eu entendo que vale muito, não só por ser terra portuguesa, como pelo grande trato que ali pode haver quando olharmos ou podermos olhar seriamente o Ultramar. O dar como razão o seu desprezo o ser bárbaro o nome de Casamansa, apenas merece uma resposta. Bárbaros são quase todos os nomes das nossas províncias ultramarinas, e nisso não vejo eu motivo para as entregar a quem nos quiser tomar conta delas.

Senhor Presidente: que se devia ter feito neste negócio?
Não o desprezar.
Reclamar à França, com moderação e firmeza, uma, dez, cem vezes.
O mesmo se devia ter feito com Inglaterra.

O partido cartista foi acusado de estar vendido à Inglaterra, porque de boa-fé aconselha a moderação e ao mesmo tempo que se não cessasse, por todos os meios, na negociação de procurar obter justiça. Não teria ele o direito de acusar o partido contrário, que governou o país em 37, 38, 39, e que não só calou à Nação o negócio da Guiné, mas abandonou às pretensões do governo francês uma província nossa; não teríamos nós, digo, o direito de acusar esse partido de estar vendido à França?
Não, Sr. Presidente.
Mil vezes não! E porquê?
Porque os parricidas são raros e o vender a pátria é o mais atroz parricídio.

Serei mais individual pelo que respeita à França sobre a questão da Guiné.
É realmente de reparo que de não sei quantos ministérios tem havido em Portugal desde 1837, nenhum visse a importância da fundação de uma feitoria francesa no Casamansa; ninguém visse que um tal estabelecimento faria desaparecer o que temos ainda em Guiné, e que essa pedra engastada na coroa portuguesa por D. João II, o título de senhorio da Guiné, cairia enfim dessa coroa, já tão empobrecida pelo desleixo e mau governo dos sucessores de D. Manuel. O que, porém sobretudo me espanta, senhor Presidente, é que nem o último Ministro dos Negócios Estrangeiros nem o seu antecessor respondessem cabalmente à nota do Conde Molé em que esse afamado Ministério pretendia sustentar a prioridade do domínio francês, não só nas margens do Casamansa mas também em toda a Costa da Guiné, sem excetuar os presídios de Cacheu e Bissau”.

Vamos então contextualizar. Em 1836, os franceses instalam-se na região do Casamansa, criando várias feitorias. Estão muitos interesses económicos em jogo, sabe-se que a escravatura tem os seus dias contados o óleo de amendoim expande-se rapidamente pela Senegâmbia.

Mas Herculano utiliza a questão do Casamansa como um pretexto, dispõe de informação sobre o estado de pura negligência em que se encontram as parcelas do império africano, serve-se da tribuna para lançar o grito de alarme. Como sublinhou Ivo Carneiro de Sousa (n.º 2, 1999, da Revista Africana Studia, Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto), “A primeira intervenção parlamentar de Alexandre Herculano trata de convocar o caso da questão de Casamansa para discutir o papel de Portugal no renovado concerto da concorrência internacional”.


A intervenção de Herculano andou despercebida cerca de um século. Até que Fausto Duarte, a quem a cultura guineense tanto deve a publicou no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, volume 4.º (1949). A política portuguesa manteve-se indiferente à gravidade da presença francesa no Casamansa. Honório Pereira Barreto fez tudo o que estava ao seu alcance para comprar territórios na região. Mas não teve apoios políticos suficientes. E assim, gota a gota, tudo se encaminhou para o reconhecimento do Casamansa como território francês daquela Senegâmbia que caminhava para o ocaso, fez-se o reconhecimento na Convenção Luso-Francesa de 1886, a nossa diplomacia pretendia, com a oferta do Casamansa, contar com o apoio do governo de Paris para o Mapa Cor-de-Rosa. Mas Paris não tinha interesses estratégicos na África Austral, assobiou para o lado. Há relatos pungentes onde se registam as vozes dos autóctones do Casamansa que pretendiam continuar a ser portugueses. Mas tudo estava perdido.


Era assim o Banco Nacional Ultramarino em Bolama, a capital da colónia dispunha de alguns edifícios com certa sumptuosidade, trata-se de uma arquitetura que está praticamente no chão ou em vias de desaparecimento
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de maio de 2016 Guiné 63/74 - P16068: Nota de leitura (837): “Quinto Centenário da Descoberta da Guiné 1446 / 1946", brochura com um conjunto de selos da autoria de Amadeu Cunha e Uma tocante homenagem ao Comando morto em combate por Vassalo de Miranda (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16080: As minhas crónicas do tempo da Diamang, Lunda, Angola (1972-1974) (José Manuel Matos Dinis) - Parte II: Um "estado dentro do estado"...


Angola > c. 1972 > Eu, junto à barragem no Dundo, um lugar aprazível

Foto (e legenda): © José Manuel Matos Dinis (2016). Todos os direitos reservados.




1. As minhas crónicas do tempo da Diamang, Lunda, Angola (1972-1974) 

(José Manuel Matos Dinis)

Parte II: 
Um "estado dentro do estado" 





[ O  José Manuel Matos Dinis, ex-fur mil at inf, CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71, nosso grã-tabanqueiro e adjunto do régulo da Magnífica Tabanca da Linha, Jorge Rosales, depois do seu regresso a casa, a Cascais, em janeiro de 1972, vindo a Guiné, rumou até Angola, em maio de 1972, para ir  viver e trabalhar na Lunda, na melhor empresa angolana na época, a famosa  Diamang - Companhia de Diamantes de Angola, com sede no Lundo,. Aqui aqui casou (por procuração), aqui viveu e trabalhou, aqui nasceu  o seu primeiro filho... Desafiámo-lo justamente  a falar da sua experiência angolana em meia dúzia de crónicas memorialísticas. Ele aceitou galhardamente  o desafio.]
.

Tenho quase a certeza de que a descrição sobre a actividade mineira  (*) deve ter sido improfícua, pois, para além de não ter correspondido à melhor descrição sobre uma lavaria clássica de "pans", e sobre as acções de remoção de terras e de cascalho que antecediam a limpeza da rocha-base em cada corte, e ainda sobre as necessárias protecções às copiosas chuvas que caíam no decurso de cada ano, pelo que o interessa de mais pormenores técnicos, que os há em muito mais vertentes, podem ter constituído uma forte motivação desmotivadora de futuras leituras nesta série. Nesse caso, façam o favor de apresentar reclamações ao nosso Comandante-mor Luís Graça, que eu agradeço o favor para entrar antecipadamente de férias.

Mas afinal, que negócio é esse dos diamantes? É um "fétiche", direi eu. De facto, os diamantes servem para muito pouca coisa, e os que servem, são os industriais, precisamente os de menor valor. Os outros, os que cintilam de brilhos e são usados como adornos, não prestam para nada. Mas valem muito dinheiro, são atributos de riqueza e de poder. Destas razões é que resulta o grande fascínio ou interesse pelos diamantes. 

Em Angola, a exploração terá começado na sequência das explorações congolesas, pois boa parte dos leitos dos rios correm na direcção daquela colónia portuguesa, e os mineiros da época devem ter admitido que facilmente haveria mais diamantes do lado ocidental.

Em 1912 Johnston e Mac Vey aumentaram as certezas sobra a existência de diamantes em Angola, após a descoberta de 7 gemas num riacho afluente do rio Tchiumbe. Foi fundada a PEMA, empresa de pesquisas que começou a laborar nesse ano sob impulso da empresa belga Forminière. 

Em 16 de Outubro de 1917, com recurso a capitais mistos de Portugal, Belgica, Estados Unidos da América, Grã-Bretanha e África do Sul nasceu a Diamang - Companhia dos Diamantes de Angola, que veio a tornar-se na empresa mais emblemática e contestada daquela colónia, que para além da actividade prosseguida na prospecção e exploração de diamantes, desenvolveu muitas outras ligadas à diferentes áreas de investigação, e a trabalhos tão diferentes quanto a agricultura e pecuária, assistência social médica e medicamentosa, e ainda veio a revelar-se de grande importância na concessão de empréstimos financeiros, quer ao Governo central, quer ao governo colonial ou provincial. 

Mas não ficou por aí, a Companhia construíu importantes infra-estruturas, de que se pode salientar duas barragens para consumo energético interno e para fornecimento da rede pública até vastas extensões para além da área de concessão; uma vasta rede de estradas em asfalto ou terra-batida; a construção de escolas, ou promoção de manifestações artísticas; e o financiamento, e por vezes com apoio técnico exclusivo ou em cooperação, de muitas outras iniciativas. A Companhia, por norma, também garantia a manutenção daquelas obras de carácter público e privado.

Esta a parte simpática da questão, porque também havia uma parte antipática sobre a influência da Diamang noutros sectores da vida pública e social da comunidade provincial. Refiro-me à repetida contestação sobre a isenção da generalidade dos impostos com que deixava de contribuir para o erário público. 

Além disso, por congeminações que fiz na época após a leitura de diversos relatórios do Banco de Angola, fiquei com a sensação de que os diamantes angolanos (os melhores da produção mundial) eram vendidos à Central Selling pelo preço médio praticado, o que a confirmar-se, terá redundado em grosso prejuízo para a nação, e em vantagem suplementar para o "trust" internacional que controlava o negócio. Nesta matéria, as diferenças qualitativas, de dimensão e cristalização eram muito importantes no estabelecimento de diferenças de preço sobre a unidade - o quilate.

Outro aspecto muito antipático residia na existência de uma polícia privada, e da permanência de companhias de "Voluntários", bem como pelo acolhimento de alguns militares catangueses, que para além de funções de segurança e do controle sobre o movimento das populações, dissuadia à penetração de outras pessoas que não estivessem relacionadas com a Empresa. Daí, dizer-se com desdém e crítica implícita, que a Diamang era um estado dentro do Estado.

O que era inegável, era a grande importância das receitas geradas na província com os negócios implicados em torno da Companhia, quer em fornecimentos directos, quer em fornecimentos indirectos, pois havia já mais de dois mil empregados europeus com níveis de vida e de poupanças invejáveis, bem como um considerável número de empregados autóctones com funções especializadas ​e ​o conjunto representava ​níveis de despesa familiar de certo modo importantes na economia da província. 

O valor patrimonial da Companhia era incomensurável e garantia importantes receitas para muitas empresas de representações comerciais (de origens nacionais e estrangeiras) em Angola. Portanto, não me parece razoável destacar uma ou outra faceta, quer para apoiar os privilégios de que a Empresa gozava, quer os níveis de exigência ou de denegrimento dos mesmos.

O ano de 1973 terá sido o primeiro em que a produção alcançou e ultrapassou os dois milhões de quilates, objectivo que exigiu muita aplicação e dedicação do conjunto dos empregados da área de produção, para que se potenciassem os meios com vista ao alcance daquele fim. 

Em 1974, segundo informação obtida na Net, a produção bateu o record de dois milhões e quatrocentos mil quilates, que resultaram da contratação de mais técnicos e abertura de turnos em algumas das explorações de maior nível absoluto de produção. 

O rendimento geral da actividade, se me for permitido fazer uma crítica, poderia ir ainda mais além, se tivesse havido bons níveis de formação de pessoal ao nível dos chefes de minas (e de lavarias, no caso das independentes), pois vieram a constatar-se perdas relevantes nas lavarias de meio-denso cujos encarregados estariam menos bem preparados ou sensibilizados. E havia empregados de excelente nível e dedicação para fazerem escola. 

Mas o negócio era tão rico, que a preocupação sobre a rentabilidade não podia ser assacada à incompetência e laxismo dos responsáveis, antes era apontada aos limites dos equipamentos de produção. A este propósito sobre a excelência dos modelos de produção, a contrário senso, sugiro que procurem na Net as imagens de Olivier Polet - "dans une mine de diamants en Angola". Parece corr
esponder à liberdade do absurdo, e os donos do negócio comprazerem-se com os lucros sem atenderem às inumanas condições de trabalho, nem à melhor rentabilidade dos meios, que não se comparam, nem de longe, ao que se praticava na Diamang.

(Continua)

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Nota do editor:

Último poste da série > 6 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16055: As minhas crónicas do tempo da Diamang, Lunda, Angola (1972-1974) (José Manuel Matos Dinis) - Parte I: de Cascais até à Portugália / Dundo...


(...) Em Janeiro de 1972 tinha saído da tropa, dava passeios e namorava pelo litoral de Cascais, onde outros casais nos faziam concorrência. Os meus amigos estavam na vida militar, acabavam os cursos, ou já tinham iniciado actividades profissionais. Já não era como antes, quando a malta se reunia como seita para a paródia, ou para entusiásticas futeboladas. Namorava com envolvimentos familiares, e tinha a obrigação de procurar definição de vida. Não queria trabalhar debaixo de um tecto, e por isso, ficava excluída uma preparação profissional que tinha iniciado antes da tropa.(...) 

Guiné 63/74 - P16079: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (45): A brutal emboscada do dia 22/3/1974, na estrada (alcatroada, construida pela TECNIL ) Piche-Nova Lamego: só por negligência, propositada ou intencional ou casual, estes casos podiam acontecer... É coincidência apenas, ou as Forças Armadas só já estavam preocupadas com outros valores?...

Colagem de comentários do Antº Rosinha e do nosso editor LG ao poste P16074 (*):

[ Antº Rosinha é um dos nossos 'mais velhos', andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado, fez o serviço militar em Angola, foi fur mil, em 1961/62, diz que foi 'colon' até 1974... 'Retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência'; é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho']



A. Escreveu o nosso editor LG, em comentário ao poste  P16074 (*):

Pessoalmente, acho estranho que esta brutal emboscada na estrada de Piche-Nova Lamego, em pleno coração da zona leste, em pleno "chão fula", o dos nossos leais e bravos fulas, envolvendo forças da nossa cavalaria (com as famosas e, afinal, dececionantes "chaimites"), a um mês do 25 de abril de 1974, seja tão pouco falada, comentada, divulgada...

Quem poderia e deveria escrever, não escreve, por razões que desconhecemos... Se calhar, inibição, pudor, raiva... Eu sei lá!... Resta-nos este relato de antologia, de um obscuro furriel miliciano de engenharia, o Manuel Pedro Santos, que temos de pôr na galeria dos nossos mártires e heróis... Felizmente ele sobreviveu (e espero que ainda esteja vivo!) para nos contar como foi o inferno, às 8 e meia da manhã, desse trágico dia 22 de março de 1974, no troço Bentem-Camabajá da estrada (alcatroada) de Piche-Nova Lamego...

Mesmo assim, com 200 e tal atacantes, "entrincheirados", e armados de RPG, o PAIGC tinha a "obrigação" de massacrar todos os "tugas" e os seus "cães" que iam na coluna... "Guerra é guerra, camaradas"... E foi feia, brutal, essa maldita guerra... Ainda dizem que foi uma guerra de "baixa intensidade", a da Guiné, dizem os senhores historiadores engravatados da nossa universidade que nunca sentiram, nas "putas das narinas", o cheiro da carne humana assada...

Por favor, camaradas, tragam mais testemunhos sobre estes e outros momentos marcantes do nosso calvário de 13 anos!... Quantos de vocês não passaram, tranquilamente, quase em passeio turístico, por este troço da estrada de Nova Lamego - Piche!...

Acrescentem estes topónimos ao nosso martirológio: Bentém, Camajabá... Ninguém mais vai lembrá-los dentro em breve!

Resta-nos honrar a memória dos nossos camaradas, metropolitanos e guineenses, que lá ficaram, na estrada alcatroada de Piche - Nova Lamego, a 10 km depois de Bentém, antes de Camabajá, às 8h30 do dia 22 de março de 1974... Lembremos aqui os nomes desses bravos camaradas: (i) do Esquadrão de Reconhecimento de Cavalaria, EREC 8840/72 (Bafatá, 1973/74): os fur mil cav José António da Costa Teixeira, natural de Lousada, e Manuel Joaquim Sá Soares, natural de Santo Tirso; os 2 sold cav, João da Costa Araújo, natural de Ponte Lima; e Victor Manuel de Jesus Paiva, natural de Castelo Branco; (ii) e ainda, os soldados, do recrutamento local, Bailó Baldé, natural de Nova Lamego, sol at inf, CCAÇ 21; e Bambo Nanqui, natural de Fulacunda, sold at art, 12º Pel Art / GAC 7.


Guiné > s/l > 1972 > Uma viatura blindada Chaimite V200. Foto de António Rogério Rodrigues Moura [ARRM], 1972.

Fonte: Portal Prof 2000 > Aveiro e Cultura > Arquivo Digital (Com a devida vénia...)


B. Agora comento eu, Antº Rosinha, ex-topógrafo da TECNIL, que conheci  a Guiné-Bissau do Luís Cabral e do 'Nino Vieira', de 1987 a 1993:

"110 abrigos e outra grande quantidade de guerrilheiros em cima de mangueiros. O número de guerrilheiros estimou-se entre duzentos e duzentos e cinquenta elementos..."

Uma concentração desta envergadura naquele lugar fula, e naquela data, algo já estava a "falhar" das chefias.

Já perto dessa altura, na mesma estrada em construção, uma camião da TECNIL foi atingido por uma bazucada, "tipo brincadeira",  do PAIGC. Contaram depois os guerrilheiros que alguns disfarçados à civil pediram boleia no fim do dia para o Gabu, foi-lhe negada pelo motorista, e na hora de partir, uma bazooka acertou na porta do mesmo motorista guineense, que "muri".

Luís Graça, eu digo sempre, há uns anitos, que este blogue vai ajudar a contar a história do princípio, do meio e do fim da Guerra do Ultramar, a guerra que nós fizemos.

Sobre esta estrada de Piche, já aqui já foi mencionado este caso do único ataque às máquinas da TECNIL, praticamente em toda a guerra.

Luís Graça, só por negligência, propositada ou intencional ou casual, estes casos podiam acontecer. É coincidência apenas, ou as Forças Armadas só já estavam preocupadas com outros valores?

Claro que andamos aqui, também para compreendermos quem fomos, quem somos, e quem viremos a ser.


C. Novo comenatário do editor LG:

Quem somos nós para "julgarmos" os nossos camaradas ?... Admito que, nessa altura, com estrada alcatroada, a malta andasse mais "descontraída"... Fiz muitas vezes Bambadinca-Bafatá-Bambadinca também "numa boa"... Não aconteceu nada no meu tempo, para além de desastres rodoviárias, por excesso de velocidade...

Enfim, já cá tenho o Perintrep com informação sobre o dia 22/3/1974, facultado pelo meu amigo cor art ref Nuno Rubim... A emboscada foi às 7h45 (e não 8h30). Tivemos 5 mortos (e não 6...), 5 feridos graves e 11 feridos ligeiros... (Menos feridos do que é relatado pelo fur mil do BENG 447. o Manuel Pedro Santos, que ia na coluna)... Foram destruídas 3 viaturas: 1 Chaimite, 1 White, 1 Berliet...

Concordo contigo, Rosinha: 200 gajos de farda amarela a movimentarem-se em "pleno coração fula", deviam dar muito nas vistas... São 5 ou 6 bigrupos!... O PAIGC andava desfalcadíssimo, uma operação destas implica também uma grande logística...

Suspeito destes números que podem estar inflacionados pelo comando do batalhão, o BCAÇ 3883... Era preciso "arranjar" explicações fáceis, que os trutas em Bissau "engoliam"; quem estava no mato também tinha os seus trunfos, ou seja, maneiras de "sacudir a água do capote"; por certo que o ten cor do BCAÇ 3883 (**)  não foi fazer o reconhecimento "in loco"... Também apanhei uma violenta emboscada, no mato, com 6 mortos e 9 feridos graves (26/11/1970, no Xime)... Foi preciso arranjar "bodes expiatórios" e explicações mirabolantes... para descartar erros de comando...

De qualquer modo, o desguarnecimento do leste, a sul da estrada Piche-Nova Lamego, a ausência de uma zona tampão (perdida com a retirada de Beli, Madina do Boé, Cheche, e tabancas em autodefesa como Padada, Madina Xaquili, etc.), a par da proximidade com a fronteira, podem explicar também as facilidades de aproximação do IN a colunas de rotina, como esta...

Depois da emboscadas, a força atacante teve por certo que dispersar, por causa da aviação, que deve ter vindo em socorro das NT... A força inimiga veio fortemente armada, com armas automáticas, RPG2, RPG7 e morteiro 60...

Mas a lealdade dos fulas do Gabu não era a mesma dos fulas de Bafatá, dos regulados de Badora e Cossé... A CCAÇ 21 andou pelo nordeste nesta fase e havia indícios de que o PAIGC estava intimidar e a dividir os fulas... E havia fulas (do Gabu e do Senegal) na guerrilha... No meu tempo, era impossível: nunca soubemos de nenhum, nunca apanhámos nenhum, no setor L1 (Bambadinca): eram balantas, mandingas e beafadas...

Tenho que ver quando foi o ataque ao pessoal e máquinas daTecnil, no troço Piche-Buruntuma... Nas vésperas do natal de 1970, na construção do troço anterior, Nova Lamego-Piche, a TECNIL já havia sofrido 9 mortos...

A malta que estava na Ponte Caium (3º Gr Comb, os"Fantasmas do Leste", da CCAÇ 3546, Piche, 1972/74) também sofreu, no troço entre a Ponte e Piche, uma violenta emboscada em 14/6/1973, tendo morrido 5 camaradas nossos, em condições atrozes: o 1º cabo Torrão, e os sold Gonçalves ["Charlot"], Fernandes, Santos e Dani Silva. Ainda está de pé (!), na ponte, o monumento erigido pelos sobreviventes à memória dos camaradas mortos...



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Pormenor do mapa geral da província > Escala 1/500 mil (1961) > O traçado da antiga estrada Nova Lamego - Piche - Buruntuma. A distância entre Nova Lamego e Piche seria de 30/35 km. A emboscada de 22/3/1974 (na época seca)  deu-se na nova estrada, alcatroada, construída pela TECNIL, e cujo traçado não era muito diferente do antigo, A emboscada deu-se a meio caminho entre Piche (sede do BCAÇ 3883, 1972/74) e Nova Lamego, no troço Bentem - Cambajã  (,não confundir com Camajabá, entre Piche e Ponte Caium).

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016)


D. Comentário final de Antº Rosinha

Luís, eu não julgo ninguém, jamais me ouvirás julgar seja quem for. Eu sou daqueles que assumo que fomos nós todos que fomos revolucionários, reaccionários. que fomos simultaneamente salazaristas e anti-salazaristas, colonialistas e anti-colonialistas.

Imagina que eu era de armas pesadas, mas cheguei a fazer[, em Angola,]  de vagomestre,  e até "gamei" como os outros que não se livram da fama, portanto também sou corrupto!

Mas, factos são factos, e temos que analisar os factos.

Como vi a guerra aqui no blogue, melhor do que se estivéssemos lá, porque aqui é desbobinada em câmara lenta, e durante 13 anos vivi a guerra em Angola,  de barraca de campanha às costas de carregadores "contratados", daqueles que "comiam fuba podre, peixe podre", como diz o poeta/colonialista/transmontano/revolucionário [, António Jacinto,][***),. tenho, ou melhor temos, que deixar cair as nossas asinhas, e analisar friamente os factos.

E digo isto, se queremos respeitar a memória principalmente, daqueles que morreram sem nunca vestirem uma farda da mocidade portuguesa, alguns nem aprenderam o que eram as cinco quinas da camisa verde, nem aprenderam qual era a capital da Guiné, quando tinham 10 anos e nem sabiam quem foi Camões, ao contrário dos Comandantes.

Luís Graça, estamos a falar de um lugar de mata relativamente esparsa, a pouco mais de meia hora de Gabu, penso que era sede de Batalhão, já não haveria serviço de informações ao menos? Sem Spínola já se teria começado a desistir sem responsabilidades assumidas?

Luís Graça, como estamos a falar dos "finalmentes,  chegaram a cair mísseis sobre Bissau perto da Dicol e da Central Eléctrica, falava-se que Manuel dos Santos (Manecas) teria lançado esses objectos a partir de Cumeré, será que se chegou a um ponto que por lá por cima se tinha caído já na total desistência irresponsável?

É que tanto para avançar como para recuar, os comandantes têm que o fazer com as devidas responsabilidades, e cautelas, e até para improvisar que é a nossa tradicional competência, tem que ser bem feito.

Se insinuo aqui que já poderia haver relaxamento, mesmo que em vez de duzentos e cinquenta fossem só cinquenta guerrilheiros, num lugar plano e bastante aberto, com uma estrada em construção, uma pista de aviação no Gabú, junto a uma sede de Batalhão, e parece que nem teria havido resultados de uma (inexistente) reacção, o que é que podemos, a sangue frio, sentados ao computador, e depois de tudo o que se seguiu militarmente passados um mês ou dois, quem é que me pode alcunhar de "má língua",  de "fala barato",  "armado em juiz"?

Estou só a tentar ligar os acontecimentos. 
Antº Rosinha (****)
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Notas do editor:

(*) 10 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16074: Na festa dos 12 anos, "manga de tempo", do nosso blogue (11): Honrando os nossos "mais velhos": Fernando Valente (Magro), cap mil art, BENG 474 (Bissau, 1970/72), que faz hoje 80 anos... Tem 60 meses / 5 anos de serviço militar, e mais 5 manos que serviram a Pátria em Angola, Guiné e Moçambique... Recorda-se também aqui o relevante papel da engenharia militar na Guiné, através do BENG 447

(**) O BCAÇ 3883 foi mobilizado pelo RI 2, tendo partido para a Guiné, de avião, em Março de 1972 (o comando e a CCS em 19/3/1972; a CCAÇ 3544, a 20; a CCAÇ 3545, a 22; e a CCAÇ 3546 a 23). A CCS ficou sediada em Piche.

 O comandante de batalhão era o Ten Cor Inf Manuel António Dantas.  O comandante da CCAÇ 3546 (Piche, Cambor, Ponte Caium e Camajabá) era o Cap QEO José Carlos Duarte Ferreira. As outras companhias do BCAÇ 3883 eram a CCAÇ 3544 (Buruntuma e Piche; teve dois comandantes: Cap Mil Inf Luís Manuel Teixeira Neves de Carvalho; Cap Mil Inf José Carlos Guerra Nunes) e a CCAÇ 3545 (Canquelifá e Piche; comandante, Cap Mil Inf Fernando Peixinho de Cristo).

O batalhão regressou a casa, de avião, em Junho de 1974. Tem página no Facebook.

(***) Letra de António Jacinto (depois musicada por Rui Mingas, aqui na voz de Lura, 2009)

Monangambé

Naquela roça grande
não tem chuva,
é o suor do meu rosto
que rega as plantações;
Naquela roça grande
tem café maduro
e aquele vermelho-cereja
são gotas do meu sangue,
feitas seiva.

O café vai ser torrado,
pisado, torturado,
vai ficar negro,
negro da cor do contratado.
Negro da cor do contratado!

Perguntem às aves que cantam,
aos regatos de alegre serpentear
e ao vento forte do sertão:

Quem se levanta cedo?
Quem vai à tonga?
Quem traz pela estrada longa
a tipóia ou o cacho de dendém?
Quem capina e em paga recebe desdém,
fuba podre, peixe podre,
panos ruins, cinquenta angolares,
"porrada se refilares"?

Quem?
Quem faz o milho crescer
e os laranjais florescer?
Quem?
Quem dá dinheiro para o patrão comprar
máquinas, carros, senhoras
e cabeças de pretos para os motores?

Quem faz o branco prosperar,
ter barriga grande,
ter dinheiro?
Quem?

E as aves que cantam,
os regatos de alegre serpentear
e o vento forte do sertão
responderão:

- "Monangambééé..."

Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras,
deixem-me beber maruvo
e esquecer diluído
nas minhas bebedeiras.

- "Monangambéé...'"

António Jacinto (1924-1992) (Poemas, 1961)

(Com a devida vénia ao blogue O Castendo, de António Vilarigues)

Guiné 63/74 - P16078: Convívios (745): XVII Encontro do pessoal da CCAÇ 3491, dia 4 de Junho de 2016 em Server do Vouga (Luís Dias)

1. Mensagem do nosso camarada Luís Dias (ex-Alf Mil da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74), com data de 11 de Maio de 2016: 










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Nota de MR:

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16077: O que dizem os Perintreps (Nuno Rubim) (3): Mais três fotos da "minha" CCAÇ 1424... Numa delas o alf mil inf António Joaquim Alves de Moura, natural de Padronelos, Montalegre, que morreu em combate, "a meu lado com um tiro no coração", a 4/9/1966, em Chinchim Dari, entre Mejo, a sul, Nhabocá, a norte, e Salancaur, a oeste... mais 4 topónimos do nosso martirológio de Guileje


Foto nº 1 > Guileje > 1966 > CCAÇ 1424 > "O meu grupo de assalto"...


Foto nº 1 A >  O malogrado alf mil inf, António Joaquim Alves de Moura,
morto em combate a 4/9/1966. É a única fotografia que dispomos dele, no blogue e na Net. É um dos 75 alferes mortos no TO da Guiné.


Foto nº 2 >  Guileje > 1966 > CCAÇ 1424 > "O grupo de apoio"


Foto nº 3  > Guileje > CCAÇ 1424 > "O grupo de segurança" (milícias)


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 1424 (1965/67)


Fotos (e legendas): © Nuno Rubim (2016). Todos os direitos reservados.

1. Mensagem do Nuno Rubim, com data de ontem:

[, foto à direita: o Nuno Rubim, hoje cor art ref, e um talvez o maior especialista em Portugal de história da artilharia... O Nuno tem uma documentação, em suporte digital e em papel, absolutamente fabulosa sobre o TO da Guiné, onde fez duas comissões, no princípio e no fim da guerra... Na primeira comissão comandou duas das unidades que passaram por Guileje: a CCAÇ 726 (out 1964/jul 1966) e a CCAÇ 1424 (jan 1966/dez 1966); tem além disso a coleção completa, digitalizada, dos  Perintreps, daí o título desta sua nova série; trabalhador incansável, é também um grande amigo e camarada, a que pedimos informação e conselho; é membro da nossa Tabanca Grande desde 10 de junho de 2006 (*)]




Guiné > Região de Tambali > Carta de Guileje > Escala 1/50 mil (1956) > Alguns topónimos "míticos" da nossa guerra,por onde passaram muitos dos nossos camaradas, de 1961 a 1974: além de Guileje, Mejo, Gandembel e Ponte Balana...Mas também  Salancaur, Nhacobá, Chinchim Dari (na carta aparece primeiro o topónimo Cabo Verde, seguido de Chinchim Dari, entre parênteses; recorde-se que no crioulo da Guiné-Bissau "dari" é a designação para "chimpanzé")... Também temos dúvidas sobre a linha que separa a região de Quínara e a região de Tombali, ontem como hoje...

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016)


Capitão "fula" (como era
 conhecidoem Mejo...) 
Nuno Rubim

Vou continuar a enviar material de Guileje, agora da CCaç 1424. Porque perintreps são muitos e tem de se escolher uma data. (**)

Seguem 3 fotos:

A foto nº 1  mostra o meu grupo de assalto. Lá está o alf Moura, o primeiro à esquerda, ajoelhado que morreu a meu lado com um tiro no coração, em Chinchim Dari.. [E eu à direita, em tronco nu, vestido à "capitão fula"];

Na foto nº 2 está o grupo de apoio e na nº 3 está o grupo de segurança (Milícias ), com armas capturadas pela Companhia em Salancaur.

Abraços
Nuno Rubim


2. Comentário do editor:

O alf Moura é o António Joaquim Alves de Moura, transmontano, natural de Padronelos, Montalegre,  morto em combate, em  4/9/1966. Pertencia à CCAÇ 1424 / BCAÇ 1858 (1965/67), batalhão mobilizado pelo RI 15.

Vamos acrescentar o topónimo Chinchim Dari à lista já extensa (e trágica) do nosso martirológio guineense.


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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 10 de junho de 2006 > Guiné 63/74 - P863: Tabanca Grande: O nosso novo tertuliano, o Coronel Nuno Rubim

Guiné 63/74 - P16076: Convívios (744): Encontro do pessoal da CART 2340 (Canjambari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69), dia 12 de Junho de 2016, Covão do Lobo, Vagos



EM BUSCA DE CAMARADAS PARA O ALMOÇO/CONVÍVIO DA CART 2340

DIA 12 DE JUNHO DE 2016

COVÃO DO LOBO - VAGOS

Boa noite. 
Sou filha de um ex-combatente da CART 2340 (Canjambari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69), Rogério Barreira que pertencia às Transmissões.
O meu pai é de Coimbra e é conhecido pelo Relojoeiro.
Procurei na internete informações e deparei-me com o vosso blogue. Será que pode ajudar-nos a juntar os camaradas e a divulgar o convívio?

Os contactos que ele tem estão desactualizados pelo que procuro os seus camaradas com vista ao Almoço/Convívio deste ano que terá lugar no dia 12 de Junho de 2016, com concentração pelas 12 horas no Restaurante "O Parque", sito na Rua Principal (EN 334), Covão do Lobo, Vagos.

Seria muito interessante que as pessoas partilhassem fotos e histórias sobre aquela passagem. Não é época feliz para muitos, mas é a realidade. Por muito que se partilhe histórias, nunca se esgotam as fontes. 

O contacto do meu pai é: 966 162 108

Atenciosamente
Maria Cristiana Barreira
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de maio de 2016 Guiné 63/74 - P16071: Convívios (743): XXXVII Encontro do pessoal da CCAV 2639, dia 18 de Junho de 2016 em Fernão Ferro (Mário Lourenço)

Guiné 63/74 - P16075: Os nossos seres, saberes e lazeres (154): A pele de Tomar (4) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Janeiro de 2016:

Queridos amigos,
Uma cidade que foi sede da Ordem dos Templários em Portugal, sede da Ordem de Cristo, onde houve um Paço onde morou o Infante D. Henrique, que aqui vinha administrar os seus bens, uma residência para D. Manuel I, que queria acompanhar o embelezamento do Convento e o acontecimento ímpar em que se tornou a Charola, por aqui andou Felipe II agradecido e oferecendo um aqueduto impressionante, obra arquitetónica de primeira classe, por aqui houve fábricas de tecidos e alvores industriais, seguramente que tal cidade guarda preciosidades de toda a espécie, limito-me nestas passeatas a captar detalhes de uma epiderme grácil, versátil, de tal modo que não há viajante que não saia daqui impressionado.
São estes meus olhares que com satisfação partilho convosco.

Um abraço do
Mário


A pele de Tomar (4)

Beja Santos

Tomar é um sério caso de estudo de entrelaçamento da ecologia humana com as suas manifestações urbanas. Há sinaléticas que correspondem à amenidade com que se vive e à boa respiração das ruas do seu casco histórico. Neófito quanto aos seus códigos, a primeira vez que aqui passei deu-me para pensar se tínhamos aqui uma delegação da obra do Padre Américo. Mas não, aqui há vitualhas, até mensagens de amor na montra, e agora é-me indiferente aprofundar a ligação entre este nome e comércios passados. É enternecedor e basta.



Logo à entrada da Corredoura se apercebe que há resquícios do gosto neomanuelino, e ainda bem, Tomar deve um dos seus ícones cimeiros a D. Manuel I que não descansou enquanto não pôs a Charola na magnificência que apreciamos, não há favor nenhum em chamar-lhe património da humanidade. Gosto desta porta, muito pela delicadeza, espero que em breve a repintem, pois bem merece.


Somos a primeira potência mundial em azulejos, bendita criatura que se lembrou deste lugar cândido do Nabão, ali a uma centena de metros, para o entronizar em tons azuis, a que estamos habituados, basta pensar em tão belas estações de caminho-de-ferro, como Santarém ou Aveiro. Enfim, e sem intuitos publicitários, há mais Corredoura com esta pele azul.


Mesmo em frente ao cineteatro temos algumas lembranças de uma dada vida cultural tomarense. Naquele tempo, o cinema, a conferência, a trupe teatral tinham um outro encanto, participava-se no evento num traje quase solene, era uma exigência social incrustada nos usos e costumes, esta imagem, hoje, só a título excecional é que podia apresentar uma assistência tão afiambrada, o consumo de massas tornou estes eventos meros produtos que se podem ver com pipocas e em mangas de camisa.


Esta porta de templo religioso cativa-me pela sobriedade e as proporções harmónicas. Paro aqui muitas vezes para olhar mais alto, ver a estátua da Virgem, não está facilmente ao alcance dos olhos, tenho para mim que o artista a inseriu para completar a perfeita harmonia. É como se fôssemos convidados a ficar prantados em oração, agradecendo a Deus e ao artista.


O que seria desta bela casa sem esta vegetação luxuriante, uma buganvília disciplinada, um supremo adorno e último toque de graciosidade? Não vale a pena especular, produto final é de uma requintada harmonia, há aqui um toque de sensibilidade de gostar da vida e do sítio onde se habita.



Digam o que disserem, estas molduras de pedra maravilham, seja qual for a estação do ano. Às vezes penso como esta cidade ficaria muito mais deslumbrante com toda esta pedra tratada. Porque nada impede o conforto interior, este é design feito pela história, convém não o macaquear. É pele da nossa identidade.


Esta invocação náutica não tem concorrentes em quaisquer outros estilos artísticos. Falando com os meus botões, e correndo o risco de tudo isto parecer prosápia, olho para o manuelino como uma imagem de marca, um rei poderoso, que considerava pôr e dispor de metade do terráqueo para navegar e comerciar, de tal majestade como a sua esfera armilar, só com este perfil é que o seu escol de artistas podiam gravar na pedra uma epopeia sem rival. É preciso subir ao alto de Tomar para contemplar esta pele dos Descobrimentos.

(Continua)
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Notas do editor

Poste anterior de 4 de maio de 2016 Guiné 63/74 - P16048: Os nossos seres, saberes e lazeres (152): A pele de Tomar (3) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 5 de maio de 2016 Guiné 63/74 - P16052: Os nossos seres, saberes e lazeres (153): O novo livro do nosso camarada Manuel Luís R. Sousa, "Onde a Cegonha Poisou - Contos Autobiográficos do meu Manuel", já está disponível (O autor)