domingo, 22 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16120: Convívios (749): Em Peroviseu, Fundão, no próximo sábado, dia 28 de Maio, CART 2479, "Os Lacraus (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, Paunca, 1969/70) (Valdemar Queiroz)





Concentração em Peroviseu, Fundão, às 12h15 do dia 28 de maio de 2016, junto ao Hotel Rural / Casa da Eira... No mapa das estradas, fica na A23 (para quem vem da Guarda, é saída 30, Covilhã Sul)


1. Mensagem de hoje do Valdemar Queiroz [ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]

Luis Graça

Este ano os Lacraus vão para Peroviseu. Vão para a Beira Baixa. Vamos todos conviver para aqueles lados, que a grande maioria da rapaziada não conhece ou por lá nunca passou.

Foi o ex-alf mil Martins que organizou, e que julgo ser daqueles lados. Já estamos todos com setenta anos, ou talvez com um ou dois a mais que o outro.´

Eu,  já com setenta e um, era o mais velho, fora o cap Pinto, o 1.º sargento Ferreira Jr. e o 2.º sargento Almeida (O velho lacrau).

Vamos lá estar todos a recordar: "daquela vez em Piche'', "e quando embrulhámos em Canquelifá" ?!,
Vamos lá estar todos e à espera do ex-fur mil Renato Monteiro que foi da nossa Companhia [ e, depois, foi parar à CART 2520, Xime, 1970; autor, com Luís Farinha, do livro Guerra colonial: fotobiografia. Lisboa: Círculo de Leitores / Publicações D. Quixote. 1990. 307 pp].

Abraços

Valdemar Queiroz

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Guiné 63/74 - P16119: Convívios (748): XVII Encontro do pessoal do BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72), dia 18 de Junho de 2016, em Fátima (Manuel Dias Pinheiro Gomes)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Dias Pinheiro Gomes (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM / Agrupamento de Transmissões da Guiné, Catió e Bissau, 1970/72), com data de 19 de Maio de 2016:

Boas tardes caro amigo Vinhal
Vai-se realizar mais um convívio do 2930 de Catió, pedia o favor se podes divulgar na Tabanca Grande.
Fico agradecido.
Um grande abraço
Manuel Gomes


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Nota do editor

Último poste da série de 19 de maio de 2016 Guiné 63/74 - P16110: Convívios (747): Almoço do pessoal da 3872, onde se encontraram dois grandes médicos, o Dr. Pereira Coelho e o Dr. Rui Vieira Coelho (Juvenal Amado)

Guiné 63/74 - P16118: Blogpoesia (449): "Comboio da madrugada...", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Em mensagem de hoje, 22 de Maio de 2016, o nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66), enviou-nos este poema intitulado "Horas amargas":


Comboio da madrugada...

Tomei o comboio nocturno,
fiz-me ao mar da madrugada,
por vales ermos, encostas
e dobrando serras.
Rumei aos longínquos monfortes
do Oriente
donde o sol nascente vem casa manhã.

Fui em busca da sapiência.
Outras terras, outras cores.
Donde o longe é o ocidente atribulado.

Vou à Manchúria e ao Tibete.
Ao fundo, a China e o Indostão.
Que tamanho mar!...
O fim do mundo.

Ao alto, o céu.
O mesmo azul e outras estrelas.
A mesma paz.

E vou adiante.
Uma sementeira d’ilhas.
Perene naufrágio.
Outro hemistério.
O mistério sul.
Tão colado ao chão
Como se fora o norte.

Já estou cansado.
Quero voltar... Não sou de cá.

Berlim, 22 de Maio de 2016
8h25m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de maio de 2016 Guiné 63/74 - P16105: Blogpoesia (448): Gadamael Porto, eu te amo, eu te odeio (Manuel Augusto Reis, ex-alf milç cav, CCAV 8350, Guileje,Gadamael, Cumeré, Quinhamel, Cumbijã e Colibuia, 1972/74)

Guiné 63/74 - P16117: Agenda cultural (487): Sessão de lançamento do novo livro do lusoguineense António Júlio Estácio, "Bolama, a saudosa...", Lisboa, Palácio da Independência, dia 25, às18h00 - Resumo da obra: III e última parte


Capa do livro do António Júlio E. Estácio, "Bolama, a saudosa...". Edição de autor, 2016, 491 pp. Preço de capa: 15€.


António Estácio no no V Encontro Nacional Tabanca Grande, Monte_Real, 26 de unho de 2010. 
Foto: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010)


Parte III (e última) do resumo do livro "Bolama, a saudosa...", da autoria do nosso amigo camarada, lusoguineense, António [Júlio] Estácio.


Vai ser lançado em Lisboa, 
no Palácio da Independência, 
largo de São Diomingos 
ao lado do Teatro de D. Maria II, 
dia 25 de maio, 4ª feira,
às 18h00.

O autor: António [Júlio Emerenciano] Estácio, lusoguineense, nado e criado no chão de papel, em Bissau, em 1947, engenheiro técnico agrário (Coimbra, 1964-1967, Escola de Regentes Agrícolas, onde foi condiscípulo do Paulo Santiago), fez a tropa (e a guerra) em Angola, como alferes miliciano (1970/72). Trabalharia depois em Macau (de 1972 a 1998). Vive há quase duas décadas em Portugal, no concelho de Sintra. É membro da nossa Tabanca Grande desde maio de 2010-

Tem-se dedicado à escrita, dois dos seus livros mais recentes narram as histórias de vida de duas "mulheres grandes" da Guiné, a cabo-verdiana Nha Carlota (1889-1970) e a guineense Nha Bijagó (1871-1959).


Sinopse da obra - III (e  última)  Parte 










Observ. do editor. Há gralhas no texto original,que não pudemos corrigir a tempo.
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Nota do editor:

(*) Postes antes da série

21 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16115: Agenda cultural (479): Sessão de lançamento do novo livro do lusoguineense António Júlio Estácio, "Bolama, a saudosa...", Lisboa, Palácio da Independência, dia 25, às 18h00 - Resumo da obra: parte II

20 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16112: Agenda cultural (478): Sessão de lançamento do novo livro do lusoguineense António Júlio Estácio, "Bolama, a saudosa...", Lisboa, Palácio da Independência, dia 25, às 18h00 - Resumo da obra: parte I

Guiné 63/74 - P16116: Parabéns a você (1083): Luciano Jesus, ex-Fur Mil Art da CART 3494 (Guiné, 1971/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 20 de maio de 2016 Guiné 63/74 - P16111: Parabéns a você (1082): Mário Pinto, ex-Fur Mil Art da CART 2519 (Guiné, 1969/71)

sábado, 21 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16115: Agenda cultural (486): Sessão de lançamento do novo livro do lusoguineense António Júlio Estácio, "Bolama, a saudosa...", Lisboa, Palácio da Independência, dia 25, às 18h00 - Resumo da obra: parte II


Capa do livro do António Júlio E. Estácio, "Bolama, a saudosa...". Edição de autor, 2016, 491 pp. Preço de capa: 15€.

Parte II do resumo do livro "Bolama, a saudosa...",
 da autoria do nosso amigo camarada, lusoguineense, António [Júlio] Estácio.


Vai ser lançado em Lisboa, 

no Palácio da Independência, mesmo ali ao lado 

do Teatro de D. Maria II, 

dia 25 de maio, 4ª feira,
às 18h00.


O autor:

António [Júlio Emerenciano]  Estácio, lusoguineense,
nado e criado no chão de papel, em Bissau, em 1947,
engenheiro técnico agrário (Coimbra, 1964-1967, Escola de Regentes Agrícolas, onde foi condiscípulo do Paulo Santiago), fez a tropa (e a guerra) em Angola, como alferes miliciano (1970/72). Trabalharia depois em Macau (de 1972 a 1998).

Vive há quase duas décadas em Portugal, no concelho de Sintra.
É membro da nossa Tabanca Grande desde maio de 2010 (*). 
Tem-se dedicado à escrita, é autor de dois livros que narram as histórias de vida de duas "mulheres grandes" da Guiné, a cabo-verdiana Nha Carlota (1889-1970) e a guineense Nha Bijagó (1871-1959). (**).


Sinopse da obra - II Parte (o início da decadência 

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16114: Convívios (748): Em Oliveira de Azeméis, no passado dia 7: celebração dos 50 anos de formação do BCAÇ 1894 e dos 48 anos do regresso da CCAÇ 1589, os bravos de Béli e Madina do Boé (Manuel Coelho / António Marques Alves)


Foto nº 1 > Insígnias da CCAÇ 1589 (1966-1968)


Foto nº 2 > O António Marques Alves, organizador e também director do Núcleo da Liga dos Combatentes de Oliveira de Azeméis, depositando um ramo de flores em homenagem aos mortos do concelho na guerra do ultramar.


Foto nº 3 > Aspeto da cerimónia de homenagem aos mortos ddo concelho na guerra do ultramar


Foto nº 4 > Concentração junto ao monumento aos mortos da guerra do ultramar


Foto nº 5 > Homenagem aos mortos do concelho (2)


Foto nº 6 > Igreja de Oliveira de Azeméis


Foto nº 7 Os bravos da companhia (1)


Foto nº 8 > Os bravos da companhia (2)



Mensagem do antigo comandante da CCAÇ 1589, Henrique Perez Brandão, cap inf, lida no encontro pelo ex-alf Veleda.

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1.  Mensagem, com data de 15 do corrente, do Manuel Caldeira Coelho (ex-fur mil trms,  CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68),

Caros amigos editores, meio século não é pouco na vida humana, por isso estou a pedir-vos a publicação da notícia deste encontro da CCAÇ 1589 que é anual mas desta vez comemorámos 50 anos da formação do batalhão (BCAÇ 1894) em Tomar, e 48 anos do nosso regresso da Guiné [, em 10 de maio de 1968, com chegada a Lisboa, a 15].

Assim envio as fotos mais expressivas do evento em Oliveira de Azeméis no passado dia 7, no qual o António Marques Alves, organizador e também director do Núcleo da Liga dos Combatentes, depositou flores em homenagem aos mortos do concelho na guerra do ultramar.

Também foi celebrada missa por sufrágio pelos falecidos da nossa companhia.

Envio também cópia da mensagem do nosso comandante de companhia, o coronel e então capitão Brandão, na qual resume o que foi o nosso percurso naquele fim do mundo que se chama
região do Boé.

Um grande abraço,
Manuel Coelho
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Guiné 63/74 - P16113: Nota de leitura (840); "Outro Olhar, Guiné 1971-1973”, por Francisco Gamelas, edição de autor, 2016 (Mário Beja Santos)



Mário Beja Santos
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Maio de 2016:

Queridos amigos,

É verdade que já se escreveram histórias da unidade em verso, e há muitíssimas rimas em edições de autor. Não conheço nada de tão íntimo, despojado de pompa que este testemunho de um alferes das Daimler que viveu a guerra e o amor em Teixeira Pinto e arredores, e que põe fundamentalmente em verso a sua forma de ler as fotografias do seu álbum daquele tempo.
Ele não se ilude: "A pessoa que agora as revive é diferente daquele viveu os factos a que se referem".

Mas há tesouros que não se apagam, e o ouro brilha sempre, tal como ele canta a amizade em teatro de guerra, como ele escreve com tanta singeleza:

"Hoje sou eu que ajudo./Amanhã poderei ser eu o ajudado./Só o viver as situações/nos ensina quem somos".

Que ninguém perca esta leitura, digo-vos eu.

Um abraço do
Mário


Outro olhar, Guiné 1971-1973, por Francisco Gamelas

Beja Santos

O testemunho de Francisco Gamelas [, foto atual à direita[, que comandou um pelotão Daimler em Teixeira Pinto, entre 1971 e 1973, é um documento único. Nunca saberemos o tempo que levou a congeminar esta solução original de voltar à Guiné meditando e poetando sobre fotografias pessoais. É um autor despretensioso, nada de farroncas nem de bravuras e diz abertamente: nem sempre os episódios narrados foram diretamente vividos pelo autor, soube deles por narrativas feitas na altura por quem as viveu.

É um regresso muito íntimo, na Guiné viveu atribulações mas chegou a ter ao seu lado a mulher amada. Sentiu deceções, não se deu bem no enquadramento da máquina militar, como escreve: “A qualidade humana e profissional da hierarquia era maioritariamente fraca. As massas militares não passavam de números, de estatísticas, de peças descartáveis de uma engrenagem com um dono todo-poderoso”.

 Descreve Teixeira Pinto, pelo que pude ler e ver é a Teixeira Pinto que aparece no meu livro “A Mulher Grande”, que ali viveu nos anos 50 em cuja casa recebeu Amílcar Cabral e Maria Helena Vilhena Rodrigues, somente há que adicionar o quartel. Tudo pacato no sítio, mas o PAIGC movimenta-se em áreas próximas, no Balenguerez e na Caboiana.

Exalta a Daimler (p. 27), o seu instrumento de trabalho:

Esta bizarria careca e obsoleta 
também defendia o império. 
Puseram-lhe a tampa na valeta, 
desta vez com algum critério. 

No caso de pisar uma mina, 
no provável saltar e tombar, 
ao cuspir quem a domina, 
poderia a sua vida salvar (...). 

E apresenta também em métricas rítmicas as tarefas do seu pelotão (p. 29): 

(...) Nos caminhos com tapetes de alcatrão
rumo ao Cacheu e ao Pelundo, 
por vezes até João Landim,
exibíamos o nosso vozeirão
rouco, feroz e profundo
nunca faz de conta de ínterim.

Nas visitas dos senhores do poder
às terras das redondezas
erámos presença obrigatória
não fosse chegar e não ver
o aparato a garantir certezas
de um final feliz para a sua estória. (...)

Não lhe escapam datas de festividades, o trabalho da ação psicológica, as peripécias para angariar uma comida um pouco melhor, são saborosos os seus textos sobre a caça ao leitão e o rabo dos cabritos.

E temos as lavadeiras, assim louvadas (p. 49):

Serviço público por excelência
este de nos lavar a roupa suja.
Ranchos de jovens mulheres nativas
cuidavam de manter apelativas
as roupas dos brancos, cuja
paga era de uma esmola a evidência. (...)

Não esqueceu as crianças, a sua inocência e o seu gargalhar estrídulo, as práticas de higiene no lavadouro  (p. 57):

O prazer lúdico da água a escorrer
sobre a pele nua de uma criança
exprime a aparente confiança
de uma subtil normalidade a decorrer.

Enquanto a mão, para sobreviver,
lava a roupa de militares, balança
a sorte de quem no mato se lança,
tanto para matar como para morrer.

Contudo, é reconfortante a ternura 
que sentimos na simples observação
deste quadro e pensar que perdura,
ainda, neste nosso aviltado coração,
um sentimento nobre. Pura e dura
é a loucura desta arma na nossa mão.

Não se exime ao uso da prosa para castigar o estilo da crueldade, da incompreensão do horror, aquilo que se chama a banalização do mal, é o que escreve o título com "A Queda" (P. 59):

  "Não mais de 35 anos, triste, franzino e alquebrado, um soldado armado de cada lado, mãos atadas atrás das costas. Da negrura do seu corpo sobressaia o branco das pupilas. Na sua frente, formando o bico do triângulo, o sargento de dia, que comandava o grupo. O africano tinha acabado de ser entregue pela PIDE à porta de armas. Da penumbra do seu gabinete o tenente-coronel emergiu, dirigindo-se ao grupo, que parou, na expetativa. De onde me encontrava, pareceu inquirir o africano que o encarou, humilde, embora firme e determinado no seu silêncio. Inesperadamente, uma chuva de murros e pontapés, aplicado meticulosamente, desabou, inútil, sob aquele corpo que se apequenava a caminho do chão, sem produzir um queixume. Um último e violento pontapé, no corpo em posição fetal, há muito no chão, confirmou o cansaço do comandante. Arrastou-se e foi arrastado até ao calabouço. Cedo, na manhã seguinte, um helicóptero veio por ele. Chegou vazio a Bissau. Constou que o preso caiu pelo caminho”.

Não lhe saíram da memória certos lugares e espaços: a camarata em Bissau, a vida da messe de oficiais de Bissau a Teixeira Pinto, duas crianças a conversar no Pidjiquiti, a visita do ministro da Defesa, não lhe escapa um retrato a corpo inteiro do coronel (pp. 70/71):

“Entroncado, seco, estatura meã, sempre de camuflado com a sua boina de paraquedista, parecia um atleta de pesos e alteres. Passo miúdo e saltitante, cabeça rapada e bigode apurado, já a grisalhar. Constava que tinha praticado boxe. Olhava as pessoas sempre de frente sem nunca desviar o olhar. Personalidade forte, gostava de ser obedecido com rapidez e de forma eficiente. Tinha pouca paciência para quaisquer discussões. As suas frases eram curtas e grossas. Sabia que, no final era a sua opinião que prevalecia. Era ele que mandava. Para quê perder tempo?"

E há momentos inolvidáveis: acompanhado pela mulher ocorre um encontro na bolanha, foi momento mágico, como ficará no poema e na imagem (p. 75):

No saibro da linha direita e vermelha
na nossa direção, surge a caminhar
um vulto negro, passo lento e seguro.
O que poderia ser uma mulher velha
no porte e compleição, veio a revelar
a frescura própria de um fruto maduro.

Dois pequenos ramos secos nas mãos.
Como uma coroa, cingia-lhe a cabeça
uma fita clara de pano fino enrolado.
Os brincos das orelhas eram irmãos
do colar de contas do pescoço, peça
típica de mulher com marido prendado. (...)

Nem tudo circunda à volta do estro poético, há acontecimentos duríssimos, inocentes mortos que nunca mais se esqueceram, é preciso ler com os olhos límpidos e o coração disponível um texto pungente que se intitula “Efeitos colaterais" (pp. 78/81). E há a mais extremosa das confissões de amor, até porque a Lena virá para Teixeira Pinto e será professora, foi uma decisão com muitos escolhos (pp. 99/101):

“Mesmo assim, amor, decidimos casar
e começar a nossa vida em comum
neste reino de guerra sempre latente
aproveitando os intervalos
de alguma normalidade
para nos inventarmos
como casal.
Éramos jovens.
Sentíamo-nos imortais
apesar da evidência em contrário.(...)

Foi aqui, no Canchungo,
e nestas condições que aceitámos,
que o nosso amor floriu
que nos fomos aprendendo
na partilha permanente
nas cumplicidades do presente
e nela germinou a semente
que foi crescendo
no teu ventre
sangue do nosso sangue
carne da nossa carne
até nos acrescentar
em forma de rebento
a quem demos o nome de Sara”.

E, um dia, estão todos de regresso, finda uma saudade, rasga-se uma esperança, aquele barco de nome Niassa traz gente que vai recomeçar as suas vidas (p. 127):

Agora, quem espera já não desespera.
Está iminente o retomar da dignidade.
A felicidade pode mesmo ser verdade
e a carícia que nos afaga ser sincera. (...)

Não há livro neste extenso acervo da literatura de guerra como o de Francisco Gamelas. Resolveu o autor fazer a sua própria edição com uma tiragem de 150 exemplares. Irá arrepender-se pois há muito mais gente que quer guardar para si este majestoso e enternecido olhar de dois anos numa guerra, reescritos em alguns meses de 2015. Que obra tão bonita!


Parece olhar, enviesado, a objetiva/mas, sem nesse instante se manifestar/uma intenção do fotógrafo afrontar./Será mais um efeito de perspetiva. (Foto de Francisco Gamelas, p.114)


"Lena, por favor, a máquina fotográfica./Cicio numa pressa para a minha mulher./Máquina na mão, nos lábios um sorriso, abordo, afoito, aquela negra magnífica./Mas será que ela aceitar e entender?/Sorriu para mim, e nada mais foi preciso".  (Foto de Francisco Gamelas, p.74)
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de maio de 2016 Guiné 63/74 - P16094: Nota de leitura (839): Num número da revista Africana encontrei um trabalho de certo fôlego intitulado “Guiné: o gentio perante a presença portuguesa”, da autoria da antropóloga Maria Teresa Vázquez Rocha (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16112: Agenda cultural (485): Sessão de lançamento do novo livro do lusoguineense António Júlio Estácio, "Bolama, a saudosa...", Lisboa, Palácio da Independência, dia 25, às 18h00 - Resumo da obra: parte I

Parte I do resumo do livro "Bolama, a saudosa...", da autoria do nosso amigo e camarada, lusoguineense, António [Júlio] Estácio.


Vai ser  lançado em Lisboa, 
no Palácio da Independência, mesmo ali ao lado 
do Teatro de D. Maria II, 
dia 25 de maio,  4ª feira,
às 18h00.

O  autor:

António Estácio, lusoguineense,
 nado e criado no chão de papel, em Bissau,  em 1947, 
engenheiro técnico agrário (Coimbra, 1964-1967, Escola de Regentes Agrícolas,
 onde foi condiscípulo do Paulo Santiago), 
fez a tropa (e a guerra) em Angola, como alferes miliciano (1970/72). 
Trabalharia depois em Macau (de 1972 a 1998).

Vive há quase duas décadas em, Portugal, no concelho de Sintra, 
É membro da nossa Tabanca Grande desde maio de 2010 (*). 
Tem-se dedicado à escrita,
 é autor de dois livros que narram as histórias de vida  
de duas "mulheres grandes" da Guiné, 
a caboverdeana Nha Carlota (1889-1970) 
e  a guineense Nha Bijagó (1871-1959). (**).

Todos os amigos e camaradas da Guiné, que se sentam à sombra do poilão da Tabanca Grande, estão naturalmente convidados para este evento cultural. De resto, o Estácio é um bom amigo e melhor camarada, tem participado nos nossos encontros anuais em Monte Real, e é um elo de ligação fundamental com a história e a cultura crioula da Guiné-Bissau.

Esta obra, até pela sua extensão (c. de meio milhar de páginas), foi um "parto difícil", é um projeto que já vem de 2012. Parte do material fotográfico foi cedido pelo nosso blogue.

Parabéns ao autor, por ter chegado a bom porto, o mesmo é dizer que não morreu na praia!... Fica aqui um "cheirinho" do seu livro, com este resumo (alargado) com que ele presenteou o nosso blogue. Obrigado, António!... E boa sorte para o teu livro. 


Sinopse da obra - I Parte (da chegada dos portugueses até 1932)










(Continua)
_____________

(...) António Júlio Emerenciano Estácio  [,. foto à  esquerda, em 1964,]  nasceu em Bissau, a 3 de maio de 1947, no tchom de Papel.  Estudou no Liceu Honório Barreto, onde foi condiscípulo do nosso amigo Pepito e foi aluno da nossa decana, a dra. Clara Schwarz (n. 1915).

Conheceu, ainda na Guiné, o nosso camarada Mário Dias.

De 1964 a 67 estudou, em Coimbra, na ex-Escola Nacional de Agricultura, onde tirou o Curso de Regente Agrícola,  tendo depois estagiado no extinto Instituto de Algodão de Angola (IAA).

De Janeiro de 1969 a Abril de 1972 cumpriu o serviço militar obrigatório, tendo, a partir de março de 1970 a maio de 1972, prestado comissão de serviço na Região Militar de Angola (RMA), Esteve aquartelado nas povoações de Luquembo, Sautar e Bessa Monteiro.

Em 28/9/1972 chegou a Macau, a fim de desempenhar funções técnicas na então Brigada da Missão de Estudos Agronómicos do Ultramar (MEAU). Neste território, conviveu com o Mário Dias e com o  [nosso saudoso] José Neto, de quem ficou grande amigo. Trata.se de dois grã-tabanqueiros da primeira hora, camaradas da Guiné.

De 28 setembro de 1972 a 2 dezembro de 1998 viveu em Macau, onde exerceu vários cargos e funções. Vive hoje em Portugal. (...)

(**) Vd. postes de :

3 de julho de  2011 > Guiné 63/74 - P8500: Fotos do lançamento do último livro do nosso camarada e amigo António Estácio, Nha Bijagó: Respeitada personalidade da Sociedade Guineense (1871-1959) , Lisboa, 20 de Junho de 2011


20 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6434: Notas de leitura (109): Carlota Lima Leite Pires, 'Nha Carlota' (1889-1970), de António Estácio (Mário Beja Santos)

(***) Último poste da série > 18 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16104: Agenda cultural (477): Lançamento do livro "A Conquista das Almas: Cartazes e Panfletos da Acção Psicológica na Guerra Colonial", de Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, dia 23 de Maio, às 18h30, na Associação 25 de Abril, em Lisboa