quinta-feira, 16 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16209: Convívios (755): Grande ronco no 31º Convívio Anual da CART 3494 em Arcozelo – Vila Nova de Gaia (Sousa de Castro)



1. O nosso Camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), solicitou-nos a publicação do seguinte trabalho sobre o convívio anual da sua Unidade:

GRANDE RONCO NO XXXI CONVÍVIO ANUAL DA CART 3494 EM ARCOZELO – VILA NOVA DE GAIA

No passado dia 11 de Junho de 2016, realizou-se na Vila de Arcozelo do concelho de Vila Nova de Gaia o XXXI encontro/convívio anual dos ex. combatentes da CART 3494 cujo lema é: “NA GUERRA CONSTRUINDO A PAZ”, que estiveram/prestaram ao serviço de Portugal na Guerra da Guiné, nomeadamente no XIME e em Mansambo nos anos de Dezembro e 1971 até Abril de 1974. 

Como sempre nestes casos, conforme o pessoal ia chegando, era uma azáfama de saber uns dos outros, os abraços o repetir as mesmas Estórias, a tristeza e as lamentações sobre a saúde precária de alguns, o desaparecimento de outros.

Convívio com uma boa adesão, diria até, que bateu o record em número de presenças, 104 dos quais 52 veteranos. 











Carlos Teixeira .....................Nelson Cardoso 

O repasto foi servido num restaurante local. Numa breve intervenção, o CMDT Pereira da Costa da CART 3494, para além de expressar o contentamento por estar connosco, sublinhou entre outras coisas não menos importantes, que estes encontros são um acto de cidadania, lembrou da importância das nossas esposas/companheiras, para que nunca se cansem de ouvir sempre as mesmas Estórias, porque se contam sempre as mesmas Estórias, quer dizer que é verdade, salientou da importância de passar esta mensagem aos nossos filhos e netos, para que nunca sejamos esquecidos. Houve muita animação onde não faltou a declamação de poemas, não faltando até quem se atrevesse a mostrar os seus dotes vocais e musicais.

Por fim, já no final da tarde, foi o destroçar, o regresso às suas casas com a promessa de voltar no próximo ano, será o XXXII encontro a realizar em Viseu. A organização está a cargo do Nelson Marques Cardoso e Carlos Duarte Teixeira.

Intervenção do Coronel de Artilharia na Reforma, ex, Cap. Da Cart 3494 no Xime e CART 3567 em Mansabá: 


Momento de descontração por Cmdt. Pereira da Costa:


Algumas fotos do convívio: 

  
O Pessoal da CART   


Da Esq./Drtª. António Gomes Azevedo, António Manuel Sousa de Castro, António de Sousa Bonito e Nelson Marques Cardoso


Da Esq./Drtª: Manuel Amorim do Alto, Lúcio Damiano Monteiro da Silva, Jorge Alves Araújo, Acácio Dias Correia e António Manuel Sousa de Castro


Da Esq./Drtª: António Júlio Peixoto, Acácio Dias Correia e António Manuel Sousa de Castro


Da Esd./Drtª: Manuel Henrique Moreira Martins, Eduardo Augusto da Silva (CAÇ 4512 Farim), Sousa de Castro e João Domingos de Sousa Machado


Do lado Direito o CMDT Pereira da Costa e sua Esposa


Aspecto geral da sala

Sousa de Castro
1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873 
Junho de 2016
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Nota de MR:

Último poste da série em:

Guiné 63/74 - P16208: Blogpoesia (453): "Se eu de ti me não lembrar, Jerusalém (Gadamael Porto, Guiné, 1973)", de Luís Jales de Oliveira: um dos mais belos poemas da guerra colonial, inspirado pelo Rio Cacine, mas com o Rio Tâmega no coração, quando o poeta, vindo de Bolama, estava a caminho de Gadamel onde foi colocado com a sua CCAÇ 20


Capa do livro "Corre-me um Rio no Peito", de Luís Jales de Oliveira, ed. de autor, 2010, Mondim de Basto, 72 pp. Capa de Samara (João Campos). Dedicatória do poeta,  manuscrita, em baixo, ao nosso editor Luís Graça.



Oluveira (2010). p. 7


1. O Luís [Manuel] Jales de Oliveira, mais conhecido por "Ginho", em Mondim de Basto, sua terra natal, por onde corre o Tâmega, o seu "rio sagrado" e a sua "fonte de inspiração",  a par do Monte da Senhora da Graça, antigo vulcão [, rio e monte referidos no poema abaixo] [, foto à esquerda]:

foi  fur mil trms inf, Agrup Trms de Bissau e CCAÇ 20 (Bissau e Gadamael Porto, 1972/74).

O poema qie a seguir se reproduz, com a devida autorização do autor, é um dos mais belos que eu tenho lido. relacionados com a Guiné e a guerra colonial.

Descortino-lhe uma dupla fonte de inspiração:  (i) a biblíca, a do Salmo 137, Livro dos Salmos Antigo Testamento;  e (ii) as não menos célebres redondilhas de Babel e Sião, de Luís de Camões: Sôbolos rios que vão / Por Babilónia, me achei,« / Onde sentado chorei / As lembranças de Sião / E quanto nela passei. (...)

O Luís Jales disse-me que este poema foi "inspirado pelo Rio Cacine", mas com o Rio Tâmego no coração, quando, vindo de Bolama, estava a caminho de Gadamel onde foi colocada a sua CCAÇ 20:

(...) Na Ccaç 20 servi às ordens do Tenente Tomás Camará, dos comandos, que foi ferido em combate e, depois, às ordens do Capitão Sisseco, também dos comandos, que o veio substituir. Já não conheci o Saiegh, que, suponho, terá sido nomeado já depois de eu deixar a Companhia. 


"Não participei na 'batalha de Gadamael' pois coincidiu com a nossa partida de Bolama e com a chegada a Cacine, onde fiquei acampado, na praia, vários dias a guardar os equipamentos da  Ccaç 20. 

"Vivi a fase posterior de incontáveis bombardeamentos e contactos de cada vez que se punha o nariz de fora do arame farpado. Prometo que hei-de desfiar, na nossa Tabanca, as estórias e aventuras relacionadas com o incrível Gadamael". (...)


Disse-lhe,  a ele, ao Albano de Matos e ao Valdemar Rocha, companheiros de aventura do "Poilão" (Bissau, dezembro de 1973 / fevereiro de 1974):

(...)" Foi pena a Margarida Calafate Ribeiro e o Roberto Vecchi,  'olheiros' dos poetas da guerra colonial,   não vos terem 'apanhado', desconhecendo muito provavelmenet a existência do 'Popilão' (que nem sequer consta da PorBase - Base Nacional de Dados Bibliográficos)... Eles organizaram uma extensa (e de qualidade desigual) antologia de textos poéticos sobre a nossa guerra" (Afrontamento, 2011)" (...).

Aqui fica o meu convite para os nossos leitores lerem  este poema em voz alta, pausadamente, num fim de tarde, à sombra de um choupo, na margem do rio da vossa aldeia. Ao poeta, tiro o quico, o chapéu, e rogo às musas dos rios Tâmega e Cacine que o protejam e que o continuem a inspirar!,,,  (Pequeníssimos detalhes como o "chão manjaco" posto pelo poeta na região de Tombali ou o míssil Strela mal grafado não rmancham em nada este poema quase perfeito, obrigatório numa futura antologia da poesia da guerra colonial, a  organizar um dia pela Tabanca Grande, se Deus, Alá e os bons irãs nos derem tempo de vida e saúde)... (LG)




(Oliveira, 2010, pp. 25/26)
Oliveira (2010). pp. 25-26


In: Luís Jales de Oliveira - Corre-me um Rio no Peito. Mondim de Basto, ed. autor, 2010,  72 pp. ilustrado. Capa de Samara (João Campos). Prefácio de José Alberto Faria, Depósito  Legal nº 307277/10-

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Nota do editor:


Último poste da série > 12 de junho 2016 > .Guiné 63/74 - P16195: Blogpoesia (452): E, se de repente..." e "Minhas articulações...", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 63/74 - P16207: Efemérides (231): Leça da Palmeira homenageia os seus Combatentes no Dia de Portugal (Carlos Vinhal)

Foto: Abel Santos

1. No passado dia 10 de Junho, dia de Portugal, em Leça da Palmeira fez-se a habitual romagem ao cemitério local, antecedida do hastear da Bandeira Nacional no edifício da Junta de Freguesia local e da Missa de Sufrágio pelos militares caídos em campanha.


Antes das 10h30 da manhã já alguns Combatentes, familiares e pessoas anónimas se juntavam em frente ao edifício da Junta de Freguesia para assistirem ao hastear de Bandeira de Portugal.

 Guarda de Honra formada com Combatentes

O Grupo Coral do Núcleo de Matosinhos da LC interpretou o Hino Nacional durante o hastear da Bandeira de Portugal

 A nossa Bandeira
Fotos: Dina Vinhal

 Retrato de família na escadaria do edifício da Junta de Freguesia

Seguiu-se a Missa de Sufrágio pelos Combatentes leceiros caídos em campanha, na Igreja Matriz de Leça da Palmeira, celebrada pelo senhor Pe. Marcelino.

 O Grupo Coral do Núcleo que, durante a Missa, interpretou os diversos cânticos religiosos

Na foto: Combatente Abel Santos; Ten-Cor Armando Costa, Presidente do Núcleo de Matosinhos da LC; senhor Fernando Monteiro, em representação do Presidente da União das Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira; SAj Joaquim Oliveira, Secretário da Direcção do Núcleo de Matosinhos da LC; e Combatente José Oliveira, 1.º Vogal Suplente da Direcção.
 Fotos: Carlos Vinhal

O Estandarte do Núcleo de Matosinhos da LC
Por trás, a Imagem da Nossa Senhora da Conceição, em pedra de Ançã policromada, datada do Séc XV, com o Menino descansando a sua mão num dos seios de Sua Mãe. Autor: Diogo Pires o Velho.
Foto: José Trindade

O senhor Pe. Marcelino durante a celebração da Missa
Foto: Abel Santos

As celebrações do Dia de Portugal terminaram com a romagem ao Cemitério n.º 1 de Leça da Palmeira, para a cerimónia de evocação dos Combatentes leceiros caídos em campanha, junto ao Talhão da Liga dos Combatentes, ali existente.

O combatente Ribeiro Agostinho, Presidente da Mesa da AG do Núcleo de Matosinhos da LC; o senhor Fernando Monteiro, da União das Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira; e o Ten-Cor Armando Costa, Presidente da Direcção do Núcleo de Matosinhos da LC, depositaram uma coroa de flores no Talhão da LC, homenageando desta forma os leceiros caídos em Combate.

Os toques estiveram a cargo do 2.º Cabo Músico, Pedro Monteiro, da Brigada Ligeira de Intervenção – Coimbra
Fotos: Abel Santos

O senhor Ten-Cor Armando Costa na sua alocução

O senhor Fernando Monteiro na sua breve alocução, dirige-se aos presentes
Fotos: Dina Vinhal

O Grupo Coral do Núcleo interpreta o Hino da Liga dos Combatentes...
Foto: Abel Santos

...acompanhado pelos presentes
Foto: Dina Vinhal

Findo o programa, a Autarquia ofereceu um Porto de Honra no Salão Nobre da Junta de Freguesia aos participantes nas cerimónias deste dia.
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de junho de 2016 Guiné 63/74 - P16192: Efemérides (230): O 10 de junho de 2016, em Belém: um herói vivo, cor inf cmd Raul Folques e um grupo de grã-tabanqueiros que não costumam faltar a este convívio de antigos combatentes, entre outros, António Fernando Marques, Arménio Estorninho, Carlos Silva, E. Magalhães Ribeiro, Fernando Jesus Sousa, Francisco Silva, João Carlos Silva, Joaquim Nunes Sequeira, José Nascimento, Mário Fitas, Miguel & Giselda Pessoa, e Silvério Lobo

Guiné 63/74 - P16206; (Ex)citações (310): (i) lendas e narrativas do MFA de Bissau (a propósito do livro do Jorge Sales Golias); e (ii) o significado do vocábulo "Puto" (a Pátria que tínhamos... e que já não temos) (José Manuel Matos Dinis)

1. Comentário de José Manuel Matos Dinis  ao poste P16204 (*)


Eu adquiri o livro [do Jorge Sales Golias] e por ele constatei que o MFA começou numa viagem de avião para Bissau, em 1 de Julho de 1972, que reuniu o autor, Carlos Matos Gomes ("um camarada informado, lúcido e consciente da ditadura e da inutilidade da guerra"), bem como José Manuel Barroso jornalista do República, respectivamente capitães do QP e capitão miliciano. 

"A conversa evoluíu no sentido de mantermos a ligação e a firme intenção de nos reunirmos em Bissau para análise da situação politico-militar e eventual trabalho político com vista a uma tomada de posição do Exército no futuro do país. E assim havia de ser!" - pag.33, a primeira do texto.

Categoricamente fica agora desmentida a questão da carreira dos capitães-milicianos, que durante tanto tempo serviu de justificação para o movimento dos "prejudicados" capitães do QP, onde, aliás, já não encaixavam muito bem no argumento os oficiais de patentes superiores.

Ao longo do texto não se constata outra preocupação, que não seja a da concretização do golpe que libertaria os militares do QP, que era a preocupação do conjunto de promotores que, segundo a descrição, foi aumentado com mais adesões de oficiais de mais elevadas patentes, golpe que encaixava nas ambições pessoais de Spínola, que deu apoio, e terá provocado perplexidade determinante no Governo.

Jorge Sales Golias
Nestes termos, ganha realce o meu argumento de que os elementos do MFA apenas queriam recolher
ao conforto dos respectivos lares, onde as famílias os esperavam com desejo, pois os envolvidos não tiveram preocupações sérias com o destino dos povos das colónias onde havia Forças Armadas, mesmo em Angola praticamente pacificada. Longe das mulheres e dos filhos é que residiam as preocupações. Esta e outras razões parecem encaminhar as causas do 25 de Abril para a tese de Manuel Godinho Rebocho, constante da publicação "Elites Militares e a Guerra de África".

Também em nenhum lugar do livro de Golias foi aflorada a questão da sobrevivência da nação, cuja economia pujante era estruturada nas três mais importantes parcelas, a metrópolo, Angola e Moçambique. Naquele tempo Portugal só recorreu a um empréstimo externo para financiar Cahora-Bassa, e a metrópole tinha os mercados africanos portugueses como preferentes para a colocação dos seus produtos incapazes de concorrerem noutros mercados. 

Além disso, havia um importante mercado de invisíveis correntes provenientes de matérias-primas africanas e davam conforto aos cofres do Banco de Portugal. Assim, nem o intelectual []Melo] Antunes [1933-1999] vislumbrou qualquer problema com o desmembramento do conjunto, situação relevante do ponto de vista da metrópole.

Ainda somos afectados por essa decisão, pois aos resultados positivos das execuções orçamentais, Portugal não voltou a conseguir idêntico desiderato durante o regime alegadamente democrático, 42 anos depois.

Como dizia o brasuca, "pimenta no cú do outro, para mim é refresco", pelo que ninguém deve admirar-se do abandono ostensivo e surpreendente para os movimentos, pois o importante era o regresso urgente. Sobre os argumentos de "democracia, desenvolvimento e descolonização" já me referi bastante, e há muitas outras ilações sérias sobre a matéria, que evidenciam que a democracia nem sequer era seguida entre o que os revoltosos decidiam. 

Os irresponsáveis capitães aparecem agora a propor-nos compreensão, esquecendo que não foram vítimas de nada, nem do regime opressivo, nem das escolhas que fizeram, salvo, se essas escolhas não foram sérias, como, aliás, parece e avulta das traições praticadas. 

JD.


2. Resposta ao editor que me pediu o seguinte, em 22 de maio passado:

.
Zé Dinis (c/c Antº Rosinha): Vês se me esclareces o uso do vocábulo "Puto" (diminuitivo de Portugal), usado no teu tempo em Angola e ainda hoje. Diz-me quem usava o termo: os brancos, em geral, os africanos, também ?... Tinha um sentido depreciativo ou não ?

Estranho que os nossos dicionários ainda não tenham grafado o vocábulo, ao fim destes anos todos... Ab. Luis


Data: 25 de maio de 2016 às 20:59
Assunto: O uso do vocábulo Puto


Olá Luís, boa noite!


Colocas uma questão para a qual não tenho ciência. Mas posso arriscar.
"Puto" é uma expressão que me soou sempre com algum carinho, algum sentido de origem, e ouvi-a tanto em Angola, como em Moçambique.

Se tivermos em conta o significado de pequeno, pode traduzir a referência à metrópole feita nas grandes provincias ultramarinas. Uma referência "simplex", de apenas duas sílabas, e dita tanto por brancos, como por pretos ou mulatos.

Era como se fosse a terra mãe de todos nós, os que aqui nascemos, como os que lá eram governados a partir do "jardim". O governo está no Puto; o Sporting é do Puto; vou passar as férias no Puto; este vinho é do Puto; chegou agora do Puto, são expressões que representam as circunstâncias de referências à metrópole.

Seria uma espécie de idiomática, mas o Rosinha pode dar um contributo mais válido. (**)

Guiné 63/74 - P16205: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (103): O Paul McCartney do Grupo Coral do CISMI... Afinal, o Luís Jales de Oliveira, poeta, músico, ex-fur mil trms, Agr Trms Bissau e CCAÇ 20 (Bissau e Gadamael, 1972/74)



Tavira > CISMI > Igreja de São Francisco > Grupo coral do CISMI > c. 1972 > "Não foi assim tão mau [, o CISMI,] e na verdade até se tornou agradável pertencer ao dito coro. Só lamento de não me lembrar dos nomes da malta, talvez com exceção de um guitarrista de farto bigode, que acho se chamava Jales. Poderá ser que apareça algum nosso Tertuliano que se lembre desta foto" .(*)

O guitarrista Jales [, à direita], com aquela guedelha e bigode (!), de repente pareceu-nos mesmo um sósia do Paul McCartney, um dos famosos Beatles que incendiaram o imaginário da nossa geração e ajudaram o mundo a pular e a avançar... (LG)

Foto © Henrique Cerqueira (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1.  Comentário. de  9 de outubro de 2014 , do Luís Jales de Oliveira ao poste  P12784, do Henrique Cerqueira, publicado em 1/3/2014 (*):


[Foto à esquerda: o Luís Manuel Jales de Oliveira, mais conhecido por "Ginho", em Mondim de Basto, sua terra natal, por onde corre o Tâmega, o seu "rio sagrado" e a sua "fonte de inspiração",  a par do Monte da Senhora da Graça, um antigo vulcão  foi  fur mil trms inf, Agrup Trms de Bissau e CCAÇ 20 (Bissau e Gadamael Porto, 1972/74), companhia africana onde serviu  às ordens do tenente comando graduadoTomás Camará,  que foi ferido em combate e, depois, às ordens do capitão comando graduado Sisseco (ambos oriundos da 1ª companhia  do batalhão de comandos africanos); poeta e escritor, tem já obra vasta, e é membro da Academia Luso-Brasileira de Letras]

 
Meu caro Henrique Cerqueira:

Só hoje descobri esta tua publicação [, com data de 1/3/2014] e confesso que fiquei emocionado. Por várias razões: porque revivi, recordei e evoquei momentos adormecidos nas catacumbas da memória, porque confirmei que já tive uma profusa e escurecida cabeleira (hoje completamente esbranquiçada para mal dos meus pecados) e, também, um pujante bigode, coisa rara e provocatória, à época, aqui no teatro militar metropolitano; e, por fim e principalmente, porque passados 42 anos ainda conseguiste, no meio daquela angelical composição de "querubin"  fardados, identificar-me e arriscar que eu me chamaria "Jales". 

Pois foi na mouche, sim senhor. Notável, meu caro Henrique, a tua pontaria evocatória!

Direi, respondendo também à pergunta do nosso caro "comandante" Luís Graça, que comentou, com muita graça, que eu, de repente, até parecia ser o sósia de um dos Beatles, que sou o Luís Jales de Oliveira, mais conhecido, na tropa, como Luís Jales e que publiquei o P2467 na “Tabanca Grande (54)”, em 21 de Janeiro de 2008.  (*)

Como deves calcular arranjei uma caterva de “imbróglios" por ostentar aquela trunfa exuberante durante todo o meu serviço militar. Em Tavira aconteceu uma coisa muito engraçada: Era forçoso que quando eu estivesse na formatura de revista para sair, e por mais que tentasse esconder, com a boina, o raio daquele excesso capilar, o oficial de dia parava, irremediavelmente, nas minhas costas, batia-me no ombro e mandava-me, em passo de corrida, para a caserna. Mas, naquele dia, depois de me mandar às malvas, voltou para trás e perguntou, pelo sim, pelo não 
–Por acaso o menino não toca no conjunto do senhor abade, pois não?

Eu respondi:
– Toco, toco, meu alferes – e ele imediatamente: 
– Pois então faça o favor de regressar à formatura. A porta d’armas, para si, está escancarada.

Isto serve bem para demonstrar o poder que tinha o nosso capelão de Tavira. Coitado daquele oficial que retivesse um de nós, nos dias marcados para os ensaios da Missa Dominical…

Resta-me dizer que não sou Açoriano, mas genuíno Transmontano de Mondim de Basto, a cerca de 100 km do Porto e que faço questão de te abraçar um dia destes.

Ao nosso caro Luís Graça prometo, agora que sempre consegui a reforma, que começarei a enviar montes de textos com lembranças e evocações:

(i) sobre a revista “ZOE”,  do Agrupamento  de Transmissões  de Bissau onde fui “correspondente de guerra”;

(ii)  sobre “Os Reactores” e “Os gloriosos malucos da aparelhagem electrónica”, onde tocava e que, para além doutras actuações, animavam os fins de semana do Clube de Sargentos de Santa Luzia; 
e, com muito mais interesse julgo eu,

(iii) sobre a “realidade” de Gadamael Porto que sorvi, bomba a bomba, durante 365 intermináveis dias.

Obrigado pelas emoções que me provocaste. O meu contacto é luis.jales.oliveira@gmail.com.
Grande e reconhecido abraço.


2. Comentário do editor LG:

Ao Jales (, afinal "meu vizinho", já que também tenho casa por ali perto, Marco de Canaveses, que integra a bela e nobre região do Vale do Tâmega,  berço da Nação,com o Vale deo Sousa ...), já pedi desculpa, por mail,  por na altura não me ter apercebido do seu comentário (de 9/10/2014) ao poste do Cerqueira (de 1/3/2014)... Não me apercebi ou já não me lembro...

De facto, ninguém tem a pedalada dos 20 anos para acompanhar tudo, fazer tudo, alinhar em tudo... É até por falta de tempo. Houve um desfasamento de vários meses, entre o poste e o comentário,  não conseguindo os editores ir com a devida regularidade à nossa caixa de comentários (que já vai em cerca de 64 mil comentários, alguns extensos e, muitos, interessantes).

Tínhamos prometido recuperar este, integrando-o num poste autónomo e justamente para provar, mais uma vez, a propriedade e a justeza da nossa máxima: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!" (***)...

Os pedidos desculpa são extensivos ao Henrique Cerqueira, sempre leal e generoso greã-tabanqueiro... Ao Jales desejo boa continuação da merecida reforma e das pescarias no rio Tâmega e no mar das letras!.. Quanto às prometidas colaborações, elas serão sempre bem vindas, em prosa ou em verso...

Um abraço do tamanho do Tâmega e do Cacine... 

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 1 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12784: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (18): Tavira, o CISMI e o meu "santo sacrifício da missa dominical"... Fazia parte do coro [da Igreja de São Francisco] para ter direito a uns "desenfianços" (Henrique Cerqueira, ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74)

(**) Vd. poste de 21 de janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2467: Tabanca Grande (54): Luís Jales, ex-Fur Mil Trms (Agr Trms Bissau e CCAÇ 20, Gadamael Porto, 1973/74)

(***) Último poste da série >  8 de junho de 2016 >  Guiné 63/74 - P16175: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (101): no convívio deste ano, do pessoal do BCAÇ 3872, quem é que eu vou reencontrar? O meu antecessor, o hoje ilustre prof Pereira Coelho, bem como o Ussumane Baldé que estagiou comigo quando eu era subdelegado de saúde da zona de Galomaro-Cossé (Rui Vieira Coelho, ex-alf mil médico, BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518, Galomaro, 1973/74)

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16204: Agenda cultural (490): Livro de Jorge Sales Golias, "A descolonização da Guiné-Bissau e o movimento dos capitães" (Edições Colibri, 2016): apresentação por A. Marques Lopes, 5.ª feira, dia 16, pelas 18,00 horas, Biblioteca Municipal Florbela Espanca, Matosinhos



Com pedido de divulgação do nosso amigo e camarada, grã-tabanqueiro da primeira hora, A. Marques Lopes, coronel DFA ref, ex-alf mil art (CART 1690, Geba, 1967/68; e CCAÇ 3, Barro, 1968), que vai apresentar a obra.
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Noat do editor:

Último poste da série > 12 de junho de  2016 > aGuiné 63/74 - P16194: Agenda cultural (482): Os Melech Mechaya hoje em Serpa, à meia-noite, a encerrar o festival XIII Encontro de Culturas (9-12 de junho de 2016)... Celebra-se a cultura como factor de desenvolvimento e de união entre os povos. Entrada livre

Guiné 63/74 - P16203: Os nossos seres, saberes e lazeres (159): A pele de Tomar (9) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Abril de 2016:

Queridos amigos,
Era um dia baço de uma Primavera transviada. A pedra ganhou outro realce com o glauco dos céus e o verde-escuro dos campos. Em trabalho prévio, selecionei algumas portas, daquelas que me falam de um certo caráter tomarense quanto à arte de habitar. E depois lancei-me até ao Convento, são tais e tantos os prodígios da monumentalidade que há sempre surpresas a acontecer. Detive-me nos chamados pormenores e acabei na fachada limpa do Convento, muito airoso, a mirar a cidade ao fundo. Há superfícies que encantam, esta cidade tem uma pele interminável.

Um abraço do
Mário


A pele de Tomar (9)

Beja Santos




Confesso que sou um obcecado por portas, elas são o ponto de equilíbrio do que oferece a fachada, mesmo quando o edifício tem sobrados, lojas de diferente índole, duas entradas, e por aí adiante. Não escondo igualmente o gosto por ver uma porta cuidada, singular, encontrar um pormenor que é verdadeiramente uma pirueta do construtor, presume-se que o marceneiro, para além da obrigação de corresponder à encomenda deixa a sua marca talentosa. Esta correnteza de três imagens, fala de quê? Uma porta bem restaurada (procuro o anonimato, o leitor que se desembrulhe para encontrar o que deixo na imagem, neste caso há ali um pormenor identificativo que não posso iludir, paciência), a segunda porta tem história, entrei num estabelecimento de velharias, pediram-me prorrogação, a loja vai abrir em frente e com exposição, obviamente que acedi, e encontrei ao lado de uma porta manuelina uma outra que lembra um arrendado de toalha de mesa, há para ali uma arreliadora e deslocada caixa de correio, também paciência, e a terceira porta dá que pensar quantas vezes por ali se entrou e saiu tal o desgaste da pedra, é assim a vida dos homens e das casas que os abrigam.



Tive um professor de História de Arte, Jorge Heitor Pais da Silva, que insistia nas aulas que o turista, face a um monumento concelebrado, quer entrar, quase toiro desembolado, é-lhe indiferente quaisquer pormenores laterais, se vem ver o Convento de Cristo e a Charola tudo mais é meramente acessório, ponto final. Sabemos que não é assim, há mesmo turistas que cuidam de estudar o que vão ver, ataviam-se com informação. Sobe-se o castelo, entra-se naquele jardim perfumado, dá-se uma olhada à direita para o paço onde viveram, entre outros, o Infante de Sagres e a Rainha D.ª Catarina de Áustria, prossegue-se e temos esta bela fonte, seca e um tanto tristonha pois vê-nos passar com manifesta indiferença. E a grande ruína eclesial em frente ao convento desperta interesse mas lembra aquelas igrejas inglesas ao abandono depois de Henrique VIII ter declarado guerra a Roma e ao catolicismo. Este templo esplêndido acolheu cortes, aquelas que fizeram de Filipe II de Espanha, o tal rei que tinha um império onde o sol nunca se punha, rei de Portugal, ele ficou agradecido a Tomar e prodigalizou benesses, a começar pelo aqueduto.




Faço visitas a este local como se fosse um peregrino esfomeado pelos delírios do manuelino, e não me arrependo. Quando há muita luz sobre Tomar esta pedra perde gravidade, embora ganhe em imponência. Tenho para mim que este foi o sonho sublime de O Venturoso, o rei perdeu as medidas, autorizou a quebra de vários cânones, consentiu em delírios. Longe de mim brincar à superficialidade das comparações entre os Jerónimos e Tomar. O que encontro aqui é um vigor do homem dos Descobrimentos, uma mensagem sem fim da pedra feita mar, há borbulhões de espuma, lavra-se a pedra com restos do tardo-medieval, temos aberturas discretas ao Renascimento. Não conheço ecletismo tão transcendente na arte portuguesa.


Não é só a cara lavada do Convento que me faz pulsar o coração, o que aproxima o viajante também conta, quem pensou nos acessos encontrou soluções atinadas, tiro-lhe o chapéu e aproveito para convidar a ilustre população tomarense a por aqui circular, um convento renovado ajuda-nos a pensar em melhores dias para as nossas vidas e para os nossos monumentos.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de junho de 2016 Guiné 63/74 - P16180: Os nossos seres, saberes e lazeres (158): A pele de Tomar (8) (Mário Beja Santos)