quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16750: Os nossos seres, saberes e lazeres (186): Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (10) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Junho de 2016:

Queridos amigos,
Aqui se põe ponto final a uma digressão iniciada em Belgrado e com percurso pelo Montenegro e Croácia.
Não consigo imaginar uma longa estadia em Veneza, tal a pressão provocada pelo turismo de massas. Da última vez que cá estivera desenhara uma visita a partir de Milão, por comboio fui batendo várias capelinhas, como o lago de Garda, Vicenza, Pádua, dois dias em Veneza e depois os Dolomitas. Admito que haja seres humanos que se sintam perfeitamente integrados, semanas ou meses a fio, naquele mundo de canais, pontes e praças, com passeios esporádicos pelas ilhas. É um turismo caro o de Veneza, sente-se que uma parte esmagadora deste turismo desaparece ao anoitecer, tais são os preços dos hotéis e dos albergues. A despeito destas restrições, Veneza é extraordinária, deve estar para nascer o primeiro turista que não se mete numa embarcação e atravessa todo o Canal Grande sem um frémito diante de uma beleza única, irrepetível. Isto para dizer que recomendo a todos os viajantes que por aqui comecem ou acabem viagens esplendorosas como a que tive pelos países dos eslavos do Sul.

Um abraço do
Mário


Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (10)

Beja Santos

Ao romper da alva, o viandante parte de Cannaregio para San Marco. Convém esclarecer que Veneza divide-se em bairros administrativos ou sestieri. Vivo no campo dos Jesuítas em Cannaregio, amanhã vai dar um grande jeito viver neste bairro extremo com uma ilha-cemitério em frente, ao longe uns Alpes com as cumeadas cheias de neve, e uma estação de barco à porta que me deixará em Marco Polo, o aeroporto de Veneza. Prova provada que a cidade já está enxameada de turistas é o gralhar em muitas línguas, jovens branquíssimas besuntam-se com protetor solar, anda tudo enchapelado. O dia promete. A ver se o viandante não se distrai com praças, ruelas ou fachadas de igreja, a manhã está reservada para essa relíquia que é San Marcos.





Duas colunas assinalavam a principal entrada de Veneza, as colunas de S. Marcos e S. Teodoro, o viandante já está na Piazzetta, frente a um edifício notável, a Zecca, foi a Casa da Moeda de cidade. Aqui se descansou a contemplar o tráfego já intenso, mesmo em frente esta a ilha de S. Jorge, é um verdadeiro regalo para os olhos. Não é possível fotografar no interior da basílica, entra-se e o viandante fica para ali especado a olhar a cúpula central, só mais tarde é que a basílica vai ficar completamente iluminada, o melhor é sonhar, andar por ali a ver mosaicos, a mirar as paredes decoradas com preciosos mosaicos, o interior das cúpulas, caso dos mosaicos do batistério, sentar-se numa das capelas e procurar abstrair o ruído de fundo. É difícil dizer o que é que é mais excecional que o outro, o viandante regozija-se de que desta vez teve tempo e luz para ver a Cúpula da Ascensão. Nada na história da arte Ocidental é tão primoroso como este casamento entre sucessivos estilos do Gótico ao Barroco, dentro da arte e arquitetura bizantinas.
Cá fora, uma longa mirada sobre a Torre do Relógio renascentista, outra peça preciosa com fases da lua e o Zodíaco, trata-se de um relógio de esmalte dourado, invulgaríssimo. O guia que o viandante regularmente consulta alerta para um pormenor. No nível superior, vê-se o leão alado de S. Marcos contra um fundo azul recamado de estrelas. Lá no alto as duas enormes figuras de bronze têm o nome de mouros, são estas figuras que batem no sino a dar as horas. A idade impõe limites, é enorme a tentação de voltar a visitar o palácio dos Doges, fica para a próxima. Mas o viandante não resiste a fotografar a Ponte dos Suspiros, um dos locais mais iconográficos de Veneza, a ponte é famosa porque outrora os delinquentes atravessavam-na a caminho do tribunal, manda a imaginação romântica que paravam nas janelas para suspirar antes de uma condenação.


Caminhamos para a hora de almoço, é melhor sair deste lugar, é onde a comida é mais cara em Veneza. Toca de caminhar contornando S. Marcos e o Cannaregio, como se fosse em direção da estação ferroviária e paralelo ao Canal Grande, viagem movimentada, resistindo a todas as tentações de ver vidros de Murano e outras atrações locais. É nisto que o viandante vê o anúncio do concerto, música de câmara alemã, cravo e flauta de bisel, entrada grátis. Com os pés cansados e a promessa de umas sonoridades amenas, por ali se entrou, igreja muito austera, deu para perceber que era credo protestante, ouvia-se falar alemão e rapidamente deu para perceber que se estava na igreja luterana de Veneza. Foi um concerto inesquecível numa sala em que o viandante ficou face a um quadro que dava facilmente para perceber que tinha mão de mestre. E tinha mesmo: Martinho Lutero pintado por Lucas Cranach. Como não se podia fotografar, o viandante comprou um bilhete-postal, este belo retrato de Lutero pode ser visitado na comunidade evangélica luterana de Veneza no Campo dos Santos Apóstolos, em Cannaregio.



A primeira vez que o viandante veio a Veneza foi em 1981, tratava-se de uma reunião de gente que fazia programas de televisão dedica aos consumidores, três dias a visionar filmes e a comentá-los no salão nobre do Palazzo Labia, no canal Cannaregio. Reza o guia do viandante que em 1745-50 o salão de baile foi pintado a fresco por Tiepolo com cenas da vida de Cleópatra. Ao tempo era estação de rádio da RAI. Uma das atrações fora do trabalho foi ir a Pádua e outra visitar o Museu Peggy Guggenheim, nunca o viandante tivera oportunidade de ver ao vivo tantas obras consagradas de mestres contemporâneos. Mete-se ao caminho com igual intento, esta tarde, mas é atraiçoado por mais igrejas, praças, recantos, fachadas de edifícios, a coscuvilhice de andar a mirar os palácios do Canal Grande. Enfim, quando lá chegou, ia encerrar. Não houve desapontamento, o que não se vê hoje fica para a próxima, é o que vai acontecer. Entretanto, aqui ficam duas imagens da esplêndida passeata em que a procura de rumo foi menos relevante que o prazer de descobrir novos lugares sem bússola e sem carta.



Se é a última tarde em Veneza, morra marta morra farta, vou palmilhar o Cannaregio, depois jantar e cama. O local da devassa chama-se Fondamente Nuove, aproveito, é hora de missa, entro na igreja dos Jesuítas, dedicada a Santa Maria Assunta. Estranho a opulência da fachada, espera-se dos Jesuítas maior comedimento. Se a fachada tem pompa o interior não tem menos, carregado de mármore verde e branco, fica-se com a impressão de que a igreja está revestida de damasco. E para descansar as pernas o viandante dá-se o luxo de ficar a contemplar até ser posto na rua um quadro de Ticiano, o martírio de S. Lourenço. Toca de palmilhar, ali perto está um outro ícone veneziano o Cà d’Oro, uma das grandes atrações do Grande Canal, o mais belo exemplar do Gótico veneziano da cidade. E para acabar o dia o viandante percorre o gueto, um bairro judeu de Veneza, mantém o seu castiço mas judeus há poucos no bairro. O viandante detém-se no memorial do holocausto, percorre lentamente alguns estabelecimentos locais e vê o exterior de sinagogas. Anoiteceu, a fisiologia do septuagenário ainda é uma dádiva dos céus, está regalado, segue-se o último jantar em Itália, tudo arrumado para a viagem de regresso amanhã, seriam cinco da manhã e os russos vieram para a casa de banho fazer um pandemónio de autoclismo, duche e secador. O viandante considerou e reconsiderou se devia protestar. Ficou a dormitar, resignado. Queria levar as melhores recordações de Veneza e deixar no olvido a má criação destes russos convencidos.
E assim se põe termo a uma viagem que começou em Belgrado, andou-se por Sutomore, Kotor, Dubrovnik, Split, Plitvice, Rijeka, Trieste e a Sereníssima. O leitor que se prepare, dentro de umas semanas o viandante volta a Bruxelas e às Ardenas.
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16727: Os nossos seres, saberes e lazeres (185): Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (9) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16749: Parabéns a você (1165): José Saúde, ex-Fur Mil Op Especiais do BART 6523 (Guiné, 1973/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 19 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16735: Parabéns a você (1164): Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf (Guiné, 1970/72)

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16748: Convívios (773): 28º convívio da Magnífica Tabanca da Linha: 40 convivas no último encontro do ano, no restaurante "O Nosso Cantinho", Alvide, Cascais (Manuel Resende)


Foto nº 1 > Cascais > Cascais > Alvide  >  Restaurante "O Nosso Cantinho" > 17 de novembro  de 2016 > Aspeto geral da sala


Foto nº 2 > Aspeto parcial  dos comensais (1)


Foto nº 3 > Aspeto parcial  dos comensais (2)


Foto nº 4 > Da esquerda para a direita, João Sacôto, Manuel Resende,  José Jesus  e  Mário Fitas



Foto nº 5 > Aspeto parcial  dos comensais (3)



Foto nº 6 >  Em primeiro plano, Jorge Rosales, seguida do Mário Fitas e José Jesus


Foto nº 7 > Da esquerda para a direita: (i) sentados: João da Mata, Miguel Rocha, Jorge Rocha e Manuel Macias; (ii) de pé, Armando Pires, Jorge Costa e Luís Paulino... Todos de Algés, com exceção do João da Mata.


Foto nº 8 > O José Rosales (o mano do Jorge) (à direita),,, e o Francisco Tirano (conhecido por Xico Tirano)


Foto nº 9  > Juvenal Amado (agora a residir na Reboleira, Amadora), em primeiro plano, tendo a seu lado o António Alves Alves (de Lisboa)


Foto nº 10 > João Mata, de Palmela (CART 1746, Bissorã) (à esquerda) e Miguel  Rocha


Foto nº 11 > Irene, a companheira do sapador Luis R,  Moreira, aqui ao lado do Zé Rodrigues 


Foto nºn 12 > Manel Joaquim (ou Djaquin)


Foto nº 13 >  Jorge Nunes Costa


Foto nº 14 > Duas companheiras... Ilda Carioca e Manuela (esposa do Carlos Nuno Carronda Rodrigues)



Foto nº 15 >   Francisco Henriques da Silva (ex-embaixador de Portugal na Guiné-Bissau) e Joaquim Nunes Sequeira.


Foto nº 16 > Joaquim  Nunes  Sequeira e Francisco Palma


Foto nº 17 > A Gina e o seu inseparável  António Fernando Marques (ou vice-versa)


Foto nº 18 > José Diniz Souza e Faro


Foto nº 19 >  Mais um simpático casal: o José Leite e esposa Ana Leite


Foto nº 20 > Zé Carioca e Rogé Guerreiro


28.º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > Cascais > Alvide  >  Restaurante "O Nosso Cantinho" > 17 de novembro  de 2016


Fotos  (e legendas): © Manuel Resende (2016). Todos os direitos reservados. [Seleção, edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem, de 18 do corrente, do Manuel Resende, secretário e fotógrafo da Tabanca da Linha, ex-alf milManuel Resende [, ex-alf mil da CCaç 2585 / BCaç 2884, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71]:

Caros amigos,

Ontem tivemos o nosso 28º Convívio. Se acharem querer fazer um poste com o acontecimento, agradeço para registo e consulta futura.

As fotos, sem novidades desta vez, isto é, sem "piras", seguem pela via normal, Google Drive. Como os intervenientes são todos mais ou menos conhecidos, não faço comentários.

Em anexo segue um pequeno texto.


Ontem, 17-11-2016 ocorreu, conforme previsto, o 28º convívio da Magnífica Tabanca da Linha em Alvide, Cascais, no Restaurante "O Nosso Cantinho". 

Tudo correu bem e sem reclamações.

Apesar desta fase do ano não ser muito propícia a estes eventos, entenda-se nossas idades e mês, tivémos 40 convivas, valor médio dos nossos convívios. Foi mais uma agradável reunião, movida pela amizade, e que esperamos que continue, ora com mais ora com menos convivas. 

Sei que hoje a Guiné está a passar mais um mau "bocado", esperemos todos que tudo se resolva da melhor forma, pois é essa palavra mágica "Guiné" que nos une e nos motiva.

Seguem-se algumas fotos para recordar o acontecimento.

Um abraço a todos

Manuel Resende

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Guiné 63/74 - P16747: Agenda cultural (522): No passado dia 17 de Novembro de 2016, foi apresentado no Porto, no Auditório da "Fundação Portugal África", o livro "Guiné Crónicas de Guerra e Amor" da autoria de Paulo Cordeiro Salgado, ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721 (Carlos Vinhal)

Fundação Portugal África - Rua de Serralves - Porto
Foto: Carlos Vinhal

1 - No passado dia 17 de Novembro de 2016, foi apresentado no Porto, no Auditório da "Fundação Portugal África", o livro "Guiné Crónicas de Guerra e Amor"[1] da autoria de Paulo Cordeiro Salgado, ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721, que teve como Comandante o então Cap Cav Mário Tomé, que prefaciou o livro.

No auditório, praticamente esgotado, via-se entre a assistência: médicos, colegas de profissão do autor, camaradas dos tempos do Olossato, guineenses e representantes da Tabanca Grande e Tabanca Pequena de Matosinhos, além de outras pessoas que se quiseram associar ao momento.

 Uma vista do auditório
Foto: Carlos Vinhal

Nesta foto reconhecem-se: João Rebola, José Teixeira e, de pé, o editor de serviço trocando algumas palavras com o ex-Alf Mil Médico, Amaral Bernardo.
Foto: João Rebola

Na primeira fila, ainda antes do início da sessão e da chegada do filho, netos e demais família do casal, Maria da Conceição Salgado.
Foto: Carlos Vinhal

José Teixeira com um dos guineenses presentes na sala
Foto: João Rebola, editada por Carlos Vinhal

Na Mesa, da esquerda para a direita: Paulo Cordeiro Salgado, o autor; Dr. José Manuel Pavão, o apresentador da obra, e António Lopes, o editor. 
Foto: Carlos Vinhal

A sessão teve início com a intervenção do editor António Manuel Lopes, também ele transmontano como o autor. Falou da sua editora, Lema d'Origem, e da aventura que é editar livros.
Teceu elogiosas palavras ao autor e enalteceu a qualidade da obra em apreço.

Seguiu-se a intervenção do Dr. José Manuel Pavão, cirurgião pediátrico, a quem cabia a apresentação de "Guiné Crónicas de Guerra e Amor", que além de ler algumas partes mais significativas da obra, prendeu a assistência e ajudou a conhecer melhor a personalidade do autor, que foi Gestor Hospitalar em diversos hospitais, no país, e cooperante durante anos na Guiné-Bissau.

Chegada a vez do autor, este agradeceu a presença de quem, àquela hora, teve a gentileza de se deslocar à Rua de Serralves para ouvir falar do seu livro de crónicas, pequenas histórias reais com ficção à mistura, que se destina a deixar aos mais novos algum conhecimento do que foi a guerra, que ele e os seus contemporâneos travaram em África. Concordando ou não com ela, o certo é que muitos milhares de jovens sofreram na pele, alguns mesmo perdendo a própria vida.

Seguiu-se uma concorrida sessão de autógrafos.

O autor, Paulo Cordeiro Salgado, quando se dirigia aos presentes
Foto: Carlos Vinhal

Sessão de autógrafos com João Rebola
Foto: João Rebola

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2 - Nota pessoal do editor:

Em duas semanas consecutivas tive o prazer de reencontrar dois camaradas que não via há já alguns anos, o Dr. Paulo Salgado, Gestor Hospitalar, como atrás foi dito, e o Prof Dr. Amaral Bernardo, distinto médico e professor jubilado do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar.

Neste dia tive ainda o grato prazer de rever e abraçar o "meu" cirurgião, o Dr. Artur Cabanelas, para quem tenho uma enorme dívida de gratidão por ter retirado, com sucesso, um tumor maligno do cólon à minha mãe. 
E, por a mim remover uma parótida, também afectada por um tumor, não tendo eu ficado com qualquer efeito secundário, além da inevitável cicatriz e do ligeiro aprofundamento no pescoço.

O Dr. Cabanelas é familiar do Paulo Salgado, o que prova que o Mundo é mesmo pequeno, salvando-se a nossa Tabanca, que é grande e nos permite estes encontros "imediatos". 
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Notas do editor

[1] - Vd. poste de 26 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16639: Notas de leitura (895): "Guiné: crónicas de guerra e amor", de Paulo Salgado: texto da apresentação do livro, pelo poeta e jornalista Rogério Rodrigues

Último poste da série de 22 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16746: Agenda cultural (515): "Amílcar Cabral (1924-1973): vida e morte de um revolucionário africano", nova edição, revista, corrigida e aumentada (622 pp.): convite da embaixada guineense para o lançamento do livro do prof doutor Julião Soares Sousa, na Universidade Lusófona, Lisboa, sábado, dia 26, às 15h00

Guiné 63/74 - P16746: Agenda cultural (521): "Amílcar Cabral (1924-1973): vida e morte de um revolucionário africano", nova edição, revista, corrigida e aumentada (622 pp.): convite da embaixada guineense para o lançamento do livro do prof doutor Julião Soares Sousa, na Universidade Lusófona, Lisboa, sábado, dia 26, às 15h00


Capa do livro do historiador guineense Julião Soares Sousa, "Amílcar Cabral (1924-1973): vida e morte de um revolucionário africano", edição revista, corrigida e aumentada,


1.  Mensagem da Embaixada da Guiné-Bissau:

De: Embaixada Guiné-Bissau 
Universidade Lusófona, Lisboa, Campo Grande

Data: 22 de novembro de 2016 às 10:10

Assunto: Convite para o Lançamento do Livro do Professor Doutor Julião de Sousa, na Universidade Lusófona [. foto à direita]

Ilustre,

Quatro anos depois da sua primeira apresentação, o livro "Amílcar Cabral, vida e morte de um revolucionário africano", do historiador guineense Julião Soares Sousa, está de volta às bancas, em versão revista, corrigida e aumentada.

A obra, que ganhou o prémio,  da Fundação Calouste Gulbenkiam, da História Moderna e Contemporânea de Portugal, traz agora novos dados num estudo apontado como das mais rigorosas biografias do fundador  das nacionalidades guineense e cabo-verdiana.

A apresentação de "Amílcar Cabral, vida e morte de um revolucionário africano", de Julião Soares Sousa, acontece no sábado, dia 26 de novembro, às 15 horas, no auditório Agostinho da Silva, da Universidade Lusófona de Lisboa.

A obra será apresentada pelo jornalista Waldir Araújo. Uma organização a cargo da Embaixada da Guiné-Bissau em Portugal, com apoio da RDP-África.

Contamos com a sua ilustre presença!

Cordialmente,  Ana Semedo, adida.

Com os melhores cumprimentos.

Embaixada da República da Guiné-Bissau
Rua de Alcolena, Nº 17A, 1400-004
Lisboa;

Telef.: 00351 210 739 165


2. Informação adicional dos editores:

JULIÃO SOARES SOUSA

(i) nasceu em  1966, em Bula, Guiné-Bissau; vive em Portugal desde os 16 anos; reside atualmente em Pampilhosa;

(ii) concluiu, em 2008,  o doutoramento em história contemporânea na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC); (foi, de resto, o primeiro guineense a doutorar-se pela Universidade de Coimbra, de acordo com notícia que demos, na altura no nosso blogue); 

(iii)  mestre em História Moderna (FLUC, 1997); licenciado em História (FLUC, 1991);

(iv) trabalha como investigador no Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX, Universidade de Coimbra;

(v) é investigador associado do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas da Guiné-Bissau (INEP);

(vi) distinguido com o prémio Fundação Calouste Gulbenkian de História Moderna e Contemporânea de Portugal, da Academia Portuguesa de História (2011), pelo livro "Amílcar Cabral (1924-1973) Vida e morte de um revolucionário africano" (Lisbnoa, Nova Vega, 2011);

(vii) projeto de investigação pós-doc:  a cisão sino-soviética e as suas implicações nos movimentos de libertação das colónias portuguesas de África;

(viii) tem cerca de duas dezenas e meia de referências no nosso blogue.


3. Entrevista ao Jornal da Mealhada > 30 de junho de 2015 >  “Vida e morte de Amílcar Cabral”, de Julião Soares Sousa, apresentado na Mealhada  (excertos, com a devida vénia)
 
(...) “A reedição da obra sobre Amílcar Cabral foi aumentada e tem mais informação do que as duas outras publicadas em Portugal e uma outra em Cabo Verde, que foi uma edição exclusiva só para este país”, declarou, ao Jornal da Mealhada, Julião Soares Sousa, sobre a nova publicação, que tem seiscentas e vinte e duas páginas e que alguns críticos, garante Julião Sousa, a consideram “a biografia definitiva”.

(...) “Trata-se de uma biografia política de um dos grandes africanos do século XX e impulsionador do projeto de unidade da Guiné com Cabo Verde. Condensa toda a etapa evolutiva desde o nascimento até ao seu assassinato”, explica o autor, que numa das edições anteriores chegou a receber o Prémio Fundação Calouste Gulbenkian História Moderna e Contemporânea de Portugal, da Academia Portuguesa da História, em 2011.

Nesta “nova” edição o capitulo sobre o assassinato de Amílcar Cabral foi alterado, tornando-se “maior e mais profundo”. “Sei que os leitores ficarão surpreendidos com este alargamento”, acrescentou ainda o autor que garante: “É uma história muito procurada pelas pessoas”.

Apesar de Julião Soares Sousa “ter intenção de não voltar a pegar na história”, recorda que a obra “começou na tese de doutoramento” e “obrigou-o” a intensas viagens por vários países, tais como, Dinamarca e Suécia, bem como a consulta “a vários Arquivos em Portugal e no estrangeiro”.

A obra, que já foi apresentada três vezes no Porto e será também em Coimbra e em Lisboa, tem já o dia estipulado para a sessão na cidade da Mealhada. (...)

Julião Soares Sousa já publicou outra obra intitulada “Guiné-Bissau: A destruição de um país – Desafios e reflexões para uma nova estratégia”, que se refere “às crises políticas nos últimos anos”. “É um livro de reflexão pessoal que faz apologia ao diálogo e algumas criticas à gestão”, concluiu o autor, que tem em fase terminal “cinco, seis obras”, estando para breve, tudo indica que até ao final do ano, a apresentação de “A cisão sino-soviética e as suas implicações nos movimentos de libertação das colónias portuguesas de África”.

“As minhas histórias centram-se sempre nas Guerras Coloniais”, confessa Julião Soares Sousa, que não esconde também “que está para breve o seu regresso, quem sabe definitivo, à Guiné”. “É o sitio onde está toda a minha família e o calor, que tanta falta me faz…”, concluiu, ao Jornal da Mealhada, o autor.  (...)

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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16743: Agenda cultural (514): O nosso camarada Paulo Cordeiro Salgado vai estar no programa Mar de Letras - Artes e Cultura - Artes e Letras, no dia 23 de Novembro de 2016, pelas 21h30, na RTP África

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16745: Blogoterapia (282): Reflexões sobre a morte no adeus ao Vasco Pires (Francisco Baptista, ex-Alf Mil)

Super Lua
Foto: © Luís Graça


1. Em mensagem do dia 16 de Novembro de 2016, o nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), enviou-nos esta reflexão à volta da vida e da morte, a propósito do recente falecimento do saudoso camarada Vasco Pires:


REFLEXÕES SOBRE A MORTE NO ADEUS AO VASCO PIRES

Nós somos os homens, os seres eleitos, para quem Prometeu roubou aos deuses o fogo da imortalidade, tendo sofrido um castigo terrível pelo seu crime. Todos, enquanto seres pensantes vivemos essa promessa de imortalidade, que não passa de uma ilusão, pois acaba sempre num acidente mortal que pode ter várias causas: Acidentes de carro, de barco, de avião de motociclo, por armas de fogo, explosivos, doenças prolongadas ou fulminantes, falhas orgânicas várias e outras.

A morte leva os sábios, aqueles que parecem ter atingido na Terra a sabedoria dos deuses, como leva os ignorantes, os mais simples, os que vivem mais de acordo com a natureza sem procurar decifrar os seus segredos.

A morte do homem é um mistério que vem interromper o curso de uma vida, que sendo um paradoxo, pois parece que nascemos para morrer, só se compreende quando aceitamos a ordem natural do universo e nos integramos nela, nesse eterno retorno do Inverno e da Primavera, que a uns mata e a outros faz nascer.

Por essa ordem seremos seres finitos, em que se misturam a sabedoria, a ciência, a arte e a técnica, a estupidez, a imperfeição, o mau-gosto, a lucidez e a loucura. Quisemos subir tão alto para no final termos o mesmo destino de todos os outros animais ditos irracionais. Será que ao morrermos, nos segundos finais da nossa vida, teremos a percepção de que vamos deixar de existir, voltar ao nada donde viemos? Voltar a ser o pó donde viemos, de que falam as Sagradas Escrituras: “Lembra-te, ó homem, que és pó e em pó te hás de tornar” (Gen. 3, 19).

A morte traz-nos o fim de todas as ambições e de todos os maus defeitos associados, a vaidade, o orgulho, a inveja, mas não nos torna melhores, nem mais santos mesmo quando purificados pelo fogo e transformados em cinzas no silêncio dos cemitérios. Seremos julgados pelos nossos actos pelos que nos sobreviverem mas não seremos punidos ou louvados por eles. Os mais virtuosos e puros, os que mais se privaram, os que menos pecaram terão o mesmo fim dos malvados, dos desumanos, dos desalmados, dos sanguinários e da canalha que pulula pela terra inteira.

No final, para todos, será o não-ser que não se atinge na contemplação nem se define por combinações ou jogos de palavras. Todas as tentativas de o compreender ou explicar falham por excesso ou por defeito. Poderei vir a mudar e até tornar-me num adepto fervoroso de alguma religião adepta da salvação, mas a minha verdade actual, pela ausência de qualquer fé, leva-me a estes pensamentos um pouco desgarrados, ainda que respeite as crenças de todos os meus semelhantes.

A morte do nosso grande camarada Vasco Pires, mais novo um ano do que eu, pelo choque causado, volta a trazer-me ao pensamento este tema recorrente que me tem acompanhado, por períodos com maior ou menor insistência, desde a adolescência, quando comecei a tomar consciência de que estava condenado a morrer um dia.

Gostava muito das opiniões que o Vasco escrevia sobre alguns textos meus e sobre muitos textos de outros camaradas e identificava-me muito com elas. Admirava a forma clara, leal, sóbria, delicada e humana com que se exprimia mesmo quando por vezes discordava dos outros. Tinha um conjunto de qualidades e virtudes que nem todos temos, pelo menos a mim não me sobram e o mais provável é que me faltem.

O Vasco deixou-nos, todos o sabem, no dia 31 de Outubro, era Outono em Vilarinho do Bairro, terra onde nasceu. Subitamente, suavemente, como uma folha que cai, soltou-se da árvore da vida, sem fazer ruído, presumo eu. Pelas nossas raízes rurais, com todas as vantagens e inconvenientes de crescermos em comunidades pequenas bastante repressivas e vigiadas, onde. a par de tabus e restrições antigas. se cultivavam também virtudes ancestrais, que os nossos pais e avós nos procuraram inculcar, senti-me muito próximo dele. Fomos tantos que saímos dessas aldeias do interior, e o interior começava logo a 10 quilómetros das grandes cidades, os mais intelectualizados divididos entre o fascismo, a democracia, o comunismo e o anarquismo, pois a pressão totalitária, a ignorância política, o amor pela liberdade, essa jovem sedutora e sem preconceitos, e a curiosidade, podiam-nos arrastar para qualquer desses caminhos do idealismo ou por outros caminhos de obediência a inclinações mais físicas e sensoriais.

Pela impressão que me ficou do que conheci dele através do que escreveu, e eu li, pareceu-me que terá havido afinidades que nos aproximavam, sem nunca ter um conhecimento definitivo sobre o assunto, já que nunca, para pena minha, tive uma conversa pessoal com ele.

Gostaria de ter ido, no dia 5 de Novembro, à missa de 7.º Dia em sua memória por dois motivos:
Para sentir no ambiente natural e paisagístico onde ele nasceu se conseguia intuir um pouco mais do seu espírito, para o conhecer melhor e procurar ter com ele uma comunhão espiritual mais próxima;
Para falar com alguém, camaradas, familiares ou conterrâneos dele que me ajudassem a construir melhor a boa imagem, mas incompleta que guardo dele. Infelizmente não pude ir a essa missa por motivos familiares que não me deram qualquer saída.

Acredito que há homens que são bons, puros, justos, grandes, solidários, antes de morrerem, ao Vasco Pires, recordá-lo-ei sempre como pertencendo a essa galeria de notáveis.

Preciso de boas referências para continuar esta caminhada incerta, e tu camarada és uma boa referência, como esta lua cheia, que hoje brilha no céu, com mais intensidade.

Quando morrer não quero encontrar-te porque tu estarás em lado nenhum, o mesmo lugar para onde eu irei, mas enquanto for vivo não te esquecerei, continuarás a ser esse meu amigo tão distante e tão próximo pelas vivências portuguesas e africanas, por sonhos e ideais realizados ou não.

Até sempre camarada!

Francisco Baptista
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16571: Blogoterapia (281): o nosso blogue, um excecional serviço público ao dispor de todas as gerações, nacionais ou além fronteiras, onde se escreve e faz ciência histórica (Jorge Araújo)

Guiné 63/74 - P16744: Em bom português nos entendemos (15): Comer macaco, não obrigado... "Santchu bai fika na matu"... E cão ("kakur") fica com o dono, no restaurante em Bissau... Ajudemos a salvar os primatas da Guiné... O "santchu", o "dari"..., ao todo são 10 primatas que correm o risco de extinção se os hominídeos continuarem a destruir o seu habitat e a fazer deles um petisco...



Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 1972 > O macaco ("santchu") e o cão ("kakur")... Ou mais exatamente um babuíno, "macaco-cão" (em cativeiro) (e que é produto "gourmet"  em Bissau),  e um cão (animal que os hominídeos domesticaram há cerca de 12 mil anos). 

Foto: © Herlânder Simões (2008). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Ainda na sequência do inquérito "on line" da passada semana sobre quem come(u) ou não come(u) carne de macaco, lembrámo-nos de que há vários provérbios sobre o nosso "sancu" (ou "santchu", é assim que se pronuncia) tanto na Guiné-Bissau como em Cabo Verde... 

É uma delícia poder lê-los,  em voz alta, em crioulo,  e entendê-los em português...  Aqui vai uma mão cheia de provérbios, recolhidos por aí,  na Net (. baseados no trabalho do ecolinguista brasileiro Hildo Honório do Couto), e uma fábula, que diz tudo sobre a necessidade (urgente) de salvar o "santchu" (macaco) e o "dari" (chimpanzé)...

Por muitas razões, incluindo os vorazes apetites gastronómicos de alguns hominídeos, as 10 espécies de primatas que existem na Guiné-Bissau (inckuindo o "dari", o chimpanzé) estão em perigo de extinção, a médio ou a longo prazo...

Seria uma tragédia que os bisnetos de Amílcar Cabral tenham, um dia, que vir a Lisboa ao Jardim Zoológico para verem "ao vivo" o "santchu" e o "dari"... O mesmo podemos dizer nós de espécies ameaçadas ou quase extintas, em Portugal, na Península Ibérica ou na Europa como o lobo ou a águia real...

Enfim, este poste é um pequeno contributo para reforçar a nossa sensibilidade e consciência ecológicas... O planeta não tem fronteiras, a terra é só uma, homens e (outros) bichos vão ter cada vez mais que saber partilhá-la... e defendê-la!




2. Quanto à fábula do macaco e do cão...  

Comece-se por dizer que  as fábulas são pequenas narrativas, contos ou histórias, em forma oral ou escrita, em verso ou em prosa,  em que as personagens são animais (dos mamíferos às aves, dos répteis aos peixes), podendo apresentar características antropomórficas (, ou sejam, semelhantes aos seres humanos) e que fazem parte da cultura de todos ou de quase todos os povos, com ou sem escrita. Em geral, destinam-se a um público infantil e têm um propósito pedagógico, didático ou educativo, ao estabelecerem uma analogia entre o mundo da experiência dos seres humanos e as "falas" dos animais. Acabam sempre ou quase sempre, com uma "lição moral". Nas fábulas africanas, por exemplo, o mais fraco tende a triunfar sobre o mais forte, graças à sua honestidade, inteligência, capacidade de cooperação, aliança ou entreajuda... Podem também ser vistas como formas de crítica social ao poder (dominante), ao "statu quo".

 Esta "Storia di sancu ku kacur" (história do macaco e do cão) pode resumir-se em duas linhas: o macaco e o cão representam os mais fracos, sujeitos à violência, arbitrariedade e prepotência dos mais fortes (aqui respresentados pela onça, "onsa", um felino predador, que obriga  o cão a desempenhar o papel de carrasco ou torcionário, sendo o macaco a vítima...   O cão ("kacur"), humilhado e ofendido,  procura sucessivamente a ajuda de outros companheiros, mais fortes do que ele, para com eles se aliar contra a tirania da onça... Mas todos os grandalhões e valentões, da vaca ("baka") ao búfalo ("boka-branku") fogem quando chega a hora do confronto, a hora da verdade...

Acaba por um ser destemido e esperto carneiro ("kamel") quem enfrenta a onça. A luta acaba com a vitória do bem sobre o mal. E o cão e o macaco, aliados mas não necessariamente amigos,  seguem, cada um o seu caminho e o seu destino... O do macaco ("santchu") é o do mato, onde é verdadeiramente a sua casa...E o cão vai para a cidade, para o pé do seu dono, que tem um restaurante em Bissau... e que vai prometer nunca mais fazer grelhados... de carne de macaco.

Enfim, é uma uma leitura, ecológica, otimista, minha,  da velha fábula... que os guineenses vão contando de geração em geração. Espero que ainda haja macacos, na Guiné-Bissau, daqui a cinquenta anos, para as crianças de hoje possam contar aos seus netos esta e outras fábulas do tempo em que os animais falavam e eram  mais sábios do que  o bicho homem... 








3. O estudo e a divulgação do crioulo da Guiné-Bissau devem muito aos escritores e académicos guineenses, mas também a outros, especialistas lusófonos, de Portugal, de Cabo Verde e do Brasil...  

Deste último país é justo destacar o nome do especialista em ecolinguística Hildo Honório do Couto, professor titular aposentado e pesquisador associado da UnB [Universidade de Brasília]. Doutorou-se em Fonologia na Alemanha, tendo-se dedicado ao estudo do(s) crioulo(s) durante duas décadas. A ecolinguística no Brasil deve-lhe muito, sendo um pioneiro neste domínio.

È autor, entre outros títulos, de "O crioulo português da Guiné-Bissau" (Hamburg: Helmut Buske Verlag, 1994,  80 pp.).

Dessa obra consultei excertos, disponíveis aqui, incluindo a fábula que se publica (com adaptações da tradução para o português europeu; também revi o texto em crioulo, de modo a aproximá-lo da oralidade corrente: por exemplo, "santchu" em vez de "sancu", ou "tchiga" em vez de "ciga", "djuntu" em vez de "juntu"...).

A fábula do macaco e do cão também está, entre outras, reproduzida aqui (em crioulo e versão portuguesa do Brasil).

Ainda não há um a verdadeira normalização do crioulo da Guiné-Bissau ou do "guineense": há várias grafias, uma mais oficiosa (Direção-Geral da Cultura, Bissau, 1987) e outra mais académica (por ex., Luigi Scantamburlo, 1999)... O padre italiano Luigi Scantamburlo, doutorado em línguística, e há muito radicado na Guiné-Bissau (, no arquipélago dos Bijagós, desde 1975), é o autor do primeiro dicionário de guineense-português. É também direitor da ONG guineense, FASPEBI,

Para ele, "a escolha do termo guineense para designar a língua crioula é fundamental para promover melhor o estatuto nacional, veicular e inter-étnico desta língua, evitando a conotação negativa que o termo crioulo tem no país e no mundo".

Por exemplo, "sancu" (norma de 1987) é grafada como "santcu" (lê-se "santchu") no dicionário de Scantamburlo (1999); outros exemplos: bulaña (1987) e bulanha (1999)... Mas atenção: nós não somos "especialistas" do guineense, nem muito menos falantes, mas apenas "curiosos" (**)... (LG)
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Notas do editor:

(*) Sobre o crioulo da Guiné-Bissau:

Guiné-Bissau Kriol Docs

Grupu Kriol Papia Skirbi (Facenook, grupo fechado)

Dicionário Guineense-Português, de Luigi Scantamburlo, de I a XXXVIII pp.

Dicionário Guineense-Português, de Luigi Scantamburlo, de 1 a 636 pp.

Gramática de Crioulo, de Luigi Scantamburlo.

Guiné 63/74 - P16743: Agenda cultural (520): O nosso camarada Paulo Cordeiro Salgado vai estar no programa Mar de Letras - Artes e Cultura - Artes e Letras, no dia 23 de Novembro de 2016, pelas 21h30, na RTP África



1. Mensagem do nosso camarada Paulo Salgado (ex-Alf Mil Op Esp da CAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), que recentemente lançou o livro "Guiné - Crónicas de Guerra e Amor", com data de 20 de Novembro de 2016:

Caras e Caros Colegas,
Agradeço de novo, de forma reconhecida aos que se deslocaram à Associação 25 de Abril e à Fundação Portugal-África, incluindo os que não puderam estar presentes.
Quem quiser dar o próximo passo, sem sair da comodidade do sofá, pode ver a entrevista que a RTP África - programa "Mar de Letras"- no dia 23 do corrente mês (próxima quarta-feira), às 21,30, me fez.

Para mais informação carregar no link abaixo - Paulo Cordeiro Salgado - Mar de Letras - Artes e Cultura - Artes e Letras - RTP
http://www.rtp.pt/programa/tv/p32625/e33

Aceitai um abraço
Paulo Salgado

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2. Sinopse do Programa

Paulo Cordeiro Salgado 
Episódio 33 de 43 
Duração: 30 min

No próximo programa Mar de Letras a viagem começa em Torre de Moncorvo e acaba na Guiné-Bissau. Somos conduzidos pelas memórias de Paulo Cordeiro Salgado que viveu vários anos da sua vida neste país africano. Memórias que deram origem ao livro "Guiné - Crónicas de Guerra e Amor" que o autor apresenta neste Mar de Letras.

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3. Informação do editor:

O meu operador de televisão por cabo, há alguns dias, meteu na posição da RTP África,  a TVE. No entanto, continua a poder ver-se a RTP África na BOX.

Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16736: Agenda cultural (513): Lançamento do livro "História(s) da Guiné-Bissau", por Mário Beja Santos, dia 6 de Dezembro de 2016, pelas 18 horas, no Auditório do Museu da Farmácia, Rua Marechal Saldanha, Lisboa... Visita (gratuita) ao Museu de Farmácia e recital de Kora com o grande Braima Galissá!...

Guiné 63/74 - P16742: Notas de leitura (904): "Textos de Amílcar Cabral - Declarações Sobre o Assassinato" (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Setembro de 2015:

Queridos amigos,
Tenho procurado fazer o inventário da documentação publicada logo em 1974 sobre a obra de Cabral. Creio que este era a antologia em falta. Quem a fez, conhecia aprofundadamente o pensamento do líder do PAIGC, escolheu com conhecimento de causa um conjunto de texto apropriados para entender o pensamento e ação de Cabral, estão aqui extratos de artigos, intervenções, discursos, entrevistas, conferências e mensagens.
Tirando Cabo Verde, onde a Fundação Amílcar Cabral é operante através da publicação da sua obra, fazendo seminário e conferências, é raríssimo estudar-se Cabral, aquele pensamento revolucionário entrou em desuso ou ficou desgastado pelas desilusões que deixaram os seus seguidores na Guiné-Bissau.

Um abraço do
Mário


Textos políticos de Amílcar Cabral

Beja Santos

Penso que com esta recensão se conclui a enumeração dos livros dedicados ao pensamento de Amílcar Cabral e editados a seguir ao 25 de Abril. Neste caso trata-se de uma seleção que inclui declarações sobre o assassinato, como se verá adiante, era toda a conveniência atribuir o assassinato ao colonialismo português.

Trata-se de uma seleção com um critério sólido, quem a ela procedeu conhecia aprofundadamente a documentação de Cabral. Encontramos aqui excertos de artigos publicados a partir de 1962, intervenções, como a que fez no Centro Frantz Fanon, de Milão, o excerto do seu discurso, a “Arma da teoria” proferido na primeira conferência de solidariedade dos povos de África, Ásia e América Latina, Janeiro de 1966, Havana. É indispensável ler este documento para perceber como esta reflexão política projetou definitivamente o nome de Amílcar Cabral para o primeiro plano do movimento revolucionário. Foi um discurso que provocou celeuma, alterava a ortodoxia do pensamento marxista quanto a luta de classes e ao papel de vanguarda do partido revolucionário. Vejamos como o líder do PAIGC observava a nova realidade das revoluções do Terceiro Mundo:
“Os que afirmam – e com razão – que a forma motora da história é a luta de classes, estariam certamente de acordo para rever esta afirmação, a fim de a precisar e de lhe dar um campo de aplicação mais vasto, se conhecessem mais profundamente as caraterísticas essenciais de certos povos colonizados. Com efeito, na evolução geral da humanidade e de cada um dos povos que a compõem, as classes não aparecem nem como fenómeno generalizado e simultâneo na totalidade destes grupos, nem como um todo acabado, perfeito, uniforme e espontâneo. A definição de classes, no seio de um ou vários grupos humanos, é uma consequência fundamental do desenvolvimento progressivo das forças produtivas e das caraterísticas da distribuição das riquezas produzidas por este grupo ou confiscadas a outros grupos. Fatores externos a um dado conjunto socioeconómico em movimento podem influenciar de maneira mais ou menos significativa o processo de desenvolvimento das classes, acelerando, travando-o, ou mesmo provocando regressões”. 

E, mais adiante a sua reflexão parecia explodir como uma bomba:
“Tudo isto permite levantar a seguinte questão: será que a história só começa a partir do momento em que se desenvolve o fenómeno “classe” e por consequência a luta de classes? Responder afirmativamente seria situar fora da história todo o período de vida dos grupos humanos que vai da descoberta da caça, e posteriormente da agricultura nómada e sedentária, até à criação dos rebanhos e à apropriação privada da terra. Seria então também – o que nos recusamos a aceitar – considerar que muitos grupos humanos da África, da Ásia e da América Latina, viviam sem história no momento em que foram submetidos ao jugo do imperialismo. Seria de considerar que a população dos nossos países, tais como os Balantas da Guiné, os Koaniamas de Angola e os Macondes de Moçambique vivem ainda hoje, se abstrairmos das ligeiras influências do colonialismo às quais foram submetidos – fora da história ou sem história.
Esta recusa, baseada aliás no conhecimento concreto da realidade socioeconómica dos nossos países e na análise do processo de desenvolvimento do fenómeno “classe”, levamos a admitir que, se a luta de classes é a força motora da história, só o é num certo período dado. Isto quer dizer que antes da luta de classes – e necessariamente após – um fator, ou fatores, foi e será o motor da história. Admitimos sem custo que este fator da história de cada grupo humano é o modo de produção – o nível das forças produtivas e o regime de propriedade – que carateriza este agrupamento. Mas ainda a definição de classe e a luta de classes são elas próprias o efeito do desenvolvimento das forças produtivas conjugadas com o regime de propriedade dos meios de produção. Parece-nos pois correto concluir que o nível das forças produtivas, elemento determinante do conteúdo e da fórmula da luta de classes, é a verdadeira e permanente força motora da história”.

Consta que a sala em que ele discursou estava completamente siderada, o pensamento ortodoxo e dogmático sofria fissuras, o conceito de luta de classes e o nível das forças produtivas eram severamente questionados.

Amílcar Cabral possuía não só um pensamento político sólido como sabia encontrar fórmulas frescas para renovar o conceito das lutas de libertação: é o caso da sua apreciação sobre o papel da cultura da luta pela independência como no conceito de que a luta contra a guerra colonial transformaria a realidade portuguesa, como termo à ditadura.

Na sua mensagem de Ano Novo de 1973, Cabral profere o seu último discurso, refere-se às eleições para a primeira Assembleia Nacional que iria aprovar a constituição da República, e a reunião dessa Assembleia levaria à proclamação do Estado da Guiné-Bissau. Dentro do balanço, recorda os apoios recebidos ao longo de 1972, a guerrilha era inicialmente apoiada pela URSS e seus aliados, e com a credibilidade internacional que o PAIGC granjeara, os países escandinavos, o Concelho Mundial das Igrejas, a Cruz Vermelha Internacional e várias agências das Nações Unidas tinham passado a dar uma cooperação a favor das populações. E acrescentou:  
“… nenhum crime, nenhuma força, nenhuma manobra ou demagogia dos criminosos opressores colonialistas portugueses poderá deter a marcha da História”.

Assassinado dias depois, a 20 de Janeiro, sucedem-se as declarações de pesar e de encorajamento. Logo o PAIGC, reafirmando a sua determinação de vingar “esta traição ignóbil pela exterminação dos colonialistas e dos seus agentes corruptos”, era com esta fórmula que se procurava enredar as autoridades de Bissau ao complô de centenas de guineenses que nessa noite prenderam os quadros e funcionários cabo-verdianos. As mensagens do MPLA e da FRELIMO, por dever de ofício, atribuíam o crime ao regime colonial-fascista e exaltavam o pensamento e obra de Cabral.

Funeral de Amílcar Cabral em Conacri
Fundação Mário Soares, com a devida vénia
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16732: Notas de leitura (903): “Bijagós, Património Arquitetónico", por Duarte Pape e Rodrigo Rebelo de Andrade, fotografias de Francisco Nogueira, 2016 (Mário Beja Santos)