sexta-feira, 10 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17123: (D)o outro lado do combate (Jorge Araújo) (6): Vida e morte de Simão Mendes, vítima de bombardeamento, pela FAP, da base central do Morés, em 20 de fevereiro de 1966




O nosso colaborador assíduo do blogue, Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Especiais da CART 3494. Xime e Mansambo, 1971/74): tem já mais de 110 referência no nosso blogue; ainda está no ativo, é professor universitário, doutorado em ciências do desporto. Este texto, a publicar em duas partes, foi submetido ao blogue em 4 de janeiro de 2017]


1. Introdução

Apresentei no início deste ano uma resenha histórica, dividida em duas partes por questões editoriais, relacionada com a realização do I Congresso do PAIGC, organizado nos arredores da tabanca de Cassacá (Frente Sul), entre 13 a 17 de Fevereiro de 1964 [P16991 e P16998].(*)

Nela dei conta, com particular destaque, à importância social da saúde e da instrução literária,. analisadas um mês depois, em 21 de março, na Base Central (Morés), por iniciativa dos responsáveis dessa Frente [Norte], Ambrósio Djassi [nome de guerra de Osvaldo Vieira, 1938-1974] e Chico Té [nome de guerra de Francisco Mendes, 1939-1978], cumprindo deste modo as resoluções aprovadas no encontro de Cassacá.

Nesse âmbito, e no que concerne à área da Saúde, Simão António Mendes [enfermeiro de formação], seu principal responsável na Região Norte, apresentou um relatório [normas ou regulamento] com dez pontos, que foi aprovado por unanimidade.

Hoje, ao ler o P17119, da responsabilidade do camarada Jorge Ferreira (**), onde se faz referência a Simão [António] Mendes, nome com que foi baptizado o Hospital Nacional de Bissau [imagem acima], “antigo enfermeiro da época colonial, militante do PAIGC, morto em combate no Morés, e sobre o qual se sabe muito pouco”, tomei a iniciativa de partilhar convosco o que apurei sobre este tema.


2. SIMÃO ANTÓNIO MENDES – As suas funções e a sua morte

2.1. O que apurei

Como fonte de investigação bibliográfica, utilizei para este caso os arquivos da Casa Comum da Fundação Mário Soares.

Confirma-se, pela nota abaixo reproduzida, que Simão António Mendes fazia parte, de facto, da Direcção de Saúde do PAIGC.

No documento, por si assinado, enviado à Direcção Central do PAIGC em 24 de Março de 1964, ou seja, três dias após ter apresentado na Base Central (Morés) as normas de funcionamento da sua estrutura, pode ler-se:

I – Junto se remete a requisição dos medicamentos e mais artigos para um trimestre para consumo de guerrilheiros e povo da zona libertada por esses últimos não poderem deslocar a outra parte à procura de assistência sanitária.

II – Tomámos boa nota da última carta do nosso camarada Lourenço Gomes [responsável no exterior (Senegal; Base de Samine) pelo acompanhamento dos evacuados do interior da Guiné], sobre doentes a enviar para a fronteira que passarão a ser só os feridos por arma de fogo, tais como fracturas e certos casos graves que não podemos resolver cá, por falta de recursos.

Cumprimentos cordiais. 

Simão António Mendes e João Augusto Costa

Citação: (1964), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_35806 (2017-3-09)

Fonte: Casa Comum

Instituição: Fundação Mário Soares

Pasta: 04613.065.155

Assunto: Remete a requisição de medicamentos e mais artigos para os guerrilheiros e população (para um trimestre). Refere que tomaram boa nota das indicações de Lourenço Gomes de enviar para a fronteira apenas os feridos com arma de fogo.

Remetente: Simão António Mendes, João Augusto Costa.

Destinatário: Direcção do PAIGC.

Data: Terça, 24 de Março de 1964.

Observações: Doc. Incluído no dossier intitulado Correspondência 1963-1964 (dos Responsáveis da Zona Sul e Leste).

Fundo: DAC – Documentos Amílcar Cabral.

Tipo Documental: Correspondência

(Reproduzido com a devida vénia...)


2.2. A sua morte em 20 de fevereiro de 1966

De acordo com o comunicado da Base Central (Morés), a morte de Simão António Mendes ocorreu no dia 20 de fevereiro de 1996, domingo, sendo descrita nos seguintes termos:

“No dia 20 de fevereiro [de 1966] o inimigo apoiado por 8 caçadores [caça-bomdeiros  T 6 ? ou companhias de caçadores ?] invadiu a Base Central [Morés]. O combate que durou 6 horas de tempo, teve como resultado a retirada em debandada inimiga que caiu em 3 emboscadas sucessivas.

O inimigo,  não podendo realizar o plano, reforçou a aviação. Com o fim de bombardear a base, onde os nossos camaradas de armas anti-aéreas deram uma grande prova de corage,  não os deixando realizar o plano.

Depois de duas horas de combate, só conseguiram lançar uma bomba dentro da Base causando a morte a 3 camaradas entre os quais o responsável da saúde do C.I.R.N., Simão António Mendes.

Dois aviões foram atingidos pelo fogo da D.C.K. [metralhadora pesada de 14.5 mm]

Região Oío, Zona Morés, Base Central.





Citação: (s.d.), "Comunicado [Região 3]", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40720 (2017-3-09)

Fonte:  Casa Comum

Instituição: Fundação Mário Soares

Pasta: 07065.068.011

Título: Comunicado [Região 3]

Assunto: Comunicado da Base Central, na Região de Oío, Zona de Morés, dando conta da invasão desta Base pelo exército e aviação portugueses, tendo sido atingidos dois aviões pelos combatentes do PAIGC, munidos de armas antiaéreas.

Data: s.d.

Observações: Doc. Incluído no dossier intitulado Exército Popular Zona Norte (Comunicados)

Fundo: DAC – Documentos Amílcar Cabral.

Tipo Documental: Documentos.

(Reproduzido com a devida vénia...)


Mapa da Região do Oio - Base Central (Morés)


2..3. A versãodo cmdt Bobo Keita:

A antiga glória do futebol guineense, Bobo Keita (1939-2009), nas suas memórias, tem  uma versão um pouco mais detalhada sobre a vida e a morte de Simão Mendes:

(i) "trabalhou na administração colonial como responsável pela saúde" (sic), em Binar ou Bissorã ("não tenho a certeza");

(ii) numa das suas deslocações, "caiu num emboscada montada pelo camarada Agostinho Cabral d'Almada", o famoso "Gazela";

(iii) essa emboscada foi já "perto da base de Morés";

(iv) "foi levado como prisioneiro" (sic)  para o Morés e aí explicou que já há tempo "procurava estabelecer contactos" com o PAIGC;

(v) ingressou, deste modo pouco ortodoxo, no Partido;

(vi) "morreu,  mais tarde, no intenso bombardeamemnto da base de Morés ocorrido no dia 14 de novembro de 1964" [, aqui é que a data não bate certo com a do comunicado, acima reproduzido, que refere 20/2/1966, ou seja um ano e três meses depois...];

(vii) nesse bombardeamento, "os camaradas Juvêncio Gomes e  Tiago Aleluia Lopes foram atingidos por estilhaços", na cabeça (o Tiago) e  nas mãos e parte do rosto (o Juvêncio).

Fonte: CARVALHO, Norberto Tavares - De campo em campo:  dos estádiso de futebol à luta de libertação nacional dos povos da Guiné e de Cabo Verde; conversas com o comandanet Bobo Keita. Edição de autor, Porto, 2011, p. 244.
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Obrigado pela atenção.
Um forte abraço de amizade com votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

09MAR2017.
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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P17122: Parabéns a você (1219): Joaquim Cruz, ex-Soldado Condutor Auto Rodas do BCAÇ 4512 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 8 de Março de 2016 > Guiné 61/74 - P17114: Parabéns a você (1218): António Marques Lopes (DFA), Cor Art Ref, ex-Alf Mil Art da CART 1690 (Guiné, 1967/69)

quinta-feira, 9 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17121: Consultório militar do José Martins (21): Trabalho de investigação do Aspirante de Cavalaria Pedro Nuno Guilhermino Marçal Lopes sobre "A tipologia das Unidades Mobilizadas pela Arma de Cavalaria durante a Guerra de África (1961-1974)" (Academia Militar, 2014)


Capa do trabalho de investigação do Aspirante de Cavalaria Pedro Nuno Guilhermino Marçal Lopes



O NOSSO BLOGUE COMO FONTE DE INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO

Foto à esquerda: José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), nosso colaborador permanente, autor da série "Consultório Militar".

Já não me recordo quando e como foi: se o pedido foi enviado à Tabanca Grande, ou se o interessado, no caso um Aspirante-Aluno, da Academia Militar - Curso de Cavalaria, Pedro Lopes, me contactou por e-mail pessoal.

Sei que houve troca de e-mails, entre ambos, quando o mesmo preparava o “Relatório Científico Final do Trabalho de Investigação Aplicada” no ano de 2014.

Escolheu estudar e desenvolver, como tema do seu trabalho de curso,  “A Tipologia das Unidades Mobilizadas pela Arma de Cavalaria durante a Guerra de África (1961-1974)”.

Pela minha experiência sei que foram largas horas que dedicou ao seu trabalho, nomeadamente nas pesquisas às várias Histórias das Unidades, que teve de consultar, sobre as forças de Cavalaria que operaram nos três teatros: Unidades de Reconhecimento, Polícia Militar e “tipo Caçadores”.

Sobre o trabalho, quem seria melhor para o apresentar, que o seu autor? É o resumo do trabalho, que transcrevo:

O presente Trabalho de Investigação Aplicada encontra-se subordinado ao tema “A Tipologia das Unidades Mobilizadas pela Arma de Cavalaria durante a Guerra de África (1961-1974)”. O principal objetivo é a caracterização da tipologia das unidades de Atiradores, de Reconhecimento e Polícia Militar, mobilizadas pelas unidades territoriais de Cavalaria da metrópole, para os Teatros de Operações de Angola, Guiné e Moçambique, durante a Guerra de África (1961-1974).


Numa primeira fase tratamos de contextualizar o leitor com a temática da Guerra de África, começando com a situação Portuguesa de então, no cenário internacional, passando pelas principais características da guerra subversiva e terminando com o papel da Arma de Cavalaria neste conflito.

Na segunda fase, relativa à mobilização de Unidades de Reconhecimento, inicialmente é apresentado o dispositivo da Arma de Cavalaria, e as principais Unidades Mobilizadoras. De seguida são apresentados os dados da mobilização de Unidades ao longo do tempo para os três Teatros de Operações, juntamente com o esforço relativo de cada unidade mobilizadora. No final são abordadas as principais viaturas que equiparam este tipo de Unidades, e é feita uma síntese conclusiva do capítulo.

À semelhança do terceiro capítulo, também no quarto são analisados os dados de mobilização e o esforço das Unidades Mobilizadoras, mas desta, das Unidades do tipo Atiradores. Na síntese conclusiva deste capítulo é demonstrado o esforço relativo de mobilização comparativamente às Armas de Infantaria e Artilharia.

Em seguida são apresentados os dados de mobilização das unidades de Polícia Militar, de forma semelhante aos capítulos anteriores.

Na fase final do trabalho são respondidas as questões derivadas e central, que nos indicam as Unidades Mobilizadoras, tal como o esforço relativo de cada tipo de unidades, para cada Teatro de Operações.

Conheci o autor pessoalmente quando, ocasionalmente, nos encontrámos no Arquivo Histórico Militar, que aproveitámos para trocar impressões sobre o trabalho que estava a organizar. Fiquei com a certeza de que seria um trabalho a não perder, mas a que só agora tive acesso, através de um alerta do Luís Graça.

Ainda não o li totalmente. (Poderão encontrar, em anexo, as listas das unidades e subunidades de Cavalaria mobilizadas para o TO da Guiné: Apêndices F - Batalhões; G - Companhias; H - Esquadrões de Reconhecimento; I - Pelotões de Reconhecimento;  J - Companhias de Polícia Militar; e K - Pelotões de Polícia Militar.)

Porém estou certo de que, quer pelo autor, quer o seu orientador, Tenente-Coronel de Artilharia Pedro Alexandre Marcelino Marquês de Sousa, Oficial Superior da Arma de Artilharia e Professor História na Academia Militar, quer por outros Oficiais que lhe transmitiram o seu saber e dedicação à causa castrense, este trabalho é um “louvor” aos antigos combatentes, que o autor não se esqueceu de lembrar e agradecer:

“A todos os ex-combatentes que mantêm acesa a chama da nossa história através dos seus contributos nos blogs relativos à guerra colonial, em particular ao camarada José Martins“ (p. iii).

Amigos e camaradas, caros leitores do nosso blogue, poderão, e deverão, ler este trabalho disponível, em formato pdf (119 pp., com anexos),  no RCAAP - Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal:

José Marcelino Martins
Odivelas, 7 de Março de 2017
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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17074: Consultório militar do José Martins (20): Pelotão de Reconhecimento AML/Panhard 1106 (Guiné, 1966/68)

Guiné 61/74 - P17120: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte III: Gilbraltar, Santa Cruz de Tenerife, oceano Atântico, a caminho das Caraíbas, no navio cruzeiro "Costa Luminosa" (17 pisos, 93 mil toneladas, 2800 passageiros, 950 tripulantes)...












Parte II (pp. 7 a 10)



Texto, fotos e legendas: © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação das crónicas da "viagem à volta ao mundo" do nosso camarada António Graça de Abreu, escritor, poeta, sinólogo, ex-alf mil, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com mais de 175 referências. É casado com a médica chinesa Haiyuan e tem dois filhos, João e Pedro. Vive no concelho de Cascais.

Partida do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016. 




Guiné 61/74 - P17119: (De) Caras (60): Buruntuma, 1961: o enfermeiro Cirilo e o professor primário Timóteo Costa... (Jorge Ferreira / Mário Magalhães)


Guiné- Bissau > Bissau > 2000 > O Hospital Nacional Simão Mendes (, antigo enfermeiro da época colonial, militante do PAIGC, morto em combate no Morés, e sobre o qual se sabe muito pouco).


Foto: © Albano Costa (2000). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Jorge Ferreira (ex-alf mil da 3ª CCAÇ,  Bolama, Nova Lamego,  Buruntuma e Bolama, 1961/63), autor do livro "Buruntuma: algum dia serás grande!... Guiné. Gabu, 1961-63" (ed. autor, Oeiras, 2016).

Data: 8 de março de 2017 às 17:04
Assunto: Buruntuma


Caro Luís:


Estou neste momento reunido com Mário Magalhães,  puxando pelos "neurónios", uma vez que a questão que levantas nos obriga a recuar mais de 50 anos. (*)

Quanto ao enfermeiro  Cirilo (???) o único facto a relatar é que (anteriormente à minha deslocação para Buruntuma), estando à frente do destacamento o Furriel Mário Magalhães [MM]. houve um acidente com arma de fogo casual e,  ao ser requisitado os serviços do Cirilo,  o seu comportamento
foi verdadeiramente exemplar (MM dixit).

O poderoso régulo de Canquelifá, que morava
 em Buruntuma, Sene: c. 1961/62.
 Cortesia de Jorge Ferreira (2016)
Não se deve ignorar que os enfermeiros [civis] tinham uma actividade extremamente nómada pois
diariamente visitavam as nabancas com enfermarias onde permaneciam os doentes com "doença do sono" ou "lepra". Convirá referir que a Missão do Sono da Guiné era uma estrutura sanitária altamente prestigiada cuja acção era relevada pela OMS [Organização Mundial de Saúde]..

Não há registo de qualquer acção "suspeita" do enfermeiro. quer durante a permanência em Buruntuma do MM ou de mim próprio.

Quanto ao dito professor Timóteo [Costa]  (???) não se pode ignorar que as nossas instalações eram frontais à escola, junto a ela funcionavam as nossas instalações sanitárias, e existia uma morança habitada por um português que tinha sido deportado por "razões políticas" e que se tinha "cafrealizado", vivendo com uma mulher nativa e vários filhos.

Por outro lado, não se deve ignorar que a Escola era frequentada diariamente pelos militares que não estavam envolvidos em "operações de nomadização" ou "escalas de serviço",  na sua função de apoio escolar.

Por tudo isto parece-nos que o professor  não tinha condições para se dedicar a actividades subversivas. Não se deve ignorar que o próprio Corpo de Guardas do Régulo  [Sene Sané] exercia uma importante acção de vigilância que muitas vezes pôs em causa a "lealdade" dos informadores do
responsável pelo posto da PIDE.

Já após o regresso do MM a Portugal, talvez por volta de 1966 (???), este foi abordado em
Lisboa pelo professor de modo muito cordial ...

E é tudo quanto se nos oferece dizer (MM / JF) sobre as questões que levantas no teu / nosso Blogue.

Saudações-

JF / MM


ET -  O MM manifestou todo o interesse em aderir à Tabanca Grande !!!


2. Comentário do editor LG:

Caros Jorge Ferreira e Mário Magalhães:

Como eu já tinha dito em comentário ao poste P17108 (*),  o resumo do teor do documento em causa, feito pelos técnicos da Fundação Mário Soares,  parece-me "ambíguo" ou "confuso": (...) "Assunto: Transmite um recado do enfermeiro Cirilo, que se encontra em Buruntuma como professor, sobre o trabalho em prol da luta de libertação."

Timóteo Costa, que é o remetente, transmite a Marcelo Ramos de Almeida ("Marcel", para a família e amigos mais íntimos...), representante do PAIGC em Koundara, Guiné-Conacri, um recado do Cirilo, enfermeiro, que está em Buruntuma, a fazer trabalho político para o PAIGC, ao mesmo
tempo que é enfermeiro pago pela administração portuguesa...

Sem dúvida que, e à falta de médicos, os enfermeiros da administração colonial tiveram um papel importantíssimo na luta contra a doença do sono, a lepra e outras doenças tropicais, bem como no apoio sanitário às populações, antes da guerra. Também é verdade que houve, de resto, vários enfermeiros aliciados pelo PAIGC (ou melhor, PAI) nesta época (1961)... O Simão Mendes é um deles. (Morreu em combate, e deu o nome ao antigo hospital central da época colonial, em Bissau)

Conclui-se, do vosso depoimento que o tal Cirilo, enfermeiro, era conhecido das NT e fez inclusive tratamentos a um militar ferido, num acidente com arma de fogo, da CCAV 252,  quando o  fur mil cav Mário Magalhães comandava o destacamento de Buruntuma, ainda antes da chegada do Jorge Ferreira (em outubro de 1961).

O Timóteo Costa é que é o professor que acaba de chegar a Buruntuma (em 1961, não sabemos em que dia e mês)... O Mário Magalhães tê-lo-á conhecido em Buruntuma, em 1961, e reconhecido em Lisboa, por volta de meados dos anos 60. Devia ser cabo-verdiano, (**)

Ficamos gratos a ambos pelo vosso depoimento e felizes pelo facto de o veterano Mário Magalhães (mais antigo que o Jorge Ferreira em Buruntuma, talvez dois ou três meses!...) aceitar o convite para integrar a nossa Tabanca Grande...

De facto, é uma "preciosidade" encontrar camaradas de 1961 (!) com "cabeças ainda frescas" como vocês, Jorge Ferreira e o Mário Magalhães!.. E mais do que isso: prontos a partilhar com os seus camaradas as memórias (boas e más) de há 50 e tal anos atrás!

Recorde-se que a CCAV 252 foi a primeira companhia de cavalaria a ser mobilizada para a Guiné (agosto de 1961 / outubro de 1963), tendo como unidade mobilizadora o RC 3. O Jorge Ferreira, por sua vez, foi mobilizado para o TO da Guiné em maio de 1961, estebve a dar instrução no CIM de Bolama, foi para Nocva Lamega, para a 3ª CCAÇ, e ao fim de 3 meses, é colocado no destacamento de Buruntuma, onde esteve 11 meses.  Antes de acabaer a comissão, em junho de 1963, ainda voltou ao CIM de Bolama.

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 5 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17108: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral e outros / Casa Comum (21): O professor primário e o enfermeiro de Buruntuma, em 1961... Trabalhavam para o PAICG na cara da PIDE ?!...

quarta-feira, 8 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17118: Os nossos seres, saberes e lazeres (202): Central London, em viagem low-cost (4) (Mário Beja Santos)

Igreja da Santíssima Trindade - Long Melford


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 25 de Outubro de 2016:

Queridos amigos,
Deambular por Londres traz surpresas. Como se vivia um programa low-cost, escolheu-se um museu gratuito, uma casa portentosa, The Wallace Collection, antes visitou-se o Exército de Salvação, gente amável que ofereceu café e biscoitos, o feitiço dos livros superou a disciplina da carga, saiu-se dali com mais três quilos a abraçar até regressar a casa. Tinha visto o visitante no Museu Berardo obras de Bruce Nauman, foi curioso vê-lo do outro lado da montra, em fato de macaco a montar uma instalação, acenou-se-lhe, o artista veio à porta, confessou-se admiração e teve-se direito a visita guiada a uma imensa traquitana em fase de montagem, o que se reteve foram luzes feéricas sob um teto azul, um género de paraíso da sociedade de consumo. Seguiu-se para Suffolk, o pretexto é visitar uma vila medieval. E viagem prosseguirá, com grande expetativa, até Cambridge, em circunstância alguma o viandante esqueceu essa suprema maravilha da arquitetura que é King's College Chapel.

Um abraço do
Mário


Central London, em viagem low-cost (4)

Beja Santos

O turista vai passar a manhã em Londres, tem agenda completa, à tarde ruma-se para a região de Suffolk, a primeira etapa é pernoitar em Long Melford e daqui para Lavenham, uma cidade medieval que enriqueceu nos tempos prósperos nos negócios da lã. Primeiro, assiste-se a um concerto pela banda do Exército de Salvação, música religiosa. Sempre afáveis, convidaram a assistência a ir tomar café e ir comer uns biscoitos nas suas instalações. O turista cometeu a asneira de andar a ver livros vendidos ao preço da chuva, doravante andará com uns quilos de cultura às costas.



Há edifícios em Londres que têm esculturas preciosas, no caminhar desatento nem damos por elas. Foi exatamente a esperar o sinal verde que o viandante se apercebeu que aquela escultura não era o melhor conjunto de ferros, disse mesmo para si: "Não me digas que é uma escultura da Barbara Hepworth, a minha deusa da escultura contemporânea". E era mesmo.


Ferro forjado em Londres há às toneladas. Na II Guerra Mundial muito deste ferro foi requisitado para fazer navios e aviões, talvez canhões e outras coisas. Houve que refazer, e no refazer encontraram-se soluções engenhosas, com aditamentos requintados. O turista especou-se a ver, custou muito, não se importaria de viver assim.


The Wallace Collection é uma belíssima coleção que se pode visitar gratuitamente, resulta de doações em cinco gerações sucessivas dos marqueses de Hertford e Sir Richard Wallace. Há para aqui muita armaria, mobiliário francês e holandês, até ali se encontrou um baú Namban que meteu negócios portugueses. Na pintura, prima o classicismo, o turista pode deambular a ver relógios, porcelanas, bustos, majólicas, não falta Rubens e Boucher, este está aqui representado a pintar Madame de Pompadour. O viandante deu-se sempre muito bem com a pintura de Frans Hals, estava um pouco cansado e compartilhou dos luxuriantes detalhes da indumentária e da figura. O quadro chama-se “O cavaleiro a rir”, mas é pura ilusão de ótica dada pelo olhar amarotado e pelos bigodes retorcidos. Seja o que for, ninguém nega a obra-prima.


É dia de sol, os londrinos, o viandante já parou, reverenciado, a ver a esplêndida sala de espetáculos que é Wigmore Hall, teve até a esperança que houvesse um concerto com a Maria João Pires, agora vai-se até ao parque através de Wigmore Street, ali bem perto, e come-se o almoço, os londrinos estão felizes também tiveram sorte com as amenidades do Outono. Curioso este parque em Cavendish Square, com imenso bulício à volta, estamos praticamente no coração de Londres. Prossegue agora o passeio para ir buscar a bagagem e partir para Suffolk, no caminho a bela surpresa de ver a montagem de uma instalação de Bruce Nauman, artista contemporâneo que o viandante aprecia, foi convidado a vir à tarde, infelizmente não pode ser.


The Black Bull é uma reconstrução de albergaria que vem dos tempos dos Tudor, o viandante abre uma exceção low-cost, desta feita tive direito a pequeno-almoço com ovos e bacon e algo mais. Chegou-se a Long Melford, vila que tem a caraterística, bem rara em terras inglesas, de se estender pelas bermas da estrada. Foi o que de mais perto se encontrou para chegar ao objetivo, Lavenham uma cidade medieval construída entre 1450 e 1500 e escrupulosamente tratada. Ali se passará o dia, não haverá meios para se satisfazer um dos sonhos do viandante, ir a casa de Gainsborough, um dos mais importantes pintores do romantismo, não é fácil superar o problema dos transportes.



Long Melford estava radiosa para receber o turista, um céu claríssimo, aves a esvoaçar, o turista consulta o mapa, sabe que há duas casas senhoriais visitáveis, daquelas que custam 16 libras cada, e uma portentosa igreja, a da Santíssima Trindade. Uma das descobertas do viajante é que anda perplexo com a fronteira ténue entre o catolicismo e a igreja anglicana, vê santos nas igrejas, rituais semelhantes, alguém lhe explica que a Alta Igreja está cada vez mais próxima do catolicismo, não será por acaso que Roma e Cantuária se reúnem tão amiudadas vezes. Mais uma questão de estudo. O mais importante é registar a beleza do templo, mais por fora do que por dentro, pena que a câmara do viandante não consinta em dar um plano integral de tão bela construção. Fim do passeio, toma-se autocarro para Lavenham, tudo o resto do dia será para passar aqui, mas tarde novo transporte para a penúltima etapa, Cambridge.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17101: Os nossos seres, saberes e lazeres (201): Central London, em viagem low-cost (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17117: Blogpoesia (497): Neste dia da Mulher, um poema de Juvenal Amado, dedicado à sua companheira de sempre



1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem", com data de 3 de Março de 2017, trazendo-nos um poema dedicado à sua companheira de vida:

Está a chegar o dia da mulher, por isso vai alguma coisa para uma mulher lutadora, abnegada e presente
JA


O DIA DA MULHER

Um sonho simples é
Aspirar o teu perfume
Percorrer com dedos a tua pele
Andar de mãos dadas,
pôr-do-sol a projectar
as nossas sombras juntas

Beber água fresca das tuas mãos,
adormecer nos teus braços
Sentir o teu corpo ao nascer do dia
Ver o mar pelos teus olhos
Embriagar-me no azul do nosso céu.

Sentir no rosto o teu alento
O amor que de nada precisa
Porque está completo
Extravasa e jorra por montes e vales
Acalma tormentas e tempestades

Existe porque nos encontrámos um dia
Sem exigências vivemos um de cada vez
Porque nunca nos fartamos
Ansiamos sempre pelos reencontros
Mulher és minha como sou teu
E as palavras serão para sempre inúteis
____________

Nota do editor

Último poste da série de 5 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17107: Blogpoesia (496): "Sol envergonhado..."; "Chave à porta..." e "Tentativas falhadas...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P17116: Convívios (781): 30º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha: 16 de março de 2017, 5ª feira, restaurante "O Nosso Cantinho", rua das Tojas, nº 192 A, Carrascal de Alvide, Cascais. Inscrições até dia 13... (Manuel Resende)




Caros “Magníficos”, vai-se realizar no próximo dia 16 de março de 2017, terceira quinta-feira do mês de Março, o 30.º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha, no Restaurante "O NOSSO CANTINHO", já conhecido de convívios anteriores, e cuja morada, para os que não sabem, aparecerá no fim desta mensagem.

INSCRIÇÕES ATÉ 13-03-2017 – (segunda-feira)

Como de costume, as inscrições são feitas da mesma forma, ou seja:

- No Facebook da Tabanca da Linha, clicando em "VOU" (não esquecer de indicar o número de pessoas).

- Por e-mail ou telefone:

jorge.v.rosales@gmail.com  
 914 421 882





manuel.resende8@gmail.com  
919 458 210




E M E N T A

(i) Entradas: - Pão, azeitonas, paio, queijo fresco, salgados, manteiga

(ii) Sopa: - de legumes

(iii)  Prato: -Bacalhau à lagareiro com batatinhas e grelos

(iv) Sobremesas: -Frutas e doces à escolha

(v) Cafés

(vi) Bebidas: - vinho branco e tinto do Douro, cerveja, sumos, águas

Nota: Quem não quiser este prato pode pedir outro em alternativa, dos que houver disponíveis. Deverá fazer o pedido à chegada, para que tudo saia ao mesmo tempo.

Preço: 20 €

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Como chegar até lá:

Restaurante "O Nosso Cantinho"
2755-010 Cascais

Este restaurante fica situado em Alvide - Cascais, junto à A5, na saída para Alvide, frente às antigas instalações da Mercedes.

Quem vem de Lisboa pela A5 sai para Alvide, e entra na Terceira Circular de Cascais (que vem do Hospital). Existem aí uns semáforos. Sair para a esquerda e logo a seguir outra vez à esquerda.

Rua ou Estrada das Tojas, nº 192-A.

Apareçam. 
Um abraço a todos
Manuel Resende
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Nota do editor:

Último poste da 28 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17092: Convívios (780): Encontro do 50º aniversário do regresso da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) : Caldas da Rainha, 29 de abril de 2017... Missa de ação de graças, concelebrada pelo padre Vitor Melícias e pelo capelão da Escola de Sargentos do Exército (ESE)

Guiné 61/74 - P17115: "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp) - Parte V: o grupo cénico-musical que atou nas ilhas de São Viicente, Sal e Santo Antão...

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"Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp. inumeradas, il.)


Parte IV (pp. 21-25)




Continuação da publicação da brochura "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do Capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp. inumeradas, il.) [, imagem da capa, à esquerda].(*)

O autor é José Rebelo, Capitão SGE que foi em 1941/43 um dos jovens expedicionários do RI I1, então com o posto de furriel. Não sabemos se ainda hoje é vivo, mas oxalá que sim, tendo então a bonita idade de 96 ou 97 anos. Em qualquer dos casos, este nosso velho camarada é credor de toda a nossa simpatia, apreço e gratidão.

O nosso camarada Manuel Amaro diz-nos que o conheceu pessoalmente: (...) "Por volta de 1960, fez a Escola de Sargentos, em Águeda e após promoção a alferes, comandou a Guarda Nacional Republicana em Tavira, até 1968. Como homem de cultura, colaborava semanalmente, no jornal "Povo Algarvio", onde o conheci, pessoalmente. Em 1969, já capitão, era o Comandante da Companhia da Formação no Hospital Militar da Estrela, em Lisboa." (...)

A brochura que estamos a reproduzir é uma cópia, digitalizada, em formato pdf, de um exemplar que fazia parte do espólio do Feliciano Delfim Santos (1922-1989), que foi 1.º cabo da 1.ª companhia do 1.º batalhão expedicionário do RI 11, pai do nosso camarada e grã-tabanqueiro Augusto Silva dos Santos (que reside em Almada e foi fur mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73).

O então furriel José Rebelo,
expedicionário do 1º batalhão
do RI 11
Trata-se de um conjunto de crónicas publicadas originalmente no jornal "O Distrito de Setúbal", e depois editadas em livro, por iniciativa da Assembleia Distrital de Setúbal, em 1983, ao tempo do Governador Civil Victor Manuel Quintão Caldeira. A brochura, ilustrada com diversas fotos, tem 76 páginas, inumeradas.


O batalhão expedicionário do Onze [RI 11, Setúbal] partiu de Lisboa em 16 de junho de 1941 e desembarcou na Praia, ilha de Santigao, no dia 23. Esteve em missão de soberania na ilha do Sal cerca de 20 meses (até 15 de março de 1943), cumprindo o resto da comissão de serviço (até dezembro de 1943) na ilha de Santo Antão. A

Sabemos, por este cronista, que os "expedicionários do Onze" tinham um grupo cénico-musical que fez espectáculos nas ilhas por onde passou (São Vicente, Sal e Santo Antão), Na  ilha de São Vicente, atuaram uns dias depois da hegada, logo nos dias 6, 7,  9 e 10 de julho de 1941 (domingo, segunda-feira, quarta-feira e quinta-feira, respetivamente). No Mindelo, fizeram récitas, muito ao gosto da época, no Teatro "Eden-Park". O encenador era o tenente Manuel Bertrand Vila Nova, e o maestro da orquestra (15 elementos) era Jaime Gouveia, ele próprio compositor, O próprio José Rebelo era um dos atores do grupo.

As receitas destes espetáculos tinham fins de beneficiência.




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(Continua)
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