segunda-feira, 1 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17301: Notas de leitura (952): Guerra da Guiné: Os atores, a evolução político-militar do conflito, as revelações surpreendentes - Apresentação dos três volumes alusivos aos aspetos operacionais na Guiné, da responsabilidade da Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974 (3) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Abril de 2017:

Queridos amigos,
Assim se põe termo à comunicação que apresentei, por convite do senhor Chefe do Estado-Maior do Exército, dos três volumes referentes a aspetos da atividade operacional da guerra da Guiné, da responsabilidade da Comissão para o Estudo das Campanhas de África.
Encontram-se aqui revelações surpreendentes, saliento que se possui finalmente referências oficiais ao que seria o plano de retração, decidido em 1973 e que Bethencourt Rodrigues iria executar ainda em 1974. Este Comandante-Chefe escreve alarmado em 20 de Abril a Costa Gomes, sente que o esgotamento de meios, a desmotivação das tropas e a capacidade ofensiva do PAIGC prenunciam momentos duríssimos.
É uma leitura bastante recomendável àquele conjunto de nostálgicos que ainda acreditam e professam que a guerra da Guiné era sustentável e estava muito longe de se considerar perdida.

Um abraço do
Mário


Mário Beja Santos durante a sua alocução


Guerra da Guiné: 
Os atores, a evolução político-militar do conflito, as revelações surpreendentes (3)

(Apresentação dos três volumes alusivos aos aspetos operacionais na Guiné, da responsabilidade da Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974), Academia Militar, 18 de Abril de 2017)

Mário Beja Santos

Em 15 de Maio de 1973, Spínola preside a uma reunião de Comandos, entrara-se numa nova fase da evolução da guerra. O Comandante-Chefe disserta um rol de preocupações: não pretende enfraquecer o apoio económico-social às populações, estas não entenderiam economia de meios, recorda que na conceção inicial, em 1968, desguarnecera-se áreas desabitadas em ordem a recuperar meios em proveito do esforço que se impunha realizar nas zonas Oeste e Leste para deter o alastramento da guerrilha; assistia-se agora ao crescente potencial do IN. Ponderadas as análises, setor a setor, considerava-se essencial satisfazer um conjunto de necessidades em mais Companhias, mais Comandos de Agrupamento e de Batalhões, Companhias de Engenharia, armas de maior alcance para contrabater os fogos inimigos (morteiros 120 mm, canhões sem recuo e lança-granadas foguete), pelotões de artilharia, etc. E diz expressamente:
“Se não forem concedidos os reforços solicitados e as armas que permitam enfrentar o inimigo atual, julga-se que será necessário remodelar o dispositivo. Mas neste caso, as missões atualmente dadas às nossas forças, em termos de proteção das populações e apoio ao esforço principal da manobra, teriam de ser revistas. Ficariam também altamente prejudicadas as missões de contrapenetração e de detenção do alastramento da subversão, comprometendo-se desta maneira a missão das forças armadas no teatro de operações”.

Na sequência desta reunião, o Secretariado-Geral da Defesa Nacional produziu em 28 de Maio um memorando onde se argumenta parecer estar-se numa altura em que uma revisão estratégica ter de ser feita na componente política, já que a componente militar, com os atuais meios, atingira um limite a partir do qual podia vir-se a não cumprir a missão. Não havia mais meios para oferecer à Guiné, mas não deixava de se propor medidas de caráter militar, a começar pela Força Aérea e nas medidas de política interna sugeria-se explicitamente contactos com os movimentos de guerrilha, à semelhança da operação “Madeira” (acordo com a UNITA). O Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, Costa Gomes, desloca-se a Bissau em Junho, entre os assuntos tratados, Spínola referiu que o inimigo podia estabelecer no Boé uma base territorial com concentração de poderosos meios, mas não estava muito convicto dessa possibilidade. É nessa reunião que Costa Gomes e Spínola se entendem numa manobra de retraimento do dispositivo, com as seguintes linhas: rio Cacheu – Farim – Fajonquito – Paunca – Nova Lamego – Aldeia Formosa – Catió. Este retraimento, insista-se, era o resultado da inexistência de meios, e trazia um preço elevadíssimo, o abandono de quartéis, a transferência dos efetivos para dentro destas linhas, a migração de populações em grande volume, dentro deste dispositivo, acreditava-se, seria possível resistir mais concentradamente ao PAIGC.

Em Agosto de 1973, Spínola regressa definitivamente a Lisboa, é substituído pelo General Bethencourt Rodrigues, um reconhecido cabo-de-guerra. A Resenha documenta o que se passou em 1974, antes e depois do 25 de Abril. A situação militar era agora diferente: o PAIGC fazia prego maciço de meios de fogo sobre objetivos mais vulneráveis, parecia dominar regras do jogo, escolhia à carta onde atacar, concretamente no Norte e no Sul, no Cubucaré. Conduziu fortes flagelações a Nordeste da província sobre as guarnições de Canquelifá, Buruntuma e Copá e no Sul, sobre o itinerário Cadique – Jemberém. Escreve-se na resenha:  
“Em Abril, dado o esgotamento das reservas do Comando-Chefe, previa-se o relançamento da ofensiva inimiga na região do Nordeste com incidência em Canquelifá e Buruntuma, o que, a concretizar-se com êxito, daria ao inimigo a possibilidade de ligar essa área com duas outras situadas a Sul, sobre as quais exercia já um controlo efetivo, o corredor de Guileje e a vasta área a Norte desta, o Boé, desocupado desde 1969. No Sul do território, a atividade inimiga provocou claro desequilíbrio nalgumas guarnições das nossas tropas, particularmente em Bedanda e em Jemberém e, nalguns casos, as nossas guarnições sofreram forte depressão, com ataques que duraram dias consecutivos. O inimigo reforçou os seus efetivos e passou a instalar bases de fogo com observadores avançados, que faziam a regulação do tiro, assim melhorando de forma significativa a eficiências das suas ações de fogo. Face a esta ameaça sobre as posições do nosso dispositivo implantado no terreno próximo das fronteiras, o Comando-Chefe estava ciente de que o governo de Lisboa não dispunha de meios para reforçar o dispositivo atempadamente e suficientemente para uma oposição eficaz às intenções inimigas. Por isso, tinha previsto a retração do dispositivo das nossas tropas, passando a linha geral mais avançada a ser definida pelos seguintes pontos: rio Cacheu – Farim – Fajonquito – Paunca – Nova Lamego – Aldeia Formosa – Catió”.

Tudo se complicava. Em 20 de Abril, Bethencourt Rodrigues envia a Costa Gomes uma nota em que confessava:  
“ […] são motivo de grande preocupação para este Comando-Chefe, cumprindo-lhe assinalar as consequências que podem resultar da possível evolução do potencial de combate do PAIGC ou do seu eventual reforço com novos meios das forças armadas da Guiné, quer quanto à capacidade de resistência das guarnições militares porventura sejam atacadas, quer quanto às capacidades de intervenção com meios à disposição do Comandante-Chefe, em especial meios aéreos”.

E assim chegamos ao 25 de Abril, o que a seguir se passou é história bem conhecida. A Resenha aborda pormenorizadamente este período pós-25 de Abril e os seus múltiplos intervenientes, o comando militar fez deslocar cerca de 23.800 militares portugueses da Guiné para Lisboa e desmobilizar cerca de 15.100 militares e milícias guineenses. A obra destaca as decisões do Comandante-Chefe bem como a atividade operacional durante estes meses de 1974.

Na Mesa, da esquerda para a direita: Dr. Mário Beja Santos; Chefe do Estado-Maior do Exército, General Rovisco Duarte  e o Coronel Cav Henrique de Sousa.


Senhor Chefe do Estado-Maior do Exército,
Distintíssimos Oficiais,
Minhas senhoras e meus senhores,

Compete agora aos historiadores considerar a documentação existente e pesquisar a dispersa. Esta Resenha tem o seu valor insubstituível, foi aqui várias vezes referido a sequência cronológica que até agora não se fizera da guerra, desmonta as falácias de que durante os períodos de Louro de Sousa e Arnaldo Schulz não se usara, à luz dos meios existentes, nenhum esforço de guerra suficientemente dissuasor e de apoio às populações. Lembro que ainda hoje não existe um inventário do que foi a deslocação de populações, por perseguições, por terror, por opção, os primeiros dois comandantes-chefes procuraram apagar os fogos e dispuseram no terreno os efetivos segundo critérios discutíveis, é certo, numa tentativa de travar o alastramento de influência e dando confiança às populações; leem-se as diretivas, o rol de operações, e ficamos cientes de que não se fez uma guerra a medo, o inimigo ia-se qualificando, dotando de armamento mais qualificado, até que um dia passou a possuir o poder de decidir de e como atacar. Com morteiro 120 mm, foguetões, entrando no território com viaturas, dificultando o apoio aéreo graças ao Strela, do lado português não se encontrava a correspondente contrapartida. Não havia solução política, do lado português. A Guiné-Bissau fora reconhecida como país independente por um número elevadíssimo de Estados, a Organização da Unidade Africana propunha a organização de um exército que pusesse termo à presença colonizadora. Marcello Caetano dispunha de todas estas informações, agiu de modo dúplice: tinha um discurso interno de que se iria resistir a todo o transe e entretanto dera luz verde à realização de negociações secretas com o PAIGC, o governo britânico foi intermediário, o diplomata José Manuel Villas-Boas encontrou-se com uma delegação do PAICG em Londres. No seu primeiro livro escrito no exílio brasileiro, o ex-primeiro-ministro alude à reunião havida no Conselho Superior de Defesa Nacional onde o assunto da Guiné foi frontalmente abordado e escreveu que pôs a hipótese de retirar e deixar um general em Bissau, caso a Guiné não fosse comprovadamente defensável.

É neste cenário que os militares agiram, era bem clara a perspetiva de um descalabro militar, o espectro da Índia pairava no ar. A Guiné estava militarmente perdida. Faz bem a Resenha em destacar o admirável esforço dos militares no apoio à população da sua defesa, educação, saúde, construção de aldeamentos e vias de comunicação e prestar homenagem aos oficiais, sargentos e praças que combateram com a inexcedível dignidade e valor as suas missões.

Bem haja o Estado-Maior do Exército por dar meios a estas investigações, só espero que a partir de agora a Comissão para o Estudo das Campanhas de África se venha a abrir a um trabalho cooperativo com as instâncias universitárias e os investigadores independentes, para bem da verdade histórica e do melhor conhecimento deste período da nossa vida contemporânea que alterou o rumo da História de Portugal.

A todos, muito obrigado.
(Mário Beja Santos)



Mário Beja Santos em conversa com Oficiais Generais

Aspecto da assistência

O Coronel Carlos Matos Gomes entre a assistência

O nosso confrade Carlos Silva e a esposa Germana.

Actuação da Banda Sinfónica do Exército
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Nota do editor

Postes anteriores de:

24 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17277: Notas de leitura (950): Guerra da Guiné: Os atores, a evolução político-militar do conflito, as revelações surpreendentes - Apresentação dos três volumes alusivos aos aspetos operacionais na Guiné, da responsabilidade da Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974 (1) (Mário Beja Santos)
e
28 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17293: Notas de leitura (951): Guerra da Guiné: Os atores, a evolução político-militar do conflito, as revelações surpreendentes - Apresentação dos três volumes alusivos aos aspetos operacionais na Guiné, da responsabilidade da Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17300: XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 29 de Abril de 2017 (10): as primeiras fotos da nossa festa (Jorge Canhão)


Leiria, Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017 > O nosso "herói de Gadamael desconhecido", J. Casimiro Carvalho, sempre bem disposto, sempre divertido, foi quem nos tirou a foto de família...Aqui captado pela câmara do Jorge Canhão...


Leiria, Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017 > Os nossos grã-tabanqueiros em amena cavaqueira, depois da missa (às 11h30), junto à entrada do hotel, preparando-se para a foto de família (às 12h30)...


Leiria, Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017 > Ainda não é a foto final, tirada pela máquina do J. Casimiro Carvalho (de que estamos à espera)... O Carlos Vinhal, à direita, de casaca vermelho, tenta a "arrumar" o pessoal...


Leiria, Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017 > à esquerda, o Manuel Luís Lomba e a esposa, Maria Arminda (Barcelos); à direita, a outra Maria Arminda (Setúbal) e, ao centro, a Maria de Lurdes (esposa do Jorge Canhão).

Fotos: © Jorge Canhão (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P17299: Blogpoesia (508): "Um banho de frescura..."; "Bosque verde..." e "A voz humana", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Bosque alemão.
Com a devida vénia ao autor da foto


1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Um banho de frescura

Tomei um banho de frescura e verde
Deambulando através do bosque da minha casa.
Saí dormente. Cheguei ardente de viver esta vida
Que me foge tanto.

Ouvi o canto da passarada voando à solta.
Vi os corvos negros, de bico arguto,
Cruzando rasantes os carros da estrada.

Vi flores às cores,
Sorrindo em coro,
Pareciam anjos devotos,
De mãos erguidas.

Semeei passadas,
Trilhei caminhos,
Por terras negras.
Pisei a relva,
Um mar de verde.
Banhei meus olhos
De orvalhada.

Amanhã lá volto
E não pago nada…

Berlim, 29 de Abril de 2017
7h26m
Jlmg

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Bosque verde…

Passei pelo bosque nas traseiras da minha casa.
Deixei-o nu. Desflorido.
Os caminhos, cobertos de neve seca.
No fim do inverno.

Hoje, brilhava ao sol.
Muitas flores.
Um verde, verde. Muitos pássaros. Melros e pombas.
Não me ligaram nenhum.
Debicavam o chão.

Enchi-me de ar.
Às baforadas.
Puxei pelas pernas,
Estavam emperradas.
Passei pelo “turco”.
Gostei de vê-lo.
Comprei-lhe o pão.

Vai ser a rotina diária
Por mais três meses.
Depois, Verão.

Berlim, 26 de Abril de 2017
7h43m
Jlmg

************

A voz humana

Aquele instrumento de cordas
Que a alma toca,
O maestro é o coração.
Canta. Fala.
Chora e ora.
Diz sim e não.

Aquela fonte incessante
Que pinta cores.
Lava tristezas
E sara dores.

É sereia.
Serpente sedutora.
Convincente.
Faz dos fracos fortes.
Derrama luz nas sombras.
Mestre-escola.
Pregadora.
Conselheira.

Verdadeira e trapaceira.
Servindo o bem e o mal.
Conforme a hora ou o dono.

Catavento.
Faz rir e faz chorar,
Conforme o vento.

Reluz ao sol,
Mas é no silêncio
Que ela brilha…

Ouvindo “Habanera” da Carmen
Berlim, 28 de Abril de 2017
8h39m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17272: Blogpoesia (507): "Canção da terra..."; "A riqueza das palavras..." e "O nada...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P17298: XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 29 de Abril de 2017 (9): as primeiras fotos da nossa festa (Miguel Pessoa)


Leiria, Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017 > A nossa camarada Giselda Pessoa, que nesse dia fazia anos. O seu "postalinho de parabéns" teve mais de 670 visualizações (sem contar com a página do Facebook da Tabanca Grande)... Ela merece todos estes miminhos...
.

Leiria, Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017 > A nossa camarada Giselda Pessoa, a homenageada do dia. O nosso editor Luís Graça declamou-lhe um "soneto de parabéns" em nome de toda a Tabanca Grande.


Leiria, Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017 > Giselda (Lisboa), JERO (Alcobaça) e Eduardo Magalhães Ribeiro, nosso coeditor (Porto).


Leiria, Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017 > Da esquerda para a direita, a Maria Arminda Santos (Setúbal), a Maria de Lurdes Canhão (Oeiras) e a Giselda.


Leiria, Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017 > Da esquerda para a direita, a Giselda, a Maria Arminda Santos (que veio pela primeira vez a um encontro nacional da Tabanca Grande)  e a Maria de Lurdes (de perfil)


Leiria, Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017 >  Em primeiro plano, o David Guimarães (Espinho) e o Jorge Canhão (Oeiras). Em segundo plano, o J. Casimiro Carvalho (Maia) e Armando Pires (Algés / Oeiras)


Leiria, Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017 > Da direita para a esquerda, os nossos colaboradores permanentes Hélder Sousa (Setúbal) e Jorge Cabral (Lisboa), mais o Armando Pires e o Jorge Rosales, "dois meninos da Linha"...


Leiria, Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017 > A "valente" representação do Norte: da esquerda para direita, o Joaquim Peixoto e o Zé Manel Cancela, ambos de Penafiel, e o Zé Manel Lopes (Régia) (que desta vez veio sem o seu GLS, leia-se,  sem a sua Luísa: "alguém tem que ficar a trabalhar na Quinta  Senhora da Graça - Turismo e Vinhos, disse-nos ele com bom humor).


Leiria, Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017 > Na mesa da "frota celestial": o António Martins de Matos (o único general de três estrelas que temos na Tabanca Grande!) e a "strelada" Giselda


Leiria, Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017 >  Preparativos para a "foto de família" tirada na imponente escadaria  do hotel... Não é fácil pôr uma companhia em sentido....

Fotos: © MIguel Pessoa (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Depois de dadas as boas vindas aos cerca de 140 convivas, e já à mesa, em nome da comissão organizadora, e de todos os presentes, cantou-se "os parabéns a você" à nossa camarada Giselda, a única camarada no feminino que nos honrou, mais uma vez,  com a sua presença, a par da "periquita" Maria Arminda (uma das primeiras enfermeiras paraquedistas a ser mobilizada para a Guiné). 

Aqui fica, para memória futura, a letra do soneto que o Luís Graça declamou à nossa histórica camarada Giselda (casada com o Miguel Pessoa, autor destas fotos, que selecionámos)... De facto, e dada a coincidência de datas (o seu aniversário natalício e a nossa festa), a Giselda teve um merecido "xicoração especial":

Enfermeira paraquedista eu fui,
Na Guiné, nessa já esquecida guerra,
À medida que o tempo passa e flui,
Guardo as memórias boas dessa terra.

Fui, de todos, amiga e camarada,
Conheci o melhor e o pior,
Aterrei de emergência, fui “strelada”,
Enfim, sou “anjo do céu”, hoje sénior…

Dizem que dava um filme a minha história,
Minha e do Miguel, de guerra e amor,
Mas, vocês sabem, não sou de vanglória.

Só peço, p’ra todos nós, gratidão,
E p’ra mim, paz, saúde e bom humor,
Com direito, hoje, a... xicoração!

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Guiné 61/74 - P17297: Parabéns a você (1247): José Carlos Neves, ex-Soldado TRMS STM/CTIG (Guiné, 1974) e Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703 (Guiné, 1964/66)


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Nota do editor

Último poste da série 29 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17295: Parabéns a você (1246): Giselda Pessoa, ex-Sargento Enfermeira Paraquedista da BA 12 (Guiné, 1972/74)

domingo, 30 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17296: (In)citações (107): XXII convívio do BCAC 3872 (Galomaro, 1972/74)... Fátima, 29/4/2017... Quem não esteve, teve pena... mas para o ano há mais! (Juvenal Amado)


Fátima > 29 de abril de 2017 > XXII Convívio di BCAÇ 3872 (Galomaro, 1972/74) > Foto  de grupo: cerca de meia centena de ex-combatentes.



Fátima > 29 de abril de 2017 > XXII Convívio di BCAÇ 3872 (Galomaro, 1972/74) > Foto  do bolo de aniversário > Juntou-se malta sobretudo da CCS e  mas também das compamnhias operacionais, CCAÇ 3489 (Cancolim), 3490 (Saltinho) e 3491.(Dulombi e Galomaro).


Fotos: © Juvenal Amado (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça &  Camaradas da Guiné]

1. Mensagem do Juvenal Amado, com data de hoje, às 16h11


Mais uma vez se juntou a malta do BCAÇ 3872. Estavam lá do Saltinho, de Cancolim, Dulombi e a maioria da CCS.

Quem esteve ficou feliz, quem não pode esta presente,  julgo que teve pena, mas para o ano há mais, ali para os lados de Abrantes.

Um abraço

2. Crónica de 29 de Abril 2017

por Juvenal Amado



Sede bem-vindos com apetite,

Heróicos e destemidos,

Viestes de todos os lados,

Não temestes atalhos e caminhos.

De Norte vieram muitos,

Do Centro aos magotes,   

De mui outros locais compareceram.

Trouxestes mulheres e prole, 

Que viestes todos com vontade,

Não vos fizestes rogados, 

E agora que chegastes,

Avisados que estáveis,

À sombra do João Paulo II esperais,

A Palavra na Santíssima Trindade ouvistes

Mas logo que forças recuperais,

Avançais para o D. Nuno sem vacilar

Está lá o mapa para que no caminho não vos enganeis, 

P'ra de entrada degustar pasteis, croquetes e iguarias tais

Que empurrais com vinhos brancos e tintos,

E não tenhais piedade

E porque dos fracos não reza a história,

De dietas não faleis

Ao trinchar esse naco,

Estripai e cortai a direito ou enviesado.

Regai pois esse labor e bebei

Que nos dentes não tenhais dores

E que nunca fiqueis engasgados,

Até porque para o ano há mais.



sábado, 29 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17295: Parabéns a você (1246): Giselda Pessoa, ex-Sargento Enfermeira Paraquedista da BA 12 (Guiné, 1972/74)





1. Giselda:

"Os contactos diários com as tripulações, as deslocações aos aquartelamentos perdidos no meio do mato, a sensação de se fazer algo de útil por quem precisava, deixaram-me, até hoje, recordações que dificilmente desaparecerão.

"Ao longo dos anos têm surgido, aqui e ali, manifestações de carinho por parte de militares que socorri num momento extremamente delicado da sua vida e que se recordam ainda da enfermeira que os acompanhou e tentou minorar o seu sofrimento. São situações como essas, assim como o convívio que tenho tentado manter com pessoal que passou pelo mesmo no território da Guiné - paraquedistas, pilotos e pessoal especialista da Força Aérea, militares do Exército e da Marinha - que me fazem pensar que valeram bem a pena os anos que dediquei às Forças Armadas como Enfermeira Paraquedista.

"Também não posso esquecer aquele período da minha vida, porque foi ali que conheci o meu futuro marido, que era então tenente piloto. Curiosamente o avião dele foi abatido por um míssil no decorrer de uma missão, tendo ficado ferido, e competiu-me a mim ir fazer a sua evacuação. Alguns anos depois unimos os nossos destinos, e temos sido muito felizes."

(Giselda, In: Rosa Serra (ed. lit.) - Nós, enfermeiras paraquedistas, 2ª ed. Porto: Fronteira do Caos Editores, 2014, p. 431)


2. Um soneto de parabéns 
para a camarada Giselda, 
grã-tabanqueira da nossa"frota celestial"...


Enfermeira paraquedista eu fui,
Na Guiné, nessa já esquecida guerra,
À medida que o tempo passa e flui,
Guardo as memórias boas dessa terra.

Fui, de todos,  amiga e camarada,
Conheci o melhor e o pior,
Aterrei de emergência, fui “strelada”,
Enfim, sou “anjo do céu”, hoje sénior…

Dizem que dava um filme a minha história,
Minha e do Miguel, de guerra e amor,
Mas, vocês sabem, não sou de vanglória.

Só peço,  p’ra todos nós,  gratidão,
E p’ra mim, paz, saúde e bom humor,
Com direito,  hoje,  a... xicoração!



XII Encontro Nacional da Tabanca Grande,
Monte Real, 29 de abril de 2017,
Luís Graça & Camaradas da Guiné,
nos anos da Giselda.


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Nota do editor

Último poste da série de 27 de Abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17289: Parabéns a você (1245): Hugo Guerra Coronel DFA Reformado, ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 55 (Guiné, 1968/70) e Humberto Nunes, ex-Alf Mil Art, CMDT do 23.º Pel Art (Guiné, 1972/74)

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17294: XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 29 de Abril de 2017 (8): nº final de inscritos: 131, oriundos de Lisboa / Grande Lisboa (40%), Porto / Grande Porto (28%), Centro (22%) , Norte (7%), Sul e diáspora lusitana (3%)... Boa viagem pelas picadas fora até Monte Real... Tragam os crachás... Cuidado com as minas & armadilhas!



1. O nº final de inscritos é de 131 (*):


(i) 38,5% dos quais são oriundos de Lisboa / Grande Lisboa... 

(ii) segue-se, por regiões, o Porto / Grande Porto (28,2%) e o Centro (21,5%)...

O resto do país está mal representado: temos apenas 10 nortenhos, 2 sulistas (incluindo a nossa querida enfermeira paraquedista Maria Arminda Santos que nos honra com a sua presença, pela primeira vez, no Encontro Nacional da Tabanca Grande, e que vem também aos anos da Giselda Pessoa!), e mais 2 representantes da diáspora lusitana (O Zeca Macedo e a esposa, que vêm expressamente da América, pela segunda vez!)...

Amanhã, sábado, vamos estar todos no Palace Hotel Monte Real (vd. localização aqui).

Boa viagem, pela picada fora, cuidado com as minas & armadilhas... A segurança em primeiro lugar!

PS - Não se esqueçam dos crachás!... E podem trazer os vossos álbuns de fotografia da Guiné...


2. Programa da festa (**):


- A partir das 10h00 > Receção / boas vindas (os "velhinhos" recebem os "periquitos" de braços abertos);

- 11h30 > Missa na Igreja Matriz de Monte Real;



- 12h30 > Foto de Família na imponente escadaria do Palace Hotel de Monte Real;



- 13h00 > Começam a ser servidas as Entradas, se estiver bom tempo, no pátio anexo à Sala Dom Diniz;

- 14h00 > Almoço, na Sala Dom Diniz;

.  Da parte da tarde, além do salutar convívio entre os presentes, estarão patentes alguns livros recentes, para divulgação (e  venda), de camaradas que publicaram as suas memórias em prosa, verso ou imagem;


- 18h30 > Servido um lanche ajantarado para fim de festa.


______________


A Comissão organizadora

Carlos Vinhal (telemóvel: 916 032 220) (Inscrições)
Joaquim Mexia Alves (telemóvel: 962 108 509) (Logísticas / Reservas de quartos)
Luís Graça (telemóvel: 931 415 277) (Tabanca Grande)
Miguel Pessoa (Crachás)

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Lista definitiva dos inscritos, por região, no XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, sábado, 29 de abril de 2017, em Monte Real



Lisboa/ Grande Lisboa (n=52) (39,7%)

Agnelo Macedo e Delfina - Lisboa 
António Duarte e Conceição Duarte - Linda-A-Velha / Oeiras 
António Fernando Marques e Gina - Cascais 
António Luís e Maria Luís - Lisboa 
António Maria Silva e Maria de Lurdes - Sintra 
António Martins de Matos - Lisboa 
Armando Nunes Carvalho e Maria Deolinda - Sintra 
Armando Pires - Algés / Oeiras 
Arménio Santos - Lisboa 
Carlos Silva e Germana - Massamá / Sintra
Fernando Jesus Sousa e Emília Sérgio - Lisboa 
Francisco José F. Oliveira - Lisboa 
Francisco Palma - Cascais 
Francisco Silva e Maria Elisabete - Porto Salvo / Oeiras 
Jorge Cabral - Lisboa 
Jorge Canhão e Maria de Lurdes - Oeiras 
Jorge Ferreira - Lisboa 
Jorge Pinto e Ana Maria - Sintra 
Jorge Rosales - Monte Estoril / Cascais
José Fernando D. Mendonça - Oeiras 
José Henrique S. Ribeiro - Alfragide 
José Miguel Louro e Maria do Carmo - Lisboa 
Luís Graça - Alfragide / Amadora 
Luís Paulino e Maria da Cruz - Algés / Oeiras 
Luís R. Moreira e Irene - Sintra 
Manuel Gonçalves e Maria de Fátima (Tucha) - Lisboa 
Manuel Joaquim - Lisboa 
Mário Magalhães, Fernanda e Afonso - Sintra 
Mário Vitorino Gaspar - Lisboa 
Miguel Pessoa e Giselda - Lisboa
Rogé Guerreiro - Cascais 
Rui Pedro Silva - Lisboa 
Virgínio Briote e Maria Irene - Lisboa


Porto/Grande Porto (n=37) (28,2%)

Abel Santos - Leça da Palmeira / Matosinhos
Albano Costa e Maria Eduarda - Guifões / Matosinhos 
António Acílio Azevedo e Maria Irene - Leça da Palmeira / Matosinhos 
António Osório, Ana e Maria Neves - Vila Nova de Gaia 
Augusto Pacheco - Baguim do Monte / Gondomar 
Carlos Vinhal e Dina - Leça da Palmeira / Matosinhos 
David Guimarães e Lígia - Espinho 
Eduardo Campos - Maia 
Eduardo Magalhães Ribeiro e Carlos Eduardo - Porto 
Fernandino Leite - Gueifães / Maia 
Fernando Sousa e Maria Barros - Trofa 
Hernâni Alves da Silva e Branca - Vila Nova de Gaia 
Isolino Gomes e Júlia - Porto 
Joaquim Gomes Soares, Maria Laura e Aurora Brito - Porto 
Jorge Peixoto - Gondomar 
José Casimiro Carvalho - Maia 
José Ferreira da Silva e Maria Vergilde - Crestuma / V. N. Gaia 
José Francisco Macedo Neves e Rosa Maria - Guifões / Matosinhos
Manuel Viçoso Soares - Porto 
Mário Santos - Maia 
Moura - Maia 
Ricardo Figueiredo - Porto 
Vasco Ferreira - Vila Nova de Gaia 

Centro (n=28) (21,4%)


Agostinho Gaspar - Leiria
Almiro Gonçalves e Amélia - Vieira de Leiria / Marinha Grande
António Dias Pereira e Teresa Maria - Tomar
António M. Sucena Rodrigues e Rosa Maria - Oliveira do Bairro 
António Vieira - Vagos 
Artur Gil - Caldas da Rainha 
C. Martins - Penamacor 
Carlos Cabral e Judite - Pampilhosa da Serra
Diamantino Ferreira e Emília - Leiria 
Eduardo Jorge Ferreira - Vimeiro / Lourinhã 
Ernestino Caniço - Tomar 
Idálio Reis - Sete-Fontes / Cantanhede 
Joaquim Mexia Alves e Catarina - Monte Real / Leiria 
José Eduardo R. Oliveira (JERO) - Alcobaça 
Luís Lopes Jorge - Monte Real / Leiria
Manuel Augusto Reis - Aveiro 
Manuel Lima Santos e Fátima - Viseu 
Manuel Lopes e Hortense - Monte Real / Leiria
Silvino Correia d' Oliveira - Leiria 
Urbano Martins Oliveira - Figueira da Foz 



Norte (n=10) (7,6%)


Joaquim Carlos Peixoto e Margarida - Penafiel 
José Almeida e Antónia - Viana do Castelo 
José Barros Rocha - Penafiel 
José Manuel Cancela e Carminda - Penafiel 
José Manuel Lopes - Régua 
Manuel Luís Lomba e Maria Arminda - Barcelos


Sul (n=2) (1,5%)


Hélder Valério de Sousa - Setúbal
Maria Arminda Santos - Setúbal 


Diáspora Lusitana (EUA) (n=2) (1,5%)


José Macedo e Goreti - Estados Unidos da América


Total = 131 (100,0%)


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Notas do editor:


(*) Último poste da série > 24 de abril de  2017 > Guiné 61/74 - P17281: XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 29 de Abril de 2017 (7): Temos 130 inscrições!... O prazo foi alargado até 4ª feira, dia 26,às 12h00... Camaradas, tragam mais cinco!... Divulguem pelos vossos contactos!... Comemoramos 13 anos de blogue, o equivalente a 6 comissões no CTIG!... E estamos vivos!


(**) Vd. poste de 7 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17112: XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 29 de Abril de 2017 (2): Abertura das inscrições que terminam: (i) a 23 de abril; ou (ii) ou quando se atingir a lotação da sala (200 lugares)

Guiné 61/74 - P17293: Notas de leitura (951): Guerra da Guiné: Os atores, a evolução político-militar do conflito, as revelações surpreendentes - Apresentação dos três volumes alusivos aos aspetos operacionais na Guiné, da responsabilidade da Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974 (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Abril de 2017:

Queridos amigos,
Não hesito em considerar esta Resenha uma peça indispensável para futuras investigações sobre a guerra da Guiné, comporta documentação fundamental e trata numa sequência cronológica toda a atividade operacional, é também nessa perspetiva uma ferramenta de trabalho inédita. Tem o dom de contribuir para a desmontagem de alguns mitos e releva, em paralelo com a atividade operacional das nossas tropas o que se passa no interior do PAIGC. Os investigadores têm ao seu dispor milhares de documentos para consultar e o que desapareceu quanto ao CTIG e Comando-Chefe das Forças Armadas tem que vir a ser procurado noutras fontes, caso não tenham sido destruídas, nos então Ministérios do Ultramar e Defesa Nacional, sobretudo. Os responsáveis da Resenha recordam que, por exemplo, ainda estão desaparecidas as diretivas do General Bettencourt Rodrigues. Isto para sublinhar que há muitíssimos dados históricos ainda por conhecer.

Um abraço do
Mário


Guerra da Guiné:
Os atores, a evolução político-militar do conflito, as revelações surpreendentes (2)

(Apresentação dos três volumes alusivos aos aspetos operacionais na Guiné, da responsabilidade da Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974), Academia Militar, 18 de Abril de 2017)

Mário Beja Santos

O segundo volume da Resenha tem como balizas 1967 a 1970. Começa por carrear informação sobre diretivas do Comandante-Chefe em que é bem claro a importância ofensiva que se reconhece em procurar dissuadir a presença inimiga no Oio, como também na região de Sara-Sarauol; impunha-se vigiar velhos e novos corredores, no caso da região Oeste patrulhar intensivamente Canja e Sitató, bem como proteger o Chão Manjaco e impedir a presença do PAIGC no Boé. Mas nos relatórios não se ilude o estado de espírito das populações: podia considerar-se bom em todo o interior da zona Leste, a Norte do rio Corubal, na ilha de Bissau; no Oeste, verificara-se um aumento das aéreas afetadas pela subversão. Mas é notória a dificuldade sentida em manter as populações num estado de confiança e de proteção, por isso segue-se o caminho da escalada intimidatória com bombardeamentos, operações em que se conjugavam forças especiais e tropas da quadrícula, intensificou-se o esforço da autodefesa das populações em tabanca, melhorou-se a assistência sanitária e o programa escolar.

Estamos em 1968, a Resenha esclarece que o material utilizado pelo PAIGC é cada vez mais aperfeiçoado, entraram em cena mais canhões sem recuo e morteiros de 120 mm. Escreve-se: “O ano em apreço constitui um salto qualitativo apreciável na eficiência do inimigo porquanto, para além da centralização da direção da luta, da ligação rádio entre os escalões de comando, do reforço dos materiais e meios de combate e do apoio de serviços, adotou uma postura de iniciativa de flagelações aos aquartelamentos das nossas tropas, aperfeiçoou o seu sistema de informações. As nossas tropas capturaram ao IN esboços e até fotografias dos nossos aquartelamentos, demonstrativos de tal aperfeiçoamento”. Um acontecimento espúrio abala quem julga que Bissau é inexpugnável: um pequeno grupo do PAIGC lança alguns mísseis sobre Bissalanca, provoca estragos no aeroporto.

Em Maio, Spínola substitui Schulz. Chega a Bissau e pretende revolucionar o dispositivo, a manobra, a africanização da guerra, tem ideias concretas sobre o desenvolvimento social e económico que pretende imprimir à região. Aceitou o cargo de Governador e Comandante-Chefe com uma série de condições, desde um maior número de efetivos, passando pela escolha dos seus colaboradores diretos até à chegada de bastante dinheiro para os projetos de desenvolvimento. Quer concentrar recursos, subtrair população ao PAIGC, redobrar esforços para impedir a circulação nos corredores de Sambuiá, Sitató, Canja e Guileje, manda retirar tropas de quartéis que são abandonados, anuncia uma política de reordenamento das populações, pretende revitalizar a ação psicológica, estabelece um novo esquema para a autodefesa das populações, garante que virão mais efetivos, mais equipamentos. Tudo isto conjugado com um novo estilo de atuação, visitas permanentes aos aquartelamentos, descidas imprevistas de helicóptero onde se desenvolvem operações, dá uma imagem de permanente preocupação com as condições de vida dos soldados, tem manifestações de rispidez com os oficiais que considera incompetentes e incapazes. Passa a aparecer regularmente na televisão em Portugal, recebe jornalistas estrangeiros. Temos, além disso um novo figurino político-militar sob a consigna “Por uma Guiné melhor” em que o refrão permanente é a Guiné para os guinéus, um sinal claro em consonância com um dado estrutural da mentalidade guineense que é a desconfiança e mesmo o rancor do autóctone face ao cabo-verdiano, é um lema que vai envenenar o postulado da unidade Guiné-Cabo Verde que Amílcar Cabral pôs no altar dos dogmas (quem é contra deve abandonar o PAIGC).

Marcello Caetano, com quem Spínola mantém então um ótimo relacionamento, visita Bissau em Abril de 1969. A resenha mostra o documento da reunião extraordinária, é um excelente ponto de situação sobre a evolução da guerra, no Sul, no Oeste e no Norte. Spínola explica aos políticos presentes um princípio que terá efeitos de bumerangue depois dos gravíssimos acontecimentos de Maio de 1973, o da concentração de recursos e abandono de aquartelamentos. Conclui a sua exposição dizendo que a situação militar na Guiné continua manifestamente crítica. E diz: “Não contesto que temos obtido alguns êxitos militares locais, suscetíveis de influenciar um público deficientemente esclarecido. Mas esses êxitos projetam-se no campo do episódico e do transitório, não tendo qualquer significado no quadro da manobra estratégica do teatro de operações, quadro onde o inimigo continua a manter a iniciativa num desenvolvimento sistemático da sua manobra de largo envolvimento e cerco à ilha de Bissau – seu objetivo militar e psicológico final”.

Passamos agora para o terceiro volume da Resenha que compreende o período de 1971 a 1974, culmina com a retirada das nossas forças da Guiné. Ocorrera uma operação de desembarque em Conacri em Novembro de 1970, teve alguns aspetos positivos mas os negativos iriam marcar o futuro, logo o mais profundo isolamento internacional de Portugal e a presença de barcos de guerra soviéticos nas águas da República da Guiné-Conacri, o que sobressaltou a NATO. Passou a pairar no ar o espectro de uma represália da República da Guiné. Spínola na sua Diretiva n.º 7/71, de 30 de Março, dá instruções para o emprego da Corveta “Jacinto Cândido”, alegando os incidentes de 22 de Novembro em Conacri e a possibilidade da República da Guiné passar a ter meios aéreos de bombardeamento, referindo mesmo um raide aéreo de reconhecimento de Bissau por dois MIG 17 tripulados por pilotos argelinos. A Corveta deveria então pesquisar alvos aéreos, tendo especial atenção os corredores aéreos que do Sul e Sueste convergem em Bissau, vigiar os canais que permitam a aproximação de unidades de pequeno porte, do estuário do Geba e dos Bijagós e impedir infiltrações por via marítima de elementos inimigos transportados em embarcações tripuladas que do Cubisseco, do Tombali, da ilha do Como ou do Quitafine se dirijam para o arquipélago dos Bijagós. E como iniciativa de reviravolta para levar o PAIGC à dispersão de esforços é lançada uma operação de nome “Grande Empresa”, no essencial a reocupação do Cantanhez.

A africanização da guerra dá novos frutos: os Comandos Africanos, o progressivo aumento do Corpo das Milícias, mais tarde a formação de fuzileiros, as forças especiais africanas estão em franco desenvolvimento.

De 1971 para 1972, Amílcar Cabral induz o PAIGC a preparar-se para a independência unilateral, inicia-se uma espécie de recenseamento para eleger a futura Assembleia Nacional Popular e alguns órgãos do Estado. Escreve-se neste último livro que “no âmbito das operações militares, o inimigo provocou um significativo agravamento da situação, tendo conseguido um volumoso reforço de meios materiais e humanos que fez deslocar para as zonas de fronteira e para o interior do território, com os quais atacou dura e repetidamente algumas guarnições militares das nossas tropas, em particular as que se situavam nas zonas de fronteira”.

O cenário da guerra ganha complexidade: a despeito das flagelações e das emboscadas e colocação de minas por parte da guerrilha, a ofensiva das forças portuguesas não conhece quebra e há sinais nítidos de desenvolvimento: aldeamentos, escolas e postos sanitários; constroem-se estradas que exigem meios de proteção permanentes, caso de Aldeia Formosa – Mampatá – Buba, Catió – Cufar, Jugudul – Bambadinca, isto no exato momento em que se concluem as estradas Nova Lamego – Piche – Buruntuma, Mansoa – Bissorã – Olossato, em diferentes locais constroem-se pontes. Constatado de que há zonas na Guiné que carecem de operações especiais, criam-se zonas de intervenção exclusiva do Comando-Chefe, será o caso do Boé, do Morés, de Sara-Sarauol e na região Sul de Salancaur.

Spínola procura roubar iniciativa ao PAIGC lançando tropas em regiões que Amílcar Cabral anuncia como libertadas. É o que se passa no Cubisseco, com a construção da estrada Cufar – Catió, e a estrada Jugudul – Bambadinca. A “Força Africana” é apresentada com um dos elementos da adesão das populações À política de promoção socioeconómica, tem a consigna “Guiné Portuguesa defendida e administrada por guinéus”. É composta pelo Batalhão de Comandos da Guiné, Companhias de Caçadores Africanas e o Corpo de Milícias, com Companhias e Pelotões e Grupos Especiais que irão atuar como força de intervenção no regulado a que pertencem os componentes do grupo.

Está em curso a operação “Grande Empresa” e em Janeiro de 1973 é assassinado Amílcar Cabral. A resposta enérgica do PAIGC vem meses depois, logo em 22 de Março de 1973 é atingida uma aparelha de aviões Fiat G91 – os mísseis terra-ar faziam a sua entrada na guerra, segue-se o cerco a Guidage que exigiu a operação “Ametista Real”, para destruir ou desorganizar a respetiva organização militar do PAIGC, o bombardeamento e a retirada de Guileje e o inferno de Gadamael-Porto de que há testemunhos eloquentes como aquele que foi produzido pelo então Capitão Comando Manuel Ferreira da Silva que assumiu o comando do COP 5 em Gadamael em 31 de Maio de 1973.

Intervenção do Coronel Cav Henrique de Sousa, coautor da Resenha

Intervenção do Chefe do Estado-Maior do Exército General Rovisco Duarte

Intervenção do Embaixador da Guiné-Bissau

(Continua)
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Nota do editor

Poste anterior de 24 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17277: Notas de leitura (950): Guerra da Guiné: Os atores, a evolução político-militar do conflito, as revelações surpreendentes - Apresentação dos três volumes alusivos aos aspetos operacionais na Guiné, da responsabilidade da Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974 (1) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17292: Homenagem aos limianos que morreram pela Pátria nas guerras do ultramar (Mário Leitão) - Parte II


Mário Leitão,  farmacêutico reformado, 
residente em Ponte de Lima, ex-fur mil de Farmácia, Luanda, 1971/73. 


De Adelino Pereira de Sousa a Cândido de Abreu Vieira (n=10)

(Continua)

1. Continuação da divulgação do artigo publicado na Revista Limiana (I Série, 2007-2014, nº 37, abril de 2014, director: José Pereira Fernandes), da autoria do nosso camarada e grã-tabanqueiro Mário Leitão,  farmacêutico reformado, residente em Ponte de Lima, ex-fur mil de farmácia, Luanda, 1971/73. 

O Mário Leitão tem-se dedicado, de alma e coração, à indispensável e exaustiva recolha e tratamento da informação relativa aos limianos,  os naturais do concelho de Ponte de Lima, mortos nos TO de Angola, Guiné e Moçambique bem como no continente ou outros territórios, no cumprimento do serviço militar, no período que abarca a guerra do ultramar (1961/74).

A lista (52 nomes no total) é enriquecida com fotos e valiosas notas biográficas. Publicam-se os 10 primeiros nomes. Os camaradas mortos no TO da Guiné vão assinalados a vermelho (sublinhado). Um deles é o António da Silva Capela, sold at, CCAV 2487 (1969/70),  morto em combate no decurso da Op Ostra Amarga, e cuja atroz agonia foi filmada por uma equipa da televisão francesa, de visita ao TO da Guiné.

O vídeo, em francês, "Guerre en Guinée" [, "Guerra na Guiné", com resumo pormenorizado, em português,  no poste P2249 (**)] , está disponível aqui, no portal do INA - Institut national de l'audiovisuel (13' 58''). Foi produzido pela ORTF, em 1969.

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 13 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17240: Homenagem aos limianos que morreram pela Pátria nas guerras do ultramar (Mário Leitão) - Parte I

(**) 8 de novembro de 2007 >  Guiné 63/74 - P2249: Vídeos da guerra (2): Uma das raras cenas de combate, filmadas ao vivo (ORTF, 1969, c. 14 m) (Luís Graça / Virgínio Briote)


Guiné 61/74 - P17291: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (16): o Pel Caç Nat 67,em Cufar, 1973



Guiné > Região de Tombali > Cufar > 1973 >  A despedida do Pel Caç Nat 67 >  Em primeiro plano, o comandante do Pelotão, alf mil Gil da Silva Inácio, de alcunha,  o "Gringo" (1)


Guiné > Região de Tombali > Cufar > 1973 > > A despedida do Pel Caç Nat 67 >  Em primeiro plano, o comandante do Pelotão, alf mil Gil da Silva Inácio, de alcunha,  o "Gringo" (2)


Guiné > Região de Tombali > Cufar > 1973 > > A despedida do Pel Caç Nat 67 >  Em primeiro plano, o comandante do Pelotão, alf mil Gil da Silva Inácio, de alcunha,  o "Gringo" (3)


Guiné > Região de Tombali > Cufar > 1973 >  A despedida do Pel Caç Nat 67 >  "De malas aviadas"... (O Luís Mourato Oliveira já não se lembra para onde foi esta subunidade, talvez para o leste)


Guiné > Região de Tombali > Cufar > 1973 > Pel Caç Nat 67 >  O alf mil Luís Mourato Oliveira. do 3º pelotão da CCAÇ 4740, com militares do Pel Caç Nat 67

Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro, que foi alf mil inf da CCAÇ 4740 (Cufar, 1973) e do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74). (*)

De rendição individual, foi o último comandante do Pel Caç Nat 52. Irá terminar a sua comissão no setor L1 (Bambadinca), em Missirá, depois de Mato Cão, e extinguir o pelotão em agosto de 1974.

Até meados de 1973 esteve em Cufar, a comandar o 3º pelotão da CCAÇ 4740, no 1º semestre de 1973. Tem bastantes fotos de Cufar, que começámos a publicar no poste anterior (*).

Hoje mostram-se algumas fotos do Pel Caç Nat 67 com cujo pessoal o Luís Mourato Oliveira confraternizou. O comandante do 67 era conhecido como o "Gringo", era uma figura popular no quartel de Cufar.



Crachá do Pel Caç Nat 67 (Cortesia do nossso camarada e grã-tabanqueiro,  Luís de Sousa, ex-sold trms, CCaç 2797 (Cufar, 1970-72) (**)


2. Temos  escassas referências sobre o Pel CAÇ Nat 67

O nosso camarada Armindo Batata, cmdt do Pel Caç Nat 51 escreveu:  "Os Pel Caç Nat 51 e 67, este de comando do alf mil [Joaquim] Esteves, passaram por Cacine em dezembro 1969/janeiro 1970, em trânsito para Cufar. O Pel Caç Nat 67 tinha guarnecido o destacamento do Mejo até à evacuação desta posição em janeiro de 1969." (***)

Por sua vez, Joaquim Esteves fez em tempos um comentário a um dos nossos postes: "Estive  em Cufar de dezembro de 1969 a  novembro de 1970 a comandar o Pel Caç Nat 67 (...), Joaquim Esteves, ex-alf mil cav" (comentário ao poste P5977, de 12 de março de 2010).

Vd. também a página da CCAÇ 4740 > Grupos especiais (destaque para os Pel Caç Nat 51 e 67).

O Luís Mourato Oliveira  também conviveu, na 1ª metade do ano de 1973, com o Pel Caç Nat 51 e o seu infortunado comandante,  o alf mil op  esp Nuno Gonçalves da Costa (, assassinado por um dos seus soldados, em Jumbembem, em 16/7/1973).
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Guiné 63/74 - P17290: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (30): Tavira, CISMI, onde há 48 anos frequentei o 1.º Ciclo do Curso de Sargentos Milicianos (António Tavares)

Quartel da Atalaia
Foto: © Beja Santos. Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil SAM da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), datada de 22 de Abril de 2017:

Camarigos,
Passados 48 anos da minha entrada no CISMI – Tavira para frequentar o 1.º Ciclo do Curso de Sargentos Milicianos – 2.º Turno de 1969, recordo:

Parti do Porto, com outro recruta, em automóvel, pelas 07H00 do dia 20 de Abril de 1969 com chegada a Tavira, às 19H30, depois de paragens em Leiria, Lisboa e Setúbal.

Entrei pela porta de armas do CISMI no dia 21 de Abril de 1969. Era uma Segunda-feira que ficou gravada em cada um dos jovens recrutas, quer pelos bons ou maus motivos, estes talvez a pesar mais nos pratos da balança.

Em 23 de Abril fizemos os testes psicotécnicos. Escolhi as especialidades de Contabilidade e Pagadoria; Amanuense e Intendência.

Em 25 de Abril assumiu as funções de Director do CISMI o Exmo. Tenente Coronel de Infantaria, António Mendes Baptista em substituição do Exmo. Senhor Tenente Coronel de Infantaria José Alves Pereira que foi transferido para a Repartição de Recrutamento do Ministério do Exército.
O Major de Infantaria José Bernardo Cruz de Aragão Teixeira era o Segundo Comandante do CISMI.
Nesse dia festejamos os anos do MACB, um camarada de Queluz, ferrenho sportinguista, que era estimado por todos. Na sua companhia muitas vezes viajei de comboio pelo Algarve. Ele foi mobilizado para Moçambique. Infelizmente faleceu em 2015.

Em 6 e 7 de Maio, Sua Excelência o General Emílio Mendes Moura dos Santos, ilustre Director da Arma de Infantaria, visitou o CISMI acompanhado do Exmo. Senhor Coronel Marafusta Marreiros.

Em 9 de Maio visitou o CISMI Sua Excelência o General Fernando Louro de Sousa, ilustre Comandante da 3.ª Região Militar. Sua Excelência viajou acompanhado do Exmo. Tenente Coronel do CEM Amândio Travassos de Almeida Nogueira, Chefe Interino da Região Militar com sede em Évora.
É de notar o tratamento dado aos Oficiais Superiores e Generais. O instruendo era um número. O meu era o 58.

Na preparação de uma destas visitas, fui um dos faxinas à caserna da 1.ª Companhia, cujo trabalho era limpar os mictórios. Com palha-de-aço e a água a correr entre as minhas mãos tentava eliminar o verdete existente na porcelana do urinol. Quanto mais limpava mais riscos ficavam a ver-se.
Era fiscalizado por um Cabo Miliciano, natural da Guiné. Homem muito educado porém naquele dia estava muito exigente por causa da visita do Senhor General às instalações.

Em 25 de Maio (Domingo), fui com outros camaradas até Portimão; Praia da Rocha; Torralta e Alvor. Na praia da Rocha destacavam-se os hotéis: Algarve; Aquazul e Jupiter. Na Torralta existiam cinco prédios, cada um com onze andares e o Hotel Alvor Praia, em Alvor. Aqui os esgotos corriam a céu aberto em direcção ao mar.

Estávamos em 1969 e tudo era novidade para um jovem que anteriormente tinha viajado somente até Évora.

De 2 a 4 de Junho fomos para a carreira de tiro que ficava a 5 ou 6 quilómetros de Tavira, na margem esquerda do Rio Gilão. Fizemos fogo com a G3; Manelica; FBP e Walther. Lançámos granadas.

Em 15 de Junho, Tavira recebeu o III Grande Prémio Casal em ciclismo. As equipas do FC Porto; SL Benfica; Sporting CP; Ginásio de Tavira; Coelima e Ambar disputaram o troféu.

Em 16 de Junho (2.ª feira) houve a feira de gado e diversos na Atalaia.
A Atalaia era um vasto campo, em terra batida, fora do quartel, onde era ministrada a instrução militar teórica e física. Depois das feiras tínhamos de limpar as caganitas do gado caprino e ovino para fazer a respectiva instrução militar de preferência à sombra da cadeia e das igrejas existentes no local.

Na noite desse dia fizemos emboscadas, patrulhas e fogo com a Mauser, utilizando bala simulada, na margem direita do Rio Gilão, até às 23H00.

 Tavira - Rio Gilão
 Foto: © Mário Beja Santos. Todos os direitos reservados

Em 17 de Junho realizou-se um jogo de voleibol entre o CISMI e o CICA 5, de Lagos. O CICA 5 venceu o jogo por 2 a 0.

Em 23 de Junho tomamos a vacina conhecida como “dose de cavalo”.
Na parada do quartel fizemos o último teste escrito.

De 25 a 28 de Junho fomos para o campo - Exercício Rosa Silvestre - sob o comando do Capitão Frederico Pires; Tenente Fonseca; Alferes Jacinto; José Diogo e Mateus e o Aspirante Mendonça.

Em 1 de Julho oferecemos um jantar, na Casa dos Frangos, Tavira, ao comandante do nosso pelotão Alferes José Diogo e seus adjuntos.

Em 2 de Julho recebi o pré de 1$50 (não é erro!) referente ao período de 21 de Abril a 6 de Julho de 1969.

Em 4 de Julho houve festa no CISMI. Dia de Juramento de Bandeira do 1.º Ciclo do CSM do 2.º Turno de 1969.
Nesse dia terminava a passagem de centenas de jovens militares por Tavira.
Tavira, cidade que é bom recordar!

Abraço
António Tavares
Foz do Douro, Sexta-feira 21 de Abril de 2017
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13361: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (30); Mafra, a EPI, 1967: "Aquele Convento de Mafra era sem dúvida uma fábrica de oficiais"...(Paulo Raposo, ex-alf mil inf, CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852, Mansoa e Dulombi, 1968/70)