terça-feira, 18 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17595: "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra", brochura de 2002, da autoria do nosso camarada Gabriel Moura do Pel Mort 19 (6): Págs. 41 a 48

Capa da brochura "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra"

Gabriel Moura

1. Continuação da publicação do trabalho em PDF do nosso camarada Gabriel Moura, "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra", enviado ao Blogue por Francisco Gamelas (ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 3089, Teixeira Pinto, 1971/73).


(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17581: "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra", brochura de 2002, da autoria do nosso camarada Gabriel Moura do Pel Mort 19 (5): Págs. 33 a 40

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17594: Parabéns a você (1289): Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-alf mil paraquedista, BCP 21, Angola, 1970/72


Lourinhã > Ribamar > Porto Dinheiro > Tabanca de Porto Dinheiro > 12 de julho de 2015 >  O Jaime e a Dina, ambos professores,  já então reformados, e dividindo o seu tempo entre a Lourinhã e Fafe. Ela é de Fafe, ele, do Seixal, Lourinhã. Em Fafe o Jaime Silva foi autarca, tendo tido o pelouro da cultura e desporto no respetivo município. O casal vive agora permanentemente na Lourinhã. (Como se costuma dizer, o bom filho à casa torna.)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O Jaime Bonifácio Marques da Silva, além de conterrâneo do nosso editor, é seu grande amigo e camarada. Foi alf mil paraquedista, BCP 21, Angola 1970/72. É membro da nossa Tabanca Grande. Tem 4 dezenas de referências no nosso blogue.

Faz hoje anos. E tem direito a soneto natalício... O "leitmotiv" é a expressão "mouro/sarraceno"... Conta ele que, em Fafe, amigos e adversários políticos, lembravam-lhe por vezes,  logo no início, a sua terra de origem, Lourinhã, conquistada aos mouros em 1147... E ele retorquia, com evidente sentido de humor,  que pior que os "mouros", ainda eram os "sarracenos"... É evidente que os termos são equivalentes, mas "sarraceno" tinha, no nosso tempo de escola, uma conotação mais pejorativa...

O Jaime passou uma boa parte da sua vida em Fafe, donde é natural a Dina, que ele conheceu na Lourinhã, depois do seu regresso de Angola. O casal tem dois filhos, doutorados. E o Jaime, como vereador no município de Fafe, deixou marcas no domínio da cultura, educação e desporto, incluindo campeões... Ele foi professor de educação física.  (LG).

Soneto para o Jaime
meu conterrêneo, amigo e camarada,
e para a sua querida Dina:
duplos parabéns,
do Luís (e da Alice)


Dom Jaime, fidalgo, de estirpe antiga,
Não nega sua origem sarracena
Ao pai da bela noiva, que é morena,
Celtibera e boa rapariga.

Em Fafe há lendas de moura encantada,
Na Lourinhã há moço que vale ouro,
E casadouro!… Que me importa se é mouro,
Quero é a Dina feliz e bem casada!


... Hoje há festa na casa do Seixal,
Faz anos Dom Jaime, o proprietário,
Mas a festa é dos dois, é do casal:

Diz o jornal de Fafe que vão ser avós!!!
Para ele, um feliz aniversário,
P’rós dois, xicoração... de todos nós!

Luís & Alice

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P17593: (De) Caras (85): Gente boa, brava e chã da Tabanca dos Melros em dia de apresentação das "Memórias Boas da Minha Guerra", volume II, do José Ferreira: restaurante "Choupal dos Melros", Fânzeres, Gondomar, 8 de julho de 2017 - Parte II (Vídeo, fotos e texto: Luís Graça)


Gondomar > Fânzeres >Tabanca dos Melros > 8 de julho de 2017 > Sessão de apresentação do II Volume do livro "Memórias Boas da Minha Guerra", de José Ferreira (Lisboa, Chiado Editora, 2017) > O autor, visivelmente bem disposto,  no uso da palavra, no final da sessão. Vídeo (8' 45'') disponível em You Tube > Luís Graça
 

Foto nº 1 > Gondomar > Fânzeres >Tabanca dos Melros > 8 de julho de 2017 > Sessão de apresentação do II Volume do livro "Memórias Boas da Minha Guerra", de José Ferreira (Lisboa, Chiado Editora, 2017) > À direita, uma das quatro amorosas netas do escritor. De pé, os "melros", da esquerda para a direita, David Guimarães, Gil Moutinho e António Marques Barbosa.



Foto nº 2 > Aspeto geral da assistência


Foto nº 3 >  A "bicha" para a sessão de autógrafos


Foto nº 4 >  O escritor e...  o professor (Joaquim Peixoto). Em segundo plano, de costas, à direita, o Manuel Carvalho; ao fundo, ao centro, o José Cancela.


Foto nº 5 > Dedicatória "ao amigo penafidelense Joaquim Peixoto, camarada da Guiné e de outras guerras, com muita estima e admiração".


Foto nº 6 > O António Barbosa assina o "livro de honra da Tabanca dos Melros", neste caso o cartaz com o evento do dia.


Foto nº 7 > Aspeto dos aperitivos servidos em mesas de tampos de carros de bois, sob uma belíssima latada.


Foto nº 8 > Uma casa cheia de memórias vivas, uma quinta que é também um núcleo museológico da ruralidade gondomarense... e da guerra colonial.  O concelho de Gondomar teve mais de 7 dezenas de mortos na guerra do ultramar / guerra colonial.


Foto nº 9  > Belo exemplar de uma prensa de varas, de um antigo lagar de vinho, em uso no país até meados no séc. XX,  uma tecnologia que remonta aos romanos


Foto nº 10 > Restaurante Choupal dos Melros > À mesa, o "melro" Antero Santos e a esposa. Deste restaurante típico, gerido pelo nosso camarada Gil Moutinho, diz o Expresso ("Boa Cama e Boa Mesa"):

"O restaurante típico Choupal dos Melros, inserido na Quinta dos Choupos, em Fânzeres, está vocacionado para eventos, abrindo apenas ao almoço de domingo para serviço ao público em geral. A sala é cómoda e rústica, com um serviço eficiente e pratos bem preparados em forno de lenha. Tem uma agradável varanda coberta por um telheiro que constitui uma excelente alternativa na época do verão. Boa garrafeira."

Vídeo, fotos e legendas): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné 61/74 - P17592: Efemérides (260): O dia em que entrei para a tropa... Foi há 50 anos, em 10/7/1967, na EPC, Santarém (Valdemar Queiroz, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]



Samtarérm > Escola Prática de Cavalaria > Abril 1971. Junto à entrada da EPC,  o Augusto Silva Santos, ladeado pelos camaradas Lúcio e Miguel Ângelo.

Foto (e legenda): © Augusto Silva Santos (2014). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




O DIA EM QUE ENTREI PRÁ TROPA


[, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]



Quem, de nós, não se lembra do dia em que entrou prá tropa?

Eu lembro-me. Faz agora 50 anos.

Foi no dia 10 de Julho de 1967, na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, para o CSM [, Curso de Sargentos Milicanos]. Já tinha 22 anos e, até hoje, não sei a razão por ter sido chamado tão tarde.

Tinha estado, uns dias antes, na Portugália, em Lisboa, a jantar ou, melhor, a comer o bife ‘à Portugália’ com um amigo que ia para Santarém horas depois ou, talvez fosse a um sábado, não me lembro bem. Contou-me que estava na EPC. no Curso de Sargentos Milicianos.
− Eu, também, vou pra lá no dia 10 −  digo-lhe eu. 
− Estás lixado, tens que ser engraxador, polidor de metais e soldadinho de chumbo como o ‘Mouzinho’ e explicou-me o que devia levar e o que lá devia fazer, senão, depois, não ‘vens a fim de semana’, disse ele.

Cheguei a Santarém.  Fui o primeiro a entrar ao Quartel ‘Destacamento’ da EPC., cá em baixo na cidade, na parte da tarde. Levava escovas e latas de graxa prás botas e solarine prós amarelos, na bagagem. 

O Cândido Cunha, que eu não conhecia e que havia de me acompanhar na recruta, na especialidade e até ao fim da tropa, incluindo na mesma CArt. na Guiné [, a CART 2479 / CART 11], também fazia parte deste grupo de recrutas. Fomos encaminhados prós testes psicotécnicos dos dominós e outros pra saberem as nossas capacidades. 

Depois fomos receber o fardamento. Deram-nos o fardamento adequado com a particularidade de nos ser fornecido umas fitas vermelhas/verdes largas e compridas para serem cosidas na boina, assim como um cartão para ser colocado na parte interior/superior da boina para suporte das Espadas de Cavalaria e, também, uns elásticos para segurar/enrolar o final das calças entre as fivelas das botas pra ficarem a ‘golf à Mouzinho’. 

Depois, no final da tarde, já com tudo organizado e equipado viemos prá parada e eis que surge a primeira tropa a sério: 
− Quem dos presentes percebe de laranjas? − foi perguntado. 
− Nós!− , responderam alguns,  e lá foram estes descascar batatas no refeitório pró jantar. 

Espectacular!!!... Até dá gosto ter estado na tropa. Com as botas bem engraxadas e com os ilhós dos atacadores e das duplas fivelas dos plainitos brilhantes/reluzentes como as Espadas da Cavalaria da boina começamos a sair prá cidade e a visitar a família aos fim de semana.

Quem me dera ter agora vinte e dois anos.

Valdemar Queiroz

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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17498: Efemérides (259): Dia do Combatente Limiano - 6.ª Homenagem do Concelho de Ponte de Lima aos seus 79 Heróis Militares caídos em combate pela Pátria, 27 na I Grande Guerra e 52 durante a Guerra do Ultramar (António Mário Leitão, ex-Fur Mil na Farmácia Militar de Luanda)

Guiné 61/74 - P17591: Notas de leitura (978): “a Presença Portuguesa na Guiné: História Política e Militar 1878-1926”, Caminhos Romanos, 2016 (6) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Julho de 2017:

Queridos amigos;

Estamos agora na Guiné com o regime republicano. O primeiro governador queixou-se que encontrou tudo em estado caótico, é recebido em Bissau com críticas severas à monarquia. Não se deixa enganar, é homem crescido e sabe que está a viver num tempo de vira-casacas. O acontecimento preponderante em que se centra esta recensão pára pelo conjunto de feitos do capitão João Teixeira Pinto, caber-lhe-á um papel determinante na submissão de diferentes etnias revoltosas. 

Abandonando um comedimento que se exige a qualquer inventariador documental, o autor entra na defesa de Teixeira Pinto, usa mesmo exclamativas quando necessário, deixa um discurso ambíguo sobre a deportação de um comprovado biltre, Abdul Indjai, como se a colaboração entre ele e Teixeira Pinto maculasse o herói militar que irá morrer em combate em Moçambique, em plena guerra. E o autor começa igualmente a montar uma tese que jamais fundamentará de que há dois blocos em presença e em permanente tensão: a administração e os comerciantes.

Fica por explicar por que razão se meteu por caminhos tão ínvios. É pena. O levantamento ficará para o estudo, a despeito destas veleidades.

Um abraço do
Mário


A presença portuguesa na Guiné: história política e militar 1878-1926, 

Por Armando Tavares da Silva (6)

Beja Santos

“a Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar 1878-1926”, por Armando Tavares da Silva, Caminhos Romanos, 2016, é um contributo documental inescapável doravante para quem se dedicar à historiografia desta região.

Estamos agora em 1910, Carlos Pereira é o primeiro governador do regime republicano. Por razões de ofício, o novo governador expede ofício confidencial ao ministro, dando conta do que encontrou, fala de um estado caótico, de ilegalidades e de abusos. Encontrou alguns indivíduos republicanos, o que descobriu mais foram indivíduos escorraçados, e uma evidente atmosfera de intrigas. Visita Bissau e recebe queixumes do tipo “a inglória monarquia nunca soube aproveitar-se dos valores dos submissos filhos da colónia, alguns de reconhecidíssimas aptidões”. Há um processo contra o antigo governador Oliveira Muzanty, mais uma vez se fala num nome bastante controverso, Graça Falcão. As hostilidades não se compadeceram de um novo regime político, mas não haverá operações militares. O governador quer ver resolvido um sério problema da administração colonial que era a necessidade de encontrar mão-de-obra para S. Tomé, mas o descontentamento era muito e as deserções constantes e numerosas.

O ano de 1911 vê nascer a Liga Guineense, uma associação escolar e instrutiva, um pouco moldada na lógica do centros escolares republicanos adaptada a realidade colonial. No ano seguinte haverá desacatos na circunscrição de Cacheu e um feito que colocou Carlos Pereira na história da colónia: a demolição da muralha de Bissau.

Acontecimento que se revelará marcante é a chegada de um novo Chefe de Estado-Maior, o Capitão João Teixeira Pinto, traz currículo em África, depois de estudar o que podia ser a ocupação e pacificação da província, cedo descobre que a região do Oio é dos pontos fulcrais da insubmissão, é por aí que ele pretende começar. Embrenha-se no mato disfarçado, regressa doente a Bolama, lança a seguir uma operação sem poder socorrer-se dos Grumetes, mas aproveita-se dos irregulares de Abdul Indjai e de uma coluna tendo à frente o administrador de Geba, Calvet de Magalhães. Atacam o Oio, encontra-se séria oposição inicialmente, depois é bem-sucedido na companhia de Abdul Indjai e dos cerca de 400 dos seus irregulares mais um punhado de militares. Assim se chegou à submissão dos Balantas do Oio ao Norte de Bissorã.

O autor está na posse de toda a documentação necessária para nos contar com detalhe esta primeira investida de Teixeira Pinto e os capítulos subsequentes em que há acusações a Abdul Indjai, a tomada de posse do Governador Andrade Sequeira, o massacre do Pelotão de Polícia Rural do Alferes Pedro, as novas operações de Teixeira Pinto na região e Cacheu, a chegada do novo governador, Oliveira Duque, a coluna contra os Balantas, que contou com o apoio indispensável da Armada, bem como Abdul Indjai. Teixeira Pinto manter-se-á na Guiné até Outubro de 1914, regressa a Lisboa, mas é prontamente reenviado para a Guiné. A terceira e decisiva campanha é a de Bissau, Papéis e Grumetes estão de novo revoltados e contam com importantes apoios exteriores. Sem escusar a brutalidade e o castigo mais exemplar, os revoltosos não têm outra solução que a de submeter-se. A Liga Guineense, em conflito frontal com a política de Teixeira Pinto, é dissolvida.

Se até aqui o levantamento documental goza de um discurso neutral, há algo que vai mudar na narrativa, sente-se que Armando Tavares da Silva precisa de chamar a si a defesa do bom nome de Teixeira Pinto, recorrendo mesmo ao espólio documental dos seus herdeiros. O que vai levantar uma questão de princípio, que passa pela extensão dada à defesa do militar perante o acervo de acusações e um certo branqueamento do papel sinistro de Abdul Indjai, isto quando são elevadas as provas do exercício despótico que este antigo djila senegalês praticou em todos os locais por onde combateu, em desmandos, sequestros, prepotências que foram mais tarde o timbre da sua atuação seja no Cuor seja fundamentalmente no Oio.

É também neste contexto que o autor, sem dados factuais irrefutáveis, vai começando a montar a teoria da existência de dois campos opostos e em permanente conflito na Guiné, entre a administração e os mercadores/comerciantes. Exerceria já no dito conflito um papel maquiavélico o Secretário-Geral Sebastião José Barbosa.

Estamos já em 1916, Andrade Sequeira abandona a Guiné, a cobrança do imposto de palhota levanta muitos problemas, o autor estende-se novamente na defesa de Teixeira Pinto, não esconde o afã de deixar impoluto o nome deste herói de ocupação, Andrade Sequeira já partiu, é governador interino Manuel Maria Coelho, este envolver-se-á numa teia de acusações a uma coluna de polícia à ilha de Canhabaque, temos depois Carlos Ivo de Sá Ferreira governador, a partir de Junho de 1917. Dentro daquilo que é paz instável mesmo depois das operações de Teixeira Pinto, haverá novas operações e os Bijagós mantêm-se insubmissos.

Mas Portugal está em guerra, mobilizam-se tropas para a batalha na Flandres, para Angola e Moçambique, no fim do ano será assassinado Sidónio Pais, haverá novo governo e novo presidente da República, o Almirante Canto e Castro. As convulsões irão continuar, como é sabido. Voltando à Guiné, em Outubro de 1918 realizar-se-á uma operação contra os Felupes de Varela. Oliveira Duque ainda volta à Guiné, mas por muito pouco tempo, suceder-lhe-á Sousa Guerra.

Chegamos a outra questão emotiva que é a campanha contra Abdul Indjai e a sua deportação, novamente o autor dá espaço inusitado, até fica no ar uma réstia de possibilidade de que este chefe de guerra não se comportou como um desordeiro e um biltre, quando, afinal de contas, e o próprio autor o desvela, várias figuras que granjearam créditos militares caíram fragorosamente do auto do pódio, nada aponta para qualquer espírito de magnanimidade do aventureiro senegalês. E não há mal nenhum, naquilo que se chama a verdade dos factos, ver ligado o nome Teixeira Pinto ao de Abdul Indjai, o militar português, dentro dos parâmetros mentais da época, agiu em conformidade recrutando um senhor da guerra e já num contexto que será depois aprofundado a partir de Vellez Caroço entre as etnias amigas, as problemáticas, as manifestamente hostis. O dividir para reinar, que presidiu a esta fase da política colonial.

Entramos agora no último período do levantamento documental, está-se em 1920, é publicada uma nova carta orgânica da Guiné, faz-se a redução para metade do número de vogais não funcionários do Conselho de Governo e comete-se exclusivamente ao governador a organização do Conselho de Governo, corpo de consulta representativo da população. Choveram críticas, encontrou-se substância para sempre que necessário, em defesa de certos interesses, vir dizer que o governador é um prepotente…

Em Lisboa, num cenário de crescentes dificuldades de todo o género, procura-se uma nova panaceia para fazer sair Portugal do pelotão dos países europeus mais atrasados, muitos defenderam o desenvolvimento colonial. Já passara o tempo em que se propunha a solução da Guiné ser transformada numa companhia majestática ou algo aparentado. Agora o modelo passava pela criação de colónias agrícolas. Haverá experiências e enormes expetativas, umas no Rio Grande, pensava-se em concessões gratuitas a colonos europeus e cabo-verdianos, demarcando reservas territoriais para os indígenas, outras com culturas altamente desenvolvimentistas, foi assim que se lançou um empreendimento que trouxe à Guiné Armando Zuzarte Cortesão, a Sociedade Agrícola do Gambiel, com sede em Bafatá.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de Julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17582: Notas de leitura (977): “a Presença Portuguesa na Guiné: História Política e Militar 1878-1926”, Caminhos Romanos, 2016 (5) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17590: "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é já hoje", da autoria do 2.º Sargento Ref António dos Anjos, Tipografia Académica, Bragança, 1937 (6): Págs. 52 a 60 (Alberto Nascimento, ex-Soldado Condutor Auto)


1. Continuação da publicação do livro "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é hoje", da autoria do 2.º Sargento António dos Anjos, 1937, Tipografia Académica, Bragança, enviado ao Blogue pelo nosso camarada Alberto Nascimento (ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 84 (Bambadinca, 1961/63).


(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17576: "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é já hoje", da autoria do 2.º Sargento Ref António dos Anjos, Tipografia Académica, Bragança, 1937 (5): Págs. 43 a 51 (Alberto Nascimento, ex-Sold. Cond. Auto da CCAÇ 84, 1961/63)

Guiné 61/74 - P17589: Parabéns a você (1288): Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 3492 (Guiné, 1971/74) e José Manuel Pechorro, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19 (Guiné, 1971/73)


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Nota do editor

Último poste da série de 13 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17575: Parabéns a você (1287): António Tavares, ex-Fur Mil SAM do BCAÇ 2912 (Guiné, 1970/72) e Rogério Ferreira, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2658 (Guiné, 1970/71)

domingo, 16 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17588: Agenda cultural (574): "Recordações da Pesca do Bacalhau" (5 volumes), do comandante Valdemar Aveiro: apresentação da coleção, 5ª feira, dia 20, às 18h00, a bordo do navio "Gil Eanes", Doca Comercial, Viana do Castelo. Apresentação do eng. Senos da Fonseca.




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Nota do editor:

Último poste da série >  13 de julho de  2017 >  Guiné 61/74 - P17580: Agenda cultural (573): O II volume de "Memórias Boas da Minha Guerra", da autoria de José Ferreira, foi apresentado no passado dia 8 de Julho de 2017, na Quinta dos Choupos, em Fânzeres, Gondomar

Guiné 61/74 - P17587: Blogpoesia (519): "A gaivota sozinha..."; "No bar do Reichelt..." e "Adoração ao sol...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Gaivota sozinha. © Carlos Vinhal


1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


A gaivota sozinha...

Uma gaivota sozinha passou ao meu pé,
pisando a areia,
à borda do mar.

Me olhou de soslaio,
parecia dizer:
- bom dia, amigo.
sabe bem passear,
ver o sol a nascer.
Desejei-lhe um bom dia
e ela desatou a voar
como só ela o sabe fazer.

Harmonia no céu,
serenidade no mar.
Um dia de praia
começava a nascer.

Foi belo o encontro
com a gaivota sozinha
que passeava a pé...

Roses, 16 de Julho de 2017
7h46m
Jlmg

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No bar do Reichelt...

Do canto do bar,
durante a manhã,
vejo quem entra e quem sai,
carregado de compras
do supermercado.

Rostos serenos,
nada expansivos,
enchem os carros
com tudo o que há,
sem olhar para o lado.

Cabelos grisalhos,
são reformados
os maiores clientes,
durante a semana.

Papelinho na mão,
do bom e melhor,
levam de tudo,
conforme precisam.

Independência total,
sem pobres nem ricos,
é tudo igual...

Bar do Reichelt, 12 de Julho de 2017
8h44m
Jlmg


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Adoração ao sol...

Mal acordei,
vi o sorriso do sol,
no casario ao longe
do outro lado do mar
e desatei a sorrir.

Ali, à frente, do outro lado da rua,
e duma restinga de praia,
as gaivotas em linha,
debicam as ondas que chegam
e se espraiam cansadas.

O mesmo tractor de há um ano,
não pára.
Filtra e alisa as areias,
dos restos que ontem
os banhistas deixaram
na volúpia do dia.

Aos poucos, a praia vai animando.
Repetem-se os gestos.
Escolhe-se os poisos,
o mais perto das ondas.
Abrem-se cadeiras,
se estendem toalhas,
cada corpo a sua.

A custo se espetam os guarda-sóis
que o vento destrona num ápice.

Tiram-se as vestes ao corpo.
O recato se enterra
e o que se guardava à chave,
expõe-se sem custos
aos olhos de todos.

Tantas mazelas ocultas
se abrem ao sol.

Afinal, a diferença que parecia reinar,
por debaixo das vestes,
se reduz a nada,
porque, no fundo,
somos todos iguais...

Roses, 15 de Julho de 2017
14h15m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17561: Blogpoesia (518): "Terra queimada..."; "Milhões de folhas" e "No meu paquete...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P17586 Tabanca Grande (441): António Abrantes: foi cadete em Mafra, em julho de 1961, com o Manuel Alegre, Arnaldo de Matos e outros, sendo o Ramalho Eanes tenente; foi alferes mil, CCAÇ 423 (São João e Tite, 1963/65); senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 748.


Foto nº 1 



Foto nº 2 


Foto nº 3 


Foto nº 4


1. Mensagens, de 8 do corrente,  do novo grã-tabanqueiro, António Abrantes, que se vai sentar à sombra do nosso poilão, nº lugar nº 748. Foi alf mil inf, CCAÇ 423 (São João e Tite, 1963/65) (*)

Camaradas:

Só agora reparei que não enviei certos dados necessários:

(i) Fui Alferes Miliciano de Infantaria, especialidade de Armas Pesadas e,  como era dos que tinham melhor classificação e dada a especialidade,  não seria mobilizado.

(ii) Estava a dar instrução de Morteiros, em Viseu, quando a mês e meio de acabar o tempo normal fui mobilizado e para uma Companhia de Cacadores !

(iii) A minha Compannhia, a CCac 423, foi a ultima a ir por terra para o Sul da Guiné ,saindo de Bissau, Nhacra, Mansoa, Mansaba, Bafatá, Xitole, Aldeia Formosa, Buba, onde pernoitamos, Fulacunda, Brandão, Nova Sintra e, dada impossibilidade de chegarmos a S João, desvio para Tite para ao outro dia irmos até ao Enxudé (Porto de Tite ) onde embarcamos numa draga (a Geba) para,  numa viagem atribuladam  passarmos ao lado de Bissau e já no canal de Bolama nos aproximarmos do Continente, e com água pela cinta desembarcamos em S João . 

(iv) Como o IN não contavam  aqui não houve tirosM esses, os tiros começaram com uma emboscada no célebre "cruzamento de Buba" e acompanharam - nos várias vezes até Nova Sintra;

(v) De São João  vim evacuado para o HMP em Lisboa , tendo regressado a Guiné e ficado, como era o alferes com mais antiguidade, coocado na 4ª  Rep  do QG como Adjunto do Chefe de Transportes.

(vi) como curiosidade a minha medalha das campanhas da Guiné (felizmente sem ser herói) é a única que tem na legenda "Guiné 63-64-65-66-67". 

Um Grande Abraço a todos os Camaradas.


2. Nova mensagem do nosso novo membro da Tabanca Grande:

Pedias-me alguns dados meus: 

(i) estou reformado,  dada a provecta idade;

(ii) fui apanhado na Universidade e enfiado em Mafra, na EPI, em 31 de Julho de 1961;

(iii) no curso de oficiais milicianos (COM),  éramos, como eu costumo dizer (na paródia), "eu, o Manuel Alegre, o Arnaldo Matos (MRPP) e mais 493":

(iv) o general Eanes era lá tenente;

(v) depois de passar à disponibilidade,  arranjei emprego ligado a produtos farmacêuticos e acabei a licenciatura como estudante- trabalhador...

Um grande abraço a todos os camaradas, coma esperança de também poder ficar a sombra do poilão da Tabanca Grande.

Nota: Tenho poucas fotografias mas a seu tempo mandarei mais algumas (se me for permitido) bem como algumas "estórias" passadas na Guiné.

Aqui vão as legendas:

Foto do  aspiarnte a oficial miliciano .Antonio Manuel de N. R. Abrantes , pouco antes de embarcar [Foto nº 2]

Foto tirada em Tomar, vê-se parte do meu pelotão, com o malogrado Furriel Hércules Arcádio de Sousa Lobo, da 3ª secção (ainda cabo miliciano) [Foro nº 2] 

Foto tirada em Bissau, a única que possuo com qualidade razoável [Foto nº 3]

Toto  mais recente [Foto nº 4]

3. Comentário do nosso editor LG ao poste P17552 (**):

Caro camarada António:

É uma honra ter, no blogue da Tabanca Grande, um representante dos bravos da CCAÇ 423. Até agora, não havia ninguém que representasse condignamente esta subunidade.

Não leves a mal que a gente se trate por tu, à boa maneira romana: afinal fomos e continuamos a ser camaradas de armas, no sentido forte do termo.

Fica desde já, o convite para te sentares à sombra do nosso poilão. Temos um lugar livre, o nº 748... Só precisamos, de acordo com os nossos regulamentos, de duas fotos tuas, uma dos heróicos tempos de Quínara e outra atual... E dois parágrafos de apresentação: já sabemos quem foste, pode-nos dizer quem és hoje, onde vives, o que fazes... Estás, por certo, reformado mas não "arrumado": precisamos de ti para cobrir esse ano de 1963, e os seguintes... Há falta de documentação fotográfica, de testemunhas, de histórias, etc.

Posso continuar a contar contigo ?

O precioso "comentário" que me mandaste sobre a maldita mina ou fornilho do dia 3/7/1963 (há 54 anos!) foi transformada em poste, como podes ver aqui.

Tens o meu email ou do Carlos Vinhal, para nos contactar, de futuro.
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 30 de junho de  2017 > Guiné 61/74 - P17527: Tabanca Grande (440): Alfredo Roque Gameiro Martins Barata (1938-2017), ex-alf mil médico, CCAÇ 675 (Binta e Guidaje, 1964/66), nosso grã-tabanqueiro nº 747... Mais um camarada que não queremos que fique na vala comum do esquecimento

(**) Vd. poste d e29 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17522: (De) Caras (88): O fur mil inf Hércules Arcádio de Sousa Lobo, natural da ilha do Sal, Cabo Verde, foi gravemente ferido pelo primeiro fornilho acionado no CTIG, às 9h00 do dia 3 de julho de 1963, na estrada São João-Fulacunda, vindo a morrer no HMP, em Lisboa, no dia 16, devido às graves queimaduras. Eu era o comandante da coluna (António Manuel de Nazareth Rodrigues Abrantes, ex-alf mi inf, CCAÇ 423, São João e Tite, 1963/65)

sábado, 15 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17585: Historiografia da presença portuguesa em África (80): Uma peça de ourivesaria a exaltar o paternalismo colonialista (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Julho de 2017:

Uma peça de ourivesaria a exaltar o paternalismo colonialista

Beja Santos

A remexer num caixote de velharias numa loja de antiguidades, livros de bibliófilos, de estampas e mesmo de objetos bizarros, encontrei um documento intitulado “Algumas peças executadas por Leitão & Irmão, Antigos Joalheiros da Coroa”, o proprietário deixou nome na primeira página: Conde de Castro e Solla, lá dentro de verificará que o conde acompanhou o General Sá Carneiro a Berlim para entregar uma espada de honra oferecida pelo rei D. Luís ao Imperador Guilherme, no seu nonagésimo aniversário. O catálogo tem as armas do conde e diz que o valor em 1935 do documento era de 50 escudos. O que aqui se encontra são magníficos trabalhos de ourivesaria, encomendas da Casa Real, sobretudo, mas também encomendas como aquela em que mais demoradamente me detenho: a placa de prata oferecida ao Príncipe D. Luís Filipe pela Companhia do Caminho-de-Ferro do Lobito. Vejamos a descrição:
“Esta placa é uma obra de arte, executada nas oficinas dos joalheiros da coroa. Mede 42x33 centímetros, sendo de forma elegante, e representando uma paisagem africana, nas margens do Catumbela, vendo-se ao fundo a ponte de D. Luís Filipe onde uma locomotiva vai prestes a passá-la. No primeiro plano um engenheiro, sentado numa pedra, desdobra sobre um joelho um mapa de África e nele indica o lugar onde passa a ponte, a um africano que está a seus pés. Decoração de palmeiras contornam os lados da placa e o escudo de armas reais, de ouro, remata a parte superior”.

A ponte foi inaugurada em 21 de Março de 1905, a lembrança foi oferecida ao Príncipe Real em Agosto de 1907. Quem executou o trabalho foi um artista de nomeada, João da Silva.

O que impressiona neste trabalho de ourivesaria é a patente ideologia do colonizador mostrar a civilização ao africano em estado selvagem, como se dissesse: vê o progresso que trouxemos a estas selvas, este caminho-de-ferro vai espalhar riquezas, criando outras. Olha bem o mapa e vê como se atravessa o rio sem precisão das canoas. Esta ideologia, vale a pena enfatizar, era extremamente comum no tempo, era uma das pedras angulares da chamada missão civilizadora, revelar os benefícios da ocupação do território retirando o africano à vida selvagem.

E medite-se no contraste entre esta peça de arte e as exposições coloniais em que se traziam, africanos mostrando-os tal qual eles viviam, será assim no Porto, em 1934, onde preponderam os guineenses, na Exposição do Parque Eduardo VII, em 1937, e na Exposição do Mundo Português, em 1940, aí o significado das exibições introduzia elementos novos: vê com os teus olhos, ó branco, o que há no fundo das Áfricas, ufana-te com os rincões do teu império, Portugal não é um país pequeno (Henrique Galvão o disse, em 1934), tornou-se mensagem chave quando a guerra de África ganhou dimensão irreversível, vê lá se tens orgulho em seres muito maior do que muitos pensam.
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17468: Historiografia da presença portuguesa em África (79): Carta da Guiné com o itinerário da viagem do subsecretário de Estado das Colónias em fevereiro de 1947 e obras do V Centenário

Guiné 61/74 - P17584: (De) Caras (84): Carteiro aéreo... à força!... Um susto para o resto da vida, num DO 27 em Porto Gole (Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav) e Chegar a Bissau e já ter correio (Albano Costa, ex-1.º Cabo Atirador Inf)

1. Mensagem de Ernestino Caniço [ex-alf mil cav , cmdt do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá, Mansoa e Bissau, 1970/71; hoje médico, vive em Abrantes], com data de 13 de Julho de 2017:

Assunto: Aerogramas

Caros amigos:
Votos de ótima saúde.

Sobre o tema aerograma, em inquérito on-line (*) ocorre-me contar um episódio no qual fui interveniente.

Como o Carlos se lembrará, (estivemos ambos em Mansabá), o meu pelotão Daimler estava dividido em dois aquartelamentos, Mansabá e Mansoa.

Após alguns meses (cerca cinco) em Mansabá, fui para Mansoa. Face ao perigo das emboscadas, sempre que possível o correio era transportado por via aérea. Quando estava em Mansoa fui várias vezes a Mansabá aquilatar as ocorrências do Pelotão.
Numa dessas deslocações aproveitei a "boleia" da avioneta DO [27]. Nessa viagem, além do piloto, ia o comandante do batalhão,  Tenente Coronel Chaves de Carvalho, à frente, e, nos bancos laterais ia eu próprio e o Padre Zé Neves (presentemente nas Missões da Consolata em Moçambique)

Passámos por Porto Gole, o DO aproximou-se da pista e eu larguei o saco do correio. Logo se elevou, voando em círculo alargado com o piloto puxando energicamente a alavanca situada ao centro.

Imaginem o pânico que eu senti durante meio (?) minuto em que o DO subia cada vez mais e o capim ficava cada vez mais longe. Lá vai o Caniço pró c…!,   foi o pensamento natural. De imediato pensei: Está aqui o Padre Zé, Deus vai-nos safar!
Mal concluía o pensamento e... logo a alavanca se desencravou!
A interpretação fica ao critério de cada um.

Mais tarde vim a saber pelo piloto, que a avioneta tinha uma tal "démarche" que permitia a sua aterragem sem perigo.
Mas o pânico ficou, e por muitos anos, sendo que alguns resquícios ainda permanecem.

Curioso, hoje tenho um filho que é piloto comandante da TAP.

Um abraço e a continuação de ótima saúde. (**)
Ernestino Caniço

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2. Mensagem do nosso camarada Albano Costa (ex-1.º Cabo da CCAÇ 4150, Bigene e Guidaje, 1973/74), com data de 13 de Julho de 2017:

Caros editores deste prestigiado meio virtual de comunicação entre ex-combatentes.

Eu escrevi sempre aerogramas, raramente escrevia cartas, mas também escrevi algumas, a minha namorada (hoje minha esposa), escrevia muitas vezes cartas talvez meio por meio.
Recebemos todas as cartas, nenhuma ficou nenhuma pelo caminho. Tínhamos combinado numerar as cartas e aerogramas sempre em numeração crescente algumas cartas, eram mais rápidas do que outras, mas com todos os atrasos lá foram chegando ao seu destino, tanto de cá para lá e vice-verso.

Eu tive conhecimento ainda na Amadora (RI 1), antes de embarcar no Niassa, do SPM da minha companhia e telefonei para a minha namorada a informar a minha direcção enquanto estivesse na Guiné, e para meu espanto quando chegamos a Bissau depois de uma semana de um cruzeiro pelo Atlântico, ainda antes de embarcar foi distribuído o correio ainda a bordo, e já lá tinha a minha primeira carta.

Nunca me apercebi de cartas ou aerogramas violados, para mim sempre chegaram em perfeitas condições, embora muitas vezes com atrasos bastante largos, mas julgo que seria por ter estado numa zona que demorava sempre bastante tempo a lá chegar. Chegávamos a estar sem receber correio entre 15 e 20 dias porque não tínhamos contactos físicos, só por telecomunicações, não era possível fazer colunas regulares e a aviação estava proibida de voar para Guidage.

Albano Costa
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 13 de julho de 2017 Guiné 61/74 - P17579: Inquérito 'on line' (124): num total de 64 respostas, metade (50%) considera que o aerograma (ou "aero") "em geral era seguro e rápido"... Imprescindível para o sucesso do SPM foi a colaboração da TAP e da FAP.

(**) Último poste da série > 14 de julho de 2017 Guiné 61/74 - P17583: (De) Caras (89): Gente boa, brava e chã da Tabanca dos Melros em dia de apresentação das "Memórias Boas da Minha Guerra", volume II, do José Ferreira: restaurante "Choupal dos Melros", Fânzeres, Gondomar, 8 de julho de 2017 - Parte I (Fotos e texto: Luís Graça)