segunda-feira, 21 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18661: (Ex)citações (338): P18648 - Fiat G-91 abatido sob os céus de Gandembel em 28 de Julho de 1968 (Idálio Reis, ex-Alf Mil da CCAÇ 2317)

Guiné > Bissalanca > BA 12 > 1968 > O Fiat G-91 R4, 5411, uns dias antes de ser abatido (em 28 de julho de 1968). No cockpit, o cap piloto aviador José Nico


1. Mensagem do nosso camarada Idálio Reis (ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 2317/BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana, Nova Lamego, 1968/69), autor do livro "A CCAÇ 2317 na Guerra da Guiné - Gandembel / Ponte Balana, com data de 18 de Maio de 2018:

Quanto a este acontecimento[1], eis então o que escrevi no meu livro:

Mas já há muito tempo, e quase todos os dias, pelo entardecer, vinham 2 Fiats G-91 a descarregarem bombas sobre a já citada zona de Salancaur/Unal, de que se dizia terem abrigos inexpugnáveis, e destas tentativas intimidantes da aviação militar, surge a 28 de Julho, mais um dos casos inesperados, e que seria o primeiro a acontecer na Província nestas circunstâncias.

Neste dia, parte da Companhia tinha ido montar protecção a uma coluna de reabastecimentos, de modo que em Gandembel restavam apenas 2 grupos, um dos quais um Pelotão de Caçadores Nativos.

Ouve-se, vindo de longe e dos lados da fronteira, uns estampidos de metralhadora pesada. E passados alguns momentos, um dos soldados que estava atento às trajectórias das aeronaves, claramente distingue que se notava uma chama de fogo na cauda de um dos Fiats. 
Prontamente, via rádio, deu-se conhecimento aos pilotos. E vê-se nos céus, o avião a fazer uma curva acentuada, direccionando-se para o lado da fronteira. E quando a aeronave, já com as chamas bem visíveis na parte posterior da carlinga, passava sobre as imediações de Gandembel, distingue-se um pára-quedas que se ejecta do mesmo, e que vem a cair a cerca de 3 a 4 centenas de metros a sul do aquartelamento, com a aeronave a despedaçar-se em parte incerta, mas muito próximo da fronteira. 

Um documento oficial, refere que o piloto era um tenente-coronel, de nome Francisco Costa Gomes, comandante do Grupo Operacional 1201.

Aparentemente, o local da queda, não oferecia perigos para o seu resgate, desde que se conhecessem os locais das armadilhas em volta do cercado do arame farpado. Procurou-se de imediato arranjar um grupo com metade dos efectivos disponíveis, e então fomos ao encontro do piloto. 

Escondido num arbusto, estava o homem sem distinção da sua patente, e despojado da sua pistola de cintura [mais tarde foi encontrada, e julgamos que era uma Walther].

Já vínhamos a caminho do aquartelamento, e algumas unidades aéreas, como helicópteros e T-6 o sobrevoava, pelo que, franqueada a entrada, logo um dos helicópteros aterrava para o levar rumo a Bissau.

O abate desta aeronave, com fogo antiaéreo de metralhadora 12,7, teve uma óbvia repercussão a nível da Província, e muito certamente reforçou os ânimos dos combatentes locais do PAIGC. Contudo, não deixaremos de anotar, que nos parece que a probabilidade de uma bala anti-aérea, em acertar numa destas aeronaves, era extremamente diminuta, ainda que o IN parece que dispunha de um conjunto de metralhadoras quádruplas, em que os disparos eram bem audíveis em Gandembel. Mas o que é inegável, é que o avião se perdeu, e a perícia do piloto também foi notável para a integridade da sua própria pessoa, pois se tivesse caído em local fora do nosso horizonte de referência (não mais de 2 km), não se dispunha no momento, de condições para ir à sua procura. E muito provavelmente, o piloto poderia vir a ser capturado pelo inimigo.

Em jeito de remoque, parece que o piloto afirmou que teve de fugir de guerrilheiros do PAIGC, quando, na verdade, os elementos que primeiro o viram, pertenciam ao Pelotão de Caçadores Nativos.

Sempre esta dualidade da sorte e do azar, que nos espreitava na leveza de cada duro momento.
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Nota do editor

[1] - Vd. poste de 18 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18648: FAP (105): 28 de julho de 1968, o dia em que o Fiat G-91, nº 5411, pilotado pelo ten cor Francisco Dias Costa Gomes, foi abatido sob os céus de Gandembel, por fogo de AA (Antiaérea)

Último poste da série de 16 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18640: (Ex)citações (337): A propósito das deserções nas fileiras do PAIGC, há um provérbio africano que diz "Todos os cães podem ser bravos, mas são mais bravos dentro das suas moranças", o mesmo quer dizer, dentro dos seus "chãos" (Cherno Baldé, Bissau)

Guiné 61/74 - P18660: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXXIII: as colunas logísticas até Madina do Boé



Foto nº 101


Foto nº 102


Foto nº 103


Foto nº 104


Foto nº 105




Foto nº 107 > A formação da coluna de várias viaturas à saída do aquartelamento, a caminho de Madina do Boé [Fotos, de 101 a 107]



Foto nº 121 > Pel Rec Daimler 1129 [Nova Lamego, 1966/68]... O Virgílio Teixeira aparece, à civil, de camisa branca, de óculos escuros... O cmdt do Pel Rec Daimler 1129, deve ser o da esquerda, também à civil, com a esposa ao lado. O pessoal parece estar a num churrasco... "Não tive grandes afinidades com o Alferes do Pel Rec Daimler 1129, porque ele tinha lá a mulher, e por isso vivia quase em separação...O pessoal das Daimlers era um grupo que eu apreciava muito, pelo apoio que davam nas colunas para Madina do Boé... Sei que fizemos mais confraternizações, com o esta, mas eles eram um pelotão independente e tinham as suas próprias instalações."




Guiné > Região de Gabu  > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem jámais de meia centena de referências no nosso blogue.

Recorde-se que o Virgílio Teixeira, de acordo com o seu CV militar (agora corrigido e atualizado):

(i) assenta praça, em Mafra, na Escola Prática de Infantaria (EPI), em 3 de janeiro de 1967, ainda antes de completar os 24 anos de idade; jura bandeira em finais de março desse ano; 

(ii) como habilitações literárias, tinha já os dois primeiros anos da Faculdade de Economia do Porto (, licenciatura que viria a completar  depois da tropa); tinha um irmão, velho, que era  militar de carreira;

(iii) é enviado para a EPAM [Escola Prática de Administração Militar], em Lisboa, no Lumiar; acaba em junho a especialidade de Serviço de Administração Militar (SAM); promovido a aspirante, tem uns dias de estágio, que acaba por não fazer por ter ido para o HMP, na Estrela, fazer fisioterapia por causa de um acidente sofrido  em fevereiro desse ano;

(iv) é mandado para o BC 10 em Chaves, onde deveria também fazer um estágio no CA, em julho, (que não faz, "pois não havia lá ninguém para me orientar; desenfio-me então porque não estava lá a fazer nada");

(v) é mobilizado para a Guiné em 10Ago67 - curiosamente dois anos depois em 10Ago69 chega a Lisboa a bordo do T/T Uíge -, "mas ninguém sabe de mim; encontraram-me, fui a Chaves levei uma piçada do comandante, e só me disse que não me castigava porque já tinha um 'castigo maior', que era a Guiné...

(vi) vai com Guia de marcha paro Campo Militar de Santa Margarida fazer o IAO,  e parte de Figo Maduro, em Lisboa, em 20 de setembro de 1967, num avião militar, com o comando avançado do BCAÇ 1933, para render o outro batalhão, o BCAV 1915, que segue para Bula ("embarco em 20 de setembro em Figo Maduro, chego a Bissau em 21, avanço para Nova Lamego em 24 e regresso a Bissau em 27 de setembro, com objectivo de ir aprender mais alguma coisa na Chefia de Contabilidade, mas vou mais vezes para o Pilão e para a Piscina do Club em vez de ir para CC; depois tenho de aprender sozinho, e cumpri as minhas funções sem nenhuma mácula."

(vii) faz o serviço no CTIG como alferes miliciano, sendo a sua especialidade o serviço de administração militar (SAM); nessa qualidade, foi chefe do conselho administrativo (CA) do BCAÇ 1933, ou seja, o oficial mais perto do comandante de batalhão, que era um tenente-coronel;

(viii) não tendo sido um "operacional" propriamente dito, não pode, por isso, "contar muita coisa sobre operações em concreto, embora tivesse feito muitas colunas militares de reabastecimentos, quer por rio ou por estrada", além de muitas patrulhas à volta dos aquartelamentos, e vivido muitas vezes os bombardeamentos contínuos às posições [das NT]"

(ix) faz questão também de declarar que dá "um valor enorme ao sacrifício das nossas tropas": "conheço, por aquilo que leio agora, o que se passou e nós não sabíamos quase nada. Passaram mais de 40 anos até se perceber o que foi aquela guerra";

(x) comentário final do autor: "Mas sobre o CV falta lá o antes e o depois. Nada foi fácil, como se pode pensar, eu tenho no meu activo cerca de 60 anos de trabalho, e não parece, mas aos 12 anos já era contribuinte da segurança social - naquela época caixa de previdência - passei à situação de pensionista após 45 anos ininterruptos de trabalho e contribuições, por isso com 45 anos de descontos, dou de borla ao Estado 5 anos, pois só precisava de 40. Nem os aumentos de 100% da Guiné precisei deles. Mas nunca parei, e continuei na mesma vida, agora sem mais descontos e a receber a minha pensão. Neste momento apenas escrevo o Livro e comento nos Blogues, ajudo os filhos em burocracias quando eles precisam, pois tenho uma enorme experiência de muitas coisas"....


Guiné 1967/69 - Álbum de Temas: T101 –  As Famosas Colunas Militares para Madina do Boé"

I - Anotações e Introdução ao tema:

NOTAS:

Este novo tema vem na sequência dos últimos Postes sobre Madina do Boé e Béli (*) que estão a dar que falar entre os nossos generalíssimos camaradas.

Tive a oportunidade de ter ‘disparado’ algumas fotos, numa manhã de nevoeiro, com uma coluna a partir de Nova Lamego com destino ao Cheche e Madina. Eram longas filas de camiões, que partiam com reabastecimentos para o Cheche, Madina do Boé e Béli.

Sentia estas deslocações como algo de grande perigo, dadas as minas, os mortos e feridos que caíram por aquela estrada, e com este sentimento, resolvo um dia acordar mais cedo e fazer as fotos, para mim, são uma ‘nostalgia’ incrível, que nunca esqueço.

Não estão grande qualidade, porque a manhã estava a nascer, a quantidade de luz natural era pouca, mas fica o essencial, relembrar aqueles heróicos soldados que faziam aquele trajecto, de pica na mão sempre à procura do ‘clique’,  e que muitas vezes não era detectado e assim os mortos e feridos abundavam.

Estas colunas eram realizadas com grande aparato militar, as viaturas normais seriam as GMC, os UNIMOG, as MERCEDES, e talvez outras, não me lembro de ver BERLIET.

Eram acompanhadas e escoltadas por Unidades de intervenção, abaixo dou uma relação das possíveis, mais os Pelotões Daimler, Fox, e sempre sobrevoadas por aviões T6,  de apoio aéreo.

Normalmente iam elementos da Companhia de Caçadores 5 na missão da frente de picar a estrada. A Companhia de Intervenção de Nova Lamego era a CART 1742.

Unidades possíveis de terem participado nas diversas colunas mensais para Madina:

CCS do BAÇ1933;

CCAÇ 5 ["Gatos Pretos", de Canjadude]; 

CCAÇ 1586,  CCAÇ 1588, CCAÇ 1589 e CCAÇ 1623;

CCAV 1651 e CCAV 1662;

CART1742.

Pelotões Independentes:

- Pelotão de  Morteiros 1191;

- P AM Daimler 1143 e 1129 [Vd. tratar-se do Pel Rec Daimler 1129, Nova Lamego, agosto de 1966/maio de 1968];


- Secção de AM/FOX e Reconhecimento 1578 [Vd. EREC 1578];

- Companhias de Milícias 15, 16, 19, 23.

Fico na esperança que alguém apareça a dizer que estava ali também.  Foram tiradas numa manhã do mês de Novembro de 1967.

Em, 14-05-2018 - Virgílio Teixeira

II - Legendas das fotos:

F101 a F 106 – A formação da coluna de várias viaturas à saída do aquartelamento

F121 – Os elementos do Pelotão Auto Metralhadoras Daimler Nº 1143 ou 1129 [, trata-se do Pel Rec Daimler 1129].

Em, 14-05-2018

Virgílio Teixeira

«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BCAÇ 1933 / RI15 / Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21SET67 a 04AGO69».
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Notas do editor:


Guiné 61/74 - P18659: Notas de leitura (1068): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Junho de 2016:

Queridos amigos,
O trabalho deste franciscano é o mais importante sobre a história da missionação na Guiné. Não é uma história risonha, iremos detetando obstáculos logo entre o século XV e XVI, os missionários encontravam muçulmanos indefetíveis, vinham impreparados para resistir àquele clima mortífero, a presença do colonizador era diminuta e o traficante de escravos de modo algum se podia relacionar bem com esses missionários que pretendiam batizar os nativos.
Teremos que ir forçosamente por partes, a trama é naturalmente complexa e enorme, estou seguro que quem se interessa pelo tema encontrará neste relato um investigador dotado de uma enorme capacidade de surpreender.

Um abraço do
Mário


História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema (1)

Beja Santos

Em 1982, a Editorial Franciscana, Braga, dava à estampa aquele que é mais importante documento histórico sobre a missionação católica na Guiné, do século XV ao século XX. O padre franciscano Henrique Pinto Rema conheceu perfeitamente a Guiné e começou a publicar o produto da sua investigação no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, ainda na década de 1960, continuou as suas investigações nos anos seguintes e a obra publicada em Braga é seguramente o documento mais abalizado para o conhecimento da missionação católica.

O livro abre com a evangelização da Guiné entre 1434 e 1533. Explica pormenorizadamente o projeto henriquino e como este deu um passo decisivo com a ultrapassagem do Cabo Bojador em 1434. O Infante D. Henrique fez acautelar o seu projeto através da chancela de Roma. Assim, pela Bula Romanus Pontifex (8 de Janeiro de 1454), Nicolau V confiou ao Infante a conquista, ocupação e apropriação de todas as terras, portos, ilhas, mares, desde os cabos Bojador e Não até à Guiné, com poder de legislar e impor tributos e penas, invadir, conquistar e ocupar terras de mouros e pagãos, edificar mosteiros e igrejas com privilégio de padroado. A Bula Inter Cetera, de Calisto III, datada de 13 de Março de 1456, insiste na entrega à Ordem de Cristo da “espiritualidade nas ilhas, vilas, portos, terras e lugares desde os cabos de Bojador e Não até por toda a Guiné”. A Bula Dum Fidei Constantium, de Leão X (7 de Junho de 1514) em que se reserva ao rei de Portugal e dos Algarves todas as igrejas e benefícios eclesiásticos, desde os cabos Bojador e Não até aos índios, ficando sujeitos à jurisdição canónica do Vigário e Santa Maria de Tomar.

Analisando o problema da escravatura, Pinto Rema recorda que o Batismo era a primeira porta que se abria para obter o estatuto de negro forro. São muitas as referências nas Crónicas onde encontramos menções aos pretos forros. Está perfeitamente documentado que os missionários, designadamente a partir do século XVIII estiveram na vanguarda da batalha contra a escravatura. Todo este processo está perfeitamente documentado, e assim chegamos ao Marquês de Sá da Bandeira que em Dezembro de 1836 por decreto pôs termo ao tráfico de negros em todas as possessões portuguesas. Em 3 de Novembro de 1856 foi abolido completamente o trabalho forçado dos escravos; em 1876, a abolição da escravatura era um facto assente.

Entremos agora propriamente na missionação da Guiné. Religiosamente, a Guiné estava muçulmanizada ao Norte, pelo contacto com os mercadores do rei de Túnis, e era cada vez mais idólatra à medida que se avança para o Sul. Esta idolatria aparece ricamente documentada nos depoimentos, entre outros, de Valentim Fernandes, Jerónimo Münzer, Luís de Cadamosto.

Havia falta de religiosos por causa da extensão do território bem como pela extrema pobreza dos habitantes, é assim que observa Pio II em Outubro de 1462. Em Dezembro desse ano, o franciscano Frei Afonso de Bolando foi nomeado prefeito da missão da Guiné, com direito de “escolher quaisquer religiosos e pessoas para tal necessárias”. Mas só chegou à costa Ocidental africana muito depois, na década de 1470. O autor comenta que a escolha não terá sido a mais correta numa altura em que havia já um profundo diferendo entre as coroas portuguesa e castelhana quanto à natureza da missionação. Nesta época, já os portugueses tinham atingido o fundo da Serra Leoa e encontrado as ilhas do arquipélago de Cabo Verde. Os territórios desde os cabos Bojador e Não até ao Sul da Serra Leoa formavam a “província da Guiné”.

O autor resume a missão à Guiné com a chegada dos franciscanos e que se revelou ineficaz por diferentes razões: clima mortífero, o isolamento em que viviam os missionários, as dificuldades sentidas como inultrapassáveis criadas pelos prosélitos do islamismo, a dificuldade de penetrar em terras selvagens e inóspitas. Por motivos idênticos se tornaram ineficazes as expedições dos missionários dominicanos a Benim e ao Senegal em 1487 e 1488 respetivamente.

Uma carta de D. João III a Clemente VII, datada de 20 de Maio de 1532, pedia-se a elevação da diocese do Funchal a sede metropolitana. Ficar-lhe-iam sufragâneas as dioceses dos Açores, Cabo Verde e Guiné, S. Tomé (Costa da Mina e Congo) e Goa. Esta petição real foi deferida. A criação do bispado em Santiago que iniciou uma nova era na missionação do arquipélago de Cabo Verde e Guiné.

O primeiro testemunho da criação de uma igreja em território onde de facto havia presença portuguesa foi a igreja de ilha de Goreia, hoje Senegal. Cerca de 1456, Diogo Gomes consegue chegar à fala com o poderoso rei Nominans, chefe do país de Barbara, ao Norte da embocadura do rio Gâmbia. Este escreveu ao Infante D. Henrique para pedir um sacerdote e que se batizasse toda a gente. Desconhece-se o êxito evangelizador junto deste rei.

O rei Bemoim, da região de Jaloph, entre os rios Senegal e Gâmbia, manifestou interesse em ser batizado, veio até Lisboa onde foi batizado com pompa e circunstância tendo como padrinhos a família real, regressou ao seu reino numa armada comandada por Pêro Vaz da Cunha, pretendia-se construir uma fortaleza na foz do rio Senegal. Por razões não explicadas, tudo acabou por terminar mal, Pêro Vaz da Cunha matou D. João Bemoim à punhalada, a explicação que deu a D. João II foi de que havia suspeita de traição, o rei reprovou-o, a fortaleza não se construiu.

Desde a primeira hora que se conhece a expressão “grumetes” da Guiné, eram os naturais que a partir do momento em que eram batizados se consideravam brancos. Este conceito terá um grande peso na figura do grumete e na história da precária missionação que aconteceu na Senegâmbia e depois na Guiné Portuguesa.

Em jeito, de conclusão foram magros os frutos de evangelização colhidos na Guiné durante o primeiro século, depois de 1434, quando Gil Eanes dobrou o Cabo Bojador, até 1533, ano da criação da diocese de Cabo Verde e Guiné. Por razões facilmente explicáveis, a evangelização em Cabo Verde foi um sucesso total. E dentro dos limites do atual território da Guiné-Bissau nada de especial se construiu. Henrique Pinto Rema vai analisar seguidamente as primeiras missões da costa da Guiné, entre 1533 e 1640.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18649: Notas de leitura (1067): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (35) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18658: Convívios (857): 37º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, 5ª feira, dia 24 de maio, no restaurante "Caravela de Ouro", Algés. Inscrições até às 24 horas de hoje, 2ª feira (Manuel Resende)



A MAGNÍFICA TABANCA DA LINHA - 37º CONVÍVIO


1. Vai realizar-se no próximo dia 24 de maio, quinta-feira, com início às 12 horas, mais um convívio da Magnífica Tabanca da Linha, no Restaurante "CARAVELA DE OURO" em Algés. Esperamos que mais uma vez seja do vosso agrado. O Almoço será servido às 13 horas.

E M E N T A

APERITIVOS
Bolinhos de bacalhau - Croquetes de vitela - Rissóis de camarão - Tapas de queijo e presunto Martini tinto e branco - Porto seco - Moscatel.

SOPAS
Creme de legumes - Creme de marisco

PRATO DE PEIXE
Arroz de garoupa

SOBREMESA
Salada de fruta ou Pudim

Café

BEBIDAS
Vinho branco e tinto (Ladeiras de Santa Comba-vinho da casa)
Águas - Sumos - Cerveja


PREÇO POR PESSOA - - - - - 20.00€
(Crianças dos 5 aos 10 anos pagam metade)

Restaurante "Caravela de Ouro":

Morada: Alameda Hermano Patrone, 1495 Algés (Jardim de Algés, junto à marginal)

Inscrições até às 24 horas do dia 21: 

(i) telemóvel  ou e-mail:

Jorge Rosales 914 421 882 - jorge.v.rosales@gmail.com
Manuel Resende 919 458 210 - manuel.resende8@gmail.com


Basta dizer  "vou" ao convite na página de grupo no Facebook

(Nota: quem disser “vou” no Facebook e vier acompanhado, não esqueçam de dizer, mesmo que seja em comentário)

2. Até 16 de maio último, havia já cerca de 36 inscrições. Temos mais 4 ainda pendentes de confirmação, mas já somos um grupinho bom. 

Tinha falado em fazermos uma foto de capa nova para o nosso grupo, e faremos, mas 40 é exactamente metade dos já habituais. Espero que até segunda feira ainda apareçam mais alguns.

Manuel Resende

domingo, 20 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18657: Blogues da nossa blogosfera (93): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (12): "Céu Azul"


Do Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.
 
CÉU AZUL 

ADÃO CRUZ
céu azul.png 

Acordei hoje com o céu azul
Não só o que me entrava pela janela
Mas também o que me saía da alma.
Ambos se fundiam numa mancha celestial
Onde se inscreviam versos
Muito dispersos
De um poema azul sem igual.
Não havia dores
As estrelas cintilantes há muito se apagaram.
Não havia sangue
Há muito que o sol-pôr adormeceu.
Não havia nada.
Apenas a glória de um poema azul
Fruto maduro da madrugada
Mãe fertilizada
De um sonho-sémen da memória.
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18628: Blogues da nossa blogosfera (92): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (11): "Poema do desgaste e do contraste"

Guiné 61/74 - P18656: Blogpoesia (567): "Altos andores...", "Partilhar...", e "Cirurgia dos mistérios...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Altos andores...

Mesmo amarrados,
quanto mais altos,
os andores das festas,
e os que não são,
com estardalhaço,
tombam e se estatelam no chão.
Nem os santos que eles levam lhes valem.
Na vida, também.
Aqueles ricaços muito ricos,
com fazendas e palácios,
com fábricas de tudo e nada,
por mais fundos sejam os alicerces,
não sobrevivem ao terramoto
que a vida é.
Até os castelos pedregosos,
depois de mortos,
se desfazem com o vento e a chuva da erosão.
De nada serve a opulência.
Basta uma gripe
que se apanha à fresca e mal tratada,
para tudo se acabar.
Tudo fica...

ouvindo concerto nº 3 de Rachmaninov por Martha Argerich
Roses, 13 de Maio de 2018
dia de chuva
Jlmg

********************

Partilhar...

Do que nos coube ou conseguimos, é preciso partilhar o que nos sobra.
Há sempre alguém a quem pode faltar.
Porque não lhe coube ou não consegue.
Cada um tem seus talentos. Aquele a mais que o normal. Pessoal e intransmisível.
É assim a natureza.
A partilha gera a união e a solidariedade.
Enriquece e fortalece o bem geral.
A desigualdade resulta da ausência desse hábito natural.
Gera o confronto e o tumulto.
A inveja e a competição sem regra.

ouvindo Nocturno de Chopin
dia enevoado e frio
Roses, 14 de Maio de 2018
8h8m
Jlmg

********************

Cirurgia dos mistérios…

Há tantos mistérios para dissecar ao sol.
Faltam cirurgiões, sérios e competentes.
Que peguem neles, um a um, e os traduzam na expressão mais simples.
Para que o vulgo entenda como a origem os expressou.
O da vida é o maior.
Sua fonte e seu sentido.
A variedade imensa das suas formas.
Desde as mais simples até às paragens intrincadas da mente humana.
O da energia.
Onde está sua raiz,
Onde o motor primeiro?
A atracção simbiótica pelos semelhantes
Que se verifica nos vários reinos.
Desde a conjugação à união.
Mas o maior de todos é aquele sentimento
Que prende os corpos e eleva as almas…

Mafra, 18 de Maio de 2018
21h18m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de Maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18627: Blogpoesia (566): "Vi o vento irado...", "Pedras e flores...", e "Pairando no ar...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P18655: E as nossas palmas vão para... (16): João Crisóstomo, nosso camarada da diáspora lusitana, por 3 razões: (i) foi homenageado pelos correios de Israel; (ii) continua solidário com Timor Leste; e (iii) convida-nos a todos para a sua festa do próximo dia 16 de setembro, em Paradas, A-dos-Cunhados, Torres Vedras


Foto: Cortesia de LusoAmericano, 19 de janeiro de 2018



Recorte do jornal LusoAlericano, 19 de laneiro de 2018



Timor Leste > Foto nº 1



Timor Leste > Foto nº 2


Timor Leste > Foto nº 3


Fotos (e legendas): © João Crisóstomo  (2018). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça / Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de nosso amigo e camarada da diáspora, João Crisóstomo (Nova Iorque), ativista de causas sociais, ex-alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67):


Data: 2 de maio de 2018 às 20:37
Assunto: Verão 2018...

Caro Luis Graça, e… todos os meus caríssimos amigos e suas respectivas queridas,

Este é longo, mas...

Quisera mas não dá para mencionar os nomes da tanta gente boa que fazem o favor de me conceder a sua amizade. Vou fazer o possível para ligar pelo telefone a tantos quantos puder, bem consciente porém de que agora com estes "facebook, "linkedins", e tantas redes ( que eu quase não uso porque são labirintos para mim) é muito difícil encontrá-los…enfim!


(i) Estão todos convidados, caros amigos e camaradas, para a festa dos Crispins & Crisóstomos, no próximo dia 16 de setembro, em Paradas, A-dos-Cunhados, Torres Vedras


Mas vamos primeiro ao mais importante: Eu e a minha querida [, Vilma,]   vamos passar umas semanas na Eslovénia e a seguir vamos a Portugal (, fins de Agosto até meados de Setembro) e como não vou poder ir visitar toda a gente individualmente como gostaria, estou a organizar maneira de nos encontrarmo.nos: é que estamos ainda celebrando o nosso quinto aniversário… e assim aproveito para convidar os meus amigos e familiares para uma tarde de amizade…

Portanto a todos vocês que me fazem o favor da vossa amizade que eu tanto aprecio: camaradas da Guiné, camaradas de tempos de seminário, e tantos outros que ao longo dos meus (já!) 74 anos de vida,  foram aparecendo para com a sua amizade fazerem de mim um felizardo… e evidentemente aos meus familiares Crispins e Crisóstomos… ponham na vossa agenda :

"Domingo Dia 16 de Setembro , na Associação para o Desenvolvimento das Paradas, Rua José Fereira, 5,  Paradas- A-dos-Cunhados, Torres Vedras (, junto à estrada de Santa Cruz para A-dos-Cunhados) a partir das 13.00 pm."

Será ocasião para desfrutar a nossa amizade,  revivendo tempos e experiências, bons uns e outros até menos bons, mas que foram talvez ocasião e início das relações de amizade que agora nos unem.


(ii) Emissão de selo, pelos correios de Israel, de homenagem aos meus esforços para o reforço do diálogo interreligioso

O Luís Graça pediu-me para dar notícias actualizadas e quis que lhe enviasse algo sobre um "reconhecimento" por parte da autoridade postal de Israel pelos meus esforços que foram considerados benéficos para o relacionamento entre o cristianismo e judaísmo. (*)

Francamente ninguém pode ficar mais surpreso do que eu fiquei; quando me falaram num selo pensei que era brincadeira. Mas depois ele "apareceu". Não quero estar a pretender fingida modéstia, mas acho que isto revela mais a generosidade de quem isto sugeriu do que o valor do recipiente. Mas está feito. E porque o Luís Graça assim me pediu, junto notícia que sobre o assunto saiu num jornal comunitário nestas paragens.

(iii) Notícias da minha recente estadia em Timor-Leste

Na mesma conversa telefónica,   o Luís Graça pediu-me para enviar também algo sobre a minha ida a Timor Leste… Mas isso,  meus caros,,  por mais que eu quisesse nunca poderia descrever cabalmente o que isso foi: na verdade foi uma experiência extraordinária que francamente sinto que apenas sou capaz de descrever quando o faço em conversa pessoal, um a um.

Tudo o resto é muito insuficiente,não chega. Mas a título de info, envio um "Comunicado" que, como Presidente da LAMETA,  enviei aos órgãos de informação especialmente sobre uma recente diligência efectuada com êxito naquele território e à qual este movimento pró-timorense esteve associado com êxito.

Juntamente também incluo 3 fotos e legendas sobre esse acontecimento e outros relacionados [Vd. ponto 2].

Desculpem o comprimento deste, que ser conciso é qualidade que infelizmente não possuo. Espero que a vossa paciência e compreensão compensem as minhas faltas.(**)

Um abraço com amizade,

Até 16 de setembro se Deus quiser!.

João

2. “Press Release” > Exposição na Universidade de Dili recorda apoio  das comunidades luso-americanas a Timor-Leste e inauguração de escola São Francisco de Assis em Boebau

LEGENDA DAS 3 FOTOS [Vd. acima]

Foto 1 > Uma das alas da exposição LAMETA na Escola Rui Cinatti em Dili. Esta exposição estará patente a partir de 5 de Maio na Universidade Nacional de Timor-Leste em Dili no âmbito das celebrações do 16º aniversário da independência nesta instituição de ensino superior.

Foto 2  > A população recebe o Embaixador de Portugal em Timor-Leste José Pedro Machado Vieira e outros convidados durante a cerimónia da inauguração da nova Escola S. Francisco de Assis, que a população de Boebau chama agora “sua”.

Foto 3 > Quando as pessoas sonham, a obra nasce. Alguns dos responsáveis pela ideia e pela obra da nova escola de Boebau: Rui Chamusco, João Crisóstomo e Gaspar Sobral.


O 16º aniversário da independência de Timor-Leste vai ser assinalado pela Universidade Nacional timorense com uma exposição sobre o papel das comunidades luso-americanas no apoio à independência daquele país.

Os 120 documentos, que ficarão expostos a partir de 5 de Maio na Universidade Nacional de Timor-Leste (UNTL), reproduzem em formato alargado páginas do livro “LAMETA, MOVIMENTO LUSO-AMERICANO PARA A AUTODETERMINAÇÃO DE TIMOR-LESTE” publicado em 2017 e no qual o activista João Crisóstomo dá conta do que foi o esforço pro-Timor da organização LAMETA e de muitos líderes comunitários luso-americanos partir de 1996 e até à independência timorense em 20 de Maio de 2002.

Os documentos a expor na UNTL estiveram já patentes em Março na “Escola Portuguesa” Rui Cinatti, em Dili, e na chamada “Escola dos Jesuistas” Amigos de Jesus, onde atrairam a atenção da população docente e discente de Dili bem como um importante sector da população da capital.

Esta exposição mereceu a atenção dos meios académicos da Universidade timorense que também quis dar a conhecer os documentos no seu estabelecimento de ensino superior. Esta exposição terá como curadora a professora Dra. Sabina da Fonseca.

“Tive algum papel influente na organização das exposições nas escolas Rui Cinatti e na Escola dos Jesuitas, mas a notícia de que a Universidade Nacional de Timor-Leste ia repetir a exposição dos documentos na suas instalações já a recebi depois de ter chegado aos Estados Unidos” – disse João Crisóstomo que esteve em Março em Timor-Leste para participar na inauguração da nova Escola S. Francisco de Assis, que ajudou a construir na zona montanhosa de Boebau-Manati.

Escola está inaugurada

A inauguração da Escola S. Francisco de Assis teve lugar em 19 de Março de 2018 como resultado da confluência de boas vontades e do envolvimento directo de três pessoas determinadas que fizeram questão de se deslocar a Timor para a cerimónia da inauguração: o professor reformado Rui Chamusco do Sabugal; Gaspar Sobral, timorense natural de Boebau e também residente no Sabugal, e o activista luso-americano João Crisóstomo, residente em Queens, NY.

O activista luso-americano tinha estado em Timor-Leste em Maio de 2017, quando da celebração do 15º aniversário da independência. Durante a estadia teve oportunidade de visitar algumas das áreas mais afastadas da capital entre as quais a região montanhosa de Boebau-Manati. Foi nesta aldeia de Boebau que Crisóstomo, rodeado de dezenas de crianças dessa aldeia e de outras vizinhas sem acesso à educação por falta de escolas, resolveu associar- se a Rui Chamusco e Gaspar Sobral que, já com alguns tijolos e vigas na aldeia, esperavam melhor altura para concretizar o seu sonho de construir uma escola para a população local.

De regresso aos Estados Unidos, Crisóstomo tentou obter o apoio de diversas pessoas para lançar uma campanha a favor da construção desta e de muitas outras escolas nas regiões montanhosas de Timor-Leste. O projecto, contudo, chocou quase sempre com a resposta de que Timor-Leste era rico em petróleo e que dispunha dos meios financeiros para alargar a rede escolar.

“ Lembrei-me do caso de Portugal de há cinquenta anos , com abundantes reservas de ouro, enquanto o país carecia de escolas e infra-estruturas básicas… Com ou sem petróleo, a verdade é que o país tem ainda imensos fogos a apagar e as vidas de centenas ou milhares de crianças do interior não podem ser, entretanto, hipotecadas ao analfabetismo; e decidi por isso dar eu própio o primeiro passo em frente, juntando-me à generosidade do professor Chamusco. O chefe da aldeia deu o terreno e o professor Chamusco e eu colocamos no projecto algumas das nossas poupanças. A escola foi inaugurada em Março!” – disse João Crisóstomo, que fez questão de ir a Timor assistir à inauguração.

A inauguração contou com a presença do embaixador de Portugal José Pedro Machado Vieira, de Mons. Mario Godamo, da Nunciatura Apostólica e representando a Santa Sé, e de outras figuras da vida timorense, que se submeteram às agruras de uma longa viagem por estradas térreas do interior timorense. Também teve ampla participação popular já que o dia de festa fez com que todos os trilhos fossem dar a Boebau.

Com as dificuldades que a língua portuguesa ainda conta em Timor-Leste, há agora mais uma escola onde se ensina em português.

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 18 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18103: (De)Caras (102): O nosso João Crisóstomo em estampilha comemorativa da Fundação Internacional Raoul Wallenberg, emitida pelos correios postais do estado de Israel

(**) Último poste da série > 21 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18545: E as nossas palmas vão para... (15): Diamantino Varrasquinho, ex-fur mil, Pel Caç Nat 52 (Mato Cão, 1971/73), alentejano de Ervidel, Aljustrel, que, não sendo ainda nosso grã-tabanqueiro, volta a vir ao nosso Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, em 5 de maio de 2018, depois de se ter inscrito seis vezes em anos anteriores (2008, 2011, 2012, 2013, 2014 e 2016)

Vd. também postes de:


Guiné 61/74 - P18654: Parabéns a você (1438): Mário Pinto, ex-Fur Mil Art da CART 2519 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 19 de Maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18650: Parabéns a você (1437): Joaquim Martins, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4142 (Guiné, 1972/74) e Xico Allen, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 3566 (Guiné, 1972/74)

sábado, 19 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18653: Consultório militar do José Martins (37): Monumento aos Combatentes de Vila Chã da Beira

1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 4 de Maio de 2018:

Boa noite
Foi amor à primeira vista pelo monumento datado de 1965. Foi só reunir os elementos e aqui vai um pequeno texto.
Temos de convidar o camarada a fazer parte do blogue. Há necessidade de novos elementos e novas histórias. Atrás de um, outros virão.

Bom fim de semana.
Zé Martins


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Nota do editor

Último poste da série de 9 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18618: Consultório militar do José Martins (36): Registo Militar de Henrique Pedro Daniel de Duarte Silva Y Aranda

Guiné 61/74 - P18652: Os nossos seres, saberes e lazeres (268): Monsanto revisitada (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 2 de Março de 2018:

Queridos amigos,
Antes de mais, uma breve explicação. Ao viajar-se em grupo, manda o espírito gregário que os viandantes permutem imagens, ninguém nos substitui o olhar mas dá prazer ver o que os outros olham, assim se aprende a alargar a imaginação, a esporear a curiosidade para novas tentativas e ensaios.
Recebi outros modos de olhar Monsanto, deram-me tal satisfação que aqui vos venho partilhar, espero dar-vos idêntica satisfação em pôr os olhos na vastidão destes fraguedos, nesta lavagem dos olhos por tanto espaço apertado e simultaneamente aberto à vastidão.
Aqui vos ofereço um pequeno festim de imagens, porque Monsanto merece e muito.

Um abraço do
Mário


Monsanto revisitada

Beja Santos

A itinerância que se iniciou num monte alentejano nos arredores de Estremoz e que findou nas Termas de S. Pedro do Sul teve um ponto alto em Monsanto, foi destino aclamado unanimemente pela companha, uns desconheciam de todo, outros tinham vagas reminiscências. O viandante quando pega na câmara não reparte emoções, vai sempre ao encontro daquilo que o surpreende, mesmo em situações de revisão, o que não era o caso. Concluídos os apontamentos da viagem, distribuiu-os pela companha, recebeu as emoções de outros, é com satisfação e prazer da partilha que aqui se mostra o que outros viram e confecionaram, o que os deslumbrou exatamente no mesmo tempo em que o viandante andava em roda livre a surpreender-se naquela cultura ciclópica. O resultado aqui está.



Andavam todos pelas alturas, a coscuvilhar pelos recantos, a ver pelo canto do olho o esplendor da paisagem, até Espanha. Alguém fotografou um membro da companha criando a ilusão de que está em plano inclinado, quem vê não atina com as sinuosidades daqueles caminhos que apontam para o castelo. E a primeira imagem mostra a energia do que é assentar casa entre fragas e penedias, ali se pode sorver o ar lavado que sobe das planuras e arrepiar-se com as ventanias que se escapam pelas veredas das montanhas.



Que belo contraste entre uma casa incrustada na lage e aquele penedo sobrançeiro, qual periscópio de submarino, a vigiar o movimento de tudo quanto se passa lá em baixo, penedo de longa memória, possui informações que vêm do tempo das legiões romanas e da moirama, dos afrontamentos vindos de Castela, por vezes com exércitos mercenários, tudo por aqui passou, os pedregulhos ficaram inabaláveis, decididamente território pátrio.



Há quem critique a intervenção feita neste glorioso castelo, faltam-nos conhecimentos para entrar nesse debate. O que o viandante dispõe à vista desarmada é de uma construção medieval de grande imponência, bem enxertada naquelas toneladas de penedia. E permitam a observação de que aquela bela escada da segunda imagem parece levar o caminhante até ao céu, aqui se confessa o deslumbramento por tão belo contraste entre o vigor da pedra, aquela densidade da muralha, a intervenção do azul-celeste a matizar a massa volátil do forro das nuvens.



Nestas coisas de castelos medievais que, com a perda de função, são por vezes umas indigestas atrações turísiticas, uns espaços para visitar a alta velocidade, e tantas vezes com o desconforto de não haver um guia que situe o monumento no seu tempo, cada um fica com total liberdade de se empolgar com pormenores. Veja-se que os céus estavam de feição, nem sabem os pintores de profissão ou de práticas de fim-de-semana o que perderam naquele dia, tão promissores foram os céus, a luz e os contrastes da pedra.


E pronto, deu-se uso a trabalho alheio, Monsanto merece, aqui muito se penou para se falar português, o turista que sabe que tem à sua espera o conforto das residências, nem lhe ocorre pensar do que foi viver na dureza destas alturas, lembra-se o viandante de um passeio que fez a Piódão, escorria água de todas as bandas, a humidade dificultava o respirar, entanto todos se deslumbravam até que descendo pela aspereza de um caminho uma mulher embaiucada olhou o grupo de revés e comentou em voz alta: “Pois é, é muito bonito para ver e depois regressar às vossas casas, vêm até aqui para matar a curiosidade e nunca mais se lembram de quem cá fica!”.

Por isso e por tudo mais, o viandante promete voltar a Monsanto, também por curiosidade e amor a quem lá vive.

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Nota do editor

Último poste da série de 12 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18625: Os nossos seres, saberes e lazeres (267): De Estremoz para as Termas de S. Pedro do Sul (4) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18651: XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (26): o Jaime Bonifácio Marques da Silva, o grande embaixador da aguardente DOC Lourinhã


O Jaime Bonifácio Marques da Silva - Seixal / Lourinhã [BCP 21, Angola, 1970/72] é um dos meus amigos e camaradas mais generosos que eu conheço... Este ano aceitou o convite para estar presente no XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande... E fez questão de trazer consigo duas garrafas de aguardente DOC Lourinhã... Da sua garrafeira particular... E quis partilhá-las com todos nós... As duas garrafas desapareceram, mas chegaram para todos, incluindo os empregados que nos serviram à mesa... Autarca e professor de educação física em Fafe durante 40 anos, antes de voltar definitivamente à sua terra, Seixal, Lourinhã, o Jaime despediu-se dos seus vizinhos oferecendo a cada um um garrafa de aguardente DOC Lourinhã, uma produto único, de excelência, que é já também uma marca de Portugal... Em relação ao Cognac e ao Armagnac, a aguardente DOC Lourinhã não tem complexos de inferioridade quando apreciado em provas cegas... O único problema é o da escala de produção... mas também de marketing e de história... A Aguardente Doc Lourinhã tem um quarto de século de existência, legal... Mas há mais de 200 anos que a Região da Lourinhã fornece aguardentes para a a região demarcada do Douro...


Tanto o Jaime Silva como a Alice Carneiro são membros da Colegiada de Nossa Senhora da Anunciação da Lourinhã que tem justamente "como principais objectivos a defesa, o prestígio, a valorização e a divulgação da Aguardente Vínica da Região Demarcada da Lourinhã"... Foi o que fizeram os dois no nosso XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real...


O Jaime, o Eduardo Magalhães Ribeiro e o J. Casimiro Carvalho, que ficaram na mesma mesa...


Brindando ao passado, ao presente e ao futuro, à Tabanca Grande, à amizade, à camaradagem...


Os brindes foram-se alargando...


"No céu não há disto... e em Guileje também não havia!", parece querer dizer o régulo da Tabanca da Maia, o J. Casimiro Carvalho...


"Se para o ano houver mais disto, prometo voltar" (confidenciou-me o "herói de Gadamael")...


Os brindes alargavam-se ao Agostinho Ribeiro e ao Hélder Sousa (na ponta esquerda...)


Da esquerda para a direita. Agostinho Ribeiro, Hélder Sousa, Alice Carneiro, Jaime Silva, Eduardo Magalhães Ribeiro e J. Casimiro Carvalho


Miguel Pessoa & Giselda Pessoa - Lisboa [Bissalanca, 1972/74], com o António Martins de Matos pelo meio ouvem o Jaime Silva, ex-alf mil paraquedista do BCP 21 (Angola, 1970/72) a falar de um produto de que ele é "connaisseur": a aguardente DOC Lourinhã.... Só 3 regiões demarcadas de aguardente vínica no mundo: Cognac, Armagnac e... Lourinhã!


O Jaime Silva a explicar ao nosso ten gen  pilav ref, António Martins de Matos - Lisboa [Bissalanca, 1972/74] que a Lourinhã não é só a capital dos dinossauros...


O Jaime Silva e o Arménio Santos - Lisboa [Aldeia Formosa, 1968/70]: o antigo deputado da Assembleia da República e dirigente sindical da UGT


O António Mendes (Carapinheira / Montemor-o-Velho) que o nosso editor Luís Graça vem a descobrir que é pai da sua colega da ENP/NOVA, a professora Sílvia Lopes... Mais uma vez o Mundo foi Pequeno e a Nossa Tabanca... foi Grande.

Monte Real > XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 5 de maio de 2018 >

Fotos (e legendas): © Miguel Pessoa (2018). Todos os direitos reservados [Edição:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Nota do editor: