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domingo, 11 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18402 Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXIII: Mulheres e bajudas (5): Nova Lamego, 1967


Foto nº 324 > Nova Lamego, 1967 > Mãe e filha (e não filho, diz o nosso assessor Cherno Baldé, especialista em assuntos étnico.linguísticos; e mais: é uma balanta, e menino balanta não usa brincos...)


Foto nº 343 > Nova Lamego, outubro de 1967 > A minha lavadeira... Tinha aquele ar "penetrante", senão mesmo "atrevidote", mas eu sempre me comportei com ela como "oficial e cavalheiro", como era a minha obrigação...


Foto nº  362 > Nova Lamego, 1967 > Mulheres e bajudas em festa... Fulas,  a avaliar pelo lencinho na cabeça (diz o nosso Cherno Baldé, que tem "olho clínico" para topar os pequenos pormenores...)



Foto nº 354  Nova Lamego, 1967 > Legenda no verso: "N Lam Dez 1967: Um abajuda e o seu par, numa tabanca, algures na Guiné"


Foto nº 325 > Nova Lamego, 1967 > Bajudas, fulas, pilando


Foto nº 302 > Nova Lamego, 1967 > Bajuda manjaca...(Também havia alguns manjacos no chão fula...).

Guiné > Região de Gabu  > Nova Lmago  > 1967b> CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69).

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), e que vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado [, foto atual à direita].


Legenda:

As mulheres e raças na Guiné – Nova Lamego, São Domingos e Bissau:

As fotos de tronco nu foram feitas exclusivamente para mostrar a variedade de modelos e formas dos seios das mulheres africanas, destas raças que conheci.

Este conjunto é apenas uma parte, tenho mais, mas apenas seleccionei estas. Tem outras de corpo vestido, eram em ocasiões especiais de festas e roncos, em que as meninas e mulheres se vestiam a rigor.

A maioria delas são da raça Felupe, predominante em São Domingos onde passei a maior parte do tempo, também tenho  de Balantas e outras. /...)

As fotografias a preto e branco foram tiradas entre setembro 67 até fevereiro de 68 em Nova Lamego e depois desta data algumas em Bissau em Março, e em S. Domingos a partir de abril. As fotografias, slides, a cores só começam em finais do 1º semestre de 68, embora também tenha a preto e branco depois dessa data, ora fazia a preto e branco, ora a cores, como tinha duas câmaras a funcionar era conforme os rolos que havia.

Algumas fotos eu estou também incluído, algumas com brincadeira de ocasião e da idade, nada era de maldade, eu conhecia as tabancas e as famílias e era lá mesmo em frente aos pais que fazia estas fotos. Depois eu dava uma cópia para cada uma delas, era isso que as motivava a deixarem fazer as fotos. Algumas não queriam mesmo, especialmente as chamadas mulheres grandes, casadas e com filhos. Era mais fácil tirar fotos às bajudas, raparigas solteiras e ainda muito jovens.

Não afirmo que todas as raças estejam certas, era o que escrevia nas fotos, mas a maioria já era passado algum tempo, e depois os slides não dava para escrever. (...)
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quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18247: Efemérides (267): Faz 51 anos que chegámos a Bissau, no T/T Uíge, partindo depois numa LDM e num Batelão BM-1 para Gadamael (Mário Gaspar, ex-fur mil, CART 1659, Gadamael, 1967/68) - Parte I



Brasão da CART 1659 (Gadamael, 1967/68), "Zorba". Lema: "Os Homens Não Morrem"


Guiné > Região de Tombali > CART 1659 (1967/69 > Ganturé em 1967


Foto (e legenda) : © Mário Gaspar (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] (****)


Efemérides > Passaram 51 Anos: Chegada ao largo de Bissau, 17 de janeiro de 1967

por Mário Vitorino Gaspar






“… Para o partir ainda livre do dia seguinte.
Não há que fazer nada
Na véspera de não partir nunca…”

Álvaro de Campos


Bissau, 17 Janeiro de 1967


Chegámos à barra do porto de Bissau, na noite de 17 de janeiro de 1967. O paquete Uíge estagnou. Silêncio geral. Rapidamente surgem negros de tanga. Descalços. Começaram por carregar aos ombros, mas vagarosamente, alguma bagagem. Mais parecia que o cais de Bissau se desmoronava quanto ouvi as primeiras palavras dum nativo, bem perto do local onde me encontrava. Dei com os pés na minha mala de viagem. Não entendi o que diziam, simplesmente palavrões, que nem ficavam mal como fundo daquele palco. Nunca fui “menino-bem”. Mas f­oi o primeiro choque.

Esperava, no mínimo de entender uma única palavra em Português. Escutava uma língua que desconhecia. Era do meu conhecimento, não era novidade, sabia perfeitamente o País onde vivia. Tinha plena consciência do papel de Portugal nos ditos territórios Portugueses de África. Aquelas gentes viviam num mundo bem distante da civilização. A imagem que assistia transportava-me a 500 anos atrás. Recuara nos tempos. Quando um descarregador nativo estendia as mãos, não só cigarros que fumava como procurando que lhe desse dinheiro, tentei falar com ele. Ficou parado e sorriu. De repente saiu da sua boca uma rajada de palavrões em Português. Comecei por rir.

Avistava­‑se a iluminação de Bissau. Toda a minha Companhia – CART 1659, encontrava­‑se bem unida, quase mão na mão, quem sabe se para se proteger. Recebi ordens para levar a minha Secção mais para a frente, também que não desembarcaríamos em terras da Guiné. Outros militares seguiram connosco e entrámos numa LDM e Batelão BM­‑1. Tive de escutar alguns desabafos de homens da minha Companhia.

Ficámos espantados, visto julgarmos desembarcar na capital. Sem explicação, deram-nos uma maçã, um quarto de pão, uma laranja e um ovo. O destino? Bem tentei saber, sem resultados. O destino? Incerto? Depois de encaixotados avançávamos por via fluvial estreita, o mato quase que nos tocava. Afinal o destino era o mato. O Capitão ia encolhendo os ombros. Se frustrado estava mais fiquei, por outra, enganado. Como tinham a coragem de nos colocarem naquela ridícula situação? As horas passavam, no romper do novo dia, fui verificando estarmos encurralados de mato por todo o lado. Um ou outro riso, mas era mais o silêncio que inundava as nossas almas. O sol queimava.

Rapidamente se esgota a míngua do menu dado à saída do Uíge. Os militares começaram a abrir as malas. Comi uns nacos de presunto e de salpicão que cada um trouxera da terra-natal. Aqueles pitéus salgados acabaram por nos criarem problemas. Sede. O calor ia aumentando e alguns ainda dormitavam aos solavancos. Os Oficiais e Sargentos tiveram alguma informação oriunda do Capitão Miliciano de Infantaria Manuel Mansilha. Nada de novo. Eu não parava, embora No pouco espaço que existia, ia conversando com militares da Companhia, também com Furriéis que conhecia, mas de outra Companhia e de um Pelotão Fox. Soubemos qual o destino: – Gadamael Porto.

A fome e a sede apoderaram­‑se de nós. O pessoal começava já a sen­tir a mudança do clima. Havia quem comesse as cascas das laranjas, rindo talvez para disfar­çar. Vómitos! Muitos despejaram para as águas do rio tudo aquilo que haviam digerido. Para além da comida, era a falta de água.

No Uíge existiam passageiros de Luxo, de 1.ª, de Porão. Rica vida passada a bordo do Uíge. Começaríamos por ser mais iguais? Tinha a certeza que a desigualdade ia continuar. Era um dos privilegiados. Sempre responsável. Assumira, desse para onde desse!

Não sabia muito bem se no futuro as coisas se passariam do mesmo modo. Avistámos uma povoação, na margem direita do rio, tendo o coman­dante de companhia talvez, através dos fuzileiros que nos acompanhavam, dito tratar­‑se de Cacine. Era uma “avenida” de palmeiras, e cá bem à frente, militares gritavam:
– Salta que é periquito!

Com um pequeno barco os fuzileiros chegaram a terra, trazendo sacas. Verificámos serem laranjas, bem sumarentas, mas mais pareciam vinagre. Segundo diziam, tínhamos que nos apressar devido à maré. A mata nas margens era densa e nós éramos não só uns intrusos, mas também periquitos – termo utilizado para designar todos os militares que estavam no início da comissão. Muito embora as azedas das laranjas não matassem a fome, de algum modo ajudavam a enganar o estômago. O Capitão, falando com os Oficiais e Sargentos informou que se juntaria a um pelotão uma secção, ficando destacados num local de nome Ganturé. Fizemos um sorteio e ao meu Pelotão tocou-lhe o destacamento ao qual se juntou uma outra Secção.


Gadamael Porto, 19 de Janeiro de 1967

“Não sou eu nem o outro
Sou qualquer coisa de intermédio
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o outro”.

Mário de Sá-Carneiro


Desembarcámos em Gadamael Porto, e o termo “porto” não tinha significado, visto não existir porto algum. Nem sequer um simples cais.
– Salta, salta periquito! – ouvíamos, enquanto um aglomerado de militares pulava de contente.

Entendia aquela alegria, mas a verdade é que se éramos os periquitos, e a CCAÇ 798 é que saltava. Juntava­‑se a popu­lação civil que nos olhava­, não expressando alegria. De imediato tivemos que carregar as malas e saltarmos para cima de uma caixa de uma GMC, que substituía o cais que não existia. Houve quem escorregasse e caísse no lodo.

Os gritos continuavam, e as viaturas militares preparadas para trans­portarem o meu Pelotão e a
Secção para Ganturé, começaram a andar. Não houve tempo para analisar aquele local isolado no mato, e enquanto uns recebiam instruções e continuava a descarga, nós avançávamos, também para local incerto. Alguém avisou não ser necessário picar­‑se visto ter existido movimento de viaturas durante todo o dia.

A Companhia de Caçadores 798 [, a que pertencia o nosso camarada, grã-tabanqueiro, Manuel Vaz,] começava a embarcar na LDM e no Batelão. Para eles era a alegria do fim da comissão.

Depois de passado o casarão à esquerda, onde funcionava o comando, ultrapassámos o abrigo, que funcionava como porta­‑de­‑armas e mais ou menos percorridos três quilómetros, cortámos à esquerda e eis à nossa vista a “colónia de férias”. Saíam já outras viaturas com os militares da companhia rendida, que grita­vam sorridentes em altíssimos berros:
– Salta, periquito, salta,periquito...

(Continua)

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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de janeiro de 2018  > Guiné 61/74 - P18202: Efemérides (266): Dia Internacional do Obrigado... uma seleção de 12 manifestações, no nosso blogue, de agradecimento e de gratidão, que são dois dos sentimentos mais genuinamente humanos... Um Oscar Bravo (OBrigado) à nossa Tabanca Grande, aos membros do nosso blogue, aos nossos leitores, a todos os que nos visitam, lêem e escrevem, aos nossos editores, aos nossos colaboradores permanentes, a todos os que nos apoiam, direta ou indiretamente (Luís Graça)

sábado, 25 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P18012: Efemérides (265): 25/26 de novembro de 1967: a notícia da tragédia diluviana na Região de Lisboa que chegou a Gadamael pelas ondas hertzianas (Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)


1ª  página do Diário de Lisboa, 2ª edição, domingo, 26 de novembro de 1967 (Ano 47, nº 16143; diretor: António Ruella Ramos). Cortesia da Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquivo Diário de Lisboa / Ruella Ramos.

Fonte:

(1967), "Diário de Lisboa", nº 16143, Ano 47, Domingo, 26 de Novembro de 1967, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_11918 (2017-11-23)

O maior desastre natural ocorrido em Portugal depois o terramoto de 1755... Nem os senhores coronéis da censura conseguiram apagar os títulos de caixa alta dos jornais, fizeram  tudo  no entanto para impedir que os diretores dos jornais  dessem o número exato dos mortos... Ainda hoje não sabemos quantos portugueses morreram: nos [atuais] concelhos de Lisboa, Loures, Odivelas, Vila Franca de Xira e Alenquer.


1. Mensagem de Mário Vitorino Gaspar [ foto atual à direita; ex-fur mil at art, minas e armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68; e, como ele gosta de lembrar, Lapidador Principal de Primeira de Diamantes, reformado; e ainda cofundador e dirigente da associação APOIAR]

Data: 25 de novembro de 2017

Assunto: FAZ HOJE 50 ANOS

Camaradas Luís,

Lembrei-me e disparei. Este tiro. Levei com diversos estilhaços a 25 de Novembro de 1967. 

Atravesso um péssimo período da minha vida. Ambos os filhos (42 e 47 anos foram vítimas de Síncopes Cardíacas), o mais novo a 14 de Maio, só há um mês saiu do Hospital de Santa Maria. O mais velho foi a 14 de Outubro, só fez o cateterismo, não foi à Cirurgia de Bypass como o pai a 12 de Março de 2002 e o mais novo que com três entupimentos só fez um Bypass, mas teve de seguida uma gravíssima inflamação, ou vírus como lhe chamaram.

Simultaneamente, por insistência da minha parte, fiz Exames necessários para saber se tinha ou não a Doença de Parkinson. Tive a novidade que sim. Outro estilhaço. Sempre a verdade, custa escutá-la. Sei ser doloroso para todos, a verdade é essencial na minha vida, detesto os mentirosos. Mentem tanto que eles próprios acreditam que a sua mentira, é a verdade. "Verdade dos mentirosos", bom chavão e título para um Romance, Peça de Teatro, Filme – por que não de um filme – e nessa Guerra Colonial tantos são os mentirosos…

Pois há 50 anos "passei as passas do Algarve" e, na cama, mesmo ao meu lado, estava o meu Camarada Algarvio (Loulé) o Furriel Miliciano José Manuel Guerreiro Justo, dono do aparelho de Rádio. Armadilhei a sua cama até se convencer. Camas duras como os cornos e os mosquitos até comiam os mosquiteiros da cama.

Os camaradas de que falo estão todos vivos, incluindo o Capitão e Sargento Barreira que rondam os 84 anos e mantenho-me em contacto com todos.

Vou-me esquecendo de acontecimentos próximos, motivado pelo Parkinson, a memória arquivada decerto com falhas, mas viva ainda. Por vezes é difícil recordar um nome, aborreço-me. Teimoso como sou, recordo.

Ando há anos com as rodas avariadas, o problema é não ter um mecânico à altura, e talvez quinze dias rebentaram as pernas, sangue e pus a escorrer para os sapatos. Pernas inchadas e ardem, mais parece o Nosso Portugal a Arder. Há muito que ardemos… Matas e casas a arder? Calamidade.

Pois se considerarem serem textos a publicar no Blogue, façam-no. Nasceram agora, não são plagiados…

Um abraço para a Tabanca.

NOTA: Quando me for embora posso ser embrulhado em papel de jornal, no "Correio da Manhã" não quero…

Mário Vitorino Gaspar

2. Efemérides > Faz Hoje 50 Anos > Grandes Cheias de 25 de Novembro de 1967 (*)

A 25 de Novembro de 1967, estava eu em Gadamael Porto no sul da Guiné, numa guerra que não era minha. A minha Companhia era a CART 1659, com o lema "Os Homens não Morrem".

Os aparelhos Rádios comprados através de alguém que se deslocava a Bissau, normalmente de evacuados por ferimentos ou doenças, serviam para ouvirmos de Batuque, Mornas e Coladeiras da Ex Guiné Francesa (Conacri). Insistia no aparelho de Rádio comprado pelo Furriel Miliciano Mecânico José Manuel Guerreiro Justo (Loulé). Procurava com insistência alguém que falasse, de música estávamos fartos. 

De botão em botão, até que apanho um posto de Portugal. Milagre, autêntico milagre. Dormiam a meu lado os Sargentos Abílio Seabra de Oliveira Barreira (área da cidade do Porto); Manuel da Silva Pereira (Massamá) e António Martins Reis Dores (Elvas) e os Furriéis Milicianos Augusto Varandas Casimiro (área do Porto), Manuel Ferreira Jorge (Massamá), Joaquim Fernandes Alves (área do Porto), José Nicolau Silveira Santos (Açoriano a viver há 47 anos no Canadá) e Manuel Adelino Alves de Campos (vive no Faial).

Gritei para o pessoal. Sucede o inacreditável e assustador. Percebi estarem as populações de Alhandra e povoações próximas a serem vítimas de Inundações. Entendi o nome da vila de Alhandra. Terra para onde fora aos 3 anos era lá a terra onde viviam meus Pais; um dos meus Irmãos, o José, Fernanda minha cunhada, meu sobrinho Luís Filipe que nascera em Abril e todo um mundo de Amigos.

As notícias iam chegando, sabia bem que o Tejo galgava para a terra e estendia os braços pelas ruas mais próximas.

Pior que um ataque do PAIGC que lutava pela libertação. Longa a angústia. Nada poderia fazer. O rádio, aquele aparelho de mornas e coladeiras era já um amigo. Gosto dessa música, pudera… Comecei por ter pormenores das cheias e resolvi falar com o Capitão Miliciano de Infantaria Manuel Francisco Fernandes de Mansilha sobre o assunto. Estranhou apanhar uma Rádio Portuguesa. Eu próprio nem acreditava. Um milagre, talvez pela calamidade da situação as Rádios tivessem colocado a funcionar outros meios que projectaram as emissões para outras distâncias.

Pois o Capitão enviou via Bissau um telegrama para os meus Pais. Ao fim de pouco tempo recebi a resposta da minha Mãe. Nunca cheguei a saber como conseguiu fazer chegar esse telegrama aos Correios da terra que ficavam bem perto do rio Tejo. As águas atingiram, no denominado pela população Largo da Praça, 2,20 metros de altura. Ainda hoje nas paredes da Junta de Freguesia existe a marcação dessas águas. O povo sofre, Alhandra recebe ajuda e o Povo mais prejudicado pouco ou nada recebe.

Este Portugal que Ardeu e Arde e as terras inundadas pelas chamas receberão todo o material e dinheiro vindo do País e Estrangeiro?

Em 1967, em Alhandra, colchões, cobertores fugiram para as mãos de quem não teve danos. Alguns Amigos meus que ficaram sem nada foram habitar para outros ares.

Nunca mais apanhámos uma emissão de Rádio de Lisboa.

Batuque, Mornas e Coladeiras. Gostava e gosto de Mornas e Coladeiras. (**)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de  20 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14905: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (10): Não, nunca percebi para que serviam os CTT no CTIG... Notícias de Alhandra, da minha família, por ocasião da tragédia, as grandes inundações, de 25 para 26 de novembro de 1967, que atingiram a Grande Lisboa, recebi-as através de telegrama militar... (Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

(**) Último poste da série > 29 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17711: Efemérides (264): O antropólogo e professor doutor Mesquitela Lima, natural do Mindelo, São Vicente, que eu conheci na Academia Sénior de Lisboa... Morreu há 10 anos (Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14905: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (10): Não, nunca percebi para que serviam os CTT no CTIG... Notícias de Alhandra, da minha família, por ocasião da tragédia, as grandes inundações, de 25 para 26 de novembro de 1967, que atingiram a Grande Lisboa, recebi-as através de telegrama militar... (Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)






As notícias, mesmo censuradas, da tragédia que se abateu sobre a grande Lisboa na noite de 25 para 26 de novembro de 1967... Capas do Diário de Lisboa. Cortesia da Fundação Mário Soares > Fundo:  DRR - Documentos Ruelle Ramos



1. "Bate-estradas" do Mário Gaspar (*)


[ Mário Gaspar, foto atual à direita; ex-fur mil at art, minas e armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68; e, como ele gosta de lembrar, Lapidador Principal de Primeira de Diamantes, reformado; e ainda cofundador e dirigente da associaçºao APOIAR]:



 Data: 18 de julho de 2015 às 01:04

Assunto: Os CTT para Telefonar

Comrades:

Nos dias 19 e 20 de Novembro de 1967, participei na "Operação Raiana. Missão: Executar um golpe de mão ao acampamento de Boror. Não se chegou a descobrir o objectivo. No dia 26 de Novembro, dormindo na cama ao lado do Furriel Mecânico José Manuel Guerreiro Justo, e tendo este comprado um rádio onde ouvíamos somente Guiné Conacri, mexendo por mero acaso nos botões, oiço uma rádio portuguesa, dando notícias da nossa terra.

Contente, mas logo amargurado quando tenho conhecimento não existirem notícias animadoras. Pelo contrário acontecera uma tragédia, as inundações da Grande Lisboa, com indicações de muitos mortos e feridos e o dramatismo de algumas povoações terem sido tragadas pelas enxurradas e inundações (**).

Tudo se iniciara por volta das 19 horas. Parecia mais tratar-se de um milagre, estar a escutar, e com nitidez notícias de Portugal, nós escondidos naquele recanto no sul da Guiné – ouvi falar em Alhandra – povoação em que vivia, portanto terra onde viviam os meus pais e igualmente um irmão. Falavam para além de Lisboa escutava os nomes das vilas, entre outras de Odivelas, Loures, Alenquer, Vila Franca de Xira, Povos, e muito mais.

Parecia estar a ser atacado pelo PAIGC. Então escutava o nome de Alhandra. Recordava os anos passados, em que as cheias levavam água ao interior da vila. Cheguei a andar de botins altos e alguns barcos percorrem as ruas mais encostadas ao Tejo. Durante anos acostumei-me à ideia de ver todas as portas dos rés-chão tapadas com tábuas seguras com lama. Falava-se em enxurradas de lama que soterraram terras.

Fiquei atordoado, e resolvi falar com o Comandante da Companhia o Capitão Miliciano de Infantaria Manuel Francisco Fernandes de Mansilha. Fiquei admiradíssimo depois de contar o que se passava, tendo dito não ter notícias da família e saber que Alhandra tinha alguns mortos, o Capitão disse para ir com ele e enviámos um telegrama para os meus pais. Desconhecia essa possibilidade. Mas foi verdade.

Depois de sofrer,  recebo então um Telegrama onde a minha mãe dizia para estar sossegado por a água não ter chegado a atingir a casa. Na Praça 7 de Março em Alhandra está marcada a altura das águas neste dia fatídico para inúmeros portugueses. Portanto a minha casa, embora não tenha chegado ao 1.º andar, esteve muito perto. Curioso, nunca perguntei como a minha mãe se deslocou aos Correios,  se era uma zona inundadíssima. Recebi o tal telegrama, desta vez o sistema funcionou. O rádio de plástico do meu amigo algarvio, de Loulé,e Furriel Miliciano Justo, foi justo em informar-me desta tragédia. Ainda o ouvimos, mas depois voltam músicas de Guiné Conacri e muitas mornas e coladeras.

Notícias? O correio atrasado. Muito atrasado sem justificação. Isolados, com o mato à vista, paliçadas, abrigos e arame farpado. Telefonar? Telefonava na esquina da morança do Mamadu? Ou no Baldé? O meu telefone era a cerveja, falava dela, falava com ela e palava por causa dela. O que ingeri devia dar inundação se o seu líquido colocado numa piscina Olímpica.

Tive azar e sorte também. O azar é para esquecer, a sorte foi ter dinheiro para gozar licença na minha terra. Gozei mesmo, gastei bem, não me arrependo. Para mim a licença de Setembro/ Outubro de 1967 foi uma coroa de glória. Já estava em guerra, sabia o que ela era. Para mim era a despedida. Aproveitei aqueles 35 dias como os derradeiros dias da minha vida. Chegado a Bissau, escrevi quando se falava já naquela que seria a "Operação Revistar", para alguém – possuo essa carta mas não lhe toco mais – pois escrevi isto: – "Estou farto de Bissau, aqui só se fala em guerra". O que significa que antes desejava a guerra do que falar dela. Fui, entrei em Gadamael numa avioneta, mas nem vi os Correios, nem muito menos o telefone. O único privilégio que gozei, nos domingos ia até o Posto Rádio saber notícias do futebol em Alhandra. Na Aldeia Formosa estava o meu amigo Cordeiro, era radiotelegrafista e sabia o resultado do Alhandra.

Acho que fomos muito maltratados por não haver vontade de dar uma resposta adequada a nós que estávamos desterrados nos confins do mundo, antes, no cu do mundo. Muito pouca vontade, depois com a agravante de sermos obrigados ir buscar o Correio a Sangonhá para nos castigarem com patrulhas, quando nas vésperas tínhamos patrulhado a zona. Éramos uns imbecis e com a agravante de não termos a equivalência à tropa de elite – "Os Especiais". Olha porra! Mas sou também "Especial", "Tropa Especial", até tinha uma treta que se lia: – "Minas e Armadilhas".

Lembro-me dos Correios de Bissau, existia de facto a possibilidade de se pernoitar na cama de uma das suas funcionárias. No guiché assustei-me e desisti dessa noite entre lençóis. Foram poucos os dias de Bissau. E mesmo na cidade nunca fiz um telefonema. Fui ameaçado de castigo. Em Setembro de 1967 um Senhor Coronel disse-me após dois ou três dias seguidos no Café Benfica, estava fardado:
– Onde está, em que quartel?

Respondi-lhe que estava "no mato, em Gadamael Porto". Insistiu:
– Quem é o seu Comandante de Companhia?

Como não havia telefone em Gadamael, só respondi que era o Capitão Mansilha. Respondeu conhecê-lo e enviou cumprimentos. E se não fosse da Companhia… Estava tramado. Logo de seguida, na Agência de Viagens Sagres, estava eu e o meu amigo Jorge a tratar da documentação para entrarmos de licença, era no dia seguinte. Entraram três Capitães, passado algum tempo, berrou um deles:
– Os nossos Furriéis desconhecem os postos! Não cumprimentam? – Respondi:
– Então bom dia!

O meu amigo Jorge, a uns dias de concluir a comissão, após o almoço de despedida, trazia um garrafão de 5 litros de verde. Mesmo defronte do Hotel Portugal, completamente embriagado, agarra nas divisas e pisa-as. Aparece a Polícia Militar, comandada por um Furriel Miliciano. Segue na nossa direcção. Olho para o Jorge e para o Furriel da PM e digo-lhe:
– Vai-te embora, nada vistes, vira as costas.

Olha para mim… Respondo:
– Olha para a esquerda! – E à esquerda, e na esplanada, toda a CART 1659 se colocou de pé. A PM desandou. Não usávamos o telefone, que no mato não existia.

Cumprimentos aos Camaradas Combatentes.

Mário Vitorino Gaspar

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(**) Vd. entre outros recortes de imprensa:

DN - Diário de Notícias > 25 de novembro de 2007 

Nunca choveu tanto como em 67
por KÁTIA CATULO

(...) Cheias de 1967 - Memória. Mais de 700 pessoas terão morrido nas cheias que, no dia 25 de Novembro de 1967, apanharam desprevenidas as populações que viviam na região da Grande Lisboa. DN ouviu os relatos dos sobreviventes que têm memórias tão vivas como há 40 anos.

Cinco horas de chuvas torrenciais mergulharam a Grande Lisboa na maior inundação que a região alguma vez conheceu. Faz hoje 40 anos que as cheias de 1967 provocaram mais de 700 mortos e cerca de 1100 desalojados em Lisboa, Loures, Odivelas, Vila Franca de Xira e Alenquer. A enxurrada matou famílias inteiras, arrastou carros, árvores e animais e destruiu pontes, estradas e casas.

A chuva atingiu entre as 19.00 e a meia- -noite do dia 25 de Novembro as zonas baixas dos quatro concelhos da Grande Lisboa, mas só na manhã seguinte é que os portugueses se depararam com a verdadeira dimensão da tragédia. Urmeira, Póvoa de Santo Adrião, Frielas - povoações da bacia do rio Trancão-, e a Quinta dos Silvados, em Odivelas, foram os aglomerados urbanos mais atingidos. As casas eram de madeira e centenas de moradores foram engolidos pelas águas.

Lisboa, por seu turno, ficou irreconhecível. A Avenida de Ceuta, em Alcântara, esteve submersa e o mar de lama desceu até à Avenida da Índia. A água entrou em todas as bifurcações, subiu e desceu escadarias, derrubou as portas de tabernas, lojas e rés-do-chão, arrastando mesas, cadeiras, bilhas de gás, contentores e bidões da estação ferroviária.

Perto das 23.00 a chuva caiu ainda com mais força e as enxurradas atingiram um carro que circulava na Rua de Alcântara, encurralando os três ocupantes. O repórter do DN que na altura acompanhou as inundações, em Alcântara, conta que um soldado mergulhou nas águas e conseguiu retirar os três passageiros, minutos antes de o carro ser arrastado. Interrupções no trânsito sucederam-se desde a Avenida 24 de Julho ao Campo Pequeno, da zona do aeroporto da Portela à Avenida Almirante Reis, da Baixa a Santa Apolónia. Na Praça de Espanha e na Avenida da Liberdade, só se passava de barco e, na estação de caminhos-de-ferro, centenas de pessoas ficaram retidas nas carruagens porque a água submergiu as linhas.

O regime salazarista tentou minimizar os impactos das chuvas, mas as suas repercussões atravessaram fronteiras e desencadearam um movimento de solidariedade internacional. Chegaram donativos dos governos britânico e italiano, do Principado do Mónaco e até o chefe do Estado francês, o general De Gaulle, contribuiu com uma "dádiva pessoal" de 30 mil francos (900 euros, no câmbio da época). O apoio em meios sanitários veio de França, Suíça e sobretudo de Espanha, que ofereceu mil doses de vacina contra a febre tifóide. (...)

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14068: Estórias e memórias de Silvério Dias, radialista, PFA, 1969/74 (4): "É Natal, / De todos diferente, / Mais quente / Que os outros Natais. / Hoje, só tenho ais, / Quando no passado / Ria feliz, / Contigo a meu lado. / Natal de tristeza, / O Destino assim quis, / Natal que defino / Com uma só certeza: / - Nasceu o Menino" (Silvério Dias, 2º srgt art, CART 1802, Farim, dezembro de 1967)







Foto: © Silvério Dias (2014). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Mensagem de hoje, do Silvério Dias [ ex-2º srft art,
CART 1802, Nova Sintra, 1967/69; 1º Srg Art, locutor do PFA, Bissau QG/CTIG, 1969/74: civil, delegado de propaganda médica, 1974/76; 1º srgt art ref):


Caro "Homem Grande da Tabanca", manda tocar o clarim a reunir para que todos vejam o pragmático aerograma (para nós, bate-estradas), na emissão especial de Natal, este datado de Dezembro de 1967, altura em que eu, "periquito", passei as "festas" em Farim, local de "pouso" após desembarque no Cais de Pidjiguiti.

Silvério Dias
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Nota do editor:

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12423: Memória dos lugares (258): Bissau, 1968, aquando da visita do Presidente da República à Guiné (José António Viegas)



1. Em mensagem do dia 3 de Dezembro de 2013, o nosso camarada José António Viegas [foto à esquerda] (ex-Fur Mil do Pel Caç Nat 54, Guiné, 1966/68) enviou-nos estas fotografias históricas da visita do então Presidente da República, Almirante Américo Tomás, à Guiné, no ano de 1968. Nelas vemos a cidade de Bissau limpa e bonita, em festa, como era timbre na época, para receber o mais alto magistrado da Nação.





O segurança da direita foi o Director da Pide em Faro, tinha um filho Furriel que estava na altura na Amura, e que mais tarde foi jornalista do Jornal o Jogo, chamava-se Murilho Lopes. O repórter é o Artur Agostinho.





O individuo que se vê a cabeça no enfiamento do carro era o dono da Kodak perto do escritório da TAP na Amura


Ronco dos Felupes


Fotos (e legendas):  © José António Viegas  (2013). Todos os direitos reservados.
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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12383: Memória dos lugares (257): Ilha das Galinhas em 1968 (José António Viegas)

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Guiné 63/74 – P6161: Banco do Afecto contra a Solidão (7): Um grande capitão da Guiné - Eurico de Deus Corvacho - CART 1613, Últimas Notícias


1. Este poste destina-se a informar todos os Homens que serviram sob as ordens do então Capitão Eurico de Deus Corvacho, que dele guardam as melhores recordações, e a todos os restantes Camaradas que se solidarizam em acompanhar a evolução das notícias, que vamos recolhendo, sobre o seu melindroso estado de saúde.

2. Em 9 de Abril surgiu um novo comentário, da autoria de Américo Carvalho, no poste “Guiné 63/74 - DLXXVI: O meu capitão, o capitão Cor....”, com o seguinte teor:

Finalmente, e graças ao seu filho mais velho, visitei o meu Coronel em Oeiras, no IASFA, aonde está tipo armazenado. Este Homem extraordinário que é, para mim, um Herói de Abril. Sinceramente nunca me passou pela cabeça que teria de vê-lo amarrado a uma cama no verdadeiro sentido, amarrado pelos pulsos. Até para beber água, com garrafas junto a ele, tem que pedir para lha darem pois ele não pode autonomamente bebê-la, dado estar preso aos beirais (guardas laterais da cama). Eu não sei se será necessário tal prisão, mas, enfim, foi um dia que fiquei triste, por ver o que vi, e pedia a todos, que com ele conviveram, para lhe darem um pouco de calor Humano com a sua presença. A sua morada é IASFA, cama 108 em Oeiras, junto á antiga Fundição de Oeiras. Sem mais agradecia do coração que fizessem uma visita a este Homem que eu conheci bem e me ficou no coração.

3. O nosso Camarada Luís Graça, em 12 de Abril, reenviou ao filho do Coronel (com o mesmo nome do pai - Eurico Corvacho), o mencionado comentário, para seu conhecimento:

Meu caro Eurico: Pelo que vejo, as notícias sobre o seu pai, nosso camarada, continuam a não ser as melhores. Dou-lhe conhecimento deste comentário. Julgo que o Américo Carvalho seja alguém da companhia comandada pelo seu pai em Guileje. Gostava de confirmar, antes de dar o devido destaque ao comentário. Se o comentário for de pessoa idónea (como eu espero), gostaria de ter mais informação sobre a situação do seu pai, local onde está, horário de visitas, etc. Saudações. Luís Graça

4. No mesmo dia, poucas horas depois, veio uma esclarecedora resposta do filho:

Meu caro Luís Graça e todos os camaradas de armas do meu pai,
É com muita satisfação que vou tomando conhecimento da preocupação e das mensagens de solidariedade que tenho recebido destes homens que tiveram a oportunidade de privar com o meu pai.
Efectivamente ele tem uma doença, Corea de Huntington, do foro neurológico, degenerativa e sem tratamento. Um dos sintomas tem a ver com a descoordenação dos movimentos, o que faz que os doentes em fase avançada tenham que ser, com equipamento especial, amarrados á cama no sentido de não se magoarem involuntariamente. Não é efectivamente bonito de ser ver, mas um mal necessário.
Mais, quero frisar e louvar todo o corpo de médico e de enfermagem do IASFA, que tem sido impecável no seu acompanhamento.
O quadro dele é estável, tendo resistido a vários episódios clínicos complicados.
Penso que tem momentos de lucidez e por vezes reconhece as pessoas, fica contente com as visitas que vai tendo.
O IASFA fica junto á estação de caminhos-de-ferro de Oeiras e o horário das visitas vai das 13 às 19 horas, todos os dias.
IASFA/ Assistência na Doença a Militares
Rua Piedade Franco Rodrigues, 1
2780-383 OEIRAS
Vou mantendo informado de qualquer alteração deste cenário.
Saudações,
Eurico Corvacho

5. Mais uma vez agradecemos ao Sr. Eurico C. Corvacho, as notícias que nos foram prestadas, registando aqui um sempre renovado e sincero desejo das melhoras do seu estado de saúde.

Emblema do IASFA: © (2009). Direitos reservados.
__________
Nota de M.R.:

Vd. poste anterior desta série em:

25 de Setembro de 2009 >
Guiné 63/74 – P5007: Banco do Afecto contra a Solidão (6): Um grande capitão da Guiné - Eurico de Deus Corvacho - CART 1613, Últimas Notícias

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5837: Em busca de... (118): O meu meio-irmão, filho de Júlio Tavares, o Madragoa, nascido presumivelmente em Catió, e hoje com 42 anos, se for vivo (Marisa Tavares, Canadá)


O blogue da Marisa Tavares, filha do Júlio Tavares (1945-1986), Are you my brother ? (http://omadragoa.blogspot.com/ ). Foi criado muito recentemente, em 8 do corrente, com o objectivo de encontrar um filho que o seu pai terá tido em Catió, conforme confissão feita por ele na hora da morte, em 1986. Qualquer informação sobre o paradeiro do seu meio-irmão guineense pode ser enviada para o seu e-mail: mt_iphone@rogers.com

1. Mensagem da nossa amiga Marisa Tavares, constante do seu blogue,  em inglês (que é a sua primeira língua)


Are you my brohter ?

My name is Marisa Tavares and I live in Toronto, Ontario, Canada.

My father died when I was only 6 years old. I did not learn much about him until recently. He died in 1986 of cancer.

Recently I found a box filled with my fathers military information of his time in the Portuguese Military from 1967-1969. He served his time in Catio, Guinea-Bissau, Africa.

I have since discovered that during his time in Catio, he fathered a baby boy with one of the local women sometime between 1967-1969. He is my half brother and I am looking for him.

Thanks to technology and the iInternet in last month I was able to find out more information about my father's time in the military.

What we know…

• We know that he was in Catio, Guinea-Bissau, Africa, between 1967-1969.

• My father’s name was Julio Marques Tavares but was better known by his nickname Madragoa.

• My grandmother (my father’s mother) was aware of this child and up until her death (also in 1986) would send the baby’s mother money to help the babies’ mother raise her first grandchild.

Below is information that I have gathered from other comrades I have been able to find in my quest to find my lost half brother (In Portuguese) (...)

2. Tradução (livre) de L.G.:

Você é meu irmão?

OO meu nome é Marisa Tavares e eu vivo em Toronto, Ontário, Canadá.

O meu pai [,foto à esquerda,] morreu quando eu tinha apenas 6 anos de idade. Eu não sabia muito sobre ele até há pouco tempo. Ele morreu em 1986 de cancro.

Recentemente eu encontrei uma caixa cheia de documentos do meu pai,  do tempo em que ele esteve no Exército Português, de 1967 a 1969, em Catió, Guiné-Bissau, África.

Descobri então que, durante esse tempo em Catió, ele teve um filho de uma das mulheres locais, algures entre 1967-1969. Ele é meu meio-irmão e eu ando à procura dele.

Graças à tecnologia e à Internet, no mês passado consegui descobrir mais informações sobre o tempo de tropa do meu pai.

O que sabemos ...

- Sabemos que ele esteve em Catió, Guiné-Bissau, África entre 1967-1969 [m foi soldadado condutor auto-rodas, pertenceu à CCS / BART 1913, 1967/69] (*);

- O nome do meu pai era Júlio Marques Tavares, mais conhecido pelal sua alcunha, Madragoa ; [, nasceu e viveu em Lisboa até ir para a tropa; os pais eram de Pardilhó, Estarreja];

- A minha avó (a mãe de meu pai) tinha conhecimento da existência dessa criança e, até à sua morte (também em 1986), ela costumava mandar dinheiro para a mãe da criança a fim de ajudá-la a criar o seu primeiro neto.

Abaixo segue a informação que eu recolhi, de outros camaradas de meu pai, nas minhas buscas para encontrar o meu meio-irmão perdido (Em português) (...) (*)

A propósito, veja-se o slide-show, musicado, que a Marisa preparou, sobre vida do Júlio Marques Tavares (5 de Dezembro de 1945 - 15 de Outubro de1986)... As suas diversas facetas como soldado, como
marido, como pai, como amigo brincalhão... (Por razões de respeito pelos direitos de autor da banda sonora, não reproduzimos aqui directamente o vídeo, de cerca de 12'):

The Life of Julio Marques Tavares... @ Yahoo! Video

3. Comentário de L.G.:

3.1. Comentário enviado em 11 do corrente à nossa amiga luso-canadiana:

Dear Marisa:

In order to help you in our blog... Do you have some contact, name, adress, phone number, or photo concerning the African family of your brother ? I suppose no...

If he survives (one out of five children dies before age five, in Guinea-Bissau) and if he is still living in Guinea-Bissau, he sould be 42 years old...

If I have well understood you, until 1986 your grandmother, living in Portugal, 'would send some money to help her first grandchild's mother'... Is it correct ?

We are proud of you.

Best wishes / Saudações

Luis Graça & Camaradas da Guine

luis.graca.prof@gmail.com



3.2.  A Marisa tem um coração muito grande, e uma saudade enorme de um pai que morreu quando ela era pequena... Domina mal o português, a sua primeirea língua é o inglês. Sabemos que, com a morte do ppai e da avó paterna, ela deixa de ter razíes em Portugal (em bora a sua mãe ainda esteja viva, emigrada no Canadá). Tanto ela, Marisa, como o seu irmão mais velho, são canadianos, mas não têm filhos.

A Marisa quer, legitimamente, conhecer melhor o seu passado, as suas raízes, a história de vida do seu pai, e está muito determinada em descobrir o paradeiro do seu meio-irmão que terá ficado em Catió....A mãe do seu pai, que vivia em Pardilhó, Estarreja, e que morreu a seguir ao seu filho (único), sabia da existência desta criança... Na hora da morte, no Canadá, o Júlio terá confessado (, presumimos que à sua esposa), este seu derradeiro segredo... (Curiosamenet, no seu álbum fotográfico, de Catió, não há fotos de mulheres nem de crianças).

Agora a Marisa quer conhecer o seu irmão... Não será fácil descobri-lo, caso ainda esteja vivo, possivelmente já com 42 anos de idade... Da nossa parte, vamos fazer o nosso melhor para ajudá-la... Vamos desejar-lhe boa sorte nesta procura. Será que algum amigo e camarada do Júlio Tavares tem informações adicioniais sobre este caso que queira compartilhar com a nossa amiga Marisa (e, eventualmente, connosco ? Good luck, Marisa!

____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de 17 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5832: Álbum fotográfico do Júlio Tavares, Sold Cond Auto, CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) (Parte III) (Marisa Tavares / Victor Condeço)

sábado, 2 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5580: FAP (44): A verdade sobre os incidentes, em Bissau, em 3 de Junho de 1967, entre páras e fuzos... (Nuno Vaz Mira, BCP 12)


Guiné > BCP 12 > CCP 121 (1972/74) >  O crachá da unidade (à esquerda). Foto: © Victor Tavares (2006). Direitos reservados.


Guiné > BCP 12 > CCP 122 (1972/74) > O crachá da unidade (à direita) Foto: © Tino Neves (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem de Nuno Mira Vaz,  Cor Pára Ref (Guiné, BCP 12, 1967 e 1973) (*), com data de 29 de Dezembro último:

Assunto - Comentário sobre posts do blogue

Meu caro Luís Graça

Cá estou de novo a abusar do seu tempo.  Mas é por uma justa causa, pois trata-se de um comentário, em word, no qual tento esclarecer um conjunto de acontecimentos relatados no blogue.

Bem sei que,  não sendo membro, não tenho o direito de o incomodar. Por isso, se achar que o comentário não tem interesse ou carece de oportunidade, eu não fico ofendido.

Abraço mais uma vez com simpatia um antigo camarada de armas.
Nuno Mira Vaz


2. A propósito dos incidentes entre pára-quedistas e fuzileiros  e do 1.º Cabo Jaime Duarte de Almeida (**)

(i) Incidentes entre pára-quedistas e fuzileiros

Considero bastante conforme à verdade (com excepção da data, que foi o dia 3 de Junho de 1967 e não Janeiro de 1968, conforme a História oficial do BCP 12, da autoria do Tenente-Coronel Luís Martinho Grão) a versão apresentada pelo 1.º Sargento Carmo Vicente, inclusive no que respeita às responsabilidades dos graduados pára-quedistas, que pouco fizeram para evitar o infeliz desenlace duma jornada que devia ser lembrada apenas como desportiva.

Nos primeiros meses de 1967, a rivalidade desportiva entre pára-quedistas e fuzileiros foi-se transformando numa animosidade doentia. Estou certo de que muita gente se apercebeu do fenómeno, mas ninguém foi capaz de apreender o potencial de violência armazenado no processo. Por mim o digo: em momento algum imaginei que alguém pudesse conceber a sucessão de embustes que conduziram os páras à emboscada mortal.

Assisti a alguns dos jogos onde marinheiros e aviadores se enfrentavam e fui mais um dos que puderam observar o Jaime Duarte de Almeida, conhecido por Oitenta, e o Mário Cerqueira, por alcunha o Pedra Dura, a orquestrarem as actuações da claque da Força Aérea. E que fizemos nós, oficiais e sargentos com responsabilidades na conduta dos homens? Admoestámo-los com pouca convicção.

Era um sinal dos tempos: entre os operacionais, havia a convicção generalizada de que quem ia ao mato arriscar a vida tinha direito a descarregar na cidade as tensões acumuladas no combate – um sintoma, talvez o mais nítido de todos e sem subterfúgios, de imaturidade colectiva. Se os responsáveis tinham menos de trinta anos, e tendo em consideração que os dois lados se comportavam exactamente da mesma maneira, a rivalidade só por milagre poderia ter terminado de forma pacífica. Mas o que aconteceu ultrapassou em muito a imaginação mais delirante.

Na noite de 3 de Junho de 1967, no final dum jogo que parecia ter decorrido de forma idêntica a tantos outros, entre o ASA – acrónimo de Atlético Sport Aviação, o clube dos militares da Força Aérea – e a equipa onde alinhavam os marinheiros, sucedeu o inesperado: estes, depois de trocarem insultos e provocações com os pára-quedistas, como era hábito, abandonaram o recinto desportivo, numa atitude pouco consentânea com os seus comportamentos recentes.

Os páras correram atrás deles pelas ruas da cidade, não imaginando que, algumas centenas de metros à frente, emboscado num prédio em construção, um grupo de fuzileiros armados com G-3 (***) se preparava para os atacar a tiro. Custa a entender onde aqueles homens foram buscar ânimo para levar a cabo semelhante acto, mas a verdade é que foram capazes de abrir fogo à queima-roupa sobre camaradas de armas desarmados, matando de imediato o 1.º cabo Ismael Santos e o sold. Fernando Marques, para além de terem provocado ferimentos noutros soldados.

Na manhã seguinte, as pessoas – militares e civis, homens e mulheres -, demoravam a acreditar que pudesse ter ocorrido semelhante acontecimento. O relato de pancadarias épicas entre grupos de militares das tropas especiais, e sobretudo entre estes e as patrulhas da Polícia Militar que os queriam meter na ordem, em bares, discotecas e outros locais de diversão nocturna de certos bairros de Luanda, Lourenço Marques ou Beira, era tema frequente de conversa nos clubes e nas messes.

O que variava, curiosamente, eram as cumplicidades afectivas: em Luanda os páras aliavam-se ao fuzos contra os comandos, em Bissau eram os fuzos e os comandos que lutavam contra os páras. Algumas cenas, como a da Pastelaria Versailles de Luanda, ficaram tristemente celebrizadas por causa das mortes envolvidas. Mas nenhuma, até aí, fora perpetrada com os níveis de irresponsabilidade e premeditação registados em Bissau.

No rescaldo dos acontecimentos, os militares do BCP 12 viviam um ambiente de amargura, raiva e impotência. Uma única coisa veio mitigar o nosso desconsolo: o enterro dos dois soldados mortos foi acompanhado por uma multidão imensa, seguramente a maior manifestação cívica a que assisti em Bissau, apenas superada pela visita do Presidente Américo Tomás. Tive então a convicção, que mantenho hoje, de que os civis quiseram dar um testemunho claro da sua consideração pelas Tropas Pára-quedistas.

(ii) O 1.º Cabo Jaime Duarte de Almeida, o Oitenta

Quando foi nomeado para o BCP 12, o Jaime, como prefiro tratá-lo, já tinha cumprido uma comissão em Angola como soldado. Foi destinado ao 1.º Pelotão da CCP 121, sob meu comando. A alcunha, segundo me lembro, não se devia a nenhuma proeza mitológica, como a sugerida por Jorge Félix no post 5552, mas sim a um incidente ocorrido no próprio dia em que se alistou nas tropas pára-quedistas. Mandado a subir para a balança pelo Sargento que anotava os índices físicos dos candidatos, replicou: - “Não vale a pena, meu sargento. São oitenta quilos certos”.

É verdade que alguns dos apontadores de MG-42 conseguiam “desenhar” com o impacto das balas na barreira da carreira de tiro figuras surpreendentes, mas com as duas mãos em simultâneo, nunca vi nem me contaram. Aproveito para esclarecer que tanto o Jaime como o Hoss, referenciados no post 1512 do Tino Neves com enfermeiros, pertenceram à CCP 121, onde eram apontadores de metralhadora.

O Jaime era oriundo da região de Mafra, e desde muito novo que fazia trabalhos pesados. Foram estes, e a generosidade da natureza, que lhe deram um corpo dotado de uma força impressionante e com uma resistência à dor inultrapassável. Recordo-me de o ver pegar com os dentes numa barrica de azeitonas vazia, de a erguer no ar e de executar com ela alguns passos de dança.

Como todos os seres humanos, não se lhe pode tirar uma fotografia a preto e branco, nem rotulá-lo de bom ou de mau. Era aquilo para que a vida o encaminhou desde muito novo, uma vida na qual se reagia a soco e a pontapé contra a adversidade e as provocações. Isto no Pilão ou nos bares na cidade, porque no Quartel o seu Comandante de Pelotão - o Tenente António Ramos, outro veterano de Angola, que mais tarde, como Capitão, foi oficial às ordens de Spínola – mantinha-o de rédea curta.

Em combate era indiscutivelmente corajoso. As Cruzes de Guerra que lhe penduraram no peito foram mais do que merecidas. Mas disso havia muito nas tropas pára-quedistas. E o Jaime nunca foi um dos melhores soldados da CCP 121. Eu explico:

A partir de certa altura, começámos a capturar quantidades consideráveis de armamento ao PAIGC. Não só as que pertenciam aos combatentes abatidos, mas também as armazenadas em esconderijos que íamos descobrindo no decurso das operações. Não me recordo da data em que isso começou, mas sensivelmente em meados de 1967 foi publicada legislação que atribuía prémios pecuniários por captura de armas e munições. O diploma estipulava que o dinheiro fosse entregue ao responsável directo pela captura mas, por acordo dos comandantes de Companhia com o Comandante de Batalhão, Tenente-Coronel Costa Campos, ficou estabelecido que uma parte seria entregue ao Comando do Batalhão e a outra às Companhias e utilizada em obras ou aquisições de interesse geral.

Com parte desse dinheiro, a CCP 121 instituiu um prémio, destinado exclusivamente a praças, que consistia numa viagem de ida e volta à Metrópole para gozo de férias. Os premiados, que eram indigitados pelos camaradas em votação secreta, recebiam além disso uma pequena importância em dinheiro para gastos pessoais.

A indigitação era aguardada sempre com natural expectativa pelos graduados, que receavam uma nomeação menos criteriosa ou ajustada, beneficiando um valentão de caserna ou algum detentor de prestígio adquirido de forma duvidosa. Mas as praças provaram ter um entendimento correcto dos valores em jogo, escolhendo, com grande maturidade e sentido de justiça, apenas entre os melhores. E o Jaime não foi um deles.

Voltei a encontrá-lo na minha segunda comissão da Guiné, de novo no comando da CCP 121, mas o Jaime pertencia então à CCP 122.

Quando saiu da tropa, foi para Marselha, onde se ligou a gente com negócios pouco recomendáveis. Como diz o Jorge Félix, acabou chinado. Como seria de esperar. Só não sei se em Lisboa, se em Marselha.

Recordá-lo-ei, sempre, como um combatente excepcional.

Nuno Mira Vaz

[Revisão / fixação de texto / bold a amarelo: L.G.]
 
________________
 
Notas de L.G.:
 
(*) Vd. postes de:
 
 15 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5471: O Nosso Livro de Visitas (75): O blogue, uma obra que não pode morrer (Nuno Mira Vaz, CCP121/BCP 12, 1972/74)
 
10 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1581: O elogio dos pára-quedistas das 121ª e 122ª CCP (Nuno Mira Vaz / Vitor Junqueira)
 
(...) Meu caro Vitor Junqueira:

 Quem lhe escreve é o comandante da CCP 121 na altura em que estivémos juntos no COP 6. Eu estive com dois pelotões no Olossato e o Tenente Castro esteve com outros dois em Mansabá. Li hoje a sua crónica num blogue que acompanho com muito interesse e sentida emoção, e no qual só não colaboro por falta de vocação pessoal para me expor (1).

Quero agradecer-lhe do fundo do coração as suas palavras. Não só expressa uma admiração sincera pelas tropas pára-quedistas, como ainda por cima soube detectar algumas das virtudes não propriamente militares de que muito nos honramos. Bem haja. (...) Nuno Vaz Mira (...)

 (**) Vd. postes de:
 
28 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5552: FAP (42): Dois senhores da guerra: O Cabo 80 e o Cap Pára Terra Marques (Jorge Félix)

27 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5546: FAP (41): Quem foi realmente o Cabo 80, 1º Cabo Pára-quedista nº 85/RD ? (Pedro Castanheira)
 
13 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1522: Bissau em estado de sítio por causa dos graves incidentes entre paraquedistas e fuzileiros em Janeiro de 1968 (Álvaro Mendonça)
 
11 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1515: Antologia (58): A batalha de Bissau em Janeiro de 1968: boinas verdes contra boinas negras... Saldo: 2 mortos (Carmo Vicente)
 
10 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1512: Estórias de Bissau (11): Paras, Fuzos e...Parafuzos (Tino Neves)
 
(***)  Poderiam pertencer a uma ou mais destas subunidades de fuzileiros: 

Companhia de Fuzileiros nº 3 (1967/69), Companhia de Fuzileiros nº 7 (1965/67), Companhia de Fuzileiros nº 9 (1966/68), Destacamento de Fuzileiros Especiais 3 (1965/71), Destacamento de Fuzileiros Especiais 4 (1965/67), Destacamento de Fuzileiros Especiais 6 (1966/67), Destacamento de Fuzileiros Especiais 7 (1966/68), Destacamento de Fuzileiros Especiais 19 (1967/69), Destacamento de Fuzileiros Especiais 12 (1967/69) (Fonte: página do nosso camarada Jorge Santos)

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Guiné 63/74 – P5007: Banco do Afecto contra a Solidão (6): Um grande capitão da Guiné - Eurico de Deus Corvacho - CART 1613, Últimas Notícias


1. Este poste destina-se a todos os Homens que serviram sob as ordens do então Capitão Eurico de Deus Corvacho, que dele guardam as melhores recordações, e a todos os restantes Camaradas que se solidarizam em acompanhar a evolução das notícias, que conseguimos recolher, sobre o seu melindroso estado de saúde.

O nosso Camarada Nuno Rubim dirigiu-me, em 16 de Setembro p.p., a seguinte mensagem:

Assunto: Notícias do Cor. Eurico Corvacho

Caro Camarada Magalhães Ribeiro,
Visitei ontem, no Hospital Amadora/Sintra, o Cor. Corvacho.
Tal como o filho me avisou, fiquei triste por ele não ter dado sinais de me reconhecer, nem reagir às fotografias que lhe mostrei sobre Guileje e as suas gentes. Só correspondeu nas vezes em que lhe apertei a mão.
O filho disse-me que algumas vezes ele está um pouco mais lúcido.
De qualquer forma o Cor. Corvacho vai ser transferido para o IASFA (Instituto de Acção Social das Forças Armadas).
Um abraço,
Nuno Rubim

Em 17 de Setembro de 2009 reenviei estas fracas novidades ao filho do brigadeiro, com o mesmo nome - Eurico C. Corvacho, que, lembro, se encontra a trabalhar em Angola:

Assunto: GUINÉ: Notícias do seu querido pai - Cor. Eurico Corvacho
Boa noite Amigo Eurico Corvacho,
Junto informação prestada, através de e-mails, por um dos bons amigos de seu pai, que já conseguiu saber algumas notícias dele.
Deixo à sua leitura para conhecimento.
Envio também com conhecimento ao emissor.
Um abraço Amigo do,
Eduardo Magalhães Ribeiro

Dois dias depois, em 19 de Setembro de 2009, recebi de Eurico C. Corvacho, o seguinte e-mail:

Bom dia a todos Caros Amigos,
As últimas informações que tenho, são que o meu pai vai ter alta na próxima segunda-feira.
Não consegui apurar para onde vai pela falta de comunicação com a mulher dele, visto ela não me atender o telefone. Enfim, sem comentários.
No entanto, o Coronel Morais da Silva disponibilizou-se para fazer a “ponte” com ela, bem como tentar resolver a questão do IASFA, que afinal não parece que estava garantida…
Vou-vos mantendo ao corrente do desenrolar do processo.
Um forte abraço para todos,
Eurico Corvacho

No dia 22 de Setembro de 2009, recebi de Eurico C. Corvacho, novo e-mail:

Caros Amigos,
Apenas duas linhas, e que me parecem que podem ser publicadas no blogue.
Serve para vos informar que o meu pai está desde ontem no IASFA (Instituto de Acção Social das Forças Armadas), em Oeiras, com um quadro estável.
Um abraço para todos
Eurico Corvacho

P.S. Mais uma vez agradecemos ao Sr. Eurico C. Corvacho, as boas notícias que nos foram prestadas, registando aqui o renovar dos sinceros desejos das melhoras do seu estado de saúde.

Emblema do IASFA: © (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

sábado, 12 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P4941: Banco do Afecto contra a Solidão (4): Um grande capitão da Guiné - Eurico de Deus Corvacho - CART 1613, continua hospitalizado


Guiné > Guileje > CART 1613 (1967/68)> 1967 > Regresso ao quartel de uma operação, com o Capitão Corvalho à frente, seguido pelo Costa da Bazuca.
Foto: Zé Neto (2005). Direitos reservados.

Camaradas,

Em 23 Fevereiro 2006, foi publicado um poste da autoria do saudoso Zé Neto, com o título:

Guiné 63/74 - DLXXVI: O meu capitão, o capitão Corvacho da CART 1613 (1966/68) (Zé Neto)

Muito recentemente, mais precisamente em 6/08/2009, surgiu no citado poste a seguinte mensagem:

«Fui condutor do coronel Corvacho na 1ª comissão em Angola, na C.P.M 150. Era alferes e fui eu, com um outro soldado (hoje presidente da Câmara de Alenquer), que lhe oferecemos os galões de tenente, porque sabíamos que ia ser promovido no dia seguinte. Lidei com ele 27 meses e nunca mais irei esquecer estes fabulosos meses, que passei (foi um privilégio) com ele. Até à pouco tenho almoçado com ele regularmente, mas como o deixei de ver, fui a casa dele saber se estava melhor. Segundo me informou a Srª. sua esposa, meteu-o num Lar de Idosos, pois já não tinha paciência para lidar com ele, tal a dependência a que chegou aquele homem bom e humano. Bom não quero fazer mau juízo de ninguém, mas creio que a 1ª esposa, que bem conheci, não faria tal coisa. Com pena o deixei de ver, e até a ajudá-lo. Cheguei a ir ao Colégio Militar, aonde foi pagar uma viagem do filho mais novo.»

Três dias depois, em 9/08/2009, foi a vez da sua neta Catarina deixar também uma curta mensagem:

Em nome do meu Avô, que se encontra neste momento numa cama de um hospital a lutar contra a doença que tem (amarrado, pois a suposta família foi de férias), agradeço a homenagem.

Catarina Corvacho

Preocupado com um eventual agravamento do estado de saúde, deste nosso excelente Capitão da Guiné, que hoje é Coronel na situação de reforma e foi brigadeiro graduado em 1975, tendo estado à frente da região Militar do Norte, enviei um e-mail ao seu filho mais velho, em 9 de Setembro de 2009, nos seguintes termos:

Boa noite Exmo. Sr. Eurico C. Corvacho,

Quem se lhe dirige, por esta prática via, é Eduardo Magalhães Ribeiro, um colaborador do blogue de Luís Graça & Camaradas da Guiné, que foi furriel miliciano na Guiné, em 1974.

Acabei de saber agora, por uma mensagem deixada no blogue, por uma neta do nosso muito estimado por diversos dos seus bem comandados homens, que o nosso Brigadeiro Eurico de Deus Corvacho se encontra numa cama do hospital.

Será que o Senhor não nos podia fazer um ponto da situação do estado de saúde do seu querido pai, permitindo-nos a posterior "postagem" no blogue para informação e conhecimento de todos os interessados?

Desde já, em meu nome pessoal e de todos quantos se interessam de algum modo por este assunto, muito agradecido fico por todo e qualquer esclarecimento prestado.

Cordiais saudações e cumprimentos de,

Eduardo Ribeiro

No dia 10 de Setembro de 2009 recebi a resposta:

Bom dia Sr. Magalhães Ribeiro,

Tudo isto é uma história muito triste. Eu encontro-me em Luanda/Angola a trabalhar.

No decorrer da semana passada recebi um telefonema de um camarada do meu pai, Coronel Fonseca, que me conhece e o qual não vejo faz muitos anos. Foi portador da pior notícia, informando-me que o meu pai estava hospitalizado e bastante mal.

Fiquei preocupado e espantado pela forma como me chegou a notícia e porque razão estaria ele no Amadora/Sintra e não HMP.

Efectivamente tenho que dizer que não tenho as melhores relações com a minha madrasta, falamos o indispensável, no entanto, perante assunto desta gravidade, não havia razão para ela não entrar em contacto comigo ou com a minha mulher para informar, por um lado que ele estava num lar, por outro que tinha sido hospitalizado, facto que ela tem conhecimento.

Bem, de imediato coloquei-me em campo e fiquei chocado com o que encontrei.

Ele foi parar ao Amadora/Sintra por estar internado, desde data inserta, numa casa de saúde, em completo abandono.

A razão do internamento dele teve a haver com uma infecção pulmonar e, posteriormente, com uma infecção hospitalar. Continua a lutar contra a doença que o acompanha faz alguns anos e que é do vosso conhecimento.

Soube que está internado desde 13 de Agosto, sem qualquer visita ou acompanhamento de alguém. No hospital não sabiam sequer que se tratava de um Coronel do Exército. Pelo quadro de abandono, já estava envolvida uma assistente social.

Bem de imediato a minha mulher foi ao hospital, inteirou-se da situação, falou com os médicos e com a assistente social, explicando quem ele é, que tem família e as razões pela qual se tinha criado esta triste e desagradável situação.

Estamos neste momento a tratar da sua transferência para o HMP, que ainda não sei quando terá lugar, cancelando o processo de abandono com a assistente social, bem como recorrendo a apoio jurídico para o acompanhamento deste processo.

Voltando ao estado dele, encontra-se em recuperação das infecções aguardando resultados de novas análises. Está internado em regime de isolamento na medicina 1A, 6º. Piso do Amadora/Sintra e diariamente recebe visitas da nora e dos netos. É notória a alegria dele ao ver caras conhecidas e de pessoas que ama.

O comentário da minha filha mais velha, Catarina, foi um desabafo perante todo este cenário, em tempos enfiei aos meus filhos o endereço do vosso blogue para terem a noção da estripe que é feita o avó deles, um grande Homem.

Para qualquer informação adicional, não hesite em me contactar, e pode publicar o conteúdo do presente correio.

Do meu lado podem contar com informações sempre que houver algum desenrolar deste assunto.

Melhores cumprimento e grato pela vossa preocupação

Eurico C. Corvacho

Resta-me agradecer ao Sr. Eurico C. Corvacho, em meu nome pessoal e de todos os Homens que serviram sob as ordens do seu querido pai, e que dele guardam as melhores recordações, as boas notícias que nos foram prestadas, registando aqui o renovar dos sinceros desejos das melhoras do seu estado de saúde.

Com um abraço de,

Magalhães Ribeiro

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Notas de M.R.:

Vd. postes anteriores desta série em:

15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3630: Banco do Afecto contra a Solidão (2): Ajuda ao João Santos, ex-combatente em Moçambique, que vive num contentor (Mário Fitas)

4 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3562: Banco do Afecto contra a Solidão (1): A última comissão do Coronel (Jorge Cabral)

Vd. outros postes sobre o Capitão Corvacho:

31 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2493: Estórias de Guileje (6): Eurico de Deus Corvacho, meu capitão (Zé Neto † , CART 1613, 1966/68)

22 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1985: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (2) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)

24 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXVIII: Corvacho, um homem com honra (João Tunes)

23 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXVII: Corvacho, um capitão de Abril (A.Marques Lopes)

23 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXVI: O meu capitão, o capitão Corvacho da CART 1613 (1966/68) (Zé Neto)