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terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12738: In Memoriam (178): Carlos Schwarz da Silva (1949-2014)... Pepito ca mori! (Luís Graça)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cananima > Na margem direita do Rio Cacine > 2 de março de 2008, visita ao sul do país no âmbito da Simpósio Internacional de  Guiledje (Bissau, 1-7 de março de 2008), O Pepito, ladeado à sua direita pelo Zé Teixeira e à sua esquerda pelo Domingos Fonseca. Para os seus amigos e colaboradores, ele era uma verdadeira "força da natureza"...

Foto e legenda: © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.

Pepito, em Guileje, 1/3/2008
1. Amigos e camaradas: 

Recebi, ao fim da manhã, a notícia, brutal, inesperada, da morte do nosso Pepito! (*)...

Ele tinha vindo de Bissau há duas semanas, numa viagem penosa de 12 horas, pela Air Maroc, e foi de imediato internado no Hospital Curry Cabral, em Lisboa (**). A suspeita era de hepatite A, mas o diagnóstico médico era mais grave...

O último email que tínhamos trocado,  com ele ainda em Bissau, tinha data de 30 de janeiro último. Ele confirmou-nos que vinha cá, a Portugal, para estar nos anos da mãe, como sempre o fazia, religiosamente, todos os anos (***).  Aproveitava o ensejo para fazer sua "revisão médica" anual. Mas desta vez, a mensagem trazia maus augúrios:

Amigo Luís:

Vou de facto para o aniversário da minha mãe (dia 14), mas sobretudo para varrer os hospitais e ficar de papo para o ar. É que estou com uma crise de hepatite que me dá dores e me tem cansado 24 horas por dia. Os médicos que consultei exigiram todos: REPOUSO. Para mim isso não é tratamento, mas castigo. Como tenho culpas no cartório, sou obrigado a obedecer. (...)


Amigos e camaradas, o som do bombolom, com a trágica notícia,  já chegou à Guiné-Bissau e a Cabo Verde!... O Pepito morreu!... O Pepito morreu!... O Pepito morreu!... Do chão felupe ao chão nalu, passando pelo bairro do Quelélé um dor imensa varre a Guiné-Bissau, terra que o viu nascer, em 1949, e sobretudo que o viu regressar, a ele, à Isabel e à pequena Cristina, em 1975, para ajudar a construir um país novo!...

É uma perda imensa, irreparável, para todos nós, guineenses, cabo-verdianos e portugueses, seus amigos e admiradores!... Mais do que a obra, que há-de ser continuada por parte da vasta equipa da ONGD AD - Acção para o Desenvolvimento, de que ele foi co-fundador e era o diretor executivo, é o seu exemplo, a sua lucidez, a sua boa disposição, a bonomia, a sua capacidade de organização e de trabalho, a sua força da natureza, o seu entusiasmo, o seu visceral otimismo, o seu carisma, a sua frontalidade, a sua coragem (física e moral)... que nos vão fazer falta, e de que já estamos a sentir saudade...

Há seres humanos que são insubstituíveis, nas equipas, organizações e comunidades a que pertencem... A morte, precoce, do Pepito vai-nos deixar um tremendo vazio, difícil de preencher... É por isso que nos recusamos a admitir que o Pepito nos deixou para sempre. E voltamos a tocar o bombolom, em todas as direções:

Pepito ca mori!... Pepito ca mori!... Pepito cá mori!

Carlos Schwarz da Silva, nascido em Bissau, em 1949, era filho de  Augusto Silva (1912-1983),  cabo-verdiano da ilha da Brava, advogado, jurista, estudioso dos usos e costumes dos fulas, mandingas e nalus da Guiné, poeta, contista,  e de Clara Schwarz da Silva, que acabou de fazer, no dia catorze, 99 anos, sendo a decana da nossa Tabanca Grande.

Para a Dona Clara Schwarz (que ainda não teve conhecimento da notícia, que vai ser devastadora para ela!), para a nossa querida Isabel [Levy Ribeiro], para os filhos do casal, a Cristina (Pepas), o Ivan e a Catarina, para as suas netas Sara e Clara,  para os seus irmãos João e Henrique (Iko) e demais familiares, vai o nosso alfabravo (ABraço) apertado, fraterno e solidário na dor.

Mando também, em meu nome pessoal e da minha família (Alice, Joana e João, que estão consternados com a perda de um grande amigo e de um excecional ser humano), bem como da nossa Tabanca Grande, os meus profundos votos de pesar aos nossos amigos da AD, cujo trabalho merece todo o nosso respeito e admiração. Eu sei quanta esta terrível notícia os deixa inconsoláveis!

A funesta notícia deixa, também, os seus muitos amigos portugueses acabrunhados, infelizes inconsoláveis... O Pepito era um dos nossos grã-tabanqueiros da primeira hora, desde a I Série.

De qualquer modo, a melhor homenagem que podemos fazer, a quente, em cima da notícia deste terrível acontecimento, é reproduzir de novo, aqui, no nosso bogue, este texto autobiográfico admirável que é "A sombra do pau torto", que ele escreveu e nós publicámos em julho de 2008.

Até sempre, Pepito!


PS - Acabamos de saber, através da família, que o funeral é amanhã, às 16h00, no Cemitério de Barcarena, Oeiras (Rua Elias Garcia, EM 1351) [Vd. aqui localização no mapa]. O corpo será velado apenas pela família em cerimónia privada.


2. Texto autobiográfico > A sombra do pau torto  (****)
por Carlos Schwarz, 'Pepito'

Julho de  2008

Aos meus Pais,
Clara Schwarz e Artur Augusto
que me transmitiram
a necessidade de recomeçar sempre,
ensinando-me a aprender
com a História da nossa Família.


[Negritos da responsabilidade do editor, LG]

2.1. A EUFORIA DOS PRIMEIROS ANOS


Às 2 horas da tarde daquele dia 26 de Maio de 1975, aterrávamos em Bissau. A Isabel e eu, pais da nossa ainda única filha, Cristina (**), aproveitávamos a boleia do último avião militar português que se deslocava ao jovem país independente para transportar, de regresso à ex-metrópole colonial, o resto de quase 500 anos de presença portuguesa na costa da Guiné.

A alegria de voltar a pisar solo africano fez esquecer o calor tórrido e húmido desta época do ano. A Guiné-Bissau declarara em Setembro de 1973 a sua independência, ainda em plena luta de guerrilha, e agora, menos de 2 anos depois era o País de todas as esperanças.

De um amontoado de casernas militares espalhadas por todo o lado, havia que construir um país de paz e progresso, com a mesma coragem com que um reduzido grupo de 5 homens havia iniciado e liderado, 20 anos antes, uma epopeia libertadora do colonialismo, em que poucos na altura acreditavam.

Como agrónomos entrámos no Ministério da Agricultura, na altura designado por Comissariado. Passámos os primeiros dias sentados num gabinete à espera que a direcção do Ministério decidisse onde iríamos ser “colocados” e o que iríamos fazer. Com o início da campanha agrícola, começou a distribuição de sementes de arroz e mancarra aos agricultores que tinham regressado ao país depois da guerra, vindos dos países vizinhos, e que precisavam delas para a produção alimentar.

Ofereci-me para essa missão e é assim que após uma primeira paragem em Bafatá para distribuir sementes de arroz, carrego 20 toneladas de mancarra com destino a Catió, sul da Guiné-Bissau. Ao chegar a Bambadinca, o condutor do camião redobra de cuidados e atenções. É que, na mesma estrada que ligava a Xitole e depois a Saltinho, tinham “saltado” poucos dias antes, 2 camiões dos “Armazéns do Povo” que se desviaram ligeiramente das bermas da estrada e pisado uma mina.


De olhos esbugalhados, não era só o condutor a dirigir o camião. Também eu o conduzia, sem pestanejar, mas sem pedal nem volante. Era o meu baptismo de “fogo” nas estradas da Guiné-Bissau que continuaram durante alguns anos a ameaçar todos os que a utilizavam, sem que isso impedisse os técnicos de abdicarem das suas missões patrióticas.

Nessa altura fazíamos tudo e ainda nos sobrava tempo. À noite dava aulas de Geografia no Liceu Nacional Kwame N’Kruma para os trabalhadores, enquanto de manhã participava na campanha de protecção da cultura do arroz invadida por uma praga de brocas que estava a pôr a produção alimentar em causa, para voltar à noite a integrar as numerosas equipas de jovens que procuravam neutralizar a invasão de grilos.

É nessa altura que conheço Djibril Aw, agrónomo maliano e especialista de arroz na ADRAO, que marcou decisivamente a minha concepção e atitude profissional. Com um profundo conhecimento da orizicultura africana, uma argumentação técnica clara e convicta, um notável sentido organizativo e uma prática baseada na percepção que os agricultores tinham da sua actividade e das condições em que trabalhavam, não centrada nos “gabinetes de trabalho” [onde], afirmava, se devia passar apenas o mínimo tempo necessário.

Foi ele que me conduziu à paixão pela orizicultura e seus sistemas de cultura, pela história do arroz africano, pela pesquisa e experimentação varietal, pelo estudo e compreensão do conhecimento ancestral dos povos guineenses que o praticam. Ensinou-me a exigência de nós, técnicos, sermos pragmáticos e concretos nas propostas que fazemos aos agricultores. Fez-me ver a importância e necessidade de conhecer as experiências e avanços dos países da zona, como forma de evitar perdas de tempo e meios, sobretudo para um país tão carente como a Guiné-Bissau. Visitei e conheci o Ghana, Mali, Guiné-Conakry, Nigéria, Burkina Faso, Senegal, Costa do Marfim, Libéria, Serra Leoa.

Levou-me a perceber que nas nossas circunstâncias, o essencial não é inventar, mas que a obra do artista se vê através da capacidade que ele tem em adaptar no seu país, as ideias e soluções que outros encontraram ou estão a desenvolver. O que aprendi com Djibril Aw foi determinante para a criação do primeiro departamento técnico do então Comissariado, o DEPA.

Percebendo que se ficasse à espera de directivas dos dirigentes, nunca sairia do ciclo de actividades avulsas e ocasionais prevalecentes, decidi iniciar em Dezembro de 1975, um programa de ensaios de arroz, a partir de 15 variedades fornecidas pela ADRAO. Negociei com a Central Eléctrica de Bissau, a título de empréstimo, um pequeno terreno e água desperdiçada. Era a primeira vez na minha vida que semeava qualquer coisa. Como técnico recém-formado estava em pânico, oscilando entre a falta de confiança no resultado e a expectativa de vir a ser um sucesso.

Já com a totalidade das variedades em plena floração, convido o Sub-Comissário para visitar o campo de ensaios.

À entrada do campo uma tabuleta dizia DEPA. Ele não olhou para o ensaio, fixou-se na tabuleta.
- O que é isto? - perguntou.
- É o Departamento de Experimentação e Produção de Arroz que criámos - respondi eu.
- E quem é que deu autorização para este nome?
- Escolha então você um outro - concluí eu.

Foi a partir daí que me comecei a aperceber do crime que havia sido cometido com a formação de quadros nos países do bloco soviético. Não do ponto de vista técnico, mas da cultura de passividade que “inculcava” ou “impunha” aos seus formandos. Saía-se de lá com o espírito de obediência passiva aos chefes, esperando sempre “directivas” vindas do alto sem nunca se estimular a capacidade criadora e inventiva dos técnicos, sob pena da mesma poder ser considerada um atentado à autoridade dos chefes e no interesse em substituí-los.

Os primeiros anos foram vividos neste clima, tendo mesmo um grupo destes técnicos, acabado por escrever um opúsculo intitulado “Os bem e os mal servidos do Ministério da Agricultura”. Aqui os técnicos eram divididos entre “socialistas”, os que estudaram nos países de Leste, e “capitalistas”, os que vinham de Lisboa.

Sucede que logo a seguir ao DEPA outros departamentos foram sendo criados, todos eles por técnicos que estudaram em Portugal e que traziam consigo a prática do “desenrascanso”, isto é, de não ficarem à espera que lhes dessem condições, mas serem eles próprios a criá-las. Esta postura havia sido adquirida nos movimentos estudantis e nas associações de estudantes geridas por recursos engendrados e inventados pela capacidade criadora dos líderes associativos para contrabalançar as perseguições políticas e o não-apoio do governo fascista português. Isto poderá ajudar a explicar a razão pela qual, apesar de ter havido tantos quadros técnicos superiores e médios, à quase totalidade vinda do Leste não tivesse correspondido um avanço dos programas de desenvolvimento agrícola.

É assim que, sem consultar nenhum dirigente superior do Ministério, não por querer pôr em causa a sua autoridade, mas apenas para evitar os bloqueios burocráticos que certamente seriam colocados, o DEPA cria em Janeiro de 1977 o Centro Nacional de Experimentação e Multiplicação de Arroz de Contuboel, junto ao rio Geba no Leste do País, e a Estação Orizícola de Caboxanque, em Maio de 1977, no Sul.

Era a primeira vez na história da Guiné-Bissau que se criavam dois centros de pesquisa vocacionados, numa primeira fase para a cultura de arroz e numa segunda para as outras espécies alimentares (feijão, mandioca, milho, sorgo, milheto, etc.).

Com base no que a equipa inicial do DEPA, o Alcalá Barbosa, o Malam Sadjo, o Joaquim Dias N’Djai e o Manlafi Mané, viu em Richard-Toll, no delta do rio Senegal, deu-se início pela primeira vez no país, em Janeiro de 77, à cultura do arroz na época seca. Das 300 famílias de agricultores que se inscreveram, apenas 12 iniciaram a preparação do terreno, a lavoura e a sementeira em viveiro. Todos os dias levantavam-se cedo e iam para os campos trabalhar. Atravessavam o centro da vila de Contuboel, ouvindo bocas de outros agricultores que não acreditavam que “o arroz se pudesse desenvolver sem receber água de cima”, isto é, sem ser das chuvas. Foram postas à prova as suas convicções ao ouvirem dizer diariamente que “estavam a trabalhar para nada” e “cansavam-se para acabar com o cérebro feito em pó”; era um teste às suas convicções e resistência.

Em Maio inicia-se a colheita. Uma excelente produção. Muito arroz num momento em que ninguém já tinha reservas de arroz em casa. Então os agricultores das 12 famílias passaram a sentar-se no mercado central, silenciosos, com os balaios (cestas) de arroz novo à frente, a ver os anteriormente descrentes, a correrem aflitos para as lojas a tentar comprar este cereal, base da sua alimentação. O olhar irónico e feliz dos que haviam sido postos à prova era uma verdadeira vitória que contagiou todos em especial nas tabancas à volta. Em 1990 eram já 12.500 pessoas envolvidas na dupla produção de arroz ao longo da bacia do rio Geba.


Tabanca de São Martinho do Porto > 21 de agosto de 2010 > Além de saber bem receber os seus amigos (na casa de verão da família, na praia de São Martinho do Porto onde passava férias, em agosto; ou em Bissau, na sua casa  do bairro do Quelelé), o Pepito tinha também uma  paixão clubística que o ligava, umbilicalmente, a Portugal: era uma adepto, afável, leal, constante, do SCP - Sporting Clube de Portugal... Nos bons e nos maus momentos, como de resto foi a sua vida de homem livre e de lutador de grandes causas.

Foto e legenda: © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados.


2.2. A POLÍTICA DA DESILUSÃO

Amílcar Cabral, a nossa maior referência política, parecia adivinhar os efeitos que Bissau iria provocar nas convicções dos dirigentes políticos do Partido que havia liderado a luta pela independência, o PAIGC. Analisou como ninguém as falsas partidas das independências concedidas pelas potências colonizadoras europeias às suas colónias, nos anos 60. Seguiu e apercebeu-se em directo das atribulações de Sekou Turé na construção de um país que resvalou rapidamente para o autoritarismo, a repressão popular e as divisões étnicas.

Porque conhecia de avanço os perigos e escolhas com que a Guiné-Bissau se iria confrontar depois da libertação total do país e porque sentia que a guerra estava militarmente ganha, Amílcar Cabral dedicou os seus últimos anos de vida à procura de um modelo de organização de Estado que minimizasse os perigos que decorreriam de um sistema organizativo baseado no modelo autoritário, fosse ele colonial ou pós-independente.

Percebeu, antes de todos os outros, que Bissau poderia ser o princípio do fim dos valores de dedicação à causa popular, à solidariedade ideológica e a uma postura de vida baseada em princípios de dignidade e respeito. Chegou a equacionar a possibilidade de cada Ministério ser colocado em cada uma das oito capitais de região, como forma de promover um desenvolvimento descentralizado.

Não teve tempo para desenvolver este conceito. Foi assassinado em 1973 a mando de Spínola, com a conivência expressa ou por omissão de muitos outros sectores, entre os quais militantes do PAIGC e políticos da Guiné-Conakry que não toleravam a sua independência de pensamento e acção. O que é certo é que, ao entrar em Bissau, os líderes e quadros do PAIGC decidiram-se pelo repouso do guerreiro, não resistindo ao charme fatal de uma forma de vida cantada pelas sereias do tempo perdido.

Quando chego a Bissau em 1975, trazia comigo uma carta de apresentação de militante do PAIGC da célula de Lisboa, assinada pelo seu responsável, o caboverdiano Santana. Guardei-a sempre comigo. Apenas via nela um certificado da minha militância e não um atestado para ascender às instâncias superiores do Partido. Perdi-a em 1998 no conflito político-militar.

Assim comecei a militar na Juventude do Partido, a JAAC, onde conheci o melhor dirigente político que alguma vez me dirigiu: João da Costa. Homem de uma cultura fora do vulgar, sempre adoptou uma postura analítica e crítica em relação ao seu próprio partido, à acção dos combatentes da liberdade da pátria, à interpretação da História.

Com virtudes humanas excepcionais e grande capacidade de liderança, com ele aprendi muito do que sei sobre a criação de equipas de trabalho, a sua motivação, a democracia de ser sempre o último a falar e a tomar posições permitindo a cada um colocar as suas perguntas e exprimir as suas ideias. Intransigente na salvaguarda da dignidade e na disciplina, cultivava um relacionamento humano em que a amizade assumia sempre um lugar de primazia.

Recusando-se sempre a “vender a alma ao diabo”, é perseguido sistematicamente nos anos 80 e 90, com falsas acusações de tentativa de golpes de estado, defendido por um advogado vendido ao poder, acaba por morrer durante o conflito político militar de 1998-99. Continua a servir-me de referência de postura e coerência política.

A minha maior desilusão partidária acontece com o Golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980. Aos 30 anos de idade, da ideia que fazia do PAIGC, não cabia a resolução interna de problemas políticos de forma violenta. O debate devia sempre prevalecer. Neste caso, era o Primeiro Ministro [, João Bernardo 'Nino' Vieira, ] que dava um golpe ao Presidente [Luís Cabral,] que o havia escolhido, sem nunca o contestar abertamente ou nas instâncias do Partido.

Acabei por perceber mais tarde que, na realidade, o que estava em causa não eram divergências políticas, mas o assalto ao poder de uma ala retrógrada que havia perdido essa mesma batalha, sete anos antes, no assassinato de Amílcar Cabral. Incapaz de aceitar estes processos, dois meses mais tarde peço a demissão de dirigente da Juventude do Partido e abandono a vida partidária para me concentrar unicamente na luta política.

Outro momento duro de “engolir” veio alguns anos depois quando o Comandante Paulo Correia, combatente da luta pela independência é por duas vezes seguidas falsamente acusado de tentativa de golpe de estado, acabando miseravelmente assassinado por quem foi seu companheiro de armas durante longos anos.

Conheci Paulo Correia quando ele, depois de ter sido acusado pela primeira vez de tentativa de golpe de estado, é retirado de Ministro da Defesa e passa a Ministro da Agricultura.

Um dia, estando a passar férias em Lisboa, sou informado por um técnico do DEPA que um director do Ministério tinha desencadeado um ataque em força contra o DEPA, acusando-o de ser um “Estado dentro do Estado”, de não obedecer a ninguém e que tinha chegado a hora de pôr tudo na ordem. Regresso a Bissau e profundamente exaltado entro no gabinete do Ministro Paulo Correia a quem exponho de um só fôlego o meu protesto e revolta. Ouviu-me com atenção e toda a calma deste mundo.

Deixou-me acabar e não respondeu. Falou-me então durante uma hora, com todos os detalhes, sobre a forma como falsamente o envolveram na inventona de golpe de estado de que fora acusado. No fim olha para mim e diz: “já notaste que, depois disto tudo, estou aqui calmo e tranquilo?”. Acabara de me dar a resposta à minha revolta. Na realidade qual era a gravidade do meu caso, quando comparado com o dele, esse sim uma monstruosidade pelas consequências que viria a ter.

Saí com ele em visitas ao estrangeiro e habituei-me a apreciá-lo muito. Sempre o considerei como o melhor Ministro da Agricultura que tive, curiosamente o único que, por não ser agrónomo, fazia questão de ouvir todos antes de tirar as suas conclusões. Acabou por sair dali directamente para as masmorras da polícia onde foi assassinado conjuntamente com alguns outros combatentes pela independência.

Com o Golpe de 14 de Novembro de 1980 reintroduziu-se na história da Guiné a divisão étnica: no início a divisão era entre cabo-verdianos, apelidados de cavaleiros, e guineenses, chamados de cavalos. Esquecendo-se os seus promotores que uma vez estabelecida a primeira divisão étnica, outras se lhe seguiriam, surge a estigmatização dos balantas, tanto mística com o fenómeno iang-iang, como política com o caso Paulo Correia, prosseguindo com a divisão entre muçulmanos e animistas, e mais recentemente entre os naturais da cidade e os da tabanca. Tudo isto em função da conveniência e interesse da estratégia do líder político da ocasião.

Kumba Ialá, que viria a ser mais tarde Presidente, revelou-se neste domínio o maior, indo buscar algumas das carecterísticas menos ricas da idiossincrasia balanta, unificou-os à volta de conceitos demagógicos e populistas, em contraponto aos tempos idos de 'Nino' Vieira em que os membros do governo pouco variavam, limitando-se os seus titulares a mudarem de cadeira. Nessa ocasião, lembro-me de um Ministro que, com três pastas num só ano, bateu o recorde olímpico nacional.

Já o antigo animista Kumba Ialá, travestido agora de muçulmano com a designação de Mohamed Ialá Embaló, introduziu pela primeira vez o conceito de acesso universal ao governo, isto é, passou a promover a entrada para o governo de todos os cidadãos que se julgassem capazes e predispostos a serem ministros. Analfabetos houve que aproveitaram a ocasião… A partir dos anos 2000 assistiu-se à mais louca gestão de um Estado, de que há memória. No fundo até durou pouco tempo… porque, entretanto, o Estado desapareceu!

Foi nesse período em que tudo valia, que um dia, deixaram “cair” perto do meu local de trabalho um bilhete anónimo que dizia: ”neste fim de semana vais sofrer um atentado para te matarem”. Entendi isso apenas como uma tentativa de intimidação. Todavia, às 3 horas da madrugada desse dia, três ninjas (polícia especial armada), acorrentavam o velho guarda da casa e iniciam a tentativa de demolição das janelas. Só a intervenção determinante do nosso vizinho, Nelson Dias, nos salvou, a mim e à Isabel, perante o completo desinteresse da polícia que se escusara a prestar socorro. Os assaltantes, esses, nunca foram punidos, embora saiba que a polícia os identificou.



Tabanca de São Martinho do Porto > 13 de agosto de 2011 > O Pepito folheando, sob o olhar atento da sua mãe, Clara Schwarz, o livro sobre a baía de São Martinho do Porto, que lhe ofereceu o seu vizinho (e tabanqueiro) JERO, obra da autoria de Maria Cândida Proença (ed lit) [A Baía de São Martinho do Porto. Aspectos geográficos e históricos.Lisboa, Colibri, 2005].  A casa da família Schwarz é uma das mais antigas de São Martinho do Porto, remontando aos anos 20/30 do século passado.

Foto e legenda: © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados.

2.3. O DESENVOLVIMENTO NO SEU LABIRINTO

Em 1991, incluído num grupo de guineenses do qual faziam parte José Filipe Fonseca, Nelson Dias, Isabel Miranda, Roberto Quessangue e Rui Miranda, entre outros, criámos uma organização não-governamental, a Acção para o Desenvolvimento (AD), que pretendia promover uma ética de desenvolvimento local centrada no homem e não no crescimento económico. A AD surgia assim para dar continuidade e potenciar de forma mais aberta as actividades de vulgarização do DEPA.

Num país de cerca de um milhão e meio de almas, onde coabitam 32 etnias, cada uma delas com as suas próprias culturas, organização social e sistemas de produção específicos, é entusiasmante ir descobrindo as suas diferentes lógicas de desenvolvimento e ao mesmo tempo participar com elas na procura de novos caminhos para o seu progresso.

Ao longo do trabalho nas zonas rurais fui-me apercebendo do quão errados e inadaptados são os métodos de concepção de desenvolvimento baseados na introdução dos chamados pacotes tecnológicos ou da visão estanque da promoção por culturas sem a compreensão dos sistemas de produção. A fraca capacidade dos pequenos agricultores impede-os de aderir à série de medidas propostas pelo pacote, o qual exige muito maiores recursos financeiros do que dispõem, ao uso de novas tecnologias que ultrapassam os meios humanos sobretudo familiares, e à mudança radical nos sistemas de cultura e produção, que vêm subverter profundamente os métodos tradicionais, impedindo o pequeno agricultor de controlar e gerir o seu próprio sistema de produção.

Mais difícil e eficaz é aliar uma boa capacidade de observação dos problemas com que os agricultores se debatem, aos diálogos informais com eles e usando o feelling que os agentes de desenvolvimento devem cultivar. Isto ajuda a compreensão do problema prioritário que se coloca e a procura de uma solução técnica ou tecnológica que se adapta ao seu modo de vida e trabalho.

Ouvi a muitos, sobretudo vindos de fora, que o nosso papel, enquanto agrónomos, é o de satisfazer as solicitações dos agricultores, elevando estes à categoria de semi-deuses, que tudo sabem e a quem tudo deve ser concedido. Creio que nada de mais errado existe. A postura mais realista e consequente é aquela em que o relacionamento entre agricultor e técnico se faz com os olhos situados ao mesmo nível, reconhecendo ambos que só da valorização dos dois tipos de conhecimentos, os tradicionais e os mais modernos, poderá haver avanço e progresso, construindo uma parceria baseada no respeito e complementaridade.

Alguns diletantes das questões do desenvolvimento partem do pressuposto que os agricultores tudo sabem e que as tabancas são um mar calmo sem conflitos e contradições internas, que os técnicos vêm subverter e perturbar com modernices. Em 1963, meu pai, Artur Augusto da Silva, no seu texto Pequena viagem através de África, já se referia a este tipo de pessoas que, com uma visão falsa e deformada, mal aportam à Guiné-Bissau ou a África em geral, começam logo a perorar e a fazer afirmações definitivas de quem já tudo aprendeu e tudo sabe.

Contava ele que “… ainda há poucos anos corriam na África Ocidental Francesa, umas notas de mil francos onde se via, em atitude de herói cinematográfico, um europeu, de largo chapeleirão colonial, camisa folgada, calções curtos e umas imponentes botas altas, empunhando uma arma e, arrogantemente, pisando um leão morto. Podemos dizer: a verdade da imagem correspondia ao exíguo valor da nota”.

Assim tenho visto passar pela Guiné-Bissau autênticas romarias de especialistas, pomposa designação que alguns se dão a si próprios ou que certas organizações internacionais atribuem a estes turistas do desenvolvimento. Lembro-me de um, do Banco Mundial, que feliz como uma criança dizia: “Aqui na Guiné-Bissau, sinto-me como o Pai Natal a distribuir presentes, dou dinheiro aqui, mais alí…”. Outros arranjam subsídios vitalícios para “turistarem” pela Guiné fora, recolherem duas ou três declarações avulsas, incluírem seis ou sete da sua autoria que muito ajudam a sustentarem e comprovarem as suas teses de partida que de forma cientificamente desonesta nunca ousam pôr em causa. À segunda publicação são já considerados especialistas, o que lhes permite frequentar e pavonear-se em colóquios e conferências internacionais afirmando a sua pesporrência científica.

No domínio do desenvolvimento rural, perfilhei desde o início a escola francesa, baseada numa visão global do território de desenvolvimento, da inclusão camponesa na pesquisa rural e na procura e seguimento do agricultor “fora-do-tipo”, como inovador de uma solução para um problema técnico, económico ou social que atinge uma comunidade. O facto deste último utilizar um sistema diferente pode significar que ele esteja a procurar a solução para o problema da falta de água, ou da diminuição da mão-de-obra familiar disponível, ou da falta de recursos financeiros para manter a sua unidade agrícola.

Como exemplo de um caso destes, recordo-me de um agricultor que redescobriu um processo de rega gota-a-gota, usando para isso uma grande cabaça de um fruto silvestre, por baixo da qual fez dois pequenos furos por onde escoava lenta e regularmente um fio de água que regava as suas bananeiras. Tinha encontrado, sozinho, uma forma de economizar a pouca água de que dispunha e respondido à reduzida quantidade de mão-de-obra familiar que não tinha na sua exploração.

Já de sentido inverso, a introdução nas tabancas de pequenas unidades de descasque de arroz e que representaram uma autêntica revolução para as mulheres, resultou exclusivamente da capacidade dos técnicos em identificar uma tecnologia localmente desconhecida que viesse aligeirar o seu penoso esforço físico de pilar o arroz, ganhar cerca de duas a três horas diárias de tempo que as mulheres passaram a utilizar noutras actividades sociais e produtivas, e a promover o associativismo de tipo mais moderno a nível das comunidades. Com estas descascadoras, as mulheres passaram a assumir-se como pessoas livres, afirmando-se que agora também elas se tinham libertado do seu colonialista: o pilão.

Uma das maiores dificuldades com que nos deparamos actualmente nos processos de desenvolvimento, é a da tentativa dos financiadores do Norte em padronizar, à sua imagem e semelhança, consideradas como modelos exemplares e de reprodução local necessária, métodos de programação, de intervenção, de organização e de avaliação, como se o progresso da humanidade se fizesse com roupagem pronto-a-vestir, informatizada ou robotorizada, e não com abordagens específicas caso a caso. A mudança de atitude de algumas organizações parceiras parecem querer abandonar a antiga cumplicidade existente na defesa de políticas progressistas de luta pelas populações mais excluídas e no combate político por uma sociedade mais justa, progressiva e solidária, para se deixarem deslumbrar e seduzir pelos modelos de organização e prioridades administrativo-financeiras de tipo neoliberal.

Tem-se a ideia de que certas ONG do norte se perderam no caminho, deixaram de crer nas suas vocações e se docilizaram perante as suas fontes de financiamento, assumindo um mero papel de executores, bons e baratos, das suas políticas governamentais. Para digerir o purgante, algumas passam anos a reestruturarem-se em termos de finalidades e formas organizativas, alimentando o espírito com supostos desafios novos, e acabamos por ter a sensação que, para essas organizações o essencial é que nós funcionemos administrativamente bem, em vez da obtenção de resultados que melhorem as condições de vida das comunidades locais.

Já a nível interno, do próprio país, certas elites políticas e intelectuais persistem numa cultura de recusa da discussão das grandes opções de desenvolvimento, da melhor forma de acabar com a pobreza e dos novos caminhos a trilhar, para se concentrarem nas formas de atingir um poder que sabem efémero e para o qual utilizam todos os meios, mesmo que violentos.

Esta situação assume proporções dramáticas quando se avalia o seu impacto junto das comunidades locais que apreendem rapidamente os sinais dessa cultura de confronto e intolerância e dela se começam a apropriar, introduzindo nas suas práticas as lógicas e os vícios que elas consigo transportam, traduzidos no recurso frequente à violência no seio das famílias e das tabancas como forma de resolver os problemas e contradições ou o obscurantismo da caça a pessoas normais acusadas de bruxaria. Surgem então as tendências tribalistas, de violência gratuita e ignorância.

Pratica-se hoje uma “amnistia sem rosto” para encobrir crimes que se foram cometendo ao longo destes anos, sem identificar e julgar os seus autores, erigindo a impunidade como objectivo político e valor cultural. Como ninguém foi condenado ou se assume como culpado, esta amnistia acaba por cobrir todos e ninguém, tanto os crimes políticos como os de sangue. Os que amanhã vierem a cometer quaisquer actos ilícitos, reclamarão os mesmos direitos que os seus antecessores tiveram, porque “para crime igual, impunidade igual”.

Quando em 1991, o ministro da agricultura de serviço resolveu impunemente aboletar-se com património do Estado e transferir o meio de transporte da coordenadora da pesquisa agrária do DEPA para o seu filho menor poder deslocar-se à escola, isto perante a completa passividade do governo, decidi abandonar a administração pública. Revoltado, expliquei a todos os agricultores e comunidades rurais com quem trabalhava, os contornos da arbitrariedade e a irreversibilidade da minha atitude. É então em Quebo que um velho Homem Grande e amigo me escuta com toda a atenção e perante a minha exaltação diz: “Nota que criaste demasiadas expectativas em relação a quem era e sempre foi medíocre. Julgaste ver o que não existia. Não te esqueças que a sombra de um pau torto nunca pode ser uma linha direita.”

Começava aí para mim, mais uma vez, uma nova vida, onde continuei a procurar viver os desafios do meu tempo. Depois do combate ao fascismo e colonialismo em Portugal, a luta pela instauração da democracia na Guiné-Bissau, a procura de caminhos alternativos ao neoliberalismo para um desenvolvimento justo e solidário e a participação no combate internacional à globalização enquanto expressão de desigualdades, exclusão e pobreza.

Na AD, a luta de uma organização que quer ser “ela própria” e não uma agência de execução de projectos ou de promoção de modas e clichés, sejam eles o ambiente, o género, a luta contra a pobreza, os desafios do milénio, etc... Colocarmo-nos lado a lado com as organizações progressistas do mundo, que se assumem com desafios de mudança, de procura de justiça social e de solidariedade entre as pessoas, povos e nações, integrando estas acções num ambicioso processo político de envolvimento dos actores locais na procura de respostas democráticas aos desafios do seu próprio desenvolvimento, na identificação de novas formas de organização do Estado que substitua o esclerosado e anacrónico aparelho herdado do colonialismo e retomado por um centralismo democrático, em tudo semelhantes.

O desenvolvimento implica ousar trilhar caminhos novos porque, no dizer do poeta, ao andar-se por caminhos já abertos e conhecidos não se perde nenhuma guerra, mas também não se ganha nada. É gratificante ter-se sido contemporâneo de um grupo de excelentes quadros que contribuíram para o surgimento e sucesso das primeiras vinte e cinco rádios e três televisões comunitárias da Guiné-Bissau que representam hoje a vanguarda neste domínio nos países africanos de expressão portuguesa; para a criação de escolas de tipo novo, designadas de verificação ambiental (EVA) em que é introduzido o princípio da prestação de serviços da escola à comunidade, a capacitação dos professores em ecopedagogia e a sua apropriação pelas populações rurais; o surgimento das primeiras associação de moradores dos bairros populares de Bissau.

Provavelmente um dos segredos do sucesso reside na capacidade de vivermos no coração das comunidades locais, tendo com elas o nosso único compromisso, sabendo identificar os seus problemas e anseios e, com eles, criar dinâmicas de apropriação de processos em que vão crescendo e amadurecendo. Este êxito decorre muito da postura de respeito, simplicidade de procedimentos e forte espírito de missão cultivado de forma natural pelos técnicos.

Outro segredo, poderá ser o facto de a imagem de eficácia resultar da não hipoteca dos resultados a discussões infindáveis e estéreis sobre procedimentos, tão do agrado dos que estão habituados a fazer o desenvolvimento a partir de manuais e computadores, menosprezando a capacidade das comunidades locais em elaborar e conceber elas próprias os seus procedimentos de análise e decisão.



Guiné-Bissau > Bissau >  Bairro do Quelelé > 20 de dezembro de 2009>  Pepito, Isabel e a neta, filha da Cristina (Pepas)... Na festa de despedida do João Graça, médico e músico (que acabaca de passar duas semanas na Guiné-Bissau) e de celebração dos 37 anos de casados do... casal Silva...

Este lado mais intimista de um homem público mostra a sua faceta de pai dedicado e de avô babado... O casa tem 3 filhos e 2 netas, que por certo irão sempre honrar a memória e partilhar o melhor dos valores e do exemplo de vida do seu pai e avô. Foi ele próprio que escreveu, em julho de 2008: "Hoje as nossas duas netas, Sara e Clara, sabem que desistir é perder e recomeçar é vencer."

Foto:  © João Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legenda: LG]


2.4. RENASCER SEMPRE

Em 1948, um ano antes de eu nascer o meu pai regressava à Guiné-Bissau, onde vivera em Farim a sua infância e, onde tal como os meus avós que lá haviam aportado no final do século XIX, se prendeu pelos encantos e tranquilidade destas paragens. Pressionado pela perseguição política da Ditadura de Salazar e desiludido com a derrota do Movimento de Unidade Democrática [MUD], procura em África aquela paz de consciência que o mundo europeu não lhe podia dar.

Com a minha mãe Clara e meus irmãos Henrique e João volta a nascer, entusiasmado com esta terra e suas gentes, tal como a família dos meus avós maternos renasceram do Gueto de Varsóvia e dos campos de concentração nazis. Saem da Polónia para Portugal para tudo começar de novo.

Já em 1966, a polícia política de Salazar prende-o no aeroporto de Lisboa acusando-o de ser membro do Partido que lutava pela independência da Guiné e Cabo verde, o PAIGC. Liberta-o cinco meses depois, impedindo-o de regressar a Bissau e obrigando-o a recomeçar uma nova vida.

No dia 24 de Setembro de 1973, em casa dos nossos camaradas caboverdianos Manuela e Sabino somos acometidos por uma alegria enorme ao ouvir na rádio BBC a notícia da declaração da Independência da Guiné-Bissau. Meio ano depois, no final da tarde do dia 25 de Abril de 1974, a Isabel e eu estávamos no cerco ao Quartel do Carmo, testemunhando a queda de 48 anos de fascismo e de quase 500 de colonialismo.

Um ano depois estamos, entusiasmados, em Bissau a começar a nossa vida. Primeiro com a Cristina, a nossa primeira filha e logo a seguir com o Ivan nascido em 1975 e a Catarina em 1980. Muitos anos depois, mais exactamente 18, o país é abalado por um violento conflito politico-militar. Os senegaleses, invasores, ocupam, pilham e destroem a nossa casa no bairro de Quelele. Somos obrigados a refugiarmo-nos em Lisboa. Quando 11 meses depois regressamos, não existe pedra sobre pedra das nossas memórias: fotografias, filmes, livros, recordações de toda a vida, haviam desaparecido.

Recomeçámos tudo mais uma vez, menos por convicção, mais por tradição. Hoje as nossas duas netas, Sara e Clara, sabem que desistir é perder e recomeçar é vencer.
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Notas do autor:

AD - Acção para o Desenvolvimento, ONG guineense
ADRAO - Associação para o Desenvolvimento da Orizicultura na África Ocidental
DEPA - Departamento de Experimentação e Pesquisa Agrícola
Homem Grande - Sábio
Iang-iang- Movimento místico-religioso protagonizado por balantas
JAAC - Juventude Africana Amílcar Cabral
Mancarra - Amendoim
PAIGC - Partido Africano da Independência de Guiné e Cabo Verde
Tabanca - Aldeia
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Notas de L.G.:

(*) Último poste da série >  12 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12711: In Memoriam (177): Senhora Dona Maria da Graça (1922-2014), mãe do nosso editor Luís Graça

(**) Vd. poste de 8 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12695: (In)citações (61): Pepito, Clara, Isabel, estamos convosco! ...E fazemos votos para que o bom irã, acocorado no alto do poilão da nossa Tabanca Grande, ajude a dar força, ânimo e esperança à família Schwarz, nesta hora difícil (Luís Graça)

(***) 14 de fevereiro de 2014 >  Guiné 63/74 - P12715: Parabéns a você (691): Senhora Dona Clara Schwarz, Grã-Tabanqueira, mãe do nosso amigo Pepito, que a partir de hoje fica a um pequeno passo do seu centenário

(****) 31 de julho de  2008 > Guiné 63/74 - P3101: História de vida (12): Desistir é perder, recomeçar é vencer (Carlos Schwarz, 'Pepito', para os amigos)31 DE JULHO DE 2008d. poste de 

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12695: (In)citações (61): Pepito, Clara, Isabel, estamos convosco! ...E fazemos votos para que o bom irã, acocorado no alto do poilão da nossa Tabanca Grande, ajude a dar força, ânimo e esperança à família Schwarz, nesta hora difícil (Luís Graça)


Lisboa > Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa > 9 de setembro de 2007 > O Pepito quando, há uns anos atrás, me foi visitar ao meu local de trabalho... Tirei-lhe uma foto mesmo debaixo de uma palmeira, para dar lhe dar um ar africanista... Coisa que ele não é: é guineense, nado e craido na Guiné, desde 1949... E tem uma vida e uma obra inteiramente dedicadas ao seu país, que ele ama demais, ao ponto de se esquecer, muitas vezes, da sua saúde, segurança e bem-estar.  Sua, e da sua família: é casado com a também nossa grã-tabanqueira, portuguesa, Isabel Levy Ribeiro. Ambos são engenheiros agrónomos, formados pelo Instituto Superior de Agronomia da Universidade  de Lisboa. Carlos Schwarz da Silva, de seu nome completo, Pepito, para os amigos, é filho de Artur Augusto Silva  (1912-1983) e de Clara Schwarz (n. 1915). Em Bissau, o casal tem duas filhas e uma neta. E em Portugal um filho e mais uma neta.

Foto (e legenda) : © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados.


1. Perguntava eu, há dias, a 30 de janeiro último, ao Pepito, se ele cá vinha aos anos da mãe, como é habitual... Eis a resposta que me deu:

Amigo Luís:

Vou de facto para o aniversário da minha mãe (dia 14), mas sobretudo para varrer os hospitais e ficar de papo para o ar. É que estou com uma crise de hepatite que me dá dores e me tem cansado 24 horas por dia. Os médicos que consultei exigiram todos: REPOUSO. Para mim isso não é tratamento, mas castigo. Como tenho culpas no cartório, sou obrigado a obedecer. (...)



Clara Schwarz (n. 1915)
2. Há umas horas atrás, sou surpreendido por um telefonema do Eduardo Costa Dias,  antropólogo do ISCTE, nosso gra-tabanqueiro, e amigo comum, meu e do Pepito, dizendo-me que este acabara de chegar a Lisboa e de ser internado no Hospital Curry Cabral, o que depois confirmei, eu e a Alice, ao telefonarmos para a pobre da Isabel, que está com uma grande carga em cima, e que precisa de uma palavra amiga: é que, além do Pepito, com uma crise de hepatite A (que é o preço que se paga por se viver numa Guiné palúdica e sem serviços de saúde!), a sua mãe, a Dona Clara Schwarz, a decana da nossa Tabanca Grande [, foto à esquerda], à  beira de fazer 99 anos,  caiu há três ou quatro  dias, partiu um braço e está também internada  (, no Hospital de Santana)...

Um azar, quando nos bate à porta,  parece que nunca vem só!

3. Em cima destas notícias, que nos deixam tristes e preocupados, eu só quero desejar ao meu/nosso amigo Pepito e à sua querida mãe a melhor  recuperação possível.  Sabemos que o Pepito é uma força da natureza, mas vamos agora incentivá-lo a descansar, a convalescer, a deixar tratar-se, a acatar a prescrição médica...

Vamos estar em contacto com a Isabel, fazendo votos para que o bom irã, acocorado no alto do poilão da nossa Tabanca Grande, ajude a dar força, ânimo e esperança à família Schwarz e aos seus amigos... Acabo de receber também um mail do Zé Teixeiro, preocupado  naturalmente com a situação do Pepito e da sua mãe. 

Pepito, Clara, estamos convosco!... Pepito, estás entregue em boas mãos. E estás na terra onde nasceu a tua mãe e onde tens muitos e bons amigos. Sê paciente, coragem! Nunca te esqueças da tua própria divisa, que é também inspiradora para todos nós: "Desistir é perder, recomeçar é  vencer!".

Um alfabravo apertado, de toda a malta amiga, aqui da Tabanca Grande. Luis

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Nota do editor:

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12656: (In)citações (60): Reserva Transfronteiriça de Elefantes em N' Gaduro, perto de Gadamael, junto à fronteira (Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Sanconhá > 6 e 7 de dezembro de 2013 >  2º Ateliê  ambiental transfronteiriço, envolvendo técnicos, populações e organizações de um lado e doutro da fronteira.

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento  (2013). Todos os direitos reservados. [Reproduzido coma  devida vénia]


A. Comentário do nosso amigo Pepito (que eu espero poder abraçar no próximo dia 14, dia do 99º aniversário da sua querida mãe e decana da Taabanca Grande, a dra. Clara Schwarz), a meu pedido e na sequência do poste P12652 (*):

É de facto assim mesmo. Os Parques Nacionais estão "barrados" pelo oceano a oeste e pelos países vizinhos a este, donde se não houver animais a entrar nos Parques, a médio prazo assistir-se-á a um fenómeno de consanguinidade com os efeitos que se conhecem: perda de resistência física, ficam mais sensíveis às doenças e degeneração da biodiversidade.

É fundamental que se protejam as portas de entrada (corredores) dos animais dos países vizinhos. Para isso há que impedir a construção de tabancas nesses corredores, criação de pomares de fruta e campos de cereais. Igualmente as desmatações, a serem realizadas de forma anárquica por empresários chineses, contribuem para os afugentar.

Os resultados são bons com o trabalho dos alunos das Escolas de Verificação Ambiental (EVA), com o aumento do número e a permanência de elefantes na zona. Decidiu-se fazer uma Reserva Transfronteiriça de Elefantes em N'Gaduro, perto de Gadamael, junto à fronteira.

abraço
pepito


B. Reproduzido com a devida vénia do sítio da AD - Acção para o Desenvolvimento > 12 de dezembro de 2013 > Atelier ambiental transfronteiriço

De 6 a 7 de Dezembro de 2013, realizou-se em Sanconhá, junto à fronteira com a Republica da Guiné, o 2º Atelier transfronteiriço, o qual tomou decisões muito importantes.

Salienta-se a criação do “Parque Comunitário Para a Paz, de N’Compá”, a primeira área transfronteiriça dos dois países, a partir do qual se estabelecerá um processo de cooperação para o desenvolvimento das populações de ambos os lados da fronteira. [Ver a seguir a ata do ateliê].




ACTA DO IIº ATELIER TRANSFRONTEIRIÇO (CANTANHEZ/BOKÉ)
(Sanconhá, 6 a 7 de Dezembro de 2013)

Entre os dias 6 e 7 de Dezembro de 2013, realizou-se na tabanca de Sanconhá, Sector de  Cacine, Região de Tombali, o IIº Atelier Transfronteiriço, cujo lema foi: “unidos por uma zona  transfronteiriça dinâmica, cooperativa e sustentável”, no qual participaram 52 pessoas,  entre as quais, autoridades políticas e administrativas da Região de Tombali, chefiadas pelo  Governador da Região de Tombali, Senhor Bocar Seidi, por parte da Guiné tomaram parte as  autoridades políticas e administrativas da Região de Boké, chefiadas pelo Sous-Prefect de  Sansalé, Senhor Mamadouba Camará Yakha. Ainda tomaram parte, o Representante da UICN  na Guiné-Bissau, Senhor Nelson Gomes Dias, Técnicos da ONG AD (Acção para o  Desenvolvimento) liderados pela Engª Isabel Nosolini Miranda, presidente da Direcção,  Técnicos do CADI-BOKÉ (Cellule d´Appui au Developpement Integre de Boke) liderados pelo  Senhor Ansoumane CAMARA, presidente de Bureau Executivo, Representante da ONG AIN,  Senhor Claudio Arbore, Consultores da Universidade Livre de Milão, liderados pelo professor  Angelo Turco, o Director de Parque Nacional de Cantanhez, o Representante de Seguimento e  Avaliação do IBAP, autoridades tradicionais (Régulos de Forréa, Gadamael Porto e Cacine),  representante da RADEL (Rede de Associações de Desenvolvimento Local do Sector de  Cacine), Representante da UAC (União de Associações de Cantanhez), Guardas Florestais  Comunitários, Guias de Ecoturismo, Agricultores e pescadores.
Ao longo dos dois dias, os participantes abordaram temas de interesse comunitário  transfronteiriço e recomendaram o seguinte:

1. Promover a cooperação transfronteiriça entre as instituições estatais de dois lados da  fronteira no sentido de facilitar a aplicação das normas da CEDEAO (livre circulação de  bens e pessoas) e controlar:

a) a venda clandestina de madeira, cibe, tarrafe e carne de caça; 

b) a ocupação desorganizada de terra que ponha em causa a dinâmica dos ecossistemas naturais, particularmente a movimentação de animais de grande porte; 

c) caça clandestina;

d) a impunidade de crimes ambientais e civis;

e) garantir que todas as apreensões dos produtos ilegais (madeira, cibe, tarrafe e  carne de caça) feitas dos dois lados da fronteira, uma parte da receita da venda,  fique para as comunidades locais e responsáveis da denuncia ou apreensão.

2. Conjugar esforços no sentido de criar a “Reserva Comunitária Transfronteiriça de  N´Compa” em que os diferentes parceiros assumem as seguintes responsabilidades:

a) As instituições estatais e tradicionais responsabilizam-se:

pela formalização legal  da zona reservada (Guiné-Bissau: IBAP, Direcção Geral da Floresta e Caça e Autoridades politicas e Administrativas e tradicionais da Região de Tombali; Guiné:  Direcção Nacional de Áreas Protegidas, Direcção Geral e Regional da Floresta,  Direcção Regional de Ambiente e Autoridades politicas e Administrativas e  tradicionais da Região Boké, particularmente Secção de Sansalé); 

b) As ONG (AD, CADI, AIN e UICN) responsabilizam-se pela: 

i. Formação de Guardas Florestais Comunitários; 

ii. Formação de Guias de Ecoturismo; 

iii. Definição de itinerários ecoturísticos e promoção das respetivas atividades; 

iv. Aprofundar o estudo de conhecimento do meio (flora, fauna, avifauna,  gestão de território, geografia humana, recursos piscatórios e costeiros e  dinâmica dos ecossistemas naturais) com o apoio da Universidade Livre de  Milão; 

v. Fazer um estudo comparativo do quadro legal dos dois países no domínio  do ambiente de forma a poder harmonizar as medidas e os procedimentos  administrativos no domínio de gestão da terra e dos recursos naturais; 

vi. Desenvolver microprojectos que reforcem a conservação do meio ambiente  (fogão e fornos melhorados, sal solar, rotação de culturas, etc.); 

vii. Promover campanhas de consciencialização das comunidades concernentes sobre a problemática da conservação do meio ambiente e do  desenvolvimento comunitário; 

viii. Criar um Comité de Seguimento do consumo e venda de carne de caça;
c) As Comunidades e organizações camponesas responsabilizam-se pelo: 

i. Repovoamento das zonas degradadas; 

ii. Fiscalização através de Guardas Florestais Comunitários;

iii. Valorização dos ecossistemas naturais, através de actividades de  ecoturismo, medicina tradicional e transformação de frutos silvestres; 

iv. Participar no estudo do conhecimento do meio; 

v. Denunciar qualquer prática que ponha em causa a conservação do meio  ambiente transfronteiriço através de uma “Linha Verde” que será criada  para efeito; 

vi.  Desenvolver as actividades geradoras de rendimento de forma sustentável;

3. Criar um Comité de Concertação, Seguimento e Avaliação de aplicação das  recomendações saídas deste atelier, o qual será composto pelos representantes das  autoridades políticas e administrativas e tradicionais de dois lados da fronteira, das ONG,  das Organizações camponesas e assessorada pela UICN e Universidade Livre de Milão. 

4. Incentivar a criação de uma zona de reserva de elefantes entre a tabanca de N´ghadur  (Guiné-Bissau) e Campô (Guiné);

5. Criar um Found Raising, para apoiar as atividades de desenvolvimento e de conservação  no quadro de um Parque de PAZ e do Povo, cuja constituição será promovida pelo  Gabinete da UICN na Guiné-Bissau;

6. Apoiar CADI-BOKÉ no sentido dispor de capacidade institucional e operacional para  implementar as suas actividades em BOKÉ e na linha fronteira (entre Sansalé e Campô) e  apoiar os seus parceiros de base;

7. Estabelecer um acordo de parceria entre os diferentes parceiros envolvidos neste  processo transfronteiriço, no qual ficarão claras as responsabilidades de cada um e à luz  do qual serão desenvolvidas todas as atividades; 

8. Decidir que o Comité de Seguimento e Avaliação, na sua primeira reunião, deve aprovar o
plano de actividades conjuntas de 2014. 

9. Propor que o IIIº Atelier Transfronteiriço seja realizado na tabanca de Sansalé, em 2015.

Sanconhá, 7 de Dezembro de 2013

Tomane Camará
Relator

_________________

Notas do editor:

(*) 29 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12652: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (18): "A caça no império português", de Henrique Galvão e outros (1943) (Miguel Alves P. Joaquim / Mário Beja Santos)

(**) Último poste da série > 5 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12547: (In)citações (59): Homenagem a Eusébio da Silva Ferreira, o "pantera negra" (Lourenço Marques, 1942 - Lisboa, 2014)

Guiné 63/74 - P12655: (Ex)citações (226): Não está resolvida a questão da nossa “reconciliação" e do nosso “reconhecimento” de que do “outro lado da guerra” havia, também, homens que combatiam abnegadamente por um “ideal” e pela “sua terra” (Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-alf mil pára, BCP 21, Angola, 1970/72)

1. Mensagem, de 28 de setembro de 2013, enviada pelo meu camarada e amigo, natural da Lourinhã e residente em Fafe, Jaime Bonifácio Marques da Silva, onde foi autarca (com o pelouro da cultura, e onde é mais conhecido como Jaime Silva), ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72), e que já aceitou, finalmente, integrar a nossa Tabanca Grande, a meu convite.

É também uma forma de homenagear um camarada que, muito embora não tenha estado no TO da Guiné, muito tem feito pela pesquisa e divulgação das histórias de vida e das memórias de guerra de vários de nós, a começar pelos seus conterrâneos, do Seixal da Lourinhã,  que form mobilizados para Angola, Guiné e Moçambique (mais de 40).

Irei apresentá-lo à Tabanca Grande, muito em breve, talvez ainda hoje, se a minha agenda o permitir.  Achei oportuno, por esse motivo, divulgar agora este texto que, não tendo, na altura, sido de imediato publicado, acabou por ficar no "limbo"  do nosso blogue. Sempre me habituei a ver nele um homem de princípios e de valores. A sua presença muito me honra e me apraz, tratando-se além do mais de um lourinhanense e de um amigo de infância.

Luís, envio-te um texto de opinião sobre a “polémica” em volta dos 40º Aniversário da Independência da Guiné, comemoração organizada pela Associação dos Antigos Combatentes de Cubacaré [. Região de Tombali, Guiné-Bissau]. Se entenderes que é oportuno, agradecia que o colocasses no teu blogue. 

Agradeço-te, também, o convite para fazer parte do vosso blogue. Penso enviar-te a foto que me pediste quando tiver algo de concreto sobre a cerimónia de homenagem ao [José Henriques] Mateus, [da Areia Branca, Lourinhã, camarada desaparecido em combate].  

Penso voltar ao Seixal para participar na caldeirada do dia 14 de outubro, em Ribamar,  organizada pelo nosso amigo Eduardo Jorge. Nessa altura, farei o ponto da situação junto deles [, da comissão organização da homenagem ao Mateus,]  e da Liga dos Combatentes. Igualmente irei  enviar-te os cartazes da exposição dos combatentes do Seixal. (...)

2. Comentário de Jaime Silva [ou Jaime Bonifácio Marques da Silvam, como ele é mais conhecido emtre a malta do seu tempo de tropa e na sua terra], ao poste P12073 (*):

Caro Luís Graça e camaradas combatentes da Guiné

Sou ex-combatente e cidadão atento à causa dos que lutaram na Guerra em África. Permitam-me, por esse facto, comentar o Poste colocado no Blogue a propósito do 40º Aniversário da Independência da Guiné, organizado pela Associação dos Antigos Combatentes de Cubacaré. (*)

Não combati na Guiné. Fui combatente em Angola no BCP21 (1.ª CCP). Comandei durante 28 meses um pelotão nas matas do norte e leste. Algumas destas operações (três) foram realizadas em conjunto com o meu camarada Tenente Miliciano e comandante do 1.º pelotão SNogueira que comenta, também, este poste. (*)

Tenho consciência que a guerra que enfrentámos em Angola não teve a mesma dimensão das dificuldades extremas que alguns de vocês enfrentaram, em determinado período, na Guiné (apesar da zona dos Dembos no norte de Angola e a norte do rio Cassai no leste serem, por vezes, deveras complicadotas!..).

Todos estamos de acordo, porque é uma evidência, que a nossa participação na guerra em África, em qualquer um dos três teatros de operações, teve um ponto comum e um objetivo que foi bem definido pelos decisores políticos da época quando lançarem este pobre país na guerra, ou seja, a nossa missão (por definição de guerra) era a destruição do “in”, “inimigo",  “terrorista”, “turra” “filhos da puta”, “aqueles gajos querem roubar o que é nosso”. Foi para isto que o “velho” (Salazar), como lhe chamava o Prof. Adriano Moreira, nos enviou, primeiro, “Para Angola rapidamente e em força” e, depois, para a Guiné e Moçambique.

Mas, uma guerra (esta guerra) não se faz (fez) contra “Moinhos de Vento”. Uma guerra faz-se, sempre, por uma causa e contra alguém e, numa guerra, há sempre os dois lados da contenda. Sempre foi assim na história da humanidade e em África não fugimos à regra. Encontrámos e defrontámos um oponente que sabia o que queria e porque combatia. Os africanos que combatemos,  entendiam que deviam ser senhores e donos dos seus destinos e da sua terra e nas emboscadas davam-nos conta disso e gritavam, também: “esta terra é nossa”,  “vai para a tua terra, portuga de merda”, “tuga do caralho, vai para o Puto”, “vais morrer,  filha da puta” (esta, era a frase que me soava pior, dava-me agoiro e, infelizmente, deixei lá um soldado e a perna de um outro).

Hoje, esta questão da pertença do território está resolvida, mas não está resolvida a questão da memória da nossa participação na guerra, porque essa nunca se apagará enquanto viver um combatente e, aliás, como não está resolvida a questão da reconciliação da Nação para com aqueles que a serviram (este é outro assunto de debate).

Muito menos está resolvida a questão da nossa “reconciliação" e do nosso “reconhecimento” de que do “outro lado da guerra” havia, também, homens que combatiam abnegadamente por um “ideal” e pela “sua terra” e é aqui, no meu entender, que está o pomo da discórdia entre alguns de nós! …

É, por isso, caro Luís Graça e camaradas responsáveis pelo blogue, que o vosso trabalho é um contributo importante e fundamental para a compreensão e preservação da memória da Guerra Colonial, particularmente na Guiné. Obrigado e continuai.

Este Poste, quanto a mim, tem essa virtude e insere-se, exatamente, na necessidade que temos de fazer um esforço para sermos capazes de “saber ver” os dois lados da Guerra.

Por isso, concordo e subscrevo, em absoluto, com os comentários dos camaradas de armas Luís Graça e Vasco Pires. [...] (*)

 Saudações. (**)

Jaime Silva
Alf Mil Paraquedista (BCP21)
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(**) Último poste da série > Guiné 63/4 - P12090: (Ex)citações (225): O nosso blogue e o último dos nossos direitos como veteranos de guerra e cidadãos, o "jus esperniandi", o direito de espernear... (Vasco Pires, ex-cmdt, 23º Pel Art, Gadamael, 1970/72; e português da diáspora no Brasil)

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12459: (In)citações (58): Estradas da região de Tombali, Guiné-Bissau, 40 anos depois da independência: o espelho da Nação (AD - Acção para o Desenvolvimento)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > 2013 > Estradas ? Picadas... 40 anos depois da independência

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento  2009). Todos os direitos reservados.


1. Comentário inserido em 26/9/2013 na página do Facebook da AD - Acção para o Desenvolvimento

Já lá vão 40 anos de independência e as estradas do sul, das zonas da Luta de Libertação, das primeiras zonas libertadas, lá onde nasceu a nação guineense, continuam abandonadas sem nunca terem sido melhoradas.

Reflete bem as lideranças politicas que se foram sucedendo e que se esqueceram com uma enorme rapidez das suas bases de guerrilha, lá onde eles viveram, lutaram e muitos deles casaram.

Renderam-se aos encantos de Bissau e nem mesmo a memória os ajuda a reconhecer os antigos camaradas de primeira hora. — em Guiledje, Tombali, Guiné-Bissau.

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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12327: (In)citações (57): O meu próximo livro pode responder a questões relacionadas com o pós independência da Guiné-Bissau (Mário Serra de Oliveira)

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12439: Boas Festas (2013/14) (4): AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau


1. Mensagem dos nossos amigos da AD - Acção para o Desenvolvimento, com data de hoje, enviando, em anexo, o seu cartão de Boas Festas, e o seguinte convite:

Acção para o Desenvolvimento. Visite o nosso site em www.adbissau.org e o nosso projecto de ecoturismo em www.ecocantanhez.org.

2. Entretanto, já tinha escrito ao Pepito o seguinte, agradecendo-lhe o envio, pelo correio, do calendário de 2014, editado pela AD com belíssimas fotos e feito aqui em Lisboa, numa tipografia:

Pepito, já saiu o calendário de 2014, editado pela AD. Já o recebi em casa, pelo correio. Está lindo. Parabéns pela iniciativa. Parabéns ao(s) fotógrafo(s) e sobretudo ao povo da Guiné (e em especial às suas mulheres)!... É gente linda, fotogénica e fraterna!...

Espero que vocês não fiquem "isolados" do mundo este Natal... O que se passou com o último voo da TAP preocupa-me seriamente, a mim e aos amigos da Guiné... Gostava de conhecer a tua versão dos acontecimentos mas aquilo cheira-me a "banditismo puro e duro"... Há "regras" de convívio entre os povos e os estados soberanos...Um alfabravo. Luis

3. Resposta do Pepito:

Luís: Fico satisfeito que tenhas gostado do calendário.

Quanto aos sírios, trata-se apenas de um negócio: recebe-se dinheiro e colocam-se os ditos à força num avião. O que lhes acontece a seguir pouco me interessa a mim que já tenho o dinheiro na mão e estou pronto a receber mais uns tantos.

abraço, pepito


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Nota do editor:

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12364: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (33): Vinte e dois anos a trabalhar para o desenvolvimento integrado e sustentado... Convite e programa das comemorações, Bissau, 11/12/2013 (Isabel Miranda)



Vídeo (9' 24''), "AD Somos Nós" > Alojado no You Tube > ADBissau (2011) >  "Estas caras escondidas, são as que fazem a ONG AD atingir os seus objectivos." (Vídeo realizado, por Demba Sanhá, em 2011, por ocasião do 20º aniversário da AD - Acção para o Desenvolvimento).

É para estes amigos, guineenses e portugueses,  que vão as nossas palmas, na passagem de mais um ano de vida e de trabalho! Alguns deles são membros da nossa Tabanca Grande: Pepito, Isabel Levy Ribeiro, Domingos Fonseca, Tomané Camará. Infelizmente, estamos longe e não podemos estar convosco no dia 11/12/2013,  4ª feira, para partir mantenhas e desejar votos de felicidade e saúde para toda a equipa. Mas fazemo-lo daqui, de Portugal, com un abraço do tamanho da distância, apenas física, que nos separa. (LG)




Programa comemorativo dos 22 anos de atividade da ONG guineense AD - Acção para o Desenvolvimento.


1. Mensagem que nos chega da AD - Acção para o Desenvolvimento, assinada pela sua presidenta, Isabel Miranda, com data de hoje:

Caro Amigo


Por ocasião da celebração do seu 22º aniversário, a nossa organização, “Acção para o Desenvolvimento”, vai realizar-se,  no próximo dia 11 de Dezembro, quarta-feira, pelas 16h00, uma sessão de apresentação de alguns aspetos mais relevantes da sua atividade neste ano.

Com o importante apoio da União Europeia, a AD vai lançar  (i)  o “Guia dos Mamíferos do Parque Nacional de Cantanhez”;  (ii) um CD musical sobre “Cacheu, caminho de escravos”; e (iii) curtos filmes agrícolas sobre os programas em curso.

Nesta ocasião será inaugurado o Salão Nobre “Roberto Quessangue”, em homenagem a quem foi o Presidente da Assembleia Geral da AD e que representa para nós, pela sua estatura moral e cívica, um exemplo e uma referência.

Junto remetemos o programa da sessão, aproveitando a ocasião para o convidar a honrar-nos com a sua presença neste acto que tanto nos orgulha.

Certos de podermos contar com a sua digna presença, subscrevemo-nos com elevada estima e consideração.

Isabel Miranda

Presidente da AD
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P12363: Ser solidário (155): Tabanca Pequena de Matosinhos apoia Associações de Costureiras da Guiné-Bissau (José Teixeira / AD)

1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), com data de 28 de Novembro de 2013:

Carlos.
Junto link da AD com mais um projeto da Tabanca Pequena.
Agradeço que seja publicado no nosso blogue se julgares de interesse.
De notar que o objetivo principal deste projeto é fixar as jovens bajudas á sua terra através da criação de associações locais de costureiras que fomentem a aprendizagem e o fabrico de roupa, para as necessidades locais e eventualmente comercializarem para os grandes centros.
Atualmente estão criadas e em pleno funcionamento as Associações de Iemberém, Catesse e Cabedú, onde colocamos no principio deste ano 7 máquinas de costura.
(http://www.adbissau.org/tabanca-pequena-apoia-associacoes-de-costureiras)

José Teixeira


TABANCA PEQUENA APOIA ASSOCIAÇÕES DE COSTUREIRAS

A ONGD portuguesa “Tabanca Pequena” de Matosinhos, Portugal, acaba de conceder novo apoio para reforçar ou criar associações de costureiras na Guiné-Bissau.

Chegaram a Bissau 20 máquinas de costura que serão afetadas a diversas tabancas do litoral sul e norte do país, nomeadamente Iemberem, Catés, Colbuiá, Cacheu, Mata e para o Centro de Formação Rural de S. Domingos.

Realizar-se-ão cursos de formação para iniciadas, de reciclagem para as costureiras com alguma experiência, bem como o apoio à consolidação organizativa das mulheres para a produção de roupa, artesanato e objetos domésticos, que lhes permitirão obter mais recursos financeiros.

Esta metodologia de trabalho é integralmente apoiada pela Tabanca Pequena, que equaciona a possibilidade de vir a conceder ajuda a estas associações para a produção de lençóis, toalhas, fronhas, etc. para as zonas de ecoturismo.





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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12324: Ser solidário (154): Já corre água na Tabanca do Poilão do Leão (José Teixeira)

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12280: Memória dos lugares (251): Cacheu, o Largo Central, a Casa Escada, a Casa Gouveia... (António Bastos, ex-1.º Cabo, Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66)








Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Cacheu > 2008 > Foto(s) do Largo Central da Vila do Cacheu. As Casas Escada e Gouveia estão devidamente assinaladas. O edifício, hoje em ruínas, da antiga Casa Gouveia, está em recuperação e nele será instalado o Memorial da Escravatura, numa iniciativa da ONGD AD - Acção para o Desenvolvimento e com apoio da União Europeia.

Foto: © António Bastos (2013). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: L.G.).


1. Resposta, "just in time", com data de ontem, às 18h30, do António Bastos (ex-1.º Cabo do Pel Caç Ind 953, Teixeira PintoFarim, 1964/66), ao apelo formulado no nosso poste P12277 (*):

Companheiro Luís, boa noite:

Fotos da casa Escada, no Cacheu, tenho esta foto está um pouco longe, essa parte que se vê era a taberna no meu tempo e a mercearia, depois tinha a habitação que dava para a rua que leva à Fortaleza.
A casa é a que está por trás dos dois homens, mesmo na esquina.
Não sei se interessa para o caso, mas em 1964 estava lá na casa um Português que se chamava Joaquim e nos tratávamos pelo Sr. Joaquim Escada,  não sei se era o dono; também se encontrava a esposa e um filho que devia de ter uns 3 anos e  que depois veio a falecer em 1965,  lá.
Esta família eram de Coimbra.

Companheiro,  eu sei que tenho uns vídeos do ano 1993 quando estive no Cacheu. E é provável que apareça a casa, eu vou visionar,  se por acaso lá esteja eu envio.
Sempre ao dispor.  Parte Mantenhas. E um abraço,

António Paulo.

2. Novo mail do António Bastos, mandado às 18h45:

Companheiro Luís,  houve aqui um lapso meu, vocês querem a casa Gouveia e não a Escada, ora eu no Cacheu só conheci essa e a Ultramarina.

Aliás era a Ultramarina, e a do Libanês (que tinha duas filhas muito boas que em 2008 estavam já em Ingoré) e a do Sr. Joaquim Escada,  que não sei se ele era empregado se dono.

3. Comentário de L.G.:

Fantástico, António, não é o Largo do Cacheu, de 1964, é de 2008, mas não deixa de ser uma foto preciosa... Antes que venha o camartelo camarário ou o tempo dê cabo do resto... É um importantíssimo contributo teu para a preservação da(s) nossa(s) memória8s) do Cacheu. (**)

Dizes-me tu que a casa Escada é a da esquina, do lado direito, de piso térreo. Mas se, reparares, há uma outra, em segundo plano, com um piso superior, e de que só se vê uma parte. Pode ser essa a Casa Gouveia,

Quanto tempo estiveste no Cacheu ? Passaste lá pelo menos o Natal de 1964... Conheces mais alguém, do teu tempo, que tenha fotos do centro histórico do Cacheu ? 



Vista da Praça de Cacheu (Sec. XVI). Litografia, s/d. Arquivo Histórico Ultramarino (AHU). Reproduzido, com a devida vénia,  do sítio Saber Tropical, do IICT - Instituto de Investigação Científica Tropical, Lisboa.


4. Comentário do Pepito, diretor executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau, ONGD que está a construir o Memorial da Escravatura, em Cacheu:

Luis:  Acertaste em cheio. A casa Gouveia é exatamente essa que indicas. Dois pisos (sobrado,  como aqui dizemos e como se diz no português arcaico...). Muito obrigado. Já é uma aproximação ter esta foto do Largo Central. Vou aproveitar para contactar com a família Escada,  a ver se eles têm fotos daquele tempo. Pepito.


segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12277: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (16): Foto(s) do antigo edifício da Casa Gouveia, no Cacheu, precisa(m)-se... Agora em recuperação, nele será instalado o futuro Memorial da Escravatura... Cacheu foi também o berço do crioulo.

Divulgámos há dias, no nosso blogue, a página em construção "Cacheu, Caminho de Escravos", projeto que está a executado pela AD - Acção para o Desenvolvimento e pelos italianos da AIN, com apoio de diversos parceiros, incluindo portugueses (União Europeia, UNESCO, Fundação Mário Soares, Instituto Politécnico de Leiria, etc.)

A criação do Memorial da Escravatura em Cacheu visa resgatar a memória histórica da escravatura naquela região da Guiné-Bissau e das suas relações com os circuitos e os destinos do tráfico negreiro. Tem 3 vertentes principais:

(i) Histórica, promovendo a investigação histórica e a difusão da temática da escravatura;

(ii) Cultural, promovendo a cultura e a identidade da cidade de Cacheu e da sua região e pondo em evidência as contribuições das diferentes etnias e a importância da língua crioula, que ali surgiu e se afirmou;

(iii) Económica, potenciando as atividades produtivas e de serviços como meio de redução da pobreza e desenvolvimento de novas atividades económicas.

Estão já em curso obras de recuperação do edifício, em ruínas (vd. foto em cima), onde será instalada o futuro Memorial da Escravatura. Esse edifício era a antiga Casa Gouveia, em Cacheu. Acontece que ninguém tem fotos do edifício que estava, de pé, no tempo da guerra colonial (1961/74)... a não ser eventualmente nós, antigos combatentes.

Fazemos, por isso, daqui  um apelo à malta que lá esteve ou passou por lá. Vejam nos vossos albuns fotográficos, se descobrem essa preciosidade. Se houver alguma foto será de imediato publicada no blogue, e com todos os direitos autorais... Ao digitalizar essa ou outras fotos, façam-no sempre com uma boa resolução (300 ou 400 pp).

Com a colaboração ativa, generosa e solidária da Tabanca Grande e dos demais leitores, o nosso blogue é também uma fonte de informação e conhecimento para todos, em particular para a comunidade lusófona. 

Obrigado. Saudações fraternas e lusófonas. Luís Graça.
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Nota do editor:

sábado, 9 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12271: Memória dos lugares (250): Cacheu, terra de história e de cultura... e hoje também última fronteira com o Sará...



Vídeo (9´ 19´´) alojado em You Tube > ADBissau. Reproduzido com a devida vénia...


Realização e produção.© Televisão Comunitária de Klelé (2012). Reportagem e edição: Demba Sanhá. Imagem: Xilay Bacar Mané. Fotografia: Abimaira M. B. Danfá. Música: Cânticos Felupes e Manecas Costa. Apoio: NOVIB e ONGD AD - Acção para o Desenvolvimento.

Sinopse: "A AD iniciou, com o primeiro Festival Internacional Quilombola de Cacheu, em 2010, um programa de pesquisa e documentação histórica e cultural para a criação do Memorial de Escravatura de Cacheu. Este pequeno filme, o primeiro, procura começar a registar a informação oral existente."



Página do portal Cacheu, Caminho de Escravos, projeto que está a executado pela AD - Acção para o Desenvolvimento e pelos italianos da AIN, com apoio de diversos parceiros (União Europeia, UNESCO, Fundação Mário Soares, Instituto Politécnico de Leiria, etc.)

(...) "A criação do Memorial da Escravatura em Cacheu visa resgatar a memória histórica da escravatura naquela região da Guiné-Bissau e das suas relações com os circuitos e os destinos do tráfico negreiro e assenta sobre a apropriação comunitária do Memorial e de todas as demais iniciativas previstas.

"O projecto do Memorial da Escravatura apresenta 3 vertentes principais: (i) Histórica – promovendo a investigação histórica e a difusão da temática da escravatura; (ii) Cultural – promovendo a cultura e a identidade da cidade de Cacheu e da sua região e pondo em evidência as contribuições das diferentes etnias e a importância da língua crioula, que ali surgiu e se afirmou; (iii) Económica – potenciando as actividades produtivas e de serviços como meio de redução da pobreza e desenvolvimento de novas atividades económicas". (...)


Comentário de L.G.:  

A região do Cacheu é hoje a última (e frágil) barreira contra a invasão do Sará... A Guiné-Bissau está já em 2º lugar da lista dos 10 países do mundo mais ameaçados pelas mudanças climáticas.  Os nossos amigos guineenses e os seus amigos em Portugal e no resto do mundo não têm todo o tempo do mundo para preservar, recolher, tratar e divulgar a sua memória e pô-la ao serviço do desenvolvimento integrado e sustentado, que passa também pela preservação e protecção da "mancha verde" que ainda é o território da Guiné-Bissau, do Cacheu a Tombali.


Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Cacheu > Outuro de  2013 > Vista áerea da cidade. Foto de Filipe Santos (IPL - Instituto Politécnico de Leiria)... Reproduzido com a devida vénia.
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Nota do editor: