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segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21596: Notas de leitura (1327): "A Caixa de Correio de Nossa Senhora", por António Marujo; Círculo de Leitores e Temas e Debates, Outubro de 2020 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Novembro de 2020:

Queridos amigos, 

É uma incursão inédita sobre o culto a Nossa Senhora de Fátima na envolvente da guerra colonial, militares, familiares e amigos, todos envolvidos. António Marujo é um jornalista credenciado na temática religiosa, "enfrentou" a leitura de cerca de 50 mil mensagens entre as milhões existentes, privilegiou o período que vai de 1917 a 1974, consultou personalidades avisadas, os temas da paz e da guerra são dominantes nos pedidos à Mãe de Deus, sem detrimento de muitos outros que vão desde a conversão da Rússia a pedidos de saúde ou de emprego, amores proibidos e confessados, crimes escondidos, desilusões amorosas, angústias existenciais, até afloram situações de pedofilia, mas há muito mais. 

Um livro que nos permite ir conhecendo melhor o país através do analfabetismo, da pobreza e da falta de proteção social, uma obra que nos permite igualmente entender o papel desempenhado por Fátima na fé dos combatentes, seus pais, mulheres, noivas e namoradas, madrinhas de guerra e grandes amigos. Até hoje.

Um abraço do
Mário



Mãe, Senhora, ouve-me, que o meu filho venha são e salvo da guerra:
Uma assombrosa viagem pelo correio dirigido a Nossa Senhora de Fátima


Mário Beja Santos

A obra de investigação de que resultou esta reportagem jornalística intitula-se "A Caixa de Correio de Nossa Senhora", é seu autor António Marujo, um jornalista com largos créditos e pergaminhos na área da temática religiosa; afoitou-se à leitura de um bom número de dezenas de milhar de mensagens dirigidas a Nossa Senhora de Fátima, com os temas mais díspares (declarações, pedidos de saúde ou de emprego para o próprio ou para outras pessoas, amores proibidos e confessados, crimes escondidos, orações pela paz no mundo e pela conversão da Rússia, pedidos angustiantes para que filhos, maridos e familiares envolvidos nas guerras viessem sem beliscadura, obra editada pelo Círculo de Leitores e Temas e Debates, outubro de 2020. (*)

Investigação estimulante, o próprio autor observa que estas mensagens revelam muito do que era o país, há poucas décadas, marcado ainda pelo analfabetismo, pobreza e falta de proteção social.

Antes de nos centramos nas mensagens em tempo de guerra colonial, atenda-se às observações do autor. O país que estas mensagens revelam num acervo como não existe outro em Portugal, podemos ver quem era escolarizado ou não, saber que predominavam as mulheres, pois quem escrevia era quem ficava, não que os jovens que partiam não levassem a incumbência de rezar o terço ou ter no peito a medalhinha de Nossa Senhora ou contarem com ela as horas de aflição.

 Há depois a natureza da comunicação, mais a intimidade que a pura veneração, daí as invocações de Mãe, Mãezinha, Mãe Adorada, Querida Mãezinha do Céu, Minha Mãe Santíssima, Adorada Mãezinha do Céu, Minha Querida Nossa Senhora de Fátima, e muito mais. 

A mãe é protetora, é uma espiritualidade que se entrelaça com maternidade, envia-se mensagens a alguém que nos está próximo, pronto a ouvir, capaz de perceber que estes milhares de modos de escrever e falar, os pedidos são inúmeros, tem a ver com a saúde, com as fraquezas e traições, com as dúvidas de fé, pedidos de arrimo para os estudos, para se conseguir o amor dos pais, dos filhos ou do marido, pedidos para sair da pobreza, para curar a doença, pedido de amor quando se está em desespero. 

Há também nestas mensagens uma ligação estreita com a doutrina dos Papas, Paulo VI, surpreendentemente, em 13 de maio de 1967, centrou a sua mensagem na paz, Fátima nascera na I Guerra Mundial, houvera depois outra mais mortífera e o Papa tem conhecimento que Portugal vive numa guerra colonial, importa não esquecer que as primeiras questões postas por Lúcia tinham a ver com o fim da guerra.
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Nucleo Museológico Memória de Guiledje > Capela > 2010 > O Luís Branquinho Crespo e o António Camilo colocando a imagem na sua base.
Imagem de Nossa Senhora de Fátima, na capela do  Núcleo Museológico Memória de Guiledje.  Foi doada pelos nossos camaradas Luís Branquinho Crespo e António Camilo.  
Imagem do nosso blogue (**)


Consolidadas as mensagens de Fátima, e esta transformada em santuário com fama universal, desenvolveu-se cumulativamente a evocação anticomunista, falava-se na conversão da Rússia, não esquecer que se vivia em Guerra Fria e a imprensa portuguesa fazia o possível para revelar as perseguições da Igreja na Rússia. 

E António Marujo discorre sobre as cartas de mães aflitas a pedir que os filhos regressem salvos da guerra. É vasto o correio de Nossa Senhora quanto a testemunhos de angústia no tempo da guerra colonial, e logo desde 1961.
 
O autor escreve:

“As cartas que se referem à guerra dão conta da aflição ou da dúvida, do pedido genérico de paz ou da súplica dos mais próximos, da convicção ideológica alinhada pelo discurso oficial ou, mesmo se residualmente, da contestação ao regime e à guerra, de uma diversidade enorme: o soldado que envia a fotografia com uma mensagem escrita no verso, a mãe que pede pelo filho, a noiva que lembra o seu prometido, o soldado que quer regressar para ver os filhos, as madrinhas de guerra ou as crianças que nas escolas fazem trabalhos a pedir a paz no mundo e para Portugal. Neste último caso, há vários exemplos de mapas de Portugal e dos então territórios ultramarinos, desenhados em folhas de papel para as crianças colorirem ou preencherem com pequenas frases, junto a uma representação da Nossa Senhora de Fátima”.

Há também mensagens em que se pede para o filho não ir para a tropa ou não ir à guerra, há mensagens a pedir paz para todos os soldados que combatem nas frentes, há pedidos como este: “Salvai Portugal e os soldados que dão a vida pela Pátria”

Outro aspeto curioso que o autor regista são as mensagens referindo a guerra como um castigo pelos maus comportamentos da humanidade, há guerra porque os pecadores ainda não se converteram, há guerra porque é um castigo de Deus, porque ainda não se cumpriu a mensagem, perdoa Mãe Santíssima a estes filhos desavindos. E mais adiante:

  “Quando falam da guerra colonial, a esmagadora maioria das cartas são escritas por mães e irmãs, há depois as esposas, avós ou outras familiares aflitas, namoradas ou noivas esperançadas”.

Está hoje bem identificado que a mulher foi um grande apoio dos combatentes, procuravam dar estímulo e esperança no seu correio para o familiar na guerra, até conjuntamente se faziam promessas para ir agradecer a Nossa Senhora quando ele regressasse são e salvo.

Mais adiante, o autor fala dos jovens que regressaram são e salvos e que “reavivaram uma religiosidade de gratidão”. E veja-se um exemplo:

“A gratidão é o sentimento de Manuel Antunes, das Caldas da Rainha, hoje emigrante em Wasaga Beach (Canadá), onde casou. Todos os anos faz questão de estar no santuário português, acompanhado da esposa e do filho. Nos seus anos de guerra (Moçambique, 1967-69) rezava todos os dias a Senhora de Fátima. ‘Era a minha protetora, a minha fé foi fortificada na guerra e Nossa Senhora de Fátima fortificou a minha fé’, diz ele, durante a estadia em Portugal que o levaria ao santuário, em 10 de maio de 2019.

Consigo, Manuel transportava sempre um pequeno papel com os dados pessoais, para o caso de lhe acontecer alguma coisa. ‘Choro, lamento, mas amanhã irei para o mato. Mas irei: Nossa Senhora de Fátima me acompanha’, escreveu na pequena folha, hoje ainda legível. ‘Regressei, regressei, mas alguns ficaram lá…’, recorda, comovido. ‘Venho cá todos os anos e venho sempre a Fátima, rezo na Capelinha… Não vou pagar nada, só agradeço, tudo, tudo, agradeço por aquilo que me tem feito. É a minha fé”
.
Imagem do Santuário nos anos 1970

António Marujo também recorda episódios dolorosos como o de António Guerreiro Calvinho, antigo presidente da Associação dos Deficientes das Forças Armadas  (ADFA), que não esqueceu Fátima na sua poesia. Sempre equacionando o papel da Mãe de Deus com a Mãe Natural, o autor recorda a importância da canção “Mãe” do Conjunto Oliveira Muge. Escrita por António Policarpo, a sonoridade da composição era semelhante a outras baladas pop de estrutura simples desses anos 1960. 

E há as madrinhas e namoros, envolvendo Nossa Senhora de Fátima. Há a história de Joaquim Gregório, taxista na Batalha, que embarcou nos primeiros contingentes enviados para Angola. Participou na tomada de Nambuangongo, todos os dias rezava o terço com vários camaradas, invocando a Senhora de Fátima. Ferido com gravidade, Gregório chega a ser dado como morto. Depois de regressar foi a Fátima várias vezes em agradecimento. E António Marujo lembra o poema “Nambuangongo, meu amor”, de Manuel Alegre, provavelmente o mais poderoso poema de toda a literatura da guerra colonial, que assim começa:

“Em Nambuangongo a gente pensa que não volta
cada carta é um adeus em cada carta se morre
cada carta é um silêncio e uma revolta.
Em Lisboa na mesma isto é a vida corre.
E em Nambuangongo a gente pensa que não volta.”


O autor discorre sobre a relação de Fátima com o tema da guerra e da paz logo encetado em 13 de maio de 1917, quanto à guerra colonial nem tudo era linear entre católicos, com o evoluir da guerra a chamada linha do catolicismo de vanguarda afrontou o regime, primeiro refletindo sobre o direito dos povos à autodeterminação e depois condenando a inflexibilidade em não se dialogar com quem queria ser livre.

Tratando-se de uma investigação inédita, julgo que também é inédito o alargado olhar sobre o papel de Fátima na guerra colonial. Uma leitura estimulante para entender a fé dos combatentes e dos seus familiares.
____________

Notas do editor

(* Último poste da série de 26 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21584: Notas de leitura (1326): família, casamento e sexualidade, comentário de Cherno Baldé a uma das "Estórias cabralianas" ["Cabral, salvador das bajudas desfloradas"], da autoria de Jorge Cabral (Lisboa, ed. José Almendra, 2020, pp. 93-94)

terça-feira, 22 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18663: Memória dos lugares (376): Cheche , rio Corubal e Madina do Boé, uma trilogia trágica (Xico Allen / Zélia Neno / Albano Costa)


Foto nº 1


Foto nº 2 


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5

Guiné-Bissau > Região do Boé > > Boé > 1998 > Embora esta zona ainda hoje seja pouco habitada, o Xico Allen encontrou e fotografou população civil quando lá esteve em 1998, com o António Camilo, o algarvio, e outros camaradas, mais a sua ex-esposa, Zélia Allen (, hoje Zélia Neno, ,membro da nossa Tabanca Grande). Na época o grupo de portugueses que se deslocou ao Boé, partiu de Quebo (Aldeia Formosa), tomando uma picada existente sempre junto à fronteira com a Guiné-Conacri até á povoção do Boé, nas proximidades da antiga Madina de Boé, nosso aquartelamento e tabanca (, cuja retirada, recorde-se, foi no dia trágico de 6 de fevereiro de 1969).

No regresso, o Xico Allen e amigos vieram pelo Cheche [foto nº 4], onde atravessaram o Rio Corubal, seguindo depois para o Gabu (ex-Nova Lamego). Em Cheche, ponto de cambança, fizeram questão de lembrar (e rezar por) os 46 camaradas desaparecidos (mais 1 civil) no trágico acidente de 6/2/1969, no decorrer da Op Mabecos Bravios.

Trinta anos depois da retirada de Madina do Boé (em 6 de fevereiro de 1969) ainda continuavam vísiveis os sinais das emboscadas e das minas... Restos de viaturas das NT abandonadas  eram verdadeiros fantasmas dos tempos de guerra... Julgamos que entretanto, nestes últimos 20 anos, foram retirados ou destruídos todos estes vestígios "arqueológicos" da guerra colonial. [Fotos nºs 1, 2 e 3]

Na realidade, eram fntasmas da guerra colonial que, de tempos a tempos, perturba(va)m a paisagem e o viajante...

A foto nº  4 foi tirada intencionalmente no meio do rio Corubal, de trágicas memórias para as NT, vemdo-se ao fundo a praia fluvia do Cheche, com rampa de acesso, na viagem de regresso a Quebo (Aldeia Formosa) - Boé - Cheche- Gabu (Nova Lamego).

A foto nº 5 mostra a famosa fonte da Colina do Boé, com ornamentação de azulejo português, pintado à mão, de 1945.  Os vestígios de impacto de balas de armas automáticas são mais do que óbvios.
O Xivo Allen

Esta famosa fonte da Colina do Boé é um sítio onde se concentra(va) alguma população civil da escassa que há (havia) nesta região semidesértica, e a única da Guiné que é, de resto, acidentada (com cotas que sejam quase aos 300 metros).


Fotos (e legendas): © Francisco Allen / Albano M. Costa (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. O Xico Allen (ex-1.º cabo at inf, CCAÇ 3566, "Os Metralhas", Empada, 1972/74, foto à direita), é  um dos primeiros membros da Tabanca Grande, registados em 2006,  tal como o Albano Costa,   foi um dos primeiros camaradas a voltar á Guiné, depois da independência. E nos últimos anos chegou lá mesmo a lá viver.

De acordo com as memórias da Zélia Allen, também nossa tabanqueira, o casal Allen visitou a Guiné do pós-guerra, em abril de 1992, mais um outro casal, o Artur Ribeiro e a esposa. Voltaram em 1994, desta vez foram 3 casais e conseguiram ir a Empada, onde o Xico tinha feito a sua comissão. Uma terceira viagem ocorreu em 1996 e uma quarta em 1998.

 E prossegue a ex-esposa do Xico, a Zélia Neno:

"Lá chegados, passamos uns 2 dias em Bissau e, num jipe alugado, viajámos para o interior, tendo como destino Empada, onde estivemos 2 dias. Aí sim, a experiência foi única até hoje, pois dormimos, comemos e tomamos alguns banhos na tabanca, onde luz só a da lua, das estrelas e da nossa lanterna pois desde a saída da tropa portuguesa não mais houve energia assim como outros bens essenciais, desde material escolar, medicamentos e alimentação. Os banhos, se assim se podem chamar, eram feitos despejando cabaceiras cheias de água retirada de um poço que gentilmente algumas mulheres nos iam entregando, fazendo-os passar por cima de um cercado e que funcionava como banheiro e não só...

(...)"No sábado regressámos a Bissau(...). No domingo à noite, com a chegada do avião,iria juntar-se a nós um grupo de 10 pessoas, 7 deles ex-combatentes, na sua 1ª romagem de saudade que,  como todos os outros era a concretização de um sonho, sendo um deles o Sr. Casimiro, aqui do Porto, que se fez acompanhar pelo seu jovem genro, o Carlos, e outros seus amigos e companheiros de guerra, tendo então eu a oportunidade de conhecer o Sr.Armindo, de Moreira de Cónegos, o Sr. Camilo, do Algarve, o Sr. Pauleri, de Vizela, o Sr.Amílcar, aqui de Gaia, único que levou a esposa sendo assim eu beneficiada pois tive companheira para o resto da estadia e dos restantes lamentavelmente não me recordo dos nomes.

"O que não esquecerei nunca, foi poder ver a alegria misturada com a emoção, quando chegámos a Jumbembem, local bem conhecido deles, pois mais não me pareciam do que crianças irrequietas em pleno Portugal dos Pequeninos, tentando ver todo o canto e recanto onde viveram outrora." (...).




Guiné > Região do Boé > Rio Corubal > Cheche > 6 de fevereiro de 1969 > A famigerada jangada que servia para transporte de tropas e material, numa das últimas travessias, aquando da retirada de Madina do Boé. Foi neste pedaço de rio que pereceram 46 militares e um civil.

A foto, histórica, é do comandante da Op Mabecos Bravios, o então cor inf Hélio [Augusto Esteves ] Felgas (1920-2008). Reproduzida com a devida vénia de Camões - Revista de Letras e Culturas Lusófonas, n.º 5, abril-junho 1969, pág. 15 (publicação editada pelo Instituto Camões; o n.º 5, temático, foi dedicado ao "25 de Abril, revolução dos cravos).


2. Julgo que,  para a Zélia,  aquela, a de 1998, foi a sua última viagem à Guiné, mas não para o Xico, que continuou a lá ir rgulamente. As fotos que hoje republicamos, em formato "extra large", são dessa viagem de 1998, em que o Xico, a Zélia, o Camilo e outros camaradas e amigos, que foram até à região do Boé, a partir de Quebo, no sul, seguindo a estrada junto à fronteira. Estiveram em Boé, não sei se chegaram a ir a Beli, e seguiram depois pela antiga picada que, indo por Cheche e Canjadude, ia dar a Gabu (Nova Lamego)... 

Fizeram, por isso, o mesmo percurso das NT, no âmbito da Op Mabecos Bravios (1-7 de fevereiro de 1969), ou seja a picada Madina do Boé-Cheche-Canjadude-Gabu. 

Xico Allen (Vila Nova de Gaia)
Estas fotos do Xico Allen têm um enorme interesse documental (tal como as fotos do álbum do Manuel Coelho, ex-fur mil trms da CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68), embora já tivessem sido publicadas, em formato reduzido,  em 6/2/2006, no poste 500 (*).


Na altura, o Xico ainda não era nosso tertuliano (ou tabanqueiro), alegadamente por não ter endereço de email... Mas creio que já estava reformado da atividade bancária. Aliás, em conhecia-o, pessoalmente, a ele, ao Albano Costa , ao Hugo Costa e ao Zé Teixeira, em 31/12/2005, na Madalena, Vila Nova de Gaia, quando me fizeram
uma visita de surpresa, na casa dos meus cunhados onde passei o Natal e o Ano Novo.

Albano Costa (Matosinhos)
Foi o Albano Costa quem , nesta transação, serviu de intermediário, sendo ele mais antigo no blogue (, é membro da nossa Tabanca Grande desde 21/11/2005).  Eis um excerto da mensagem do Albano (que voltaria à Guiné em 2000):

"Caro amigo Luís Graça: Envio sete fotos sobre Madina de Boé, a picada onde foram destruídas várias viaturas durante a guerra colonial, a fonte da Colina de Medina e a população civil de Madina. Luís, vou procurar nos meus arquivos para ofereceres essa imagem ao Mário Dias de uma placa que existe no Boé sobre o Domingos Ramos [, seu amigo e camarada do 1º CSM - Curso de Sargentos Milicianos, em 1959],

"Estas fotos são do arquivo do Francisco Allen: ainda hoje estive com ele, fica contente em saber que são úteis, as fotos. Um abraço, Albano Costa".



Guiné > Carta da província > 1961 > Escala 1/500 mil > Pormenor da região do Boé > .Pormenor do Gabu (Região de Gabu), passando pela antiga Madina do Boé, Cheche e Canjadude.

Fonte: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018).


 3. Comentário do editor LG:

A independência unilateral da Guiné-Bissau foi declarada em 24/9/1973, não em Madina do Boé (como fez  crer a propaganda do PAIGC durante muitos anos...), mas na região fronteiriça, a leste, alegadamente em Orre Fello, perto de Lugajole, mas já em território da Guiné-Conacri.  Por razões óbvias de segurança... Foi uma das maiores operações de propaganda (e de ofensiva diplomática), a nível interno e externo, dirigidas pelo  PAIGC, já órfão do seu líder histórico, Amílcar Cabral.

Sobre o desastre do Cheche [, o toponómimo correto é Ché-Ché, mas todos dizemos e escrevemos... Cheche], vd aqui.

E a propósito, apraz-me dizer, aqui, aos meus amigos e camaradas da Guiné, que há umas semanas atrás, apareceu-me agora, ao telefone, o Diniz, o ex-alf mil José Luís Dumas Diniz (, da CART 2338), responsável pela segurança da coluna da retirada de Madina do Boé, a fatídica coluna que teve o trágico acidente, na travessia de jangada,  no Rio Corubal, em Cheche, em 6 de fevereiro de 1969 (. Eu já estava mobilizado para a Guiné mas lembro-me da comoção que me provocou a notícia, que foi título de caixa alta  nos jornais de Lisboa)...

O Diniz foi julgado, creio, em tribunal militar, e foi absolvido... O próprio Spínola terá sido uma das testemunhas de defesa... Era preciso um "bode expiatório", o elo mais fraco da cadeia hierárquica...  Ele quer dar-me/nos a versão dele... Vou combinar um almoço com ele... Ele chegou até nós através do Fernando Calado, nosso grã-tabanqueiro, outro camarada e amigo desse tempo (Bambadinca, CCS/BCAÇ 2852, 1968/70)... 

Portanto, felizmente,  o Diniz está vivo e está disposto a falar.,, Já correram rios de tinta sobre o desastre de Cheche, mas falta-nos, em primeira mão, o depoimento de um ator-chave, o nosso camarada responsável pela segurança da jangada... Ele vive entre Cascais e Coruche, se bem percebi... Um dia destes, eu, ele e o Fernando Calado, vamos até à Casa do Alentejo pôr a conversa em dia... LG

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17661: Notas de leitura (986): "Guiné: um rio de memórias", de Luís Branquinho Crespo: exorcizar velhos e novos fantasmas - Parte II (Luís Graça)

1. Continuação da "nota de leitura" do livro "Guiné: um rio de memórias", de Luís Branquinho Crespo (Leiria, Textiverso, 2017, 181 pp.; prefácio de António Graça de Abreu). (*)


O prefaciador da obra, o nosso camarada e escritor António Graça de Abreu, é o primeiro a destacar a qualidade da escrita de Luís Branquinho Crespo: “rica, acutilante, descomplexada, mas intensamente trabalhada” (p. 10). E isso é notório logo no cap. 1, o das despedidas e da partida para a Guiné: “agitou as mãos brancas em adeuses de saudades” (p. 14); “guarda ainda daquele dia o cheiro da roupa do pai, (…) padeiro, mantinha e exalava o cheiro macio da farinha à mistura com o sabor da côdea da broa de milho quente, quando acaba de sair do forno do pão” (p. 17); (…) “ficou-lhe colado, naquele instante, o cheiro a maçã molhada que exalava do rosto da mãe” (p. 19).

De resto, os cheiros, as cores, os sabores e as imagens do passado são uma presença constante ao longo do livro: (…) vinha-lhe à lembrança a humidade do clima e a frescura do cheiro de sabonete life-buoy após o banho inundando o ar e provocando sensações de limpeza e asseio numa atmosfera abafada de calor e de humidade” (p. 23); (…) “ocorria-lhe comer uma galinha de chabéu logo que chegasse” (p. 29); (…) “e naquele andar constante passam pelo Carlos de bunda tremida enquanto as mamas tremem como gelatina” (p. 43); (…) “alguém conseguirá descrever o cheiro da bolanha ?” (p. 52); (…) “é pegajoso aos sentidos e à memória, como a lama do tarrafo” (p. 53); (…) “foi escolhido jantar: sopa de peitos de rola. E depois, papaia bem regada com limão” (p. 86); (…) as papaias (…) estão gordas, grandes, redondas (…): são amojos de cabra prenha de leite” (p. 89); (…) “chega-se a Bafatá (…). Agora as casas são desabitações” (p. 91); (…) “a gente tem a alma aberta como ostra comida”(p.101)…

Enfim, são alguns exemplos, soltos, deste “pilão” onde o autor mistura, tortura e liberta memórias e

afetos, tornando apropriado o título do livro, "Guiné, um rio de memórias".

O livro vale também pelas memórias das gentes e dos lugares: Bissau, Saltinho, Guileje, Capé, Bafatá, Bambadinca, Xitole, Cussilinta, Buba, Mampatá, Varela, eQuinhamel,  no regresso a casa o deserto ou a sua borda marítima… “O deserto é fascinante: é um deslumbramento de silêncio” (p.162). Delicioso é o texto sobre a paragem em Marraquexe (cap. 20: Desmedidamente…. pp. 165-170), a cidade vermelha de mil encantos: (…) “o Joaquim [leia-se: António Camilo] era a décima quinta vez que ali estava” (p. 166)… “Dizia o Joaquim: não se percam . Tinha razão” (p. 167). (…) “o Joaquim perdeu-se do Carlos e o Xavier perdeu-se dos outros dois. Só muito tarde se encontraram. Vinham inebriados. Desmedidamente perdidos”… (pp. 168/169).

Quem volta à Guiné, como o Carlos, o Joaquim, o Xavier, o Matias…, e regressa a casa, nunca regressa completamente. O Carlos, tal como o Joaquim, passa a sofrer da síndrome da partida… e “ costuma dizer que tem mais dores aquele nunca regressa completamente” (p. 175).

Chegado ao fim desta “nota de leitura”, aqui ficam entretanto algumas chamadas de atenção para pequenos erros ou gralhas de toponímia, a corrigir em próxima edição.

- Varela e não Ponta Varela (pp. 119 e ss.) (Varela fica na região do Cacheu, ponta Varela fica na região de Bafatá, na margem esquerda do Rio Geba, a jusante, a seguir ao Xime, antes da foz do Rio Corubal):

- Pigiguiti e não Pitjiguiti (pp. 34-35) (quando muito Pidjiguiti ou… Pindjiguiti, como escrevem hoje os guineenses);

- 5ª Rep e não Rep 5 (p. 41) (o famoso café Bento, junto à Amura, em Bissau);

- Mato Cão (e não Matu Cão, quando muito Matu Kon, em crioulo) (p. 52);

- Ponte dos Fulas (em caixa alta) e não ponte dos fulas (p. 30) (destacamento avançado do Xitole, junto ao rio Pulom);

- A estrela do internacionalismo proletário (e não operário) que encima o nosso “antigo monumento à raça”, na antiga praça do Império, em Bissau (p.33);

- Rio Jagarajá e não rio Jagaraje (p. 79)...

E já agora, porquê "irâns" e não irãs, como usamos no blogue ? Julgamos que fica melhor grafado em português.

Por fim, ao sugestão: a criação de um glossário, a inserir no fim do livro, de preferência. As notas de rodapé, embora úteis (e imprescindíveis, sobretudo para o leitor não familiarizado com a cultura guineense), cortam o ritmo da leitura, distraem o leitor…E são mais de 8 dezenas. Algumas são dispensáveis: eu, por exemplo, evitaria todas as referências às “raças da Guiné”… Na realidade, o fula não é uma raça, mas um grupo étnico-linguístico… De resto, não há "raças humanas"...Ou melhor: há só uma...

Em contrapartida, há notas de rodapé que são deliciosas como a do “toca-toca” (p. 36(: “Carrinhas tipo furgão que servem de transporte particular entre as localidades. Na chapa lateral existem janelas muitas vezes feitas a cortes de tesoura de ferro. Servem para transportar pessoas e animais, e bem assim, produtos da terra como mancarra ou coconote. Avisa-se o condutor que vai entrar mais um passageiro, batendo na chapa. Por isso se chama Toca-Toca”. (**)

Em resumo, eis um livro que eu sugiro para leitura, neste verão, na praia ou no campo, a todos aqueles de nós que querem partir mantenhas com os nossos amigos e irmãos da Guiné, exorcizar os fantasmas da guerra, ou simplesmente matar saudades dessa terra verde e rubra, ainda cheia de sortilégios e mistérios, de dores e esperanças... LG

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Notas do editor:


(*) Vd. poste de 7 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17654: Notas de leitura (984): "Guiné: um rio de memórias", de Luís Branquinho Crespo: exorcizar velhos e novos fantasmas - Parte I (Luís Graça)


(**) Último poste da série > 7  de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17655: Notas de leitura (985): “Portugal e o Império Africano - Séculos XIX e XX”, coordenação de Valentim Alexandre, Edições Colibri, 2013 (1) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17654: Notas de leitura (984): "Guiné: um rio de memórias", de Luís Branquinho Crespo: exorcizar velhos e novos fantasmas - Parte I (Luís Graça)



Capa do livro do Luís Branquinho Crespo, "Guiné: um rio de memórias". Leiria, Textiverso, 2017, 181 pp. (Prefácio de António Graça de Abreu). [Preço, com envio através do correio: € 15,80 já com portes, podendo esse valor ser transferido para o seguinte IBAN 0010 0000 1888 8110 0015 3.]



1. Esta é a viagem que muitos daqueles de nós, que estivemos na Guiné, entre 1961 e 1974, gostaríamos de ter feito (ou ainda fazer) no tempo útil das nossas vidas… E este é o livro que gostaríamos de ter escrito (ou ainda escrever), no regresso a casa…

”Turismo de saudade ?”… Não, não gosto do termo. Prefiro antes, talvez, expressões como “fazer o ajuste de contas com o passado”, “exorcizar os fantasmas da guerra colonial na Guiné”, “recompor o puzzle esburacado da memória”…

Quarenta anos depois de regressar a casa, são e salvo, mas provavelmente com a morte na alma, como muitos de nós, o advogado leiriense Luís Branquinho Crespo, ex-alf mil, cmdt do Pel Caç Nat 54 (Xitole e Saltinho, 1968/70), voltou aos lugares onde deixou a sua juventude. Foi lá que completou os seus 25 anos, em 22 de dezembro de 1969.

Como muitos outros ex-combatentes que seguiram as mesmas peugadas, voltando à Guiné (uma, duas, três e até, nalguns casos, em missões humanitárias ou não), o autor partiu de avião e voltou por terra, de jipe, com mais dois ex-camaradas, em março de 2010. Atravessou sete países: Guiné-Bissau, Senegal, Mauritânia, Sará Ocidental, Marrocos, Espanha e Portugal. 

Convenhamos que foi uma aventura com alguns riscos calculados… Sete anos depois deu à estampa este livro de 181 páginas, e 21 capítulos. Não é um romance, não é um diário, não é uma crónica de viagem, não é uma biografia, não é um ensaio, não é um documento memorialístico, não é um longo poema, não é um solilóquio… É tudo isto um pouco, é algo mais, é uma mistura de géneros. É também uma ponte lusófona entre dois povos cujos destinos a história aproximou e afastou…

O jurista não matou o poeta da juventude (“Cidade sem fim”, Leiria, 1963). Como também o ex-combatente não impediu o viajante de redescobrir os cheiros e os sabores da “primeira vez“, nem o homem de sentir empatia e compaixão pelos guineenses de ontem e de hoje e de tentar compreender, mais do que explicar, os erros, os bloqueios, os paradoxos e as perplexidades do presente que estão a hipotecar o futuro da Guiné-Bissau.

Não sei qual foi o “making of” deste livro. Mas imagino: o autor deve ter feito o seu “diário de bordo”, além do “registo fotográfico” desta viagem de regresso à Guiné que em grande parte compartilhou com mais dois ex-combatentes, a par de pesquisas no nosso blogue e exploração de outras fontes.

Luís Branquinho Crespo coloca-se decididamente na pele de “viajante” e não de “turista”. Citando Paulo Bowles, uma viagem “é sempre uma experiência íntima” (p. 27). E, como alguém disse, e eu gosto de repetir, um turista é uma espécie de “estúpido em férias”: não vai à descoberta, vai para onde lhe mandam, com tempo e hora marcada...

Para se sentir mais confortável na elaboração da narrativa dessa experiência única (que é voltar à terra onde se viveu e combateu durante quase dois anos, a milhares de quilómetros de casa), ele coloca-se na pele de uma personagem, o Carlos Viegas, hoje contabilista, e que vivia em São Martinho do Porto, Alcobaça, à data da sua mobilização para a Guiné. É, obviamente, o “alter ego” de Luís Branquinho Crespo. De jipe, a que ele chama “toca-toca”, vai percorrer grande parte da Guiné, de Bissau ao Saltinho, com incursões pelo leste (Xime, Bambadinca, Bafatá, Xitole), pelo sul (Contabane, Mampatá, Quebo, Guileje, Cacine) e pelo norte (Varela).

O mesmo “toca-toca” levá-lo-á de regresso a casa, com mais dois companheiros de aventura: o Joaquim (que é o “retrato físico e psicológico” do nosso conhecido António Camilo, comerciante em Lagoa, a quem a revista "Visão" chamou o "o bom gigantye") e o Xavier (de quem se sabe pouco: é enfermeiro em Montemor-O-Novo)… Três almas inquietas, divididas entre o passado e o presente, exorcizando velhos e novos fantasmas..

Esta trilogia, com mais alguns personagens secundários mas fortes (a Fá de Varela, o Braima Bá, o Matias, a Maria, o António Pouca Sorte, o Aníbal do Pelicano, o Dauda, o Tchuto Axon, o Pepito de Iemberém…), podia ser a base da arquitetura de um poderoso romance, se o autor quisesse (e pudesse) enveredar pela ficção… Se o pano de fundo da história fossem os náufragos do império e da luta de libertação…

Mas, não, o autor quis apenas fixar para a posteridade estas suas “memórias da Guiné, alegres e doridas”, como ele deixou expresso na dedicatória autografada no livro que me ofereceu.

Mas, não, o autor quis apenas fixar para a posteridade estas suas “memórias da Guiné, alegres e doridas”, como ele deixou expresso na dedicatória autografada no exemplar do  livro que me ofereceu.(*)

Tinha feito uma primeira leitura em diagonal do livro, quando me chegou à mão, pelo correio, amável oferta do autor. Só há dias o li, na praia, de uma só penada, numa tarde.

2. Na realidade, é uma narrativa que nos toca e nos agarra, àqueles de nós que conheceram a Guiné, a de antes e/ou a depois da independência. O meu destaque vai para dois ou três capítulos fortes: cap 7. António Pouca Sorte; cap 13. ‘A gente tem a alma aberta como ostra comida’; cap 19. Janela do tamanho de porta de partida… É tudo horizonte… E, depois do horizonte, horizonte há…

O António Pouca Sorte, “mais preto que branco”, nascido na serra do Caldeirão em 1965, é uma história de vida pungente, de um homem, fugido à justiça portuguesa, que acabou por se perder pelos matos, bolanhas e rias da Guiné, um tangomau ou lançado dos tempos modernos, sem identidade nem memória (cap. 7).

O dramático relato do Braima Bá é o de um homem que, tendo servido o exército colonial, desde 1964 até ao fim da guerra (, onde acaba integrado no batalhão de comandos africanos), e que vai conhecer “o corredor da morte” do Cumeré, a fuga, o exílio, o opróbio, e que no final da vida ainda tem “a alma abertu suma ostra ora ku i kumedo” (p. 116) (cap. 13).

Por fim, no regresso a casa (cap. 19), Carlos, Joaquim e Xavier visitam a ilha de Goré, em frente a Dacar, capital do Senegal, e obrigatoriamente a casa dos escravos: “por ali passaram 12,5 milhões de homens na direcção das Américas por uma porta estreita que só para o mar” (p. 151)… “Ao Carlos, ao Joauqim e ao Xavier a palavra tornou-se muda e tolda-se-lhes a vista e as pernas tremiam-lhes: quem ali não se lembra de Auschwitz, Birkenau, Bremem, Essen, Treblinka”… (p. 151 “Os negreiros árabes ali os descarregavam” (p. 152)…”Ali está uma parte da miséria da humanidade” (p. 153)…

[A ilha de Gorée está classificada pela UNESCO como património mundial da humanidade´e foi recentemente visitada, incluindo a Casa dos Escravos, pelo nosso Presidente da República em visita oficial ao Senegal].

(Continua) (**)
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2 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17425: Notas de leitura (963): “Guiné, Um rio de memórias”, por Luís Branquinho Crespo, Textiverso, Unipessoal, Lda, 2017 (Mário Beja Santos)

21 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17383: Notas de leitura (959): Prefácio de António Graça Abreu, ao livro "Guiné: um rio de memórias", de Luís Branquinho Crespo, lançado em Leiria no passado dia 6 com a presença do Presidente da Câmara Municipal local, Raul Castro, também ele ex-combatente

18 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17370: Tabanca Grande (437): Luís Branquinho Crespo, ex-alf mil, CART 2413 (Xitole e Saltinho, 1968/70)... Passa a sentar-se à sombra do nosso polião, no lugar nº 744. É advogado em Leiria e autor do livro "Guiné: Um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017)

(**) Último poste da série > 4 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17648: Notas de leitura (983): Um belo conto de Abdulai Sila, “O Reencontro” (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17375: Inquérito 'on line' (116): Fátima... Num total (final) de 84 respostas, conclui-se que : (i) todos lá fomos, pelo menos uma vez na vida, antes (44%), durante (8%) ou depois da tropa (20%); (ii) não tanto como peregrinos (20%) mas mais como turistas (55%)... A questão admitia mais do que uma resposta.

I. INQUÉRITO 'ON LINE':
N. Sra. de Fátima de Guileje...
Foto do António Camilo (2010)



"FUI COMBATENTE, NUNCA FUI A FÁTIMA"...



Total de respostas > 84


1. Fui lá ainda em miúdo 

ou ainda antes de ir para a tropa > 37 (44%)

2. Fui lá, como militar, 
antes de ir para o ultramar > 7 (8%)

3. Fui lá logo depois de vir do ultramar > 15 (17%)

4. Só fui lá muitos anos depois 
(de vir do ultramar) > 17 (20%)

5. Fui lá como verdadeiro peregrino ou crente > 17 (20%)

6. Fui lá como simples turista ou em passeio > 47 (55%)

7. Nunca fui a Fátima 
mas ainda gostaria de lá poder ir > 0 (0%)

8. Nunca fui a Fátima 
nem tenho especial interesse em lá ir > 0 (0%)


II. O prazo de resposta terminou na 4ª feira, dia 18. (*)


O facto mais surpreendente é que todos nós, ex-combatentes, crentes ou não crentes, já fomos a Fátima, num dado  momento da nossa vida, uma ou mais vezes. 

A maioria (55%) respondeu que foi lá "como simples turista ou em passeio". E só um em cada cinco admitiu que foi lá como "verdadeiro peregrino ou crente" (20%).  

Os que lá foram logo depois de vir do ultramar (17%) ou muitos anos depois de vir do ultramar (20%) somam mais de um terço. Nestes haverá, por certo, um nº razoável de pagadores de promessas, mas que é difícil de quantificar, talvez uns 10% ou menos dos respondentes.(**)

Faltam-nos testemunhos de camaradas que tenham ido em peregrinação a Fátima, a pé ou de carro, por razões de fé, e nomeadamente no pagamento de promessas feitas por ocasião da guerra no ultramar /guerra colonial (por ex., não ter sido mobilizado, não ter ido como atirador, não ter morrido ou não ter sido ferido, ter voltado são e salvo). 

Mas este é um assunto do foro íntimo, é difícil encontrar camaradas dispostos a dar, em público, no nosso blogue, o seu testemunho sobre a sua ida a Fátima.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17342: Tabanca Grande (436): Luís Branquinho Crespo, autor de "Guiné: um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017) aceita o nosso convite para ser o nosso próximo grã-tabanqueiro


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Capela > 2010 > O Luís Branquinho Crespo  (advogado, Leiria) e o António Camilo (empresário, Lagoa) colocando a imagem de N. Sra. de Fátima, na sua base.




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Capela > 2010 > A imagem, depois de colocada na sua base.

Fotos: © António Camilo (2010). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Mensagem de Luis Branquinho Crespo (autor de "Guiné: um rio de memórias", Leiria, Textiverso, 2017):

[Foto à esquerda, da respetiva página no Facebook]

Data - 10 maio 2017 15:02
Assunto - Rio de Memórias


Meu Caro Luís Graça

Muito obrigado pela ousadia em escrever-me e sobretudo pela franqueza da sua carta (*). Muitos "chutariam" para o lado uma justificação e nem sequer se arriscariam a dizer a verdade. Ainda bem que assim é.

Correu muito bem a apresentação do livro, pode crer.

Com gosto farei parte da Tabanca Grande.

Logo que me for possível mandarei uma fotografia minha do meu tempo de militar e uma actual.

Vou contactar o Dr. António Graça de Abreu para o mesmo vos dar conhecimento do texto de apresentação.

Conheço Guiledje e pertenço aos amigos da capela desse quartel (**), embora o meu tempo tivesse sido no Xitole e no Saltinho. Mas é com muito gosto que depois darei mais dados sobre mim. (***)

Receba um grande abraço deste camarada

Luís Branquinho Crespo
Advogado
Largo da Infantaria 7, n.º 19, 1.º Andar, 2410 - 111 Leiria - Portugal
Tel: (351) 244 843 270  Fax: (351) 244 843 279
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

7 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17326: Fotos à procura de uma... legenda (85): Nossa Senhora de Fátima de Guileje... a propósito do lançamento do livro de Luís Branquinho Crespo, "Guiné: um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017)

5 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17320: Agenda cultural (557): Lançamento do livro "Guiné: um rio de memórias", de Luís Branquinho Crespo. Sábado, 6 de maio, às 15h30, em Leiria, no Celeiro da Casa do Terreiro. Apresentação do nosso camarada António Graça de Abreu. O autor fez parte do Grupo dos Amigos da Capela de Guileje.


domingo, 7 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17326: Fotos à procura de uma... legenda (85): Nossa Senhora de Fátima de Guileje... a propósito do lançamento do livro de Luís Branquinho Crespo, "Guiné: um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje ou a caminho de Guileje > 2010 > "A Nossa Senhora de Fátima de Guileje"... A última doação à Capela de Guileje, uma imagem de N. Sra. de Fátima, trazida de Portugal por António Camilo e Luís Branquinho Crespo. 

Recordamos aqui uma mensagem do nosso saudoso amigo Pepito (1947-2014), com data de 16/3/2010:

"Luís: Mais uma importante contribuição dos nossos amigos da Capela de Guiledje, o António Camilo e o Dr. Luis Branquinho Crespo (na foto), que fizeram questão de se deslocarem a Guiledje para doarem a imagem da Nossa Senhora de Fátima à Capela. Este gesto tão bonito, foi acompanhado pelos votos de que esta oferta ajude a Guiné-Bissau a encontrar rapidamente os caminhos da Paz. Abraço. Pepito."

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2010). Todos os direitos reservados [ Edião e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário do nosso editor, inserido no  poste P17320 (*), a propósito do lançamento do livro "Guiné: um rio de memórias", de Luís Branquinho Crespo, advogado em Leiria, que esteve na zona leste, Xitole/Saltinho, entre 1968 e 1970, possivelmente a comandar um Pel Caç Nat (sabemos que no  final de 1968, ao tempo do BCAÇ 2852, o Pel Caç Nat 63 estava no Saltinho, o  Pel Caç Nat 53 em Bambadinca, e o Pel Caç Nat 52 em Missirá: em abril de 1969, o Pel Caç Nat 63 vai para Bambadinca).

 Luís, caro camarada da Guiné:

Antes de mais os meus parabéns pela publicação do livro "Guiné: um rio de memórias". Fico sempre feliz quando vejo um camarada meu, dos tempos da Guiné, exorcizar em livro, em prosa ou em verso, os fantasmas que ainda povoam a floresta galeria da nossa dorida memória..

Embora não nos conhecendo pessoalmente, o nome do Luís não me era estranho... Não estudei em Leiria, sou da Lourinhã e acompanhei, à distância, através do meu amigo de infância Álvaro de Carvalho, hoje conhecido psiquiatra, a irreverência e a inquietação, poética, cultural e cívica, da sua geração (onde se incluem figuras públicas como o Alberto Costa...) enquanto estudantes do liceu de Leiria... Recordo-me de ler, fascinado, o vosso jornal e sobretudo a vossa produção poética...

Por outro lado, tenho velhos e bons amigos aí, em Leiria (...). Vou, desde 1975, com alguma frequência à bela capital do Liz... É nesse concelho, em Monte Real, que se tem realizado, todos os anos, desde 2010, o Encontro Nacional da Tabanca Grande, o mesmo é dizer, do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que tem 13 anos de existência...

Em contrapartida, sinto-me constrangido, ao escrever-lhe, porque nunca cheguei a dar resposta, que eu me lembre, ao seu amável convite, de 2/12/2013, para aceitar apreciar e comentar o seu manuscrito e ajudá-lo a encontrar um editor. Remexendo numa das minhas várias caixas de correio, deparei-me com a sua mensagem... Nem sequer foi aberta, o que é lamentável, mas eventualmente desculpável: nessa altura, eu ainda estava no ativo, como professor universitário, e nem
sempre conseguia dar resposta aos muitos mails que recebia, quer por razões profissionais, quer na qualidade de editor do blogue. Confesso que não me lembro desta sua mensagem...

Peço-lhe, tardiamente, que aceite as minhas desculpas. Fico feliz por ter encontrado um editor, para mais da terra. Vou ler o livro e prometo fazer-lhe uma bela recensão, eu ou o nosso crítico literário
Mário Beja Santos. Também seria interessante podermos publicar o texto de apresentação.(...) Sei que o apresentador é de cinco estrelas, o meu amigo e nosso camarada António Graça de Abreu.

E faço questão desde já de o convidar, a si, Luís, para integrar a nossa Tabanca Grande. Somos já 742 os grã-tabanqueiros registados (54, infelizmente, já falecidos)... O Luís tem por certo histórias e fotos para partilhar connosco. Para já, e para o apresentar, só preciso de duas fotos, uma do tempo da Guiné e outra atual, e um pequeno CV militar...

Em tempos publicámos uma espantosa foto que o saudoso Pepito nos mandou com o Luís, de costas, "desembrulhando" a nossa senhora de Fátima de Guileje... Na altura o Luís foi, com o Camilo e o Pepito até Guileje, fazer a entrega da imagem... É uma belíssima e feliz imagem, que junto remeto, para o caso de não a ter. O Luís, afinal, fez parte do Grupo de Amigos da Capela de Guileje! (**)

Receba uma alfabravo do camarada Luís Graça.
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sexta-feira, 5 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17320: Agenda cultural (557): Lançamento do livro "Guiné: um rio de memórias", de Luís Branquinho Crespo. Sábado, 6 de maio, às 15h30, em Leiria, no Celeiro da Casa do Terreiro. Apresentação do nosso camarada António Graça de Abreu. O autor fez parte do Grupo dos Amigos da Capela de Guileje.



O convite chega-nos pela mão atenta e solícita do nosso camarada e colaborador permanente José Martins, que tem uma relação especial com Leiria, terra dos seus antepassados. A Textiverso é uma editora com sede em Leiria. O Luís Brnaquinho Crespo deve ter sido alfeeres miliciano num companhia que estve no Xitole / Saltinho, entre 1968 e 1970, é portanto contemporâneo de alguns de nós (BCAÇ 2852, CCAÇ 12...).


Sinopse do livro

Assombrados por lembranças passadas, três homens, entre vários, regressam ao ponto de partida de há muitos anos.

Num percurso atravessado por bolanhas e tarrafos da terra verde de floresta e do chão vermelho e amarelo da Guiné-Bissau, confronta-se esse rio de lembranças e de memórias mais recentes com os registos da solidão e de abandono como os sofridos por Braima Bá e pelo António Pouca Sorte. A que não é alheia uma descolonização pouco exemplar.

É este derramamento doloroso de memórias que percorre o livro e as elas são tão permanentes que nem o regresso pelo deserto afasta aqueles homens daquelas vidas que ficaram para sempre desacompanhadas.

O livro “Guiné - Um Rio de Memórias” é, também, além do mais, uma viagem íntima por um país de inacreditabilidades


Luís Branquinho Crespo - Nota biográfica 
(i) nasceu em 22 de dezembro de 1944 na localidade de Portelas da Reixida, freguesia de Cortes, concelho de Leiria:

(ii) fez os seus estudos no antigo Colégio Correia Mateus e, em seguida, no antigo Liceu de Leiria;

(iii) ingressou depois na Faculdade de Direito de Coimbra, interrompendo o curso por ter sido mobilizado para a guerra colonial na Guiné-Bissau;

(iv) de regresso, ainda frequentou a Faculdade de Direito de Lisboa, mas acabaria por se licenciar na Faculdade de Direito de Coimbra;

(v) exerce a profissão de Advogado em Leiria desde meados dos anos 70 do século XX;

(vi) publicou em Leiria, em 1963, o livro de poemas “Cidade Sem Fim” (70 p., colec. Almagre, n.º 2, capa de Augusto Mota);

(vii) em 1966, ainda em Leiria, foi co-autor da antologia “Almagre 3”, com Levi Condinho, Jaime Fernandes, António Maria de Sousa e Alberto Costa;

(viii) urante o seu percurso liceal, ganhou um 1.º Prémio de Poesia, e, durante mais de um ano, foi o editor da página cultural “Madrugada”,  no jornal “A Voz do Domingo”, também de Leiria;

(ix) tem colaboração dispersa por vários periódicos.

Fonte: Cortesia de Tinta Fresca - Jornal de Arte, Cultura e Cidadania


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 2010 > "A Nossa Senhora de Fátima de Guileje"... A última doação à Capela de Guileje, uma imagem de N. Sra. de Fátima, trazida de Portugal por António Camilo e Luís Branquinho Crespo. Recordamos aqui uma mensagem do nosso saudoso amigo Pepito (1947-2014),  com data de 16/3/2010: 

"Luís: Mais uma importante contribuição dos nossos amigos da Capela de Guiledje, o António Camilo e o Dr. Luis Branquinho Crespo (na foto), que fizeram questão de se deslocarem a Guiledje para doarem a imagem da Nossa Senhora de Fátima à Capela. Este gesto tão bonito, foi acompanhado pelos votos de que esta oferta ajude a Guiné-Bissau a encontrar rapidamente os caminhos da Paz. Abraço. Pepito."

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné Todos os direitos reservados.
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sexta-feira, 13 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16084: Na festa dos 12 anos, "manga de tempo", do nosso blogue (10): Mais capelas numa terra de que se dizia ser de fraca fé cristã... Fotos: Pepito (1949-2014), José Neto (1927-2007), Renato Monteiro, Jacinto Cristina, Joaquim Ruivo e João Martins


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > A última doação à Capela de Guileje, uma imagem de N. Sra. de Fátima, trazida de Portugal por António Camilo e Luís Branquinho Crespo. (*)


Foto: © Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Nucleo Museológico Memória de Guiledje > 2010 > Doação à Capela de Guileje, uma imagem de N. Sra. de Fátima, trazida expressamente de Portugal por António Camilo e Luís Branquinho Crespo . O António Camilo (à direita), ao lado do Pepito (1949-2014).(*)

Foto: © Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > A capelinha construída no tempo do Zé Neto (1929-2007)... Havia três imagens da N. Sra. de Fátima, de diversos tamanhos... Guileje foi "terra de fé e de coragem" (Zé Neto).


Foto: © Zé Neto / AD - Acção para o Desenvolvimento. (2007)/ Blogue Luís Grça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > A capela, da CART 1613 (1967/68),  agora renascidas cinza, graças ao empenho da população local, da AD,  do Pepito e do Domingos Fonseca, e da boa vontade de alguns velhos tuga, o "grupo de amigos da capela de Guileje".A data da sua inauguração oficial foi 20 de janeiro de 2010 (com a presença de nossa amiga Júlia Neta, viúva do Zé Neto, entre outra gente ilustre)... Guileje voltou a ser um local de paz, de fé, de solidariedade, de (re)encontro, de ecumenismo, de esperança (**)

Foto: © Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.





Guiné > Zona Leste > Contuboel > Tabanca dos arredores > CART 2479 (1968/69) > O fur mil at art Renato Monteiro com "um instruendo, mais alto ainda do que a fotografia revela"...Trata-se de um capelinha dedica a N. Sra. de Lurdes... "Quanto à localização da capela, terá sido em Contuboel?" - pergunta o Renato... Eu acho que sim, das memórias que ainda conservo de Contuboel (onde estive pouco mais de um mês e meio e onde funcionava em 1969 um Centro de Instrução Militar). É possível que estivesse ligada a uma missão católica. Havia alguns brancos em Contuboel, e nomeadamente um madeireiro. (***)

Fotos: © Renato Monteiro (2007). Todos os direitos reservados



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > O Cristina com um camarada junto á capela de Piche 

Fotos: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.




Guiné > Bissau > "Capela de Santa Luzia em Bissau. Nesta Capela esteve, em câmara ardente, uma das primeiras vitimas da guerra: um capitão de Cavalaria,  bem conhecido em Bissau por ser um grande desportista [, António Lopo Machado do Carmo]..  [O Joaquim Ruivo, na foto à esquerda,  diz, a seu respeito que  foipara a Guiné "como 1º cabo mecânico de armas pesadas", sendo colocado numa unidade de artilharia (obus 8,8), formada por naturais da Guiné. "Fui em Outubro de 61 e vim em Fevereiro de 64. Por isso tenho mais tempo de paz que de guerra."] (****)

Foto (e legenda): © Joaquim Ruivo (2013). Todos os direitos reservados



Guiné > Bissau < Junho de 1968 > Capela do Hospital Militar 241 > Foto nº 9/199. do álbum do ex-alf mil art João Martins (ex-Alf Mil Art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69)


Foto (e legenda): © João José Alves Martins (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Quem disse que a Guiné era uma terra fraca, em termos de fé cristã ?  É verdade que a população cristã, no nosso tempo, era quase residual, a maioria sendo animista e muçulmana. E continua a ser: cerca de 90%. dos guineenses são não-cristãos.

Apesar do crescimento do Islão, a Guiné-Bissau continua a ser um país laico, e com tradição de tolerância religiosa...

 O número de capelas e de outras manifestações da fé cristã multiplicaram-se ao longo da guerra colonial (1961-1974). Juntamos mais algumas fotos, que ilustram este fenómeno socioantropológico.  (*****).

Atualmente, na Guiné Bissau, cerca de 40% a 45% são muçulmanos,  "mais concentrados no interior do País do que na zona costeira". Os animistas ("adeptos das religiões tradicionais" serão cerca de 45% a 50%..."e o resto da população é composta por cristãos que representam 5 a 8%", lê-se no sítio Guiné-Bissau: um país de língua portuguesa. Num país onde não estatísticas, estes números só podem ser estimativas (grosseiras).

(****) Vd. poste de 12 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10928: Tabanca Grande (380): Joaquim Ruivo, grã-tabanqueiro nº 598, alentejano, ex-1º cabo mec , obus 8.8, BAC (Santa Luzia, Bissau, out 61 / fev 64)

(*****) Último poste da série > 7 de maio de  2016 > Guiné 63/74 - P16060: Na festa dos 12 anos, "manga de tempo", do nosso blogue (9): De quantas tabancas é feita a Tabanca Grande ?... Relembrando o feliz acaso do reencontro, 40 anos depois, do Zé Manel Matos Dinis com "o senhor Rosales", na Quinta do Paul, Ortigosa, em 20 de junho de 2009, por ocasião do nosso IV Encontro Nacional, e que esteve na origem da criação da Magnífica Tabanca da Linha...

Vd. também:

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15963: In Memoriam (251): José Moreira (1943-2016), ex-fur mil, CCAÇ 1565 (Jumbembem e Canjambari, 1966/68), um grande ser solidário, um grande ser humano, cofundador e líder da ONGD "Memórias e gentes" (, com sede em Coimbra)... Recordamos a sua pessoa, os seus valores e a sua obra, através de uma entrevista de há 5 anos


Sítio da ONGD "Memórias e Gentes", com sede em Coimbra. 


Coimbra > Sítio "Memórias e Gentes" > 13 de dezembro de 2012 > José Morera recebe o prémio de sócio honorário da assocaição, das mãos de Fernando Ferreira.


Coimbra > MEG - Memórias e Gentes > 20 de dezembro de 2012 >  José Morera agradece prémio de sócio honorário da associação que ele ajudou a criar, crescer e a dinamizar.


Logo da associação "Memórias e Gentes" > Esta ONGD foi fundada em 2007 e tem sede em Coimbra. Principais projetos: I. Guiné-Bissau: (i) Projecto Varela; (ii) Projecto Bindoro; (iii) Projecto Albinos; II. Moçambique: (iv) Projecto Gorongosa. Ver aqui página no Facebook.


ONGD  "Memórias e Gentes" >   Projecto Albinos (Guiné-Bissau)... Fonte: ONGD "Memórias e Gentes", página no Facebook.


1. O José Moreira, nascido em Taveiro, Coimbra, em 8 de junho de 1943, foi, juntamente com o algarvio de Alagoa, o  António Camilo, fur mil da CCAÇ 1565 (Bissau, Jumbembém, Canjambari, Bissau, 1966/68). E, tal como o Camilo, era um grande ser solidário.   Foi um dos fundadores da  Associação Humanitária Memórias e Gentes, e seguramente o seu grande líder. Fez mais de uma dúzia de expedições à Guiné-Bissau. 

No dia da sua morte, transcrevemos aqui um entrevista que ele deu ao sítio da CAD - Associação Coimbra Basquete.  Vamos lembrá-lo, como ele merece, e dar a conhecer o seu exemplo de grande ser humano, camarada e amigo da Guiné. Acabámos de falar com o seu genro (pelo nº de telemóvel 96 402 8040, que era o telemóvel pessoal do Zé Moreira), que nos confirmou a triste notícia: o Zé Moreira morreu hoje, ao fim de dois anos de luta tenaz contra uma neoplasia. O funeral é amanhã. Era membro da nossa Tabanca Grande. O seu nome passa a figurar na lista daqueles de nós que da lei da morte já se libertaram. As nossas condolências à família. LG

PS - Na sua página pessoal do Facebook, há camaradas a deixar mensagens de pesar, como esta do Álvaro [Manuel Oliveira] Basto, nosso grã-tabanqueiro:

"Zé, soube ha pouco com tristeza que partiste para a tua última expedição humanitária. Obrigado pelo que me ensinaste e pela amizade franca com que sempre me trataste. Vais deixar dentro de mim um vazio que nunca poderá ser preenchido. Fica bem lá na tua nova tabanca onde quer que estejas. À família o meu mais profundo pesar."



2. Com a devida vénia ao sítio, na Net, da CAD - Associação Coimbra Basquete, o novo Clube de Basquetebol da Cidade de Coimbra, nascido em  14 de julho de 2010.


Entrevista, em 28/12/2011,  a José Moreira em Campanha de solidariedade - Associação "Memorias e Gentes" (Reproduzida com a devida vénia)

 Entrevista a José Moreira,  presidente da associação “Memórias e Gentes”


P- A associação denomina-se Memórias e Gentes. Pode nos falar um pouco sobre esse projecto, quando foi criado e com que objetivos?

R- Antes de lhe responder e para se perceber, tenho de falar de mim:

Sou um combatente da “Guerra Colonial” na década de 60, concretamente em 1966, 1967 e 1968, tendo cumprido o serviço militar obrigatório na antiga província ultramarina da Guiné-Bissau, hoje país independente.

Terminada a vida militar, volvidos 33 anos, voltei à Guiné por terra em 2001, para reviver os locais por onde andei e apagar um pouco do chamado “stress pós traumático”. Do que vi, no regresso, trouxe na minha mala a vontade de voltar para levar coisas àquela gente que pouco ou nada tem, e foi o que aconteceu no ano seguinte e, ininterruptamente, até agora. 

Desde então, fui convidando os amigos e de ano para ano a caravana foi engrossando. Paralelamente, por mar, começamos a enviar um contentor com os mais diversos bens, distribuídos por nós nas aldeias do interior. Passado 6 anos, como o Grupo já tinha um capital de credibilidade e experiência, constituímo-nos em Associação, continuando como até aqui, a desenvolver acções de apoio humanitário, sem filiação partidária, sindical ou religiosa.

Face aos factos apontados, o nome escolhido “Memórias e Gentes” resulta da lembrança do passado (memórias) e, sensibilizados com o conhecimento das mais diversas carências, juntos, não nos poupamos a esforços em levar um pouco de esperança àquele povo que, mesmo sujeitos a uma situação de extrema pobreza, nos fascina com o seu calor humano, os laços culturais e a amizade que prevalece (gentes).

P- Quais as ações que já dinamizaram? Que feed back tem do trabalho realizado? A ajuda foi pontual ou continua a haver contribuições e intercâmbios?

R- Das acções desenvolvidas ao longo destes 9 anos com maior destaque, tem sido no apoio ao sistema educativo, pois a língua oficial é o português, de seguida o apetrechamento dos Centros de Saúde do interior com equipamento hospitalar e, por fim, roupa, calçado, alimentação duradoura para as Instituições credíveis e identificadas por nós. Do que levamos, fica de lado para distribuirmos pessoalmente, os brinquedos, algum material didáctico, as “bic´s” (que fazem a diferença) e os “chupa-chupas” para, em troca, receber sorrisos daquelas crianças das aldeias mais recônditas.

Do trabalho realizado, temos já o reconhecimento e registo como ONGD pelo Estado Português, tendo-se adquirido automaticamente a natureza de pessoa colectiva de UTILIDADE PÚBLICA.

Em termos de ajudas oficiais, temos submetido alguns projectos sérios e credíveis, mas em vão!

Somente a destacar um pequeno subsídio à expedição/2010 pela Câmara Municipal de Coimbra e a ajuda, com material didáctico, do ex-Governo Civil de Coimbra.

A destacar também, e isso sim, o papel preponderante que os cidadãos comuns e os responsáveis de algumas empresas desempenham, na dinâmica e motivação destas missões de ajuda humanitária.

De referir, ainda, que estas viagens são a expensas de cada expedicionário.



O José Moreira já estava doente, em tratamento oncológico, há 2 anos... Não sabemos se ainda participou da XIII Expedição  Humanitária, que partiu de Coimbra em 3 de abril de 2014, com destino à Guiné-Bissau. Imagem: página pessoal do José Moreira no Facebook.

P- Este ano está a apoiar uma creche em Varela, na Guiné-Bissau. Pode-nos falar um pouco porque surgiu essa iniciativa? Muitos nos perguntam porquê Guiné e não Portugal ou outro país qualquer?

R- Com as nossas incursões ao interior, durante todos estes anos, chegamos há 3 anos a Varela que fica a norte daquele país, muito perto da fronteira com o Senegal. Na altura, foi-nos transmitido o porquê da existência brutal de índice de mortalidade infantil, que passo a explicar: Varela fica junto ao mar, a actividade dos homens é a pesca artesanal, as mulheres, em terra, fazem grandes fogueiras para, em “panelões”,  cozerem o peixe e posterior seca ao sol. Dito isto, tudo parece pacífico, mas não é! As mães, na referida labuta, trazem permanentemente consigo e às costas as crianças de tenra idade, inalando os fumos e ainda por cima debaixo de um sol tórrido. 

Foi assim, que nos propusemos em apoiar uma Creche que, no primeiro ano, colocamos aquelas crianças à sombrinha, água engarrafada (de cá) e alimentação e vigiadas por duas senhoras. Nos anos subsequentes, tudo temos levado, desde pratos colheres, copos, mobiliário, caminhas, roupas, rolos de pano para fazerem batas, etc.. 

Entretanto, abrimos um furo com água potável, temos levado materiais para a construção da nova Creche, tubagem, material sanitário, lavatórios e acessórios, como rede de vedação, gerador e bomba submersível. Entretanto admitimos 3 formadoras para ensinarem as coisas mais básicas e ensinar-lhes a falar e a escrever o português. Esperemos que colhamos frutos brevemente!

Na próxima expedição, com saída de Coimbra a 23 de Fevereiro próximo [2011], vamos montar uma torre em ferro, para suportar os depósitos de água. Em relação ao potente gerador que já lá temos para a iluminação e tomadas, como para accionar a bomba de água, estamos a ponderar em vendê-lo e montar um painel “foto voltaico” (energia solar), dado que os custos de manutenção são muito mais reduzidos, só que, com esta alteração, necessitamos de mais 3.000 €, valor que ainda não realizamos.

Em relação ao porquê Guiné e não outros países, cumpre-nos informar que estamos a trabalhar em parceria com algumas Instituições da cidade de Coimbra e Lojas Sociais, nomeadamente, a de Taveiro. Pelo terramoto no Haiti enviamos 3 paletes de medicamentos e na mesma altura, outros tantos para Moçambique, em colaboração com a Associação Saúde em Português de Coimbra.

Portanto, como solidários que somos, estamos atentos, muito embora esta Associação esteja talhada a realizar expedições a África por terra. Aqui, queremos realçar a participação dos mais jovens, que trouxeram uma mais-valia, quer na dinâmica de recolha de bens, quer na participação activa das expedições, certamente devido à parte lúdica da viagem, nomeadamente, a travessia do deserto, conhecerem outras gentes, outras culturas, como a demonstração do seu espírito solidário, pois também se sentem incomodados nas diferenças de dois mundos que nos são tão próximos.


O Alfaiate de Jumbembem:  na Expedição Coimbra-Bissau da MEG, um velho alfaiate disse-nos que precisava de uma máquina de costura para voltar a trabalhar, porque a sua Singer estava morta fazia já muitas chuvas. Há dias realizou-se o Convívio Anual da Companhia de Caçadores 1565 que esteve em Junbembem nos anos de 1966-1968. Dirigentes da MEG [Memórias e Gentes] mostraram fotografias do nosso encontro. E hoje cabe-nos falar de solidariedade e velhas amizades:
- O Alfaiate terá uma nova máquina de costura (nova e Singer!) oferecida pela D. Fernanda, esposa do ex-Furriel Leite (Porto);
- O Alfaiate terá agulhas e carrinhos de linhas (para mais dez anos) oferecidos pelo Polery, ele também ex-militar da CCaç. 1565 (Vizela);
- O dirigente da MEG e ex-furriel José Moreira está encarregado de entregar em mão ao Alfaiate de Jumbembem estes seus novos pertences. Obrigado!

Foto (e legenda): Página do Facebook da ONGD "Memórias e Gentes" > MEG - Memórias e Gentes > 19 de junho de 2013

P- O Projeto Bom Dia Bom Dia é uma ideia muito terna e parece nos muito fácil de concretizar. Tem tido uma boa aceitação? Como reagem os meninos apadrinhados ao saberem que alguém “muito longe” se preocupa com eles?

R- A sua pergunta é pertinente e muito actual! Aquando da nossa estada em Março passado, alguém se lembrou de tirarmos fotos à criançada e medir a altura, só não foram pesados por falta de balança. Daí a ideia do apadrinhamento e um meio de realizar fundos, ajudando-nos na alimentação e educação das cerca de 80 crianças. Devo dizer que tem sido um êxito, Temos já 54 crianças apadrinhadas que, entre madrinhas e padrinhos, estão envolvidas 71 pessoas de norte a sul de Portugal, da Áustria, da Suíça e de Inglaterra. Na próxima viagem, só dos padrinhos, vamos levar muito perto dos 2.000 € e lembranças para os afilhados. Isto é lindo, BEM-HAJAM a todos!

Muito embora as crianças já tenham conhecimento desta iniciativa, quando chegarmos, queremos vincar junto das mães, da responsável pela creche e das formadoras, que nós portugueses, somos efectivamente solidários e empenhados que sejam mais felizes e fundamentalmente de boa saúde.

P- O CAD Associação Coimbra Basquete fez uma campanha entre os seus atletas e amigos e angariou bastantes e diversificados bens. Como podem as pessoas assegurar se de que as suas ofertas irão chegar ao destino certo?

R- Antes de mais, queremos agradecer ao CAD Associação Coimbra Basquete pela campanha em curso. Dos bens angariados, só queremos saber qual o destino a dar-lhes na Guiné, se inteiramente para a Creche e(ou) para outras Instituições, e a “Memórias e Gentes” pessoa colectiva de direito privado sem fins lucrativos, já com um capital de credibilidade naquele país, garantirá a entrega dos bens no destino a indicar pelo CAD.

P- Congratulamo-nos pela sua dedicação e empenho numa causa tão nobre e com o dinamismo que lhe imprime. Agradecemos-lhe ter nos dado a possibilidade de alertar os nossos jovens/atletas para estes problemas sociais que farão parte da sua formação enquanto pessoa. Qual a mensagem que lhes quer deixar?

R- Que pratiquem o desporto com lealdade. Que na sua formação saibam distinguir o bem do mal. Que gostaria de os levar a conhecer o outro mundo. Que partilhassem com os meninos e meninas da mesma idade, com aquilo de que já não necessitam, pois seria um tónico milagroso contra a indiferença que parece estar a disseminar-se assustadoramente pelo mundo, e assim, nascerão novos sorrisos, novas esperanças para aqueles que pouco ou nada tem e o mundo ficará diferente…menos indiferente!

Um muito obrigada
Pelo CAD Coimbra Basquete
Margarida Teresa Figueiredo
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Nota do editor: