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sábado, 4 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22510: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte VI: A lenda de Djanqui Uali, o último Mansa Bá (imperador) do Cabú


Ilustrações do mestre Augusto Trigo (pp. 44, 45, 46 e 47)


1. Transcrição das págs. 43 a 48  do livro "Lendas e contos da Guiné-Bissau", com a devida autorização do autor (*)


J. Carlos M. Fortunato > 
Lendas e contos da Guiné-Bissau


O autor, Carlos Fortunato, ex-fur mil arm pes inf, MA, 
CCAÇ 13, Bissorã, 1969/71, é o presidente da direcção da ONGD Ajuda Amiga



Capa do livro "Lendas e contos da Guiné-Bissau / J. Carlos M. Fortunato ; il. Augusto Trigo... [et al.]. - 1ª ed. - [S.l.] : Ajuda Amiga : MIL Movimento Internacional Lusófono : DG Edições, 2017. - 102 p. : il. ; 24 cm. - ISBN 978-989-8661-68-5


A lenda de Djanqui Uali 

(pp. 43-48)


O Mansa Djanqui Uali Sané quando chegou o seu tempo de ser Mansa Bá (Imperador) de Cabú, predisse que o Império de Cabú iria terminar.

Eu vou ser o último Mansa – disse ele.

Quando a guerra com o Futa Djalon (19) começou, Djanqui Uali enviou ao Futa Djalon uma embaixada, na qual se incluía um representante de cada um dos 32 Reinos sob o seu domínio, ou com os quais tinha alianças, mas a sua chegada ao Futa Djalon não foi bem aceite, e questionaram a embaixada:

– Como se atrevem a colocar um pé nas nossas terras, não sendo muçulmanos? Vão morrer por isso!

Perante o massacre dos embaixadores Djanqui Uali compreendeu que a guerra era inevitável, e reunido com os Mansas dos diversos Reinos emnCansalá, questionou-os:

– Como vamos responder a terem morto os 32 representantes que enviámos? 
– mas eles nada responderam, pois nenhum queria avançar para a guerra.

Segundo os marabus, quem derramasse o primeiro sangue em Cansalá perderia a guerra. Assim os fulas engendraram um plano, para que o primeiro sangue em Cansalá fosse derramado pelos mandingas.

Os fulas apanharam um macaco de cor avermelhada (orangotango), o qual deixaram vários dias sem beber, depois deram-lhe água numa tigela, mas a água tinha um mésinho misturado que o transformava num homem, embora as pessoas apenas vissem um macaco. Assim, após ele beber a água, bateram-lhe nas costas e disseram-lhe:

- Vai para Cansalá e sobe ao poilão sagrado.

Quando o macaco subiu ao poilão sagrado de Cansalá, causou grande confusão e temor, sendo confundido com um espírito maligno, pois nunca ninguém tinha visto um macaco daquela cor. Pensaram então que a sua presença no poilão sagrado, era uma ameaça para os espíritos que
protegiam Cansalá.

As pessoas perguntavam-se:

– O que trouxe este macaco aqui?

– O que trouxe este macaco ao nosso poilão?

Djanqui Uali disse-lhes:

– Não se preocupem. Este macaco vem do Futa Djalon, é o símbolo da sua traição, não vamos fazer-lhe mal.

Contrariando a vontade de Djanqui Uali, um tiro foi disparado contra o macaco, e o seu sangue foi derramado em Cansalá, traçando-se assim o fim do Império de Cabú.

No Futa Djalon, a água da tigela onde o macaco tinha bebido, tornouse vermelha, e os homens do Futa Djalon souberam que tinha sido derramad sangue em Cansalá.

Após algumas incursões, os fulas do Futa Djalon
Pág. 45
avançaram para Cansalá, com um poderoso exército de 40.000 homens, enquanto que Djanqui Uali tinha apenas 600 guerreiros.

Djanqui Uali era também um poderoso feiticeiro e as serpentes eram o animal da sua magia. Foram elas que o avisaram, que um poderoso exército fula estava a caminho de Cansalá.

Djanqui Uali enviou um dos seus filhos, para saber quais eram as forças do inimigo, para se poder preparar para a batalha, ao mesmo tempo que enviava pedidos de ajuda aos diversos reinos, dos quais nunca teve resposta.

O filho de Djanqui Uali cavalgou durante todo o dia, sem nunca conseguir ver o fim das forças inimigas, e quando Djanqui Uali lhe perguntou qual era o seu número, ele pegou com as duas mãos num monte de areia e respondeu:

– Os homens do Futa Djalon são tantos quanto os grão de areia deste monte, se alguém conseguir contá-los saberemos o seu número.

Djanqui Uali ainda enviou o seu sobrinho com a mesma missão, mas a resposta foi a mesma.
 
Face à desproporção de forças em confronto, Djanqui Uali optou por se defender em Cansalá. Na verdade as incursões anteriores dos fulas tinham bloqueado o acesso a Cansalá, e além disso, os seus irmãos mandingas, membros do clã Mané com quem estava em conflito, tinham-se aliado aos fulas.

Djanqui Uali preparou-se para a batalha e para morrer. Assim deu ordens para que pequenos grupos de várias profissões abandonassem Cansalá, pois queria preservar a sua história, o seu saber e a sua cultura.

Djanqui Uali sabia que não conseguiria vencer o exército fula, mas iria fazer pagar caro a sua derrota. A sua sorte seria também a dos atacantes, seria a destruição total, o fim da sementeira, o que na língua mandinga se designa por turubam.

Pág. 46
Os fulas cercaram a fortificada povoação de Cansalá e dispararam três tiros à chegada, e os sitiados responderam ao “cumprimento” com quarenta tiros.

Durante vários dias, os mandingas combateram com bravura e mataram muitos dos atacantes, mas o número destes era demasiado grande para poder ser contido, e os fulas começaram a transpor as rudimentares muralhas, construídas de madeira e lama.

Djanqui Uali perante a derrota iminente, chamou os seus filhos, e disse-lhes:

– Vou mandar abrir os portões, e quando os fulas entrarem todos, incendeiem a pólvora dos paióis.

Os portões foram abertos, e quando os fulas entraram, os paióis explodiram e todos os defensores morreram, mas os 40.000 soldados do exército fula ficaram reduzidos a 40.

Os 40 elementos do exército fula que 
Pág. 47
sobreviveram, foram perseguidos,  a maior parte mortos em emboscadas durante a sua fuga para leste. E assim, apenas sete guerreiros fulas conseguiram regressar ao Futa Djalon.

Apesar da derrota, os mandingas referem-se ao turubam Cansalá com orgulho, dada a valentia dos defensores de Cansalá.

Perto de onde era Cansalá, os portugueses ergueram a cidade de Nova Lamego, hoje em dia chamada Gabu, sendo a terceira maior cidade da Guiné-Bissau.

O local onde foi travada a batalha é agora um local sagrado, árido e infértil, onde vivem os espíritos.

O Império de Cabú caiu com a invasão fula, mas a sua história e a sua grandeza não foram esquecidas, e a sua cultura contínua viva e a ser transmitidas ao mundo, nomeadamente através de uma das suas invenções, o corá (20).

Esta é a lenda dos valentes guerreiros mandingas, que morreram em Cansalá (**). É uma das muitas lendas existentes, mas é uma versão mandinga da mesma, e como manda a tradição é cantada ao som do corá.

[Adaptação, revisão/fixação de texto e inserção de fotos e links para efeitos de edição deste poste no blogue: LG]
___________

Notas do autor;

(18) Mansa Bá: era o título dado pelos mandingas aos Mansas que possuíam nos seus domínios poder sobre outros Mansas (Reis), a palavra bá em mandinga significa grande, dai o significado de Grande
Rei ou Imperador, por vezes, por lisonja os súbditos chamavam ao Rei, de Grande Rei, apesar de não o serem. Também existem referências a Imperadores chamando-lhes apenas de Mansa, o que é usual.
Os portugueses chamavam a todos eles de “Régulos”, o que significa pequenos reis.

(19) Futa Djalon: este reino fula situava-se na Guiné-Conacri (República da Guiné).

(20) Corá: é um instrumento musical de cordas parecido com uma harpa, tem 21 cordas, sendo 11 para a mão esquerda e 10 para a mão direita. A caixa de ressonância é constituída por uma cabaça, forrada com couro, e as cordas são de fio de nylon, mas antigamente eram de feitas de tendões de boi ou de couro de gazela. Embora o número de cordas seja normalmente de 21, pode variar entre 19 e 24.

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Para saber mais, vê aqui o sítio da ONGD Ajuda Amiga:

http://www.ajudaamiga.com
___________


Vd. postes anteriores da série:

26 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22405: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte IV: Lendas mancanhas

20 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22390: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte III: Lendas bijagós

10 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22359: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte II A: Comentário adicional sobre os balantas: "Nhiri matmatuc Fortunato. Nhiri cá ubabe. Nhiri god mara santa cá cum boim. Udi assime?"...Traduzindo: "O meu nome é Fortunato. Eu sou branco, não sei falar bem balanta. Percebes o que estou a falar?"... Uma conversa com Kumba Yalá, em Bissorã, a dois dias da sua morte, aos 61 anos

9 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22354: "Lendas e contos da Guiné-Bissau" : um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte II: Ficha técnica, prefácio de Leopoldo Amado, lendas balantas (pp. 1-14)

8 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22349: "Lendas e contos da Guiné-Bissau" : um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte I: Vamos dar início a uma nova série, um mimo para os nossos leitores

(**) Vd. também poste de 15 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11255: Notas de leitura (465): Texto policopiado e publicado pelo Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa - Ultramar (3) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22354: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte II: Ficha técnica, prefácio de Leopoldo Amado, lendas balantas (pp. 1-14)



Lendas balantas - ilustração do pintor guineense Ady Pires Baldé, pág. 11. 

In: Lendas e contos da Guiné-Bissau / J. Carlos M. Fortunato ; il. Augusto Trigo... [et al.]. - 1ª ed. - [S.l.] : Ajuda Amiga : MIL Movimento Internacional Lusófono : DG Edições, 2017. - 102 p. : il. ; 24 cm. - ISBN 978-989-8661-68-5


1.  Transcrição das págs. 1 a 14 do livro "Lendas e contos da Guiné-Bissau", com a devida autorização do autor (*)


Capa do livro. Ilustração de
Augusto Trigo


J. Carlos M. Fortunato > 
Lendas e contos da Guiné-Bissau


Nota ortográfica

As palavras que surgem nos textos em letra itálica, 
tratam-se de termos ou expressões que não são usados 
em português.

Os textos apresentados não incluem palavras alteradas pelo novo acordo ortográfico, a fim de o livro ser compatível com o antigo e com o novo acordo ortográfico.








Contracapa do livro. Ilustração de Augusto Trigo



Ficha Técnica


Título: Lendas e contos da Guiné-Bissau
Autor: Joaquim Carlos Martins Fortunato

Ilustrações:
Capa e contra capa - ilustrações do mestre luso-guineense Augusto Trigo, pai da pintura guineense e grande ilustrador, a sua obra é uma referência
Página de abertura - ilustração do pintor guineense Ady Pires Baldé
Lendas balantas - ilustração do pintor guineense Ady Pires Baldé
Lendas bijagós - ilustrações do pintor guineense Ady Pires Baldé
Lendas mancanhas - ilustrações do pintor e escultor português José Hilário da Silva Portela
A lenda de Sundiata Keita - ilustrações do mestre Augusto Trigo
A lenda de Djanqui Uali - ilustrações do mestre Augusto Trigo
A lenda de Alfa Môlo - ilustrações do mestre português José Ruy, um dos maiores ilustradores portugueses
A lenda da canoa papel - ilustrações do pintor guineense Lemos Djata;
Contos - ilustrações do mestre Augusto Trigo.

Revisão: Luísa Barbosa
Paginação gráfica do miolo: João Filipe Feitor Pais
Edição: Ajuda Amiga/MIL/DG Edições
Impressão e acabamento: VASP DPS
1ª Edição: Fevereiro de 2017

Depósito legal: 419793/16
ISBN: 978-989-8661-68-5

2017 Copyright © Joaquim Carlos Martins Fortunato
Reservados todos os direitos, de acordo com a legislação em vigor

Ajuda Amiga – Associação de Solidariedade e de Apoio ao Desenvolvimento
ONGD - Organização Não Governamental para o Desenvolvimento
Site http://www.ajudaamiga.com

Índice

Nota ortográfica

3

Prefácio

7

Prólogo

9

Lendas balantas

11

Lendas bijagós

15

Lendas mancanhas

23

A lenda de Sundiata Keita

29

A lenda de Djanqui Uali

43

A lenda de Alfa Môlo

49

A lenda da canoa papel

55

Conto - A lebre e o lobo no tempo da fome

59

Conto - O camaleão ganha a corrida ao lobo

63

Conto - O casamento do lebrão

65

Conto - O hipopótamo dá boleia ao lobo

69

Conto - O leão e o javali no tempo da sede

73

Conto - O lobo e a lebre vão à pesca

75

Conto - O lobo que queria comer os filhos da lebre

79

Conto - O menino e o patu-feron

81

Breve história do Império do Mali

85

Breve história do Império de Cabú

89

Bibliografia

93

Notas Finais

95


Prefácio

Foi com redobrado prazer e honra que acolhi o privilégio de ter sido convidado pelo meu amigo Carlos Fortunato para prefaciar o seu livro “Lendas e contos da Guiné-Bissau”, de resto, um livro em que se entrecruzam dois campos de pesquisa, em cujas intercessões torna-se possível divisar a constatação de que, infelizmente, persiste ainda um enorme muro de desconhecimento e de incompreensão que adejam África e, mais especificamente, sobre os guineenses e a Guiné-Bissau, donde a razão de ser do livro que agora o Fortunato dá à estampa, com o claro fim de reduzir os fossos de incompreensão existentes.

Com efeito, apesar de a longevidade deste período temporal ser relativamente longa, por nele perpassar o colonialismo e o pós-colonialismo, antecedidos ambos por um outro longo período de presença litorânea e comercial dos europeus em África, iniciada ainda no século XV, apesar disso tudo, como dizíamos, ainda não se proporcionaram, mesmo nos dias de hoje, formas mais clarividentes e mais racionais (entenda-se inteligíveis, eficientes e mesmo eficazes,) de propiciar um mais vasto interconhecimento sobre os guineenses e a Guiné-Bissau, os quais curiosamente personificam, pelo menos na obra em questão, a África. E a esta opção do autor, convém que se diga, não é alheia nem a sua vivência na Guiné e nem a sua ligação profunda com os guineenses e a Guiné-Bissau (dir-se-ia, a sua África), concorrendo tudo neste seu livro, para alicerçar uma visão de compreensão e entendimento do “outro” civilizacional.

Aliás, neste livro, para além de ser patente e inequívoca a simbolização de África pela via da personificação da Guiné-Bissau e dos guineenses, torna-se também curioso a aferição da forma como o autor, deliberadamente, procede a transposição biunívoca entre um mundo da realidade vivida e experimentada (assaz estudada e, por isso, imensamente publicitada), e, essoutra, menos conhecida, mas nem por isso menos importante, mas prenhe de lendas e mitos nos quais também se entrecruzam umampostulação teórica e empírica estribada na efabulação e na qual pontuam – numa harmoniosa triangulação explicativa – os ensinamentos que dão corpo a profunda sabedoria popular, em suma, uma espécie inteligibilidade ética e racional negligenciadas e mesmo desprezadas, mas igualmente cosmológicas e mesmo ontológicas na interpretação do autor.

E é justamente sobre essa abissal dimensão do desconhecimento, que o autor nos propõe combinações curiosas de inteligibilidade alternativas, sumamente criativas como antídotos subsidiários em prol de uma compreensão mais simples e, porventura, mais solidária, discorrendo sintomaticamente os esteios temáticos, curiosamente, por narrativas e modalidades literárias que, longe de pretenderem subestimar a cientificidade das abordagens comuns sobre África, também privilegiam histórias transmitidas pelos griots (uma espécie de embaixadores andarilhos da cultura), para além do fabulário, dos mitos, dos mitos fundadores, das lendas, dos enigmas e outras formas de expressão cultural igualmente genuínas e que podíamos, legítima e cumulativamente, apelidar de “estruturas mentais”, parafraseando o Philippe Ariès, estudioso francês que, à semelhança de Michel Foucault, seu compatriota, logrou colocar em relevo a importância do estudo das mentalidades.

Esta é, a nosso ver, a escolha essencial que o autor privilegiou nesta linda obra em que, na verdade, a interpretação do real e/ou a sua representação (verdade ou crença) é frequentemente feita a partir dos sentidos e do conhecimento adquirido, numa roda vida de indagação incessante sobre o que é real, de facto, pois que na aceção do autor, na medida em que as nossas explicações, estribadas ou não na cientificidade das coisas ou na sabedoria popular, afiguram-se mais como um conjunto de normas do que evidências, na justa medida em que um facto ou um ato é-nos sempre apresentado – tal como uma certa cosmovisão africana – através de um campo enorme de intrincados contextos, passíveis sempre estes de suscitar inúmeras escolhas interpretativas, a partir de interface cultural que jaz entre a aprendizagem e o desejo de melhor conhecer e de melhor explicar as coisas, os fenómenos e a própria cultura.

Nesta despretensiosa obra do Fortunato, sobressai, com efeito, uma narrativa em que, por via de regra, a verdade ampara toda uma narrativa próxima da realidade, a partir de um inextricável e enorme manto de esplendor cultural e de grandeza histórica.

Leopoldo Amado 
[1960-2021]

Dir. Geral do INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa



Prólogo

Conheci a Guiné-Bissau em 1969, quando ali prestei serviço militar, e uma parte de mim lá ficou, obrigando-me a lá voltar, e ligando-me a ela para sempre, como uma segunda pátria.

A Guiné-Bissau é um país cativante, pois o guineense faz de cada visitante um amigo, recebendo como mais ninguém o faz.

A Guiné-Bissau é o ponto de encontro de muitas culturas, e isso dá-lhe uma enorme riqueza humana e cultural. As lendas e os contos são uma pequena parte dessa riqueza.

A razão de ser do presente livro é, preservar o passado e promover a compreensão intercultural, mostrando alguns momentos de grandeza da história da Guiné-Bissau, alguns dos nomes que a marcaram e um pouco da sua cultura.

As lendas e contos apresentados neste livro, são histórias que continuam a ser contadas à volta da fogueira ou cantadas pelos artistas, povoando o imaginário de quem as ouve. As recolhas das lendas e dos contos foram feitas ao longo dos anos, em contactos que tive na Guiné-Bissau, e em Portugal junto dos imigrantes guineenses.

Este livro foi escrito a pensar nos jovens, e tem por isso uma escrita simples e muitas imagens. O estudo do período histórico onde se desenrolam as lendas, permitiu acrescentar informação adicional, complementando e enquadrando um pouco as mesmas.


Cabe-me por fim agradecer aos que empenhada e entusiasticamente colaboraram desinteressadamente na construção desta obra. Sem eles, ela não teria sido possível.

A todos, o meu muito obrigado.

O autor [Carlos Fortunato, ex-fur mil arm pes inf, MA, CCAÇ 13, Bissorã, 1969/71, é o presidente da direcção da ONGD Ajuda Amiga]




Lendas balantas

Segundo uma lenda balanta, durante a criação do Mundo, Deus colocou os primeiros balantas junto ao rio Mansoa, na tabanca (aldeia) de Mancalã, perto da cidade de Mansoa. Os balantas eram ali felizes e prosperavam - arroz, milho, feijão, óleo de palma, mangas, cajus, limões, nada faltava aos balantas.

Com as suas enormes pás os balantas lavraram as bolanhas (1), construíram diques e ouriques, e o verde encheu os seus arrozais.

Os espíritos malignos espreitavam, e viam com inveja a felicidade dos balantas, pois Deus ao criar o Mundo colocou na terra espíritos bons e espíritos maus, afastando-se e deixando os homens à sua sorte.

Junto ao rio Mansoa, vivia um espírito maligno, o qual com inveja da felicidade dos balantas fez um dia transbordar a água do rio, o que destruiu as suas casas e inundou com água salgada as suas plantações.

Foram assim os balantas obrigados a abandonar as suas terras, e a espalharem- se pelo mundo.

Esta é a lenda, que explica a razão de os balantas se terem separado, dando origem a vários subgrupos.

A dispersão dos balantas por diversas regiões, segundo o historiador Carlos Lopes (2), ocorreu a partir da região do Óio, na qual Mansoa se inclui, existindo assim uma certa convergência com o que é referido na lenda.

Os balantas teriam partido do Óio, à procura de outros terrenos adaptados ao seu tipo de rizicultura, acabando por se instalar num território mais vasto, que vai desde Casamansa até ao rio Corubal.

O nome da tabanca de origem dos primeiros balantas varia consoante, a pessoa que conta a lenda.

&&&

A organização tradicional da sociedade balanta, sempre foi pouco hierarquizada, dado não aceitarem a existência de reis ou outras figuras semelhantes.

A única figura tradicional que representa o poder é o chefe da tabanca, o qual ouve o conselho dos homens grandes.

A organização dos balantas e a sua força, derivam dos seus sentimentos de igualdade, solidariedade e unidade. Não existem classes ou castas, nunca tiveram escravos ou servos e não aceitam que um membro seja evidenciado ou destacado.

O subgrupo dos balantas-mané foge à regra do que foi dito anteriormente, pois durante um breve período de tempo possuíram reis, mas a tirania e crueldade do último rei levou-os a regressarem à organização tradicional, convictos que uma só pessoa nunca deveria ter tal poder.

Os balantas-mané também chamados de balantas-bejaa (3), são balantas com ligações à etnia mandinga, e a sua cultura mostra essa ligação.

Os balantas-mané estão concentrados no sul do Senegal e na zona de fronteira da Guiné-Bissau.

Grandes trabalhadores, os balantas destacam-se também pelo seu espírito guerreiro. A palavra “balanta”, é uma palavra de origem mandinga, que significa “aquele que resiste”, foram assim designados face à sua resistência ao domínio mandinga.
 
&&&

Na cultura balanta o valor individual é minimizado, por isso não destacam os seus heróis ou grandes líderes, pois todos os membros da sociedade são importantes.

Apesar do que foi dito anteriormente, apresenta-se a seguir uma breve história, de um nome que se destacou.

Na tabanca balanta de Kone, perto de Bula, nasceu um menino muito franzino, mas que, apesar do seu pouco peso e tamanho, era resistente.

Um dia, sem ninguém perceber porquê, um porco agarrou-o pela roupa com os dentes e largou a fugir para o mato com o menino.

As mulheres apontavam para o porco e gritavam:

- Kumba Yalá, kumba Yalá - em balanta, o porco é chamado de kumba,  Yalá era o dono do porco.

Veio gente acudir aos gritos de kumba Yalá. Todos corriam atrás do porco do Yalá, mas este continuou a correr sem ninguém o conseguir fazer parar, e acabou por desaparecer no mato, deixando para trás os seus perseguidores.

A sua mãe N´Tutituti já desesperada pensava o pior, mas, depois de muito procurar o menino foi encontrado ileso, assim como o kumba do Yalá, que estava perto dele, e que afinal só o tinha querido levar a “passear”.

A partir desse dia, as pessoas que passavam pela tabanca perguntavam pelo menino do kumba Yalá.

E assim, seguindo a boa tradição balanta, em que são os acontecimentos que devem dar o nome às pessoas, ficou o menino com o nome de Kumba Yalá (4).

O menino cresceu, jogou futebol no Louletano, licenciou-se em filosofia, tornou-se um poliglota, um político, e no ano 2000 tornou-se no 8º Chefe de Estado da Guiné-Bissau. O nome de Kumba Yalá sempre o acompanhou, mesmo quando se converteu ao islamismo e mudou de nome.

Figura polémica e marcante da política guineense, Kumba Yalá, era também conhecido como o homem do barrete vermelho, do qual nunca se separava.

(Continua)

___________

Notas do autor:

(1) Bolanha - terreno pantanoso.

(2) Balantas - pag. 63 Kaabunké - Espaço, território e poder na Guiné-Bissau, Gâmbia e Casamance pré-coloniais - Carlos Lopes.

(3) Reino Balanta - pag. 133 do Texto “Agricultura e Resistência na
História dos Balanta-Bejaa”, de Cornélia Giesing.

No seu estudo sobre a identidade dos balantas-mané Cornélia Giesing refere o seguinte:

“Os Bejaa tinham instituições monárquicas, cujo centro se localizava entre a margem sul do rio Cacheu e Armada, em Baiabo (Faja, Jaa) e, juntamente com Kasa em Casamansa, formavam um Reino que é associado aos Banhuns e aos Mandingas (Kasangas), cuja capital Birkana, foi destruída por volta de 1830 pelos Bejaa ....”

O historiador Mamadú Mané refere igualmente a luta dos balantas-mané, mas com uma visão diferente:

“Na Média Casamansa, os Balantas conseguiram suplantar em parte os Mandingas e aí estabeleceram, por volta de 1830, a sua hegemonia sobre o reino baynunk do Kasa de cuja capital, Birkama, se apoderaram. É o nascimento do Balantakunda, que não é um Reino, mas uma zona de ocupação”, pag. 29 do texto “O Kaabu” de Mamadú Mané.
´
Balantakunda, significa lugar balanta, pois a palavra kunda na língua mandinga significa lugar.

(4) Kumba Yala - história corrente entre os balantas daquela zona, confirmada pelo próprio Kumba Yalá ao autor.


[Adaptação, revisão/fixação de texto e inserção de fotos e links para efeitos de edição deste poste no blogue: LG]

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Nota do editor:

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15758: Efemérides (215): Canquelifá, 9 de fevereiro de 1970: o burro, as carraceiras e o tiro ao alvo com uma Mannlicker... Ou quando um burro valia mais do que um Unimog... (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)


Foto n.º 1
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) Canquelifá > 1970 > Uns dias antes, da chegada do 3.º pelotão da CART 11, Canquelifá tinha sofrido um violento ataque... Um outro grupo de combate da CART 11, que foi rendido pelo 3.º,  "aguentou os cavalos"... quando as tropas do Amílcar Cabral fizeram uma tentativa de assalto, junto ao arame farpado (*)... Na foto, o Valdemar Queiroz parece estar junto à carcaça de uma aeronave (?)...


Foto n.º 2 
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > Canquelifá > 1970 > O Valdemar Queiroz, inspecionando os estragos nas instalações civis e militares...


Foto n.º 3
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) Canquelifá > 1970 >  "Com armas, bagagens, mulheres e crianças, o 3.º Pelotão da CART 11, "Os Lacraus", chega a Canquelifá!,,,


Foto n.º 4 
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > Canquelifá > 1970 > Furriéis (à esquerda, o Valdemar Queiroz)..."Conversas... entre Lisboa e Porto"... O mesmo é dizer: o ócio é a mãe de todos os vícios ou tentações...


Foto nº 5
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > Canquelifá > 1970 >  Festas do fim do Ramadão (c.  O Cap Pinto é o terceiro, na primeira fila, a contar da direita para a esquerda... E o Valdemar Queiroz é o quinto depois da "mulher grande com criança ao colo"...


Foto nº 6 
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) Canquelifá > 1970 > Festas do fim do Ramadão > Lutas (fulas), corpo a corpo... Repare-se no risco, dividindo os dois campos...

Fotos: © Valdemar Queiroz (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1. Texto enviado na segunda feira de Carnaval, pelo  Valdemar Queiroz [ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]

Data: 9 de fevereiro de 2016 às 03:10

Assunto: Quando um burro vale mais que um Unimog

9 de Fevereiro de 1970 [, segunda feira de Carnaval]

Faz agora 46 anos.

Com armas, bagagens, mulheres e crianças, o 3.º Pelotão da CART 11, "Os Lacraus", chegou a Canquelifá (*). Lá no alto. O nosso Capitão Pinto também foi connosco.

'BEM-VINDOS ÀS TERMAS DE CANQUELIFÁ', dizia o cartaz à entrada da tabanca.

Tinha sido violentamente atacada dias antes, com a destruição de instalações militares e civis e com tentativa de assalto pelo arame farpado, com um nosso Pelotão da CART 11, "Os Lacraus", que já lá estava, a aguentar o assalto no cavalo de frisa da entrada, sendo o nosso 1.º Cabo Paiva ferido no peito com o sopro dum rebentamento.

As coisas acalmaram com a nossa presença, ou se calhar não, mas nunca mais houve ataques naqueles tempos em que estivemos em Canquelifá.

Coincidiu com o mês de Ramadão. Houve festa em Canquelifá, rezas e batucadas. E foi, por essa altura, que apareceu um burro, com umas aves carraceiras de bico vermelho na sua barriga.

Estávamos uns quantos furriéis milicianos,  num "descanso do guerreiro", se calhar a falar do Porto e de Lisboa, quando um de nós se lembrou de...
– Quem é capaz de acertar naquele 'carraceiro' na barriga do burro?

E foram buscar uma Mannlicher [, calibre 5,6, ]. (**) O primeiro tiro abateu o 'carraceiro' da barriga do burro e o segundo também, depois, quando apareceu outro pássaro de bico vermelho, voltamos a atirar ao bicho, voltou outro e outro tiro se atirou e parece que alguém começou a falhar tiros e acabamos por aí.

Passados dois dias, apareceu um homem-grande no Comando a queixar-se da morte dum burro que a tropa esburacou na barriga e que servia para transportar tudo e mais alguma coisa.

Fomos todos chamados à pedra e para resolvermos o assunto com o homem-grande. 
– Então quanto é que o homem quer pelo burro?  – perguntamos nós com a intenção de pagar o dano causado.
– Sei lá – respondeu Capitão – , mas parece que o burro vale mais que um Unimog.

Já não me lembro quanto valeu um tiro ao 'carraceiro', mas a brincadeira ficou cara.(***)

Valdemar Queiroz



"Caminho de Bafatá", pintura (fresco?)  de Augusto Trigo (n. 1938) (pormenor)... Havia "burros" na Guiné, no nosso tempo, nomeadamente na zona leste.... Referimo-nos ao "Equus africanus asinus" e não ao "burro humano" ("Homo sapiens sapiens")...

Em exposição no hall de um banco, em Bissau, o BCAO. Com a devida vénia ao pintor, casapiano, (que vive atualmente em Portugal), ao Rui Fernandes (autor da foto) e à AD - Acção para o Desenvolvimento (que detém os direitos da imagem no seu sítio Guiné-Bissau). Ver também aqui na página do Didinho.org uma nota biográfica.
 _______________

(**) 23 de janeiro de  2010 > Guiné 63/74 – P5690: Armamento (2): Pistolas, Pistolas-Metralhadoras, Espingardas, Espingardas Automáticas e Metralhadoras Ligeiras (Luís Dias)

(...) No final do século XIX, princípio do século XX, Portugal adquire a espingarda Mannlicher, de origem austríaca, no calibre 6,5 mm, por ser mais rápida no carregamento (recurso a lâmina de recarregamento), que a anterior [, a Kropatschek, espingarda de repetição, ]  que virá a transformar em 1946, na Fábrica de Braço de Prata, para o calibre 5,6 mm e serão usadas para instrução de tiro. (...)

(***) Último poste da série > 13 de fevereiro de  2016 > Guiné 63/74 - P15741: Efemérides (214): Dia 8 de Novembro de 1967, data do falecimento do primeiro militar da CART 1742, numa acção de reconhecimento na Tabanca de Ganguiró (Abel Santos, ex-Soldado At Art)

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5793: Pré-publicação de Mulher Grande, de Mário Beja Santos (4): S. Domingos, 21 de Julho de 1961: Benedita, eles já aqui estão!


Guiné > Região do Cacheu > Varela > 1961 > Luta felupe, de Augusto Trigo. Painel que se encontra(va) numa parede de um restaurante/café, completamente em  ruínas. O painel foi restaurado, digitalmente, pelo Rui Fernandes. Foto de Rui Fernandes, cedida ao nosso amigo Pepito e aqui reproduzida com a devida vénia. (O Rui integra a nossa Tabanca Grande, desde Janeiro de 2008).

Augusto Fausto Rodrigues Trigo nasceu em Bolama, a 17 de Outubro de 1938. Órfão de pai em 1945, veio com mais dois dos seus irmãos para Portugal. A  mãe ficou  na Guiné, com o filho mais novo.

Esteve na Casa Pia até aos 19 anos (1957). Aí começou a revelar e a desenvolver o seu talento artístico. O seu primeiro emprego foi como pintor de publicidade. Regressa à Guiné para rever a mãe e os irmãos. Trabalha como desenhador cartográfico. Nos momentos livres, desenha e pinta (a óleo e a aguarela). Em 1964 realiza a sua primeira exposição de pintura. O Governo da província faz-lhe encomendas... O quadro, cuja imagem reproduzimos acima, data de 1961... Ainda viveu na Guiné-Bissau, a seguir à independência, tendo dirigido o Departamento de Artesanato Nacional, mas regressou definitivcamente a Portugal, em Setembro de 1979. É hoje um conhecido ilustrador e consagrado autor de Banda Desenhada (em parceria com o argumentista Jorge Magalhães). Para saber mais,  clicar aqui.


Foto: © Rui Fernandes / AD - Acção para o Desenvolvimento (2008). Direitos reservados


1. Pré-publicação de excertos do próximo livro do nosso amigo e camarada Mário Beja Santos, Mulher Grande. Trata-se da terceira parte do Capº III (*):


Mulher Grande > III > A Guiné em chamas ou o “Tubabo Tiló”
por Mário Beja Santos


[III. 4] Décimo segundo solilóquio


O tempo esfriou, chuvisca, aproveito para ir ao Google ver o que aconteceu em S. Domingos, naquele dia 21 de Julho de 1961. Coisa estranha, parece que a luta armada só começou em Janeiro de 1963, com o ataque a Tite, desencadeado pelo PAIGC. No entanto, aos farrapos, fala-se da formação de rebeldes no Senegal, de um Movimento para a Libertação da Guiné, nalguns documentos fala-se mesmo da FLING. Imprimo tudo, algumas respostas podem ser encontradas nas entrelinhas.

Afinal, a FLING fora alimentada pelas autoridades de Dakar, tinha um projecto exclusivamente guineense, não queria o envolvimento dos cabo-verdianos. Noutro documento encontro referências à fuga de quadros, vejo mesmo o nome de Rafael Barbosa ligado à FLING, surpreende-me, pois o seu nome também aparece associado ao PAIGC.

No último almoço em casa da Benedita vi a emoção com que ela falou na degradação das relações com as novas autoridades senegalesas do Casamansa. Falámos na missão da Christine Garnier, ela ter-se-á encontrado com Senghor que mandou uma mensagem para Salazar apelando-lhe a um quadro de pequenas concessões imediatas e sugerindo-lhe um plano de transmissão de poderes com a duração de 20 anos. O que quer que tenha acontecido, Salazar, que recebeu Benjamim Pinto Bull em S. Bento, recusou qualquer modalidade de negociação. Segundo a Benedita, 15 a 20 dias antes do ataque atribuído à FLING apareceu o administrador do Casamansa em S. Domingos. Encontrou-se em privado com o Albano, ele partiu para Bissau com uma mensagem e entregou-a ao Governador. Soube-se mais tarde que foi uma derradeira tentativa para a negociação.

Dou comigo a pensar como certos protagonistas secundários têm às vezes entre mãos responsabilidades que podem levar à mudança da História. A acreditar-se no relato da Benedita, o Albano tinha consciência que se estava a dançar à beira do abismo. Seria muito interessante saber-se como Bissau transmitia para Lisboa a versão das hostilidades iminentes.

Estou a entusiasmar-me por um pedaço da história da Guiné que eu ignorava completamente. Mas o que mais me surpreendeu foram as respostas que me deram quando telefonei, por sugestão da Benedita, para um administrador e dois chefes de posto do tempo, bem como dois coronéis na reserva, alferes na Guiné em 1961. Foram muito cordatos ao telefone, ninguém se lembrava do nome dos rebeldes, aonde se situava o seu acampamento, embora se tenha falado que estava dentro do Casamansa ou em Kolda, nunca tinham ouvido falar na FLING ou no Movimento para a Libertação da Guiné.

Porque será que estes homens não querem falar? Pondo imediatamente de parte a hipótese de uma conspiração de silêncio, somos levados a pensar que ninguém acreditava que dois países independentes à volta da Guiné portuguesa iam ficar quietos, sem explorar o descontentamento existente nas várias linhas de independentistas guineenses. E não menos curioso é como esta sucessão de episódios não consta na história da Guiné-Bissau.

Mais recordações da Benedita (décimo segundo trabalho de casa)

Haverá o direito de eu estar a arrogar-me a um papel importante nos acontecimentos do ataque a S. Domingos? Tenho a consciência que a memória não me atraiçoa. Aí uns dez dias antes do ataque o Albano soube que ia haver um desfile contra Portugal, em Ziguinchor. Aquelas informações eram vitais, ele não podia ir nem ninguém da administração.

Vendo-o tão preocupado, sem saber o que fazer, tomei uma decisão sem hesitar: “Albano, eu vou, não se preocupe, toda a gente me trata bem em Ziguinchor, diga-me exactamente o que pretende saber”. Ele ainda tentou dissuadir-me, mas acabou por me dar razão. Ao amanhecer do dia previsto do desfile, parti com o chefe da central eléctrica de S. Domingos, pretextei uma indisponibilidade do Albano, referi que tinha umas compras urgentes, ao princípio da tarde estaríamos de regresso.

Em Ziguinchor, notava-se à vista desarmada um clima de grande tensão, as pessoas procuravam não falar comigo, ou respondiam-me com monossílabos. Estive na farmácia, no escritório de Hugues Lemaire, depois comprei tecidos a um mercador ambulante. Na farmácia, o farmacêutico que era claramente contra a presença portuguesa, perguntou-me por Monsieur le Commandant, senti-me bem tratada.

O desfile anti-português estava praticamente no fim, via papéis a convocar para a manifestação espalhados pelo chão, resolvi não apanhar nenhum. Na loja de um djila, senti que ele me estava a fazer perguntas acintosas, do tipo “o que é que eu pensava se ele abrisse um magasin em S. Domingos”, respondi que ficaria encantada. Hugues Lemaire recebeu-me imediatamente e advertiu-me: “O Albano que se organize e se defenda. O melhor seria vocês abandonarem já S. Domingos, eles vão atacar em breve”.

A mulher dele deu-me uma pistola e Hugues Lemaire precisou as últimas instruções: “Não posso escrever nada, a partir de agora, se souberem que estou a passar informações estamos perdidos. Estão a ser preparados 200 homens nas granjas de Tibelor, perto dos serviços de agricultura de Ziguinchor”. Ainda fui comprar umas conservas, livros e revistas.

Foi no carro que o Augusto, o chefe da central eléctrica, me mostrou os panfletos que tinham sido distribuídos na manifestação do tipo um capitalista gordo com charuto na boca às costas de um nativo, um cipaio com uma palmatória na mão a maltratar um indígena com as correntes nos pés e de mão estendida. Um dos panfletos falava na luta para expulsar os portugueses, admitindo se necessário recorrer à destruição de vidas. O Augusto disse-me: “Senhora, as coisas estão muito feias, eles têm espingardas e granadas”. Seguimos imediatamente para S. Domingos, o Albano não escondeu o seu alívio quando ali cheguei. Ouviu-me, escreveu uma longa mensagem, o secretário seguiu imediatamente para Bissau.


Antes do ataque a S. Domingos, em 21 de Julho de 1961


Pela primeira vez na minha vida, eu sentia-me no centro de uma agitação política que não entendia, onde não participava directamente, olhava, ouvia os comentários do Albano, lançaram-me avisos em Ziguinchor, mas como não via guerra nem era evidente qualquer hostilidade, continuei a viver sem alterar nada.

Enviaram de Bissau um novo secretário e um novo aspirante para S. Domingos, logo percebi que era para dar mais tempo ao Albano, libertá-lo das tarefas administrativas, os acontecimentos do Senegal e o espectro da guerra ocupavam-no cada vez mais. Nós estávamos preocupados com o que tinha acontecido em Angola, começava-se a pensar que íamos ser brutalmente atacados, até mesmo chacinados.

A mexer nos meus papéis, nas coisas que juntei nos últimos dias, tenho aqui registada a chegada de um homem que só nos deu dores de cabeça, Aventino Guerreiro, um aventureiro que chegou a S. Domingos com uma proposta de instalar um negócio de óleo de palma, queria que o Albano lhe concedesse mão-de-obra gratuita. Claro que o Albano recusou e pô-lo fora do gabinete.

Este Aventino Guerreiro só no ano de 1961 apresentou 15 queixas contra o Albano. Ele devia ter muitos apoios em Bissau, deve tê-los sugestionado com um conto do vigário, qualquer coisa como montar um sistema de informações ao longo de toda a fronteira, o pretexto seria a compra de mancarra, seria aí, durante as transacções, que se obteriam informações.

Um dia, vínhamos nós de Bissau, o Albano contou-me tudo no carro, como publicamente se manifestara contra este embuste, se Bissau queria boas informações, se queria confirmar e ampliar as informações que a PIDE oferecia, deviam estar atentos ao que ele escrevia, sobretudo às informações que ele recolhia em Ziguinchor.

O Albano tudo fazia para manter excelentes relações com os colegas do Casamansa. Ele sabia, desde 1960, que as relações iam ficar tensas, esforçou-se por fazer convites oficiais às novas autoridades senegalesas, recebemo-los em nossa casa, notámos da parte deles que não queriam muita intimidade, sentia-se no ar que em breve se iria chegar à ruptura. O Albano estava a sofrer muito, tinha recebido um telegrama a anunciar que a mãe estava a morrer, decidiu não vir a Portugal com tudo o que se estava a passar ali à volta.

Pode parecer contraditório, mas eu estava a receber novas alegrias. Fui admitida como professora no ano lectivo de 1960-1961, ninguém mais concorreu para S. Domingos. Comecei a juntar dinheiro, pois o ordenado de professora ia inteirinho para Lisboa, aproveitando o direito à transferência. Adorei ensinar, ver aquelas crianças que por vezes faziam quilómetros a pé a mostrar entusiasmo com a tabuada, começavam a soletrar e meses depois assistia àquele milagre das palavras serem ditas, mesmo aos solavancos.

É de repente que começo a sentir o desânimo do Albano por causa da indiferença de Bissau face aos seus avisos. Aquela indiferença deitava-o por terra. Já na festa da independência do Senegal ficara ao lado de um oficial reformado do exército francês que se mostrou muito glacial comigo. Perguntei ao meu amigo Hugues Lemaire o que levava aquele senhor a ser tão pouco gentil comigo e ele disse-me sem papas na língua: “Benedicte, tu não acreditas no que te andamos a dizer, tu jantaste ao lado do oficial que anda a treinar os rebeldes guineenses aqui no Senegal”. Fiquei sem saliva, olhei-o sem poder articular uma palavra. Hugues Lemaire também já avisara o Albano que Senghor queria marcar posição antes de Sekou Touré, iria apoiar insurreições no Norte da Guiné com rebeldes da nossa província. Senghor era a favor de uma Guiné para os guineenses, não apreciava os cabo-verdianos. Senghor dizia abertamente que o futuro desta nova Guiné independente iria ficar sob a sua custódia.

Vão seguir-se dias de tensão, nunca mais na minha vida tive uma espera tão dolorosa, inquietante, como aquela. Sentimos que muita gente estava a partir, até mesmo gente da população local deixou de vir a S. Domingos. Os comerciantes de Bissau, do Cacheu, de Bissorã ou Bula, nunca mais apareceram. O silêncio nocturno era horrível, nunca mais se ouviu um batuque, acabaram as fogueiras, as cerimónias e festas dos Felupes ou dos Manjacos. Eu procurava resistir dando aulas mas sentia também a falta de muitos alunos.
Estávamos todos à espera, num enervamento horrível. Chegara entretanto um contingente de tropa que ficou a viver dentro da povoação, e não muito longe de nós. Começava o nosso relacionamento com a tropa, que não foi nada feliz. Na noite de 21 de Julho, estávamos deitados quando se ouviram tiros, um deles partiu um vidro do nosso quarto. Como uma mola, saltámos da cama e rastejámos para a porta, punha-se assim termo a todos aqueles meses de expectativa.

Há quem diga que quando morremos a nossa vida passa no nosso cérebro como um filme acelerado, já me disseram que vemos e pensamos aquilo que mais no impressionou na existência. Pois eu sei que vou ouvir nesse momentos a voz do Albano gritar-me ao ouvido, plena de exaltação: “Benedita, eles já aqui estão!”.

(Continua)

[ Revisão  / fixação de texto / título: L.G.]
_____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 4 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5758: Pré-publicação de Mulher Grande, de Mário Beja Santos (3): Dois anos maravilhosos: S. Domingos, Varela, Ziguinchor, antes da guerra...

domingo, 27 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2486: Memória dos lugares (5): Bambadinca, 2006 (Rui Fernandes / Virgínio Briote)


Os nossos lugares vistos com outros olhos

Os olhos não são os nossos, são os do Rui Fernandes, o nosso novo companheiro da Tabanca Grande.

O Rui não anda com a G3 nem com granadas na mão, anda com outras armas, indispensáveis para a melhoria das condições de vida dos nossos Amigos Guineenses.

Para reavivar a memória de tantos de nós, que por Bambadinca passaram, juntamos mais algumas fotos que o Rui Fernandes teve a amabilidade de nos enviar juntamente com a mensagem:

Caro V. Briote

Consegui hoje ver o post que colocou. Perfeitamente correcto.

Sei que muitos de Vós vão este ano ao Simpósio e "in loco" rever locais por onde "palmilharam".
No entanto muitos mais não têm essa oportunidade, pelo que penso será um contributo para estes.

(...)

Há pouco escrevi-lhe quase a correr e lamentavelmente não agradeci a inclusão na Tabanca Grande o que me deu uma grande satisfação.

Com os meus cumprimentos,

Rui Fernandes
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Memória dos lugares (5) > Rui Fernandes, um Amigo da Guiné.

Os lugares de muitos de nós > Revisitar Bambadinca (II)




Foto 10. Referência nº 28 (?) encontra-se em ruína e a referência nº 27 (?) não existe. 2006.








Fotos 11, 12 e 13. Referência nº 17 (oficinas de rádio). 2006.
É já há alguns anos o Centro de Saúde.

Em 2003, quando lá cheguei, já era Centro Saúde. Sofreu obras de restauro em 2004 (concluídas em Abril) no projecto da ONG -Associação Saúde em Português (Coimbra), (...), co-financiado pela União Europeia e pela Cooperação Portuguesa.
A casa que se vê à direita foi construída em 2004 e são as instalações da GuinéTelecom (em realce na 13ª foto).
Nota-se em cima e a meio da foto, parte da estrutura do mastro de suporte das antenas.


Foto 14. Referência nº 15 (estrutura à direita), em relação à foto aérea falta uma estrutura entre esta e a da esquerda que não tem referência na foto aérea. A referência nº 16 não existe. 2006.


Foto 15. Sem referência na foto aérea mas são as duas estruturas que se vêem no canto inferior direito. Faltam as duas árvores. 2006.
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Notas de vb: Vd posts de :
Guiné 63/74 - P2475: Memória dos lugares (4): Bambadinca, 2006 (Rui Fernandes / Virgínio Briote)
Guiné 63/74 – P2213: Dando a mão à palmatória (2): Rui Fernandes, o fotógrafo do pintor Augusto Trigo (Virgínio Briote)
Guiné 63/74 - P2177: Artistas guineenses (1): Augusto Trigo, nascido em 1938, em Bolama
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Fotos: © Rui Fernandes (2007). Direitos reservados

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2475: Memória dos lugares (4): Bambadinca, 2006 (Rui Fernandes / Virgínio Briote)

Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Varela > 2007 > Antigo restaurante e café, hoje em ruínas. O painel Luta Felupe é da autoria do artista guineense Augusto Trigo, que vive em Portugal. O painel foi restaurado, digitalmente, pelo Rui Fernandes. A foto é do próprio Rui Fernandes, que a cedeu à AD.

Foto: © Rui Fernandes (2007). Direitos reservados

Memória dos lugares (4) > Rui Fernandes, um Amigo da Guiné

1. Quando publicámos um poste sobre o Pintor Guineense Augusto Trigo, o Rui Fernandes escreveu-nos dando conta da satisfação ao ler o artigo sobre o autor de várias pinturas e painéis da Guiné, algumas das quais se encontram no seu país natal.

Na altura cometemos um lapso. Incluímos as fotos de algumas dessas obras sem fazermos menção ao autor. Tinha sido o Rui Fernandes, o autor das mesmas, que as cedeu à AD-Bissau, de onde as retirámos (1).

O Rui Fernandes não foi combatente. Esteve na Guiné, em missão profissional, entre 2003 e 2006, e nas horas vagas conseguiu recuperar digitalmente um mural do Augusto Trigo, que se encontra em Varela, num edifício abandonado e em adiantado estado de degradação.

Na mensagem que então nos enviou, o Rui, sabendo que entre os nossos leitores existem profissionais de muitos ramos, incentivava a nossa tertúlia a, numa próxima ida à Guiné, verificar da possibilidade em o recuperar.



Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Varela > 2007 > Antigo restaurante e café, hoje em ruínas. O painel Luta Felupe é da autoria do artista guineense Augusto Trigo, que vive em Portugal. A foto é de Rui Fernandes.

Foto: © Rui Fernandes (2007). Direitos reservados

Nos cerca de três anos que lá permaneceu o Rui percorreu toda a região administrativa de Bafatá (Zona Leste) e visitou outras regiões do restante território.

“Percorri muitos dos locais por onde os ex-combatentes andaram, contactei com vários guineenses que pertenceram à nossa tropa. (…) de tabanca em tabanca os nossos guias normalmente eram ex-militares, porque eram os únicos que falavam português.

"Cada tabanca falava o seu dialecto e na região eram vários e mesmo o crioulo dificilmente era falado, apenas nas cidades e vilas maiores. Em muitos dos locais os "velhotes" diziam: 'há mais de trinta anos que não vejo um branco' e alguns ficavam a olhar para a bandeira colada no carro com espanto/alegria.

"Quase todos os ex-militares tinham escrito num papelito os nomes dos superiores, as moradas e por vezes o telefone, é marcante.

"Quando podia ler o vosso blogue tentava depois fazer a ponte onde estava a passar com a vossa vivência naquele local.

"Ainda neste momento vou lendo diariamente e acabo por descobrir material sobre vivências passadas em locais por onde andei na restante Guiné. Hoje mesmo, antes de ver o seu mail, fui ao link do artigo P2463 sobre a retirada de Madina.”
(...)



2. O Rui Fernandes voltou ao nosso contacto, enviando-nos algumas fotos do seu espólio recente, tiradas aquando da sua estadia na Guiné-Bissau.

Vamos então revisitar lugares que muitos de nós fizeram seus, nos afastados anos da Guerra da Guiné (2).

Os lugares de muitos de nós > Revisitar Bambadinca (I)




Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Vista aérea do aquartelamento, tirada no sentido leste-oeste, ou seja, do lado da grande bolanha de Bambadinca (vd. mapa da região).

Foto: Humbero Reis (2005)

Foto 1 > No P2431 vem uma fotografia da escola de Bambadinca (1997), ou "o que resta da antiga escola…." Na verdade em 2003 já não era este o aspecto, pois foi recuperada. A foto acima é de 2006. O telhado é que ficou em zinco (Bambadinca, 2006).

Foto 2 > Mesmo à esquerda da escola e que se vê mal nesta foto (2006).

Foto 3 > A antiga casa do administrador de posto (Bambadinca, 2006)


Foto 4 > A casa que foi do Administrador de Posto (Bambadinca, 2006).

Foto 5 > A 3ª casa, junto à estrada (Bambadinca, 2006).

Fotos 6 > A 3ª casa, junto à estrada (Bambadinca, 2006).

Foto 7 > A capela e, ao lado, a antiga secretaria da CCAÇ 12 (1969/71).

Foto 8 > Vd. Referências nº 12 (pelotão de Morteiros), nº13 (Capela), nº14 (Secretaria) da foto aérea. Estas instalações pertencem hoje à Missão Católica (Bambadinca, 2006).

Foto 9. Crianças cantando o Hino Nacional enquanto é hasteada a bandeira antes das aulas (Bambadinca, 2006).


Fotos: © Rui Fernandes (2008). Direitos reservados.
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Notas de vb:

(1) Vd posts de :

25 de Outubro de 2007> Guiné 63/74 – P2213: Dando a mão à palmatória (2): Rui Fernandes, o fotógrafo do pintor Augusto Trigo (Virgínio Briote)

14 de Outubro de 2007> Guiné 63/74 - P2177: Artistas guineenses (1): Augusto Trigo, nascido em 1938, em Bolama

(2) Tenho trocado algumas mensagens com o Rui Fernandes a propósito destas imagens. Agradecer publicamente a disponibilidade dele é justo, mas não é tudo. É marcante (usando a expressão dele acima, quando fala das populações quando o viam) o sentimento que transmite quando fala daquelas gentes e dos seus lugares. Quem fala assim da Guiné, de uma maneira tão Amiga, permitam que fale em nome da tertúlia, nosso Amigo é. E é como amigo da Guiné e dos guineenses, que o convidamos a integrar a nossa Tabanca Grande.