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sábado, 25 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13800: Bom ou mau tempo na bolanha (72): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (12) (Tony Borié)

Septuagésimo primeiro episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.




Relato do décimo segundo dia de viagem

Foi dos dias mais pacatos, céu azul, bom tempo, só vendo paisagem e sem qualquer sobressalto, o clima polar, a latitude 66° 33’, tinha ficado lá no norte.

No hotel pertencente à tal rede, na cidade Wasilla, que por acaso é a cidade onde vive uma personagem bastante popular, a senhora Sarah Palin, que já foi governadora do estado do Alaska, cuja foto correu mundo. Muitas senhoras a copiaram, com uns óculos de estilo e uma cara simpática, que até o Partido Republicano a nomeou para concorrer às eleições para vice-presidente dos USA. Aqui, continuavam a gostar de nós, pois além de nos fazerem sempre um preço de amigos, serviram-nos um pequeno almoço que era quase um jantar.



Rumo ao sul, já a manhã ia um pouco alta, a cidade de Anchorage, era já ali, parámos na entrada junto da placa que dava as boas-vindas à cidade, tirámos fotos, fomos ver o “Ship Creek”, que é um rio do Alasca que brota das “Montanhas Chugach” em Cook Inlet, ali no porto de Anchorage, na foz do Ship Creek, que deu o seu nome "Knik Anchorage", à cidade de Anchorage que foi crescendo nas suas proximidades, já por lá havia alguns pescadores, todavia disseram-nos que o salmão ainda não tinha subido.


A cidade de Anchorage mostrava bem a presença russa, no centro-sul do Alasca, no século dezanove, quando em 1867 o secretário de estado William Seward intermediou um acordo para a compra do Alasca, ao endividado Império Russo por US$ 7,2 milhões, algo como dois centavos de dólar por acre. O negócio foi muito criticado por políticos e pela população em geral, como a "loucura de Seward", pois ia comprar a "caixa gelada de Seward" e "Walrussia". Todavia em 1888 foi descoberto ouro no “Turnagain Arm”, na região da enseada de “Cook”.


Em 1912, o Alasca tornou-se um território dos USA e Anchorage, ao contrário de todas as outras cidades grandes no Alasca ao sul da Faixa de Brooks, não era nem pesqueira nem um campo de mineração. A área de dezenas de quilómetros de Anchorage é estéril de minerais metálicos economicamente importantes e, não havia, naquele tempo, frota de pesca operando fora de Anchorage.

Foi estabelecida em 1914 como um porto de construção de caminhos-de-ferro para o “Alaska Railroad’, que foi construído entre 1915 e 1923, sendo na área de “Ship Creek Landing” onde se localizava o quartel principal dos caminhos-de-ferro, que rapidamente se tornou uma cidade de tendas. Depois disso, a cidade sofreu uma grande transformação com o desenvolvimento do caminho de ferro, com a chegada de bases militares e, mais tarde, com o tráfrgo no Aeroporto Internacional Ted Stevens, sendo a cidade de Anchorage, incorporada no ano de 1920.

Em 1964, ano em que chegámos à província da Guiné, com aquela farda amarela, servindo a “Muito Digna e Orgulhosa Pátria Amada”, como me dizia o professor Silvério, nos anos cinquenta, no segundo andar da escola fria do Adro, em Águeda, aquela cidade foi atingida pelo Terramoto de “Good Friday” (Semana Santa), ou “Grande Terremoto do Alasca”, com uma magnitude de 9.2, que matou 115 pessoas e provocou um prejuízo de 1.8 bilhões de dólares. O terramoto durou cerca de 5 minutos, e as construções que não cederam nos primeiros tremores, ruíram com os movimentos incessantes. Foi o segundo maior sismo da história mundial e a reconstrução dominou a cidade em meados dos anos 60.

Continuámos visitando a cidade, mas nunca parando, pois com uma caravana atrelada ao Jeep, dentro da cidade era difícil o estacionamento e, pelas informações que tínhamos, existe por aqui algum crime, talvez não seja verdadeiramente crime, é a falta de ocupação dos naturais, por tal motivo não era muito recomendável estacionar, pelo menos nas áreas circundantes da cidade, pois podia-se ver grupos de pessoas, em especial na área da foz do “Ship Creek”, sem qualquer ocupação, dando a entender que viviam por ali, talvez na esperança de alguma oportunidade para enriquecer o seu miserável património.

Mas deixemos esses pormenores, o que os nossos companheiros devem querer saber é o que os nossos olhos viram, em outras palavras, viajar connosco e isso é o que vamos fazer.
Sempre rumo ao sul, seguindo na estrada número 1, o tempo estava bom, o céu azul, com um cenário que podia ser pintado, pois as montanhas de “Chugach” estavam de um lado e a linha do caminho de ferro, quase sobre a água da baía de “Turnagain Arm”, do outro.


Umas horas depois éramos passageiros de um barco que navegava por um pequeno lago, onde uma simpática rapariga, com feições de esquimó, nos explicava alguns pormenores do “Portage Glacier”, que é uma massa de gelo, compactada e cristalizada, que desce da montanha, caindo sobre o lago, na área de “Chugach National Forest”, entre montanhas. A neve que o compõe anda por lá há milhares de anos, tem aproximadamente 14 milhas, (23 quilómetros) de comprimento e está conectado a mais cinco “glacieres”, que se escondem também por entre montanhas.


Quando erguíamos os olhos, avistávamos neve e gelo. À nossa frente a paisagem era de floresta, com árvores verdes a circundarem a estrada que passava por muitos ribeiros e lagos. Agora era rumo ao sul, entrando na província do Kenai, onde existe uma área em que se viaja por mais de 100 milhas sem estações de serviço, mas a estrada é de alcatrão, em muito bom estado.


Continuando sempre na estrada número 1, chamada também “Sterling Highway”, podemos avistar, do outro lado do “Cook Inlet”, onde a baía já é bastante larga, algumas montanhas cobertas de neve com o cume a fumegar, sinal de que são vulcões adormecidos.


Saindo da estrada, aqui e ali, para apreciar a paisagem, passando por algumas pontes, muitas são mesmo obras de arte, vendo pequenas embarcações descarregando e limpando peixe. "Águias de colarinho branco”, aproximavam-se enquanto se limpava o peixe.


Assim, fomos seguindo até à cidade Homer onde, antes de procurar um parque de campismo, vendo um cenário de mar e montanha, logo à saída de Cook Inlet, em Kachemak Bay, existe um complexo de 7 vivendas, casas em madeira de troncos, com dois andares, simples, com todas as facilidades incluídas, a parte de trás tem um pequena área coberta, com cadeiras, onde se pode presenciar um cenário de mar e montanha mais lindo e completo, que em toda a nossa vida, que já é um pouco longa, vimos. São alugadas ao dia ou à semana e, como já eram quase onze horas da noite, embora ainda fosse dia, por curiosidade, perguntámos qual o preço do seu aluguer, a pessoa responsável, uma senhora, sorrindo, com aquele sorriso gaiato de esquimó, nos disse que ainda tinha uma vaga, dado ao adiantado da hora nos fazia um preço especial, para aquela noite, que era maior do que uma normal família, talvez com dois filhos, podia gastar para viver razoavelmente durante duas ou três semanas.

Dormimos próximo, num parque de campismo do estado, cozinhando a nossa refeição, ocupando um espaço com uma vista privilegiada, quase igual à das casas, em troncos em madeira, por apenas $10.00, que colocámos num apropriado envelope, oferecendo de ajuda, para a manutenção do parque.

Neste dia, esquecendo o miserável dia anterior, pois por aqui, já é “sul do Alaska”, percorremos apenas 297 milhas, num cenário de floresta, montanhas, glaciares, lagos, alguns ribeiros, mar, zonas piscatórias, alguns animais e aves selvagens, o céu quase sempre azul, com o preço da gasolina variando entre $4.22 e $4.37 o galão, que são aproximadamente 4 litros.

Tony Borie, Agosto de 2014
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13754: Bom ou mau tempo na bolanha (70): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (11) (Tony Borié)

sábado, 18 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13754: Bom ou mau tempo na bolanha (71): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (11) (Tony Borié)

Septuagésimo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.



Resumo do dia onze

O dia tinha iniciado muito bem, pois no tal hotel onde dormimos, com “preço de amigos”, trataram-nos com uma dignidade um pouco fora do vulgar, pois além de nos servirem um pequeno almoço para “pessoas ricas”, como dizia a minha querida avó, ainda nos deram uma pequena embalagem com comida para o resto do dia, desejando-nos, “boa viagem” e que um dia iam visitar-nos na Florida.

Cá fora caía aquela “chuva miudinha’, que nós quando jovens dizíamos ser “chuva de molha tolos”, estava tudo em ordem, tanto no Jeep, como na caravana, tanques extras cheios de gasolina, muita água, tanto para beber como para qualquer lavagem, na caixa frigorífica ia muita comida, pelo menos daquela a que chamamos “finger food”, ou seja, boa para se comer com os dedos, não necessitando de prato ou talheres e GPS em ordem. Deixámos a cidade de Fairbanks, o nosso destino era o norte, era o “Dalton Highway”, estava no nosso “roteiro”, queríamos viajar nesta estrada, fazia parte do nosso “projecto” que é uma estrada construída para ligar Fairbanks e outras cidades com Prudhoe Bay, que não é mais do que onde termina a célebre “Estrada Panamericana”, onde também se pode ver o Oceano Ártico, o “sol da meia noite” e, com uma certa frequência, a “Aurora Boreal”, que fica um pouco ao lado do maior campo de petróleo dos USA.

Tínhamos informação de que a estrada, que começa mais ou menos a 100 milhas ao norte da cidade de Fairbanks, na cidade de Livengood e, também é conhecida como AK11, tem também mais ou menos 420 milhas de distância, aproximadamente 25 por cento da estrada, tem algum alcatrão, o resto é terra, lama e pedra, depende do estado em que o último inverno a tenha deixado e do sucesso das suas obras de reparação e, claro, do clima que faça na altura.


No dia anterior, no Centro de Turismo, explicaram-nos que a estrada era, “gravel, dirt or mud, depending on the weather”, também nos disseram que era muito recomendável que se carregasse quatro pneus extras, mas quem não puder, que leve pelo menos dois, assim como gasolina extra, para pelo menos 240 milhas. A estrada segue e foi construída, quase naturalmente, sempre ao lado do “Alaska Pipe Line”, que dizem ser um dos maiores “pipeline systems”, em todo o mundo, que vulgarmente se designa por oleoduto, com o diâmetro de 48 polegadas, (122 cm.), que transporta o crude do óleo, por uma distância de aproximadamente 800 milhas, (1287 Km.), com 11 estações de bombagem, desde o campo petrolífero de Prudhoe Bay, até ao porto marítimo da cidade de Valdez, que infelizmente já tem sido notícia por diversos incidentes durante a sua curta vida, pois começou a operar por volta do ano de 1977 e, pelos diversos “leaks” de óleo, derivado a alguns erros de manutenção, transporte ou sabotagem e, até por aventureiros ou caçadores mal intencionados, que disparam contra ele, fazendo-lhe alguns buracos, apesar do seu sotisficado sistema de vigilância.


Esta estrada, é uma das mais isoladas dos USA, tem somente três povoações com algumas facilidades, ao longo da estrada, que são Coldfoot, na milha 175, Wiseman, na milha 188 e Deadhorse, na milha 414. Dizem que a gasolina está disponível na povoação de E. L. Patton Yukon River Bridge, mais ou menos na milha 56, e às vezes nas povoações que já mencionámos, de facto havia na primeira povoação, pois era mais ou menos na região do “Hot Spot Cafe”, que é como designam aquela região, por haver por ali alguma civilização.

Até à cidade de Livengood, com chuva miudinha e algum nevoeiro, fomos seguindo, era alcatrão, passámos a cidade, tomando o desvio do norte, onde já havia alguma terra e lama, eis-nos na frente da placa que nos indicava o famoso “Dalton Highway”, já se fazia sentir o tal clima “polar”, onde em uma pouca área de  terreno pode existir neve, chuva, granizo, nevoeiro, vento, algum sol, mas sempre frio, muito frio mesmo. Nesta altura fazia alguma chuva, com “abertas”. Parámos, esperámos por outros veículos por aproximadamente uma hora, vinham alguns camiões com atrelados, tanto para um lado como para outro, mas veículos ligeiros ou caravanas não, decididos, avançámos sozinhos. Depois de umas tantas milhas encontrámos uma caravana abandonada, na beira da estrada, talvez o eixo estivesse partido ou danificado, pois a roda de trás, do lado esquerdo, estava em baixo e de lado, continuava a caír aquela chuva miudinha, junta com nevoeiro, mas, como já mencionámos, com algumas “abertas”.


A estrada estava muito perigosa, com lama, pedras, grandes buracos com água e, na região do “Hot Spot Cafe”, mais ou menos na “Milha 60”, foi onde chegámos, pois um pouco à frente estavam militares e trabalhadores do “Alaska Pipe Line”, que logo nos avisaram que se não levávamos equipamento de sobrevivência, um novo conjunto de pneus, próprios para esta perigosa estrada e, se continuávamos com a intenção de seguir em frente com este estado de tempo, era por nossa conta e risco e era muito difícil alguém nos socorrer em caso de acidente, pois com este tempo, viajando sozinhos, ajuda médica só era possível talvez na povoação de Deadhorse ou na cidade de Fairbanks. Tudo isto apesar de transitarem por dia nesta estrada mais de uma centena camiões, alguns com três atrelados, daqueles que não fazem manobra, que seguem sempre em frente, cujas rodas “atiram” pequenas pedras e lama, a uma distância que pode atingir meia milha, onde os condutores profissionais, desses camiões, falando entre si, dizem que esta estrada é para trabalhar, é uma via de “trabalho”, não para passear, portanto os “turistas”, não são, pelo menos para eles, muito bem vindos.




Viajávamos sozinhos, essa era a nossa maior dificuldade, pois com este clima, frio e chuvoso e, não havendo outros aventureiros que nos fizessem companhia, conformados, aproveitámos a ajuda que essas pessoas nos deram, nesta pequena estrada de lama, para voltarmos o Jeep e a caravana no sentido do sul. Estando a pouco menos de 50 milhas do “Artic Circle”, a tal latitude, 66° 33’, ficámos um pouco revoltados, vendo esta oportunidade única de tocar na água do Oceano Ártico, ou ver o “sol da meia noite”.


Queremos só mencionar um pequeno pormenor, quando atingimos a região do “Hot Spot Cafe”, cuja latitude é, 65° 52’, foi o local onde nos distanciámos mais, da nossa casa, na Florida, podendo dizer mesmo, que tínhamos realizado metade da nossa “aventura”.

Vamos continuar, agora rumo de novo a sul. Com poucas milhas andadas vimos um camião/tanque caído numa ravina, com as rodas no ar, ainda rolando, com dois camiões parados, que deviam já ter pedido socorros. Também parámos, vieram dois helicópteros que iniciaram as operações de resgate, sendo-nos mandado abandonar o local para facilitar as operações. Passando de novo na cidade de Fairbanks, que fica mais ou menos a 200 milhas de distância do local onde fomos avisados pela primeira vez, sempre com chuva, nevoeiro e, de vez em quando havia as tais “abertas”, o que nos fazia pensar em voltar e, seguir de novo rumo ao norte, mas o “bom senso” nos fazia seguir em direcção ao sul.

Assim continuámos sempre debaixo de chuva, “dia miserável”, como é costume dizer-se, parando no “Denali National Park”, onde se encontra o “Mount McKinley”, que é a montanha mais alta da América do Norte, cujo nome em língua “atabasca” é Denali. Este parque nacional foi inicialmente criado no ano de 1917, com a designação de “Parque Nacinal Monte McKinley”, apesar do cume propriamente dito não estar incluído na área do parque, desde 1976 que é considerado “reserva da biosfera”.

Nesta área, junto à estrada, é como fosse uma “amostra”, do que existe nas redondezas, pois existem muitos estabelecimentos de comércio, vendendo produtos regionais, alguns feitos por nativos “esquimós”, vários restaurantes e hotéis, alguns de luxo, os mais variados artigos para turistas, que visitam o local. O parque de estacionamento é em qualquer local onde não existam árvores, seja mais ou menos plano e onde se entenda que se possa sair, depois de alguma chuva ou neve, que é frequente nesta zona. Nós, depois de estacionar, também visitámos as lojas e comprámos algumas lembranças para familiares, seguindo viagem, sempre rumo ao sul, chovendo, com algum vento, mas sempre conduzindo com alguma segurança. Viemos até à cidade Wasilla, já perto de Anchorage, e como chovia, nem sequer procurámos parque de campismo, com muita sorte, dormimos num hotel da mesma rede, do que tínhamos dormido na cidade de Fairbanks, onde estava lá o nosso nome no computador, no tal espaço que dizia, “preço de amigos”.


Este foi, um dos dias mais duros da nossa viagem, o clima dificultou e, “tocou” um pouco, os já “velhos” nervos do nosso corpo, chegando por alguns momentos a questionar o nosso pensamento, porque nos metemos nesta aventura, mas, “como quem corre por gosto, não cansa”, continuámos, percorrendo 687 milhas, com o preço da gasolina, variando entre $4.27 e $4.38, o galão, que são aproximadamente 4 litros.

Tony Borie, Agosto de 2014
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13719: Bom ou mau tempo na bolanha (69): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (10) (Tony Borié)

sábado, 11 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13719: Bom ou mau tempo na bolanha (70): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (10) (Tony Borié)

Sexagésimo nono episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.




Resumo do décimo dia

Já nos encontrávamos no estado do Alaska, que é uma gigantesca península, que se limita a norte com o Oceano Ártico, a oeste com o estreito de Bering, que o separa do país europeu Rússia, na área das províncias de Chukotka Autonomous Okrug e Kamchatka Krai, ao sul com o mar de Bering e, a leste, com o Canada, nas províncias de Yukon e British Columbia. Tem 1 723 336,57 km², dos quais 1 477 953,12 km² são terra firme, sendo o resto coberto por água, tornando-o o maior estado dos USA.

Apesar deste território ter sido habitado, milhares de anos, por povos indígenas, a partir do século XVIII, algumas potências europeias consideraram o território do Alasca, bom para exploração. Assim, o nome “Alaska", foi introduzido no período colonial russo, que lhe chamava, “Аляска”, quando foi usado para se referir a esta gigantesca península, derivado de uma expressão do idioma esquimo-aleutiano, “Aleut”, ainda hoje falado em diversas partes deste território, quando se referem ao território do Alasca, mais propriamente ao estreito de Bering, querendo dizer mais ou menos, “para onde a corrente da acção da água do mar é dirigida”. Também é conhecido como “Alyeska”, a "Grande Terra", uma palavra também “Aleut”.


Era manhã, no nosso relógio, pois a luz do dia já nos iluminava há muitas horas, estávamos no que chamam a cidade de Delta Junction, que está localizada a pequena distância da confluência do rio Delta com o rio Tanana, onde existe a povoação de Big Delta e, onde também viviam os primeiros habitantes que eram os “Tanana Athabaskan” e, além destes rios, o território do Alasca é cortado pelo rio Yukon, um dos rios mais longos da América do Norte, com os seus 3185 km de comprimento, possui milhares de pequenos lagos, alguns com algumas dezenas de quilómetros de largura, com grande quantidade de peixes, em especial salmão, além de tudo isto, cerca de 35% do Alasca é coberto por florestas, principalmente, no sul do estado, além de abrigar milhares de “Glaciares”, que são as tais espessas massas de gelo formadas em camadas sucessivas de neve compactada e recristalizada, durante várias épocas, em regiões onde a acumulação de neve é superior ao degelo, cujo tamanho varia entre algumas centenas de metros, até 80 km de comprimento, chegando até aos 300 metros de espessura.

Creio que já chega de história, mas perdoem acrescentar mais um pormenor, se o território do Alasca, fosse um país independente, seria o 17.° maior do mundo em extensão territorial e, ainda existe outro pormenor, é que o governo americano comprou todo o território do que é hoje o Alasca ao Império Russo, em 1867, por 7,2 milhões de dólares, mais ou menos, dois cêntimos por “acre”, ou seja ($4.74/km²), mas só no ano de 1959 o elevou à categoria de estado, tornando-se assim no 49.º estado americano.

Vamos continuar, pois o que mais deve de interessar aos nossos companheiros são pequenos pormenores da viajem, como vivem por aqui as pessoas, o que os nossos olhos viram e, o que faltava em facilidades no dia a dia, era abundante em animais na estrada, pelo menos por aqui em Delta Junction, pois por volta do ano de 1928, o governo dos USA trouxe uma manada de 23 búfalos do “National Bison Range”, no estado de Montana, para esta povoação de Big Delta, para ajudarem os seus habitantes na caça. Em poucos anos reproduziram-se de tal maneira, que já eram problema para as pequenas culturas, onde teve que haver controle, abrindo a época de caça, com mais frequência, existindo agora um controle, que mantém uma manada de apenas umas centenas.

Nesta cidade de Delta Junction, oficialmente termina o “Alaska Highway” e, começa o “Richardson Highway”, que para norte, nos leva à cidade de Fairbanks, e para sul à cidade de Valdez, onde existe o terminal do célebre “Alaska Pipe Line”, que é aquele oleaduto gigante que transporta o óleo em bruto por uma distância de aproximadamente 800 milhas, extraído do fundo do mar, lá no norte do Alaska, em Prudhoe Bay, onde o clima já é polar.


Existem por aqui poucas pessoas, está muito desabitado, as estradas resumem-se a 4 ou 5 a que chamam “Highways”, mas, só junto às principais cidades têm 2 vias, o resto é só uma via onde passam as viaturas umas pelas outras. Para nós, era bom, era tranquilidade, era paisagem, era natureza pura, era ar puro que se respirava, todas as dificuldades para nós eram normais e aceitavam-se com muito agrado, pois quando jovens, tal como os nossos companheiros, tínhamos sobrevivido sem quase nenhumas facilidades, a uma passagem por um período de anos, num maldito cenário de guerra, lá na África.

Havia por aqui diferentes facilidades, como por exemplo, existem com frequência, junto às estações de serviço, as lojas de conveniência, muito melhores que a loja do “Libanês” lá em Mansoa, que vendem desde uma “aspirina” até um “par de pneus todo o terreno”, locais com bombas de água, com sabão ou sem sabão, de muita ou pouca pressão, próprias para lavagem de viaturas pequenas ou grandes, que os proprietários dessas viaturas usam, lavando ou simplesmente tirando alguma terra, lama, pó ou mosquitos já mortos dos vidros da frente, dos faróis ou das manetes que abrem as portas e, é o que fazemos com muita frequência.

Era ainda manhã, visitamos o Centro de Turismo, uma pessoa, saindo de um luxuoso autocarro, que possivelmente vinha dos portos das cidades de Valez ou Anchorage, desviando-se de uma poça de água, dizia: “isto parece o terceiro mundo”. Para nós era exagero, mesmo muito exagero, devia de ser do tipo de uma daquelas pessoas que nós, quando prestávamos serviço militar em Lisboa, esperando o embarque para a então província da Guiné, víamos na zona do Mosteiro dos Jerónimos, vestidas com aquelas roupas garridas, falavam inglês, passeando-se com ar de pessoas importantes, mas depois de emigrar, viemos a saber que eram uns remediados, com o mínimo de escolaridade, que abriam uma conta no banco, descontando uma importância por semana do seu ordenado para virem à Europa mostrarem-se e, um nosso companheiro de então, nos dizia: ”olha ali, um cáa...mone”.

Porra, estou a fazer muitas interrupções, vamos mas é continuar. No Centro de Turismo, a funcionária, uma simpática senhora, descendente de emigrantes alemães, dizia-nos que já tinha visitado por mais que uma vez Portugal, gostava de “vinho do Porto” e “pastéis de nata”, e sabendo que a nossa origem era Portugal, logo se desfez em amabilidades e informações muito úteis, tentando falar algumas palavras em português, o que nos fazia rir, ajudou-nos a tirar algumas fotos no “marco histórico”, onde oficialmente termina o “Alaska Highway”.


Tomando o rumo do norte, ou seja, seguimos pelo “Richardson Highway”, para a cidade de Fairbanks. Chovia aquela “chuva miudinha”, o Jeep e a caravana, já lavados, seguiam com alguma segurança, parámos na cidade de “North Pole”, sim, aquela povoação onde dizem que vive o “Pai Natal”, que se localiza entre o rio Chena e o rio Tanana, dizem que vive do turismo e de duas grandes refinarias de petróleo, o que pudemos constatar pelo tráfico de grandes camiões/tanques que entram e saiem constantemente da cidade, entrando na única estrada que a atravessa, que é o “Richardson Highway”.

Visitámos um grande estabelecimento de decorações de Natal e não só, que é frequentado por pessoas chegadas em viaturas como nós, ou vindas em autocarros, que constantemente chegam das cidades de Fairbanks, Anchorage e até de Valdez. Existe aqui uma grande imagem que dizem que é a maior do mundo, do “Santa Claus”, feita em fiberglass. As luzes que iluminam as ruas estão decoradas com motivos de Natal, têm nomes como, Santa Claus Lane, St. Nicholas Drive ou Snowman Lane. Os carros da polícia têm a cor de verde e branco, os carros dos bombeiros e as ambulâncias são vermelhas, tal como a roupa do “Pai Natal” e o posto do correio da cidade de North Pole recebe por ano centenas de milhares de cartas dirigidas ao “Pai Natal”.


Para nós era Alaska puro, com muito “folclore”, muita paisagem, em algumas zonas, neve antiga nas ribanceiras, chuva e nevoeiro, o tal clima polar, estrada perigosa, paragens constantes para dar espaço aos longos camiões que por nós passavam, quando nos surgia uma qualquer habitação, um pouco retirado da estrada, normalmente, na sua frente, além de um ou dois pick-up, um ou dois barcos pequenos com motor fora de bordo, já antigos, também lá estava uma avioneta com rodas ou flutuadores, que possivelmente usava a estrada ou o lago mais próximo para deslocar. Continuando sempre rumo ao norte, rumo à “latitude 66° 33’, seguindo para a cidade de Fairbanks, que um tal capitão E. T. Barnette fundou no ano de 1901 enquanto tentava criar um ponto comercial em Tanacross, onde o rio Tanana atravessava a trilha Valdez-Eagle. O barco em que Barnette e uns jovens seguiam encalhou 11 km após o rio Chena, onde a fumaça do motor atraiu alguns garimpeiros, que logo acorreram ao local, encontrando o capitão que ali desembarcou. Os garimpeiros convenceram Barnette a estabelecer seu ponto comercial ali, onde mais tarde a cidade recebeu seu nome em homenagem a Charles W. Fairbanks, um senador republicano de Indiana, mais tarde o 26.º vice-presidente dos USA.


Transitávamos com algum cuidado por uma via da cidade, com o Jeep e a caravana um pouco sujos, na procura do Centro de Turismo, ao nosso lado ia um veículo da emissora de televisão local, que na paragem do sinal de trânsito, vendo a matrícula do veículo da Florida, nos perguntou se tudo nos tinha corrido bem e há quanto tempo andávamos na estrada. Já tinham ouvido falar em nós, que nos desejavam boa sorte, e mais umas outras perguntas de circunstância, nós perguntámos qual o itinerário mais perto para chegar ao Centro de Turismo, e eles logo disseram para os seguir. Ali tivemos alguma informação, percorremos a cidade, como chovia procurámos hotel, a empregada, sabendo a nossa proveniência, para surpresa nossa, disse que já tinha ouvido falar na nossa “aventura”, tinha muito gosto em receber-nos, não só fazendo um preço “de amigos”, recomendando-nos para outros hotéis da mesma rede, o que muito agradecemos.


Já eram seis horas da tarde quando por recomendação de uma pessoa que aqui vive, que é professor na Universidade, aqui, em Fairbanks, mas com familiares na cidade onde vivemos, no estado da Florida, fomos a um famoso restaurante, próximo de onde passa o “Alaska Pipe Line”, um pouco ao norte da cidade, comer bifes de búfalo, onde servem doses para gigantes, a que chamam “bife para homem do óleo, grande”, “bife para homem do óleo, médio” ou “bife para homem do óleo, pequeno”. O prato do dia era “hamburgueres”. Havia um grande “braseiro”, as pessoas, com o pão na mão, tiravam um hamburguer, colocavam uma grande “rodela” de tomate, cebola e outros temperos. Nós comemos um bife de búfalo, pedimos a dose média, deu para dois e cresceu para trazermos para o lanche do próximo dia. Tudo regado com cerveja local, à temperatura normal, que parecia vinho branco.


Neste dia andámos pouco, percorremos somente 319 milhas, com o preço da gasolina a variar entre $4.10 e $4. 22 o galão, que são aproximadamente 4 litros.

Tony Borie, Agosto de 2014.
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13690: Bom ou mau tempo na bolanha (68): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (9) (Tony Borié)

sábado, 4 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13690: Bom ou mau tempo na bolanha (69): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (9) (Tony Borié)

Sexagésimo oitavo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.




Da Florida ao Alaska, nono dia

Já há algum tempo que tínhamos passado o Paralelo 48 N, onde dizem que são mais ou menos 48 graus a norte do plano equatorial terrestre e, a esta latitude o sol nos aquece e ilumina por muitas horas ao dia, pelo menos no verão, tudo isto era verdade, pois na viajem pelo “Klondike Loop”, que é como chamam ao desvio de estrada de terra, com algum alcatrão, pedra e lama, pois dizem que o pavimento é “seal coat & gravel”, que está aberta todo o ano, mas no inverno, quando o tempo é de tempestade, algumas partes do trajecto fecham. Tem uma distância mais ou menos de 500 milhas, é uma estrada “deserta”, vêem-se alguns animais selvagens, sobretudo “coiotes”, começa pouco depois da cidade de Whitehorse, portanto no “Alaska Highway”, na província de Yukon, no Canadá, e termina já no estado do Alaska, na povoação de Tok, também no “Alaska Highway”.


Explicando um pouco melhor, interrompemos o nosso trajecto que ia directo ao território do Alaska, seguindo agora mais para norte, onde íamos cruzar a fronteira com o Alaska em diferente local, mas regressaríamos à mesma cidade, já dentro do território do Alaska, tal como se continuássemos directos pelo Alaska Highway, em outras palavras, fizemos o “Klondike Loop”, que é o mesmo que estar em Aveiro, querer ir de carro para a cidade de Salamanca, em Espanha, e no lugar de ir directo, atravessando a fronteira em Vilar Formoso, tomar a direcção do norte, atravessar a fronteira em Vigo, regressando depois a Salamanca.
Este trajecto é muito popular entre quem viaja no “Alaska Highway”, pois passado mais ou menos 520 quilómetros, chegam à cidade de Dawson City.


Esta cidade está situada na província do Yukon, cuja população anda à volta de 2000 habitantes, recebendo mais ou menos cerca de 60.000 turistas por ano. Os habitantes locais referem-se à localidade como "Dawson", mas a indústria turística prefere chamar-lhe "Dawson City", para a diferenciar de Dawson Creek, na província de Colúmbia Britânica, que se situa no “Historic Milepost 0”, do “Alaska Highway”, pelo menos foi isto que uma simpática senhora, vestida tal como os habitantes de Dawson City usavam no século passado, nos explicou no Centro de Turismo, convidando-nos a passar um dia ou dois na cidade.

A povoação foi fundada no ano de 1897 e baptizada em homenagem a um geólogo do Canadá chamado George Mercer Dawson, que tinha explorado e realizado um mapa da região em 1887. Foi a capital da província do Yukon desde a fundação do território, em 1898, até 1952, quando a sede foi trasladada para a cidade de Whitehorse, de onde tínhamos saído no dia anterior. A corrida ao ouro de “Klondike”, começou em 1896 e produziu uma grande mudança no que era então um acampamento indígena de Verão, orientado para a pesca, transformando-o numa cidade próspera de cerca de 40.000 habitantes por volta de 1898. No ano seguinte a febre do ouro tinha chegado ao seu fim, fazendo com que a população se reduzisse para 8000 pessoas. Quando Dawson se tornou cidade em 1902, tinha cerca de 5000 habitantes.

A maior parte dos edifícios da área junto ao rio Yukon, da cidade de Dawson City, parecem antigos, em madeira. Todos os novos edifícios têm que seguir esta regra, a população manteve-se bastante estável até à década de 1930, decaindo após a Segunda Guerra Mundial, quando a capital territorial passou a ser a cidade de Whitehorse. No início da década de 1950 uma rota unia Dawson City ao Alasca e, no outono de 1955 a Whitehorse, pela estrada que faz parte da rota de “Klondike”.


Percorremos a cidade, as ruas estão tal e qual como no século passado, o seu piso é de terra, com algumas poças de lama, existem passadeiras em madeira junto das casas, onde antes de entrar tem uma grande “escova”, pregada ao chão, tipo vassoura, para as pessoas limparem o calçado. Visitámos um bar local, o chão era cimento, já um pouco deteriorado, coberto de serrim, onde as pessoas bebiam cerveja à temperatura ambiente, atirando as cascas de amendoim, e não só, para o chão. Os preços de comida, hotéis, gasolina ou daquelas pequenas coisas a que chamamos “lembranças”, que se compram de momento, como se compreendia, eram um pouco acima da média.


É uma cidade pequenina, muito linda, que fica no pensamento e, vista do cais do rio, onde, depois de mais ou menos 2 horas, na linha de espera pelo “ferry”, que é da graça e atraca na margem do rio Yukon, onde se encontra em ambas as margens uma máquina, tipo “caterpilar”, para ajeitar o “cais” em areia, e que varia de superfície conforme a corrente do rio, atravessámos o rio Yukon, subindo uma pequena montanha, onde tem um miradouro, onde se pode apreciar a cidade perdida de Dawson City, que ficou para trás, do outro lado do rio, mas que, como antes dizíamos, se leva no pensamento.



Continuámos andando mais ou menos 130 quilómetros, sempre subindo as montanhas, por uma estrada de terra com algumas pedra miúda, a que chamam “Top of the World Highway”, passando por zonas com gelo, que se derretia suavemente, onde alguns animais vinham beber a sua água, desfiladeiros, cordilheiras, com algum vento frio, mesmo muito frio, vindo cruzar a fronteira internacional no posto fronteiriço de Poker Creek, que tem neste momento 3 habitantes, sendo a porta de fronteira terrestre situada mais a norte de todo o território dos USA, e está aberta das 9 da manhã até às 9 da noite, e fechada durante o inverno que é mais ou menos de Outubro a Abril, mas informaram-nos que a fronteira abre somente em Maio.


Estávamos finalmente no território do Alaska, parámos, tirámos as primeiras fotos junto da placa que diz Alaska, os guardas do posto fronteiriço riram-se, dizendo: “long way from Florida”, (longo caminho desde a Florida).


A partir daqui era território do Alaska, era sempre em frente, não havia que enganar, mas, aquilo a que chamam o “Taylor Highway”, já no estado do Alaska, que tem uma distância de aproximadamente 100 milhas, pois no Alaska a contagem já é feita no sistema de milhas, que são quase sempre a descer. Na altura, a estrada estava em reparação, com um piso de pedras muito grandes, o que danificava muito as viaturas, pois eram frequentes Vê-las paradas, com pneus rotos, molas partidas, desvios pela berma, algumas quase a tombar. Nós fomos seguindo, devagar, mas seguindo, também se viam em pequenos ribeiros, já onde a zona era mais plana, muitas pessoas pesquisando ouro, enterrados na água e na lama.


Passámos, entre outras, pela povoação de Chicken, uma povoação mineira onde comprámos alguma gasolina, seguindo sempre, devagar e sem qualquer acidente até à tal povoação de Tok, onde chegámos por voltas das 11 horas da noite, mas ainda de dia, pois continuámos a viajem até à cidade de Delta Junction, onde dormimos, com o carro e a Caravana, coberta de lama e cimento.

Neste dia percorremos 567 milhas, com o preço da gasolina variando entre $1.89 e $1.98 o litro.

Tony Borie, Agosto de 2014
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Nota do editor

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sábado, 27 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13658: Bom ou mau tempo na bolanha (68): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (8) (Tony Borié)

Sexagésimo sétimo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.




8 - Da Florida ao Alaska

Era madrugada, alguns animais vinham beber água àquela parte do lago, arrumámos a “tralha”, que é como chamamos a todas aquelas coisas que nos facilitam um pouco a vida, principalmente quando andamos em viajem por zonas onde felizmente a civilização ainda não chegou, abandonámos a região do “Muncho Lake”, que é um maravilhoso lago localizado na parte norte-oeste da Província de British Columbia, no Canadá. Àquela zona chamam “Muncho Lake Provincial Park”, designando-se a sua localização como “Historic Milepost 423”, do “Alaska Highway”, e tem mais ou menos sete milhas e meia de extensão, aproximadamente 12 quilómetros. Falando nas medidas que se usam em Portugal, a sua largura varia entre 1 e 6 quilómetros, 223 metros na parte mais funda e, está rodeado por picos de montanha, alguns cobertos de gelo com milhões de anos, com uma altura que chega a atingir os 2000 metros, mas não podemos esquecer que o lago se situa mais ou menos a 800 metros do nível do mar, cuja água é proveniente do Trout River e dos “glacieres”, que são uma grande e espessa massa de gelo formada em camadas sucessivas de neve compactada e recristalizada, de várias épocas, em regiões onde a acumulação de neve é superior ao degelo e, para quem não sabe, o gelo dos “glacieres”, é o maior reservatório de água doce que existe sobre a terra. A cor verde jade da sua água, dizem que é atribuída à presença de óxido de cobre nas rochas que compõem a base do seu leito e, o seu nome deriva da língua “Kaska”, que designa “muncho” que quer dizer “muita água”.


Olhando mais uma vez aquele “paraíso”, seguimos viagem, a estrada umas vezes era encostada a precipícios, onde só podia passar um veículo de cada vez, e com letreiros a dizer que podiam cair pedras, outras vezes era suave, longas retas, animais a cruzarem a estrada, talvez admirados e não muito felizes com a presença humana no seu território, algumas pontes, ainda do tempo do início da construção da estrada. Tudo seguia normalmente, até surgir aqueles longos camiões, com dois e três atrelados, daqueles que não podem fazer manobras, só podem seguir em frente, que nos causavam algum transtorno, pois em estradas de pedra miúda, os pneus fazem saltar algumas que partem vidros, mesmo a uma distância de centenas de metros, o que nos aconteceu, marcando o vidro do Jeep em três locais, felizmente o vidro era resistente e não nos aconteceu quase nada, só o susto.




Parávamos muitas vezes, apreciando riachos selvagens, paisagens de montanha, animais selvagens, tirando fotos, ajudando motociclistas e outros veículos com problemas, não só cedendo gasolina, mas também rebocando, tirando de buracos fundos de lama.

Passámos na “Historic Milepost 496”, onde se situa o “Liard River Hotsprings Provincial Park”, com uma piscina de água quente, que não é mais do que uma represa do rio, onde as pessoas se banham em água quente.


Um tempo de estrada com quase as mesmas paisagens, um pouco depois de passar a fronteira para a província de Yukon, aparece a “Historic Milepost 635”, onde nasceu a cidade de Watson Lake, onde próximo existe um pequeno aeroporto, uma pequena indústria de minas, comércio, onde comprámos fruta, água, pão, alguns géneros de primeira necessidade, e claro, gasolina. Aqui a polícia local viaja de carrinha, tipo “pick-up”, parando quase sempre, quando vê um veículo com matrícula de outro país, não passa qualquer multa, só quer informar e conversar.

Nesta pequena cidade existe uma importante atracção turística que é o original “Signpost Forest”. Tudo começou no ano de 1942, quando um militar do Exército dos USA, muito saudoso, trabalhando na construção do “Alaska Highway”, resolveu colocar num poste, uma placa com o nome da povoação onde tinha nascido, assim como a distância de onde se encontrava, logo outros o seguiram e, no ano de 2010, já lá havia mais de 76.000 placas, oriundas dos mais diversos países do mundo, algumas com nomes que incluem, três gerações de uma só família. O “Signpost Forest”, é uma das “atracções de estrada”, mais famosa, não só no Canadá, como em todo o mundo.


Continuando, com o Jeep e a Caravana em boas condições, a estrada com zonas boas, outras de terra e pedra e, as obras de reparação incluíam, em zonas secas uma rega de água de cimento, pelo que, se tivéssemos a infelicidade de ir logo a seguir ao carro de rega, “pintávamos” a viatura de cimento.

Passámos pelo “Historic Milepost 733”, em Swift River, a placa de sinalização antes da povoação dizia “comida, gasolina e hotel”, mas quando passámos, estava tudo fechado, dando a entender que os poucos estabelecimentos estavam fechados ou abandonados. Seguimos até um pouco antes da povoação de Teslin, que é marcada pelo “Históric Milepost 804”, parámos antes num lindo miradouro sobre o lago de Teslin, donde se pode admirar a ponte e a povoação. Seguindo, depois da ponte, havia um museu, que na altura estava fechado, cartazes a convidar a ir pescar e passear no lago, mas a nossa atenção era uma estação de serviço, que encontrámos, onde a pessoa que atendia, dentro do estabelecimento, nos pediu o cartão de crédito. Verificou duas ou três vezes, abriu a estação número 2, enchemos a gasolina que desejávamos, fez a transação, assinámos o papel e, perguntando nós qual a distância para a cidade de Whitehorse, que era o nosso próximo destino, logo nos respondeu, com um sorriso malicioso, mencionando o nosso sotaque de voz, que devíamos de ser oriundos dos “States”, que nesta zona, não importavam as distâncias, era o tempo que podia demorar, talvez com este clima e estas obras na estrada, de três a quatro horas.

Eis-nos de novo na estrada, chegámos à cidade de Whitehorse, que é assinalada pelo “Historic Milepost 884”, que podemos dizer ser um “Oásis” no deserto. Tem um cruzamento de estradas, onde se pode tomar o rumo do sul ou do norte, é banhada pelas duas margens do rio Yukon, dizem que é a cidade com a menor poluição do ar, no mundo, e mais, o rio Yukon é navegável a partir daqui, até ao mar de “Bering” e, existem serviços de passageiros ou de carga que usam o rio, aqui na cidade de Whitehorse.


Actualmente é possível fazer a rota da “febre do ouro” pelo rio Yukon, abordando algum dos barcos como o “M.V. Schwatka”, que realizam este trajecto desde a cidade de Dawson City até esta cidade de Whitehorse, podendo durante o percurso contemplar o “Canyon Miles”, impressionante pelos seus “muros”, que é o lugar onde o rio passa entre altas rochas e, a sua corrente é um pouco mais forte, tornando o rio um pouco mais revoltoso.

Já há alguma “civilização”, centro de turismo com computadores disponíveis, hotéis e restaurantes “temáticos”, comércio normal, estações de serviço, das principais marcas de combustível, alguns parques agradáveis, alguma juventude na rua, principalmente em frente aos restaurantes “temáticos”.

Depois de despendermos algum tempo nesta cidade, como nesta altura do ano é quase sempre de dia, sentindo-nos bem, abandonámos o “Alaska Highway”, tomando a estrada número 2, em direcção ao norte, fazendo o “Klondike Loop”, que é como chamam ao desvio que se faz para andar mais 550 quilómetros, de estrada de terra e pedras, para se chegar à cidade perdida de Dawson City, lá no norte do Canadá, onde muitos anos atrás algumas corajosas pessoas começaram a pesquisa de ouro.

Mas não queremos abandonar a cidade de Whitehorse sem vos falar que, nesta cidade, existe uma relíquia oriunda de Lisboa, Portugal, trata-se de um “Eléctrico” que circulou pelo Rossio ou Alfama, trata-se do “Whitehorse Waterfront Trolley”. Esta “relíquia” foi restaurada e transporta turistas numa zona ao lado do rio Yukon, vai desde o Rotary Peace Park, que está localizado ao sul do edifício do Turismo, e vai até ao limite norte da cidade, a que chamam a estação de Spook Creek. Este “Eléctrico” serviu o sistema de eléctricos de Lisboa, Portugal, desde 1925 até 1978, data em que foi vendido ao Southeastern Railway Museum, de Duluth, na Georgia, USA, que por sua vez, o vendeu à cidade de Whitehorse, em 1999, tendo sido restaurado pelo “Historic Railway Restoration”, em Arlington, WA, nos USA. Actualmente tem capacidade para 24 passageiros, e roda sobre carris que foram construídos ao longo do White Pass e Yukon Route.


Depois de rolar alguns quilómetros pelo trajecto do “Klondike Loop”, a tal estrada, rumo à cidade perdida de Dawson City, lá no norte, um pouco cansados, comemos dos géneros que tínhamos comprado na cidade de Watson Lake, onde está o “Historic Milepost 635”, dormindo num parque de campismo localizado junto ao rio Yukon, na localidade de Carmacks, onde antes nos sentámos na ribanceira do rio, apreciando a paisagem, abrindo uma garrafa de vinho português, bebendo por dois copos, que foram atirados ao rio, em homenagem aos nossos companheiros que por lá ficaram. Jovens com esperança num futuro que infelizmente não tiveram, nos rios e bolanhas da Guiné, onde a água corria com uma certa velocidade e, um pouco “barrenta”, tal como aquela que passava à quase meio século, debaixo da ponte do rio Mansoa, em direcção ao Oceano AtlIantico, tudo isto, como já explicámos, a caminho da cidade perdida de Dawson City, viajando no “Klondike Loop”, rumo ao norte, por uma estrada quase deserta, na província de Yukon.


Neste dia percorremos 589 milhas, com preço da gasolina variando entre $1.88 e $1.98 o litro.

Tony Borie, Agosto de 2014
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13629: Bom ou mau tempo na bolanha (66): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (7) (Tony Borié)