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quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16813: Agenda cultural (528): Mestre Braima Galissa e sua banda, hoje, no B.Leza, Cais do Sodré, Lisboa, a partir das 22h30




 

Vídeo (1' 21''). Alojado em You Tube > Luís Graça

 O mestre de Korá José Braima Galissa (n. 1964, Gabu, a viver em Portugal desde 1998). Lisboa, Auditório da Associação Nacional de Farmácias, Lisboa, 6 de dezembro de 2016, no lançamento do livro de Mário Beja Santos, "História(s) da Guiné-Bissau" (Edições Húmus, V. N. Famalicão, 2016). Vídeo: Luís Graça (2016). 

Em segundo plano, os nossos grã-tabanqueiros Francisco Gamelas (Aveiro) e José Eduardo Oliveira (JERO)  (Alcobaça)
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Nota do editor:

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12646: Tabanca Grande (422): Mamadu Baio, nosso grã-tabanqueiro nº 642, músico de Tabatô, fundador dos Super Camarimba, casado com uma portuguesa... Vai estar amanhã, às 18h30, em concerto a solo, na Biblioteca-Museu República e Resistência / Espaço Grandella, Estrada de Benfica, Lisboa... Entrada livre.





Alfragide, 21 de janeiro de 2014 > Festa de anos do João Graça > O Mamadu Baio e a Silvia Mendes Baio

Fotos: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.


1. Conheci o Mamadu Baio [, leia-se: Baiô,] no 29 de janeiro de 2013, em dia de anos. Veio a minha casa pela mão do meu filho João Graça, médico, músico e nosso grã-tabanqueiro. Passámos, juntos, um serão muito agradável, em família, abrilhantado com a sua presença e a sua música.

Recorde-se que Mamadu Baio é oriundo da famosa tabanca de Tabatô, na Guiné-Bissau, e líder dos Super Camarimba, de que já éramos  fãs (a família toda...).

Festa é festa, pelo que estivemos até à 1 hora da noite na conversa e a ouvir música afromandinga...   O Mamadu Baio casou com uma jovem portuguesa, a Sílvia Margarida Mendes Baio, professora do ensino básico, natural de Évora, que também veio jantar connosco. O João tinha conhecido  o Mamadu Baio,  em Bissau, em dezembro de 2009, depois de ter passado uns dias antes uma noite inesquecível na sua tabanca de Tabatô.

O que é que eu posso dizer dele ? Que é  um jovem músico, na casa dos trinta e poucos anos (ele não sabe ao certo a sua idade: na sua sua página no Facebook  lê-se que nasceu a 16 de agosto de 1980). Talentoso. De fácil contacto. Extremamente jovial. Humilde. Amigo do seu amigo. Está há dois anos em Portugal, ainda não tem a nacionalidade portuguesa (só daqui a um ano, mesmo sendo casado com uma portugeusa...). Está a compor e a preparar o seu próximo CD. Por fim, e não menos importante, está à espera do seu  filho, português, que há-de nascer em meados de março. A Sílvia Mendes, de 36 anos, é uma mulher feliz, e prepara, com todo o amor e cuidado, o nascimento do seu primeiro filho. O Mamadu Baio, por seu turno, já compôs uam canção para o filho (ou filha) que aí vem...

Já aqui informámos que a tabanca do Mamadu Baio, única na Guiné, composta de de trovadores e músicos, chamava-se Dando, no nosso tempo, situando-se na antiga estrada Bafatá -Nova Lamego, a cerca de 12 km, a leste de Bafatá (vd.carta de Bafatá). Hoje é Tabatô. É seguramente a mais "internacional" das tabancas da Guiné-Bissau, e ainda mais afamada depois de nela ter sido rodado o filme "A batalha de Tabatô", do realizador português João Viana (2012). E em que o Mamadu Baio se estreou como ator.

Logo na altura, convidei os dois, o Mamadu e a Sílvia, para integrarem a nossa Tabanca Grande.  São ambos fãs do nosso blogue. A Silvia viveu cinco anos na Guiné-Bissau, como cooperante. 

2. Hoje, finalmente, vou apresentar à Tabanca Grande (**)  o Mamadu Baio, um verdadeiro "super camarimba" que na língua mandinga, significa jovem activo. "Super Camarimba" (os jovens ativos)  é o nome de um grupo musical, criado em 1997 na tradição da música afromandinga.  Todos os seus membros são de Tabatô, embora hoje estejam separados pela distância. De belíssima sonoridade acústica, as suas músicas são  tocadas nos instrumentos tradicionais afromandingas: balafon, kora, djembé, dundunba, cabace e viola... Mamadu Baio canta e toca (viola). As suas composições celebram a paz, a harmonia, a juventude, a alegria de viver e a esperança no futuro.  O primeiro CD dos Super Camarimba ("Sila Djanhará", c. 2010)  foi  gravado no Mali. É um CD de que gosto muito, com destaque para os temas 2 (Camarimba) e 10 (Dona Berta). Sendo edição de autor, não é fácil encontrar no mercado. Em Portugal, toca a solo e em grupo, com músicos guineenses da diáspora.

Sê bem vindo à nossa Tabanca Grande, Mamadu Baio! E fazemos votos para que neste ano de 2014 (em que vais ser pai) tenhas mais oportunidades de mostrar o teu talento e a tua criatividade, em Portugal e noutros países (como o Brasil onde já foste cantar e que adoraste).

PS - O Mamadu Baio é o primeiro músico guineense, da diáspora, a integrar a nossa Tabanca Grande.  Mas igual convite já foi feito ao Braima Galissá e ao Kimi Djabaté, dois grandes nomes da música e da cultura da Guiné-Bissau de hoje, com os quais no entanto não temos tido grandes oportunidade de conviver. (Em boa verdade, conheço o Braima mas não o Kimi, que de resto  é primo do Mamadu).

 O nosso blogue apoia a música da Guiné-Bissau e os seus artistas!



Guiné-Bissau > Bissau > 17 de dezembro de 2009 > Mamadu Baio, líder dos Super Camarimba, "experimentando" o violino do João Graça, instrumento que muito provavelmente ele nunca tinha pegado antes...

Foto: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados.



Guiné-Bissau  > Região de Bafatá > Tabatô > Poilões > "A porta do meu coração", diz a Sílivia, na legenda a esta foto. Foto retirada da página do Facebook de Sílvia Margarida Mendes... Com  a devida vénia...

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Notas do editor:

(*) Alguns dos nossos  postes que fazem referência ao Mamadu Baio:

1 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12530: Agenda cultural (299): Uma janela para o mundo lusófono: um olhar sobre a Guiné-Bissau, no mês de janeiro, na Biblioteca-Museu República e Resistência / Espaço Grandella, Lisboa... Destaque para: (i) Filme "A Batalha de Tabatô", de João Viana (dia 8); e (ii) Concerto de Música Tradicional com o nosso amigo Mamadu Baio (dia 29)

11 de julho de  2013 > Guiné 63/74 - P11826: Agenda cultural (278): Estreia hoje, nos cinemas, em Lisboa (Nimas) e Porto (Medeia Cine Estúdio do Teatro Campo Alegre), o filme "A batalha de Tabatô", de João Viana. Os Super Camarimba, banda afromandinga do nosso amigo Mamadu Baio, atuam hoje no Espaço Nimas, em Lisboa

26 de abril de  2013  > Guiné 63/74 - P11478: (Ex)citações (219): Patrício Ribeiro, "pai dos tugas em Bissau", parte mantenhas com o Mamadu de Tabatô, a sua mulher, alentejana, Sílvia, o cineasta João Viana (, realizador do filme "A batalha de Tabaô"), e a antropóloga Joana Vasconcelos

26 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11475: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (67): Hoje há festa no "sempre em festa" (Ritz Clube, R da Glória, 57, Lisboa), a partir das 23h, com Mamadu Baio / Super Camarinda, de Tabatô...

23 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11449: Agenda cultural (264): Indie Lisboa 2013: A estreia, 4ª feira, na Culturgest, às 21h30, do filme de João Viana, "A batalha de Tabatô". O Jorge Cabral será o representante do nosso blogue, a convite da produtora... E 6ª feira, 26, às 23h00, há festa no Ritz Clube, com os "Super Camarimba" !

1 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11036: Agenda cultural (254): "Tabatô" (curta) e "A Batalha de Tabatô" (longa metragem), dois filmes portugueses, do realizador João Viana, na seleção oficial do Festival de Cinema de Berlim, 7-17 de fevereiro de 2013 (Luís Graça)

23 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10848: Agenda cultural (243): Mamadu Baio, líder da banda de música afromandinga Super Camarimba no Clube B.leza, Lisboa, Cais da Ribeira, a seguir ao Natal, dia 26 de dezembro de 2012

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11705: Notas de leitura (491): Atlas dos Instrumentos Tradicionais da Guiné-Bissau (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Março de 2013:

Queridos amigos,
Mestre Braima Galissá pediu-me colaboração na elaboração de uma brochura sobre o korá. Dentro da bibliografia que pôs à minha disposição, vem este belíssimo atlas, de que eu nunca tinha ouvido falar, é uma preciosidade, estou certo que a sua divulgação junto dos guineenses de Bissau e os que aqui vivem seria um excelente estimulante que levasse à constituição de grupos musicais com base nos instrumentos tradicionais, como o balafon e bombolom.
A Casa da Guiné tem procurado dar o seu contributo, mas falta o dinheiro.
Este livro merecia ser reeditado como instrumento exemplar da multiculturalidade.

Um abraço do
Mário


Atlas dos instrumentos tradicionais da Guiné-Bissau

Beja Santos

Posso estar equivocado, mas este atlas é uma preciosidade, dói saber que está esgotado, devíamos todos dar voltas à cabeça para encontrar processo de o reeditar. Para benefícios dos guineenses, que têm um património musical de grande valor, para benefício nosso, toda aquela música tem uma beleza inexcedível e bem merece ser divulgada. A começar pelo korá, mestre Braima Galissá que bem se esforça, desloca-se a qualquer evento quando é solicitado, é humilde nos seus honorários, move-o o pleno prazer pela cultura mandinga, toca na rádio e na televisão, junta-se a trabalhos discográficos de João Afonso, Amélia Muge, Sara Tavares e muitos outros, tem prazer em tocar em grupo, ainda na Guiné-Bissau, em 1997, fundou o grupo “Be La Nafa”, uma frase em língua mandinga que quer dizer “bem-estar para todos”. Esta designação foi dada pelos habitantes dos bairros de Bissau a Braima Galissá e aos seus músicos, quando animavam casamentos, batizados, cerimónias religiosas e outras.

Mas há mais mundo musical fora do korá. Nesses anos 90, na Guiné, um projeto holandês permitiu um levantamento à música e aos instrumentos musicais. Depois editou-se em língua portuguesa, terão sido umas centenas de exemplares, perdeu-se o rasto a um documento precioso. Foi exatamente o Braima Galissá [na foto em baixo]quem me emprestou este atlas que, estou em crer, não tem antecessores nem sucessores. O coordenador do projeto, João Cornélio Gomes Correia, escreveu na introdução acerca do papel da música nas culturas africanas e quais as especificidades da música guineense: “É popular, está desprovida de cânones explícitos. Pertence a toda a comunidade, que é o garante da sua perenidade. As músicas são funcionais, não têm qualquer utilização fora do seu contexto sociocultural. Não sendo objeto de especulações abstratas por parte de quem a pratica, a teoria que lhe é subjacente está totalmente implícita na diversidade dos grupos étnicos”. E mais adiante, justificando a razão essencial do atlas: “Os músicos e artistas continuam sem conceber a profundeza e a riqueza dos cânticos populares. Partindo dessa realidade, somos de opinião que o desenvolvimento da música guineense deve passar necessariamente por um estudo e reflexão por parte dos músicos e artistas. A transformação e a evolução da nossa música não devem obedecer exclusivamente a padrões musicais ocidentais (adoção da escala musical, arranjos harmoniosos, etc.) na medida em que a aplicação mecânica desses padrões irá destruir, em muitos casos, a sua originalidade e riqueza. Neste atlas, os instrumentos foram colocados segundo a organologia e está organizado de forma que, a cada instrumento corresponde um mapa mostrando as regiões do país e o nome por que é conhecido”. É um trabalho pioneiro, havia o propósito de criar um banco de dados que seriam postos à disposição dos estudiosos da música e dos instrumentos tradicionais da Guiné-Bissau.

O primeiro agrupamento é dos instrumentos pertencentes à família dos membranofones, isto é, os tambores. Neste grupo foram encontrados os seguintes instrumentos: dundumba, feito de um tronco de árvores cavado com uma pele de cabra, é um tambor de forma cónica, batido com a mão e com um pau reto; findon, tem forma hemisférica alongada com uma pele de vaca numa extremidade e na outra está aberto; ondam, é um tambor de forma cónica com uma pele afixada com cavilhas. O seu tamanho é de cerca de 1,20 m, é batido com as duas mãos; Tabulé, talvez o mais divulgado dos tambores, tem forma hemisférica com uma pele de vaca, é tocado nas mesquitas para chamar os fiéis, tem um importante papel no Ramadão, é um meio de comunicação e é também utilizado para marcar um ritmo compassado à leitura do Corão; Tantam, é um conjunto de três tambores, é tocado pelos “djidius” (músicos) em todas as festas populares e para animar as sessões de luta tradicional; djimbé, tem também forma cónica, é quase sempre tocado com a flauta e o lálá; dondom, tem forma forma de ampulheta com duas peles fixadas por uma única corda que as entrelaça, acompanha o canto e a dança; sicó, é uma pequena caixa quadrangular de madeira cuja face superior é revista de pele de cabra fixada por pregos.

Passando para a família dos instrumentos cordofones, o realce é dado ao korá, simultaneamente uma harpa e um alaúde, toca-se nos eventos mais importantes e os mandingas consideram-no um instrumento sagrado; quissinta, a cabaça é pequena com a parte de cima forrada de pele de cabra ou vaca, é aparentado com o korá; Tonkoron, dispõe de 4 a 12 cordas, é um instrumento musical que pode aparecer em todas as manifestações culturais, acompanha o canto e a dança; bolombato, a cabaça é inteira, com forma de circunferência ou globo, toca-se em cerimónias do régulo e na luta tradicional, aparece associado ao korá, ao balafon, nhanheiros e outros; nanheiro, dispõe de uma única corda feita de couro de cauda de cavalo, a cabaça é pequena e coberta com couro de crocodilo, o tocador pode tocar e cantar ao mesmo tempo.

Seguem-se os instrumentos que pertencem à família dos aerofones, é o caso da flauta, do chifre, do calitó. A flauta é feita com cana de bambu, o chifre é feito com corno de gazela, mas também de vaca e mais raramente de antílope, funciona mais como trompa; o calitó é um tubo transversal, feito com caule de milho. No que toca aos instrumentos da família dos idiofones, temos os cocos de mangos, o balé, o conhecidíssimo balafon e o não menos conhecidíssimo bombolom, mas há também o chocalho, o reque-reque, o ferro, a campainha, o chocalho de pulso, o lálá, as palmas, a tina (tambor de água), a cabaça, a kunna, o taque e o neo.

Certamente que todos estão lembrados do balafon, é um xilofone, ou seja, um teclado de lâminas longiformes, em madeira, fixadas sobre um quadro que é percutido com duas baquetas. O balafon é tradicionalmente tocado por um grupo de pessoas que possuem um estatuto e um papel particular: os “djidius”, músicos depositários e transmissores do saber, considerados mestres na arte de falar. Quanto ao bombolom, é um tambor feito a partir de um tronco de árvore (bissilão) cavado de forma cilíndrica com a base mais larga do que a parte superior. É tradicionalmente tocado em todas as manifestações socioculturais: fanados (iniciações), choros (funerais) e na festa da etnia balanta tem o nome de kussundé; é um meio de comunicação pelo qual são enviadas mensagens às pessoas que entendem a sua linguagem; acompanha ritmicamente os dançarinos, no caso da etnia mancanha; tem ainda uma função mágica, sendo utilizado em cerimónias destinadas à comunicação com as divindades. O balé é constituído por lâminas cujo número pode variar entre 17 e 21, as quais são munidas de cabaças, que são grandes; o teclado fica ligeiramente inclinado. As cabeças estão dispostas por baixo das lâminas que são fixas e emparelhadas. É tocada habitualmente nas festas e cerimónias dos balanta-mané.

É um belo livro. É estranho como a comunidade guineense em Portugal está arredia aos seus instrumentos musicais. Impunha-se apoiar uma escola de música para vulgarizar e atrair jovens adeptos para este património de inexcedível valor que as gerações na diáspora podem vir a esquecer.

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Nota do editor

Último poste da série de 11 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11693: Notas de leitura (490): (Mário Beja Santos) República e Colonialismo na África Portuguesa, coordenação de Fernando Tavares Pimenta (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 14 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11251: Antropologia (22): O corá: Elementos essenciais para a sua compreensão (Braima Galissá / Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Março de 2012:

Queridos amigos,
O Braima Galissá pediu-me para que este trabalhinho para o qual ele exigiu a minha companhia fosse publicado no blogue.
Trata-se do seu cartão de visita, é um manifesto do seu orgulho pela arte que ele serve desde criança. Nem ele nem eu entendemos como é que a comunidade guineense em Portugal faz tão pouco uso deste glorioso património, os meninos bem podiam, desde tenra idade, conviver com o instrumento e ter nele a sua fonte musical predileta.
Também as escolas portuguesas, em parte preocupadas com a multiculturalidade, podiam promover sessões musicais para promover o conhecimento deste genuíno instrumento africano.
Faz todo o sentido qualquer dia reunirmo-nos para ouvir o Braima falar de como comunica nessas cordas de uma quase harpa-alaúde eventos dos seus antepassados ou feitos do tempo presente.

Um abraço do
Mário




2. Comentário do editor:

Caros amigos

Acabei de publicar este magnífico trabalho sobre o Korá, elaborado por Braima Galissá, que alguns de nós já tiveram o privilégio de ouvir tocar ao vivo. Vejam aqui os seguintes postes:

28 de novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3534: Braima Galissá, grande representante da cultura guineense na diáspora (1): Didjiu e tocador de kora


Por que achamos interessante, enviamos também,  pelo correio interno da Tabanca Grande, o original do texto do Braima Galissá em PDF para os mais curiosos o poderem guardar.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11174: Notas de leitura (460): Texto policopiado e publicado pelo Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa - Ultramar (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Novembro de 2012:

Queridos amigos,
Foi durante a arrumação do meu gabinete na Direção-Geral do Consumidor, a limpar tudo e à beira da aposentação, que encontrei um texto policopiado que foi publicado pelo Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa – Ultramar.
Desconheço inteiramente a proveniência, embora haja aqui qualquer coisa nas meninges que me diz que terei assistido a um concerto onde foram distribuídas várias folhas acerca dos Mandingas, da sua música e lendas associadas às músicas e canções.
Não escondo a minha devoção pelo Korá que tanta companhia me dá enquanto trabalho, há mestres do Mali (de quem, aliás, o meu amigo Braima Galissá se sente devedor) que hoje são tratados como artistas de primeiríssima água, formam-se inclusive duos com violoncelistas, um deles deu um espetáculo na Gulbenkian na temporada de música de 2011.
O nosso blogue tende a ser depositário de relíquias onde os investigadores vêm espreitar, sinto muito orgulho por este contributo.

Um abraço do
Mário


Mandingas – Um pouco de história (1)

Beja Santos

Na Guiné existem dois grandes grupos de povos. Os povos litorálicos e os povos do interior. Os primeiros são animistas e os últimos maometanos. Entre estes podemos falar dos Fulas e dos Mandingas sendo estes últimos muito mais islamizados que os fulas.

Na Guiné a etnia Mandinga é computada entre sessenta mil a setenta mil indivíduos. Nos países vizinhos, tais como República da Guiné, Camarões, Senegal, Mali, Alto Volta, etc., esta etnia chega a atingir no seu total cerca de seis milhões de habitantes. Daqui se infere que só parte muito reduzida, perto de 1%, desta etnia é que habita a Guiné Portuguesa.

As canções que se irão ouvir são da autoria de homens ilustres à nossa província como também de heróis que nasceram dentro da Guiné.

Os clássicos portugueses europeus fazem referência a este povo. Assim, temos Duarte Pacheco Pereiro e outros e até os Lusíadas quando nos fala do país que fornece o ouro.

Na época das navegações todo o ouro em quantidade era da origem do Rio Gâmbia e vendido pelos Mandingas. Mais tarde, todo o comércio da Mina era também efetuado por intermédio deste grupo étnico. Os Mandingas ao contrário da quase maioria dos povos africanos não se constitui em tribo, são uns grandes construtores de um Império, o Império de Ghana, nascido por volta do século IV da era cristã, era formado pelo povo Saracolé, ainda Mandingas misturados.

O Império do Mali, que substitui o Império do Ghana, no século XIII (1220), era já formado só por Mandingas. Aquando da chegada às costas da Guiné dos navegadores portugueses estavam o Império do Mali em plena força e, enquanto os navegadores faziam a sua aparição pela costa, os Mandingas chegam pelo Leste e pelo Gabu, aparecendo também misturados com os Fulas, povos pastores, ao passo que os Mandingas são um povo de agricultores e artistas por excelência.

O rei D. João II mandou vários embaixadores ao Mandimansa (Imperador Mandinga) serviam estes medianeiros entre Fulas e Mandingas que por esta época se guerreavam.

Senhores, durante 7 a 8 séculos, de toda a região da Guiné, só em 1850 é que os Mandingas foram vencidos pelos Fulas, por estas alturas os Fulas de Gabu foram apoiados pelos Futa-Fulas.


Braima Galissá em concerto

Os tocadores

Os tocadores são indivíduos que pertencem a uma casta que unicamente têm por missão serem os historiadores, os genealogistas, enfim, transmitir de geração em geração todo um repositório de literatura oral.

A casta de tocadores é fechada, isto é, passa de pais para filhos e assim sucessivamente. De tal maneira isto é verdadeiro que para qualquer pessoa que esteja a par da vida social e familiar deste povo basta que alguém diga um nome para se saber se ele é da família de músico ou não.

Os franceses chamavam-lhes “griot”. Em crioulo da Guiné são chamados por Djidus. Em Mandinga Djalô (singular) e Djabolo (plural). Os Djidus ou Judeus em português podem identificar-se com os jograis da Idade Média do Cristianismo. O grupo de tocadores que ireis ouvir tem como norma, rigidamente observada, iniciar as suas atuações tocando o Hino Nacional.


Bilhete postal da era colonial, mostra os pais de Braima Galissá

Korá – Nótula descritiva

Na África Negra, os instrumentos de cordas dedilhadas que atraem mais a atenção são a lira, as cítaras e as harpas (as quais têm correspondência na música ocidental), são de preferência as composições de lira, harpa e cítara: a harpa-lira “Korá” da África ocidental, e a harpa-cítara “Muet”, que se encontra sobretudo na África central.

O Korá é um dos mais belos instrumentos de música da África Negra, ao mesmo tempo pela sua forma e pelo seu timbre. Compõe-se essencialmente de uma caixa-de-ressonância, de um braço, de um cavalete de grandes dimensões e 21 cordas.

A caixa-de-ressonância é um semi-cabaço de grande diâmetro, forrada de uma pele. Na parte convexa, pratica uma abertura onde se decora cuidadosamente o contorno. Esta abertura, pela qual “se escapam os sons”, corresponde evidentemente à rosácea de lira do ocidente. Por vezes o resto do hemisfério de ressonância é igualmente decorado, mas isto não é uma regra geral. Existe um longo braço em madeira, cilíndrica (fixada, cravada) nesta caixa. Uma destas extremidades (perto de 4cm acima da caixa) serve de ponto de partida de todas as cordas ao passo que, sobre o braço propriamente dito, diametralmente oposto a esta extremidade, as cordas são fixadas em 21 pontos diferentes, afastando-se progressivamente da caixa sonora. Os pontos de fixação são anéis de coro que podem deslizar sobre o braço, o que permite esticar as cordas à vontade e regular deste modo a afinação do instrumento. Um cavalete de uns alguns 20cm de altura, largura de 3 a 6cm, suporte 10 entalhes (armar a seta no arco) sobre um destes campos, 11 entalhes sobre o outro. Este cavalete forma com o braço os lados rígidos de um triângulo, entre os quais são fixadas as cordas. É esta a caraterística, essencialmente, que aparenta este instrumento com uma harpa. Mas, ao mesmo tempo, o Korá pode ser considerado como uma lira, pois que possui um braço, o que é próprio das liras.

É, pois, justo, tendo em conta estas notas, chamar o instrumento por harpa-lira. Trata-se, com efeito, de uma harpa dupla, o cavalete dividindo as cordas em duas (arrumações fileiras), uma de dez, a outra de onze. Para completar, os músicos tem por hábito fixar, no alto do cavalete, uma placa de metal de ângulos arredondados, cujo contorno tem fixados pequenos anéis destinados a fazer ouvir ao menor movimento. Encontramos aqui a procura dos sons impuros.
As notas de Korá são da mais grave à mais aguda:
fá-dó-ré-mi-fá-sol-si-ré-fá-lá-dó-mi (para a mão esquerda)
fá-lá-dá-mi-sol-si-ré-fá-sol-lá (para a mão direita).

Contudo, apesar do vigor técnico destes sons, será fácil constatar que, na prática, cada nota é afetada de um como a mais ou menos, o que faz com que os europeus digam que o instrumento está mal afinado. Precisamos igualmente que a afinação precedente é a do Korá do Senegal, tal como a Escola de Artes de Dakar a adotou. A afinação do Korá no Mali, assim como no país de origem deste instrumento, a Guiné, não é forçosamente a mesma, e faz frequentemente ainda em maior número o fi da gama de Bach.

Encontra.se assim, na Guiné, uma Korá de 19 cordas, chamado “Seron”. Este parece-se em todos os pontos com o Korá e toca-se praticamente como ela. Existem excelentes gravações de música de Seron, notavelmente solos tocados por um autêntico “griot” guineense da região de Kankan, que põe em relevo todos os recursos do instrumento, com uma música unicamente instrumental de muito boa qualidade.

(Continua)
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 25 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11151: Notas de leitura (459): "Olhares Sobre Guiné e Cabo Verde", organização de Manuel Barão da Cunha e José Castanho (3) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6720: Álbum fotográfico de João Graça (4): Uma noite memorável na terra de Kimi Djabaté, a tabanca jacanca de Tabatô


















Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Tabatô > 15/16 de Dezembro de 2009 > Músicos, homens e mulheres, da etnia minoritária jacanca (leia-se, djacanca), da famíla de Kimi Djabaté (*), tocando os seus instrumentos (balafón, kora...), experimentando os instrumentos (violino) do outro, mostrando  a sua música, oferecendo a sua hospitalidade... Uma noite memorável que emocionou o João Graça (**), médico e músico, em viagem  pelo Leste (Bambadina, Bafatá, Contuboel, Gabu...). 

O João ficou, nessa noite, na casa dos Super Camarimba,  o conhecido grupo de música afromandinga da aldeia de Tabatô, liderado por Mamadu Baio. No seu bloco de notas, o João registou (e a foto documenta...) que na casa havia uma pele de cascavel [?], de mais ou menos 7 metros, morta um mês antes. O João irá encontrar (e tocar com) os Super Camarimba, em Bissau, dois dias depois (haveremos também de publicar as fotos desse encontro)... Eles tinham acabado de participar num festival de música... 

Esperemos que o João arranje tempo para publicar aqui as suas prometidas notas de viagem, e transmitir-nos as emoções que sentiu ao ver reunir-se à sua volta 20 músicos que tocaram e cantaram, para ele,  nessa noite... Ele retribuiu essa magnífica hospitalidade tocando também, no seu violino, música do seu reportório "world music"... 

"Eles agradeceram que um músico europeu tenha vindo a Tabatô", escreveu o João no seu bloco de notas.
De facto, "o momento da viagem [à região de Bafatá] foi a recepção em Tabatô. Inicialmente o Homem Grande (o tio do Kimi Djabaté) estava a ver TV, mas o Demba [, primo do Mamadu Baio e do Kimi,]  lá o convenceu a mostrar o estaminé, à entrada da sua casa.  Era preciso meter gasolina no gerador, mais ou menos 1000 francos (cerca de 1,5 €) para amplificar as vozes. Chegaram os balafons, o kora, os djambés,  o coro feminino"...

Na sua biografia oficiosa, na sua página pessoal, em My Space / Kimi Djabaté, diz-se que Tabatô foi uma prenda do poder reinante na região, há muitos, muitos anos atrás,  aos seus antepassados, músicos ambulantes,  que vieram do Mali...e que encantaram os seus hóspedes com a sua música... Mais obscura parece ser a história da aldeia durante o período colonial... Kimi nasceu já depois da independência, em 1975, e como muitos outros meninos africanos (e portugueses...)  conheceu a dura experiência de ter um "pai e patrão"...

Kimi Djabaté, o filho mais ilustre de Tabató, viveu aqui até aos 21 anos. Na última foto, aqui publicada (a contar de cima para baixo), vê-se o chefe da aldeia, que é tio do Kimi...

(... )Kimi Djabaté was raised in Tabato, Guinea-Bissau, a village known for its griots, hereditary singer-poets whose songs of praise and tales of history and legends play an essential role in Africa's musical life.

Centuries ago, Djabaté's ancestors, a wandering troupe of musicians from Mali, traveled to the region and the king of Guinea so loved their songs he invited them to stay and offered them the territory of Tabato.

Ever since, the area has been a recognized center for music, dance, handcrafts and other creative arts. Djabaté was born into a poor but musically accomplished family in Tabato on January 20, 1975.

His parents, two brothers and his sister were all professional musicians. Recognized as a prodigy, Djabaté began playing the balafón, the African xylophone, when he was just three years old and soon after learned to play many other traditional instruments. As a pre-teen he was sent to the neighboring village of Sonako to study the kora, which provided a foundation for subsequent accomplishments as a guitarist.

As his musicianship developed, Djabaté also mastered a wide variety of traditional drums and other percussion instruments. Music was not a past time or a hobby for the young Djabaté, however, and from a very young age he was obliged to contribute to the family's income by performing at weddings and baptism ceremonies.

Djabaté's early talents proved both a gift and a burden, as his family often forced him to sing and dance against his will, and he had little time to partake in the carefree fun and games of other children his age.

Djabaté's parents as well as his uncle, provided the young phenom with excellent training in traditional Mandingo music, but Djabaté was also interested in popular African genres such as the local dance music style gumbé, Nigerian Afrobeat, Cape Verdean morna, not to mention western jazz and blues.

In 1994, Djabaté toured Europe as a member of the national music and dance ensemble of Guinea-Bissau, and he decided to settle in Lisbon, Portugal. Djabaté's move to Europe proved to be one of the most difficult experiences of his life, and he faced many personal challenges adapting to a different culture and society. (...)



O cantor, guitarrista e exímio tocador de balafón [xilofone africano), vive em Portugal desde 1994. Próximos concertos do Kimi Djabaté (façam o favor de divulgar):

16 de Julho de 2010, 21h00 > Tom de Festa, ACERT, Tondela
30 de Jullho de 2010, 18h00 > Sines - Festival de Músicas do Mundo, Castelo de Sines, Sines
5 de Agosto de 2010, 21h30 > Festival Sons do Atlântico, Lagoa, Algarve
4 de Setembro de 2010, 21h30 > Festa do Avante, Seixal

Fonte: http://www.myspace.com/kimidjabate

Comprem o último álbum dele, saído em Julho de 2009, Karam (Educação, em mandinga), sob a prestigiada etiqueta norte-americana Cumbancha. É obrigatório comprar e ouvir muitas vezes... Um cheirinho (da sua música e da nossa querida Guiné...) pode ser sentido aqui:


Um dos músicos que toca com ele, é o Braima Galissá, o mestre do kora, já diversas vezes referido no nosso blogue. São dois grandes nomes da música e da cultura da Guiné-Bissau de hoje. (LG)

______________

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5591: Memória dos lugares (63): O Xime, o Alferes Capelão Puim, os mandingas e o meu tio Mancaman (J. C. Mussá Biai)


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Tabatô > 15 de Dezembro de 2009 > O médico e músico João Graça entre os mandingas... Tabatô, a mítica meca da música mandinga, terra natal do grande músico guineense Kimi Djabaté, guitarrista, percussionista e tocador de balafón, que vive hoje em Lisboa (tal como outro grande músico, também mandinga, natural do Bagu, o nosso já conhecido Braima Galisssá).

Tenho dúvidas sobre a actual localização de Tabatô: o João diz-me que fica a 13 km, depois de Bafatá, na estrada para o Gabu. Eu localizeu, na carta 1/50.000 de Bafatá,  uma tabanca, com esse nome, no regulado de Cossé, a sudoeste de Bafatá, portanto em sentido oposto ao Gabu... Será a mesma tabanca, transferida, com a guerra colonial, por razões de segurança ?... Se alguém puder que nos esclareça...

Hoje, Tabatô é um local de visita obrigatória para os amantes da música e da cultura mandingas... O João passou lá uma noite inesquecível com a grande família, de músicos, do Kimi Djabaté... Teve o privilégio de ouvir 20 músicos (kora, balafon....) só para ele e de tocar com eles, o seu violino (o João integra a banda de música klezmer Melech Mechaya) ... Espero que ele em breve nos mande o seu "diário de bordo" para publicação, total ou parcial, no nosso blogue (LG)...

Foto: © João Graça (2009). Direitos reservados

1. Do nosso amigo José Carlos Mussá Biai, o "menino do Xime", do meu tempo (tinha seis anos, quando lá aportei pela primeira vez, no dia 2 de Junho de 1969) (*)...


Assunto - Memórias do Alferes Capelão Arsénio Puim

Caro Luís

Viva!

Acabo de ler as memórias do Alferes Capelão Arsénio Puim (**), que me emocionaram bastantante. Estou em crer que já me cruzei com ele a pesar de nenhum de nós recordar, pois eu era um miúdo. Mas lembro-me de ver um Alferes Capelão com o meu pai, que era chefe religioso, na varanda.

Também me lembro de ter ido uma vez a capela, depois das aulas. Mas nunca lá voltei porque o meu pai não concordava, pois era uma religião que não professávamos.

Mas falando do Mancaman, ele era irmão do meu pai. Faleceu há mais de uma década em Xime e deixou quatro filhos.

Conforme disse numa das minhas mensagens, depois da guerra, todos que de alguma maneira fizeram parte do exécito português, tiveram as suas chatices e o tio Mancaman não foi exepção. Lembro-me do filho mais velho dele, o Malam Biai, ter ido juntar-se ao PAIGC, no auge da confusão de caça a(o)s bruxas(os), talvez para de alguma forma servir de protecção ao pai.

Mas, enfim, a vida jamais voltou ser a mesma.

Um abraço,

José C. Mussá Biai
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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de postes, da I Série do Blogue:


20 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXII: Estou emocionado (J.C. Mussá Biai)

(...) As fotos falam por si. Os locais por onde brinquei, onde dei alguns mergulhos... Melhor, ainda as pessoas que me viram nascer, que cuidaram de mim e com quem partilhei refeições, angústias e alegrias. Estou a referir-me aos meus irmaõs mais velhos (sim, meus irmãos de sangue) e de um primo-irmão dos quais lhe falei. (...)

9 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XV: No Xime também havia crianças felizes (1) (Luís Graça)

(...) "Dr. Luís Graça:


"Descupe-me roubar o seu precioso tempo, mas tomei a liberdade de lhe enviar este e-mail, porque estive a ler o seu blogue e vi que você cumpriu o serviço militar na minha terra, Xime, e logo nas companhias que marcaram a minha infância, CART 2715 e CART 3494. Isso porque há alguém que me ficou na memória para sempre por ter sido meu professor na única escola que lá havia, a PEM (Posto Escolar Militar) nº 14, e de nos ter feito crianças felizes. Essa pessoa é de Viana de Castelo, era furriel [miliciano]enfermeiro, de nome José Luís Carvalhido da Ponte. (...)

[Resposta de L.G.]

(...) "José Carlos: (...) Deixe-me confessar-lhe que [a sua mensagem] me comoveu mas ao mesmo tempo também me deixou uma pontinha de orgulho. Você não é dos guinéus que diabolizam os tugas (o termo depreciativo que, como deve estar lembrado, era utilizado pelos guineenses, em geral, para se referirem aos portugueses que ocupavam a vossa terra). Penso que esse tempo, em que as coisas eram vistas a branco e preto, já passou. O tempo dos ressentimentos já passou. A histórias e as estórias são sempre muito mais compridas e complicadas do que o tempo que a gente tem para as escrever e contar… Além disso, o meu país e o meu povo estão reconciliados um com o outro, e também com a Guiné e com os guineenses, os quais de resto continuam a ter um lugar especial no nosso coração de tugas.



"Dito isto, eu fico muito orgulhoso por saber que você era um menino do Xime, no meu tempo de furriel miliciano da CCAÇ 12 (Maio de 1969-Março de 1971), e que foi um outro furriel miliciano, enfermeiro, José Luís Carcalhido da Ponte, tuga, minhoto de Viana do Castelo, que o ajudou a aprender a língua de Camões, e que fez de si uma criança feliz. De si e de outras crianças do Xime. A sua mensagem revela uma grande sensibilidade humana, além da gratidão por um homem que, nas horas vagas da guerra, ensinava os meninos da Guiné.


"Claro que eu terei tempo e muito gosto em falar consigo, e daí deixar-lhe os meus contactos. O mais simples é indicar-me o seu número de telefone. Procurei contactá-lo rapidamente. E, se mo permitir, vou pôr o seu nome e o seu endereço de e-mail na minha lista de contactos de pessoas que, por uma razão ou outra, estão ligadas ao triângulo Xime-Bambadinca-Xitole no tempo da guerra colonial. Veja a minha página sobre os Subsídios para a História da Gerra Clonial> Guiné.


"Devo esclarecê-lo que eu não pertenci à CART 2715 nem à CART 3494. Sou mais velho do que os elementos destas companhias. Mas metade da minha comissão passei-o em contacto frequente com a CART 2715 que estava sedeada no Xime. Os camaradas da CART 3494 (que chegou ao Xime por volta de Janeiro de 1972) já não os conheci, mas eles continuaram a trabalhar com a CCAÇ 12 (que era formada por praças africanas, oriundas do chão fula, e em especial dos regulados de Xime, Corubal, Badora e Cossé; todos eles eram fulas ou futafulas, à excepção de um mancanhe, que era natural de Bissau; havia ainda dois mandingas). (...)


"Fiquei hoje a saber, pelo endereço de e-mail e por uma pesquisa rápida na Net, que o José Carlos Mussa Biai trabalha no Intituto Geográfico Português e é co-autor de um ou mais trabalhos de investigação na área de engenharia florestal onde se formou, relacionados com o seu país de origem" (...).

10 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XVI: No Xime também havia crianças felizes (2) (Luís Graça)

(...) Acabei de falar com o José Carlos Mussá Biai: nasceu em 1963, no Xime, e era menino no tempo em que por lá passaram a CART 2715 e a CART 3494. Era menino no tempo em que eu estive no Sector L1 da Zona leste, correspondente ao triângulo Xime-Bambadinca-Xitole.


Sei que, até ao fim da guerra, ele, a família e os vizinhos da sua tabanca sofreram muitos ataques. Uma família inteira, perto da sua morança, morreu. A sua infância não foi fácil. A vida também não foi fácil para a população civil, de etnia mandinga, que ficou no Xime.


(...) Em contrapartida, também houve algumas coisas boas. Por exemplo, o furriel miliciano enfermeiro José Carlos José Luís Carcalhido da Ponte, natural de Viana do Castelo, foi alguém especial na sua vida e na vida dos outros meninos do Xime. Foi seu professor primário na única escola que lá havia, a PEM (Posto Escolar Militar) nº 14. O Mussá Biai também teve como professor, depois da CART 3494 ter ido para Mansambo, o furriel Osório, da CCAÇ 12, que dava aulas no Posto Escolar Militar nº 14, juntamente com a esposa.


Em suma, o menino Mussá Biai fez a sua instrução primária debaixo de fogo. Um dos seus irmãos, o Braima, era guia e picador das NT. Tal como o Seco Camarà que morreu ingloriamente na Operação Abencerragem Candente, no dia 26 de Novembro de 1970, perto da Ponta do Inglês, no regulado Xime. O seu corpo foi resgatado por mim e pelos meus homens. Os restos humanos do mandinga Seco Camará, guia e picador das NT, morto à roquetada, foram transportados pelos meus soldados, fulas, para a sua tabanca do Xime. O José Carlos, embora menino, de sete anos, lembra-se perfeitamente deste trágico episódio em que os tugas do Xime tiveram cinco mortos, além do Seco Camará. (...)


O seu pai, um homem grande mandinga do Xime, era o líder religioso da comunidade muçulmana local. A família teve problemas depois da independência devida à colaboração com as NT. Depois dos tugas sairem, o José Carlos foi para Bissau fazer o liceu. Tinham-lhe prometido uma bolsa, se trabalhasse dois anos como professor para as novas autoridades da Guiné-Bissau. Ficou cinco anos como professor, até decidir partir para Lisboa e lutar pela obtenção de uma bolsa de estudo. Conseguiu uma, da Fundação Gulbenkian. Matriculou-se no Instituto Superior de Agronomia. Hoje é formado em engenharia florestal. Trabalha e vive em Portugal. Mas nunca mais voltou a encontrar os seus professores do Xime. E é seu desejo fazê-lo.


Moral da estória: O José Carlos é um exemplo de tenacidade, coragem, determinação e nobreza que honra qualquer ser humano. Que nos honra a nós e ao povo da Guiné-Bissau a ele que pertence. (...)


(`**) Vd. poste de 2 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5578: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69/Mai 71) (7): Mancaman, mandinga, filho do chefe da tabanca do Xime, um homem de paz

domingo, 13 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5460: Agenda cultural (51): Concerto de solidariedade pela banda Bela Nafa, 18 de Dezembro, Instituto Franco-Português (Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos com data de 7 de Dezembro: Malta, Procurou-me Braima Galissá, o exímio tocador de Korá. Ele agora tem uma banda, a Bela Nafa e vão dar um concerto de solidariedade a partir das 20 horas de 18 de Dezembro, no Instituto Franco-Português, na Avenida Luís Bívar, n.º 91, perto do Saldanha. O concerto tem por objectivo a angariação de fundos para a compra de material hospitalar destinado à nova maternidade do Gabú. O ingresso são 10 euros

Lisboa > Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 > Lançamento do livro Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio > Um dos maiores representantes, na diáspora, da cultura guineense actual, o mestre, tocador de Kora e cantor (didjiu) Braima Galissá, mandinga do Gabu. (Recorde-se que o didjiu era, no passado, o tocador e cantor que ia, de tabanca em tabana contando estórias e transmitindo as últimas notícias)…Foram os seus tetravós que inventaram este instrumento único que é o Kora. Na festa do Beja Santos, ele tocou, cantou e encantou. Foto e legenda: © Luís Graça (2008). Direitos reservados. __________ Nota de CV: Vd. último poste de 10 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5441: Agenda cultural (50): Apresentação do livro História de Portugal em Sextilhas, de Manuel Maia, na Tabanca de Matosinhos

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3930: Braima Galissá, grande representante da cultura guineense na diáspora (2): 4ª feira, 25, às 19h, no Institut Franco-Portugais

Lisboa, Museu da Farmácia, 11 de Novembro de 2008. Cerimónia de lançamento do livro Diário da Guiné: 1969-1970: O Tigre Vadio, da autoria do nosso camarada Mário Beja Santos (Lisboa: Círculo de Leitores, e Temas & Debates, 2008, 440 pp.). Sequyència de fotos relativa à actuação do mestre guineense, mandinga do Gabu, a viver em Portugal desde 1998, Braima Galissá, tocador de kora, e cantor (dídjio). (*). Fotos: © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Próximo dia 25 de Fevereiro de 2009, 4ª feira às 19h > Concerto de Braima Galissá no Institut Franco-Portugais / Instituto Franco-Português, sito na Avenida Luís Bívar, 91 / 1050-143 Lisboa. Tel: (+351) 21 311 14 00 Email: infos@ifp-lisboa.com Sítio: http://www.ifp-lisboa.com/ Transmissão em directo na Antena 2.(Sintonizar aqui). Entrada livre. (O Braima Galissá precisa do nosso carinho, do nosso afecto, dos nossos aplausos, da nossa solidariedade). José Braima Galissá, mestre Galissá (e não Galinha, como incrivelmente aparece na notícia inserida no sítio do Institut Franco-Portugais!) é um dos poucos representantes vivos (e especialistas), em Portugal, da Cultura Mandinga, uma das mais pujantes, outrora, da África Ocidental. Filho, neto, bisneto e tetraneto de tocadores de kora, nasceu no Gabu, na Guiné-Bissua, cresceu e vive com um kora, um instrumento inventado no Séc. XIX pelos seus antepassados do Gabu. "Didjiu é o seu apelido de rua, Kora, o seu instrumento de 22 cordas". Fugido da guerra civil, vive em Portugal, desde 1998. Vd. a sua página pessoal > José Galissá O seu grupo musical > Bé La Nafa Uma amostra das suas músicas (ficheiros áudio]: * Naninfa * Socorro da Fragata Portuguesa [Possível referência ao navio escola Sagres, que em 8 de Junho de 1998 resgatou civis portugueses e guineenses, em Bissau, na sequência do golpe de Estado liderado por Ansumane Mané] * Kelema Guiné * Kora1 e Kora2 [Pequenos excertos de Kora ] * Mariama [ José Galissa (Kora) e Mamadu Djebaté (balafon) (**) cantam com crianças do 1º ciclo da Cooperativa de Ensino "A Torre". ] Contactos: Telemóvel: 938 325 723 Morada: Rua Morais Soares, nº 160 3º dt. - 1.100 Lisboa Email: xomarte@netcabo.pt ________ Notas de L.G.: (*) Vd. postes anteriores: 16 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3462: O Tigre Vadio, o novo livro do nosso camarada Beja Santos (9): Palavras de agradecimento do autor (I) 28 de Novembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3534: Braima Galissá, grande representante da cultura guineense na diáspora (1): Didjiu e tocador de kora 3 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3693: Postais Ilustrados (14): Tocador de kora (Beja Santos) (**) O Balafon é uma espécide de xilofone. Sobre o Kora, vd. artigo em inglês na Wikipidea. É pena que não figure - como ele merece - o nome do mestre Galissá entre a lista dos mais de 30 notáveis tocadores de kora, dos EUA ao Senegal, do Mali à Austrália, da França à Gâmbia... Nems equer há uma entrada, em português, sobre este instrumento. O mais internacional destes instrumentistas é o Toumani Diabaté, do Mali (n. 1964), de que saiu recentemente um disco em Portugal.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3693: Postais Ilustrados (14): Tocador de corá (Beja Santos)

Guiné > s/d > Postal ilustrado > Tocador de kora e sua mulher

Lisboa > s/d > O Mário Beja Santos, com a sua mãe, já falecida ((em 1982) e que era de origem angolana.

Fotos: © Beja Santos (2008). Direitos reservados.

1. Mensagem do Beja Santos, de 24 de Novmebro de 2008:

Assunto - O último postal na Guiné para a minha Mãe


A minha irmã ficara com o espólio de postais da nossa Mãe, ela deixou- me em Janeiro de 1982. Agora a Manuela ofereceu-me estas preciosidades que abarcam mais de 100 anos, tenho postais do Real Colégio Militar, a Rainha Dona Amélia quando casou, até me apareceu uma oração ao Sidónio Pais, tenho aqui postais com Luanda a crescer, é comovente ver o orgulho dos meus avós com a sua adorada ficha, a minha Mãe.

Pois no meio destas centenas de imagens surgiu este tocador de corá e mulher, que maravilha no garbo, que gente senhoril ! Escrevi no verso:

« Bissau, 14 de Agosto de 1970. Minha Adorada Mãezinha: Tempos difíceis para escrever. Dia 20, começa a minha longa viagem de regresso. Chorei há dias ao telefone com a voz crescida e fluente do meu adorado sobrinho ( Rodolfo, o filho mais velho da Manuela).Vivo o 'desemprego' com grandes leituras e isolamento. Beijos deste filho que tanto a anseia ver, Mário».

O postal (*) vai ser oferecido ao tocador de corá, Braima Galissá (**).

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Notas de L.G.:

(*) Vd. postes desta série Postais Ilustrados:

4 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1023: Postais Ilustrados (1): Pescadora, de etnia papel (Beja Santos)
7 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1030: Postais Ilustrados (2): Dança nalu, Cacine (Beja Santos)
8 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1031: Postais Ilustrados (3): Tocador fula, Bafatá (Beja Santos)
28 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1125: Postais Ilustrados (4): Rapaz balanta, cesteiro (Beja Santos)
2 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1140: Postais Ilustrados (5): Bajuda manjaca, Ilha de Pecixe (Beja Santos)
7 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1157: Postais Ilustrados (6): Rapariga Papel, tatuada, do Biombo (Beja Santos)
10 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1164: Postais Ilustrados (7): Campune tatuada, Bijagó (Zé Teixeira)
7 de Outubro de 2006 >Guiné 63/74 - P1184: Postais Ilustrados ( 8): Allahu Akbar, Deus é Grande (Beja Santos)
3 de de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1242: Postais Ilustrados (9): Dança do compó, Bissau (Beja Santos)
10 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1264: Postais Ilustrados (10): Bissau, melhor do que diz o fotógrafo (Beja Santos / Mário Dias)
13 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1273: Postais Ilustrados (11): Um típico e colorido mercado onde as mulheres é quem mais ordenam (Beja Santos)
23 de Novembro de 2006 >Guiné 63/74 - P1310: Postais Ilustrados (12): Ponte-Cais de Bissau e estátua de Diogo Gomes (Tino Neves / Carlos Fortunato)
8 de Dezembro de 2006 >Guiné 63/74 - P1351: Postais Ilustrados (13): A catedral católica de Bissau (Beja Santos / Luís Graça / Mário Dias)

(**) Vd. poste de 28 de Novembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3534: Braima Galissá, grande representante da cultura guineense na diáspora (1): Didjiu e tocador de kora

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3534: Braima Galissá, grande representante da cultura guineense na diáspora (1): Djidiu e tocador de corá

Lisboa, Museu da Farmácia, 11 de Novembro de 2008. Cerimónia de lançamento do livro Diário da Guiné: 1969-1970: O Tigre Vadio, da autoria do nosso camarada Mário Beja Santos (Lisboa: Círculo de Leitores, e Temas & Debates, 2008, 440 pp.).

Excerto da actuação do mestre Braima Galissá, guineense, mandinga do Gabu, nascido em 1964, a viver em Portugal desde 1998, tocador de kora, e cantor (djidiu). Reprodução autorizada pelo mestre a quem dirigi um convite para integrar a nossa Tabanca Grande. (LG)

Vídeo: © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo (3' 50'') alojado em: You Tube >Nhabijoes.

(No caso de dificuldade de visionamento do vídeo, clicar em watch in high quality).

Filho, neto, bisneto e tetraneto de tocadores de kora, um instrumento inventado no Gabu pelo seu tetravô, o mestre Braima Galissá vive na diáspora, em Portugal, onde tem sido, nos últimos dez anos, um generoso, competente e empenhado defensor da cultura musical mandinga.

Da sua página, oficiosa, na Net, consta que o José Braima Galissá foi compositor do Ballet Nacional da Guiné-Bissau, responsável instrumental do mini Ballet Nacional e professor de Kora na Escola Nacional de Música José Carlos Schwarz durante 11 anos. Já participou em actividades culturais em vários países. Fugido da guerra civil de 1998, está em Portugal desde então, executando vários projectos culturais.

Braima Galissá nasceu em 1964, no Gabú, no Leste da Guiné-Bissau, capital do antigo império do Gabú que por sua vez sucedeu ao antigo império do Mali.

Começou a aprender o Kora com 5 anos de idade pela mão do seu pai, também ele músico, tocador de kora e didjiu, uma profissão que é hereditária, de acordo com a tradição mandinga. Em meados de 1979 iniciou a sua carreira, primeiramente cm os pioneiros Abel Djassi. Com eles teve acesso à escola e com eles participou em acampamentos da juventude na Guiné e no estrangeiro, tendo então portunidade de conhecer outras culturas. Deixou a casa do pai, e por isso foi para Bissau onde se dedicou ao estudo da música. "O Kora envolve misticismo e simbologia. É o instrumento que o acompanha nos espectáculos e é o suporte principal do género musical que interpreta. Desde que começou a actuar em público houve um momento que o marcou, que foi quando com mais 11 crianças estava a representar a Guiné-Bissau num acampamento em Cabo-Verde em 1979. As pessoas gostaram porque o kora nunca tinha chegado ao arquipélago. As pessoas seguiam-no por todo o lado, faziam-no perguntas sobre o instrumento, queriam tocá-lo, queriam saber tudo. Nessa altura apercebeu-se do 'peso' do Kora. A partir daquele momento em Cabo-verde decidiu que devia continuar nessa vida. Nos anos seguintes participou em vários eventos." (Continua) Contactos do artista:

(i) Telefone: 938325723 / 964660125 (ii) Email: braimagalissa@gmail.com (iii) Endereço postal: José Braima Galissá Rua Cidade de Manchester nº6 - cv 1170-100 Lisboa

domingo, 16 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3462: O Tigre Vadio, o novo livro do nosso camarada Beja Santos (9): Palavras de agradecimento do autor (I)

Lisboa, Museu da Farmácia, 11 de Novembro de 2008. Cerimónia de lançamento do livro Diário da Guiné: 1969-1970: O Tigre Vadio, da autoria do nosso camarada Mário Beja Santos (Lisboa: Círculo de Leitores, e Temas & Debates, 2008, 440 pp.). O mestre guineense, mandinga do Gabu, a viver em Portugal desde 1998, Braima Galissá, tocador de kora, e cantor (dídjio), executa o nosso Hino Nacional. Uma surpresa do Braima, um momento muito bonito, que emocionou o Mário, com toda a assistência de pé (*).

Vídeo: © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo (1' 27') alojado em: You Tube >Nhabijoes.

1. Mensagem de 13 do corrente, do Beja Santos:


Assunto - O meu profundo agradecimento

Queridos amigos, queridos camaradas, queridos tertulianos,

Estou profundamente sensibilizado por tudo o que se disse e escreveu em torno do lançamento de O Tigre Vadio. Foi muito lindo o que se viu no Museu da Farmácia, com a constituição de núcleos museológicos que tem a ver com a guerra que vivemos:

(i) o fardamento de uma enfermeira pára-quedista,
(ii) os medicamentos que usávamos,
(iii) os estojos de primeiros socorros que existiam nas aeronaves que vinham buscar os nossos feridos,
(iv) um aerograma onde se fala de medicamentos.

Tocou-me a sugestão do Braima Galissá em interpretar o hino nacional com o seu prodigioso korá.

Tocou-me estar rodeado de amigos tão grandes, alguns que vieram de tão longe e que me dirigiram expressões tão calorosas.

O Luís Graça foi, é e será a locomotiva deste entreposto de afectos, recebi o apoio incomparável do Humberto Reis, ele foi o primeiro dos fotógrafos, ainda estou para saber como é que ele desencadeou pressão sobre as minhas memórias mais subterrâneas.

Em suma, e fugindo às lamechices, é um privilégio poder contar com a vossa estima e tão elevado apreço.

Como está dito, não só fico a intervir no blogue como já estou a escrever mergulhado na Guiné, estou agora precisamente em Teixeira Pinto em 1954 e a recolher impressões dolorosas da mulher do administrador Artur Meireles (ainda hoje o maior estudioso da cultura Manjaca) que viu o exercício do colonialismo nos seus aspectos mais brutais.

Darei ao blogue, entretanto, impressões sobre as minhas leituras em terras da Guiné.

Um outro projecto que tenho em mente é registar as minhas recordações de Mafra até à reintegração após o regresso da Guiné e a constante presença dos militares e civis com quem convivi. Estou a tentar clarificar a viagem desse branco que se africanizou para toda a vida...

Por muito que vos surpreenda, não registei tudo nos dois livros do que ficou nos meus apontamentos. Recentemente, entreguei alguns registos na Sociedade de Geografia de Lisboa e, imprevistamente, apareceu-me uma folha solta que tem a data de 30 de Julho de 1970 e onde escrevi:

“Logo que possa, tenho que conhecer mais sobre a obra de Sarmento Rodrigues, governador da Guiné entre 1945 e 1948, mais tarde ministro das Colónias, certamente que o comandante Teixeira da Mota me vai ajudar, foi seu ajudante de campo. Um homem que se despede dos guineenses dizendo “queria dizer adeus a todos, um por um, como a um e um tenho falado e conhecido”, que escreve “a Guiné nada me fica a dever. Eu é que agradeço o ter me dado a ocasião de a servir sem reservas,” é um homem que amou intensamente o que fez, é um homem incomum.”

É uma nota solta, a que não soube dar destino, agora já não pode caber no diário.

Acima de tudo, o que pretendo dizer-vos agora é que foi uma honra ter escrito o relato da minha comissão tendo como primeiros leitores toda a malta do blogue e assegurar-vos que aqui vou continuar.

Aceitem um grande abraço por tudo o que me disseram e como me consideram,

Mário Beja Santos
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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 13 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3449: O Tigre Vadio, o novo livro do nosso camarada Beja Santos (8): Apresentação do Maj Gen Lemos Pires (I)

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3441: O Tigre Vadio, o novo livro do nosso camarada Beja Santos (6): Notícia do lançamento (Lusa) + Fotos (Luís Graça)


Lisboa > Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 > Cerimónia do lançamento do livro Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio (*) > No anfiteatro do museu > Da esquerda para a direita, o jornalista e escritor António Valdemar, a Dra. Guilhermina Gomes, representante da Editora (Círculo de Leitores e Temas & Debates), o Gen Ref Mário Lemos Pires, e o autor, o nosso querido amigo e camarada Mário Beja Santos. O embaixador da Guiné-Bissau chegou ligeiramente atrasado, tendo-se depois sentado à mesa e feito uma pequena alocução no fim.



Lisboa > Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 > Lançamento do livro Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio > O Gen Lemos Pires, que esteve na Guiné, no período de 1969/70, como chefe da Rep Apsico, foi o principal apresentador do livro, tendo-se debruçado sobre os aspectos militares, humanos e operacionais, da actuação do autor, que alferes miliciano, comandante do Pel Caç Nat 52, e de mais dois pelotões de milícias, de Finete e de Missirá (cerca de 100 homens em armas). A seu lado, o embaixador em Lisboa da República da Guiné-Bissau, Constantino Lopes, um antigo Combatente da Liberdade da Pátria, que esteve preso no Tarrafal, de 1962 a 1969, e que é hoje o único herdeiro e proprietário da Ponta do Inglês (exploração agrícola, de 50 hectares; o seu pai, Luís Lopes, tinha por alcunha o Inglês).



Lisboa > Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 > Lançamento do livro Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio > António Valdemar, amigo pessoal do autor, apresentou a obra, valorizando em especial os seus aspectos literários. Disse publicamente que, como homem de esquerda, era contra a guerra, em geral, e contra a guerra colonial, em particular. A seu lado, a Dra. Guilhermina Gomes, representante dos editores (Círculo de Leitores e Temas & Debates), que abriu a cerimónia, com um especial agradecimento à Associação Nacional de Farmácias, pela disponibilização do magnífico espaço que é o Museu da Farmácia, sito num palacete da Rua Marechal Saldanha, nº 1, ao Bairro Alto.


Lisboa > Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 > Lançamento do livro Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio > Emocionado, Beja Santos agradeceu a presença de tantos amigos e camaradas que ali se deslocaram, e fez questão de sublinhar o significado da presença do embaixador guineense em Portugal, Constantino Lopes. Este, por outro lado, reafirmou o desejo profundo dos guineenses de viverem em paz e de ganharem o direito a completar a sua luta de libertação.



Lisboa > Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 > Lançamento do livro Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio > Sessão de autógrafos: em primeiro plano, o escritor e os membros dos da nossa Tabanca Grande, Carlos Silva, que mora em Massamá-Queluz, e Carlos Marques dos Santos, que veio de Coimbra, com a sua esposa, a nossa amiga Teresa.



Lisboa > Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 > Lançamento do livro Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio > O Benjamim Durães, residente em Setúbal, que foi Fur Mil da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).



Lisboa > Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 > Lançamento do livro Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio > O Raul Albino e o nosso (elegantíssimo) co-editor Virgínio Briote. O Raul foi Alf Mil da CCAÇ 2402, unidade a que pertencia originalmente o Beja Santos e o Medeiros Ferreira (este não compareceu ao embarque para a Guiné, tendo pedido asilo político na Suiça; o Beja Santos, por sua vez, foi transferido para o Pel Caç Nat 52). Contou-me o Raul que há dias encontrou na rua o seu antigo camarada Medeiros Ferreira, hoje uma conhecida figura pública, mas que não teve lata de lhe falar... "Foi pena" - comentei eu. "Ele deveria de gostar de saber tuas notícias tuas".



Lisboa > Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 > Lançamento do livro Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio > Um dos maiores representantes, na diáspora, da cultura guineense actual, o mestre, tocador de Kora e cantor (didjiu) Braima Galissá, mandinga do Gabu. (Recorde-se que o didjiu era, no passado, o tocador e cantor que ia, de tabanca em tabana contando estórias e transmitindo as últimas notícias)…Foram os seus tetravós que inventaram este instrumento único que é o Kora. Na festa do Beja Santos, ele tocou, cantou e encantou. Temos registos em vídeo da sua audição, e que ele nos autorizou a reproduzir no nosso blogue. Será também futuramente um dos membros da nossa Tabanca Grande.



Lisboa > Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 > Lançamento do livro Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio > No hall do museu da Associação Nacional de Farmácias(riquimamentre revestido a tapeçarias de Portalegre, assinadas por conhecidos artistas plásticos portugueses como o Manuel Cargaleiro ou o Cruzeiro Seixas), três camaradas nossos fazem horas: Carlos Marques dos Santos (de costas), o António Santos, à sua direita, e o Belarmino Sardinha.


Lisboa > Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 > Lançamento do livro Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio > Representantes femininas da FAP - Força Aérea Portuguesa, que estiveram no teatro de operações durante da guerra do ultramar / guerra colonial. Este grupo de camaradas nossas fez doações ao Museu, de grande valor museológico, documental e simbólico. Tal como o Beja Santos que ofereceu um aerograma, enviado à noiva, Cristina Allen, onde são referidos alguns dos medicamentos que lhe foram prescritos, por ocasião de um internamento no Hospital Militar de Bissau.

Lisboa > Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 > Lançamento do livro Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio > O Carlos Marques dos Santos, ex-Fur Mil da CART 2339 (Mansambo, 1968/70), cumprimentando, a enfermeira pára-quedista, do 1º curso, Zulmira André, que conheceu bem o TO da Guiné.



Lisboa > Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 > Lançamento do livro Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio > Em primeiro plano, o antigo major Cunha Ribeiro, hoje Coronel, rijo nos seus 84 anos... Ei-lo aqui, o nosso querido Major Eléctrico, segundo comandante do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/72), à fala com o nosso camarada J. L. Vacas de Carvalho. Em segundo plano, à esquerda, o Cor Art Ref Coutinho e Lima, antigo comandante do COP 5 (Guileje), e membro da nossa tertúlia, que vai também fazer o lançamento do seu já anunciado livro de memórias, em 13 de Dezembro próximo. A seu lado, um Alferes Miliciano que também passou por Bambadinca em 1970 e que foi depois transferido para o Batalhão de Comandos Africanos. (Desculpa, camarada, mas não registei o teu nome).



Lisboa > Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 > Lançamento do livro Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio > O primeiro comandante do Pel Caç Nat 52 (Porto Gole e Enxalé, 1966/68), Henrique Matos, com o Queta Baldé. Depois desta cerimónia, estive o grato prazer de ir à Cervejaria Trindade jantar com o Henrique e mais um grupo de camaradas: o Humberto Reis, o Carlos Silva, o Jorge Cabral, o João Reis (Pel Caç Nat 52) e o José António Viegas (Pel Caç Nat 54). Estes dois últimos, mais o Henrique, vieram de propósito do Algarve para assistir à cerimónia. Vão também entrar na nossa Tabanca Grande.



Lisboa > Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 > Lançamento do livro Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio > O Queta Baldé, a "memória de elefante" do Beja Santos, e o Cherno Suane, guarda-costas do autor quando comandante do Pel Caç Nat 52 (Missirá e Bambadinca, 1968/70).

Fotos e legendas: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.



1. Com a devida vénia, reproduzimos aqui um excerto da notícia da Lusa, publicada no Marão on line, Diário regional de Trás-Os-Montes, Douro, Tâmega e Sousa, onde o nosso camarada Mário é colaborador regular (igualmente reproduzida no sítio PNETliteratura, do Grupo PortugalNet):

Marão 'On Line'> 12 de Novembro de 2008 > GUERRA COLONIAL: Lançado segundo volume de memórias de Beja Santos sobre a guerra na Guiné-Bissau:


Mário Beja Santos, ex-combatente no Ultramar português, lançou terça-feira, em Lisboa, o segundo volume de memórias da guerra, no qual conta episódios que marcaram a sua passagem pela Guiné-Bissau.

Diário da Guiné - O Tigre Vadio é um testemunho e não me refugiei num heroísmo que nunca tive”, disse o autor do livro que, emocionado, recordou as histórias de pessoas que lhe morreram nos braços enquanto estava na guerra.

Beja Santos é um reconhecido especialista em questões de política do consumidor e colaborador do Marão Online e do Repórter do Marão há quase 20 anos, meios onde publica regularmente artigos sobre assuntos de consumo, saúde e cidadania.

Nas palavras do jornalista António Valdemar, que fez a apresentação do livro, a obra de Beja Santos tem “um forte conteúdo humano, narrado com a verdade de quem esteve presente em todos os momentos”.

Neste livro, com 440 páginas, o autor relata acontecimentos da guerra entre 1969 e 1970 e, segundo o prólogo escrito pelo próprio, Tigre Vadio foi, de todas, a operação “mais sangrenta” em que esteve envolvido.

Mário Beja Santos garantiu, na apresentação do livro, que vai continuar a escrever. “A memória está viva e vou procurar ser digno dela, trabalhando-a o melhor possível”, afirmou.

O primeiro volume do Diário da Guiné diz respeito aos anos de 1968 e 1969 - Na Terra dos Soncó. Ambos os volumes foram publicados pelas editoras Círculo de Leitores e Temas e Debates.

Beja Santos, assessor principal da Direcção-Geral do Consumidor, foi autor de programas televisivos, colaborador da rádio e da imprensa e é professor do ensino superior.

O lançamento do livro, a que assistiu o embaixador da Guiné-Bissau em Lisboa, integrou-se na celebração do Dia do Armistício, em que o Museu da Farmácia homenageou o soldado português.

Na homenagem estiveram presentes representantes da Força Aérea Portuguesa, que ofereceram várias farmácias portáteis utilizadas na guerra colonial.

Aproveitando também o 90.º aniversário do Armistício da Grande Guerra Mundial 1914-1918, seis enfermeiras pára-quedistas ofereceram uma farda utilizada quando vinham a Portugal.

Lusa

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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste anterior > 11 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3440: O Tigre Vadio, o novo livro do nosso camarada Beja Santos (5): As primeiras imagens do lançamento (V. Briote)