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sábado, 24 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16876: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (17): Cartão de boas festas do nosso veteraníssimo Alberto Nascimento (ex-sold cond auto, CCAÇ 84, Piche, Buruntuma e Bambadinca, 1961/63)



Cartão de Boas Festas  (*) do nosos veteraníssimo  Alberto Nascimento, ex-Sold Cond Auto da CCAÇ 84,   Piche, Buruntuma e Bambadinca, 1961/63). Recorde-se por one andou o nosso caramara, que tem 25 referências no nosso blogue (**):.

(i)  é uma testemunha privilegiada do início da guerra do setor leste;

(ii)  a CCAÇ 84, três meses depois de aterrar no aeroporto de Bissalanca (, não veio portanto de barco), foi literalmente fragmentada e enviada para os mais diversos pontos do território, tendo o meu pelotão, o 1º,  tido como último destacamento, entre Novembro de 1962 e 7 ou 8 de Abril de 1963, Bambadinca, sob o Comando de Bafatá;

(iii)  o primeiro destacamento, ainda em Julho de 1961, foi para Farim, após os primeiros e ainda pouco violentos ataques a Bigene e Guidaje;

(iv) seguiu-se o destacamento de Nova Lamego (...)  onde o pelotão foi dividido por Buruntuma, Piche e Canquelifá;

(v) à grande maioria dos camaradas dos outros pelotões, o Nascimento  só voltou a a vê-los  nos dias que antecederam o embarque para a Metrópole.
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 22 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16870: "O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017" (16): BOAS FESTAS (Jorge Araújo)

(**) Vd. aqui alguns dos postes de Alberto Nascimento:

11 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2930: Bambadinca, 1963: Terror em Samba Silate e Poindom (Alberto Nascimento, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 84, 1961/63)

10 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3044: Estórias avulsas (16): Os cães de Bambadinca (Alberto Nascimento, CCAÇ 84, 1961/63)

14 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3059: Memórias dos lugares ( 9): Bambadinca , 1963 (Alberto Nascimento, CCAÇ 84, 1961/63)

7 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3181: História de vida (17): A falsa Mariama, mandinga de Bambadinca, a sua filha, e o seu amigo... (Alberto Nascimento)

16 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3459: Histórias da velhice (1): Eu e o 1º Pelotão da CCAÇ 84 em Farim, em Julho de 1961, em socorro de... Guidaje (Alberto Nascimento)

21 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3492: Controvérsias (9): Eu fui para Farim, em Julho de 1961, com a G3, com o 1º Gr Comb da CCAÇ 84 (Alberto Nascimento)

2 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3964: Nuvens negras sobre Bissau (6): O Nino morreu vítima de si próprio (Alberto Nascimento)

18 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4049: As abelhinhas, nossas amigas (5): As abelhas e a NEP (Alberto Nascimento)

8 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4796: Estórias avulsas (47): O enfermeiro Lomelino (Alberto Nascimento)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15780: Consultório militar do José Martins (18): Forças Militares Portuguesas que passaram por Empada

1. Em mensagem do dia 8 de Fevereiro de 2016, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), a propósito da consulta feita ao Blogue pelo nosso leitor Umaru Sambu, que deu origem ao P15720, enviou-nos a relação das Unidade Militares que passaram por Empada.


Dizia-nos Umaru Sambu na sua mensagem de 6 de Fevereiro:

Sou guineense, natural de Empada, maior de 60 anos de idade, vivo em Portugal desde 1986, filho de Bacar Sambu, antigo Soldado Miliciano em Empada, e sobrinho do antigo Comandante Miliciano Bajo Sambu, falecido em combate em 1963.

Este meu tio, Bajo Sambu, passado algum tempo depois da sua morte, como tinha deixado dois filhos menores, entre cinco e seis anos de idade, por qualquer motivo, foi-nos comunicado, na altura, que dentro da companhia de militares portugueses que tinham estado em Empada na altura da morte trágica dele, estavam Bissau, na capital, de partida para a metrópole e que tinham requerido para trazerem um dos filhos deste meu tio, nomeadamente o filho mais velho que tinha na altura 6 anos de idade, cujo nome era Infamara Buli Sambu, que assim foi.

Na altura o pedido foi aceite do imediato, porque como sabe naquela altura era mesmo perigoso viver naquela aldeia de Empada por causa dos ataques dos rebeldes. Não sei como foi feito o processo da vinda dele mas de facto foi trazido por uma companhia que antecedeu a companhia de Cap. Borges, Os Maiorais.
[...]

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Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Parque da Oficina Auto e no exterior as moranças.
Foto: © Arménio Estorninho


2. Comentário do nosso camarada José Martins:

Parece haver nesta solicitação, alguma confusão de datas.
Trata-se de factos com quase 50 anos e passado com rapazes/crianças muito novas na altura.
Fala-se de ocorrências de 1963 e outras que poderão ter acontecido, pelos factos evidenciados, entre 1966 e 1968.

Segue listagem das unidades e subunidades presentes em Empada, com a origem das mesmas, período em que guarneceram aquele destacamento e os oficiais que exerceram o comando das mesmas.
Exceptuam-se os Pelotões de Morteiro cujo comando só se poderá obter em consulta ao Arquivo Histórico-Militar, caso haja História da Unidade.


Forças Militares Portuguesas que passaram por Empada: 

Companhia de Caçadores n.º 153 (RI 13 – Vila Real), destacou um pelotão que esteve entre Julho de 1961 e Fevereiro de 1963. A companhia foi comandada pelo Capitão de Infantaria José dos Santos Carreiro Curto.

Companhia de Caçadores n.º 84 (RI 1 – Amadora), destacou um pelotão que esteve entre Fevereiro de 1962 e Abril de 1963. A companhia foi comandada pelos: Capitão de Infantaria Manuel da Cunha Sardinha e Capitão Miliciano de Infantaria Jorge Saraiva Parracho.

Companhia de Caçadores n.º 417 (RI 15 – Tomar), ocupou o aquartelamento entre Abril de 1963 e Julho de 1964, quando terminou a comissão. Foi comandada pelo Capitão de Infantaria Carlos Figueiredo Delfino.

Companhia de Caçadores n.º 616 (RI 1 – Amadora), ocupou o aquartelamento entre Abril de 1964 e Janeiro de 1966, quando acabou a comissão. Foi comandada pelo Alferes Miliciano de Infantaria Joaquim da Silva Jorge, Capitão Miliciano de Infantaria António Francisco do Vale, Capitão de Infantaria José Pedro Mendes Franco do Carmo, de novo Alferes Miliciano de Infantaria Joaquim da Silva Jorge e Capitão de Cavalaria Germano Miquelina Cardoso Simões. Ostentou como Divisa “Super Omnia”.

Companhia de Milícias n.º 6, (Recrutamento local), ocupou o aquartelamento entre Janeiro de 1965 e Dezembro de 1971, até à extinção da força

Companhia de Caçadores n.º 1423 (RI 15 – Tomar), ocupou o aquartelamento entre Janeiro de 1966 e Dezembro do mesmo amo, seguindo depois para o Cachil. Foi comandada pelo Capitão de Infantaria Artur Pita Alves, Capitão de Infantaria João Augusto dos Santos Dias de Carvalho, Capitão de Cavalaria Eurico António Sacavém da Fonseca, de novo Capitão de Infantaria João Augusto dos Santos Dias de Carvalho, e de novo Capitão de Infantaria Artur Pita Alves. Ostentou como Divisa “Firmes e Constantes”.

Companhia de Caçadores n.º 1587 (RI 2 - Abrantes), ocupou o aquartelamento entre Novembro de 1966 e Janeiro de 1968, seguindo para Bissau. Foi comandada pelo Capitão Miliciano de Infantaria Pedro Eurico Galvão dos Reis Borges.

Companhia de Caçadores n.º 2381 (RI 2 - Abrantes), ocupou o aquartelamento entre Maio de 1969 e Fevereiro de 1970, seguindo para Bissau. Foi comandada pelo Capitão Miliciano Graduado de Infantaria Eduardo Moutinho Ferreira Santos. Ostentou como Divisas “Os Maiorais” e “Pela Lei. Pela Grei”.

Companhia de Artilharia n.º 2673 (GACA 2 – Torres Novas), ocupou o aquartelamento entre Fevereiro de 1970 e Maio de 1971, seguindo para Bissau. Foi comandada pelo Capitão de Artilharia Adolfo Pereira Marques e Capitão Miliciano José Vieira Pedro. Ostentou como Divisa “Leões de Empada”.

Companhia de Caçadores n.º 3373 (RI 1 - Amadora), ocupou o aquartelamento entre Maio de 1971 e Maio de 1972. Foi comandada pelo Capitão Miliciano de Artilharia Adérito Assis Cadório. Ostentou como Divisa “Os Catedráticos” e “Por Uma Guiné Melhor”.

Pelotão de Morteiros n.º 3020 (RI 2 – Abrantes), ocupou o aquartelamento entre Maio de 1971 e Março de 1973.

Companhia de Caçadores n.º 3566 (BC 10 - Chaves), ocupou o aquartelamento entre Maio de 1972 e Abril de 1974, terminando a comissão. Foi comandada pelo Capitão Miliciano de Infantaria João Rocheta Guerreiro Rua, Capitão de Infantaria Herberto Amaro Vieira Nascimento e Capitão Miliciano de Infantaria Pedro Manuel Vilaça Ferreira de Castro.

Pelotão de Morteiros n.º 4277/72 (RI 2 – Abrantes), ocupou o aquartelamento entre Janeiro e Agosto de 1973, seguindo para Aldeia Formosa.

Companhia de Caçadores n.º 4944/73 (BII 19 – Funchal), ocupou o aquartelamento entre Junho de 1974 e Setembro de 1974, aquando da retracção das nossas tropas. Foi comandada pelo Capitão Miliciano de Infantaria Mário José de Oliveira Pinheiro. Ostentou como Divisa “Os Galos do Cantanhez”.
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15739: Consultório militar do José Martins (17): Arquivos, Bibliotecas e Centros de Documentação - Arquivo Histórico Militar

terça-feira, 28 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11645: Convívios (527): Convívio da CCAÇ 84 (Alberto Nascimento)


1. O nosso Camarada Alberto Nascimento, ex-Sold Cond Auto da CCAÇ 84, Bambadinca, 1961/63., enviou-nos a seguinte mensagem:


Tomo a liberdade de enviar fotos do encontro da Companhia 50 anos depois da chegada.

Um abraço, 

Alberto Nascimento


CONVÍVIO DA COMPANHIA DE CAÇADORES 84 (1961/63)

Realizou-se no passado dia 25 no hotel Pombalense, em Pombal, o habitual encontro dos camaradas da Companhia que querem e podem deslocar-se para almoçar e cavaquear sempre com muita animação e alegria. É pena que muitos não tenham possibilidade de participar por razões que temos dificuldade em aceitar mas que são naturais. 


No dia nove de Abril fez cinquenta anos que desembarcámos em Lisboa depois de dois anos em que a Companhia se dispersou pelos mais diversos pontos geográficos da Guiné. 

Nestes encontros recordam-se episódios menos bons mas rimos à farta quando relembramos outros, cómicos, de que ouvimos falar mas que julgámos tratar-se de brincadeira com o fim de “entrar” com determinado camarada. Isto é certamente o que se passa em todos os encontros doutras Companhias mas nós temos a razão do “meio século depois”. 







Um Abraço
Alberto Nascimento
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 


sábado, 26 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P11006: Memória dos lugares (207): Ponte Malã Dalassi, ou melhor Ponte Caium, e outras imagens do leste, Piche e Buruntuma (Alberto Nascimento, ex-sold cond auto, CCAÇ 84, 1961/63)


Foto nº 1 > Ponte do rio Caium... Grupo de trabalhdores que se deslocavam a pé para a colheita da mancarra


Foto nº 2 > Ponte Caium: três militares, da direita para a esquerda, eu , o enfermeiro Lomelino e um cabo


Foto nº 3- Piche: matança do porco


Foto nº 4- Piche: Posto de observação


Foto nº 5 - Buruntuma: mercado


Foto nº 6 - Buruntuma: ouvindo rádio


Foto nº 7- O Mané em Lisboa


Fotos: © Alberto Nascimento (2013). Todos os direitos reservados

1. Mensagem, com data de ontem, de Alberto Nascimento, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 83 (que passou por diferentes sítios da Guiné, incluindo Piche e Buruntuma, o últimos quais Bambadinca, 1961/63) (*)

 Caro Camarada Luis Graça:

Como sou talvez o único velho que participa no Blog, do tempo do capitão Jorge Freire, vou esclarecer não só a dúvida sobre a ponte, como prestar outros esclarecimentos.

A ponte é efectivamente a do rio Caium, conforme podes comparar com as fotos que envio e estas foram legendadas na altura em que foram tiradas.

O macaco é o Mané e acompanhou-nos para Bambadinca e depois para Lisboa.

O oficial com chapéu colonial é o alferes João Lamas, que comandava na altura o destacamento de Piche.

A estrada Nova Lamego-Buruntuma era realmente boa e onde na época das chuvas nunca fiquei atascado, muito diferente da estrada Piche-Canquelifá onde o atascanço era quase contínuo.

Um Grande Abraço
Alberto Nascimento (**)

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 11 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2930: Bambadinca, 1963: Terror em Samba Silate e Poindom (Alberto Nascimento, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 84, 1961/63

(...) " a CCAÇ 84, três meses depois de aterrar no aeroporto de Bissalanca, foi literalmente fragmentada e enviada para os mais diversos pontos do território, tendo o meu pelotão tido como último destacamento, entre Novembro de 1962 e 7 ou 8 de Abril de 1963, Bambadinca, sob o Comando de Bafatá.

"O primeiro destacamento, ainda em Julho de 1961, foi para Farim, após os primeiros e ainda pouco violentos ataques a Bigene e Guidaje. Seguiu-se o destacamento de Nova Lamego, conforme é dito no seu blogue (P 1292 - Contributos) onde o pelotão foi dividido por Buruntuma, Piche e Canquelifá.

"Só estou a mencionar o 1º pelotão da Companhia, porque à grande maioria dos camaradas dos outros pelotões só voltei a ver nos dias que antecederam o embarque para a Metrópole.

"Como a memória se perde no tempo por indocumentação, ou porque a essa memória se teve medo de atribuir qualquer importância (existiam e ainda existem muitos complexos sobre a guerra colonial), resolvi dar o meu contributo para esclarecer uma dúvida colocada no seu blogue, sobre quem teria participado nos massacres de Samba Silate e Poindom, no início de 63.

"Sem conseguir precisar o mês, um dia soubemos que a PIDE estava em Bambadinca para deter o padre António Grillo, italiano da Ordem Franciscana, acusado - não sabíamos se por denúncia, se por investigação - de colaborar, proteger, e fornecer alimentos a elementos do PAIGC, a partir de Samba Silate" (...).


Último poste da série > 19 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10964: Memória dos lugares (206): Olossato, anos 60, no princípio era assim (2) (José Augusto Ribeiro)

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8150: Convívios (315): Encontro comemorativo dos 50 anos do embarque para a Guiné da CCAÇ 84 (Alberto Nascimento)

1. Mensagem do nosso camarada Alberto Nascimento(*) (ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 84 (Bambadinca, 1961/63), com data de 19 de Abril de 2011:

Caro Camarada Carlos Vinhal
Envio texto e algumas fotografias do convívio dos ex-militares da CCAÇ 84, realizado no dia 9 do corrente
Se vires interesse na publicação para conhecimento dos tertulianos, dispõe como entenderes.

Um Abraço
Alberto Nascimento



Medalha comemorativa dos 50 anos do embarque para a Guiné da CCAÇ 84


Já passou meio século

No passado dia 9 do corrente realizou-se mais um encontro dos ex-militares da CCaç 84.

Este encontro teve um significado especial, já que neste dia se completaram 50 anos que embarcámos no aeroporto de Figo Maduro e desembarcámos na Guiné. Para que tudo fosse mais real, os camaradas Micaelo e Gabriel Farroba que habitualmente organizam os nossos encontros, resolveram que este se realizaria no quartel da Amadora então Regimento de Infantaria 1 onde fomos incorporados e fizemos a recruta.

Depois da missa por alma dos que já não estão entre nós fomos visitar as instalações da nossa Companhia (a 5ª de Timor) que por coincidência era a única que não estava a ser utilizada.

Ao toque de rancho, que não obrigou a formatura nem chamada, os “jovens” e acompanhantes dirigiram-se com pouca disciplina e bastante apetite para o refeitório onde foi servido um almoço que felizmente, nem sequer fez lembrar os servidos na nossa recruta.

Todos os nossos encontros têm sido um óptimo convívio mas este foi especial e vamos desejar que em 2013, os que ainda cá estiverem e possam estar presentes, festejem a chegada a Lisboa depois de 2 anos de comissão num território que quis ser um país soberano mas ainda não conseguiu.

Um Abraço
Alberto Nascimento


Regimento de Infantaria 1


Bolo (cópia da medalha comemorativa)


Grupo de velhotes e respectivas consortes


Mais um grupinho


Eu (à esquerda) e o Oliveira Martins


De pé discursando, o ex-Capitão Manuel Sardinha (hoje Coronel) o primeiro Comandante da Companhia


À esquerda o Capitão Jorge Parracho Comandante da Companhia que substituiu o Capitão Sardinha. À direita o juiz dr. Dias, na altura Alferes Miliciano


2. Comentário do editor:

Uma palavra de parabéns para os nossos camaradas da CCAÇ 84, na pessoa do nosso tertuliano Alberto Nascimento, pela comemoração dos 50 anos do embarque para a Guiné.

Vamos esperar pela comemoração dos 50 anos do regresso. É só um instantinho.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 8 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4796: Estórias avulsas (47): O enfermeiro Lomelino (Alberto Nascimento)

Vd. último poste da série de 20 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8143: Convívios (229): Reencontro com António Soares em Medas-Gondomar (José Ferreira da Silva)

domingo, 2 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6292: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69/ Mai 71) (10): Samba Silate


  1. Mensagem de Arsénio Puim, com data de 30 de Abril último: 

Luis:  Envio um novo trabalho, ao teu critério.
Um abraço.
Arsénio Puim 


RECORDANDO... (10):  SAMBA SILATE (*)


Um dos lugares tristemente célebres da guerra da Guiné, que eu tive oportunidade de visitar nos princípios de 1971, chama-se Samba Silate. Fica a poucos quilómetros de Amedalai, para o lado do Geba, entre Bambadinca e o Xime. Na continuação da tabanca estende-se, até ao rio, uma grande bolanha, tida como das melhores da Guiné. Para lá do Geba, fica Mato Cão e Madina.

Dantes, Samba Silate foi uma grande tabanca balanta e um importante centro de produção de arroz. Mas na altura em que lá estive, era  uma terra desabitada e completamente inculta. Dizia-se que qualquer tentativa dos Fulas para o seu aproveitamento seria gorada pelos Balantas.

Neste chão balanta, o Pe. António Grillo, missionário italiano, desenvolveu uma actividade pastoral florescente, reconhecida por muitas pessoas. Lá estava ainda, a testemunhá-lo,  uma grande cruz de cimento erguida no local, assim como uma campa, também de cimento, perto da cruz, com a inscrição de Mateus Iala, balanta, que havia falecido em 1958, apenas um mês depois de ser baptizado.

Ao rebentar a guerra houve um forte movimento de adesão e apoio, em Samba Silate, à guerrilha. A tropa, porém, acudiu atacando e matando indiscriminadamente. Mancaman, do Xime, de quem já falei anteriormente (**), disse-me que só em Samba Silate  morreram mil pessoas (***), incluindo mulheres e gente muito nova. Os que escaparam, uns foram para o mato, outros para Nhabijães, Enxalé, etc..

Pe. António viu-se implicado nos acontecimentos e, depois de preso, foi expulso, sem qualquer julgamento, para a Itália, donde não voltou mais. Constou que, mais tarde, Spínola autorizou o seu regresso, mas que a PIDE não o permitiu.

Infelizmente, os massacres nesta zona central da Guiné, perpetrados por tropas portuguesas nos começos da guerra, não se cingiram a Samba Silate. Mancaman relata  acções de extermínio também em Bafatá, Mansoa, Bissorã e Bambadinca. «Mais de 10.000 mortos. A Guiné quase ficou sem gente», referiu.

Em relação a Bambadinca, ouvi, muito casualmente, um outro nativo falar de  acções de extermínio praticadas pelas nossas tropas. Sem referir nomes, não deixou, porém, de mencionar a naturalidade e o número militar (ou um número por que era conhecido, não sei bem)  de um soldado que costumava abrir as covas das pessoas antes de as matar.

Com tristeza e espanto, constatei ainda que a palavra que denomina os habitantes naturais da minha região não era benquista em Bambadinca e incutia mesmo um sentimento de horror, pela associação que as pessoas ainda faziam de acções desta natureza a antigos militares identificados como tal.

Perante tudo isto, não posso deixar de perguntar: onde estavam, então, os capelães militares, vinculados ao Exército com uma missão de Igreja? Porventura, não existiriam ainda nessa altura e nessas zonas?

Também sei, e não podemos ignorar, que os guerrilheiros do PAIGC  cometeram igualmente acções de extermínio em situações diversas. Tenho de forma especial em mente, neste momento, as execuções sumárias de combatentes e outros nativos que estiveram nesta guerra ao lado de Portugal, designadamente elementos dos Comandos de Fá, cometidas em Bambadinca (e outras localidades) já depois do regresso das tropas portuguesas.

É triste que Portugal tenha abandonado os seus aliados africanos à sua sorte, a qual seria previsível em face do lado da guerra por que haviam optado e os moldes por vezes desregrados e sanguinários das suas acções armadas, publicamente comentados, para além da conjuntura conturbada e dificilmente controlável que se seguiria.

Intervim uma vez, na qualidade de capelão, relativamente aos Comandos africanos, por causa do lamentável e bem conhecido caso da cabeça dum homem que foi cortada (desconheço as circunstâncias do acto, embora ouvisse mais que uma versão), numa operação que esta Companhia realizou  para os lados de Madina em princípios de Outubro  de 1970. Trazida para Bambadinca e exposta, como um troféu - diga-se, com escândalo da população civil e dos nossos militares - houve um soldado português que fotografou esta cena macabra, unicamente com intuitos comerciais.

As fotos, que circularam no Quartel até ao dia em que foram superiormente mandadas recolher com as respectivas chapas – de facto,  seriam uma exposição inconveniente para a causa portuguesa se chegassem ao exterior - mostravam um homem negro ainda novo, magro, de cabelo curto e crespo, com os olhos semiabertos. Pela boca fora introduzido um lenço que saía num buraco na nuca, o qual, atado nas pontas, servia de alça para o seu transporte na mão. O autor desta acção foi um furriel felupe [, João Uloma, mais tarde graduado em alferes, e também executado em 1975, pelo PAIGC] que – dizia-se - costumava cortar e guardar as cabeças das pessoas que matava em operações militares, por razões de crenças étnicas.

Nesse dia, o referido furriel aumentava a sua colecção de 27 crânios para 28.

Como muitos companheiros militares, e na qualidade de capelão, mostrei de imediato a minha repulsa por esta acção ignóbil. E, bem poucos dias depois, quando aquela Companhia se encontrava na parada de Bambadinca, achei que devia abordar o assunto ao comandante da mesma, lamentando que tais actos pudessem ser praticados num exército que tem obrigação de ser civilizado. O graduado, referindo este ser um costume tradicional da etnia felupe, remeteu-me para a nossa acção durante 400 anos na Guiné.

Em relação aos crimes de guerra, onde quer e quem quer que sejam os seus autores,  estou totalmente de acordo com aqueles que, sem admitir a pena de morte, defendem que no mundo civilizado os homens julgam-se nos Tribunais e, através destes, os criminosos são condenados.

Arsénio Puim


2. Quem era (ou é) o Padre António Grillo ?


António Grillo é um missionário italiano, do PIME (Pontifício Instituto para as Missões Exteriores). Nasceu em 1925, em Acerenza. 

Recorro aqui ao Sítio de Paolo Grappasonni que, em finais de 1988, fez uma visita às missões italianas na Guiné-Bissau e evoca a figura do padre Anmtónio Grillo. Reproduzem-se excertos do texto "Notas de viagem à Guiné-Bissau", com a respectiva tradução em português

  Padre Antonio Grillo, di Acerenza, ha vissuto per diversi anni e con alterne vicende tra i Balanta di Bambadinca. Ha pubblicato un opuscolo nel maggio 1988 dal titolo: “I miei Balantas” dal quale traggo le sue esperienze più significative. 

O Padre Antonio Grillo,  de Acerenza, viveu durante vários anos e em diferentes períodos entre os Balanta de Bambadinca. Publicou um opúsculo em Maio de 1988 intitulada: "Os Meus Balantas" de que retiro algumas das suas experiências mais significativas.

Aveva 26 anni padre Antonio Grillo quando, il 12 settembre 1951, partì dal PIME di Milano insieme a tre missionari su una jeep americana alla volta del Portogallo e della Guinea in Africa.  Faceva parte della seconda spedizione missionaria del PIME in Guinea. Bambadinca è il distretto missionario al quale padre Grillo viene inviato insieme a padre Biasutti il 31 gennaio 1952. Dopo un anno di attesa per avere il visto dal governo portoghese, e dopo un viaggio avventuroso su una jeep e via mare, finalmente possono cominciare. 

Tinha 26 anos quando a, 12 de setembro de 1951, partiu do PIME de Milão, com três missionários num jipe americano,  a caminho de Portugal e depois da Guiné, em África.  Fazia parte da segunda expedição missionário do PIME à Guiné. Bambadinca é a região missionária para a qual o padre Grillo é enviado juntamente com o  padre Biasutti, em 31 de Janeiro de 1952. Depois um ano de espera para obter visto do Governo Português, e depois de uma viagem aventurosa por terra e mar, finalmente podiam começar.

“Purtroppo - scrive padre Grillo - abbiamo dovuto accettare di fissare la nostra residenza a Bambadinca, villaggio dove erano anche le autorità amministrative portoghesi, perché queste volevano tenerci sotto il loro continuo controllo. Già a quei tempi non permettevano facilmente neppure a noi missionari che ci addentrassimo nella foresta per entrare in contatto con le varie tribù. Avremmo preferito un grosso agglomerato abitato dai Balantas come Sambasilate perché questi erano animisti mentre la quasi totalità degli abitanti di Bambadinca era mussulmana”.
In lingua mandinga “Bamba” significa “coccodrillo”, “Dinga” significa “tana”: e veramente negli anni ‘50 il vicino fiume Geba era pieno di coccodrilli. 

"Infelizmente - escreve o padre Grillo - nós tivemos que aceitar estabelecer a nossa residência em Bambadinca, a povoação onde estavam também as autoridades administrativas portuguesas, porque eles queriam manter-nos sob o seu controle constante. Já naquele tempo não nos permitiam com facilidade, mesmo a nós, missionários,  que entrassemos na floresta para contactar  as várias tribos. Teríamos preferido uma grande aglomerado populacional de Balantas como Samba Silate porque estes eram animistas, enquanto quase todos os habitantes de Bambadinca eram muçulmanos. "

Em língua madinga, "Bamba" significa "crocodilo", "Dinga" significa "cova": e na verdade, nos anos 50 o vizinho rio Geba estava cheio de crocodilos.

Il villaggio di Sambasilate nel 1955 contava già 1750 abitanti in maggioranza della etnia Balanta, con pochi Papeis e alcuni musulmani. Sambasilate, che vuol dire “risaia”, fu la prima stazione missionaria del distretto di Bambadinca. Il motivo che spinse soprattutto padre Grillo verso questo villaggio fu proprio il numero dei suoi abitanti che, se convertiti, potevano attirare i villaggi minori
.

A aldeia de Samba Silate, em 1955, já tinha 1750 habitantes, na sua maioria do grupo étnico Balanta, com poucos Papéis e alguns muçulmanos. Samba Silate, que significa "campo de arroz", foi a primeira estação missionária na zona de Bambadinca. O motivo que levou o padre Grillo a optar por esta aldeia, foi apenas o número dos seus habitantes que, se se convertessem, poderiam atrair as outras aldeias mais aldeias. (...)

http://www.webalice.it/paolo.grappasonni/Guinea_Bissau:_appunti_da_un_viaggio.html

2.2. De um outro site, italiano, sobre os 150 anos do PIME (Pierio Gheddo - PIME 1850-2000: 150 Anni dei Missione)  retiro a seguinte informação sobre o conflito do Padre Grilo com as autoridades portugueses, em 1963, bem sobre as crescentes dificuldades dos missionários italianos na sequência da escalada do conflito militar:

(...) Pime in prima linea: l’arresto di padre Grillo (1963)

Il superiore generale p. Augusto Lombardi visita la Guinea (10 dicembre 1959 — 26 febbraio 1960) e richiama i missionari ad impegnarsi ancor più nell’aiutare il popolo guineano, evitando però accuratamente ogni gesto o giudizio politico: l’imperativo è di restare sul posto senza farsi mandare via: proprio ora i missionari stranieri possono giocare un ruolo importante a difesa dell’uomo.


(...) O PIME debaixo de fogo: a prisão do padre Grillo (1963)

O Superior Geral, padre Augusto Lombardi visita a Guiné (10 de Dezembro de 1959-26 fevereiro 1960), e incita os missionários a empenharem-se mais para ajudar o povo da Guiné, mas evitando cuidadosamente qualquer gesto ou opinião política: o imperativo é permanecer no local sem se fazerem expular: os missionários estrangeiros podiam desempenhar um papel importante na defesa do homem.

All’inizio degli anni sessanta la Guinea entra decisamente nel clima di guerra. Prima vittima è il p. Antonio Grillo (22), apostolo dei balanta a Bambadinca, per un’accusa risultata poi del tutto falsa (amico di un capo guerrigliero). 

No início dos anos sessenta, a Guiné entra significativamente em  clima de guerra. A primeira vítima é a padre Antonio Grillo, o apóstolo dos Balantas em Bambadinca, sob a acusação, que se soube mais tarde ser completamente falsa, de ser amigo de um líder da guerrilha.

Arrestato dalla polizia politica portoghese (la Pide) il 23 febbraio 1963, incarcerato prima a Bissau e poi a Lisbona, viene liberato il 4 luglio come atto di omaggio del Portogallo al nuovo Pontefice Paolo VI.

Detido pela polícia política portuguesa (Pide), a 23 fevereiro de 1963, encarcerado primeiro em Bissau e depois em Lisboa, acabou por ser libertado em 4 de julho em homenagem de Portugal, ao novo pontífice, o Papa Paulo VI.

Le missioni del Pime, nelle regioni più periferiche, sono in prima linea. Quella di Suzana è occupata dai militari portoghesi, i missionari debbono ritirarsi per non essere compromessi agli occhi dei locali (visitano i cristiani ogni mese partendo da Bafatà); Catiò è al centro della guerriglia perché vicina alla Guinea- Conakry da cui venivano armi e guerriglieri: i padri non possono più visitare i villaggi senza permesso della polizia e in città sono sottoposti a stretti controlli; Farim rimane isolata per lunghi mesi; le strade sono interrotte e si percorrono solo con i convogli militari; attacchi notturni dei partigiani e ritorsioni dell’esercito con villaggi bruciati, torture, massacri.

As missões do PIME nas regiões mais remotas, estão na primeira linha da frente. A de Suzana é ocupada pelo exército Português, os missionários têm que retirar-se para evitar ficar comprometidos aos olhos da população local (os cristãos passam a ser  visitados todos so meses a partir de Bafatá). Catió, por sua vez, está no centro da guerrilha por causa de sua proximidade com a Guiné-Conacri, de onde vêm as armas e os guerrilheiros: os padres já não podem visitar as aldeias sem a permissão da polícia e na cidade estão sujeitos a controlos rigorosos. Farim, por seu lado, permanece isolada durante longos meses, as estradas estão cortadas e só se pode viajar em colunas militares;  ataques nocturnos dos guerrilheiros e represálias do Exército, com incêndios de aldeias, tortura, massacres.

Il 10 giugno 1963 un nuovo prefetto apostolico: mons. João Ferreira, giovane entusiasta e con bei progetti, ma purtroppo resiste due anni e mezzo al clima della Guinea: ritorna in Portogallo nell’agosto 1965. Il suo successore, mons. Amãndio Neto, è anche lui su una linea moderatamente innovativa: lascia lavorare i missionari, difendendoli sempre dai sospetti dei militari e della polizia politica portoghese. 

Em 10 de junho de 1963 um novo Prefeito Apostólico: Monsenhor  João Ferreira, jovem,  entusiasta e com bons projetos, mas infelizmente resistiu apenas dois anos e meio ao clima da Guiné: Volta a Portugal em Agosto de 1965. O seu sucessor, Mons. Amândio Neto, também está numa linha moderadamente inovadora: deixar trabalhar os missionários, defendendo-os sempre a suspeita dos militares e da Pide. (...)

2.3. Recentemente, no início do ano, o Padre António Griillo  (agora com perto de 85 anos, vd. foto à direita, com a devida vénia ao blogue ) voltou a Bambadinca, com uma delegação da sua diocese de Acerenza para inaugurar uma escola a que foi dado o nosso nome... Voltou a Samba Silate, aos seus balantas. Foi recebido com grande entusiasmo, alegria e espírito ecuménico.

3. Comentário de L.G.:


É doloroso para a nossa memória, mas não podemos ignorar, esquecer, branquear, desculpar o que se terá passado em Samba Silate (e noutros locais do CTIG)... 1961, 1962, 1963... foram anos de chumbo... Não sabemos exactamente qual foi o envolvimento dos militares (****)... A Pide costuma ficar com o odioso (bem como a polícia administrativa local que fazia o "trabalho sujo")... Mas  a tropa e as autoridades administrativas  também não  ficam bem na fotografia...

Não posso quem quero generalizar, prefiro que apareçam relatos,  documentados,  circunstanciais, com datas e factos, sobre violência exercida tanto pelas NT como pelo PAIGC (ou a FLING, em 1961) sob as populações indefesas, ou sob prisioneiros... Em 1969, seis anos depois, os meus soldados da CCAÇ 12 falavam-me destes acontecimentos, com naturalidade... E eles eram insuspeitos, eram fulas, nossos aliados... Samba Silate, Poindon: são dois topónimos da Guiné que ainda hoje não esqueço e que me incomodam...

_______________

Notas de L.G.:


(***) Estes números, baseados na memória oral da população local, têm que ser lidos com reserva... Em 1955, segundo o Padre Grillo, Samba Silate tinha 1750 habitantes, quase todos de etnia balanta.  

Na história do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), HU-Cap II, p. 19, pode ler-se o seguinte Samba Silate, e a propósito dos balantas:

"Julgamos que o único modo de conseguir retirar ao controlo IN um substancial número de Balantas será criar condições de segurança nas ricas bolanhas que se encontram abandonadas; de entre todas essas, ressalta a de Samba Silate em virtude de ser uma bolanha rioca e muito grande, econtrar-se completamente deserta, ser a sua população recenseada antes do início do terrorismo superior a 1200 pessoas, saber-se que os seus antigos ocupantes se encontrarem sobre controlo IN, na área de Incala [, será a mesma, a da região de Bedanda ?, se sim, ficava claramente  fora do sector L1...], e desejarem para ali voltar"

Sobre o alegado massacre de Samba Silate, em 1963, só temos o testemunho de Alberto Nascimento (ex-sold condutor auto, CCAÇ 84, que esteve no CTIG entre 6/4/61 e 9/4/63, tendo o seu pelotão estado em Bambadinca justamente na altura em que foi preso o padre Grillo, entre Novembro de 1962 e 7 ou 8 de Abril de 1963, Bambadinca, às ordens de Bafatá)., e conversas minhas com alguns soldados da CCAÇ 12, entre eles o Abibo Jau, que seria fuzilado pelo PAIGC em 1975, juntamente com o Cap Comando Graduado Jamanca (e que já reproduzi na I Série do Blogue).

Recorde-se o que o Alberto Nascimento (que era um simples soldado condutor auto) escreveu:

(...) Sem conseguir precisar o mês,  um dia soubemos que a PIDE estava em Bambadinca  [,  sabemos agora que foi em 23 de Fevereiro de 1963],  para deter o padre António Grillo, italiano da Ordem Franciscana [, ou melhor, missionário do PIME,] acusado - não sabíamos se por denúncia se por investigação - de colaborar, proteger, e fornecer alimentos a elementos do PAIGC, a partir de Samba Silate.

Este episódio motivou a intervenção militar do Comando de Bafatá (****) com uma força equipada com as já na altura obsoletas auto-metralhadoras e lança-chamas. Essa força foi reforçada em Bambadinca com grande parte dos efectivos aí destacados [ , um pelotão da CCAÇ 84, pelo mneos,] e seguiu para Samba Silate.

Contar com pormenor o que se passou no decorrer da operação é impossível, já que fui colocado num posto de onde só podia abarcar uma pequena parte da povoação, que ocupava uma área enorme, mas o constante matraquear das auto-metralhadoras e G3 deixavam antever um morticínio.

Quando a meio da tarde o Comando deu por terminada a operação é que fui, pelo caminho, vendo a destruição provocada pelos lança-chamas, auto-metralhadoras e G3. Samba Silate estava, na sua maior parte, destruída. Num largo da povoação estavam concentrados um grande número de prisioneiros, um dos quais, talvez movido pelo desespero e terror, intentou a fuga, tendo sido abatido. Os outros foram divididos entre Bafatá e Bambadinca, de onde poucos ou nenhuns saíram.

Poindom foi o outro alvo de uma operação militar de Bafatá e Bambadinca, com o apoio da força aérea. O avanço militar terrestre fez-se pela bolanha enquanto os aviões despejavam bombas e rockets sobre a povoação e a mata que a antecedia, para anular eventuais grupos de elementos do PAIGC que poderiam impedir o avanço terrestre. Um dos aviões sobrevoava o rio [Corubal], metralhando tudo o que tentasse a travessia.

Quando consideraram que a mata estava "limpa", avançámos para a povoação que estava quase totalmente arrasada, sendo visíveis muitos corpos sob os escombros das palhotas. No interior de uma delas que ficou de pé, encontrámos um grupo de homens aterrorizados: já não me lembro se os fizemos prisioneiros ou deixámos ficar a chorar os mortos. Desta operação guardo bastantes recordações, quase todas na mente, apenas uma física, uma colher de madeira que encontrei no chão. (...)

(****) Unidades que estão em Bafatá na altura dos acontecimentos: de Samba Silate

(i) Talvez a CCAÇ 90... Mobilizada pelo R1 7, partiu para a Guiné em 2774/1961 e regressou a 12/4/1963. Esteve em Bafatá. Comandante Cap Inf Manuel Domingues Duarte Bispo, e Cap Mil Inf João Henriques de Almeida.

(II) Seguramente o BCAÇ 238. Mobilizado pelo BCAL 8, partiu em 28/6/1961 e regressou em 24/7/1963. Esteve em Bafatá. Comandante: Maj Inf José Augutso de Sá Cardoso; Ten Cor Inf Luís do Nascimento Matos.

(iii) Seguramente o EREC 385. Mobilizado pelo RC 8. Partiu a 27/7/1962. Regressou a 23/7/1964. Esteve em Bafatá. Comandante: Cap Cav José Olímpio Cajda da Costa Gomes.


segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4805: Parabéns a você (17): Alberto Nascimento da CCAÇ 84 e Tomás Carneiro da CCAÇ 4745 (Os Editores)

Hoje, dia 10 de Agosto de 2009, fazem anos os nossos camaradas:
Alberto Nascimento da CCAÇ 84 e
Tomás Carneiro da CCAÇ 4745/73 - Águias de Binta.



Alberto Nascimento (*), ex-Sold Cond Auto da CCAÇ 84, Bambadinca, 1961/63.


1. Alberto Nascimento dirigia-se assim ao Blogue em 9 de Junho de 2008:

Caro Dr. Luís Graça:

Sou um ex-militar, soldado condutor-auto, que cumpriu dois anos de serviço na então província da Guiné, entre 6/4/61 e 9/4/63, integrado na Companhia de Caçadores 84.

Como não podia deixar de ser, estes dois anos de convivência com as populações das várias etnias com quem tive contacto, mantiveram em mim o desejo de acompanhar, o mais perto possível, a vida daquele país e daquelas gentes tão maltratados antes e depois da independência.

Sou um dos visitantes assíduos do seu blogue Guiné 63/74, na tentativa de identificar alguns lugares por onde passei ou estive destacado, já que a CCAÇ 84, três meses depois de aterrar no aeroporto de Bissalanca, foi literalmente fragmentada e enviada para os mais diversos pontos do território, tendo o meu pelotão tido como último destacamento, entre Novembro de 1962 e 7 ou 8 de Abril de 1963, Bambadinca, sob o Comando de Bafatá
.[...]


2. Ao Alberto Nascimento, toda a Tabanca deseja um dia de aniversário bem passado junto dos seus familiares e amigos. Que nestas páginas, a contagem dos anos de vida deste nosso camarada, se contem por muitos e plenos de saúde.

Aqui ficam umas fotos ao acaso:



Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 84 > 1961 > Eu, à direita com capacete na mão, e o meu camarada e amigo Maximino, de G3 ao ombro

Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 84 > 1962 > Mais uma pose para a fotografia, a G3 sem carregador

Região do Oio > Farim > CCAÇ 84 > 1961 > Eu, num baga-baga, com a G3, a armar-me aos cucos

Fotos: © Alberto Nascimento (2008). Direitos reservados

____________________


Tomás Carneiro (**), ex-1.º Cabo Condutor da CCAÇ 4745 (Águias de Binta), Binta, 1973/74

Recordemos Tomás Carneiro no dia 24 de Junho deste ano, poucos dias depois do nosso IV Encontro em Ortigosa:

Apresento-me, Tomás Carneiro, ex-1.º Cabo Condutor da CCAÇ 4745 - Aguias de Binta

Caros amigos,
Como alguns já sabem quem eu sou, aqui vai um texto.

Eu estive na Guine entre 1973 e 1974. Era Condutor e cheguei à Guiné no dia 8 de Julho de 1973.
[...]


Para quem já não se lembra, Soares Carneiro veio na véspera do nosso IV Encontro, de propósito dos Açores, Ilha de S. Miguel, para se encontrar com um seu antigo camarada de Companhia. Regressou à sua Ilha no dia 21.

O alvo de tão grande manifestação de amizade e dedicação foi o nosso camarada Pedro Neves.

Duas fotografias desse encontro memorável para ambos, já que não se viam desde o regresso da Guiné, há cerca de 35 anos.

Pedro Neves e Tomás Carneiro. Um reencontro proporcionado pela Tabanca Grande. O mundo é tão pequeno quando visto da porta da nossa Caserna.

Nesta foto aparece também a esposa do Pedro, a Ana Maria, que nos confidenciou que ficou feliz por ver a alegria de ambos quando se reencontraram.

Nesta foto, Henrique Matos e Tomás Carneiro. Que os une? Ambos são ilhéus do Arquipélago dos Açores. Dois representantes daquele valente povo insular.

Fotos: © Eduadro Magalhães Ribeiro (2009). Direitos reservados


Para o nosso camarada Carneiro enviamos um abraço tão grande quanto o mar que nos separa.
No barco da amizade vão os nossos votos de longa vida, plena de saúde junto da família e amigos.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. postes de Alberto Nascimento com datas de:

11 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2930: Bambadinca, 1963: Terror em Samba Silate e Poindom (Alberto Nascimento, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 84, 1961/63)

10 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3044: Estórias avulsas (16): Os cães de Bambadinca (Alberto Nascimento, CCAÇ 84, 1961/63)

14 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3059: Memórias dos lugares ( 9): Bambadinca , 1963 (Alberto Nascimento, CCAÇ 84, 1961/63)

7 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3181: História de vida (17): A falsa Mariama, mandinga de Bambadinca, a sua filha, e o seu amigo... (Alberto Nascimento)

16 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3459: Histórias da velhice (1): Eu e o 1º Pelotão da CCAÇ 84 em Farim, em Julho de 1961, em socorro de... Guidaje (Alberto Nascimento)

21 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3492: Controvérsias (9): Eu fui para Farim, em Julho de 1961, com a G3, com o 1º Gr Comb da CCAÇ 84 (Alberto Nascimento)

2 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3964: Nuvens negras sobre Bissau (6): O Nino morreu vítima de si próprio (Alberto Nascimento)

18 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4049: As abelhinhas, nossas amigas (5): As abelhas e a NEP (Alberto Nascimento)

8 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4796: Estórias avulsas (47): O enfermeiro Lomelino (Alberto Nascimento)


(**) Vd. postes de Tomás Carneiro com data de:

22 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4560: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (6): De São Miguel, Açores, com emoção e amizade (Tomás Carneiro, CCAÇ 4745, 1973/74)

28 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4596: Tabanca Grande (156): O açoriano Tomás Carneiro, ex-1º Cabo Cond Auto, CCAÇ 4745 (Binta, 1973/74)

Vd. último poste da série de 4 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4776: Parabéns a você (16): Rui Alexandrino Ferreira, Cor Reformado (Editores)

sábado, 8 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4796: Estórias avulsas (14): O enfermeiro Lomelino (Alberto Nascimento)


1. O nosso Camarada Alberto Nascimento, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 84 (Bambadinca, 1961/63), enviou-nos a seguinte mensagem com data de 7 de Agosto de 2009:
Camaradas,

Tinha esta estória guardada e não a tinha ainda enviado por entender que, por se tratar de um episódio passado com outro camarada, devia no mínimo sondar a sua opinião e mesmo obter a sua autorização.



No ultimo almoço da companhia, recordámos o episódio em questão, que continua a motivar boas gargalhadas e o protagonista - enfermeiro Lomelino -, disse-me para avançar com a sua publicação.


Por isso aqui está:


O enfermeiro Lomelino
Em 1961, quando o nosso pelotão foi destacado para Farim e após uns dias de estadia no destacamento de Cavalaria, nos cederam para quartel um antigo armazém abandonado dentro da povoação, tratamos de adaptar o espaço às nossas necessidades, transformando-o em caserna.


O Lomelino, era o enfermeiro do meu pelotão, a quem todos reconheciam total competência no desempenho das funções inerentes à sua especialidade.


Ninguém hesitaria em pôr a “bunda” a jeito para uma pica, se fosse necessário, ou a tomar um medicamento por ele receitado para maleitas menos graves, embora o que ele mais receitava era o LM, que, já sabíamos, se não fizesse bem, mal também não fazia.


Além da assistência aos militares, quando lhe era solicitado, também dava apoio e tratamento da população civil. Então lá ia ele com o bornal cheio de ligaduras, drogas, seringas e agulhas, prevendo a teimosia de alguns Homens Grandes, que diziam que só a injecção fazia passar a dor, porque sentiam a picada. Comprimido não fazia efeito e nem o “fermeiro” Lomelino conseguia demovê-los desta ideia.


Se o meu Camarada era bom na sua “arte”, já na formação da vertente bélica, o Lomelino, um dia demonstrou uma grave falha e, das duas uma: ou lhe ensinaram muito pouco sobre armas, particularmente sobre a arma que lhe foi distribuída - uma pistola Parabellum -, ou ele esqueceu muito depressa, até porque, segundo nos dizia, a sua missão era tratar pessoas e não matá-las.

Outros tempos... em que eram prática comum a ética e o profissionalismo, que permitia falar assim.

Voltemos ao nosso enfermeiro Lomelino e ao seu esquecimento (ou distracção), da instrução que lhe fora prestada sobre os procedimentos de manuseamento de uma Parabellum.

Uma bela manhã, com vários militares dentro da caserna e os que tinham feito guarda durante a noite, ainda nos braços de Morfeu, o nosso bom camarada e óptimo enfermeiro, lembrou-se que estava na hora de fazer a limpeza da pistola.

Para isso muniu-se do material necessário e descontraído deitou mãos à obra, mas, distraído, esqueceu o procedimento mais básico para esta operação: tirar a munição que estava na câmara e o carregador.

Quando soou o primeiro tiro, uns olhavam espantados para o Lomelino enquanto outros já se tinham atirado para debaixo das camas, mas ao segundo tiro só o Lomelino ficou de pé com ar incrédulo a olhar para a pistola, que já tinha atirado para cima da cama.

Há homens com muita sorte. Um dos camaradas que depois da guarda dormia ainda com o camuflado vestido e o quico amarrotado debaixo da cabeça, veio mostrar os estragos que uma das balas fez no casaco e no quico.

As duas peças pareciam que tinham sido ratadas: o casaco, da cintura até à gola e o quico em vários pontos. A bala passou entre o cobertor e o corpo, e ele afirmou que não sentiu nada.

O Lomelino jurou solenemente que nunca mais ia pegar na pistola e cumpriu.

Nos destacamentos seguintes, não me lembro de o ter visto armado, nem mesmo em Bambadinca.

Por mim, considero a sua decisão demasiado drástica, bastava que passasse a limpar a pistola a, pelo menos, um quilómetro de distância do quartel.

Um Abraço,
Alberto Nascimento
Sold Auto da CCAÇ 84
____________
Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

quarta-feira, 18 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4049: As abelhinhas, nossas amigas (5): As abelhas e a NEP (Alberto Nascimento)

1. Mensagem de Alberto Nascimento(*), ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 84 (Bambadinca, 1961/63), com data de 17 de Março de 2009:

Amigo Luís
Enviei em 11/03 um apontamento sobre o tema Abelhas, que julgo não foi recebido, ou aguarda oportunidade para ser publicado. Na dúvida, resolvi reenviar.

Um Abraço
Alberto Nascimento


ABELHAS

Da NEP nunca ouvi falar, mas deve querer dizer, Não Estejas Parado com abelhas por perto ou já em cima de ti, corre o mais que puderes atira-te à água, atira-te de cabeça para o interior de uma moita, (diziam que resultava, que elas terminavam a perseguição), mas parado é que não.

Era o pão nosso de todos os dias no destacamento de Piche. A fonte, situada próximo do quartel secou. Os banhos passaram a ser tomados num charco que ficava na traseira do quartel, mas para beber e cozinhar passámos a ir a uma nascente que nos indicaram e que ficava a uns quilómetros na estrada para Canquelifá.

A nascente até ficava num local bonito, aprazível, onde até apetecia ficar um bocado a apreciar a frescura, as árvores enormes muito próximas da água, só que cada árvore daquelas tinha uma colmeia daquela raça de abelhinha que, com alguma razão, é conhecida por assassina.

Nos primeiros dias ainda mal tinha conseguido colocar o atrelado tanque de mil litros em posição para poder ser enchido com a bomba manual, já elas estavam em cima de nós, furiosas distribuindo ferroadas.

Depois consegui perceber que o que as irritava e obrigava a atacar eram os vapores do escape e passei a colocar o tanque com o motor do jipão desligado. Mesmo assim atacavam frequentemente e nem o fumo que fazíamos com capim molhado impedia de levarmos umas valentes ferroadas.

Foi uma época de grande preparação física, embora forçada, mas posso garantir que foram batidos recordes de velocidade e se a situação se tem mantido, tinha nascido na Guiné a maior e melhor equipa de fundistas portugueses da época.

Com a ida para Bambadinca, acabaram o treinos forçados e as ferroadas.

Julgo que os camaradas bloguistas também tiveram contacto com outro insecto fabricante de mel conhecido por “mosca do mel”. Tinha o comprimento de pouco mais que dois milimetros, não tinha ferrão, mas quando sentiam perigo para a colmeia atacavam em tão grande número que era difícil aguentar. Introduziam-se nos ouvidos, nas narinas por debaixo dos cabelos... eram tão chatas que faziam correr, tal como as primas de ferrão.

Um Abraço
Alberto Nascimento
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 2 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3964: Nuvens negras sobre Bissau (6): O Nino morreu vítima de si próprio (Alberto Nascimento)

Vd. último poste da série de 14 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4031: As abelhinhas, nossas amigas (4): Desculpem qualquer coisinha (Luís Faria)

segunda-feira, 2 de março de 2009

Guiné 63/74 - P3964: Nuvens negras sobre Bissau (6): O Nino morreu vítima de si próprio (Alberto Nascimento)

1. Mensagem do Alberto Nascimento, membro da nossa Tabanca Grande, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 84 (Bambadinca, 1961/63):

Amigo Luis Graça: Tinha que dizer algo sobre mais este desassossego para aquele bom Povo. Um Abraço, Alberto Nascimento


2. Morreu Nino Veira

por Alberto Nascimento


Morreu vítima de si próprio, do antagonismo que gerou em torno da sua incompetência política, da sua insensibilidade social, da sua incapacidade de reconhecer que a luta que travou como guerrilheiro tinha o fim principal de dar ao povo guineense o que o seu mentor Amílcar Cabral certamente lhe transmitiu mas que ele esqueceu muito rapidamente, não só uma nação independente, mas também a esperança do melhor que nunca tivera, a dignidade de ser um povo soberano, o que só conseguiu teoricamente no mapa das nações, apesar dos trinta e cinco anos passados após a independência.

Ouvi e li tributos de admiração que lhe dedicavam enquanto guerrilheiro, situação em que não o conheci felizmente, admirei a sua coragem, quando num golpe de Estado depôs um governo neo-colonialista, mas logo deixou perceber que ele e aqueles de que se rodeou não estavam interessados em governar para o povo da Guiné.

Gostava de acreditar que um dia aquele povo vai conseguir tudo a que tem direito, mas as más sementes deixadas vão certamente continuar a germinar e a asfixiar o desenvolvimento ansiado. Resta a esperança no povo e nalguns idealistas que, não tenho dúvida, ainda existem na Guiné Bissau.

Apesar de condenável a forma como se pôs fim a duas vidas, só me ocorre dizer “Longa vida, com boas políticas para o novo presidente”

Alberto Nascimento
________________

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 2 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3962: Nuvens negras sobre Bissau (5): Um adeus a Nino (João Tunes)

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3492: Controvérsias (9): Eu fui para Farim, em Julho de 1961, com a G3, com o 1º Gr Comb da CCAÇ 84 (Alberto Nascimento)

(i) Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 84 > 1961 > "Eu, à esquerda, com capacete na mão, e o meu camarada e amigo Maximino, de G3 ao ombro"

Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 84 > 1961 > "Eu, num baga-baga, com a G3, a armar-me aos cucos"

Guiné > Bissau > 1961 > "Numa formatura, ainda em 1961, em Bissau, depois do meu pelotão regressar de Farim, frente ao palácio do governador, Peixoto Correia... já todos os camaradas estão equipados com G3".

Guiné > Zona leste > Região do Gabu > Buruntuma > CCAÇ 84 > Fevereiro ou Março de 1962 > "Na zona dos Bucurés, a malta da companhia, com a G3"

Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 84 > 1962 > "Mais uma pose para a fotografia, a G3 sem carregador".

Fotos e legendas: © Alberto Nascimento (2008) Direitos reservados

1. Mensagem, de 18 de Novembro, do Alberto Nascimento, a quem tinha, há dias, desafiado para me mandar fotos com a G3 (Alberto: Não tens uma foto tua... com a G3 ? Há malta incrédula com a tua história... G3 na Guiné em Julho de 1961 ?!... Um abração. Luís):

Amigo Luís

Para esclarecimento sobre o Caso G3, só posso confirmar o que escrevi para o blogue (*): Em Julho de 61 o meu pelotão recebeu a G3 e deslocou-se de urgência para Farim (**).

(i) Reenvio uma fotografia tirada juntamente com o camarada e amigo Maximino, (falecido em 2005), após um reconhecimento na zona. Do meu equipamento apenas tenho o cinto com os carregadores da G3 e o capacete, mas aquilo que o Maximino tem ao ombro é uma G3:

(ii) Envio outra fotografia, também de Farim, daquelas que se tiram “a armar aos cucos”, também com a G3;

(iii) Os restantes camaradas da companhia devem ter recebido a arma algum tempo depois, porque na formatura que fizemos ainda em 1961, em Bissau, depois do meu pelotão regressar de Farim, frente ao palácio do governador (Peixoto Correia), no render da parada, ou da guarda, ou coisa do género, já todos os camaradas estão equipados com G3;

(iv) Do destacamento seguinte, Buruntuma, Fevereiro ou Março de 1962, reenvio uma fotografia tirada na zona dos Bucurés, onde se pode verificar que os militares usam a G3;

(v) Do destacamento de Piche, mais uma pose só para a fotografia, com G3 mas sem carregador.

Do destacamento seguinte, Bambadinca, já falei de G3 quando relatei a operação Samba Silate (***), mas lamentavelmente não tenho fotografias com G3 para enviar.

Com ou sem licença, fabricadas ou não pela Fábrica Nacional de Braço de Prata, esta é a realidade e embora admita falhar quando menciono este ou aquele mês nas deslocações para os vários destacamentos, a ida para Farim e o recebimento da G3 são um dado que está absolutamente correcto, seja qual fôr a data convencionada para o início da história da guerra na Guiné e, com todo o respeito, as opiniões divergentes dos camaradas quanto a este assunto das G3.

Um Grande Abraço

Alberto Nascimento

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 16 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3459: Histórias da velhice (1): Eu e o 1º Pelotão da CCAÇ 84 em Farim, em Julho de 1961, em socorro de... Guidaje (Alberto Nascimento)

(**) Vejam os seguintes comentários:

(...) Joaquim Mexia Alves

Não coloco obviamente em causa esta história, mas tenho de achar muito estranhas as datas. Não só por tudo aquilo que se julga saber, mas porque um meu irmão mais velho embarcou para Angola em 62 e, ao que me lembro, fez toda a comissão com a Mauser.Haveria já na Guiné a G3?Talvez, não digo que não!

Abraço camarigo
Joaquim Mexia Alves

José Colaço

É bem possível haver aqui um desfasamento de um ano porque só em 1962 é que a FMBP - Fábrica Nacional de Braço de Prata conseguiu licença para fabricar a HK G3. A minha companhia quando chegou a Guiné em Dezembro de 1963 recebeu a G3. Mas lembro que só na última semana quando estávamos a aguardar embarque, é que apareceu por lá uma G3a cheirar a nova para treino. Toda a instrução tinha sido com a velha mauser.

Um alfa bravo. Colaço


(**) Vd. último poste desta série 28 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3374: Controvérsias (8): Cherno Rachide Djaló: um agente duplo ? (José Teixeira / Manuel Amaro / Torcato Mendonça)

(***) Vd. poste de 11 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2930: Bambadinca, 1963: Terror em Samba Silate e Poindom (Alberto Nascimento, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 84, 1961/63