Mostrar mensagens com a etiqueta COP 3. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta COP 3. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5300: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - I Parte (José Manuel Pechorrro)

1. Primeira parte de um trabalho relacionado com a actividade do PAIGC na zona de Guidaje em Abril/Maio de 1973, enviado pelo nosso camarada José Manuel Pechorro, ex- 1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19, Guidaje, 1971/73, em mensagem do dia 29 de Setembro de 2009:


O ASSÉDIO DO IN A GUIDAGE

De Abril a 09 de Maio de 1973

Parte I


A partir de Março 1973, o PAIGC na região fronteiriça no Senegal, Cumbamory, a cerca de 5kms, armazenava grande quantidade de diverso material bélico. Algum considerado de elevado nível, pensando-se que o seu destino seria o Oio, no interior da nossa Guiné.

De surpresa, a 03 de Abril (Terça-feira), a FAP cerca das 5 horas da madrugada bombardeou o Cumbamori, causando 5 mortos e vários feridos. Ouvimos e sentimos as explosões. O IN não chegou a utilizar os mísseis que dizia possuir na base. Os aviões passaram pertinho do nosso quartel, contra o vento e a baixa altitude, quase roçando as árvores.


O DIA DOS MÍSSEIS STRELA

Passados três dias, somos atacados em Guidage.
Levantei-me cedo, no dia 6 de Abril de 1973, uma Sexta-feira.
A manhã estava resplandecente, com o Sol a incidir já quente. Os pássaros faziam-se notar. Os lagartos esverdeados apareciam nos troncos das árvores. A população mostrava-se já activa.

As praças ao serviço do BENG 447, adidas à CCaç 19, laborando.
Os carpinteiros tinham iniciado a cobertura das casas com chapa de zinco na tabanca, ouvindo-se martelar. O serralheiro comandava o levantamento e colocação de um depósito em chapa de 5.000 a 10.000 litros, ao lado do motor-gerador, destinado a abastecer o quartel e a população de água.
Defronte da Secretaria, do lado da povoação, observava o esforço de quem trabalhava.

Obs: - O fornecedor da madeira para o reordenamento da tabanca era Carlos Vieira, irmão do guerrilheiro Nino Vieira. Com serração em Binta

Pelas 07,45 horas, o sobressalto! Soam com uma nitidez assustadora as armas automáticas do IN dentro do TN. Muito perto do arame, entre as árvores mais próximas e camuflados no capim, em terreno plano. De local inesperado, de fronte da caserna do 1.º Pelotão e da tabanca, do lado de Fajonquito.

Avistei mulheres e bajudas no carreiro, iam ou vinham da nascente, onde tomam banho e lavam a roupa na bolanha, fora do arame farpado. Muito próximas, atiraram com as trouxas ao chão e fugiram da zona perigosa.

Não recordo o sítio donde copiei esta foto. Com a devida vénia

Alcancei o Posto de Rádio, num raio, que tem defronte os bidons cheios de terra, sobrepostos. A porta estava fechada! Tive dificuldade em abri-la.
Todos reagindo em movimento louco para os abrigos e valas; saltam e deitam-se alguns ao chão, havendo quem choque entre si. Outros rastejam para detrás dos bidons e a parede, e das grossas árvores que estão em frente do edifício do Comando. Começam os rebentamentos dos RPG`s, os estilhaços e balas varrem.
Consegui entrar. Pediu-se apoio aéreo, directamente à BA12 em Bissalanca, mas os Fiat`s não apareceram. Mais tarde pensei que a acção se destinava a atraí-los!

O IN atacou do lado direito. Avista-se a caserna do 1.º Pelotão. Entre esta e o edifício do Comando, a Enfermaria.
Foto cedida pelo 1.º Cabo Radiotelegrafista Janeiro, alentejano.


A guarnição respondeu quase de imediato. Ouvem-se as nossas G3 e HK; dilagramas, morteiradas 60 e 81mm, caíram em cima deles. Os obuses 10,5 tentando atingi-los na fuga.
Durou 15 minutos. Retirou o IN não estimado, para Facã – Sambuiá, com cerca de 5 mortos e feridos graves, segundo informações recebidas, possivelmente para o acampamento de Uália, dentro do nosso território.
Voluntariosos, perto de 2 GCOMB, iniciaram uma perseguição imediata ao PAIGC, passando o arame. O nosso comandante Cap Mil Inf José Vicente Teodoro de Freitas sensatamente conteve os restantes.

Sofremos 3 feridos graves e 8 ligeiros. A população sofreu 1 ferido grave e 1 ligeiro. Tivemos sorte. A experiência dos 18 confrontos anteriores com o IN ajudou!
Um dos feridos graves foi o soldado do BENG José Crespo Silva, que se encontrava em cima do telhado de uma casa de chão térreo do reordenamento da população, na tabanca. Pediu-se a sua evacuação para o HM 241.

Ataque emotivo e o mais próximo do arame, de todos os que aconteceram com a CCaç 19.
Terá sido vingança?

Uma DO-27 pilotada pelo Fur PilAv João Manuel Baltazar da Silva, de Santa Isabel – Lisboa, partiu cedo de Bissalanca acompanhado do Alf Mil Médico, do COP 3, João Manuel Cantante Santos Silva, da Amadora e o nosso 1.º Sargento Sapador João Agostinho Gonçalves Oliveira Figueira. Vinham na avioneta do Sector que habitualmente nos visitava, todas as Sextas-feiras, para prestar assistência médica, no posto da enfermaria, aos militares, população de Guidage e Senegaleses que em grande número aqui se deslocam. Entregar também géneros frescos para a cozinha. Pelas 09,45h, deixaram de ter contacto via rádio com os aquartelamentos. Começando logo a temer-se o pior, que se tinha despenhado ou que teria sido alvejada.

Chega uma DO-27 que evacua o militar ferido do BENG 447 José Crespo Silva, para Bissau. Deu apoio a Enf Pára-quedista Giselda Antunes.

Os 2 GCOMB suspenderam a perseguição. Voltam com um civil nativo da povoação, ferido gravemente na coxa, ficou entre o IN e o nosso fogo. Foi encontrado na estrada entre os regos dos rodados das viaturas, onde tentou abrigar-se, atingido por estilhaço de uma das nossas granadas de óbus.

A Enfermeira Giselda voltou num segundo DO-27 que tentou chegar a Guidage, para evacuar o membro da população; no percurso foram alvejados por um missil Strela, que o não atingiu, mas os comandos do avião ficaram danificados pela acção da onda de choque e tiveram que aterrar de urgência em Bigene…

Para evacuar o civil ferido na coxa, outra DO-27 veio de Bissalanca, pilotada pelo Fur PilAv António Carvalho Ferreira, de Paços Ferreira, acompanhado pelo 1.º Cabo Enf Cóias da FAP; na base BA12 encontrava-se na altura de passagem o Maj Inf Jaime Frederico Mariz Alves Martins, natural da Amadora, nosso Cmdt do COP 3, que aproveitou a boleia a fim de visitar Guidage e se inteirar da situação. Pareceu-me um homem voluntarioso e satisfeito com a nossa actuação, do modo como respondemos ao IN. Animou o pessoal, deu-me um aperto de mão e umas leves palmadas nas costas.

Afirmou-se que ouviram o Maj Mariz ordenar ao piloto que iam observar a zona onde se teria despenhado a avioneta ou sido atingida. O Fur António Ferreira respondeu que era arriscado.
Descolaram, entrando no Senegal, fizeram meia-lua e voaram em direcção à mata de Sambuiá (?), em TN, e desapareceram. Nunca mais foram encontrados.

O Pessoal dirigiu-se apressado para o refeitório, ao iniciar a refeição, ouvimos um estrondo, obrigando alguns a tentar de imediato as valas ou os abrigos. Pensaram tratar-se de saída de peça de artilharia do IN, lado do Samoge ou de Sambuiá. Era cerca das 13,15 h.

Nota:
Ao Maj Mariz ouvi dizer, uma vez, em conversa com o nosso comandante que o nosso maior (Gen Spínola) se tinha encontrado secretamente, ali perto numa tabanca, com o Presidente Senghor, do Senegal, a fim de preparar contacto com Amílcar Cabral.

Amílcar Cabral, um tempo antes de ser assassinado, declarou em Cumbamori, devido às lamentações e cansaço da população apoiante do PAIGC, que estava farta de sofrer e cansada da guerra, que ia declarar a independência e, se as potências, não obrigassem Portugal a dá-la, e os portugueses não cedessem, ele entrava em negociações e acabava com a guerra! Pediu que aguentassem mais 1 ou 2 anos.

Uma esquadrilha de 2 FIAT`s G-91 realizou buscas, arriscadas.
Afirmaram que a nossa zona estava operacionalmente relaxada.
Foram também alvejados. Um míssil passou demasiado perto do avião que sentiu a onda de choque. O piloto ao observar a saída, segundo deu a perceber, puxou uma alavanca, levou o Fiat a cair e evitou o projéctil!
Escutando as conversas via rádio, mostraram calma, serenidade e sangue frio.

Veio depois um T6 e quando se preparava para actuar foi atingido, explodindo! Pilotado pelo Oficial de Operações do GO 1201 Maj PilAv Rolando Frederico Mantovanni Borges Filipe, de Socorro – Lisboa. Chegou até nós o estrondo. Apresentou-se na Unidade e voluntariou-se para efectuar a missão em que acabou por perder a vida.

Num só dia e na zona operacional de Guidage morrem dois Furriéis e um Major pilotos da FA; um Major do Cop 3; um Alferes Miliciano Médico; um 1.º Sargento; um 1.º cabo Enfermeiro e um civil nativo: 8 pessoas.
Juntam-se ao piloto do Fiat G-91 atingido na zona de Afiá, no sul, perto de Aldeia Formosa, onde perdeu a vida o Cmdt do GO 1201 Ten Cor PilAv José Fernando Almeida Brito, em 28/03/1973.
O aparecimento dos mísseis terra-ar vem condicionar a acção da nossa aviação nesta guerra de guerrilha na província da Guiné. Criou confusão na FA, quase a tornando inoperacional, notou-se durante alguns dias. Deixa de fazer evacuação de feridos e mortos nos locais mais arriscados.

Seguiram-se várias batidas diárias e exaustivas, efectuadas por todos os aquartelamentos e uma força operacional, a Companhia de Pára-quedistas, ida da BA 12.

A CCP (?)/BCP 12, ao procurar vestígios das aeronaves no solo, sofre forte emboscada, de 0,5 a 1 hora debaixo de fogo nutrido e é obrigada a retirar com um ferido grave, para Bigene. Esta deu-se em terreno plano, à beira de uma bolanha, suponho em Samoge, pelas 14 horas, no dia 09.4.1973. O combate notou-se perfeitamente em Guidage.
Fiquei impressionado com a personalidade do Comandante desta Operação, que dirigiu e apoiou, sitiado em Bigene, via rádio, a acção das NF.
No Posto de Rádio, sempre à escuta, acompanhámos as conversas entre os intervenientes.
Nestes dias, um Destacamento de Fuzileiros de Ganturé teve também um violento confronto e com os mesmos resultados, nesta mesma região, segundo me parece.

No dia seguinte e nesta zona, a referida CCP (a 121?), detectou restos do DO-27 do Sector. Encontrou carbonizados os corpos do Alf Mil médico João Silva, do 1.º Sarg Figueira e do Fur PilAv Baltazar da Silva, em tamanho reduzido.
Numa árvore estava pregada uma ordem de serviço, pertença da CCaç 19.

Até aqui, tenho passado as noites no dormitório dos operadores de Transmissões. Eu e o meu colega Op Cripto Hilário optámos pelo Centro Cripto para onde mudámos as camas com colchão de espuma. Debaixo da placa de cimento é mais seguro, porque as casernas dos 4 pelotões, o Centro de Cripto, o Posto de Trasmissões e a Enfermaria têm placa de betão.


AS NOTICIAS
Algo vai acontecer!


Continua a chegar material de guerra a Cumbamori.
O PAIGC está a retirar a população das regiões onde estão situadas as suas bases, mais 7 kms para o interior da nação vizinha.
Nos primeiros dias de Abril, 9 elementos do grupo do FAI SISSÉ, guerrilheiro combativo e dinâmico, desertaram para a Gâmbia. Motivo: medo das futuras acções contra Guidage, onde costumam ter quase sempre pesadas baixas e mortes.

Um informador de confiança insistiu para que pedíssemos o reforço da guarnição, com uma Companhia e usar de todas as precauções. Foi solicitado, mas não atendido.
Apareceram indivíduos com uma manada de 40 a 50 vacas, a pastar na zona da fronteira, rente à bolanha. Com tantos pastos, porquê ali? Certamente descobrir e accionar possíveis minas por nós plantadas. Cada animal tem 4 patas, aumentando a possibilidade de accionamento. Se alguma ficasse mutilada, o pior que acontecia era ser comprada e transportada pela nossa Companhia. Comprovaram não haver campos de minas.

Um senegalês apresentou-se em Guidage, acompanhado de um milícia das NT. O milícia tinha sido capturado no sul da província, foi levado para Cumbamori e dali para Ziguinchor, onde encontrou o tal sujeito (CONE SANE), rapaz novo e com bom aspecto. Os militares logo afirmaram que era turra. Assim como um refugiado, seu compatriota, que se encontrava havia alguns dias no reordenamento e que voltou para o Senegal. Ambos demonstraram conhecer-se. Percorreu o quartel. Chegou a comer no refeitório das praças, na sua maioria brancos. Presenciou e avaliou o ataque do dia 6 de Abril, examinando a nossa reacção. Entrou no perímetro defensivo do quartel e fingiu ajudar os soldados durante a luta. Foi logo afastado, não passando a sua atitude despercebida. Afirmava ser estudante e ter tido problemas no liceu, em Dakar. Depois de muito insistir foi-lhe passado passaporte para Bissau, via Farim, passando por Binta.

No dia 17 de Abril (Terça-feira), a coluna auto em que seguia, accionou 2 minas anti-pessoais, que causaram a morte ao 1.º Sarg AC, Octávio José Horta, da Secretaria, pertencente à CCaç 19 (CArt 3521), ex-comando em Angola no ano de 1961. Seguia o 1.º Sargento a pé, a corta mato, perto da estrada como precaução, pois tínhamos informação que estava minada. Ao detectarem a primeira todos ficaram imóveis, só o 1.º Sarg Horta se mexeu, num repente desloca-se, deita-se tentando levantá-la. Accionou uma segunda com o peito e, morreu! O estudante senegalês ao presenciar ficou indisposto. Em Farim, ao ser interrogado pela DGS, foi preso, depois de admitir ser agente do PAIGC.

O outro refugiado senegalês foi também detido no dia em que voltou a Guidage (ainda durante o cerco) e confessou ser militante IN. De observar que o Partido mandou dois especialistas e não confiou nas informações obtidas. Notou-se a infiltração na população senegalesa que nos visita de gente suspeita. Vêm em grande número a fim de comercializar, mas principalmente receber assistência médica que na realidade não existe em vastas zonas, do outro lado do território, situação agravada pela seca.

No dia 1.º de Maio (Terça-feira) pelas 18,15h, quando nos preparávamos para jantar, grupo IN não estimado, flagelou com morteiro 82 mm, sem consequências. Segundo fonte aceitável, os atacantes tiveram mortos e também feridos. A nossa reacção fora boa.

Individualidades de certa influência em Farim (homens grandes), especialmente entidades religiosas muçulmanas (Mandingas), reclamaram a substituição da CCaç 19, por uma metropolitana. Mandaram a população realizar colecta, pois Guidage iria passar uma grande provação.

Presenciei actos religiosos: Orações e cinza na cabeça dos jovens; matança de carneiros e deram a carne aos mais necessitados, a fim de Alá ter piedade deles.

Alguns soldados negros abordaram o comando, lamentando:

- Se não efectuarmos patrulhamentos à zona operacional da nossa Companhia, qualquer dia seremos agarrados à mão dentro de Guidage!

De facto, a partir de certa altura pouco saíamos, quase só para realizar colunas auto a Binta.
No dia seguinte aproximei-me de Malan Sissé, soldado da CCaç 19, filho de ex-Régulo Mandinga. A sua família foi maltratada pelo IN, e anda na guerra desde o início. Perguntei o que dizia da situação? Respondeu:

- Oh nosso cabo, os brancos já não querem lutar!

Mostrou preocupação no que se referia à sua família. Casado com 2 mulheres: uma em Binta ou Farim e outra em Guidage. Com um filho, pelo menos; este, na escola em Farim, mostrava inteligência e o pai pensava mandá-lo para a metrópole estudar.

(Ver Guiné 63/74 - P4751: Histórias do Jero (1): João Turé…)
Do sítio -
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

Que terá acontecido ao Malan Griffon Sissé e aos soldados da CCaç 19, depois da independência?

O roncar de motores de viaturas à noite, chamou a atenção dos militares, que se referiram a eles como sendo dos turras, dentro do TN. Começaram por se ouvir primeiro na tabanca, local mais silencioso, fora do alcance do barulho do gerador de energia eléctrica.
Ouviam-se rebentamentos de morteiro e canhão sem recuo, as NT não lançaram as granadas, só podiam ter sido os guerrilheiros. Confirmamos, perguntando aos outros quartéis. Devem fazer a regulação de tiro para o lado do CUFEU, a fim de melhorar o rendimento nas futuras acções contra as colunas auto ou movimentos portugueses.
Contrariando o habitual, batia-se a zona quase todos os dias com morteiro 81, explodindo as granadas nos sítios mais prováveis da presença do IN.

Como Operador Cripto notei que algo se iria passar, assim como o pessoal de Transmissões.
Os indícios de uma coisa grave, a Operação Amílcar Cabral do PAIGC

(Continua)
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 1 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5039: Tabanca Grande (176): José Manuel Pechorro, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19, Guidaje (1971/73)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3868: Tabanca Grande (115): Carlos Jorge Pereira, ex- Fur Mil Inf Op Inf (COP 6 e COP 3, 1972/74)

1. Mensagem de Carlos Jorge Pereira, ex-Fur Mil de Inf Op Inf, Guiné 1972/74, com data de 6 de Fevereiro de 2009:

Amigos:
Nome: Carlos Jorge Lopes Marques Pereira
Posto: Furriel Miliciano de Informações e Operações de Infantaria.
P.U. : Guiné 01Jun72 a 01Jun74
Local : Mansabá, Bigene e Guidaje.

Trabalhei inicialmente durante cerca de 3 meses no COP 6 até ser extinto.
Em seguida fui colocado no COP 3 em Bigene onde fiquei até ao final da comissão.

Trabalhei directamente sob as ordens dos Comandantes do Comando nomeadamente com:
Sr. Cap. Jaime Simões da Silva (Cmdt interino por morte do Maj. Mariz)
Sr. Major Jaime Frederico Mariz Alves Martins.
Sr. Coronel António Valadares Correia de Campos
Sr. Coronel Carlos Alberto Wahnon da Costa Campos

Coordenei o departamento de Informações criando uma rede de informadores locais e senegeleses.

No departamento de Operações planeava todas as operações do sector e coordenava, juntamente com o Comandante, as operações especiais.

Em 08 de Maio de 1973 fui juntamente com o Sr. Cor Correia de Campos para Guidaje na primeira coluna que consegui passar e o comando passou ser exercido no local.

Regressámos a Bigene na primeira coluna que consegui passar (08Abr) a fim de evacuarmos os feridos.

Tantas outras coisas teria para contar, mas fica para mais tarde.

Obrigado
Carlos Jorge

P.S. Peço desculpa mas não sei como se enviam fotos pelo computador.

Parada do aquartelamento de Mansabá

Foto: © José Mendonça (2009). Direitos reservados
Edição e legenda de CV



2. Comentário de CV:

Caro Carlos Jorge, como tu, chamo-me Carlos, estive em Mansabá e conheci bem o senhor Coronel Correia de Campos.

Bem-vindo ao nosso Blogue, teu a partir de agora, onde vais, concerteza, contar as peripécias vividas por ti naquela terra africana que nos marcou definitivamente.

Quanto às fotos da praxe, é pena que não tenhas ainda conhecimentos suficientes para as mandar, mas um dia destes vais aprender. A informática, no campo do utilizador, é muito fácil. Nós os mais velhotes é que complicamos um pouco.

Quando quiseres, começa a mandar as tuas histórias, que poderás escrever directamente no corpo da mensagem que nós cá trataremos de as editar e publicar.
Como diz o nosso Editor Luís Graça, não deixes que sejam os outros a contar aquilo que tu próprio sentiste e viveste.

O COP6 foi reactivado em Novembro de 1970, em Mansabá e, quando saí de lá (FEV72) para terminar a minha comissão de serviço uns dias depois em Bissau, ainda existia, se bem me lembro. Julgo que pouco tempo depois chegaste tu a Mansabá.

Durante algum tempo foi comandante do COP6, em Mansabá, o então Ten Cor Correia de Campos. Depois diz-me se estou certo.

Caro Carlos, estás apresentado, podes começar a trabalhar.
Recebe um abraço da Tertúlia.
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 10 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3863: Tabanca Grande (114): Libério Candeias Lopes, ex-2.º Sarg Mil Inf da CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2416: Unidades que passaram por Barro, na região do Cacheu (A. Marques Lopes)

Guiné > Região de Cacheu > Barro > CCAÇ 3 (1) > 1968 > O nosso camarada A. Marques Lopes, na altura Alf Mil da CCAÇ 3. O seu grupo de combate eram os Jagudis.

Guiné > Região do Cacheu > CCAÇ 3 > Barro > 1968> Espaldão do morteiro 81, guarnecido por dois jagudis, de etnia balanta.

Guiné > Região do Cacheu > CCAÇ 3 > Barro > 1968> Os jagudis emboscados

Guiné > Região do Cacheu > CCAÇ 3 > Barro > 1968> Uma equipa de futebol. O A. Marques Lopes é o terceiro, de pé, a contar do lado esquerdo.

Guiné > Região do Cacheu > CCAÇ 3 > Barro > 1968> Jagudis reparando a cerca de arame farpado.

Guiné > Região do Cacheu > CCAÇ 3 > Barro > 1968> Uma bulldozer da engenharia militar...



Guiné > Região do Cacheu > CCAÇ 3 > Barro > 1968> Uma aspecto da povoação de Barro, ao tempo em que lá esteve o Alf Mil A. Marques Lopes, nosso camarada, hoje coronel, DFA, na reforma.

Fotos: © A. Marques Lopes (2007). Direitos reservados.


1. Texto do A. Marques Lopes, ex- Alf Mil At Inf, CART 1690 (Geba) / CCAÇ 3 (Barro) (1968/69).


1ª Companhia de Caçadores

Início: anterior a 1 de Janeiro de 1961. Extinção: 1 de Abril de 1967 (passou a designar-se CCAÇ 3)

Síntese da Actividade Operacional

Era uma unidade da guarnição normal, com existência anterior a 1 de Janeiro de 1961 e foi constituída por quadros metropolitanos e praças indígenas do recrutamento local, estando enquadrada nas forças do CTIG então existentes.

Em 1 de Janeiro de 1961, estava colocada em Bissau, com um pelotão destacado em Nova Lamego, onde foi transitoriamente instalada, na totalidade, em 3 de Abril de 1961, com pelotões destacados em Sedengal e Cacheu e depois em S. Domingos. Após a reorganização do dispositivo de 23 de Agosto de 1961, foi substituída em Nova Lamego, por troca, pela 3ª CCAÇ, regressando a Bissau, tendo destacado efectivos para várias localidades da zona Oeste, nomeadamente em Ingoré, Enxalé, Susana, Mansabá e Bigene e também, na zona Sul, em Cabedú.

A partir de 1 de Julho de 1963, foi colocada em Farim, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 239, com pelotões destacados em S. Domingos e Ingoré e secções em Susana, Mansoa, Mansabá, Bigene e Barro, tendo depois ainda deslocado efectivos para Bissorã, Cuntima, Olossato, Binta, Guidage, Canjambari, Porto Gole e Enxalé, sucessivamente integrada no dispositivo e manobra dos batalhões que assumiram a responsabilidade do sector de Farim.

Em 27 de 0utubro de 1966, foi colocada em Barro, onde assumiu a responsabilidade do respectivo subsector, então criado na área do BCAÇ 1887 e transferido, em 3 de Novembro de 1966, para a zona de acção do BCAÇ 1894, mantendo, no entanto, dois pelotões destacados no anterior sector, em Binta e Canjambari, este último deslocado para Jumbembém, a partir de meados de Janeiro de 1967.

Em 1 de Abril de 1967, passou a designar-se CCAÇ 3.
_________________________

Companhia de Caçadores n.° 3

Divisa: "Amando e Defendendo Portugal"

Início: 1 de Abril de 1967 (por alteração da anterior designação de 1ª CCAÇ) (2)Extinção: 31 de Agosto de 1974

Síntese da Actividade Operacional

Em 1 de Abril de 1967, foi criada por alteração da anterior designação de 1ª CCAÇ. Era uma companhia da guarnição normal do CTIG, constituída por quadros metropolitanos e praças indígenas do recrutamento local.

Continuou instalada em Barro, mantendo-se então integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1894, com dois pelotões destacados em reforço do BCAÇ 1887 e estacionados em Binta e Jumbebém, este depois em Canjambari a partir de finais de Setembro de 1967. Ficou sucessivamente integrada no dispositivo manobra dos batalhões e comandos que assumiram a responsabilidade da zona de acção do subsector de Barro.

Após recolha dos pelotões instalados em Binta e Canjambari em 20 de Julho de 1968, destacou, em meados de Outubro de 1968, um pelotão para Guidage, tendo assumido, em 9 de Março de 1969, a responsabilidade do subsector de Guidaje por troca com a CART 2412 e destacando então dois pelotões para Binta, sendo especialmente orientada para a contrapenetração no corredor de Sambuiá, onde em 21 e 22 de Janeiro de 1969 tomou parte na Operação Grande Colheita, realizada pelo COP 3.

Em 22 de Fevereiro de 1972, rendida em Guidaje pela CCAÇ 19, assumiu a responsabilidade do subsector de Saliquinhedim, onde substituiu a CCAÇ 2753 e ficou integrada no dispositivo e manobra do COP 6 e depois do BART 3844.

Em 8 de Dezembro de 1972, foi substituída, transitoriamente, por forças da CART 3358 no subsector de Saliquinhedim e foi colocada em Bigene para onde se deslocou, por escalões, em 26 de Novembro de 1972 e 8 de Dezembro de 1972 e onde assumiu a responsabilidade do respectivo subsector em substituição da CCAÇ 4540/72, ficando então novamente integrada no dispositivo de contrapenetração no corredor de Sambuiá.

Em 31 de Agosto de 1974, as praças africanas tiveram passagem à disponibilidade e, após desactivação e entrega do aquartelamento de Bigene ao PAIGC, o restante pessoal recolheu a Bissau, tendo a subunidade sido extinta.
_________________________

Companhia de Caçadores n.° 91

Partida: Embarque em 27 de Abril de 1961; desembarque em 3 de Maio de 1961. Regresso: Embarque em 12 de Abril de 1963

Síntese da Actividade Operacional

Inicialmente, ficou colocada em Bissau, tendo destacado dois pelotões para Mansoa e Piche em 13 de Maio de 1961. Em 8 de Junho de 1961, foi transferida para Mansoa, sendo integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 239, a partir de 6 de Julho de 1961, tendo dois pelotões destacados em Piche e Bissorã.

De 23 de Agosto a 1 de Novembro de 1961, também na dependência do BCAÇ 239, foi deslocada para Farim, com os seus efectivos disseminados pelas localidades de Bissorã, Barro, Bigene e, por um curto período, em Cuntima, Jubembém e Mansabá. Em seguida, a sede da subunidade voltou a Mansoa, mantendo-se, entretanto, os destacamentos atrás referidos e orientando a sua actividade para a segurança e controlo das populações, com a missão de impedir a instalação do inimigo na área.

Em 10 de Abril de 1963, foi substituída em Mansoa pela CCAÇ 413, a fim de recolher a Bissau para efectuar o embarque de regresso.
_________________________

Batalhão de Caçadores n.° 239

Partida: Embarque em 28 de Junho de 1961; desembarque em 6 de Julho de 1961 Regresso: Embarque em 24 de Julho de 1963

Síntese da Actividade Operacional

Inicialmente constituiu apenas um comando reduzido, sendo-lhe atribuída a responsabilidade da zona Oeste, desde Varela ao meridiano de Cuntima e ate aos rios Mansoa e Geba. Em 8 de Maio de 1963, passou a comando completo, com a chegada dos respectivos elementos de recompletamento: 2.° comandante, CCS, Pelotão de Reconhecimento e Pelotão de Sapadores.

Desde logo instalado em Bula, assumiu a responsabilidade da referida zona de acção, comandando e coordenando a actividade das companhias estacionadas em Teixeira Pinto, Mansoa e Bula (esta a partir de 16 de Agosto de 1961, depois colocada em S Domingos em 12 de Janeiro de 1963) e dos pelotões atribuídos em reforço, cujos efectivos se encontravam disseminados por Ingoré, Bissora, Mansaba, S Domingos, Cuntima, Farim, Bigene, Barro, Cacheu, e sucessivamente, a partir de finais de Outubro de 1963 por Susana, Jumbembém, Varela, Caio. Em meados de Junho de 1963, foi, entretanto, instalada outra companhia, em Farim, com a consequente reformulação das respectivas zonas de acção.

Inicialmente, desenvolveu intensa actividade de patrulhamento, de reconhecimento e de contactos com as populações com vista à sua segurança e protecção, tendo coordenado ainda a acção das suas forças na reacção a primeira acção armada na Guiné, efectuada na noite 20/21 de Julho de 1961 em S. Domingos. A partir de Janeiro de 1963, a sua actividade incidiu na contrapenetraçao contra actos de terrorismo.

Em 20 de Julho de 1963, foi rendido pelo BCAÇ 507, para o qual transitaram os elementos recebidos no recompletamento para comando completo.
___________________________

Companhia de Caçadores n.° 413

Partida: Embarque em 3 de Abril de 163; desembarque em 9 de Abril de 1963. Regresso: Embarque em 29 de Abril de 1965.

Síntese da Actividade Operacional

Após o desembarque, substituiu a CCAÇ 91 em Mansoa, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 239 e depois do BCAÇ 507, e após remodelação do dispositivo, em 01Set63, na dependência do BCAÇ 512. Destacou efectivos para guarnecer, por períodos variáveis, diversas localidades da zona de acção até à chegada ou substituição por outras forças, nomeadamente em Mansabá, até 28 de Julho de 1963, em Barro e Bigene, até 1 de Agosto de 1963, em Enxalé e Porto Gole, de Agosto de 1963 a 8 de Dezembro de 1963 e em Farim, até 5 de Dezembro de 1963.

Em 19 de Janeiro de 1964, após a reunião dos seus efectivos em Mansoa, destacou um pelotão para reforço da guarnição de Olossato, onde se manteve até 20 de Abril de 1964. Actuou ainda em diversas operações realizadas nas regiões de Binar, Mores e Cutia, entre outras.

Em 1 de Julho de 1964, por rotação com a CART 564, foi transferida para o subsector de Nhacra, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 600, com vista a colaborar na segurança e protecção das instalações e das populações da área; desde essa altura, um pelotão passou a estar destacado em Encheia, até 13 de Abril de 1965, na dependência do BCAÇ 512 e depois do BART 645.

Em 28 de Abril de 1965, foi substituída no subsector de Nhacra pela CCAÇ 799, a fim de efectuar o embarque de regresso.
___________________________

Companhia de Caçadores n.° 461

Partida: Embarque em 14 de Julho de 1963; desembarque em 20 de Julho de 1963

Regresso: Embarque em 7 de Agosto de 1965

Síntese da Actividade Operacional

Em 28 de Julho de 1963, seguiu para Mansabá e assumiu a responsabilidade do respectivo subsector, então criado, com pelotões destacados em Olossato, até 26Dez63 e Cuntima, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 507 e após reformulação dos sectores, do BCAÇ 512.

Em 23 de Dezembro de 1963, substituída no subsector de Mansabá pela CCAÇ 594 e foi transferida para Bigene onde assumiu a responsabilidade do subsector, com um pelotão destacado em Barro, desde 21 de Dezembro de 1963 e mantendo o outro pelotão destacado em Cuntima, onde permaneceu até 23 de Julho de 1964, depois deslocado para Guidage, de 8 de Agosto de 1964 a 13 de Maio de 1965. A subunidade manteve-se na zona de acção do BCAÇ 512 e depois do BCAV 490.

Inicialmente, desenvolveu intensa actividade de reconhecimento, de patrulhamento e de contacto com as populações da área e executou algumas acções ofensivas contra elementos inimigos infiltrados na região de Mores. A partir de 2 de Março de 1964, mantendo a anterior actividade de patrulhamento e de contacto com as populações, passou também a realizar acções ofensivas e emboscadas na região de Bigene e Barro, com especial incidência na região de Sambuiá.

Em 28 de Maio de 1965, foi rendida no subsector de Bigene pela CCAÇ 762 e foi transferida para Bissau, onde foi integrada no dispositivo de segurança e protecção das instalações e das populações da área, em substituição da CCAÇ 787, tendo ficado integrado nos efectivos do BCAÇ 600 e depois do BCAÇ 513, até ao seu embarque de regresso. Entretanto, ainda, dois pelotões estiveram temporariamente deslocados em Bula, a partir de 13 de Junho de 1965, em períodos de 10 a 15 dias, em reforço do BCAV 790, com vista à realização de patrulhamentos e contactos com a população, na região de S. Vicente.
____________________________

Companhia de Caçadores n.° 508

Partida: Embarque em 14 de Julho de 1963; desembarque em 20 de Julho de 1963

Regresso: Embarque em 7 de Agosto de 1965

Síntese da Actividade Operacional

Em 1 de Agosto de 1963, assumiu a responsabilidade do subsector de Bissorã, então criado, com pelotões destacados em Barro, até 23 de Dezembro de 1963 e Bigene, até 26 de Dezembro de 1963, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 507 e, após remodelação dos sectores, no do BCAÇ 512. Em 26 de Dezembro de 1963, passou a ter um pelotão destacado em Olossato.

Em 4 de Setembro de 1964, já então na dependência do BART 645, e depois da chegada da CART 566, foi substituída no subsector de Bissorã pela CART 643, do antecedente ali colocada em reforço, tendo seguido para o sector de Bissau, a fim de se integrar no dispositivo de segurança e protecção das instalações e das populações da área, com um pelotão destacado em Quinhamel, ficando na dependência do BCAÇ 600.

Em 7 e 23 de Março de 1965, por troca com a CCAÇ 526, deslocou-se, por fracções, para Bambadinca, assumindo a responsabilidade do respectivo subsector, com pelotões destacados em Xime e Galomoro e ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 697. Em 16 de Abril de 1965 foi substituída pela CCAÇ 678 e foi deslocada para Xime, tendo assumido a responsabilidade do respectivo subsector, então criado, com pelotões destacados em Ponta do Inglês e Galomaro.

Em 6 de Agosto de 1965, após a chegada da CCAÇ 1439 para treino operacional, foi rendida no subsector de Xime por forças da CCAV 678 e recolheu imediatamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

A CCAÇ 1547 seguiu em 13 de Maio de 1966 para Fá Mandinga, a fim de efectuar instrução de adaptação operacional sob orientação do BCAÇ 1888, substituindo a CCAV 702 na função de intervenção e reserva daquele sector, tendo tomado parte em operações na região de Xitole e no baixo Corubal. De 27 de Maio de 1967 a 7 de Junho de 1966, foi entretanto deslocada, temporariamente, para Nova Lamego, em reforço do BCAÇ 1856, em virtude de um previsível agravamento da pressão inimiga neste sector, tendo efectuado acções na região de Pataque e outras.

Em 13 de Setembro de 1966, recolheu a Bissau , a fim de seguir para Bula, para realização de uma operação na região de Joi, sob dependência do BCAV 790.

Em 27 de Setembro de 1967, foi colocada em Bigene, tendo assumido a responsabilidade do respectivo subsector, com um pelotão destacado em Barro, em substituição a CCAÇ 762 e ficando então integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão.

Em 29 de Outubro de 1967 foi rendida no subsector de Bigene pela CART 1745 e seguiu para Bissau, a fim de substituir a CCAÇ 1497 a partir de 2 de Novembro de 1967 no dispositivo de segurança e protecção das instalações e das populações daquela área, sob dependência do BART 1904 e depois do BCAÇ 2834. Manteve-se em Bissau até ao embarque de regresso, tendo, entretanto, destacado um pelotão para Nhacra, em reforço da guarnição local.

A CCAÇ 1590 ficou colocada inicialmente em Bissau, como subunidade de intervenção e reserva do Comando-Chefe e foi prioritariamente atribuída em reforço do BCAÇ 1857, tendo-se deslocado para Mansoa a fim de actuar em diversas operações realizadas nas regiões de Date, Bará, Bissorã e Olossato, entre outras, de 23 de Agosto de 1966 a 1 de Setembro de 1966, de 19 de Setembro de 1966 a 10 de Outubro de 1966 e de 21 a 24 de Outubro de 1966.

Em 3 de Dezembro de 1966, foi integrada no dispositivo do seu batalhão instalando-se em Ingoré, com vista à realização de operações nos corredores de Canja e Sano e mantendo um pelotão destacado, ora em Barro, ora em S.Domingos, ora em Susana.

Após deslocamento para S. Domingos, desde 4 de Maio de 1967, para realização de acções de contrapenetração naquela área, com destaque para a operação Drambuie I, regressou a Ingoré, a fim de, em 13 de Julho de 1967, em substituição da CCAV 1482, assumir a responsabilidade do respectivo subsector, com um pelotão destacado em Sedengal.

Em 23 de Abril de 1968, foi rendida no subsector de Ingoré pela CCAÇ 1801 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.
___________________________

Companhia de Artilharia n.° 2412

Divisa: "Sempre Diferentes"

Partida: Embarque em 11 de Agosto de 1968; desembarque em 16 de Agosto de 1968

Regresso: Embarque em de 4 de Maio de 1970

Síntese da Actividade Operacional

Em 28 de Agosto de 1968, seguiu para Bigene, a fim de efectuar o treino operacional com a CART 1745, sob orientação do COP 3 e seguidamente actuar nesta zona de acção em operações realizadas nas regiões de Talicó e Farajanto, entre outras.

Em 14 de Outubro de 1968, rendendo a CART 1648, assumiu a responsabilidade do subsector de Binta, com um pelotão destacado em Guidage, ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 3. Em 17 de Outubro de 1968, a sede do subsector passou para Guidaje, ficando então com dois pelotões destacados em Binta, sendo a subunidade especialmente orientada para a contrapenetração no corredor de Sambuiá; a partir de 8 de Fevereiro de 1969, após troca de sectores, passou à dependência do BCAÇ 1932.

Em 9 de Março de 1969, por troca com a CCaç 3, assumiu a responsabilidade do subsector de Barro, ainda com um pelotão em Binta em reforço da guarnição local até finais de Abril, mantendo-se integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1932, mas agora orientada para a contrapenetração nos corredores de Canja e Sano; em 1 de Agosto de 1969, após novo reajustamento das zonas de acção dos sectores, passou à dependência do BCAV 2876 até 7 de Fevereiro de 1970, data em que o subsector de Barro foi incluído na zona de acção do COP 3.

Após deslocamento de dois pelotões para Bissau, em 17 de Abril de 1970, a fim de substituírem, transitoriamente, a CART 2411 no dispositivo de segurança e protecção das instalações e das populações da área, foi rendida no subsector de Barro pela CCAÇ 2725 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.
_________________________

Companhia de Caçadores n.° 2527

Divisa: "Nunca tão poucos valeram tanto"

Partida: Embarque em 24 de Maio de 1969; desembarque em 30 de Maio de 1969

Regresso: Embarque em 17 de Março de 1971

Síntese da Actividade Operacional

Seguiu imediatamente para Bigene, a fim de assumir a responsabilidade do referido subsector de Bigene, rendendo a CART 1745 em 2 de Junho de 1969 e ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1932 e depois do COP 3, com vista à realização de emboscadas no corredor de Samoge e de patrulhamentos nas regiões de Nenecó e Capai.

De acordo com a manobra e necessidades operacionais, destacou pelotões para reforço das guarnições de Guidaje, de 10 de Outubro de 1969 a 2 de Dezembro de 1069, de Barro, de 6 de Abril de 1970 a 10 de Maio de 1970, de Binta, de 13 a 30 de Abril de 1970 e novamente de Guidaje, de 3 de Julho de 1970 até finais de Out de 1970.

Em 3 de Março de 1971, foi rendida no subsector de Bigene pela CART 3329 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.
____________________________

Companhia de Caçadores n.° 2725

Partida: Embarque em 4 de Abril de 1970; desembarque em 11 de Abril de 1970

Regresso: Embarque em 26 de Fevereiro de 1972

Síntese da Actividade Operacional

Em 16 de Abril de 1970, instalou-se em Barro, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CART 2412. Em 27 de Abril de 1970, assumiu a responsabilidade do subsector de Barro, ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 3, com vista ao esforço de contrapenetração nas linhas de infiltração inimigas e a garantir a segurança e protecção dos itinerários e das populações da área.

Em 8 de Fevereiro de 1972, foi rendida no subsector de Barro pela CCAÇ 3519 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.
____________________________

Companhia de Caçadores n.° 3519

Divisa: "Lutamos pela Paz"

Partida: Embarque em 20 de Dezembro de 1971; desembarque em 24 de Dezembro de 1971

Regresso: Embarque em 28 de Março de 1974

Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO, de 27 de Dezembro de 1971 a 22 de Janeiro de 1971, no CMI, em Cumeré, seguiu em 23 de Janeiro de 1972 para Barro, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com CCAÇ 2725. Em 8 de Fevereiro de 1972, assumiu a responsabilidade do subsector de Barro, ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 3, com vista ao reforço de contrapenetração nas linhas de infiltração inimigas de Canja e Sano e a garantir a segurança e protecção dos itinerários e das populações.

Colaborou ainda em operações efectuadas fora da sua zona de acção, nomeadamente em acções de contrapenetração no corredor de Sambuiá e na região de Cossé. Em princípios de Fevereiro de 1974, destacou um pelotão para Bigene, em reforço da guarnição local.

Em 12 de Março de 1974, foi substituída no subsector de Barro pela CCAÇ 4942/72 e recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.
_______________________________

Companhia de Caçadores n.° 4942/72

Partida: Embarque em 27 de Dezembro de 1972; desembarque em 2 de Janeiro de 1973

Regresso: Embarque em 4 de Setembro de 1974

Síntese da Actividade Operacional

Após a realização da IAO, de 5 de Janeiro de 1973 a 1 de Fevereiro de 1973, no CMI, em Cumeré, seguiu em 2 de Fevereiro de 1973 para Mansoa, a fim de efectuar o treino operacional e depois reforçar o BCAÇ 4612/72, a partir de 19 de Fevereiro de 1973, com vista à protecção e segurança dos trabalhos da estrada Jugudul-Bambadinca, e onde se manteve até 23 de Março de 1973, após o que recolheu, temporariamente, a Bissau.

Em princípios de Abril de 73, seguiu para Cadique, na zona de acção do COP 4, a fim de tomar parte na operação Caminho Aberto, com vista à instalação de uma subunidade em Jemberém. Em 20 de Abril de 73, após o desembarque e ocupação daquela área, assumiu a responsabilidade do subsector de Jemberém,então criado, iniciando a construção do respectivo aquartelamento e ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 4 e depois do BCAÇ 4514/72, e ainda, após reformulação dos limites dos sectores, do COP 5.

Depois de ser substituída no subsector de Jemberém pela CCAÇ 4946/73, instalou-se em Barro, a partir de 23 de Fevereiro de 1974, a fim de efectuar a sobreposição e render a CCAÇ 3519. Em 12 de Março de 1974, assumiu a responsabilidade do respectivo subsector de Barro, ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 3 e depois do BART 6522/72 e ainda do BART 6521/74. Destacou ainda um pelotão para Bigene, em reforço da guarnição local.

Em finais de Agosto de 74, foi substituída por forças do BART 6521/74, tendo recolhido seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.
__________

Notas dos editores:

(1) Vd. post de 22 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1776: Convívios (9): CCAÇ 3 (Barro, Binta, Guidaje, 1967/74) (A. Marques Lopes)

(2) Esclarecimento do AML: O José Pereira (3) não esteve na CCAÇ 3 mas, sim na 3.ª CCAÇ, que foi, depois, CCAÇ 5, a partir de 1 de Abril de 1967... Isto é, 3.ª CCAÇ não é a mesma coisa que CCAÇ 3...

(3) Vd. post de 4 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2405: Tabanca Grande (49): José Pereira, ex-1º Cabo da 3ª CCAÇ e da CCAÇ 5 (Nova Lamego, Cabuca, Cheche e Canjadude, 1966/68)

sábado, 2 de julho de 2005

Guiné 63/74 - P91: Antologia (6): A batalha de Guileje e Gadamael (Afonso Sousa)

Texto de Afonso M. F. Sousa , ex-furriel miliciano de transmissões da CART 2412 (Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70)

A minha companhia fazia parte integrante do COP 3 (com sede em Bigene, onde fizemos o treino operacional entre 31/8/68 e 14/10/68; depois foi a partida para Binta e Guidage).

Entrámos em Guidage em 17/10/1968, a substituir a CART 1648. Mais tarde referirei os dados cronológicos respeitantes à minha CART 2412, que inclui também a sua permanência (até ao termo de missão) em Barro (que o sr. Coronel A. Marques Lopes bem conhece e aonde voltou em 1998).

Porque aqui se fala de COP 3, Guidage e Barro, achei interessante esta crónica, que vocês já conhecem, dos "relatórios secretos sobre a Guiné colonial".

Guidage tinha uma importância extrema tanto para nós como para o IN. Já tínhamos consciência disso quando lá entrámos. E aí está o que se veio a passar em 1973... com a ofensiva do PAIGC contra Guidage (no Norte)e Guileje e Gadamael (no Sul)... Os três G que, na opinião do historiador guineense, Leopoldo Amada, terão decidido "o final do império colonial"...

Publica-se a seguir um texto, do jornalista Serafim Lobato, em que se divulgam pela primeira vez os relatórios secretos sobre a batalha de Guileje e Gadamael, uma peça importante para a compreensão da história da guerra colonial e do seu fim. O texto esteve originalmente disponível no sítio do Publico.pt. Está também publicado no blogue História e Ciência > Relatórios secretos sobre a Guiné colonial. Algumas das noats, em parêntesis rectos, são da nossa responsabilidade (A.S., Afonso Sousa).
________________

"Estamos Cercados por Todos Os Lados"
Por SERAFIM LOBATO
Público. Domingo, 28 de Dezembro de 2003

As Forças Armadas portuguesas começaram, há 30 anos, a sofrer os primeiros efeitos visíveis de desagregação na Guiné-Bissau, quando quartéis de fronteira estiveram cercados em combates prolongados e alguns foram abandonados (definitiva ou temporariamente) por efeito directo de assédios bem sucedidos de unidades guerrilheiras do PAIGC. Pela primeira vez são divulgados relatórios que permitem reconstruir a batalha de Guileje e Gadamael, que antecedeu a saída de Spínola da Guiné e o reconhecimento deste país pela ONU.

No mês de Maio de 1973, a guerrilha guineense efectuou 220 acções militares em todo o território operacional da Guiné-Bissau e concentrou os seus esforços militares em quartéis de fronteira, visando, em primeiro lugar, a desmoralização dos soldados e, em paralelo ou posteriormente, a conquista territorial.

A 8 de Maio, o PAIGC lançou uma ofensiva concentrada de envergadura contra Guidage, unidade situada mesmo junto à linha de fronteira com o Senegal, fazendo parte de uma quadrícula militar de vários agrupamentos a norte do rio Cacheu que ia, a oeste, até Barro, sob um comando operacional único (COP 3) com sede em Bijene. Comportava unidades do Exército e da Marinha, estas estabelecidas na base fluvial de Ganturé [comandada por Alpoim Galvão; junto ao Rio Cacheu e em cujo ancoradouro se sai para ir para Bigene que fica a 2,8 Km para Norte. Nota de A.S.]

Na defesa de Guidage, o comando chefe da Guiné teve de enviar para a zona um conjunto elevado de grupos e destacamentos de tropas especiais, comandos, pára-quedistas e fuzileiros, bem como unidades de artilharia e mesmo de cavalaria. A guarnição local, quando começou o cerco, era constituída por uma companhia de Caçadores e por um pelotão de artilharia, equipado com obuses de 10,5 mm - logo, cerca de 200 homens.

Na operação de auxílio, reabastecimento e contra-ofensiva, que durou de 8 de Maio a 8 de Junho de 1973, estiveram envolvidos mais de mil homens (na maioria tropas especiais) das Forças Armadas portuguesas, em terra, mar e ar, conforme assinalam os coronéis Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, no seu livro Guerra Colonial.

As forças portuguesas tiveram 39 mortos e 122 feridos. Pelo menos seis viaturas militares de vários tipos foram destruídas e foram abatidos três aviões (um T6 e dois DO27). Só a unidade de Guidage contabilizou sete mortos e 30 feridos, todos militares. Nos cerca de 20 dias que ficou cercada, Guidage esteve sujeita a 43 ataques com foguetões de 122 m/m, artilharia e morteiros.

Todos os edifícios do quartel foram danificados. A unidade, que, no conjunto, teve mais mortos foi o Batalhão de Comandos: dez. Sofreu ainda 22 feridos, quase todos graves, e três desaparecidos.


Restrições ao apoio aéreo

A 18 de Maio, a sul, junto à raia com a Guiné-Conacri, verificou-se que havia uma concentração de forças guerrilheiras em redor de Guileje que apontava para uma tentativa de tomada do quartel.

Refere um relatório do comando chefe das Forças Armadas da Guiné (Repartição de Operações), assinada pelo seu chefe, tenente-coronel Pinto de Almeida, agora tornado público, que sintetiza a actividade do COP 5 (área militar que enquadrava Guileje) entre 18 de Maio e 21 Maio de 1973, que, no primeiro dia, "durante a execução duma coluna de reabastecimento, as NT [nossas tropas] foram fortemente emboscadas por duas vezes, a cerca de dois km de Guileje, tendo sofrido um morto (comandante do pelotão de milícias de Guileje), sete feridos graves (cinco milícias do Pel Mil Guileje) e quatro feridos ligeiros (um miliciano do Pel Mil Guileje). Por falta de evacuação aérea, um dos feridos graves (soldado metropolitano) faleceu quatro horas depois da emboscada".

A falta de movimentação aérea não resultava de qualquer contratempo momentâneo. Eis a confissão do próprio comando chefe: "A partir de 06Abr73, o apoio aéreo no TO [território operacional] da Guiné sofreu grandes limitações impostas pelo aparecimento de foguetes antiaéreos eficazes, utilizados pelo inimigo, pelo que, no que se refere ao COP 5, foi determinado, em 27Abr73, o cancelamento de evacuações a partir de Guileje e Gadamael. O apoio de fogos aéreos às forças terrestres sofreu também, a partir da mesma altura, fortes restrições". (Os mísseis terra-ar Strella foram utilizados, pela primeira vez, a 5 de Abril, tendo sido atingido um avião Fiat G 91, pilotado pelo tenente Pessoa).

O comandante do COP 5, major Coutinho e Lima, enviou mensagens a alertar para a gravidade da situação. Informou que "a não satisfação do pedido de apoio de fogos, (...) bem como a não execução das evacuações" tinha causado "mal-estar no pessoal".

Às 20h desse dia 18, o PAIGC "iniciou as flagelações a Guileje". Horas depois, às 02h20, o COP 5 solicita apoio urgente, pois estava debaixo de fogo contínuo. "Foi-lhe respondido em 19 00h30 - assinala o relatório do comando chefe - que a força aérea se encontrava totalmente empenhada noutra área do TO e que seria efectuado o apoio aéreo logo que possível."


Cercados

O major Coutinho e Lima pede para expor directamente o assunto ao general Spínola. Reticente, este aceita recebê-lo em Bissau ao fim da tarde do dia 20. "Não foi satisfeito o seu pedido de [apoio] de uma companhia, tendo-lhe sido determinado que regressasse ao COP 5, onde seria substituído no comando", acrescenta o relatório.

Coutinho Lima envia uma mensagem às companhias de Cacine, Gadamael e Guileje,
"preparando a sua ida de Cacine para Guileje".

"Em 21 07h40, a Companhia de Cavalaria 8350 [Guileje] respondeu [ser] impossível cumprir o determinado no que se referia à sua colaboração no transporte do major Coutinho Lima de Cacine para Guileje. Foi-lhe dito em 21 10h26 que o comandante da companhia seria responsabilizado pelo não cumprimento dessa ordem", pode ler-se no relatório do comando chefe.

Igualmente a Companhia de Gadamael se opõe a destacar homens para levar o comandante de COP5 para Guileje.

Às 14h15 do dia 21, é recebida, em Gadamael, a última mensagem de Guileje: "Estamos cercados de todos os lados." Seguiu-se o silenciamento das comunicações de e com o quartel. Às 05h30 do dia 22, Guileje foi evacuada.

Uma mensagem, enviada dois dias depois de Gadamael, informava que de Guileje não foi "recolhida qualquer viatura", e especificou: um camião Mercedes, quatro Berliet, três Unimog 404, 1 Unimog 411, 1 jipe, um veículo de cavalaria Fox, dois White, que teriam sido "destruídos parcialmente". Ficaram ainda no terreno, segundo a mensagem, três morteiros 81, um morteiro 10,7 cm, bem como duas bazucas de 8,9, dois morteiros de 60, três metralhadoras Breda e sete G3, que foram danificadas ou destruídas, mas sete pistolas-metralhadoras FBP ficaram para trás "não destruídas" e pelo menos quatro G3 desaparecidas.

Uma mensagem-relâmpago do comando chefe dirigida à Companhia 4734, com data do dia 22, ressaltava o seguinte: "Solicito que informe comandante CAOP 3, coronel Ferreira Durão, que sua excelência o general comandante-chefe determinou que seja retirado imediatamente do comando do COP5 o major de artilharia Alexandre da Costa Coutinho e Lima e mandado apresentar QG/CCFAG para efeito de auto de corpo de delito."

Entre 18 e 22 de Maio, Guileje foi bombardeada 36 vezes. Uma mensagem de 21 de Maio descreve que o interior do aquartelamento tinha sido atingido durante uma flagelação com 200 impactos de granadas, que causaram "grandes danos materiais". Indica, nomeadamente, que foram destruídos todas as antenas de transmissões, dois depósitos de géneros, o forno da cozinha, tabancas, celeiros, arroz da população, havendo abrigos atingidos e danificados, bem como a secretaria, depósitos de artigos da cantina. Impactos houve que acertaram mesmo em valas-abrigos.


"Pessoal fugiu para o mato"

Após a retirada das tropas portuguesas de Guileje para Gadamael, este quartel ficou com um dispositivo de duas companhias (Caçadores 4743 e Cavalaria 8350) e ainda dois grupos da Companhia de Caçadores 3520, um pelotão de canhões sem recuo com cinco peças, um pelotão de reconhecimento, com apenas um veículo com autometralhadora White, mais um pelotão de artilharia com cinco obuses de 14 e um pelotão de milícias. Um outro pelotão de milícias estava reduzido a uma secção.

Depois do afastamento do major Coutinho e Lima, assumiu o comando do COP 5 o capitão Ferreira da Silva.

Gadamael, entre o meio-dia de 31 de Maio e o fim da tarde de 2 de Junho, esteve debaixo de fogo de armas pesadas e ligeiras continuadamente, tendo sido referenciados disparos de morteiros de 120 m/m, canhões sem recuo e lança-granadas foguete, com um número de rebentamentos estimado "em cerca de 700", conforme mensagens enviados pelo COP 5 para o quartel-general em Bissau. Os soldados tiveram cinco mortos e 14 feridos e os prejuízos materiais foram avultados.

No dia 1 de Junho, a Companhia de Caçadores 3520, de Cacine, transmitiu a seguinte mensagem: "Informo Gadamael Porto destruído. Feridos e mortos confirmados. Pessoal daquele fugiu para o mato. Solicito providências e instruções concretas acerca procedimento desta."

De imediato, Bissau determinou que tropas pára-quedistas, que se encontravam em Cufar, seguissem para Gadamael.

Ao final do dia 1 de Junho, uma mensagem vinda de Gadamael referia que, apesar da debandada, um grupo de tropas ainda se mantinha no quartel, mas que "centro cripto tinha sido destruído". A mensagem especificava ainda que "aquartelamento estava parcialmente destruído", com transmissões "deficientes" e que a "rede de arame [farpado] fora destruída parcialmente" e terminava com um apelo lancinante:
"situação gravíssima".

A 2 de Junho, Bissau mandava mais uma companhia de pára-quedistas de reforço, juntamente com um pelotão de artilharia com obuses de 14 cm. O comando do COP 5 passou para o major pára-quedista Pessoa.

Entretanto, nesse dia, a companhia de Cacine mudava de comando, que era atribuído ao capitão Manuel Monge, e a lancha de fiscalização grande (LFG) Orion informava que meios navais recolhiam "militares e elementos da população refugiados no tarrafo, na região da confluência do rio Cacine com o rio Cachina, num total de 300 indivíduos (alguns feridos ligeiros)".


"Pessoal fortemente traumatizado"

Nos dias 3 e 4 de Junho, Gadamael esteve sujeita a flagelações continuadas (mais de 200 rebentamentos) do PAIGC, com morteiros de 120 e canhões sem recuo. As mensagens consultadas assinalam, pelos menos, a existência de seis mortos e oito feridos nesses dias e a perda de três espingardas G3 e um rádio AVP 1.

O capitão Manuel Monge, no dia 4, pede ao quartel-general a "presença imediata" em Cacine de "entidade desse, fim estudar situação Gadamael Porto".

O general Spínola responde-lhe que "o estudo da situação já tinha sido apresentado pelo coronel Durão e que eram impossíveis os contactos pessoais diários". Duas horas depois, uma nova mensagem de Monge ressalta que "situação Gadamael Porto agrava-se aceleradamente" e pede: "Contacto, fim capitão Monge expor a situação e parecer comandante de COP."

O capitão Manuel Monge seguiu para Bissau no dia seguinte, mas ao final do dia 4 uma mensagem do comandante do COP 5 enfatizava: "Situação em Gadamael Porto é insustentável." E solicitava autorização "para se efectuar retirada ordenada" nos meios navais existentes neste. "Ou então - frisava - a minha imediata substituição no comando do COP 5." No final, uma confissão: "Nem tenho conseguido encontrar soluções que me permitam prosseguir."

À meia-noite desse dia, o quartel-general respondia: "Enquanto não for substituído, continua cumprimento da sua missão de defesa a todo o custo, incutindo moral aos seus soldados."

Além de todo o Batalhão de Caçadores Pára-quedistas no terreno, estavam no local várias unidades da Marinha de Guerra e um grupo de assalto de fuzileiros africanos. O comando do Task Group 6 referia, em mensagem, no dia 5, que quatro botes do Destacamento de Fuzileiros Especiais 22, embarcações do Exército e meios das unidades navais tinham efectuado as evacuações de mortos e feridos e ainda de um "número incontrolável" de fugitivos (civis e militares) encontrados à entrada do rio para Gadamael.

"Pessoal encontrado fortemente traumatizado psicologicamente devido situação alarmante Gadamael", terminava a mensagem.

Nesse dia, o comandante do COP 4, tenente-coronel Araújo e Sá, assumiu o comando do COP 5, ficando o major Pessoa como adjunto.

As unidades militares portuguesas sofreram, neste assédio a Gadamael, 24 mortos e 147 feridos.


Spínola deixa Bissau

O general António de Spínola, que assumira, em 1968, os cargos de governador e comandante-chefe das Forças Armadas portuguesas na Guiné-Bissau, com o objectivo de evitar que o "processo subversivo" guineense se alastrasse e contaminasse, numa "atitude irreversível", as situações em Angola e Moçambique, abandonou aquelas funções em 8 de Agosto de 1973, com a Guiné-Bissau, reconhecida pela ONU em Novembro. Foi substituído a 25 de Agosto pelo general Bettencourt Rodrigues.

No TO da Guiné, o efectivo castrense português atingia os 42 mil homens e o PAIGC enquadrava, segundo os serviços de informação militar, sete mil guerrilheiros.

A 21 de Agosto, um grupo de oficiais reuniu-se em Bissau para aprovar uma exposição contestando um decreto-lei publicado a 13, relativo à carreira de oficiais do Exército.

Cerca de três semanas depois, a 9 de Setembro, começou, em Évora, com uma reunião o Movimento dos Capitães, e o PAIGC, a 21 desse mês, proclamava unilateralmente a independência em Madina de Boé, região abandonada pelas Forças Armadas portuguesas desde Fevereiro de 1969.

O Movimento de Capitães reúne-se em Lisboa a 6 de Outubro e ali se coloca, pela primeira vez, a hipótese de usar a força para derrubar o regime de Marcelo Caetano.

Este está em crise no mês de Novembro e realiza uma remodelação ministerial - substitui o general Sá Viana Rebelo pelo académico Silva Cunha no Ministério da Defesa Nacional, assumindo Baltazar Rebelo de Sousa o departamento governamental do Ultramar - procurando esfriar a agitação entre a baixa oficialagem.

Mas a crise castrense está incontrolável: a 5 de Dezembro realiza-se, na Costa da Caparica, a primeira reunião da Comissão Coordenadora do Movimento dos Capitães, eleita em Óbidos, onde é escolhida a sua direcção executiva: Vasco Lourenço, Otelo Saraiva de Carvalho e Vítor Alves. O golpe de Estado que veio a culminar em 25 de Abril de 1974 estava em marcha.

segunda-feira, 13 de junho de 2005

Guiné 63/74 - P55: Notícias do Cacheu (1)

1. Tertúlia de ex-combatentes da Guiné, que até agora só inclui malta de 1967 a 1974... Mas a guerra começou bem antes: Janeiro de 1963, oficialmente. De qualquer modo, actualizem, por favor, a vossa base de dados:


Afonso M.F. Sousa (Maceda, Ovar)

- Ex-furriel miliciano, de transmissões, da CART 2412 (Agosto de 1968 / Maio de 1970);
- Esteve em Bigene, Binta, Guidage e Barro.

Um pelotão da CCAÇ 3 (onde também esteve, em 1968, o nosso camarada A. Marques Lopes) reforçou a CART 2412, quando esta se instalou em Guidage. Esse pelotão era comandado pelo Alferes Gonçalves.

Esta CART 2412 integrava-se no COP3 (comando do Major Correia de Campos, em Bigene).

O COP 3 constituia uma quadrícula militar de vários agrupamentos a norte do rio Cacheu, entre Barro, a Oeste, e Guidage (Farim), a Nordeste. Comportava unidades do Exército e da Marinha, estas estabelecidas na base fluvial de Ganturé (Fuzileiros navais, sob o comando de Alpoim Calvão), junto ao Rio Cacheu, cujo ancoradouro dá saída para Bigene (2,8 Km, para Norte).

O COP 3 tinha por missão fundamental a eliminação ou amputação dos corredores entre a faixa fronteiriça do Senegal e as densas (e quase impenetráveis) matas do Óio, em cujo coração se situava a base do PAIGC, de Morés.

Afonso M. F. Sousa

2. Correspondência entre o Afonso M.F. Soua e o A. Marques Lopes:

8 de Junho de 2005:

Caríssimo Coronel A Marques Lopes: Foi por uma lista na Net que localizei o Alferes Gonçalves. Como se referia à CCAÇ 3, contactei-o telefonicamente, para lhe perguntar se conhecia Guidage.

Surpreendentemente a resposta dele foi esta: acompanhei a vossa companhia (CART 2412) no trajecto Binta-Guidage, quando vocês se deslocaram para lá pela primeira vez. Comandava um pelotão da CCAÇ3 que ficou em Guidage como reforço da vossa CART.

Eu (talvez pelos 37 anos que decorreram ?!) não estou a ver a cara dele, mas o facto é que ele e eu estivemos na mesma coluna, rumo a Guidage (1968). Ainda fomos surpreendidos a pouco mais do meio do trajecto, no sítio do Cufeu, por tiros sentidos na floresta de uma e da outra banda do caminho.

Ele sabe da história da perda do nosso comandante (o Capitão Miliciano António Dias Lopes), logo nos primeiros dias, naquela terra de fronteira com o Senegal. Logo no início aterrou lá de surpresa o Spínola. Depois da rápida formatura na exígua parada, saíram-lhe estas palavras dirigidas ao capitão: "O senhor é indigno de estar à frente destes militares...o senhor prepare-se e vai já comigo para Bissau"

Viria a ser castigado com despromoção (tenente) e eventualmente com outras consequências que não conheci. Isto resultou do envio, por um soldado, de um aerograma para o General Spínola, queixando-se que estavam a passar fome, visto que o capitão se esquecera de solicitar o reabastecimento. O que valia eram as minúsculas galinhas que comprávamos na tabanca.

Por acaso ainda me lembro que, após o destroçar, de forma menos formal o General Spínola me perguntou:
- Meu militar, precisa alguma coisa para transmissões ?
Ao que eu lhe respondi:
- Precisamos de substituir a antena, meu General.
Passados uns dias essa antena lá apareceu.

2. Resposta do A. Marques Lopes, na mesmam data:

Amigo Afonso Sousa: Já deve ser a não sei quantas vezes que digo isto, mas vou voltar a repetir: é mesmo muito pequenino este nosso mundo (e há-de ser mais pequeno cada vez que um de nós morrer).

Através do contacto que me deste, falei com o Alferes Gonçalves e conheci-lhe logo a voz: é mesmo esse que esteve comigo em Barro. Contou-me que o General Spinola, em certa altura, decidiu que os metropolitanos deveriam estar dois anos na CCAÇ 3, como nas outras companhias. Foi o que sucedeu com ele, que tinha vindo da metrópole directamente para lá.

Diz que vem frequentemente ao Porto e combinámos já um encontro. Falou-me de outros que eu também lá conheci e que tinham feito um encontro no dia 28 de Maio passado!!... Cheguei à conclusão que tenho de ver os programas de chacha da televisão: é que deram notícia num deles, em rodapé, da realização desse encontro.

Falou-me [também] do furriel Folha, que eu bem conheci, e que mora em Matosinhos, afinal perto de mim. Vou-me encontrar com ele na segunda-feira próxima. E o Folha disse-me que há vários soldados da CCAÇ 3 que estão em Portugal! Fantástico!!! Obrigado, grande amigo, por me encontrares esta ponta que já tinha perdido!

Quanto a Barro, é como dizes: há todos esses edifícios, mas uns destruídos e outros abandonados. Só de um deles saíu um indivíduo vestido à ocidental e que se juntou a mim e ao meu acompanhante, quando lá estive em 1998. Era um funcionário governamental. Deu-me ideia que esse foi aproveitado, creio que era o da secretaria, os outros não só não tinham sido aproveitados como a população de Barro continuava nas suas moranças, deles afastada.

Infelizmente, caro amigo, constatei com pesar que a população de Barro vivia muito pior do que quando lá estava a CCAÇ 3. Retrocesso, portanto. Se calhar, fizeram manga de ronco quando o Ansumane Mané se rebelou... E agora? Estarão diferentes? Continuo a pensar que não, infelizmente.

Quanto ao Cacuto , a conversa era simples:
- Cacuto, com qual vais dormir esta noite?... Então e as outras, como é que é?...

Tu e os outros camaradas acabem com o coronel. Óscar Kilo? Não faz sentido.
Um abraço. A. Marques Lopes

4. Nova mensagem do Afonso Sousa, a quem agradeço por nos trazer mais um amigo e camarada para a nossa tertúlia, o ex- Alferes Miliciano Gonçalves, da CCAÇ 3 (telefone nº 259 326 426, telemóvel > 914 200 318):

9 de Junho de 2005:

Caro amigo António M. Lopes: O Alferes Gonçalves não tem ligação por e-mail, mas ficou de me ligar para nos fornecer o endereço de e-mail de um sobrinho, que nos servirá transitoriamente.

Podemos servir-nos da sua frescura de memória para recolhermos alguns relatos e testemunhos da sua permanência naquelas paragens difíceis de Guidage (tabanca isolada, no risco de fronteira com o Senegal).