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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15428: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (39): 'Colon' e 'retornado'... É difícil de transmitir o que se passou e se sentiu... Os estudiosos metem os pés pelas mãos quando abrem boca.

Antº Rosinha, no nosso II Encontro
Nacional, Pombal, 2007.
Foto de LG


Dois comentários recentes do Antº Rosinha que merecem figurar em poste, na sua série "Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha)" (*)

[Foto à direita, o Antº Rosinha , ex-fur mil em Angola, 1961/62, topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979/93, ex-colon e retornado, como ele gosta de dizer com a sabedoria, bonomia e o sentido de humor de quem tem várias vidas para contar ...]:


(i) Talvez se vá falar de coisas interessantes, mas não acredito que pessoas da minha idade ou mais velhas vão visitar e frequentar aquele lugar e seus discursos. (**)

Ainda há gente da minha idade e mais novos que ainda hoje escondem que são (foram) RETORNADOS.

Eu, como tive oportunidade e uma idade de poder reagir e «sobreviver», considero-me privilegiado, por ter passado por essa experiência riquíssima, sobre qualquer perspectiva que se queira olhar.

Há Retornados que passaram muito pouco tempo, nem se querem considerar como Retornados e têm alguma razão.

Mas os que passámos demorada e intensamente aquele ambiente africano, só entre nós é que nos entendemos e é difícil de transmitir o que se passou e sentiu.

Mesmo os estudiosos metem os pés pelas mãos quando abrem boca.

Parece que se vai falar entre outras coisas de uma coisa,  que poucos acertam e só dão uma no cravo outra na ferradura,  que é aquela velha do lusotropicalismo.

Só mesmo eles que passaram por esse fenómeno, é que poderiam falar, mas também como os Retornados, só entre eles é que se entendem.

Mas é bom que se fale ainda durante mais alguns anos, principalmente agora na «época» dos «refugiados», mas que não se misturem as coisas e que o termo RETORNADO faça parte da nossa História.

(ii) Eu fui para Angola com carta de chamada,  paguei 3500 escudos num porão de um navio,  podia considerar-me  emigrante. (***)

Mas como me integrei na Administração colonial, embora como técnico, andei a fazer mapas iguais a esses do blogue, que faziam parte do programa e dos acordos coloniais europeus, mapear todas as colónias, o que era eu? não passaria de um mero colaborador directo do colonialismo.

Em 1961 meteram-me uma farda e uma arma na mão para defender a política colonial, o que era? era um colonialista.

Outros a quem o Estado forneciam meios e passagens para irem cultivar terras e criar animais eram aqueles a quem os Amílcar Cabrais e os Agostinhos Netos chamavam os colonos.

Este pessoal que se integrava, agricultor, pequeno comerciante retalhista era, para os indigenas o verdadeiro colono.

Estive na Guiné na Tecnil e pelo Banco Mundial, chamavam-me Cooperante a mim e a toda a gente das ONG da ONU, Banco Mundial e CEE etc.

Mas os guineenses mal souberam na Tecnil, sabem tudo sobre quem chega, que tinha feito a vida em Angola, espalharam logo que eu era colon.

Aliás, isso era o melhor certificado para me sentir em casa, por incrível que pareça a muita gente.

Assim como aqueles que foram militares na Guiné e fossem reconhecidos, eram logo "assimilados"

Estive 5 anos no Brasil, era emigrante, ou estrangeiro residente.

Luís, fundamentalmente, para os turras, movimentos anti-coloniais, os africanos em geral, a Administração colonial e os militares em geral é que eram considerados os verdadeiros colonialistas.

Quando Amílcar Cabral lançava aquela boca de que a luta não era contra os portugueses, referia-se exactamente aos brancos "colonos".

Originalmente o termo "tuga" era exclusivo para os militares na Guiné. depois nós mesmos é que fomos universalizando, mais propriamente nós aqui.

Amilcar e o PAIGC e o MPLA de que ele é fundador também, quando diziam que a luta não era contra os portugueses, referiam-se aos portugueses colonos, radicados, brancos naturais, enfim os"progenitores" da maioria daqueles dirigentes.

Agora podemos olhar para dois casos africanos antagónicos, UPA e MPLA, Mandela e Mugabe.

Claro que isto dá pano para mangas, pois que tudo acabou tão mal, mas tão mal, que os conceitos hoje precisam já de outros dicionários diferentes daqueles da guerra fria e do tempo de Norton de Matos.

As empresas tipo CUF e outras como a Diamang, substituídas pela China, América e Brasil na Nigéria, e em Angola...e mesmo a GALP, qual Pintosinho, Luís Graça!

Eu até coro!


_______________

Notas do editor:


(*) Último poste da série > 8 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14985: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (38): é possível barrar a emigração a muitos milhões de jovens africanos sem perspectiva de vida? Nem Luís Cabral conseguiu fechar as entradas na Praça de Bissau...

(**) Vd. poste de 29 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15423: Agenda cultural (439): Exposição comemorativa dos 40 anos do retorno de centenas de milhares de portugueses à antiga metrópole, na sequência da descolonização: "Retornar - Traços da Memória", Lisboa, de 4/11/2015 a 14/2/2016

sábado, 8 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P14985: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (38): é possível barrar a emigração a muitos milhões de jovens africanos sem perspectiva de vida? Nem Luís Cabral conseguiu fechar as entradas na Praça de Bissau...

1. Mensagem do Antº Rosinha:

[Foto à direita, o Antº Rosinha , ex-fur mil em Angola, 1961/62, topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979/93, ex-colon e retornado, como ele gosta de dizer com a sabedoria, bonomia e o sentido de humor de quem tem várias vidas para contar ...]:

Data: 3 de agosto de 2015 às 19:46


Assunto: É possível barrar a emigração a muitos milhões de jovens Africanos sem perspectiva de vida? Nem Luís Cabral conseguiu fechar as entradas na Praça de Bissau.


Como é possível fechar a Europa aos jovens de toda a África, se não foi possível fechar as entradas de jovens de toda a Guiné-Bissau dentro de Bissau que é uma ilha?

Em 1980 eram tantos milhares de jovens na cidade de Bissau, vagabundeando na Praça, que Luís Cabral tentou fechar na Chapa Bissau, na estrada de Antula e na estrada que vinha de Bor, com polícias e camiões para recolher, registar os sem emprego e recambiá-los para as suas tabancas.

Eu já escrevi isto, mas agora serve para comparar exactamente tudo, mas tudo mesmo, aquilo que se passa hoje com toda, mas toda mesmo, a juventude africana, com aquilo que se passava nos anos a seguir à independência da Guiné para as mãos do PAIGC.

Isto é, toda a juventude Bissau-guineense, viu a demora em aparecerem os resultados prometidos e apregoados pelo Regime e pelos heróis da Independência e o instinto de defesa muito presente no povo africano não demorou, de uma maneira passiva, mas bem vincada, manifestou-se com uma autêntica invasão maciça da capital, vagabundeando o dia inteiro pela praça, sem qualquer preparação, sem discursos e sem armas, apenas com a sua presença, sempre em movimento, e isto diariamente até que o governo reagiu.

Luís Cabral, reagiu e caíu.

Mas já em 1980, milhares de guineenses sabiam que era preciso "fugir" mesmo da cidade de Bissau porque tal como hoje assistimos, todas as capitais africanas ficaram literalmente inabitáveis.

Não havia perspectiva de uma independência africana à «maneira europeia» sem se ter feito uma colonização europeia real em toda a África Subsariana.

Como tal aquela áfrica vai recorrer à colonização selvagem de árabes e de chineses.

A Europa vai pagar tudo com juros suportando as reclamações dos jovens africanos, pois é apenas a reclamar, aquilo que os africanos estão a fazer em Calais e no Mediterrâneo e em Ceuta.

Em Portugal há muitas reclamações há muitos anos, principalmente na freguesia de São Sebastião da Pedreira.

O primeiro ministro inglês e o presidente francês, estão na situação em que Luís Cabral estava em 1980, sem saber o que fazer com tantos «pretos».

Mas que porra, quem diria?

Havia pessoas que tinham a razão do seu lado, mas não tinham a força das armas.

Seria pior? Seria melhor? Pelo menos seria diferente.

Cumprimentos

Antº Rosinha
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Nota do editor:

Último poste da série > 7 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14583: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (37): Sempre houve emigrantes europeus para África, agora dá-se o inverso

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14202: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (36): Fazendo votos para que o tchon Manjaco, o tchon Fula, o tchon Pepel e o tchon do Largo São Domingos se entendam sempre como nestes últimos 40 anos.



Lisboa, Festival Todos - Caminhada de Culturas, 11 de Setembro de 2011... Largo de São Domingos > Monumento "Lisboa, cidade da tolerância", lema de Lisboa para o mundo, escrito em 34 línguas... Memorial, inaugurado em 2008, às vítimas judaicas do massacre de Lisboa de 19 de Abril de 1506... O Largo de São Domingos é, na baixa lisboeta,  um dos locais de encontro preferidos de muitos dos nossos antigos camaradas guineenses (fulas, manjacos, papeis, mandingas...) que se fixaram em Portugal, depois da independência da Guiné-Bissau

Foto e legenda: © Luís Graça / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2011). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do nosso "mais velho" Antº Rosinha [ex-fur mil em Angola, 1961/62, topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979/93, ex-colon e retornado, como ele gosta de dizer com a sabedoria, bonomia e o sentido de humor de quem tem vidas para contar ...]:


Data: 18 de janeiro de 2015 às 18:59

Assunto: Colonizações, Descolonizações e Emigrações-Os muçulmanos do General De Gaulle e os do General Spínola)


Como espero que não melindre demais e dentro de certa "liberdade de expressão", como agora está na moda este termo, publica se entenderes, Luis Graça,  e cumprimentos para todos.

Luis Graça,  podes considerar impróprio, mas oportuno penso que é,  este assunto dentro de uma "guerra colonial", que é daquilo que de certa maneira  se trata hoje em plena Europa ex- colonial, com aquelas confusões francesas.

Não sei se é verdade ou mentira, mas quando foi da independência de Argélia, falava-se em Luanda por entre a censura de Salazar, que o gen De Gaulle teria dito, naquela euforia dos argelinos, que "ainda vão sentir muito a nossa falta".

Mas, verdade ou mentira De Gaulle ter dito tal coisa,  foram milhões de argelinos que não passaram sem aquela vivência e tranquilidade francesa e refugiaram-se lá [, na França].

E naquela altura, quem vivia como eu, futuro retornado, em Luanda,  sabíamos que ia ser mais ou menos o que se passou e passa, só que não sabíamos que ia ser tão grave para os europeus e africanos. (Na Argélia, foram genocídios tribais sem conta,)

E agora vamos, embora numa dimensão pequeníssima, à emigração dos nossos  "spinolistas"  guineenses.

Então é assim:

Os Guineenses em Lisboa fizeram do  Largo de São Domingos um simpático ponto de encontro e, como a maioria são ou eram inicialmente fulas de tendência muçulmana, superam em muito as  meia dúzia de idosas cristãs que frequentam aquela velha igreja desse Largo de São Domingos.

Penso que aquela igreja passava a ter mais frequência de muçulmanos como mesquita do que hoje com meia dúzia de idosas cristãs. E quem discordava de aquela igreja virar mesquita se os muçulmanos não lançassem a moda dos véus e burkas das bajudas?

E quem levava a mal, se os muçulmanos não proibissem as bajudas de entrar nas marchas de Santo António de Lisboa em Junho?

Também ninguém condenava coisas desses africanos, nossos amigos, e alguns antigos companheiros de tropa, se não trouxessem hábitos normais na terra deles, mas muito estranhos em Lisboa, tais como a excisão feminina.

E, desde que os muçulmanos de Lisboa condenassem ou pelo menos não adoptassem burkas nas mulheres e excisões nas bajudas, e não proibissem as esposas se estas quisessem  entrar nas marchas de Santo António,  talvez  muitos  portugueses e guineenses lisboetas que não são ateus,  se entendessem religiosamente.

Sem dúvida que a Europa tem que pregar aquele ditado que diz que "Em Roma sê Romano". Mas a Europa, que não considera os íberos europeus de corpo inteiro, dá muitos tiros nos pés, por tradição.

E um  dos piores tiros que deu nos pés, depois das 3 Grandes Guerra perdidas, a 1ª a 2ª e a Guerra Fria, foi as independências (abandonos de milhões de povos africanos totalmente impreparados para se autogovernarem fora das tradições milenares em que viveram sempre).

E os Americanos, Russos e Suecos, com a «dignidade abolicionista»  da Guerra Fria,  tiveram muitas culpas na desgraça dos africanos que atravessam a nado o Mediterrâneo e invadem a Europa aos milhares onde se inserem muitos lobos (terroristas) no meio dos cordeiros.

Quem diria que um dia assistiríamos a um tipo de guerra tribal em plena Paris! Na Nigéria e no Niger já se passa coisa idêntica.

E como estamos no blogue da Guiné, fazemos votos que, como até aqui, que o Tchon Manjaco e o Tchon Fula e o Tchon do Largo São Domingos e o Tchon Pepel se entendam sempre como estes últimos 40 anos.

Antº Rosinha

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sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13856 Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (35): O Manuel Simões, de Judgudul, e os Africanistas à portuguesa... Ser africanista é um estado de espírito, e não precisa de andar com "os pretinhos ao colo".

1. Mensagem de Antº Rosinha (o único grã-tabanqueiro que tem direito a abreviatura do nome, Antº, é um traço de distinção por, à boa maneira africana, ele um dos nossos "mais velhos", quer dizer, com mais experiência, mundo e sabedoria; na nossa Tabanca Grande, respeitam-se os mais velhos, mesmo quando aqui e ali podemos discordar das suas opiniões e conselhos; pessoalmente, é um camarada por quem nutro afeto e respeito, embora só o tenha encontrado uma vez, no II Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Pombal, em 2007) [, foto à esquerda, tirada por LG]



Data: 5 de Novembro de 2014 às 14:24
Assunto: Manuel Simões de Judgudul e os Africanistas à portuguesa (*)


Amigo Luís Graça, sobre o poste em referência [P13821] (*)  penso que devo um pequeno  esclarecimento.

Em primeiro lugar, queria dizer que as dúvidas quanto à construção da estrada Jugudul- Bambadinca, actual, não é do tempo colonial, é de 1982/3, com uma empresa, lembro-me que seria  francesa, com financiamentos habituais daquele tempo, Banco Mundial, Árabes, CEE,  etc.

Sobre o que o Luís Graça comenta sobre a minha «boca» ao chamar " africanista à portuguesa" a Manuel Simões, que representa a imagem de muitos milhares que durante séculos embarcaram para África e esqueceram  a terra deles ou dos pais e avós, penso com toda a sinceridade que não há palavra mais apropriada para eles do que chamar-lhe «africanistas».

Há aquela ideia dos exploradores ingleses, portugueses como Serpa Pinto ou Cecil Rodes, (Brancos) enviados como estudiosos para o  interior de África, ou militares para expandir fronteiras, e regressavam às metrópoles com a imagem,  aquela imagem vestidos à safari, caqui e capacete de cortiça, atribuindo-se a eles  vagamente essa palavra «africanistas».

Também a missionários ou estudiosos (brancos) de línguas e costumes africanos também se lhes atribui o nome de africanistas.

Porque não se deveria ter chamado a estes geógrafos uns, geólogos outros, missionários que estudavam dialectos, simplesmente, chamarem-se «africanólogos»?

Também  serão africanistas aqueles funcionários que fazem comissões atraz de comissões em África, através de ONG e ONU, ajudando "aquele pobre povo", como dizem,  comovidos, que os colonialistas exploraram.

(E nessa ordem de ideias ainda teremos um dia  que chamar «europeistas» aos inúmeros africanos que "estudam" muitíssimo bem todos os europeus e estudam e praticam todos os seus hábitos e suas línguas.? E num momento em que os africanos avançam para a «Europa e em força» por Melila e Lampedusa, qualquer dia até lhe chamaremos  de colonialistas  e invasores? Quem sabe, um dia?)

Alguém  considerar-se africanista, ou colonialista, ou emigrante em África, penso que é mais um estado de espírito, do que aquilo que alguém o queira classificar.

Para um branco ser um grande africanista à portuguesa  não era obrigatório dormir numa esteira, (quirintim) e encher a casa de crianças mulatas,  mas também ajudava.

Os milhões de brancos que emigraram ou nasceram em África durante séculos, e optaram por qualquer circunstância  adoptar África como sua terra (forçados pela família em criança, deportação,  dificuldades económicas para regressar, boa  adaptabilidade climática ou vida social muito bonita e fácil) se esqueceram das terras de origem, jamais será correto dizer que se trata de um colonialista, ou mesmo emigrante.

Sejam portugueses, boers da África do Sul ou rodesianos (Zimbabué), esses brancos, não podem ser considerados simples colonialistas, antes pelo contrário, eram antes, grandes africanistas.

Casos como na Guiné, Manuel Simões, Luandino Vieira em Luanda, Mia Couto em Moçambique, para vincar bem a minha ideia,  mais do que guineense, ou angolano ou moçambicano, intimamente estes brancos sentem-se africanos.

Ora quem se sente africano e não tem carapinha,  não pode deixar de ser um perfeito  africanista, mesmo que os " Mugabes"  não os considerem  africanos.

E quem é europeísta? Será que pelo facto de os turcos e israelitas insulares como os gregos e cipriotas e peninsulares como  íberos e ítalos, pelo facto de entrarmos na taça dos campeões europeus, somos europeus? Ou europeístas apenas?

Ora quem se sente europeu tem que ser europeísta, mesmo que os Napoleões e os Hitleres não  considerem como europeus muito loiros, os insulares  peninsulares do sul e outros vizinhos.

No entanto há brancos que viveram a vida em África e nunca tiveram o mínimo sentimento de africanista, e outros brancos que em menos de um ano se tornam, ainda hoje, genuínos africanistas.

Ser africanista é um estado de espírito, e não precisa de andar com "os pretinhos ao colo".  Nem deve!

Quando no 25 de Abril vieram para Portugal os retornados,  poucos  tínhamos espírito  africanista, mesmo os que estávamos há muitos anos em África, porque a maioria era funcionário público, mais tarde "trabalhador da Função Pública", e estávamos só à espera da reforma para regressar para a terra dos brancos, «a minha terrinha»

Aqueles que na realidade se sentiam africanistas, não aceitavam um dia repor a gravata e as ceroulas  e tornar a "enclausurar-se" nestes pequenos e limitados espaços da idade média, as nossas aldeias,  e largar aqueles espaços abertos, embora  da idade do ferro.

Infelizmente a maioria destes africanistas perderam a vez na terra que tinham adoptado como sua.

No caso dos portugueses, os genuínos africanistas e seus descendentes foram muito incomodados em África e recebidos com muitas reservas em Portugal, quando vieram com os retornados.

A maioria dos africanistas,  em idade de reprodução, desapareceram para o Brasil, EUA, Canadá e França.

Falam muito mal dos portugueses, e têm, tal como os actuais dirigentes africanos das nossas ex-colónias,  que tomaram conta "dos seus destinos", pouca consideração por nós.

Claro que têm motivos diferentes para criticarem o tuga, mas de qualquer maneira, sempre que tenham que fugir de onde estão,  recebemo-los  de braços abertos.

Uma curiosidade sobre os africanistas à portuguesa, não foi só nas ex-colónias portuguesas que se instalaram inúmeros portugueses.

No ex-Congo Belga foram tantos os portugueses que permaneceram após a fuga total dos Belgas em 1960, que protegidos pelas populações e que se foram entendendo com aqueles que tomaram "conta dos seus destinos", que foi possível o comércio de distribuição não desaparecer completamente, e evitar alguma fome.

Os africanistas à portuguesa levaram séculos a ajudar a construir os PALOP que sobraram.

Acontece que alguns dirigentes desses países não escondem grande desgosto por esses africanistas não tenham sido outros um pouco mais "loiros".

Os dirigentes africanos,  em geral,  não gostam de africanistas, detestam.

Isto é uma regra, e com todas as regras têm uma excepção, apareceu Mandela.

Como português, tenho a maior admiração pelos africanistas como Manuel Simões.(**)

Cumprimentos,

Antº Rosinha

__________________


(...) Luís Graça disse...

Confesso que tenho um certo fascínio por homens como este, "africanistas", como diz o Rosinha... Não sei se o termo não será pejorativo e sobretudo inapropriado...

Segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, o/a africanista (substantivo com 2 géneros) é “a pessoa que se dedica à exploração ou estudo da África”.

Presume-se que venha de outras paragens, de outros continentes, a Europa, por exemplo, que foi a grande potência “colonizadora” desde os finais do séc. XIX até à emergência dos nossos estados africanos.

Nesse sentido, o “africanismo” antecederia o “colonialismo”: como se costuma dizer, primeiro vem o explorador, depois o antropólogo, depois o missionário, e depois a tropa, o administrador, o cobrador do imposto de palhota e, por fim, o o comerciante (porque sem dinheiro não há economia monetarizada)...

Mas talvez o Rosinha queira dizer, com o termo africanista (não confundir com panafricanista. que tem um outro sentido, mais filosófico e político…) aquele (em geral branco…) que se considera nascido e crescido em África, ou que tenha vivido e trabalhado em África, ou que muito simplesmente ama a África, as suas paisagens, as suas gentes, as suas culturas… sem ter que ser um “colon”.

Nesta acepção, mais lata, somos todos, aqui, "africanistas"...

Manuel Simões, africanista ? Antes de mais, era português e guineense, nascido em Bolama, com costela beirã, do lado do pai, e provavelmente caboverdiana, do lado da mãe...  E, não menos importante, sobreviveu quer ao “colonialismo” quer ao “paigecismo” (, nas suas várias versões cabralismo, ninismo, etc.)…

Deixou muitos amigos e conhecidos, lá e cá, a começar pela nossa Tabanca Grande.  Tenho pena que não tenha deixado escrito um "manual de sobrevivência"... Ele atravessou dois séculos (1941-2014), "prenhes” de história e de histórias... LG

segunda-feira, 10 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12817 : Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (33): O racismo mal disfarçado na África Lusófona, tão complicado e difícil de contornar como a divisão étnica tradicional

1. Mensagem de António Rosinha [, foto atual à esquerda; fur mil em Angola, 1961/62, topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979/93]: 

Data: 9 de Março de 2014 às 00:11
Assunto: Racismo mal disfarçado na África Lusófona, tão complicado e diíciil de contornar como a divisão étnica tradiicional.

Luís, boa noite e vê se é publicável, caso contrário…cest secção!.

Diz-se que Mandela venceu o apartheid sem expulsão de brancos e asiáticos e "madeirenses",  naturais ou estrangeiros.

Ao contrário, em Angola e ña Guiné Bissau, os partidos de Amílcar Cabral e Lúcio Lara substituíram gente natural e integrada, patriota, pacífica, civilizada e destribalizada,  profissionais de toda a ordem, por cooperantes,  «impróprios e impreparados», do mundo inteiro,  que confundiram países já confusos num continente completamente baralhado.

No Club-K, Angola, de 4 de Março,  respiguei estes trechos (actuais) apenas para ajudar a explicar o quão confusas eram as ideias de Amílcar Cabral e todos os fundadores do MPLA, PAIGC e FRELIMO.

Independentemente das lógicas e boas intenções sobre a Independência e de sair "debaixo do jugo colonial", estes homens esconderam, camuflaram, disfarçaram, esbateram sempre o grande problema do racismo da cor..
´
Diz o artigo do stio Club-K.Net ["Racismo e Descriminação: Unitel, Instituições Bancárias e na Ilha do Cabo - Matumona dos Santos"]

"Luanda - A nossa capital tornou-se nos últimos 4 anos a cidade mas racista ou discriminada em África no que tange a critérios de selecção no ingresso de um emprego no nosso mercado de trabalho, nomeadamente no sector privado".

(...) "Não deveríamos permitir [que] esta tamanha retardação chegasse ao nível que hoje tomou (...) Venham, das 17h40 às 18h20 horário de saídas, testemunhar com os vossos próprios olhos, a enorme triste realidade que se vive no complexo da Unitel em Talatona, e procurar compreender, analisar e raciocinar o porquê que na saída de centenas de funcionários de uma Empresa são a maioria, mais de 94%  Mestisços ou Mulatos,  e apenas uns 6% a 5% são negros de cor preta, Porquê ?" (...)

 Ora este raciocínio sobre o Mestiço/Mulato "favorecido" aos olhos de quem tem a "cor preta", é tão antigo em Angola e em todas as ex-colónias portuguesas, que devia ter sido encarado de frente pelos MPLA, FRELIMO e PAIGC, e nunca foi feito, ou por medo, vergonha, ou outro complexo qualquer.

Hoje,  ao fim de todos estes anos de independências , e de tantos assassinatos dentro do PAIGC e do MPLA (27 de Maio e outros casos em Angola, 14 de Novembro, na Guiné) e em que se fala abertamente em divisões tribais e ideológicas, e que se deve falar francamente, cara a cara, e não disfarçadamente, mas raramente ou nunca debatem olhos nos olhos o complexo  puro e duro da diferença de cor.

Esses países foram imensamente prejudicados, com a fuga e abandono por perseguições promovidas pelos próprios partidos, de gente que eram patriotas, dispostos a continuar a viver e trabalhar na sua terra, muitos engenheiros, técnicos, médicos, enfermeiros, agricultores, etc. mas não eram de cor preta.

Os movimentos que se impuseram pelas armas ao exército colonial, aos movimentos adversários e aos povos pacíficos e desarmados, só souberam fazer mesmo a guerra, nunca a paz.

Todos os dirigentes usavam e continuam a usar o discurso das culpas do cólon pela atraso dos "indígenas" em favor dos brancos e mestiços, para justificar as próprias injustiças e incompetências próprias.

Esperemos que nunca os angolanos, moçambicanos e guineenses, venham um dia acusar «cara a cara» a colonização portuguesa por não ter praticado o apartheid. [Há teorias na cabeça de muitos brancos (loirinhos) e pretos pelo mundo fora, que Portugal fez os mulatos porque não tinha capacidade de viver em apartheid).]

Só gostava um dia de ver uma explicação descomplexada aos 3 movimentos porque não protegeram nem respeitaram nem cativaram os milhares de mestiços ou brancos naturais de Angola e Guiné principalmente, que iam desde médicos, engenheiros, agricultores e armadores de pesca, mecânicos e electricistas, jornalistas e escritores, músicos e poetas e professores.

Esses movimentos que também promoveram a formação de técnicos e universitários, nem essa gente cativaram e aproveitaram, pois que muitos nem regressaram à Pátria por desincentivo total.

Foi deprimente ver os guineenses do povo, cheios de fome em Bissau, perante milhares de cooperantes vindos desde Moscovo a Quito, passando pela Ucrânia e Chechénia, a dar palmadinhas nas corpulentas costas dos governantes do PAIGC de Luís Cabral e Vasco Cabral.

Claro que o povo não tinha alternativas de fuga como a maioria dos mestiços e brancos que foram para o Brasil, Portugal, França sem passar por Ceuta ou Lampedusa.

De facto não ficaram grandes registos da parte de Portugal nem em Luanda nem em Bissau de grandes cerimónias de arrear e hastear bandeiras no dia da Independência,  devido à guerra que esses movimentos nunca pararam.

Vai levar muitos e muitos anos para um dia recuperar aquela riqueza humana que se perdeu. É uma riqueza humana que não se mede nem por barrís de petróleo nem por troncos de madeira nem por donativos e ajudas de ONG.

O facto de eu nem mencionar o nome de outros movimentos, é pelo facto de ter conhecido um pouco de alguns, e nem me passa pela cabeça terem sido eles a dominar aqueles países. Embora para muitos Retornados como eu, não houvesse qualquer diferença entre uns e outros, o que não é o meu caso.

Se Spínola tem negociado com Marcelo Caetano em 1969/70, a entrega da Guiné a Amílcar Cabral, este não teria morrido mais cedo?

Cumprimentos

Antº Rosinha

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Nota do editor:

Últmo poste da série > 26 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12777: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (32): Mário Coluna (1935-2014) na verdadeira nação "Arco-Íris" (Portugal e Ultramar e a sua selecção de futebol)

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12777: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (32): Mário Coluna (1935-2014) na verdadeira nação "Arco-Íris" (Portugal e Ultramar e a sua selecção de futebol)

1. Mensagem de António Rosinha  [, foto atual à esquerda; fur mil em Angola, 1961/62, topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979/93]:

Data: 26 de Fevereiro de 2014 às 18:56

Assunto: Mário Coluna na verdadeira nação "ARCO IRIS" (Portugal e Ultramar e a sua Selecção de futebol)


Luís, escrevo as duas linhas [, que me pediste], mas aí não será uma homenagem do Blog, mas apenas a minha memória do Homem nosso contemporâneo.

E será também uma saudação minha (,pessoal,) ao Mário Coluna e a todos os portugueses ultramarinos da nossa geração (combatentes do Minho a Timor) que não pegaram em armas contra o colon  e contra o próprio povo, antes pelo contrário. (Exceptuemos Caboverde e São Tomé.)

Qualquer cidadão natural das nossas antigas colónias ultramarinas que não pegaram em armas para lutar contra a colonização portuguesa, eram tão nacionalistas e independentistas como os turras que nos combateram.

Mário Coluna é mais um ultramarino contemporâneo dos antigos combatentes do ultramar que foi embora.

A propósito do desaparecimento deste grande e digno português e moçambicano que foi Mário Coluna, que, antes e durante a guerra colonial, nunca deixou de ser português e moçambicano, penso que não só o Benfica, mas todos os moçambicanos e portugueses da nossa geração nos sentimos saudosos ao ouvir o nome do grande capitão do Benfica e da Selecção Nacional de Futebol.

Portugueses do Ultramar como Mário Coluna, Eusébio, Matateu e Peyroteo etc. no futebol, e noutros campos (Raúl Indipo, Rui Romano, Óscar Ribas, ALMADA NEGREIROS etc.)  eram portugueses muito lúcidos.

Eram tão nacionalistas ou mais do que aqueles que usaram o terrorismo armado contra o próprio povo, merecem todo o respeito, nosso, dos portugueses, e dos seus países, porque no fundo todos eles queriam uma independência para os seus países.

A independência sem armas à "Guevara-terceiro-mundista" era a mobilização que estava na cabeça de toda aquela gente pronta a avançar, mas algo mais do que o Salazar ou as nossas armas ferrugentas os fez hesitar.

Foi aquele terrorismo com apoio internacional da guerra fria que fez a maioria dos estudantes do Império futebolistas do Império e artistas do Império.... e milhares de sobas e régulos que não queriam sangue. Nem pegar em armas.

Mário Coluna,  tanto em Moçambique como 
em Portugal, será sempre olhado com o maior
 respeito e a dignidade que só se deve a grandes Homens. 

[Mário Coluna,   capitão dos Magriiços de 1966, a seleção nacional de futebol que ficou  em 3º lugar no Campeonato Mundial de Futebol em Inglaterra... Foto editada do Público, com a devida vénia].

Sobre pegar em armas ou não, para quem viveu os 13 anos de guerra como eu, testemunhei ao lado de furriéis e alferes e cabos e soldados ultramarinos que estavam de mauser e fbp ao meu lado, eu como furriel, e verificava que eles só não iam para os turras porque aquilo era mau de mais. (como foi e …continua)

Vejam este caso: A PIDE apanha uma carta ao meu comandante do pelotão, Alferes mulato, meu conhecido da vida civil. A cópia da carta para a namorada (?) na Metrópole foi-nos lida, a furriéis e alferes pelo capitão da companhia, no seu gabinete (na ausência do autor, evidentemente) em que dizia mais ou menos às tantas: "Estuda bem e logo que termines o curso, regressa porque a pátria vai precisar de ti".

Isto, em 1962, em Angola, era o que a maioria dos ultramarinos pensavam, mas de armas na mão ao nosso lado, ou melhor. Nós ao lado deles.

Quando vou aos almoços anuais da guerra e da vida profissional ainda oiço notícias de muitos. Alguns ultramarinos de Angola e de Caboverde ainda comparecem a esses almoços.

Sabemos que Mário Coluna periodicamente também comparecia com os seus antigos companheiros e compatriotas. E a memória dele engrandece dois países, e a nossa geração teve o privilégio de ser contemporâneo desse "Monstro Sagrado",  como diziam os jornalistas.

Vi-o jogar nos finalmentes em Luanda, nos coqueiros, onde o novato Toni marcou um golão do meio campo e arrumou com o ASA para a taça de Portugal (1969?).

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Nota do editor:

Ultimo poste da série > 3 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12668: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (31): Natália Correia e os filhos dos retornados (vingativos)

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12668: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (31): Natália Correia e os filhos dos retornados (vingativos)

1. Mais um apontamento do caderno de notas do nosso mais velho, António Rosinha [,  foto à esquerda; fur mil em Angola, 1961/62, topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979: ou, como ele gosta de dizer com sentido de humor, colon, em Angola, de 1959 a 1974; cooperante na Guiné-Bissau, de  1979 a 1993; membro da nossa Tabanca Grande desde 29 de novembro de 2006]:


Penso que Natália teve um raciocínio correcto, mas que se pode aplicar menos em Portugal mas mais à França (pied-noir). (Paris de vez em quando já arde).

A insularidade (de Natália) pode levar a sentimentos de isolamento e claustrofobia, mas também a sentimentos de sossego, tranquilidade e comodidade e segurança- Mas também a insularidade pode levar a capacidades de auto-suficiência, de capacidade de sacrifícios e correr riscos e “fugir dalí para fora" e enfrentar todos os perigos.

Os insulares pensam mais e agem diferente de um continental.

Aqui em Portugal continental também somos muito pen-insulares, mas não dá para raciocinar como Natália Correia.

Os açoreanos têm muitos escritores, jornalistas e políticos que sempre sobressaíram, talvez por serem insulares. Exemplos como os primeiros presidentes da República e muitos deputados, e escritores como Vitorino Nemésio, Antero de Quental e Natália Correia.

Depois de 800 anos de monarquia só um insular podia imaginar-se presidente de uma República, da noite para o dia com o mesmo à vontade comque Natália se expunha na Assembleia da República, que pouco antes era só de homens. (Não digo que ilheus sejam loucos…mas).

Habituei-me a ouvir açoreanos, caboverdeanos e madeirenses, só não ouvi bijagós porque não falavam nem crioulo nem português nem eu bijagó.

Dizia no 26 de Abril um madeirense em Angola: é melhor fazermos as malas porque a partir de agora a guerra de Angola deixa de ser nossa, e já não temos Salazar.

Embora esse mesmo madeirense possa aventurar-se a permanecer, mas o raciocínio foi imediato. (Eu aproveitei o conselho do madeirense)

E nós portugueses quando nos metemos em assuntos da Europa, cada ministro devia ter um conselheiro ilhéu mesmo que fosse inglês, também ilheus.

Digo isto tudo porque Natália Correia, que era muito lida no tempo colonial em Angola, na revista “ Notícia”, escreveu sobre os filhos dos retornados algo que dificilmente um continental escreveria.

Quem tem divulgado muito as curiosidades de Natália Correia é um filho de retornado, Fernando Dacosta, no livro “Botequim da Liberdade”, e circula pela internet.

Também “filho de retornado” foram pessoas como oficiais do MFA (Otelo),  generais como o falecido Soares Carneiro, candidato a Presidente, do amigo de Natália, Sá Carneiro, do futebol Carlos Queiroz, e tudo o que se diz Peyroteo, dos jornais e televisão é melhor nem enumerar tal a quantidade de filhos e até netos de retornados.

Será que os filhos e netos de retornados podem vir a ser aquilo que diz Natália? Ela diz isto:

"A sua influência (dos retornados) na sociedade portuguesa não vai sentir-se apenas agora, embora seja imensa. Vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças, crescerem e tomarem o poder.Essa será uma geração bem preparada e determinada, sobretudo muito realista devido ao trauma da descolonização, que não compreendeu nem aceitou, nem esqueceu. Os genes de África estão nela para sempre, dando-lhe visões do país diferentes das nossas. Mais largas mas menos profundas. Isso levará os que desempenharem cargos de responsabilidade a cair na tentação de querer modificar-nos, por pulsões inconscientes de, sei lá, talvez vingança!"

Pois bem, há filhos de retornados totalmente revoltados que circulam entre nós, que se negam a considerar-se igual a um qualquer “indígena” beirão, minhoto ou transmontano ou açoreano.

Muitos filhos e netos adultos, de retornados, no 25 de Abril nem todos se fixaram em Portugal, os mais preparados circularam como “cooperantes” pelas colónias e emigraram para o Brasil, Austrália, Canadá e mesmo para a Europa.

Em geral só se houve falar em gente dessa com sucesso na vida.

Só na Guiné Bissau eram retornados ou filhos deles, quase todos os engenheiros, mecânicos etc. que fizeram as obras maiores de Luís Cabral: na Tecnil, Soares da Costa, Somec, Visabeira etc.

Foram para o Brasil, filhos de retornados, para quem “ser português” nem querem que alguém pense tal coisa deles.

Este blog é para contar o que se viu e viveu, e como parte da minha vida foi trabalhar com retornados, filhos e netos dos mesmos, no Brasil, na Guiné, na Madeira, na Expô 98, dou muito sentido ao que diz Natália Correia. Só me pergunto onde é que ela se foi informar tanto.

Será que foi em viagens à França? É que em Portugal foi uma minoria que os nossos «pieds-noirs» [, pés negros, termo depreciativo, uasado em França, para os 'retornados da Argélia, L.G.] que ficaram por cá pois a maioria dispersou-se, ao passo que a França recolheu tudo e todos, e já se viu o efeito da transfiguração e africanização e islamização da França.

Só amenizo as afirmações de Natália, na medida em que nós próprios já em maioria somos bisnetos de retornados do Brasil, Angola, India, só que agora foi um retorno um pouco mais intenso, mas mesmo assim, reduzido.

Mas como há filhos de retornados que nos consideram “muito pequeninos”, para não dizer nomes que tive que ouvir, há muitos que estão integrados e nem ligam para «estas coisas» da Natália Correia.

Antº Rosinha

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Nota do editor:

domingo, 19 de janeiro de 2014

63/74 - P12603: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (30): Só os diamantes são eternos... Ou: hoje ainda se esconde se são os "restos mortais" do Império ou do Eusébio que se votaram no parlamento, para o Panteão.

1. Mensagem de António Rosinha


Data: 11 de Janeiro de 2014 às 15:37

Assunto:  Diamang, Cmdt Vilhena, Cunha Leal - tanta coisa que não sabemos (*)


Amigo José M. Diniz (e penso que me estou a dirigir a C. Martins também),  eu andei na Lunda na tropa e a fazer uma estrada na região de Henrique de Carvalho.

E para a Diamang estive em Cafunfo (1970) a fazer uma picada entre uma futuro lavandaria e um rio que foi desviado para exploração.

Estive perto de um mês a conviver com algarvios exclusivamente, no refeitório dos solteiros, que trabalhavam numa lavandaria no Cafunfo.

Era um mundo à parte dentro de Angola e da própria Lunda.

Não havia minhotos, beirões, transmontanos nem das Ilhas, e o meu contacto profissional era com um homem chamado Bastos, alentejano, de Elvas (?) e conheci e trabalhei recentemente com um neto desse homem (há 10 anos, antes de me reformar).

Diniz, afinal também estavas informado e encostado,  meu malandro. Será que havia segregação nos seleccionados para funcionários da Diamang?

Mas só quero dizer aos dois amigos que,  antes da guerra em 1961, havia os portugueses brancos e mulatos em Angola,  da geração de Cunha Leal e Amílcar Cabral, que pensavam exactamente como já vos ouvi aos dois e a muita gente, que Salazar devia ter "aberto".

As palavras, "abertura", "autonomia", "independência" e no caso moçambicano falavam mesmo à maneira da África do Sul, os brancos no poder, eram conversas que putos leigos como eu, 18 anos em 1957 ouvia constantemente.

Então,  em 1959,  no curso de sargentos milicianos, a maioria eram brancos de 2ª,  como eles diziam,  e mulatos, massacravam a malta que tínhamos ido daqui, de facto muito desconhecedores do que se passava em política, ao contrário daqueles gajos que já tinham a escola toda, anti-colonial, anti-salazarista, anti-imperialista etc., e todos da Mocidade Portuguesa com todas as mordomias e luxos.

Só que, "abrir" achavam bonito, mas muitos deles já hesitavam, nessas ideias, porque havia no Quénia terrorismo e massacres,  embora a Inglaterra tivesse muita força, na África do Sul os boers era à cacetada forte e feia que se seguravam, e no Congo culminou com o desastre que se prolonga até hoje, quando em 1960 se dá a independência do Congo Belga, Ruanda e Burundi.

Sem falar que,  no caso de Moçambique, os boers da África do Sul e Ian Shmith precisavam e tinham essa intenção que aquelas praias e aqueles portos faziam-lhe muita falta.

E no caso de Angola, esses mesmos boers que detinham o ex-Sudoeste Alemão, Namíbia, precisavam das águas do Cunene, do rio Cuando e Cubango para regar aquele deserto.

E no caso da Índia, de Timor e de Guiné, sabemos o que se passava nos cornos do Sekou Touré, do Neru e dos Suhartos ou Sukarnos,  nem sei bem.

Ninguem tinha, nem tem, a mínima consideração por nós, e,  como diz,  o outro "cuidemos dos nossos cuzes".

E não devemos mentir nem esconder as realidades e Salazar sabia do que todos os nossos "amigos" pensavam, até o sacana do Franco nos atraiçoava e na ONU abstinha-se.

Numa altura destas em que passa na Televisão os 90 minutos do Portugal-Coreia na Inglaterra com uma selecção luso-africana, e não se diz que naquele ano, mensalmente na ONU,  Portugal era desmentido, na pessoa do nosso ministro dos negócios estrangeiros, que "Eusébio" não era português, antes pelo contrário era um explorado, escravizado e colonizado.

Foi em 1966 que Chipenda da Académica iniciou a frente Leste em Angola pelo MPLA.

Meus amigos, quando se fala que Salazar podia ter evitado a guerra se abrisse.. Se o fizesse, não existia nada, Guiné e Cabinda não eram PALOP, eram PALOF, um exemplo.

E,  mesmo hoje, só com asinhas é que podemos fiar-nos nos outros que é o que está a acontecer, neste momento com uma irresponsabilidade pueril e infantil de nós todos.

Nós somos mentirosos para nós mesmos ao esconder no jogo Portugal-Coreia que Franco Nogueira lutava contra o mundo inteiro nas Nações Unidas a afirmar que "Eusébio" era português.

E hoje ainda se esconde se são os "restos mortais" do Império ou do Eusébio que se votaram no parlamento, para o Panteão.

Essa portugalidade que existiu é que está a ser imortalizada no nosso muito profundo subconsciente com este fervor futebolistico, só que temos vergonha de o gritar.

Desculpem o jeito, Mas os diamantes ainda continuam lá.

Cumprimentos

Antº Rosinha (**)

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Notas do editor:


sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12568: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (29): O que os rapazes dos cachecóis precisam de saber: que o Eusébio foi um português muito especial, que ajudou a escrever uma página muito especial da história de Portugal, da Europa e de África...


1. Texto enviado, em 8 do corrente, pelo António Rosinha [, fur mil em Angola, 1961/62, foto à esquerda; topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979: ou, como ele gosta de dizer,colon, em Angola, de 1959 a 1974; cooperante na Guiné-Bissau, de 1979 a 1993; membro da nossa Tabanca Grande desde 29 de novembro de 2006]:


Assunto: De Gungunhana a Eusébio ou de Mouzinho de Albuquerque a Maurício Vieira de Brito e Tudela e os rapazes dos cachecóis


Tem gente que com um grão na asa dá-lhe para cantar, uns dá-lhe para o fado, outros coisas de Joselito e passodobles, e há um amigo meu que por tudo e por nada, após o café e bagaço saía-lhe o Kanimambo.

Um dia, ainda antes do café e do bagaço disse ao "jovem", na casa dos 50 que João Maria Tudela tinha morrido recentemente.

Quem é essa pessoa? Perguntou-me ele.

Claro que como antigo "cólon", quando cheira a colónias, lá tenho que explicar, as coisas que mais novos tiveram a sorte de não ter visto, e o meu amigo lá soube que cantava a música de um "cantor colonial" em Landim, patrício de Eusébio.

Penso que mudou de reportório após a minha explicação.

Claro que podemos gostar de ouvir música de Wagner sem saber sequer que essa pessoa existiu.

Isto vem a propósito de os "rapazes dos cachecóis", que tanto se manifestam, principalmente os do Estádio da Luz, se imaginarão as voltas que o mundo deu, para Eusébio ir parar a uma Selecção Nacional de um País europeu, e porque razão se discute se um simples futebolista deve ou não ir para o Panteão Nacional.


Penso que estes jovens dos cachecóis precisavam de uma explicação da parte dos mais velhos, porque também acho que estes jovens estão como o intérprete do Kanimambo, que cantava em Landim e não sabia quem era o Moçambicano João Maria Tudela, E PENSAM QUE Eusébio representou só futebol para a geração dele.

É que corremos o risco de enlouquecermos uma geração, se não ensinarmos os rapazes a olhar para Eusébio sem bola.

Que não é uma simples bola que leva Eusébio a poder morar eternamente em certos "condomínios".

Claro que não ficam mais felizes se souberem que Gungunhana era patrício de Eusébio, que veio de barco para Portugal a convite de Mouzinho de Albuquerque e não sabia jogar à bola e falava em Landim.

E também não ficarão mais felizes se souberem que foi um angolano, Maurício Vieira de Brito, que trouxe o Moçambicano e outros africanos para Portugal para jogarem à bola.

Também tem que se dizer à juventude dos cachecóis que aquilo que representa a figura de Eusébio não é consensual para todos os portugueses da geração do Eusébio.

Antes pelo contrário, temos que dizer aos jovens que tirando a bola, a lembrança de Eusébio divide alguns portugueses da sua geração, principalmente uns que eram mais europeístas, outros mais africanistas.

Os rapazes precisam saber tudo, principalmente que uma simples bola não é política, nem religião, portanto haverá algo mais representativo para os portugueses a acompanhar a imagem de Eusébio.

E também se tem que divulgar e explicar, porque na terra natal, Moçambique, não há uma manifestação oficial exuberante como em Portugal.

Talvez se os mais jovens tentarem compreender 
todos os motivos, razões e até contradições nas
origens de tanta admiração lusa pela figura de Eusébio, 
aí a "bola" não será tão pontapeada.


[Foto à esquerda: Outdoor da Câmara Municipal de Lisboa, com um "obrigado" ao Eusébio, Reproduzido, com a devida vénia, do sítio da CML]


Teremos que dizer ao pessoal mais novo, que Eusébio foi um português muito especial, que ajudou a escrever uma página muito especial da história de Portugal, da Europa e de África.

Uma página em que podem entrar com destaque, Gungunhana e Tudela, Maurício e também Adolfo Vieira de Brito, angolanos, presidentes dos encarnados

Cumprimentos,

Antº Rosinha
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Nota do editor:

Último poste da série > 31 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12527: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (28): A TAP e a Guiné-Bissau ou... a Guiné "TAPdependente"

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12527: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (28): A TAP e a Guiné-Bissau ou... a Guiné "TAPdependente"





Guiné-Bissau > Bissau > Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira > 29 de fevereiro de 2008 > Chegada de um grupo de amigos da Guiné, que vieram participar no Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de Março de 2008). Na foto acima, o Pepito e o Carlos Silva. Na  foto anterior, a Alice Carneiro.  A TAP, companhia de bandeira portuguesa,  tem sido nestes anos todos, depois das independências das colónias portuguesas em África, um instrumento importante da lusofonia... E, seguramente, uma arma que a diplomacia portuguesa usa (mas de que não pode abusar)... A diáspora portuguesa estende-se por cerca de 200 países... (LG)

Fotos ( e legenda): © Luís Graça  (2008). Todos os direitos reservados.

1. Texto enviado, com data de ontem, pelo António  Rosinha, [, fur mil em Angola, 1961, foto à esquerda; topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979: ou, como ele gosta de dizer, colon, em Angola, de 1959 a 1974; cooperante na Guiné-Bissau, de 1979 a 1993]:

Assunto: A TAP e a Guiné-Bissau, ou a Guiné  "TAPdependente"


Com o fim do Império acabaram as Companhias de Navegação, a Colonial, a Nacional e a Sogeral (CUF), aqueles Vera Cruz, Império, Principe Perfeito, Ana Mafalda, enfim, aquele imaginário colonial que só podia existir com o tal Império.

Ora, se Salazar ao criar a TAP, foi a pensar no Império, porque o homem não ia investir em nada que não fosse bem justificado, porque a TAP resistiu ao fim do Império, ao contrário dos navios?

Sim, talvez sem Império não houvesse nunca TAP, porque Salazar era contra certas modernices e não tinha manias de grandezas.

Salazar era homem para mandar o Humberto Delgado, obreiro da TAP, trazer um foguetão da América, se Portugal tivesse uma colónia na Lua.

Com as colónias, Salazar era um "perdulário", e depois com Caetano também os melhores aviões do mercado a TAP adquiria.

Com a TAP, Portugal nunca até hoje virou as costas às ex-colónias, nem estas viraram as costas à antiga Metrópole.  De tal modo que no caso da Guiné a TAP está a ser motivo para uma guerra Portugal/Guiné, só porque em Lisboa o Governo acha que a Guiné ainda não manda na TAP, apesar dos "direitos adquiridos"  que a Guiné possa ter.

Salazar,  que sabe tudo, ou não tivesse a PIDE, não deve estar satisfeito com a suspensão dos voos Lisboa/Bissau. Sabe-se que,  já desde a independência, se a TAP hesitasse havia muitos guineenses e muitos vizinhos destes, que queriam a Air France a substituir a TAP.

E se hoje a Air France não estará muito interessada, é que por enquanto são necessários muitos aviões para transportar legionários por todo o lado onde se fala francês, onde está tudo numa roda-viva. Ele é cristão, ele é islão, é Lampeduza, é Ceuta e Cadiz e Grécia, e os guineenses que tenham juízo e sejam responsáveis, porque da Tuga, e da própria Europa que está mais virada para outros problemas, já pouco mais resta do que a sua querida TAP.

É que às tantas só lá vão com legionários estrangeiros (mas sem psico).

E a Guiné-Bissau sem TAP, que para a maioria dos guineenses não é apenas uma simples companhia de aviação, mas também um símbolo que muito os autonomiza e distingue dos "vizinhos-irmãos", que respeitem a sua Companhia de Aviação, porque quem fez esta, não faz mais.

Quando se diz e se lê constantemente quando da luta de libertação da Guiné que Amilcar Cabral, previa e predizia muitas coisas más que podiam ocorrer em África,  e na Guiné em particular, não passava pela cabeça dele nem de ninguem que uma suspensão da TAP Bissau/Lisboa fosse tão importante para a vida de um país.

E que, sem TAP,   pode alterar, qual nova independência, a vida total da Guiné-Bissau: no campo económico, socialmente, internacionalmente, culturalmente, e porque não, até no relacionamento tribal e colimiteiro (, tudo isto, fácil de explicar).

Ou não terá importância nenhuma?

Era melhor repor as ligações Lisboa/Bissau e acabar com os golpes e guerras internas. Guerras de kalash e catanas, mas também de feitiçarias.

E que os cristãos fiquem nas suas igrejas e muçulmanos nas suas mesquitas, e não façam como certos primos dos guineenses, que andam a "rezar" uns pelas almas dos outros.

Dizia o pessimista do Salazar que os africanos não estavam preparados para se governarem. Mas era só meia verdade, a Europa, velha e caduca e abandalhada,   é que preparou tudo mal e à pressa e,  até dos casos mais graves em África, nem será o caso da Guiné-Bissau.

Cumprimentos

Antº Rosinha

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Nota do editor:

Último poste da série > 10 de dezembro de  2013 > Guiné 63/74 - P12424: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (27): Mandela só houve um, infelizmente só um... Provavelmente o homem africano mais certo, no momento certo, no país do oiro...

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12424: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (27): Mandela só houve um, infelizmente só um... Provavelmente o homem africano mais certo, no momento certo, no país do oiro...



O novo sítio da Fundação Nelson Mandela, o projeto de arquivo digital Nelson Mandela, com apoio do Google > Nelson Mandela Centre of Memory


1. Mensagem de  António Rosinha [, fur mil em Angola, 1961; topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979: ou, como ele gosta de dizer, colon, em Angola, de 1959 a 1974; cooperante na Guiné-Bissau, de 1979 a 1993] [foto à direita, Pombal, II Encontro Nacional da Tabanca Grande, 2007]


Data: 10 de Dezembro de 2013 às 00:20

Assunto: Ouro da terra de Mandela e os "invejosos"


Envio, com a devida vénia ao © Google Earth (2013), uma imagem geral e um pormenor de uma das montanhas de solos doirados, retirados por mais de 100 anos das minas sul-africanas. (É possível calcular aproximadamente os metros cúbico daqueles montes.)

Durante 24 sobre 24 horas, ouro de 24 kilates saíu das minas e do esforço dos milhares de "carcamanos" e de milhões de negros vindos de Namíbia, Moçambique, Angola, Rodésia, Botsuana, Malawi , Zâmbia e mais países que a indiferença dos meus vinte e trinta anos esqueceu.

Até me admiro como me ficou tanto nome na cabeça. Mas agora aqui entra a explicação que se ouvia constantemente em Angola por muitos angolanos, moçambicanos e guineenses justificarem uma das razões para quererem ser independentes.

Principalmente brancos e mestiços em Angola diziam, nos anos da "paz colonial" antes de 1961, que se fossem independentes como os sul-africanos...!

E já falavam nas "paletes", "resmas" de oiro, que o Salazar e os portugueses atrasados escondiam e não deixavam explorar, principalmente em Angola que ainda era "mais rica" que a África do Sul. Sem falar no petróleo e nos diamantes e cobre que já eram conhecidos e explorados em Angola mas pouco!... Porque se fossem eles a tomar conta da terra deles...! [Não adivinhavam(mos) que haveria um ouro mais valioso de muitos kilates que foi Mandela.]

Claro que nunca se ouviam estas conversas aos milhares de velhos régulos, sobas que com seus filhos de zagaia na mão, e suas mulheres de enxada na lavra e filho às costas, também eram gente,

No tempo da "paz colonial" de Salazar,  e de certa maneira de Norton de Matos, de Henrique Galvão que também calcorreou um pouco de Angola, e foi governante, até parecia que era fácil fazer mais e melhor do que aquilo que se fazia com Salazar a mandar para lá o cólon.

Até se dizia que no caso de Angola ainda se faria de Luanda uma Nova York.

Os angolanos sempre tiveram a mania das grandezas e, lá está, Luanda até parece uma coisa descomunal. (Tabancas na vertical deve ser fantástico.)

Estas conversas não eram habituais em caboverdeanos, e no caso de Angola, onde eram muitos milhares, enchiam tudo quanto é repartição, e não se pronunciavam, principalmente de ilhas que não talvez Santiago.

Os caboverdeanos em Angola eram tantos e ocupavam tantos espaços, que quem tivesse um amigo caboverdeano, nem precisava de se dirigir às repartições tratar de qualquer assunto,  era um simples telefonema. Desde Notários, Alfandega, Finanças (fazenda),  Registos, Judiciária, Câmaras...lá estava um amigo verdeano para tratar do assunto, não era preciso ir para a forma.

As conversas naquela "paz colonial",  por exemplo quando foi das eleições de Delgado, em 1958, muitos falavam abertamente na perspectiva que sem o Antoninho a independência era possível. Não sei se pensavam qual seria o papel dos sobas e sua família.

Isto digo eu hoje, porque com 19/20 anos, sem direito a voto, eu só pensava em coisas mais interessantes.

O que era mais habitual ouvir a quem era funcionário, era o desejo de ver Salazar caír com a eleição de Delgado, pois há muitos anos que o Antoninho não n(os) aumentava.

Evidentemente que havia muitos angolanos, guineenses e moçambicanos que pensavam numa independência não só a pensar nas riquezas que "Salazar" não deixava explorar.

Mas havia muitos a misturar salazarismo e colonialismo, como se com outros como Delgado seria diferente, o que não era uma certeza, mas que havia na cabeça de muitos a ilusão que se fosse como na África do Sul, sem apartheid, era uma maravilha, havia muito "branquinho e mesticinho" com uma grande, enorme, descomunal ilusão.

E,  a provar isto, podemos constatar hoje, mas também logo em Março de 1961, foi o aparecimento no norte de Angola, de Holden Roberto e a sua UPA com suas chacinas racistas,  tribalistas, e até mesmo com laivos de separatistas, que marcou a luta do MPLA, PAIGC e FRELIMO.

Holden Roberto era mais pró Mugabe do que pró-Mandela. Mandela só houve um, infelizmente só um. Provavelmente o homem africano mais certo, no momento certo na país do oiro.

É bom que assim seja. Muitos outros homens africanos foram errados no momento errado no país certo. Mais do que o ouro, o grande valor da África do Sul foi Mandela.

Todos os Africanos deviam ser Mandelas, mas há muitos que são mais Mugabe.

Cumprimentos e fico-me por aqui,

Antº Rosinha





África do Sul > Joanesburgo > Soveto > Restos de explorações mineiras ("mine dumps") > Imagens do © Google Earth (2013), selecionadas pelo nosso topógrafo António Rosinha, e  reproduzidas aqui  com a devida vénia...

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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12373: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (26): Nós, tugas, somos mesmo estranhos...

domingo, 1 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12373: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (26): Nós, tugas, somos mesmo estranhos...

1. Comentário, de 30 de novembro último,  ao poste P12369 (*), assinado por de António Rosinha [, fur mil em Angola, 1961, foto à esquerda; topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979: ou, como ele gosta de dizer, colon, em Angola, de 1959 a 1974; cooperante na Guiné-Bissau, de 1979 a 1993]

Lá terei que meter o bedelho novamente.(*)

Mais do que chefes de posto, governadores, ou mesmo missionários,  eram os comerciantes, fazendeiros e gente que vivia isolado com os africanos que sabiam lidar com brancos e com pretos.

A tropa metropolitana quando terminava os 24 meses de arame farpado e Unimog, saía das colónias sem ter conhecido na realidade os brancos,  antigos colonos.

E como vinha instruído pelos milicianos em geral contra o salazarismo/colonialismo, via estes colonos como o causador de ela [, tropa,] estar ali de arma na mão.

Como tal evitava o diálogo aberto e franco com os "civís"

Os meus treze anos de guerra em Angola dão-me o direito de dizer que os militares portugueses viam os futuros "retornados" com gente a evitar.

Foi triste esta realidade, e hoje (este poste) vemos este diálogo a perguntarmo-nos quem era o comerciante Teófilo como sendo alguém em quem não se podia confiar.

Se este Teófilo foi um deportado ou não, eram conhecidos vários deportados desde o histórico Zé do Telhado, por exemplo. Mas as deportações últimas foram as da revolta de 1926,  mas que não têm a ver com Estado Novo/Salazar. Este foi o Tarrafal [1936].

Os meus treze anos de guerra de ultramar dizem-me que a maioria dos comerciantes das ex-colónias, em que alguns eram já naturais de lá, podiam já ter filhos brancos ou mestiços que podiam ser "anti-salazaristas/colonialistas", mas eram admiradores da política colonial de Salazar.

Eles sabiam que aquela política estava a evitar a desgraça dos países já independentes. Os comerciantes tinham o povo africano do lado deles, e eles confiavam e tinha a protecção do povo. O povo protegia-os dos turras.

Nem a PIDE, profissão de ganha-pão, nem a tropa chegou a entender os velhos colon.

Nos, tugas, somos mesmo estranhos. (**)

[Foto, à esquerda, de Fernando Gouveia, c. 1970: casa e café do sr. Teófilo - 3 -, com camião basculante estacionado em frente]

Em tempo: A camionete vermelha que se vê estacionada na Foto é um camião basculante Magirus Deutz.de transporte de terras. Provavelmente seria da Tecnil, pois Bafatá- Gabu-Pitche e Bambadinca foram estradas deles.

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Notas do editor:

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10677: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (25): Os dirigentes do PAIGC não usavam caixa nem cornetim nos quartéis das FARP (Forças Armadas Revolucionárias do Povo)








Guiné-Bissau >  Bissau >  Forte da Amura, Panteão Nacional > 7 de março de 2008 > Uma força da PM - Polícia Militar presta continência, enquanto  e ouve o "Toque de silêncio"... Homenagem a Amílcar Cabral e aos outros heróis da Pátria. Visita no âmbito do Simpósio Internacional de Guiledje, 1-7 de março de 2008.


Fotos e vídeo (''40): Luís Graça (2008). Alojado no You  Tube > Nhabijoes



1. Mensagem do nosso camarada e amigo António Rosinha [, foto à direita, Pombal, 2007]:


Data: 14 de Novembro de 2012 11:37

Assunto: Os dirigentes do PAIGC não usavam caixa nem cornetim nos quarteis das FARP ( Forças Armadas Revolucionárias do Povo)


Se for publicável,  talvez seja bom em horas mortas.

FARP e PAIGC não são devidamente distinguidos e separados neste BLOG, nem faz grande diferença que assim seja.

Faria diferença sim, mas para os guineenses se estes não conseguissem separar uma coisa da outra.

Mas para o bem ou para o mal, os guineenses nunca conseguiram separar o PAIGC das Forças Armadas Revolucionárias do Povo [, FARP,], durante muitos anos. (Hoje não sei como será o ponto de vista do povo).

Nos primeiros anos da Independência, os militares das FARP em Bissau, não usavam cornetas ou cornetins nem marchavam ao toque de caixa nos respectivos quartéis. Hoje não sei.

Mas quando Amílcar fundou o PAIGC e foi também co-fundador do MPLA, copiaram os métodos castristas e guevaristas e aí não havia cornetas nem cornetins.

Mas no regime de Luís Cabral pós independência, houve pelo menos uma tentativa de criar esse hábito, ou seja , Luís Cabral chegou a promover o ensino de corneteiros e tamborileiros .

Ouvia-se durante vários dias ensaios de corneta e cornetim, e toques de caixa, dentro da fortaleza da Amura e constava que teriam ido sargentos ou outros militares de Portugal para treinar guineenses.

Pelo  menos os diversos toques desde o recolher, formar, refeições, bandeira, etc. de infantaria,  eu ainda me recordei do meu tempo de tropa passados 20 anos.

Mas isso não chegou a funcionar, não  se chegou a marchar ao toque de caixa, nem a formar ao toque de corneta, ou seja à voz de um único comandante.

Psicologicamente, penso que sem um corneteiro dificilmente haverá um exército disciplinado em tempo de paz, um corneteiro representa a voz de um comandante sobre toda uma unidade.

Conheci e visitei por motivos profissionais aquilo que foi o quartel da artilharia do tempo colonial, e que penso que continuava como sendo dessa arma, com o exército das FARP.

Embora parecesse mais um bairro (tabanca),  devido haver mulheres e filhos dos militares a viver lá dentro, tinha sentinela na porta de armas, casernas numeradas e gabinetes dos comandantes e também se viam circulando militares soviéticos, tinha verdadeiro aspecto de quartel à antiga.

Mas não havia aquele aspecto convencional de um exército, no dia a dia, como sendo ouvir vozes de comando, toques para as diversas formaturas, etc.

Nunca cheguei a saber se o presidente Luís Cabral tinha algum posto na hierarquia militar, ou se era ou foi militar,  tanto na luta como após a independência, assim como Amilcar, ainda não entendi se teve hierarquicamente algum posto.

Mas com posto militar ou não, ele Presidente da República,  se só em 1980 pensou na corneta (Ordem, disciplina nos quartéis),  já foi tarde.

Mas, pode parecer que falo uma baboseira,  como dizem os brasileiros, mas não posso deixar de transmitir uma impressão que jamais  me sai da cabeça e já lá vão...1980-2012=31 anos: se Luís  Cabral tem conseguido impor o toque de recolher, alvorada, e marcha ao toque de caixa, embora possa ser simbólico apenas, mas era um símbolo de ordem e disciplina,  os militares das FARC não teriam tanto tempo para matutar em  "bolsas" étnicas, facciosas e rebeldias que já vinham embrionárias do tempo da luta, e eram conhecidas até por estrangeiros.

E, como os militares durante vários anos mantinham uma atitude e um aspecto, mais de revolucionários do que um exército regular, mesmo os próprios comandantes que se exibiam em viaturas em grandes velocidades, "olha lá vai o Gazela", olha lá vai o Manel Saturnino"  por exemplo, tinham comportamentos de rebeldia,  era impossível para Luís Cabral e governo, pôr um exército em formatura ao som de um corneteiro, em 1980, quando se deu o golpe de 14 de Novembro.

Se o PAIGC e as FARP de Amilcar Cabral deixaram  criar facções  de várias ordens, e não as controlou, no caso por exemplo do assassinato de próprio Amílcar, já no MPLA e as FAPLA de que Amílcar foi co-fundador, as facções como Chipenda, Nito Alves…foram controladas e dominadas e parece que hoje já não existem.

Foi ainda em vida de Agostinho Neto que essas facções foram dominadas. Será que Amílcar Cabral não teve os devidos cuidados com o PAIGC e as FARC, ao contrário dos cuidados que Agostinho Neto teve com o MPLA e as FAPLA?

Claro que entre nós,  tugas, estas coisas que aqui trago, pouco nos dizem respeito, mas só as trago aqui, porque para mim, muitos dos dirigentes dos MPLA e do PAIGC, foram na maioria tão portugueses como nós, tugas, , alguns até a recruta fizeram comigo ou são do meu ano, no meu ou  noutros quartéis, e para mim estavam certos nas suas ideias, mas  no momento errado e com processos  errados, suicidas e criminosos.

Com resultados maus para todos os lados, até para eles próprios.

Claro que isto faz parte da " minha guerra", não quer dizer que não haja a guerra de jornalistas, mirones,  ideólogos e até de africanos que são os que menos testemunham.                                                                                                                                                 

Cumprimentos

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10368: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (24): África subsariana: As ex-colónias neocolonizadas, as ex-colónias abandonadas e os caso da Guiné-Bissau, Gãmbia e Casamansa... É preciso salvar a Guiné-Bissau.

1. Texto enviado pelo Antº Rosinha, há já cerca de 3 meses... Julgamos que não perdeu atualidade, oportunidade e importância... É a opinião de um homem que nunca foi "cólon" /(, trata-se de auto-ironia!), que ama a Guiné-Bissau e os guineenses, e que nos obriga a rever ou questionar ideias feitas, estereótipos, mitos, certezas, à esquerda e àdireita, em suma, um camarada que nos tira, muitas vezes, do "sofá do nosso conforto"... (LG)

De: António Rosinha <antoniorosinha@gmail.com>

Data: 14 de Junho de 2012 19:21

Assunto: África subsariana: As ex-colónias neocolonizadas, as ex-colónias abandonadas e o caso da Guiné-Bissau / CasamanÇA

Amigos editores se acharem que é de publicar no blogue façam-no caso contrário podem divulgar entre o pessoal . 


Um abraço, Antº Rosinha


PS - Data de hoje...

(...) Para justificação do que eu escrevo, queria dar uma pequena explicação pois que cientificamente, jornalisticamente ou políticamente não tenho arcaboiço de qualquer espécie e as pessoas podem pensar que falo por falar.

Tudo o que falo foi "respigos" que fui colhendo, durante 13 anos, de trabalhadores das obras, de engenheiros das Obras Públicas, meus amigos,  em conversas informais, e principalmente de uma viagem a Kolda com um 'chaufeur' meu amigo das Obras Públicas em que fomos abordados por jovens que seriam guerrilheiros, quase todos ou todos mesmo,  pela independência de Casamansa, todos a falar crioulo, muito eufóricos a cumprimentarem-nos por sermos de Bissau.

Ainda não era noite, eu já dentro da Guiné, soubemos que naquela região havia incursões do exército senegalês em perseguição de guerrilheiros dentro da Guiné.

Isto foi em 1993, mas como já conhecia outras fronteiras africanas, e sei o que se passa na Guiné e redondezas,  principalmente quando se fala em petróleo no mar, pode-se esperar o pior.

Esperemos que tudo se resolva, mas as cabeças dos próprios guineenses anda muito baralhada, quando sabemos que há imensos (mais elucidados) na diàspora que já nem pensam em regressar. (...)


2. Salvemos a Guiné-Bissau
por Antº Rosinha


Toda a gente conhece os golpes de estado crónicos da Guiné-Bissau, e a quem interessam esses golpes, mas ninguém fala abertamente. A Guiné-Bissau tem tanta lógica como a Gàmbia a sobreviver naquele mundo francófono.

Quando os países africanos subsarianos, tal como se conhecem a partir dos anos 50 do século passado,  ficaram independentes, foi imposta aos cidadãos uma bandeira e um hino só conhecidos por uma minoria que tinha tido acesso a uma educação colonial.

Alguns desses países (colónias) só existiam no mapa, praticamente a partir de 1900. (Em 1900 foram marcadas em Londres as fronteiras de Angola, Moçambique, Rodésia do Norte e do Sul). Ou seja, etnicamente ainda hoje não há fronteiras, e mesmo fisicamente e geograficamente, ainda hoje para muitos habitantes desses países ainda não há país pois nem há bem a certeza em alguns casos se os marcos fronteiriços coloniais estão bem definidos no campo ou se é apenas no papel.

Mas a guerra civil que se gerou em diversos países dessa África subsariana,  durante e após essas independências, vai continuar periódica ou permanente em quase todos esses países. 

Mas tanto os países colonizadores como as Nações Unidas sabiam que seria inevitável a guerra. E o mundo inteiro acha natural e os próprios dirigentes africanos guerream-se com as melhores armas que os países desenvolvidos lhe fornecem.

Ora , como apenas uns poucos cidadãos de cada um desses países tinham assimilado a cultura semelhante à do colono nos anos 50, como se iam auto-administrar igual a países que vinham do tempo de Carlos Magno e do Rei Artur? E m apenas 24 horas! Foram marcadas datas de independências com poucos meses de antecedência do que devia ser um grande dia.

Muito facilmente se resolveu o problema, os poucos dirigentes mais ou menos preparados passaram a governar sob a orientação do antigo cólon, e aparece o NEOCOLONIALISMO.

E aqui aparecem os países que não tendo uma potência que os "neocolonize", que são os casos das ex-colónias portuguesas e belgas, sofrem as influências mais nefastas do que os outros que têm quem os «proteja».

Os exemplos da guerra de 27 anos em Angola, de Moçambique (mais ou menos 15 anos de guerra fratricida), e os autênticos genocídios nas ex-colónias belgas, são o exemplo das ex-colónias «abandonadas» a que me refiro.

E aqui temos o caso da Guiné-Bissau  que,  segundo muitos guineenses,  «teve o azar de ser colonizado por um país que é tão fraco e tão pobre como a própria Guiné». E como o ex-colonizador perdeu toda a influência militar, política e económica,  naquele território, a Guiné tornou-se vítima de uma invasão descomunal dos mais diversos organismos internacionais, ONG,  empresários, religiosos, muçulmanos e cristãos, enfim, tudo aquilo a que se chamou "COOPERAÇÕES".

Mesmo as cooperações melhor intencionadas tornavam-se perniciosas, porque inadaptadas, impróprias e desestruturantes e viciantes (Suécia e URSS). À Guiné tudo afluiu, até revolucionários ideológicos abrigava a troco de ajudas, refugiados dos países vizinhos (Casamansa, Conacri, independentistas das Canárias, palestinos…).

Os guineenses após a independência nunca tiveram uma guerra civil entre o povo, porque o povo nunca tem armas, apenas os militares as têm e se matam entre eles e os políticos. Mas o povo não compreende nem colabora nem acredita nos militares nem nos governantes, reage apenas muito passivamente. Quem compreende bem os dirigentes guineenses são os vizinhos,  principalmente os do norte.

Muitos comerciantes guineenses tem uma vida dupla e até tripla, como a etnia deles se estende pelo Senegal, Gâmbia e mais distante ainda, são apenas Guineenses enquanto lhe convem.

Como a economia influenciada por esses comerciantes (muçulmanos) é baseada nos países vizinhos, sem qualquer controlo das autoridades (corrupção), para esses comerciantes o desaparecimento da fronteira norte é como que se não exista, na realidade a fronteira serve apenas para dar umas gorjetas a uns tantos polícias de um lado e do outro.

Mas existe um engulho para o Senegal e seu protector,  a França, que é a existência de uma Guiné-Bissau independente, estruturada e personalizada, é perigosíssima e subversiva pois mantem uma ligação étnica e territorial e linguística com a Casamansa, que vive de costas para o Senegal. [Imagem à direita:  Casamansa, a vermelho; Senegal, a cor de rosa; e no meio, a branco, o espaço correspondente à Gâmbia, anglófona... Fonte: Wikipédia].

Portanto cada golpe de estado na Guiné-Bissau que desestabilize este país, é sempre apoiado directa ou indirectamente pelos vizinhos.

Neste golpe e no de 1998 entraram os militares vizinhos, e a intenção é mesmo darem o golpe fatal neste PALOP. Só que desta vez uma tal CEDEAO é um cavalo de Troia que traz na sua barriga todo o veneno para acabar com a Guiné-Bissau como país de corpo inteiro.

Se não for desta tentativa o fim deste país com este golpe de estado, e os guineenses não abram os olhos para ver quem é mesmo guineense verdadeiramente responsável, não demora que haja outra tentativa mais decisiva, em próxima ocasião.

O discurso anti-colonial e anti-PALOP faz parte desse jogo por alguns dirigentes, que muitas vezes é usado ingenuamente por demagogos dos diversos governos, que o usam com outras intenções mais pessoais.

Sempre, desde a independência, o mundo de cooperações internacionais que invadiram a Guiné, massacraram os guineenses com a aleivosia que estavam ali para ajudar a Guiné, que os portugueses atrasaram durante 500 anos.

Este discurso foi e é usado até à exaustão para afastar os guineenses do fraquíssimo cordão umbilical lusófilo (PALOP), por aqueles a quem interessa directamente esse afastamento. Talvez este golpe de estado já tenha acabado com as resistências, e a CEDEAO só já saia quando aquele território se transformar num protectorado qualquer do Senegal, e assim acabar também com o perigo dos rebeldes da Casamansa, que são mais lusófilos que muitos guineenses. (Testemunhei isso pessoalmente em Kolda).

Os rebeldes de Casamansa expressavam-se em crioulo de Bissau, pelo menos nos anos 90. E notava-se que usavam subversivamente essa língua.

Mas pior que tudo o que se passa actualmente, será um dia que se concretize o que se fala de vez em quando: Haver petróleo no mar de Bissau. Existe um contencioso sobre as fronteiras marítimas com os vizinhos do norte e do sul. Este problema está em banho-maria, mas dentro de uma panela de pressão.

Como economicamente a Guiné Bissau é dependente dos vizinhos e da França, directamente (CFA), a solução à Timor não se pode aplicar a este país.

É preciso salvar a Guiné que tem tanto direito a sobreviver como a Gàmbia, seu vizinho. (**)
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 29 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10087: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (23): Esse tal de linguajar de Luanda, só foi possível ouvi-lo em 2012 na Ilha de Luanda, porque em 1961 não se deu ouvidos às catanas de Holden Roberto (UPA)


(`**) Tomamos a liberdade de reproduzir aqui o artigo:

Casamansa, um grito de liberdade sufocado, por Adelto Gonçalves (#) 

A situação dramática vivida por uma província do Senegal é mais um exemplo da herança deixada pelos colonizadores europeus

 Provavelmente, você nunca ouviu alguém falar da Casamansa. Também, pudera. Não se sabe de jornal, revista ou emissora de rádio e TV brasileiros que tenham citado o nome da Casamansa nos últimos anos. Não imagine, porém, que, por trás de tudo, haja uma conspiração de silêncio. É falta de informação mesmo dos jornalistas. No Brasil, ninguém sabe onde fica a Casamansa. Nem o que significa.

E, no entanto, a fronteira entre a Casamansa, província do Senegal, e a Guiné-Bissau, na África Ocidental, vive hoje momentos de desespero, com mais de cinco mil de pessoas em fuga pelo campo, atemorizadas com as hostilidades que opõem o exército guineense a uma ala do Movimento das Forças Democráticas da Casamansa (MFDC). Há mais de 2.500 refugiados, segundo a Cruz Vermelha, e a Anistia Internacional já recebeu denúncias de violações dos direitos humanos de civis. Tanto na Casamansa como na Guiné-Bissau fala-se português. Não é incrível que, no Brasil, não se escreva uma linha a respeito de um drama que envolve povos que falam a língua de Camões e Machado de Assis?

Os confrontos começaram no dia 16 de março, quando guerrilheiros do MFDC lançaram um ataque suicida na cidade de São Domingos e 13 rebeldes morreram. O exército guineense respondeu com artilharia pesada contra a base dos guerrilheiros a cerca de 130 quilômetros de Bissau, capital do país, e a menos de seis da fronteira com o Senegal. Os bombardeios têm como alvo bases do comandante Salif Sadio, líder de uma facção do MFDC, a Frente Sul, que se recusou a assinar um acordo de paz em dezembro de 2004 com o governo de Dacar.

Pressionadas pelo exército senegalês, as forças de Sadio deixaram a Casamansa, refugiando-se na Barranca da Mandioca, na Guiné-Bissau. Agora, o exército guineense promete expulsar até o último intruso. “Vamos fazer uma operação limpeza para tirar essa sujeira de nosso território”, prometeu Antônio Indjai, chefe do comando militar estacionado em São Domingos. “Os rebeldes não vão aceitar ser capturados como galinhas”, respondeu Zacarias Goubiaby, lugar-tenente do comandante Sadio. “Vamos combater como leões”.

Esse conflito seja recente. É resultado de outro que começou em 1982, quando uma manifestação em Zinguinchor, capital da Casamansa, reuniu mais de 100 mil pessoas de várias etnias reclamando a independência da província. Houve repressão e mais de mil mortos.

Foi a partir de então que o MFDC partiu para a luta armada contra o governo de Dacar. Os 32.350 quilômetros quadrados do território da Casamansa contam com vastas reservas de petróleo, o que tem atraído a cobiça de empresas estrangeiras, inclusive uma da Malásia, que adquiriu recentemente do governo senegalês os direitos de exploração.

Já o resto do Senegal é rico apenas em fosfato e o país sobrevive com a ajuda que o governo francês envia regularmente. Só que a maior parte desses recursos fica em Dacar, segundo a queixa que se ouve na Casamansa. Isso explica em boa parte as razões históricas do conflito.

Desde 1982, as hostilidades dos separatistas da Casamansa são contra o governo de Dacar, mas, devido à fronteira, sempre ocorreram incursões no território guineense, inclusive com a tomada de “tabancas” (aldeias), seqüestros e mortes. A incursão maior ocorreu em 1998, quando as forças separatistas da Casamansa ajudaram o falecido brigadeiro Ansumane Mane a afastar do poder o presidente João Bernardo Nino Vieira. Depois, com Kumba Ialá na presidência, os separatistas passaram a contar com o apoio estratégico da Guiné-Bissau.

De volta ao poder em Bissau, depois das eleições presidenciais de junho de 2005, Nino Vieira acertou com o presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, uma operação conjunta para acabar com o foco guerrilheiro. Para tanto, Vieira e Wade contam com o apoio do comandante César Badiate, que se opõe a Salif Sadio dentro do MFDC e assinou o acordo de paz de 2004. Resolver a questão da Casamansa, inclusive, é uma promessa de campanha de Wade, eleito em 2000 e candidato à reeleição em 2007.

O bom relacionamento entre os países vizinhos é visto como fundamental para que o petróleo comece a ser explorado em maior profusão. Mas a posição política de Nino Vieira não é sólida: em março, enquanto estava em Lisboa para a posse do presidente português Aníbal Cavaco Silva, correram rumores de uma tentativa de golpe de Estado.

Antes, Vieira havia acusado algumas altas patentes de “conivência” com os rebeldes da Casamansa, enquanto o porta-voz do estado-maior do exército, tenente-coronel Arsênio Balde, desmentia que chefes militares tivessem recebido dinheiro do governo do Senegal para aniquilar a rebelião. Já dissidentes do PAIGC, principal partido do país, acusam Vieira de promover uma “caça às bruxas”, de pressionar cidadãos independentes e de manter “prisioneiros de guerra”.

A ajuda humanitária internacional começou a chegar a Casamansa e a Guiné-Bissau, mas ainda em quantidade reduzida. Vilas como Susana e Varela estão isoladas desde que os rebeldes colocaram minas na estrada que as liga a São Domingos. Uma dessas minas explodiu e provocou 12 mortos nos primeiros dias dos confrontos.

Até agora, o conflito só tem recebido indiferença por parte de Portugal e Brasil. Em razão da ajuda financeira que recebe da União Européia, o governo português, aparentemente, teme incomodar os interesses da França na região.

Também a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), até agora, não se manifestou. A entidade reúne Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor Leste e, em tese, poderia abrigar uma Casamansa independente. Para mediar o conflito, o chefe de Estado do Senegal, com o apoio da Guiné-Bissau, preferiu convidar o presidente da Gâmbia, Yaya Jammeh. 

Um drama esquecido

O domínio do Senegal na região vem sendo contestado há muito tempo, mas recrudesceu quando, entre 1974 e 1975, as antigas províncias de Portugal no Ultramar tornaram-se nações independentes e as forças políticas da Casamansa viram no movimento uma oportunidade de reivindicar a sua origem de “ex-colônia portuguesa”.

Faz quase um século que a Casamansa deixou de ser colônia portuguesa: em 1908, os portugueses foram obrigados a ceder definitivamente a região à França, passando a ocupar apenas a Guiné. Mas, desde 1884-1885, os franceses vinham tentando resolver a questão a seu favor, pressionando Portugal no âmbito da Conferência de Berlim, que dividiu a África entre ingleses, franceses, belgas, alemães e portugueses.

Historicamente, os portugueses chegaram primeiro. Foi em 1445 que o português Diniz Dias “descobriu” a Casamansa, que, na linguagem do país, significa rei do rio dos Cassangas, porque a palavra mansa quer dizer rei ou senhor. Mas há historiadores que afirmam ter sido em 1446 que a região foi “descoberta”, quando Antônio de Nolle e Luís de Cadamosto, por ordem do infante Dom Henrique, percorreram a costa do rio Geba.

A colônia nasceu a partir de uma feitoria em Zinguinchor — hoje uma cidade com cerca de um milhão de habitantes —, criada para intensificar o comércio de escravos com o Império Gabu, reino que englobava, além da Casamansa, a Guiné-Bissau e a Gâmbia, reunindo várias etnias, como a jola — que sempre foi majoritária —, a fula, a banta e a manjaco.

Os franceses, atraídos pelo florescente comércio de carne humana, chegaram em 1459. No século XVIII, franceses e portugueses combateram entre si na região. A partir de 1908, a Casamansa tornou-se colônia francesa, mas não integrada ao Senegal.

Depois da Segunda Guerra Mundial, foi criada a Federação do Mali, que reunia também Senegal e Casamansa. Em 1947, com a liberação das atividades políticas pelas autoridades coloniais, surgiram o Bloco Democrático Senegalês, comandado por Leopold Senghor, e o MFDC, que só optou pela luta armada a partir de 1982.

Proclamada a independência da Federação em 1958, o Mali, dois anos mais tarde, retirou-se da aliança porque exigia que a capital fosse Bamako em vez de Dacar. Casamansa ficou, então, unida ao Senegal por um documento que previa a coalizão por duas décadas. Mas, em 1980, Senghor entendeu que, “para o bem das duas nações”, a Casamansa deveria continuar unida ao Senegal. Quando ele já não estava no poder, ocorreu a tragédia de Zinguinchor.

Dos 3,5 milhões de habitantes, apenas 10% são alfabetizados e aprenderam obrigatoriamente um pouco de francês. O povo fala mesmo o idioma jola e o crioulo português. Só alguns integrantes da elite, que estudaram na França, usam o francês. As ligações com o mundo lusófono são mais fortes. Até porque Portugal esteve lá 462 anos, enquanto a presença francesa não passou de oito décadas.

Apesar do esforço de Dacar para erradicar a cultura lusa, há alguns monumentos em ruínas que testemunham a presença portuguesa. Mas, em razão da repressão, não há na Casamansa nenhum jornal ou emissora de rádio em língua portuguesa. Só entram jornais em francês impressos em Dacar.

Originalmente publicado na Revista Fórum,  São Paulo, ano 4, nº 39, junho 2006, pp. 42-43.  Dispoinível na Revista TriploV de Artes, Religiões e Ciências, nº 3, janeiro de 2010 (Com a devida vénia...)

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(#) Adelto Gonçalves, nascido em Santos, Brasil, é doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa e mestre em Língua Espanhola e Literaturas Espanholas e Hispanoamericana pela Universidade de São Paulo (USP). É autor de Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2003), Bocage: o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003), Fernando Pessoa: a voz de Deus (Santos, Universidade Santa Cecília, 1997), Os vira-latas da madrugada (Rio de Janeiro, José Olympio, 1981) e Mariela morta (Ourinhos-SP, Complemento, 1977)... Fonte Revista RTriploV.