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quarta-feira, 3 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19941: O nosso livro de visitas (200): Ana Catarina Tavares, sobrinha-neta do capelão Libório Tavares (, nascido em 1933, em Rabo de Peixe, São Miguel; esteve em Nova Lamego, ao tempo do BCAÇ 2835, 1968/69; foi pároco em Brampton, Toronto, Canadá)


Guiné > Região de Gabu > Setor de Nova Lamego) > Canjadude > CCAÇ 5, "Gatos Pretos" > 1969 > O alf mil capelão Libório Tavares, açoriano, dizendo missa, num altar improvisado. Ajudante, o José Martins, fur mil trms, CCAÇ 5 (Canjadude, 1968/70). É a úncia foto que temos deste capelão , de quem o José Martins faz um humaníssimo retrato (*).

Libório Jacinto Cunha Tavares:

(i) açoriano, nascido em 1933,  na ilha de São Miguel, em Rabo de Peixe;

(ii) frequentou o seminário diocesano da Terceira;

(iii) foi ordenado padre em 1958; esteve em várias paróquias da sua ilha natal, incluindo Rabo de Peixe;  

(iv) com  35/36 anos, foi capelão no CTIG, de 17/1/1968 a 10/12/1969, em Nova Lamego, no leste da Guiné [, como tudo iudica, no BCAÇ 2835:  mobilizado pelo RI 15, esta unidade partiu para a Guiné em 17/1/1968 e regressou a 4/12/1969; esteve em Bissau e Nova Lamego; comandantes: ten cor inf Esteves Correia, maj inf Cristiano Henrique da Silveira e Lorena, e ten cor inf Manuel Maria Pimentel Bastos; foi rendido pelo BCAÇ 2893 (1969/71)]:

(v) emigrou para o Canadá, foi pároco da igreja católica de Santa Maria, em Brampton, durante 26 anos, lugar que é hoje ocupado pelo seu sobrinho e afilhado, o padre Libório Amaral, nascido em 1963;

(vi) em 2016,  reformado, vivia  em Brampton, cidade suburbana da área metropolitana de Toronto, província de Ontario, Canadá:

(vii)  é muito conhecido de (e estimado por)  aa comunidade portuguesa e açoriana de Toronto, é foi considerado um dos principais animadores da tradição da multissecular festa do Senhor Santo Cristo 

(viii) a  ser vivo hoje, como esperamos, estará com 85/86 anos.

Foto (e legenda): © José Martins (2006). Todos os direitos reservados [Ediçaõ e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Ana Catarina Tavares:

Data: segunda, 1/07/2019, 19:58

Assunto: Padre Libório Tavares

Boa tarde,

Foi com muita felicidade e gozo que li a sua história sobre o padre Libório, meu tio avô! A forma como descreveu as histórias dele fizeram-me imaginar o ar e trejeitos dele! Até mesmo a forma de falar!

Muitos cumprimentos,

Catarina Tavares (**)


2. Resposta do editor LG, com cinhecimento do José Martins:

Ana: Obrigado pela gentileza do seu comentário... Espero que o tio-avô ainda esteja vivo e de boa saúde...

Vou dar conhecimento ao José Martins, que o conheceu bem... no teatro de operações da Guiné.  (*)

Gistaria que ele ainda se pudesse juntar a esta comunidade virtual dos anigos e camaradas da Guiné, a Tabanca Grande, partilhando connosco as suas memórias de Nova Lamego, como capelão do BCAÇ 2835 (1968/69).


3. Comentários ao poste P 16638 (*)

(i) Tabanca Grande Luís Graça;

Zé, onde foste arranjar o raio da alcunha de "capelini" para o capelão ?... "Capellini" (com dois l) é uma massa italiana, fina e longa, tipo aletria.... Ab. LG

25 de outubro de 2016 às 13:30 

(ii) José Marcelino Martins:

Caro Luis

Agora que colocas a "questão", sinceramente já não me lembro. Sei que criamos uma amizade forte e, sempre que ia a Nova Lamego não deixava de o procurar e conversar com ele. Como quando cheguei, ainda estive cerca de um mês e pouco em Nova Lamego, tínhamos encontro marcado, sempre ao fim da tarde,  e ajudava-o na missa que celebrava ao fim do dia, na Igreja local.

Talvez seja a "italianização" da palavra Capelão. Ab

25 de outubro de 2016 às 14:42 

(iii) Carlos M. Pereira:

Quanto mais leio este blog, e leio-o diariamente, mais fico desapontado com a qualidade dos oficiais e menos me admiro com o desfecho da guerra. Então os nossos alferes faltavam à parada da guarda e depois eram "absolvidos" por influência do sr capelão ?!... Claro que a partir daqui valia tudo. A indisciplina realmente era muita. E sem disciplina não há organização que se aguente,  muito mais se se tratar de forças armadas, vulgarmente designadas por tropa.

O termo capelini já em 68 o ouvi em Angola. Cumprimentos,

Carlos M.Pereira

25 de outubro de 2016 às 16:07

(iv) Tabanca Grande Luís Graça:

Zé: o equivalente a capelão, em italiano, é "cappellano" (no plural, "cappellani")... Mas não está mal, "capelini" ou "capellini" será uma forma, jocosa mas sem ser grosseira, brincalhona, de tratar o capelão na caserna... Antes de ser um oficial, um militar, ele é um sacerdote católico, apostólico , romano... Na tropa (e na guerra) havia outras cumplicidades que não era possível ter na vida civil... O próprio capelão sentia necessidade de "descer do altar" para estar mais próximos dos seus "rapazes"... E, embora de formação católica, muitos de nós, sobretudo os milicianos, já éramos "ovelhas ranhosas" ou já estávamos fora do rebanho...
_____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de outubro de  2016 > Guiné 63/74 - P16638: Os nossos capelães (6): Libório [Jacinto Cunha] Tavares, o meu Capelini, capelão dos "Gatos Negros", açoriano de São Miguel, vive hoje, reformado, em Brampton, AM Toronto, província de Ontario, Canadá (José Martins, ex-fur mil trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70)

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16638: Os nossos capelães (6): Libório [Jacinto Cunha] Tavares, o meu Capelini, capelão dos "Gatos Negros", açoriano de São Miguel, vive hoje, reformado, em Brampton, AM Toronto, província de Ontario, Canadá (José Martins, ex-fur mil trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70)


Guiné > Região de Gabu (Nova Lamego) > Canjadude > CCAÇ 5, "Gatos Pretos" > 1969 > O alf mil capelão Libório Tavares, açoriano, dizendo missa, num altar improvisado. Ajudante,  o José Martins, fur mil trms, CCAÇ 5 (Canjadude, 1968/70) (*).

Libório Jacinto Cunha Tavares, açoriano,nascido em 1933,  foi capelão no CTIG,  de 17/1/1968 a 10/12/1969,, portanto já com 35/36 anos (**).

Foto (e legenda):  © José Martins (2006). Todos os direitos reservados [Ediçaõ e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário de José Marcelino Martins , de 19/9/2014, ao poste  P13616 (*)

Se os capelães caíam em emboscadas e sofriam ataques aos aquartelamentos, não sei.

Só conheci um capelão, apesar de haver de 2 batalhões durante a minha estadia.

Conheci o Padre Libório [Tavares], tipo bacano,  e que "safou" muito alferes que se não apresentava ao render da guarda. Também não era necessário. O Libório tomava o lugar do faltoso, e depois "passava a pasta".

Esta cena via-a e soube que era normal, em comentários com a malta do Batalhão [, sediado em Nova Lamego].

[Deve tratar-se do  BCAÇ 2835: mobilizado pelo RI 15, partiu para a Guiné em 17/1/1968 e regressou a 4/12/1969; esteve em Bissau e Nova Lamego; comandantes: ten cor inf Esteves Correia, maj inf Cristiano Henrique da Silveira e Lorena, e ten cor inf Manuel Maria Pimentel Bastos. Foi rendido pelo BCAÇ 2893 (1969/71) ]
Quando o vi ir numa coluna, ia desarmado. Disse-lhe que era bom levar a "canhota", porque ficava igual aos outros, apesar de já ter uma idade jeitosa [, 35/36 anos]. Respondeu-me que foi para a guerra para salvar homens, e não para usar armas.

Uns tempos depois, já o vi a usar pistola, baseado no facto de que Deus o protegia, mas que ele, Padre, devia colaborar.

Em 11 de julho de 1969, a CCAÇ 5 estava em operação a 4 grupos de combate. No aquartelamento [, em Canjadude,]  ficou a Formação, 1 Grupo de Combate da CCAV 2482 , "Os Boinas Negars" (recebido em reforço temporário) e p Pelotão de Milícias  nº 129.

O Padre Libório [Tavares] encontrava-se de visita ao aquartelamento, tendo chegado no dia anterior com o pelotão de cavalaria.

O Padre Libório não deu um tiro, mas organizou, com as mulheres dos soldados [guineenses da CCAÇ 5] que fugiram para dentro do quartel, um grupo para encher os carregadores que os soldados iam atirando para junto deles, para serem carregados.

Incentivou toda a malta ao combate, mas não me consta que tenha chamado, ao IN, "Santos" ou "Anjinhos". O que chamou foi de grau muito mais vernáculo [, ou não fosse ele de Rabo de Peixe].

Sei que, quando regressou aos Açores, já a sua mãe e uma irmã com quem vivia, tinham falecido. Foi para junto duma comunidade portuguesa na América (***).

Onde quer que esteja e se ler esta mensagem, vai um grande abraço para o meu amigo Capelini, como eu o tratava, do furriel das transmissões de Canjadude,  José Marcelino Martins. (****)


2. Comentário do editor:

Nascido em 1933, na ilha de São Miguel, em Rabo de Peixe, Libório Tavares frequentou o seminário diocesano da Terceira,  foi ordenado padre em 1958, esteve em várias paróquias da sua ilha natal, incluindo Rabo de Peixe, foi capelão  militar no TO da Guiné (de 17/1/1968 a 10/12/1969), vive em Brampton, cidade suburbana da área metropolitana de Toronto, província de Ontario, Canadá,

Com a bonita idade dos octogenários, está naturalmente reformado. Foi pároco da igreja católica de Santa Maria, em Brampton,  durante 26 anos,  lugar que é hoje ocupado pelo seu sobrinho e afilhado, o padre Libório Amaral.

O padre Libório Tavares é muito conhecido da comunidade portuguesa e açoriana de Toronto,  é foi considerado um dos principais animadores da tradição da multissecular festa do Senhor Santo Cristo (LG).

_________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 12 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - P746: Procissão em Canjadude ou devoção mariana em tempo de guerra (José Martins)

(**) 17 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13616: Os nossos capelães (4): O bispo de Madarsuma, capelão-mor das Forças Armadas, em Gandembel, no natal de 1968 (Idálio Reis, ex-alf mil, CCAÇ 2317, Gandembel / Balana, 1968/69)

 (***) Vd. Liborio Tavares | Alphaleo Solutions Inc | ZoomInfo.com  [Mississauga, Ontario, Canada]

Encontrámos duas referências ao reverendo Libório Tavares, reformado [, "retired",] que fez  parte da equipa sacerdotal ligada á igreja católica de St. Mary, Brampton, Ontario,   arquidiocese de Toronto, Canadá:

St Mary's Church
Roman Catholic Church Brampton

66A Main St. South, Brampton, ON L6W 2C6


Call us: 905-451-2300
Email us: info@stmarysbrampton.com
https://stmarysbr.archtoronto.org/

(...) Parish  Staff:  Frei Liborio Amaral > Pastor:

Fr [Father] Liborio was born in 1963 at San Miguel, Azores, Portugal (...). In the winter of 1969 he immigrated to Canada with his parents and two sisters. (...) He is very happy to be pastor of his home parish – his parents are now his parishioners and live near by. An added blessing is the presence of his Uncle and Godfather, Fr. Liborio Tavares, who lives at St. Mary’s senior's residence next door.​ (...)

 (...) Fr. Liborio Jacinto Cunha Tavares (Retired Priest):  Fr.  [Father] Liborio Tavares was born in 1933 at San Miguel, Azores, Portugal (i.e. San Miguel is the largest of 9 islands in the mid-Atlantic ocean).


On June 15th, 1958, Fr. Liborio Tavares was ordained to the Priesthood in the island of Terceira, Azores (the diocesan seminary was located in this island). He celebrated his first mass of thanksgiving in the midst of his family and friends on June 29th, 1958 in the parish of Senhor do Bom Jesus, Rabo de Peixe. He was assigned to a number of parishes on the island of San Miguel and also ministered as a military chaplaincy. (...)

Podemos também, vê-lo aqui, num vídeo do You Tube, publicado recentemente por TubaMan73  > Banda do Senhor Santo Cristo 2000

"Concert at Festa do Senhor Santo Cristo at St. Mary's Church in Toronto in 2000. Our guest maestro was Fr. Liborio Tavares".


[José Ferreira de Pinho, nº 8 da lista dos capelães militares: agosto de 1963 / outubro de 1965]

5 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13576: Os nossos capelães (2): Convivi com o ten mil Gama, de alcunha, "pardal espantado"... Muitas vezes era incompreendido, até indesejado por alguns, pois tinha coragem para denunciar os abusos, quando os presenciava (Domingos Gonçalves, ex-allf mil, CCAÇ 1546 / BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68)

[Serafim Monteiro Alves Gama, salesiano, nº  15 da lista: janeiro de 19064/março de 1969]
[Seria o José Ferreira de Pinho, nº 8 da lista dos capelães militares: agosto de 1963 / outubro de 1965]

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Guiné 63/74 - P16393: Facebook...ando (40): Sou açoriano, nasci em janeiro de 1955, fui à inspeção em dezembro de 1970, com 15 anos... Em abril de 1971 fui para a tropa, e em setembro, com apenas 16 anos, parti para o CTIG... (ex-1º cabo Alcides, da CCÇ 3476, "Bebés de Canjambari", Canjambari e Dugal, 1971/73; emigrante no Canadá, desde junho de 1974)


Guiné > Região do Oio > Farim >  Canjambari > CCAÇ 3476 (Canjambari e Dugal, 1971/73) >  Os "Bebés de Canjambari" era uma companhia açoriana...

Foto: © Manuel Lima Santos (2013). Todos os direitos reservados.


1. O nosso editor de serviço, Carlos Vinhal, mandou-nos, em 14 do corrente a seguinte mensagem, com conhecimento a alguns colaboradores permanentes do blogue:


Camaradas

Grande novidade para mim.

Conheciam este caso ou semelhante?

Esta mensagem caiu no facebook da Tabanca Grande Luís Graça (**):


Caro amigo e ex-combatente, eu escrevo pouco em português, porque só tirei a 4ª classe.

O meu comentário é a respeito do Fernando Andrade Sousa (*), que não sabia que se podia para ir para o exército com menos de 18 anos. Pois eu fui à inspeção para a tropa em dezembro de 1970, e só tinha 15 anos. Fiquei apurado para todo o serviço Militar, e em abril de 1971 fui para a tropa, em setembro de 1971 fui para a Guiné, com a  CCac 3476, "Bebés de Canjambari" [Canjambari e Dugal, 1971/73]. 

Hoje estou no Canadá, razão de ir voluntário e tão novo. Meus Pais imigraram para aqui e o governo português disse que eu não podia vir sem cumprir o serviço militar, foi a razão de ir mais cedo. Em dezembro 1973 regressei da Guiné com 18 anos, livre do serviço militar, que como vês aqui eu sou de janeiro de 1955. 

Em junho de 1974 vim para o Canadá. e aqui me encontro, continuo a trabalhar porque sou tenho 61 anos e me sinto com saúde.

Eu fui Primeiro Cabo, talvez o mais novo do exército! 

Um bem haja para ti e toda a equipa da Tabanca Grande!
O [Manuel] Lima Santos [, membro da Tabanca Grande,] foi meu Furriel do meu Pelotão [, foto atual à direita], só para se quiseres confirmar, e podes ver o meu álbum da tropa!

Bem Haja,
Alcides.


2. Comentário do António José Pereira da Costa no mesmo dia:

Olá,  Camaradas

Desconhecia esta ou outra situação similar. Estava convencido que só se poderia ser voluntário aos 18 anos.  Recebi na minha companhia um miúdo com essa idade que ficou com essa alcunha por isso mesmo. Mas só a lei do tempo o poderá confirmar.

Um Ab.
Tó Zé


3. Comentário do editor

Em contacto telefónico com o camarada Lima Santos, este disse que se lembra perfeitamente do Alcides, com quem ainda hoje mantém contacto. Disse ainda que julga ter havido mais duas situações semelhantes na Companhia, combatentes com 18 anos ou menos, assim com provavelmente o mesmo se terá passado com a Companhia irmã, a CCAÇ 3477 (Gringos do Guileje).
Os mancebos açorianos, para poderem mais rapidamente juntar-se aos pais, emigrados por terras do continente americano, ofereciam-se como voluntários para servirem o exército antes da idade normal.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13209: Camaradas da diáspora (8): Alô, Lisboa, daqui Vancouver, Canadá... Luciano Vital, natural de Valpaços, Trás-os-Montes, ex-fur mil, de rendição individual, que andou pelas CCAV 3463 (Mareué), CCAÇ 3460 (Cacheu) e Adidos (Bissau), 1973/74

1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Luciano Vital:


Data: 26 de Maio de 2014 às 01:25
Assunto: Guine 72-74

Foi por acaso que encontrei esta página. Também eu pertenci à CCAÇ 3460 sob o comando do capitão Morgado, aonde cheguei em rendição individual em1973 para ajudar o furriel Lacasta comandar o pelotão que ele comandava sozinho até à minha chegada.

Outros nomes de que me lembro: Furriéis Canha, Bravo, Pacheco, Pinto.

Antes de ir para o Cacheu,  estive 14 meses na CCAV 3463 em Mareué, batalhão de Pirada, Capitão Touças, Furriéis Santos, Peres, Freitas, Ivo, Luís, Malhoa, etc.

Depois da CCAÇ 3460 voltar para Portugal, passei os últimos 6 meses nos Adidos em Bissau aonde tinha sido colocado quando cheguei de Portugal. Ai conheci os furriéis Palmeiro, Nunes, Buiça etc.

Gostaria de entrar em contacto com estes velhos amigos.

Luciano Vital, Fur Mil natural de Valpaços, Trás os Montes e residente em Vancouver, Canada
contacto; louvital@gmail.com.

Obrigado

2. Comentário do editor Luís Graça:

Caro Luciano: Como a gente aqui diz, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!... Chamamos tabanca à comunidade virtual que se reúne à volta do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Somos 658 membros registados, e tu podes ser o 659, se nos mandares, na volta do correio, um pedido para te sentares à sombra do nosso poilão, e mandares as duas fotos  da praxe (uma atual e outra do teu tempo de Guiné), mais uma pequena história ou episódio de que te lembres...  

Um em cada cinco dos nossos visitantes vive fora de Portugal (desde o Brasil, EUA, etc., até à Austrália). E uma boa parte deles devem ser camaradas como tu que procuram camaradas do seu tempo de Guiné, e querem, matar saudades... Este é um lugar de partilha e de afetos, e naturalmente um local de (re)encontros. 

Tens aqui algumas  referências à CCAÇ 3460 que pertencia ao BCAÇ 3863, curiosamente a companhia a que pertenceu originalmente o nosso camarada e amigo, conhecido especialista em história e cultura da China, o António Graça de Abreu. Mas não chegou a partir para a Guiné com os camaradas (que foram para o Cacheu)... Tem sido ele, o António Graça de Abreu, a falar da CCAÇ 3460, do capitão Morgado, e do infeliz alf Mil Potra que ficou sem uma perna... Tu, sendo de rendição individual, não o deves ter conhecido.

Em contrapartida, da CCAV 3463, não temos nenhuma referência ou simples notícia...

Vai tu dando notícias e divulga o nosso blogue pelo teu círculo de conhecidos e amigos, aí no Canadá. Vamos realizar, em Monte Real, Leiria, no dia 14 de junho próximo, o IX Encontro Nacional da Tabanca Grande, o mesmo é dizer que estão convidados  todos os camaradas e amigos da Guiné que queiram aparecer... LG
____________

Nota do editor:

Último poste da série > 26 de dezembro de  2011 > Guiné 63/74 - P9269: Camaradas da diáspora (8): José Freitas, ex-Fur Mil, CART/CCAÇ 11, "Os Lacraus de Paunca", Nov 70/Set 72: vive hoje em Sydney, Austrália

Postes anteriores:

14 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9043: Camaradas da diáspora (7): José Marçal Wang de Ferraz de Carvalho, Fur Mil Op Esp, da 16ª CCmds e da CART 1746 (Xime, 1968/69): vive hoje em Austin, Texas, EUA

15 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8779: Camaradas da diáspora (6): O nova-iorquino João Crisóstomo, português, cidadão do mundo, em Lisboa, no aeroporto a caminho de Paris... com vontade de conhecer mais camaradas da Tabanca Grande

20 de janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7646: Camaradas da diáspora (5): José Oliveira Marques, condutor de White, ERC 2640 (Bafatá e Piche, 1969/71), a viver em Estrasburgo, França

17 de Janeiro de 2011> Guiné 63/74 - P7626: Camaradas na diáspora (4): José (ou Joe) Ribeiro, natural de Leiria, a viver em Toronto, Canadá, há mais de 35 anos: Sold Inf , 4º Gr Comb, CCAÇ 3307/BCAÇ 3833 (Pelundo, Jolmete, Ilha de Jete, 1970/72)

22 de dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7488: Camaradas na diáspora (3): O luso-americano Franklin Galina, aliás, ex-Fur Mil Franklin, Pel Mort 4575 (Bambadinca, Julho de 1972 / Agosto de 1974)

29 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6659: Camaradas na diáspora (2): Na morte do Luís Zagallo, (João Crisóstomo, Nova Iorque)

18 de Março de 2010 > Guiné 63/74: P6013: Camaradas na diáspora (1): João Crisóstomo, ex-Alf Mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67), militante de causas nobres, a viver em Nova Iorque

sábado, 6 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11350: Manuscrito(s) (Luís Graça) (1): Amigos de infância, camaradas da diáspora: o Zé Pê, que foi para o Canadá

1. Era mais velho do que eu, três ou quatro anos... Um matulão. Um bom gigante.  Livrou-se da tropa e do ultramar,  porque a família emigrou para o Canadá ainda em finais da década de 50, se bem me recordo. Já não o via há séculos. Foi um dos meus grandes amigos de infância. Éramos vizinhos. Reencontrei-o em 2/8/2012, na Praia da Areia Branca, nas férias de verão... Eis o que escrevi, na altura, no meu bloco de notas:

Zé Pê!?...
─ Liz Manel!...
How are you ? Há quanto tempo!...
Fine, fine!..A long time ago!...
Até parece que foi ontem!
─ Qual quê, há mais de 50!...How old are you ? Estás com quantos ?
65
─ Atão foi há mais…
Há mais de 50  anos, há mais de meio século!...
─ Quem diria!
Dá cá um abração do tamanho do Atlântico!...
─ ‘Tás na mesma, Liz Manel!... Tirando a barba!...
Não me lixes, envelhecemos, como o caraças… Cada um para seu lado... Separados por este oceano imenso…
─ Pois é, mas estás fine, fine!
É, pá, deixa-me conhecer os teus netos!
─ Tenho estes dois. Boy and girl.
Sim, senhor, nice children!.. Então por cá?!... Agora sempre de férias, não ?!... 365 dias por ano!
─ Mas sempre entretido, sempre rolando. Cá e lá...
Tinham mo dito… Alguém me disse que tinhas perguntado por mim.. Tens voltado aos States ?
─ Canadá…
Ah, sim, desculpa, Canadá…
─ Sempre, tenho lá a minha sweet home!...Os filhos e os netos que são canadianos...
E tens cá também um casarão que chegou a estar à venda, não?!!... Tens dupla nacionalidade ?
Of course, desde 1983… Nesta terra é que eu não quero ficar. Só se morrer de repente, como o meu pai.
A terra que nos viu nascer!...
─ Madrasta… Para mim,  foi madastra...
‘Tá bem, ‘tá bem assim… Afinal, tens o melhor dos dois mundos, a Europa e a América, o Velho e o Novo Mundo…
─ Até o Canadá já foi melhor, infelizmente... Mas conta lá tu... As voltas que a vida deu, Liz Manel!...
Olha, safaste-te da tropa e de ir parar a África, ao ultramar… Eu fui parar à Guiné, sabias ?… Tinha 14 quando rebentou a guerra em Angola, já não estavas cá, se bem me lembro…
─ Lá nisso, tive mais sorte. Safei-me a tempo, ainda não havia guerra. Mas também passei o meu mau bocado. Andei nas plataformas petrolíferas, conheci o Alasca…
Como o mundo é pequeno, Zé!
─ E a puta da vida é curta… Não vês o meu pai, não chegou a conhecer os netos…
O ti Zé Pê!...Bom homem, mas de poucos sorrisos... Tinha o seu génio. Ainda me lembro bem dele, com o seu automóvel de praça...
Yeah!...
Tens cá casa, em terras do teu avô, tens cá as tuas raízes. Esta é a tua terra e sê-lo-á sempre.
─ Tenho duas, afinal…E completam-se. Aqui em casa uso as duas bandeiras, geminadas. Pena é tudo isto por cá andar tão mal parado…
Pois é, Zé… Infelizmente, estamos voltar à porca miséria do tempo da nossa infância…
─ Mas ele havia coisas que nos deixavam saudades… A galera que eu inventei, as jogatanas de hóquei no largo do coreto… Com sticks de pau de tamargueira...Ou tramagueira ? ...Lembras-te ?! Já esqueci o raio do português...
Se me lembro!... Tramagueira, era assim que a gente falava... Se me lembro!... Ouvíamos os relatos de hóquei em patins, debaixo dos lençóis. Montreux, o campeonato do mundo…
─ Jesus Correia, Correia dos Santos, Sidónio, Emídio e Edgar… Depois veio uma geração de ouro, Adrião, Bouçós, Velasco…
Que cabeça, Zé!...O Livramento já não é do teu tempo…Foste para o Canadá em finais dos anos 50, é isso ?! E levaste a tua galera…Mas nessa altura já havia televisão… No café do Clemente Alberto, na Rua Grande…
─ Éramos os melhores do mundo!...Dávamos cada cabazada aos espanhóis…
Os nossos eternos rivais...
─ Também não tínhamos mais vizinhos para malhar...
Olha, disseste-me que andaste nos petróleos, no Alasca...
Yeah, e é até tenho patentes de sistemas para apagar fogos nos poços de petróleo… Mas não penses que estou milionário...
A sério ?... Patentes registadas ?... Sempre foste um grande engenhocas!...
─ Só na tua terra é que tu não vales nada…
É verdade, Zé, ninguém é profeta na sua terra…Mas foi pena não teres estudado...
─ Qual quê!... Se cá tivesse ficado, não tinha passado da cepa torta. E se calhar tinha ido  parar a Angola ou à Guiné, como tu... Mas não foi fácil, Liz Manel!... A vida foi dura… Hoje tenho o meu pension plan,  pago em dólares... 'Tou retired, sabes ?!...
 Fico feliz por ti  e pelos teus... Safaste-te... Da Índia, de Angola... Lembras-te da festa que fizemos ao Jorge da Ti Albertina quando ele veio da Índia ?
─ Se me lembro!... Chorávamos todos baba e ranho, com tanta alegria!... O Jorge funileiro era um dos nossos, um vizinho, um herói!...
─  Éramos uns índios,   a malta da nossa rua, a última da vila, a do castelo, a dos valados...  O Jorge era muito mais velho do que nós, mas era um dos nossos... Um dos últimos soldados da Índia. Já não posso precisar em que ano isso foi... 56, 57, 58 ? Enfim, muito antes da invasão que foi em dezembro de 1961...
─  Pois é, foi já tanto tempo... Mas lembro-me bem da ti Albertina, a chorar como uma Madalena. Mas de alegria, of course!
Zé, não foste só tu que deu o salto... Da malta da nossa rua, lembro-me do teu irmão, que foi contigo, da Mariete que foi para os States, do Frasco do Veneno, o João Fernando, meu primo,  que foi para o Brasil... E de outros...Para não falar da malta que andou na escola comigo, mais novos do que tu...
─ Que saudade, que bom recordar a nossa infância!
... Olha, eu tenho que ir  andando... Ainda vou até Lisboa. Zé, até sempre.  Gostei muito, foi bom rever-te. E voltaremos a ver-nos, espero bem. Bye, Bye!
─ Até sempre, Liz Manel! Bye, bye! Take care!

domingo, 22 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9780: VII Encontro Nacional da Tabanca Grande (11): Que ganda ronco!... As primeiras fotos da Op Monte Real 2012, com uma mensagem para o futuro



VII Encontro Nacional da Tabanca Grande  (*) > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012 > O avô Benjamin Durães trouxe, desde Palmela, os seus cinco netos:  Bruna, Fábio, Marta, Rafael e Tiago (na foto não estão por esta ordem)... Todos devidamente equipados e ostentando na lapela o crachá do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) a que orgulhosamente pertenceu o nosso camarada, fur mil op esp e DFA.




VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012 > A Joana Graça, filha dos nossos tabanqueiros Luís Graça e Maria Alice, com três dos netos do Benjamim Durães... As duas raparigas são a Bruna e a Marta.

VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012 > O Manuel Joaquim e o seu "menino", o Adilan (pseudónimo de José Manuel Cunté)... A história de ambos foi aqui foi contada e comoveu-nos a todos... Também tivemos oportunidade de conhecer, no final do nosso convívio, a espos do Manuel, uma das suas filhas e dois seus netos...

VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012 > Ao centro e à direita, o José Marcelino Gonçalves e a esposa, de origem finlandesa,Tuula Kahkonen, que vivem no Canadá. O Gonçalves foi um bravo gamadaelense, tal como o Caria Martins, hoje médico (aqui à esquerda).



VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012 > Manuel Lema Santos e Maria João (Massamá / Sintra)... O Manuel Lema Santos fez, antes do início do almoço, uma breve alocução, em nome da direção da AORNA - Associação dos Oficiais da Reserva Naval. Ofereceu ao nosso blogue várias publicações e uma medalha em bronze, comemorativa da fundação da AORNA, em 1995.




VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012 > O António Sousa Bonito (Carapinheira / Montemor-O-Velho) e  com outro camarada do Pel Caç Nat 52, do tempo em que foi comandante o alf mil op esp Joaquim Mexia Alves... O Joaquim estava radiante pelo Bonito ter feito a "bonita proeza" de juntar, em Monte Real, todos os seus furriéis (António Bonito, João Santos e Diamantino Varrasquinho) e cabos (António Pinheiro, António Ribeiro e João Sesifredo) do seu pelotão, do tempo do Mato Cão... Para que a felicidade fosse completa, estavam presentes no encontro, o primeiro comandandte do Pel Caç Nat 52, de 1966/68, o nosso camarigo Henrique Matos, que veio de Olhão, e   o último comandante, Luís Mourato Oliveira, da Lourinhã, a quem já convidámos para ingressar no blogue, e que tem muito de contar - tal como a Nau Catrineta).



VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012 > Da esquerda para a direita: O João Santos, fur mil do Pel Caç Nat 52, no tempo em que em que o comandante era o Joaquim Mexia Alves (c. 1972, Mato Cão), e o Luís Mourato Oliveira (Marteleira / Lourinhã), o último comandante, em 1974,  daquele bravo pelotão...
 

VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012 > Pessoal de peso e em peso, do BART 3873 (Bambadinca, 1971/74) e em eespecial da CART 3494 (Xime e Mansambo, dez 1971/ abr 74) > Da esqureda para a direita: Sousa de Castro (Viana do Castelo) - o nosso tabanqueiro nº 2 -,  Acácio Dias Correia (Algés / Oeiras), António J. Pereira da Costa (Mem Martins / Sintra),   Jorge Araújo (Almada), Adriano Neto (Aveiro), António Sousa Bonito (Carapinheira / Montemor-O-Velho) e  por fim, na ponta direita,  o Manuel Benjamim Martins Dias (Porto).

Fotos (e legendas): © Luís Graça  (2012). Todos os direitos reservados


1. Estas são as primeiras fotos do nosso almoço-convívio, em Monte Real, ontem, sábado, 21 de abril. Segundo a organização (Carlos Vinhal, Joaquim Mexia Alves e Miguel Pessoa), o número de inscritos e de presenças ultrapassou os 185, um recorde absoluto em sete anos... Como acontece todos os anos, há sempre desistências e inscrições de última hora. Mas mesmo sem a ajuda do São Pedro, da "troika" e do Cristiano Ronaldo, o nosso VII Encontro ultrapassou todas as nossas expetativas (em termos de inscrições).

A hora não é de fazer o balanço crítico do evento, mas tão só de mostrar como estamos a passar a mensagem à geração dos nossos filhos e netos. Vários camaradas trouxeram consigo os seus filhos (caso, por exemplo, dos nossos editores Luís Graça e Eduardo Magalhães Ribeiro, ou da nossa amiga Felismina Costa) ou dos seus netos (caso do Valentim Oliveira e do Hugo Guerra, por exemplo).

A fotorreportagem continua dentro de momentos... (LG)

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Nota do editor

domingo, 26 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7506: Tabanca Grande (256): João Bonifácio de volta ao Canadá, desiludido com Portugal

1. Mensagem do nosso camarada João Bonifácio* (ex-Fur Mil SAM, CCAÇ 2402, , Mansabá e Olossato, 1968/70), com data de 22 de Dezembro de 2010:

Olá Amigos da Tabanca.
Em primeiro lugar desejo a todos um Feliz Natal com as vossas famílias e um Ano 2011 com SAÚDE, já que como sabem, a partir de agora é só Ski Alpino.

Cá estou de novo, depois de uma longa ausência.

Como todos sabem, ou pelo menos alguns que visitam a Tabanca para saber das novas, eu consegui sobreviver a esta entrada brutal que fiz em Portugal, ainda no inverno passado.

Não vou aqui falar de Portugal, pois todos vós sabeis muito mais do que eu, em especial se levarem em conta que vivi no estrangeiro 37 anos, mais propriamente no Canadá, um país digno e que prima pela sua maneira de estar no mundo, onde os seus cidadãos são tratados como humanos. Enfim, a verdade é que desde 2007 e com a aproximação da minha reforma, eu comecei a sonhar, que talvez não fosse má ideia regressar ao meu país de origem, em especial pelo seu clima ameno e tropical, onde apesar da humidade, os invernos seriam toleráveis. A verdade é que o sonho bem depressa se começou a transformar no maior pesadelo da minha vida, e nisto e em termos de comparação, a minha estadia na Guiné, até se pode dizer que foram umas férias de 21 meses.

A escritura da casa não foi em Janeiro mas só em fins Maio e isso me obrigou a aceitar o favor de uns cunhados, com quem partilhei a vida durante 3 meses e meio. Nesta altura, todos já compreenderam que esta situação e intolerável para qualquer humano. Com toda a boa vontade possível, a verdade é que eu comecei a sentir muita ansiedade e os nervos começaram a transformar o meu dia-a-dia num inferno autêntico. Em Julho mudei para a minha casa, mas o estrago estava feito. A esposa começou a sentir os efeitos de tudo o que se tinha passado, e por duas vezes tive que visitar os serviços de urgência do hospital Garcia da Horta em Almada. Na segunda visita eu achei que já chegava de sofrimento, pois é fácil tomar decisões quando se passam 8 horas num serviço que não funciona e onde tudo falta, até a higiene, para não falar da falta de pessoal e os modos como tudo se mexe à volta dos doentes.

Foi ali que eu jurei e prometi a minha esposa que iríamos regressar ao Canadá. A verdade é que nos não podemos criticar o que existe, pois muita gente acha e me tem dito que o Hospital é excelente. Contudo, ao fim de 37 anos, nos estávamos habituados a outros “standards”, e por isso sentimos que a adaptação de minha esposa iria ser muito complicada. Este Natal ira ser, assim o espero, o primeiro e o ultimo que aqui passamos. Portugal, e nem falo da crise económica, pois irei sair bem derrotado, é um país onde é urgente que os hábitos e os modos de governar dos políticos tem de ser alterados. É flagrante o modo como toda a gente pode ver quanto mal eles fazem ao povo em geral com as suas leis protectoras dos grandes interesses económicos, mas ninguém pode fazer nada para resolver ou pelo menos minimizar os problemas.

Tudo junto, podemos apenas acreditar que também este pesadelo se ira resolver, como o meu. Portugal, é sem duvida nenhuma um país com uma localização previligiada, mas muita coisa terá de ser alterada, se deseja ser reconhecido como um grande pais de turismo. Para mim seria bom, pois poderei sugerir o meu país aos amigos que deixei no Canada. Mas para isso o Governo terá de resolver o problema da segurança dos seus cidadãos. De momento, Portugal é um país sem lei, e onde todos nós vivemos com medo de podermos passear a noite.

Meus amigos, esta foi a experiência da minha vida, com muitos efeitos negativos, mas também meia dúzia de positivos. Apesar da sua modernidade, e de tanto se falar em TGV’s, Portugal e os portugueses precisam de um bom sistema de saúde onde os impostos que se pagam sustentem o mesmo sistema. Precisamos que os preços de roubo dos combustíveis suportem o custo das portagens, e os portugueses não paguem por terem de se movimentar. Terão de olhar o futuro com outra motivação, olhando para os jovens de hoje como os governantes de amanhã. Tratarem com dignidade os idosos, que em Portugal e de um modo geral, são seres descartáveis, tanto pelo sistema social como pelas bases estruturais familiares.

Amigos, eu levo o meu coração muito ferido pelo que aqui tive oportunidade de assistir. Eu sei que nada poderei fazer para mudar as coisas, mas tenho a firme certeza, de que pelo menos, a minha vida ou o que dela eu poderei ter, será muito mais feliz no pais que em 1974 me acolheu com um emocionante “Welcome to Canada”.

Deixo-os com os meus votos e desejos de que tudo vos corra pelo melhor, a nível pessoal e familiar e por favor SEJAM MUITO FELIZES.

Um dia eu voltarei aqui para lhes dar conta da minha camaradagem para com todos vós.

Um GRANDE ABRAÇO aos que continuam a trabalhar neste Blogue.

BOAS FESTAS CAMARADAS e ATÉ UM DIA...

João G Bonifácio
Ex-Fur Mil do SAM
CCAÇ 2402 Guiné, 68/70
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Nota do Editor

(*) Vd. poste de 2 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6093: Tabanca Grande (209): Regressei a Portugal depois de 36 de ausência, mas encontrei a mesma burocracia (João Bonifácio)

Vd. último poste da série de 19 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7473: Tabanca Grande (255): António Clemente (CCAÇ 764, Aldeia Formosa, Colibuía, Cumbijã, 1965/66), apresentado pelo seu camarigo de Tavira, Mário Fitas

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7285: História de vida (34): Do Cunene a Gadamael ou as (des)ilusões do Portugal plurirracial e pluricontinental... Para o Cherno Baldé, com apreço (José Gonçalves)

 1. Resposta do José Gonçalves ao comentário do Cherno Baldé (*):


Meu caro Cherno, obrigado pelas tuas palavras e quero dizer-te que estou completamente de acordo contigo quando dizes que as necessidades e o querer dos homens e mulheres nativos da Guiné, que lutaram ao nosso lado, por um ideal, pelos seus próprios interesses sócio-económicos e por vezes até pelo ódio por outras etnias (depois eu explico porque uso a palavra ódio),   não foram tomados em consideração pelas Forças Armadas Portuguesas no terreno aquando da retirada e não mereciam o que lhes aconteceu.


Como deves saber,  em qualquer exército democrático todos recebemos ordens de outrem até chegar ao poder político e as ordens são para cumprir ou há consequências. Apesar de ter hoje conhecimento do que se passou com os soldados africanos,  não sei o que poderia ter sido feito diferente para salvaguardar os interesses dos nossos camaradas que decidiram ou foram esquecidos lá e continuaram a fazer a sua vida na Guiné.


A Guiné é um país independente e  Portugal não tinha e não tem o direito de intervir a não ser que os tratados fossem violados, o que veio a acontecer,  e uma intervenção na ONU por parte de Portugal a denunciar tais massacres à comunidade internacional era apropriado, mas do que serve ?


Todos nós sabemos o peso das resoluções da ONU! Não valem muito a não ser que os interesses dos grandes estejam comprometidos.

Totalmente suporto que os soldados que lutaram debaixo da bandeira portuguesa,  deviam ter uma reforma do governo português, mas quero que saibas que eu também não a recebo e nunca a receberei porque nunca descontei para a caixa de aposentações [, Segurança Social,] em Portugal  e sem o ter feito não tenho direito apesar de ser português,  nascido em Portugal. Regras feitas pelos políticos que nunca compreenderei. 

Agora um pouco de humor: dizem que os políticos são como as fraldas e que de tempos a tempos têm que ser mudados e pela mesma razão !

 Voltemos ao ideal de que falei. Apesar de natureza colonialista e muito paternalista,  o ideal porque lutámos,  continha valores muito nobres como a liberdade e igualdade entre as raças (apesar de eu pensar que só há uma, a humana!),  um país secular e multidimensional, onde brancos, pretos e mestiços podiam viver em harmonia debaixo da mesma bandeira. Só que esse mesmo ideal existia pura e simplesmente  para conveniência das classes dominantes que o utilizavam para os seus próprios fins que era o controlo absoluto do seu povo, colonizador e colonizado.

Como jovem que fui, este ideal foi-me incutido desde muito jovem, ainda me lembro de ler nos livros da escola primária toda esta propaganda e pensar nessa altura que Portugal devia ser o melhor país do mundo devido a toda a sua bravura e nobreza e assim me manipularam como manipularam a maior parte da minha geração.

Para te dar um pouco das minhas experiências pessoais deixa-me dizer-te que por muito tempo me considerei Angolano/Português e não o contrário pois vivi em Angola dos  8 aos 18 anos para onde fui com toda a minha família em Janeiro de  1961 e foi aí que se passaram os meus anos formativos (**). 

O meu pai sempre foi um guerreira da vida, à procura de sucesso para a sua família apesar de ter somente a 3ª classe da escola básica. Com esta sua vontade pelo sucesso, tentou emigrar para o Canadá aos vinte e tal anos, mas como tinha cadastro na PIDE, apesar de ter sido aceite pelo Canadá,  o governo português não autorizou a sua saída, e assim em 1960 foi-lhe feita a proposta  para ir para Angola como colono o que este aceitou,  porque era aventureiro e sabia que em Portugal as oportunidades para ele eram poucas.

Lembro-me de um jornalista perguntar ao meu pai no hospital da Junqueira onde nos encontrávamos a fazer exames médicos antes da partida, para onde íamos?  Ao que o meu pai respondeu Colonato do Cunene! . O dito jornalista,  com lágrimas nos olhos disse em voz baixa quase inaudível:
- Isto não se faz...isto não se faz...Com dois filhos assim tão novos isto não se faz !...   

Vi no rosto do meu pai pela primeira vez um ar de preocupação por todos nós, mas calou-se e não disse nada. Passadas umas semanas lá estavamos nós numa povoação chamada Castanheira de Pêra, nome bastante português mas não no norte de Portugal mas sim ao sul da Matala,  no distrito do Cunene [, no sul de Angola, vd. mapa à direita]. 


O meu pai tentou fazer o seu melhor para triunfar mas nunca tinha sido agricultor na sua vida e em Castanheira de Pêra ou se cultivava ou se morria à fome. Uma outra estipulação era a proibição de empregar qualquer nativo para não perturbar a seu modo de vida que era basicamente a criação de gado. Como poderia um casal de portugueses brancos,  vindos do Algarve,  sem nunca ter sido agricultores,  triunfarem no colonato do Cunene quando o governo lhes promete o Céu e no fim dá-lhes um casal de bois bravos, 4 hectares de terra,  uma carrroça e diz Governa-te.

O meu irmão mais velho frequentava a escola comercial em Faro o que lhe foi impossivel continuar. A opção que teve foi trabalhar no campo a cortar bissapas,  nome angolano dado a arbustos. Eu guardava os bois na bela savana angolana depois de sair da escola primária.  Como calculas,  o meu pai não aguentou muito tempo e em menos de um ano deixou o colonato e arranjou emprego como electricista numa fábrica de  papel no Alto Catumbela onde foi bem sucedido devido ao seu esforço e vontade.

Ao mesmo tempo começou a guerra em Angola e a população branca estava aterrorizada,  mesmo no Cunene. Lembro-me de dormir no sótão da nossa casa 6 meses com medo de sermos massacrados.

Cherno,  a razão porque te conto toda esta história é para te dizer que as vítimas eram na maior parte das vezes os colonos e os colonizados. Nessa altura eu tinha muito orgulho em dizer em voz alta e bom som que era Angolano de corpo e alma e considerava meus compatriotas todos os pretos, brancos e mestiços que viviam no mesmo país,  Portugal. Vivia eu numa comunidade afluente onde gente de toda a raça convivia em harmonia com o objectivo de uma Angola melhor. 

Esta era a minha realidade mas bem analisada veríamos que não era bem assim. Em certas comunidades havia esta harmonia mas a maioria da população vivia marginalizada e  num estado de pobreza extrema sendo explorada por pretos, brancos e mestiços de classe sociais mais elevadas. A exploração também não tem côr.

O princípio da desintegração de toda esta compilação de sentimentos aconteceu na viagem de Bolama para Cacine quando viajava para o meu destacamento em Gadamael. Como é que uma simples viagem de barco consegue desfazer algo acumulado em duas dezenas de anos ?

Neste mesmo navio patrulha ia um sargento das tropas africanas. Acho que o seu destino era Jemberém.  Uma das declarações do mesmo foi como a percussão de todo um desencadear de pensamentos dentro do meu cérebro jovem e ingénuo.  O sargento ia falando dos roncos que tinha já feito e das operações realizadas e a certo momento diz-nos que em regra quando vai para o mato "tudo o que é preto é para matar". 

Para mim isto foi um choque tremendo pois este não era o sentimento nem o treino que tinha tido. Como africano estava ofendido (nessa altura ainda me sentia africano,  hoje sou canadiano/português) e como comandante militar senti nesse momento que havia algo de errado nesta guerra para onde ia. O inimigo para mim não tinha côr mas sim uma ideologia que era diferente da minha e que a queria impor à força, a Portugal e às populações, que viviam debaixo da mesma bandeira. Para o sargento o inimigo era preto e vivia no mato fora das zonas controladas pelas nossas tropas. Quem estaria certo ?

 Mas como podia este homem vêr os seus irmãos da mesma côr vivendo na mesma "província" como inimigos mortais ? Seria que eram todos turras ? Seria que este sargento não tinha sentimentos ? Seria que se encontrasse com um cubano branco não o matava e só mataria os pretos ? Quem teria incutido este ódio num homem que parecia afável em todos os outros aspectos ? Será que eu e os meus soldados iríamos ter os mesmos sentimentos passado uns tempos ? Esperava sinceramente que não,  mas já não tinha a certeza de nada.

Por fim cheguei a Gadamael,  entrei dentro da rotina dos bombardeamentos  mas este sargento não me saía da mente pois não queria ser como ele. O 25 de Abril diminuiu este tipo de preocupação mas começou uma nova série,  relacionada com as consequências da descolonização.  

De início não podia imaginar que Portugal poderia abandonar as então chamadas "províncias ultramarinas" porque eu conhecia bem Angola e a realidade angolana. Compreendi logo de início que a Guiné era muito diferente e que a minha experiência angolana não era a mesma na Guiné.  Lembro-me das conversas com os meus soldados tentando mentalizá-los que o regresso a casa talvez demorasse mais do que eles pensavam, que no meu parecer Portugal não ia abandonar as populações e as tropas africanas e que para tudo isto se resolver era preciso tempo.  A resposta deles era quase sempre a mesma: Eles que resolvessem isso depressa que eles queriam ir para casa. O mesmo sentimento era quase unânime  entre os outros pelotões e os oficiais e sargentos.

Foi então que entendi que os princípios e ideais porque estava lutando não eram iguais à maioria dos meus camaradas . Nessa altura eu ainda me sentia africano e tinha um peso enorme no coração por saber o que estava para acontecer a todos os meus compatriotas angolanos com a inevitável retirada. Tinha por lá ainda muitos amigos de infância e estava preocupado. A minha preocupação era legítima pois a maior parte deles veio de lá com as calças na mão como se costuma dizer.

O 25 de Abril foi um processo irrefreável como um comboio sem travões descendo uma ladeira. A descolonização ia ser feita o mais rapidamente possível desse no que desse.

Os comandos militares do MFA  sabiam que não podiam mandar a guerra continuar porque na mente dos militares a guerra já tinha acabado e agora era tudo "democracia" portanto "o povo é quem mais ordena" e o povo ordenou a entrega das colónias que foi um termo rejuvenescido para  justificar o que já estava num processo irreversível. 

Se os caixões continuassem a chegar a Portugal,  o povo revoltarse-ia e também acho que os militares não aceitariam um continuar da guerra. As negociações não contemplavam  mais nada do que a independência total e era pura e simplesmente uma questão de quando e não se nos íamos retirar. Associações de soldados, sargentos e oficias milicianos começaram a aparecer por todo o lado dentro das Forças Armadas e já não se decidia nada a não ser por comité.

Infelizmente,  Cherno,  a descolonização que se fez  não foi a que deveria ter sido feita mas a que foi possível fazer dentro de um clima que na altura se tornou caótico e que injuriou brancos, pretos e mestiços que se consideravam cidadãos de um Portugal multirracial e pluricontinental,  principalmente aqueles vivendo em África. 

Por outro lado temos também que imputar responsabilidade aos movimentos de libertação pois para bem do povo estes deviam ter insistido numa outra descolonização. Era o interesse e o bem estar do seu povo que beneficiaria de uma descolonização ordenada preservando a economia, e infraestruturas do governo como a educação e a saúde pública. Não foi isto que os movimentos exigiram de Portugal o que queriam era que saíssemos o mais rápido possível para que pudessem discutir entre eles quem reinaria, e foi isso que fizemos em detrimento do povo africano (branco, preto e mestiço) 

A minha visão deste assunto e de outros tem evoluído através dos tempos com a minha própria maturação e um entendimento mais global do mundo, vejo hoje as coisas de maneira diferente, as coisas já não aparecem a preto e branco mas sim em diferentes tons incluindo todas as cores do arco íris.  Também descobri através de muitos anos de ponderação e experiência que a culpa em coisas deste géreno não vem só de um lado e que,  para se resolver os probemas sérios, temos que escutar, analisar, reflectir,  pedir desculpa e desculpar. Um dos grandes exemplos, e filho de Africa é o Nelson Mandela que conseguiu pacificar o seu povo. Devia haver um Nelson Mandela para cada país do mundo, principalmente em África. 

Não te quero cansar mais pois esta história já está muito comprida. Quero novamente agradecer as tuas palavras e também os teus textos que acho maravilhosos. 

Obrigado
 Jose Goncalves
 Alf Mil Op Esp


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Nota de L.G.:


(*) Vd. comentário ao poste de 10 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7253: (Ex)citações (108): Transferência de soberania com dignidade ou rendição sem honra nem glória ? Quando se olha para trás, é que se enxerga tudo... (José Gonçalves)


(...) Caro José Gonçalves,

Tenho lido com muito interesse os seus depoimentos ou pontos de vista que me parecem sinceros e muito realistas, certamente, fruto de uma longa reflexão e maturidade.


Sobre o poste de hoje, a minha modesta apreciação feita mais acima continua válida, no entanto queria chamar a atenção sobre um aspecto que, na minha opinião, podia e devia ser considerado,  e não foi,  que é a opinião desses soldados nativos e das milícias que, como é sabido, não viam a questão com os mesmos olhos nem tinham as mesmas motivações. E a parte da população Guineense que se arriscou ao lado de Portugal e que era considerada pela outra parte como sendo os cães dos colonialistas mereciam ser abandonados a sua sorte? Exceptuando a pequena Bélgica, nenhuma outra potência colonial o fez.  



Um dia vou contar a história de um pequeno grupo de milícias fulas destemidos que, quase sem armas, atacou a localidade de Cuntima, no norte, e as drásticas consequências que daí resultaram para a comunidade local. Houve muitos que não se deixaram enganar pelas falsas promessas de um falso acordo que, de facto, foi uma verdadeira capitulação. Esta história faz lembrar os acordos de rendição ou capitulação da Alemanha na 1ª guerra.

Cherno Baldé (...)



 (**) Último poste desta série > 12 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7267: História de vida (33): Adilan, nha minino. Ou como se fica com um menino nos braços - 2ª parte (Manuel Joaquim)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7212: Álbum fotográfico de José Gonçalves, ex-Alf Mil Op Esp, CCAÇ 4152/73 (Gadamael e Cufar,): Com o PAIGC em Gadamel (Maio) e em Cufar (Agosto)... e em ainda em Bolama


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CCAÇ 4152/73 (1974)  > Maio de 1974 > Apresentação do comissário político do PAIGC ao Régulo de Gadamael



Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4152/73 (1974) > Agosto de 1974 (?) > Cerimónia da entrega do aquartelamento de Cufar ao PAIGC



Guiné > Bijagós > Bolama > s/d [ 1974] > O José Gonçalves  junto ao  monumento  que dizia "Mussolini,  ai caduti di Bolama" [ , De Mussolini, aos caídos em Bolama] 

Fotos (e legendas): © José Gonçalves (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Mensagerm do José Gonçalves, nosso camarada e amigo que vive na diáspora, no Canadá, e que foi Alf Mil da CCAÇ 4152/73, tendo estado em Gadamael entre Janeiro e Julho de 1974:

Caro Luis:

Já há muito tempo que estou faltoso por não te em enviar as tais fotos da praxe, condição aliás do enlistamento no Blogue. Aqui tas envio com mais algumas como:

(i) a apresentação do comissário político ao Régulo de Gadamael;

(ii) a cerimónia da entrega de Cufar ao PAIGC;

(iii) e a do célebre monumento em Bolama que dizia "Mussolini ai caduti di Bolama" (**), e que eu dedico a todos aqueles camaradas que por lá passaram.

Cumprimentos para todos
José Gonçalves

 (**) Homenagem de Mussolini aos 5 aviadores italianos, vitimas de queda dos seus aparelhos em 5 de Janeiro de 1931 quando faziam a ligação Itália/Brasil com escala por Bolama


(...) Finalmente: Bolama que tem em si um dos raros monumentos ao esforço fascista de paz, quando Mussolini e Ítalo Balbo tentaram o cruzeiro aéreo para unir Roma ao Brasil. Com efeito, dois dos aparelhos despenharam-se em Bolama e a missão esteve em riscos de se malograr. Tal não aconteceu porque a tenacidade de Ítalo Balbo a isso se opoz. Resta desse desastre o belo monumento aos «Caduti di Bolama» no qual se reproduz um aspecto dos destroços dos aviões — duas asas, uma das quais ainda erguida aos céus e a outra quebrada e caída em terra.

O monumento foi feito por italianos e com pedra italiana, vinda de Itália, para esse fim. Mandou-o erguer Mussolini e na sua base lá se encontra a coroa de bronze por ele oferecida, com estes dizeres — Mussolini ai cadutti di Bolama. Ao lado, a águia da fábrica de hidro-aviões Savoia, uma coroa com fáscios da Isotta-Fraschini e a coroa de louros da Fiat. É curioso notar que este será um dos raros monumentos do fascismo, no mundo, que no fim de 1945 não foi apeado. Virado para diante e no alto, o distintivo dos fáscios olha ainda com alienaria o futuro, no seu feixe de varas e no seu machado, a lembrar a grandeza da Roma do passado. (...)

Fonte: Extractos de: César, A. -  Guiné 1965: contra-ataque. Braga: Pax, 1965.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6093: Tabanca Grande (209): Regressei a Portugal depois de 36 de ausência, mas encontrei a mesma burocracia (João Bonifácio)

1. Mensagem do nosso camarada João Bonifácio* (ex-Fur Mil SAM, CCAÇ 2402, , Mansabá e Olossato, 1968/70), com data de 27 de Março de 2010:

Olá Caros Amigos e Camaradas;

Os melhores cumprimentos ao Carlos, Graça e restantes responsáveis por este local de encontro.

Como em tempos informei, eu tomei uma decisão radical e que foi mudar de temperaturas. Assim, e depois de 36 anos num país frio e com uns verões muito curtos, resolvi regressar a Portugal. Não, eu não retornei... eu regressei apenas ao meu country de origem.

Tem sido muito complicado. Primeiro porque deixei neve e frio no dia 9 de Janeiro, e logo para me habituar melhor, Portugal premiou-me com chuva, vento e frio. Eu nada fiz para merecer este castigo, mas como não chegasse, e vindo do Canadá, pensei que duas semanas depois poderia fazer a escritura de um andar que o verão passado comprei na Quinta do Bom Retiro, Vale Figueira, na freguesia da Sobreda.

Eu tinha tantas informações, confirmações e contactos que até pensei: eh pá... Portugal está muito mudado, e daí asneira. Acreditei. Calculem que até vendi a minha casa no Canadá em 48 horas... e hoje dia 27 de Março ainda não estou no andar.

Papéis, inspecções, burocracia, fins de semana longos, férias para tudo e mais, Carnaval e com a Páscoa tão perto, já vi filmes mais bonitos.

Estou a tentar manter a calma, mas até me tem parecido o mesmo da nossa idade para a Guiné. Tudo feito à balda e em cima do joelho, e nós os "combatentes" nem água tínhamos naquele campo quente e de barracas que eu nem me lembro já onde era.

É evidente que a chegada chuvosa a Portugal foi melhor. Tive direito a uma recepção, mas sem a red carpet, mas uma viagem sem "minas" pela segunda circular, eixo norte-sul e depois sobre a sempre espectacular ponte sobre o Tejo, que nem digo o nome, em caso que algum ministro sem pasta... ou quase, se lembre de acordar um dia e deixar de ser 25 de Abril.

Finalmente, parece que a primavera está já à porta em termos reais, pois das datas estou eu cansado. Nós fazemos barulho porque temos 15 graus e no meu segundo país, refilam porque está vento e baixa a temperatura para menos 14 como foi nos últimos dois dias.

Ainda não estou preparado para o combate, mas estou a tentar por-me em forma.

Para já este mail a dizer que cá estou, e a partir de agora, tentar rapidamente adaptar-me a tudo, incluindo aos serviços de saúde.

Por intermédio do Carlos, renovo os meus cumprimentos a todos e obrigado pela atenção dispensada.

João Gomes Bonifácio
CCAÇ 2402
Guiné/1968-70


2. Comentário de CV:

Caro Bonifácio
Pois é... mudar mentalidades é muito complicado, e este país é um caso sério.

Serviço público que se preze atira para as mãos do utente uma molhada de papéis para preencher. Tratam-nos por senhor José, senhor Carlos, quando não, por você.

Não te esqueças da gorjeta que sempre lubrifica o sistema e retira umas pedras da engrenagem.

Bem-vindo ao nosso Portugal imutável e corrupto, e vê se não compras algum andar já vendido a outrem ou ainda hipotecado pelo construtor.

O perigo espreita onde menos esperares.

Em nome da tertúlia desejo-te as maiores felicidades neste teu velho país.

Se puderes envia as tuas fotos da praxe, uma antiga e outra actual para os nossos registos.

Recebe um abraço dos editores e da restante tertúlia.

Vinhal
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 11 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5256: Tabanca Grande (186): João Bonifácio regressa em Janeiro de 2010 ao solo pátrio (Os Editores)

Vd. último poste da série de 12 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5981: Tabanca Grande (208): Daniel Matos, ex-Fur Mil da CCAÇ 3518 (Gadamael, 1972/74)