Mostrar mensagens com a etiqueta DFA. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta DFA. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P20986: Efemérides (326): Foi há 48 anos: fui gravemente ferido no decurso da Op Dargor, evacuado para o HM 241, em Bissau, e depois para Lisboa, o HMP (José Maria Pinela, ex-1º cabo trms, CCS/BCAV 3846, Ingoré, 1971/73), hoje DFA


Guiné > Bissau > HM 241 > c. maio/ junho de 1972 > Gravemente ferido em combate, em 14/5/1972, o José Maria Pinela esteve aqui internado dois meses, sendo sendo evacuado para o HMP, em Lisboa donde teve alva em 6/4/1973. É hoje DFA (Deficiente das Forças Armadas).

Fotos (e legenda): © José Maria Pinela (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. José Maria Pinela (DFA), ex-1.º cabo trms, CCS/BCAV 3846 (Ingoré, 1971/73), membro nº 685 da Tabanca Grande (desde 4 de maio de 2015) (*)

(i) assentou praça em Elvas,  BC 8, na 3.ª Companhia de Instrução do 3.º Turno de 1970, onde fez a recruta;

(ii) em Lisboa, no BC 5, fez a especialidade de Transmissões de Infantaria:

(iii) seguiu para Portalegre, BC 1, onde permaneceu até à mobilização  ("por sinal no dia dos meus 22 anos, 16 de Fevereiro");

(iv) daqui partiu para Estremoz, BC 3, a fim de formar Batalhão;

(v) foi colocado na  CCS / BCAV 3846, como 1.º  cabo trms;

(vi) a madrugada do dia 3 de Abril de 1971, o batalhão seguiu para  a Lisboa,  embarcando no T/T  Angra do Heroísmo, com destino à Guiné:

(vii) chegada a Bissau no dia 9 de abril de 1971;

(viii) depois de um mês no Cumeré, para a IAO, partiram  para a nossa zona operacional, duas companhias para o Ingoré, incluindo a CCS, outra para São Domingos e outra para Susana-Varela;

"Decorreu o resto do ano de 1971 conforme se pôde, até que entrou o ano de 1972 que começou mal como o ano anterior. A 14 de maio caímos numa emboscada, onde fui ferido e evacuado de helicóptero para o HM 241, em Bissau, onde permaneci durante cerca de dois meses, e de onde acabei por ser evacuado por via aérea para o Hospital Militar, Anexo em Campolide, de onde saí como DFA, no dia 6 de Abril de 1973, dado como incapaz para todo o serviço militar e apto parcialmente para o trabalho".

O BCAV 3846 regressou à metrópole a 13 de março de 1973. O pessoal tem vindo a realizar o seu convívio anual.


Guiné > Região de Cacheu > Carta de Sedengal > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Sedengal, Ingoré e mata de Canchungo, junto à fronteira do Senegal, entre os marcos 143 w 139.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2020)


2. Para relembra esta fatídica efeméride, o 14 de maio de 1972, o camarada Pinela publicou, na página do Facebook da Tabanca Grande Luís Graça as quatro fotos acima reproduzidas,  mais a seguinte mensagem:

Olá,  camaradas de armas, ex-combatentes da Guiné! Bom dia a todos.

Faz hoje precisamente 48 anos, 14 de maio de 1972, começo do dia às 3 horas da manhã em Ingoré, operação Dargor, destino mata do Canchungo entre os marcos de fronteira norte 139-143, cerca das 8 da manhã primeira emboscada, onde eu fui atingido de imediato, era um alvo a abater logo de início, posto rádio Racal às costas, AVP 1 ao pescoço e todo o material que nos equipava. 

Aí começa toda a odisseia até à chegada dos Fiat G-91, do heli canhão e do heli de evacuação que me levou até HM241, em Bissau.

Aí chegado, fui recebido por uma equipa extraordinária que me salvou a vida, e não só, também alguns membros!

Sobrevivi até hoje felizmente, já outros não tiveram a mesma sorte e por lá perderam a vida ou partes do corpo! Para nada!!!

Aqui ficam algumas fotos desse domingo, 14-05-1972.(**)
_____________


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19530: Manuscrito(s) (Luís Graça) (152): Parabéns ao meu mano Tó, o ex-1º cabo magarefe, António Ferreira Carneiro, o "Brasileiro", que, em Tete, Moçambique, no Destacamento Avançado Móvel de Intendência nº 664, levou um tiro de Uzi no bucho... Ficou com uma cicatriz tipo 'fecho éclair', de alto a baixo, do peito à barriga, já teve vários AVC, e chega hoje aos 80 anos, rodeado de uma bela família de filhas e netos




Moçambique > Tete > 25 de fevereiro de 1964 > Pessoal do Destacamento Avançado Móvel de Intendência nº 664 (Tete, 1964/66) > Almoço do 25º aniversário do António Ferreira Carneiro, 1º cabo magarefe, natural da Ribeira, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses... Este destacamento chegou a Moçambique uns meses antes do inícío oficial da guerra colonial em Moçambique. As primeiras ações armadas da FRELIMO datam de agosto de 1964. Havia dois no destacamento. O outro cabo, além dele, era minhoto: chamavam-lhe o Cabinho... O camarada que está defronte dele, na foto, era um alentejano... de que também não sabe o nome. São mais de 50 anos passados...

O António é o nosso  "mais velho", na Tabanca de Candoz. Nasceu precisamenre há 80 anos, no dia 25 de fevereiro de 1939, seis meses   antes do início da II Guerra Mundial. Depois de regressar do Brasil, aos 24 anos, teve de cumprir o serviço militar. Estamos em meados dos anos sessenta. Com a especialidade de Magarefe, da Manutenção Militar, foi mobilizado para Moçambique. m Tete, o António sofreu um grave acidente com uma pistola-metralhadora ligeira, uma UZI, disparada acidentalmente por um camarada... Milagrosamente salvou-se. Hoje é um DFA - Deficiente das Forças Armadas (com cerca de 2/3 de incapacidade). E como  se isso não bastasse, já teve vários AVC... Mas é um otimista, "quase profissional"... Aos 80 anos, diz-me que já não conta os anos mas os dias... Mas a verdade é que "os 80 anos já cá cantam"...

Uma análise da foto acima  (, digitalizada, a partir de um original de formato reduzido,) mostra-nos doze jovens, em tronco nu, à volta de um mesa comprida, comendo e bebendo na festa dos 25 anos do "Brasileiro". Há, para além de um garrafão, 15 garrafas de cerveja, das grandes, da marca Mac Mahon, uma das bebidas produzidas em Moçambiquem, na época... Também era conhecida pela 2 M. A marca rival era a Laurentina. (Recorde-se que, em Angola, eram as marcas Cuca e Nogal).


Foto (e legenda): © António Carneiro (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Maia > Restaurante Quinta das Raparigas > 23 de fevereiro de 2019 > Almoço dos 80 anos do António Carneiro (n. 24/2/1939) > Aqui com a esposa, à esquerda, e as quatro filhas, que são superdivertidas ... O nosso "Brasileiro" tem dois netos e quatro netos... O mais velho com 25 anos...



Maia > Restaurante Quinta das Raparigas > 23 de fevereiro de 2019 >  Almoço dos 80 anos do António Carneiro (n. 24/2/1939) >  A surpresa a meio da tarde: cinco sobrinhos, grandes foliões, que apareceram, quatro,  "travestidos de putas da via Norte" eu m quinto, o último, à esquerda, mascarado de "azeiteiro" (leia-se: chulo)... Como já estamos no Carnaval, ninguém levou a mal... E ao "sangue, suor e lágrimas", juntaran-se as "barrigadas de riso"... Que, para a reinação, o folguedo, a risota, não há gente como esta... É uma grande família, divertida...e solidária. E, afinal, esta vida são dois dias, e o Carnaval são três, diz o nosso "Brasileiro"!

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Finalmente, ao fim de estes anos todos (oito anos!), apareceu um camarada, que vive em Braga, que conseguiu localizar o "Brasileiro", o António Ferreira Carneiro, meu cunhado, irmão mais velho da Alice... Afinal, o  Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande! (*)....  

Esse camarada, o tal minhoto, que também era 1º cabo, no Destacamento Avançado Móvel de Intendência nº 664 (Tete, 1964/66), foi testemunha do acidente que ia matando o  nosso "morgado", o filho mais velho de José Carneiro e Maria Ferreira: ele transmitiu ao António a sua versão dos acontecimentos, que é diferente da oficial ou oficiosa, mas que não interessa aqui para o caso... Na tropa encobria-se "muita merda" com  papel selado...

Para o mano Tó, foi  uma grande alegria poder abraçar este camarada., que penso que é "caixeiro viajante" ou coisa parecida, e vive em Braga, e que há uns meses atrás foi bater à sua porta, em Custóias. Telefonou-lhe primeiro, através do número de telemóvel que divulgámos no blogue.

 O António Carneiro não pertence à Tabanca Grande, não tem de resto endereço de email, página no Facebook e outros "modernices"... É um homem do seu tempo...  Mas pertence à... Tabanca de Candoz...

É o mano mais velho de seis irmãos, três rapazes e três raparigas, uma das quais a Alice Carneiro, nossa grã-tabanqueira. Esteve imigrado no Brasil entre 1957 e 1963, para grande desgosto do seu pai, que era um proprietário rural e industrial de construção de ramadas, conceituado na sua terra e região. Só os "rendeiros" e os "cabaneiros", os "proves" [pobres]  é que iam para o Brasil, tentar a sua sorte... Creio que o pai nunca lhe perdoou essa "desonra"... Mas o rapaz era teimoso, não tinha jeito nem físico para trabalhar na arte de ramadeiro... E depois, aos 18 anos, é difícil resistir aos apelos da laventura e da iberdade...  Aproveitou a "boleia" de um tio materno, com quem irá aprender a arte de magarefe...

Em 1957, com 18 anos, o António obteve dispensa do serviço militar para se fixar, a título definitivo, no Brasil. Pagou, em Viseu, no RI 14, duzentos escudos de emolumentos, em selos, pela sua dispensa militar (, o equivalente hoje a cerca de 90 euros.)

Era pressuposto ficar pelo Novo Mundo, até porque em 1961 "rebenta a guerra de Angola"... Acabou por ter de regressar, por razões obscuras... Há quem diga que era um rabo de saias... Enfim, voltou a apanhar a boleia do tio,  em 1963, então de de regresso a casa, no Alto, em Paredes de Viadores,  Marco de Canaveses,. onde tinha mulher e filhos...

Está-se mesmo a ver a cena seguinte: no aeroporto, em Lisboa, o  passaporte do Tó levou logo com o "carimbo da PIDE"....  É notificado de que deverá regularizar de imediato a sua situação militar. Faz a recruta, aos 24 anos, e é de seguida mobilizado para Moçambique. Viaja no T/T Niassa. Chega a Tete, em janeiro de 1964, integrado numa subunidade de intendência, o Destacamento Avançado Móvel de Intendência nº 664.

A sua experiência profissional (era magarefe no Brasil) é devidamente aproveitada pela tropa. Um mês depois celebra o seu 25º aniversário, como se podes ver na foto acima...

Seis ou sete meses depois de chegar a Tete, sofreu em julho de 1964 um grave acidente com uma pistola-metralhadora ligeira, uma UZI, uma arma de fabrico israelita,  disparada acidentalmente por um camarada que acaba de "fazer o seu serviço de sentinela" (versão oficial, ou oficiosa)...

O 1º cabo Carneiro irá estar mais de um mês em estado de coma. Só um milagre o salvou. Hoje tem uma enorme cicatriz, um autêntico fecho "éclair",  de alto a abaixo, do peito à barriga... O tiro perfurou-lhe sete órgãos. É um DFA - Deficiente das Forças Armadas (com cerca de 2/3 de incapacidade)...

O António Ferreira Carneiro, na altura conhecido como o "Brasileiro",  pertencia, como dissemos,   ao Destacamento Avançado Móvel de Intendência nº 664, sendo o seu comandante o alf mil Patrício (, que nunca mais viu). O 1º Sargento era o Anmtónio Teles Touguinha, já falecido, que se veio a revelar grande amigo da família. Era natural de Vila do Conde.

Havia ainda dois furriéis açorianos, de que o António já não se lembra o nome. Ao todo, eram cerca de 25 militares, viviam numa vivenda em Tete, em plena cidade. Os graduados eram apenas 2 cabos, 2 furriéis e 1 alferes.

O "Brasileiro"  foi ferido em julho de 1964 e transferido para o HMP - Hospital Militar Principal, em Lisboa, em Dezembro desse ano. No HMP passou cerca de oito meses.  Regressou à vida civil em agosto de 1965, tendo casado depois. Vive em Custóias, Matosinhos, há mais de meio século. Tem 4 filhas, e seis netos.

Durante anos e anos,  procurou malta da sua subunidade bem como o médico que o operou em Tete ("Era a maior alegria que me podiam dar, saber do paradeiro dos meus camaradas de Intendência bem como do médico que me salvou").

Afetado por um AVC, por volta de 2013,  foi tratado no Hospital Militar do Porto. Teve outros pequenos AVC posteriormnete. Ficou com alguns sequelas. Emociona-se com facilidade... Mas faz a sua vida "quase normal", e adora andar de comboio. Dantes vinha de propósito a Lisboa, visitar a mana... Agora mete-se no comboio da Linha do Douro e vai até ao "Calça Curta", um conhecido restaurante na Foz do Tua... Um dia não são dias, e no céu não há as iguarias cá da terra...

 Depois do seu regresso do Hospital Militar Principal, em Lisboa, a família recebeu a  visita desse 1º  sargento, o Touguinha, que foi para o António um verdadeiro anjo da guarda. Sem a a acção dele, provavelmente o nosso mano não se teria salvo.


2. Ontem fiz 800 km para dar um abraço fraterno ao mano (e meu camarada) Tó. E desejar-lhe a saúde possível... Fizeram-lhe uma bonita festa, as filhas, netos, manos, sobrinhos... Onde não faltaram os foliões de Carnaval,  alguns sobrinhos machos "travestido" de "putas da Via Norte"... (Imagens, feiizmente, do passado,  uma vez que já não há... esse triste espetáculo  das "putas da Via Norte", segundo me garante o nosso especialista Zé Ferreira, o autor das "Memórias Boas da Minha Guerra"... De resto, de vez em quando passo por lá, e também confirmo que a informação).

A pedido de várias das respeitáveis famílias da Tabanca Grande, publicamos duas fotos da festa, mesmo que uma vá com... bolinha.

E eu escrevi-lhe, em nome de todos os irmãos/irmãs e cunhadas/os,  um soneto, enquanto ia na autoestrada, com a minha "chofera" a conduzir... Aqui fica, para "memória futura"... Só hoje lhe dei os parabéns, no próprio dia, antes dá azar, como é crença corrente aqui no Norte... (**)


Para ti, mano, que fazes 80 anos,
a melhor prenda que os teus manos te gostariam de dar...


A melhor prenda para ti, mano Tó,
É uma que não te podemos dar,
Não serve para nada, é tão só
Um bem sem preço, não dá para trocar.

Adivinha que prenda será esta,
Não serve para comer nem beber,
Mas sem ela não és feliz, nem há festa,
Nem tempo p'ra os bisnetos ver nascer.

Chegaste hoje a uma bonita idade,
Tens sido um grande resistente,´
Mano querido da nossa irmandade.

Essa prenda de que aqui falamos,
É... a saúde, é não estar doente,
È a melhor que nós hoje te desejamos.



Maia, Restaurante Quinta das Raparigas,
almoço de 80º aniversário do Tó Carneiro,
Os manos Alice e Luís, Nitas e Gusto, Rosa e Quim, Zé e Teresa, Manel e Mi.
__________

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16642: Agenda cultural (509): No dia14 de Outubro às 15 horas, acompanhado de muitos amigos, procedemos ao lançamento de "Sussurros Meus" (Fernando de Jesus Sousa)



1. Mensagens do nosso camarada Fernando de Jesus Sousa (ex-1.º Cabo da CCAÇ 6, Bedanda, 1970/71, DAF), com data de 17 de Outubro de 2016, a propósito do lançamento do seu último livro "Sussurros Meus":

No dia14 de Outubro às 15 horas, acompanhado de muitos amigos, procedemos ao lançamento de "Sussurros Meus".[1]

Obrigado por terem participado nesta festa bonita. Foi para mim uma honra ter contado com a vossa presença.

Com respeito estima e consideração
Bem-hajam.
Fernando Sousa



____________

Nota do editor

[1] - Vd. poste de 11 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16589: Agenda cultural (500): Lançamento do livro de poemas "Sussuros Meus", da autoria de Fernando Jesus Sousa, dia 14 de Outubro de 2016, pelas 15 horas, no Salão Nobre da ADFA, Av. Padre Cruz, Lisboa

Último poste da série de 21 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16626: Agenda cultural (502): No passado dia 14 de Outubro de 2016, no Salão Nobre do Quartel da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, realizou-se a sessão de apresentação do livro "Memórias Boas da Minha Guerra" da autoria do nosso camarada José Ferreira da Silva

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15414: Fotos à procura de... uma legenda (65): Os que deram, não a vida, mas uma parte do seu corpo (um pé, uma perna, uma mão, um braço, ou os olhos) pela Pátria (José Maria Claro / Francisco Baptista)


Foto nº 1 B > HMP [Hospital Militar Principa],  Lisboa, c. 1969/70 > Cinco camaradas amputados por efeito de minas na guerra do ultramar / guerra colonial



Foto nº 1 A > Foto nº 1 C > HMP [Hospital Militar Principa],  Lisboa, c. 1969/70. O José Maria Claro é o segundo a contar da esquerda.


Foto nº 1 > No HMP [Hospital Militar Principa],  Lisboa > O José Maria Claro é o segundo a partir da esquerda.


 

Foto nº 2 > CCAÇ 2464, Biambe, 1969 > O José Maria Claro, na brincadeira, "com um camarada do rolo de peso", o cilindro manual que se usava na construção e manutenção dos arruamentos dos nossos aquartelamentos...


Foto nº 3 > CCAÇ 2464, Biambe, 1969. O José Maria Claro, cheio de energia, vida e otimismo, no campo de futebol (improvisado) do quartel, antes da maldita mina A/P o ter mandado para Lisboa, para o HMP... É hoje DFA. Recorde-se, por outro lado, que a ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas comemora este ano o seu 40º aniversário.


 Fotos (e legendas): © José Maria Claro (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: LG]



1. O nosso grã tabanqueiro José Maria Claro foi soldado radiotelegrafista de engenharia, da CCAÇ 2464 / BCAÇ 2861, esteve em Biambe, setor de Bula, em 1969...

Foi curta a sua estadia no  TO da Guiné. Vitimado por uma mina antipessoal, que lhe causou a perda de um dos membros inferiores.  foi evacuado para a Metrópole, para o Hospital Militar Principa (HMP), em Lisboa. (*) 


.2. Comentário do nosso camarada Francisco Baptista [,ex-alf mil inf, CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72)]


Amigo e camarada José Maria Claro,  salta à vista a alegria com que te moves e te divertes, só tu ou com outros camaradas,  antes da maldita mina te ter roubado uma perna.

A tua última fotografia [, no HMP, em Lisboa,] depois de toda a sequência anterior,  é de um homem corajoso que não está disposto a desistir de viver seja qual for a contrariedade. O que nos ensinas é que a vida é um caminho a percorrer sejam quais forem as dificuldades do percurso.

O teu poste fotográfico diz mais do que mil palavras. (**)

Muita saúde e felicidades que bem mereces e muito obrigado pela lição de optimismo que me deste.

Um abraço. Francisco Baptista

__________________

Notas do editor:


(*) 25 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15411: Memória dos lugares (323): Biambe em 1969, fotos de José Maria Claro, DFA, ex-Soldado Radiotelegrafista da CCAÇ 2464


(**) Último poste da série > 8 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15220: Fotos à procura de... uma legenda (64): visita do gen Arnaldo Schulz e do brig Reimão Nogueira a Porto Gole, em fevereiro de 1967... O insólito: (i) duas caixas de cerveja (Cristal e Sagres) no banco traseiro do helicóptero; (ii) um comandante-chefe, de máquina fotográfica a tiracolo, com ar de turista...

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15411: Memória dos lugares (323): Biambe em 1969, fotos de José Maria Claro, DFA, ex-Soldado Radiotelegrafista da CCAÇ 2464

 

1. Fotos enviadas ao Blogue pelo nosso camarada José Maria Claro, DFA, (ex-Soldado Radiotelegrafista de Engenharia da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861, Biambe, 1969) referentes à sua curta estadia na Guiné. 
Lembremos que o José foi evacuado para a Metrópole por ter sido vitimado por uma mina antipessoal, que lhe causou a perda de um dos membros inferiores. Vd. última foto.



Biambe, 1969 - À entrada da Tabanca

Na fonte do Biambe

Biambe, 1969 - No campo de futebol

Biambe, 1969 - Com camaradas

Biambe, 1969 - Junto à pista dos aviões

Na parada do Biambe

 Biambe, 1969 - Com um camarada do rolo de peso


Biambe, 1969 - Com o Xico

Biambe, 1969 - Na bananeira

Biambe, 1969 - A ler a correspondência

Biambe, 1969 - Ao "telemóvel"

Biambe, 1969 - Na parada com o portátil

Parada do Biambe

No HMP de Lisboa (Claro, o segundo a partir da esquerda)
____________

Nota do editor

(*) Vd. poste de 11 de setembro de 2014 Guiné 63/74 - P13601: Tabanca Grande (444): José Maria Pinto Claro, DFA, ex-Soldado Radiotelegrafista de Eng.ª da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861 (Biambe, 1969)

Último poste da série de 11 de outubro de 2015 Guiné 63/74 - P15233: Memória dos lugares (322): Porto Gole: mulheres balantas apanhando "cacri", na bolanha, junto ao rio Geba. O "cacri" (espécie de bocas) era, também para nós, um petisco saboroso que acompanhávamos com a célebre cerveja São Jorge (José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54, 1966/68)

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14565: Tabanca Grande (461): José Maria Pinela (DFA), ex-1.º Cabo TRMS da CCS/BCAV 3846 (Ingoré, 1971/73) - Tabanqueiro n.º 685

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano, José Maria Pinela (DFA), ex-1.º Cabo TRMS da CCS/BCAV 3846, que esteve em Ingoré entre 1971 e 1973, com data de 29 de Abril de 2015:

Olá boa tarde caros camaradas da Tabanca Grande, 

Sendo meu desejo aderir ao grupo, venho assim pedir a minha adesão, se para isso reunir as condições. 

Vou anexar as fotos da praxe, assim como um pequeno texto para de apresentação, não sei se é o suficiente ou não.

Deixo á vossa consideração. 

Abraços
José Maria Pinela

************

2. Camarada Luís Graça

Permite-me um abraço de apresentação.
O meu nome é José Maria Pinela e sou ex-combatente da Guiné, BCAV 3846, 1971/73.

É então no intuito de entrar para o grupo Luís Graça & Camaradas da Guiné que hoje resolvi pedir a adesão uma vez que sou visitante quase diário do Blogue e, desde já, quero elogiar o trabalho desenvolvido.

Assim sendo vou passar a descrever o meu percurso militar como prova de apresentação.

Assentei praça em Elvas, BC 8, na 3.ª Companhia de Instrução do 3.º Turno de 1970, onde fiz a Recruta. Finda esta segui para Lisboa, BC 5, onde fiz a Especialidade de Transmissões de Infantaria. Terminada seta segui para Portalegre, BC 1, onde permaneci até à mobilização (por sinal no dia dos meus 22 anos, 16 de Fevereiro) de onde parti para Estremoz, BC 3, a fim de formar Batalhão na CCS do BCAV 3846, como 1.º Cabo de Transmissões.

Na madrugada do dia 3 de Abril de 1971, rumámos a Lisboa, Cais de Alcântara, onde nos esperava o navio Angra do Heroísmo, que cerca do meio-dia rumou à Guiné, onde chegámos no dia 9 de Abril de 1971.

Depois de um mês no Cumeré, para o IAO, partimos para a nossa zona operacional, ou seja, duas Companhias para o Ingoré, onde eu estive incluído, outra para São Domingos e outra para Susana-Varela.

Decorreu o resto do ano de 1971 conforme se pôde, até que entrou o ano de 1972 que começou mal como o ano anterior. A 14 de Maio caímos numa emboscada, onde fui ferido e evacuado de helicóptero para o HM 241, em Bissau, onde permaneci durante cerca de dois meses, de onde acabei por ser evacuado por via aérea para o Hospital Militar, Anexo em Campolide, de onde saí como DFA, no dia 6 de Abril de 1973, dado como incapaz para todo o serviço militar e apto parcialmente para o trabalho.

O pessoal que restou do Batalhão regressou à Metrópole a 13 de Março de 1973, com o qual vou mantendo contacto até hoje através do convívio anual que se realiza no domingo mais próximo do dia 13 de Março, data de aniversário da chegada.

Foi este o meu percurso militar
José Maria Pinela


Cais de Ingoré

Foto: © Arménio Estorninho


3. Comentário do editor

Caro camarada Pinela:

Sê bem-vindo à nossa Tabanca Grande onde há sempre lugar disponível para mais um camarada ou amigo da Guiné. É com prazer que te recebemos.

Pelo que nos acabas de contar, foste um dos desafortunados que não conseguiram passar incólumes por aquela guerra. Tiveste a infelicidade de ser ferido durante uma emboscada, tendo ficado marcado fisicamente para sempre. Esperamos que a incapacidade que referes não te impeça de fazeres uma vida "normal", considerando este conceito o mais lato possível.

Já sabes que ficamos ao teu dispor para receber as tuas memórias escritas e/ou fotográficas que ficarão a ser espólio de guerra para consulta futura. É este um dos nossos objectivos. Outros serão a troca de impressões e conhecimentos baseados na experiência de cada um de nós, salvaguardando uma ou outra imprecisão, fruto do tempo já decorrido. Entre todos havemos de deixar algo que seja útil quando nós já cá não estivermos.

Ficaremos ao teu dispor para qualquer esclarecimento, mas na aba esquerda da nossa página podes consultar: "O que nós (não) somos... Em dez pontos" e "Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné: Política editorial".

Resta-me deixar em nome dos editores e da tertúlia deste Blogue um abraço de boas vindas.

O teu camarada
Carlos Vinhal
____________

Nota do editor

Último poste da série de 2 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14554: Tabanca Grande (460): Nuno Nazareth Fernandes, que foi alf mil do BENG 447 e radialista em Bissau, 1972/74... Senta-se à sombra do nosso poilão, cabendo-lhe o lugar nº 684

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13601: Tabanca Grande (444): José Maria Pinto Claro, DFA, ex-Soldado Radiotelegrafista de Eng.ª da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861 (Biambe, 1969)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano José Maria Pinto Claro, Deficiente das Forças Armadas (ex-Soldado Radiotelegrafista de Engenharia da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861, Biambe, 1969), com data de hoje, 11 de Setembro de 2014, após ter sido convidado pelos editores a ingressar na nossa tertúlia:

Boa tarde camarada Vinhal

Conforme me foi pedido aqui seguem as informações pessoais.

A minha identificação:
- José Maria Pinto Claro
- Soldado Radiotelegrafista de Engenharia
- Profissão, 1.º Oficial Compositor de Artes Gráficas, Livraria Bertrand, Venda Nova-AMADORA
- Nascido a 23-02-1947
- Ingressei nas fileiras do Exército a 6 de Maio de 1968
- Fui para o Regimento de Transmissões 1 a 6 de Julho onde completei o curso a 9 de Novembro de 1968
- Fui para o Batalhão de Caçadores 10 a 8 de Dezembro de 1968 para ser integrado na CCAÇ 2464/BCAÇ 2861
 
José Maria Claro a bordo do Uíge

- Embarquei em Lisboa, com destino GUINÉ, a 5 de Fevereiro de 1969 no navio Uíge
- Fui ferido em campo de guerra (Biambe), por rebentamento de uma mina anti-pessoal, resultando a amputação da perna esquerda no dia 8 de Abril de 1969
- Saí do HM 241 de Bissau a 19 de Abril de 1969 com destino ao HMP
- Saí do HMP a 8 de Janeiro de 1970, dado como incapaz para todo o serviço militar, com 67,7% de incapacidade.

Quanto a louvores, louvo e felicito a Força Aérea e quem estava no outro lado da linha que atendeu todos os pedidos na prontidão, incluindo a minha evacuação pelo DO e Enfermeiros que quando cheguei ao quartel já estavam na pista à minha espera.

Mais acrescento algumas estórias e dados que considerem relevantes.

Conforme o que foi transmitido pela minha pessoa, é relevante que tinha muito trabalho e responsabilidade às minhas costas sem saber se poderia assim ser, visto que havia mais dois RTs e dois Transmissões de infantaria(*).

Eu era sempre o visado para todas as saídas para o mato, tenho uma versão que não mencionei, mas vou desenvolver:
Foi-me dada ordem pelo Cap. Pratas que tinha de ser eu a fazer as transmissões na saída que iria ser realizada, saída essa que seria às 22 horas para uma emboscada a um certo lugar, que agora não me recordo o nome.
Tinha dito ao Capitão que o aparelho não estava funcionar, mas ele insistiu e exigiu que tinha de lhe transmitir de 30 em 30 minutos.
Tudo bem, a coluna lá saiu, dentro da mata passado os tais 30 minutos, mandei parar os pelotões e tentei a transmissão, o rádio não dava nada, então com a ânsia de cumprir o que me foi exigido, mudei a banda Alta para a banda Baixa e o rádio deu um estoiro, mas ficou com bateria na mesma, então mudei para banda Alta e tive transmissões que foi uma categoria.

Biambe - José Maria Claro ao "telemóvel"

Já na posição de emboscada estou ao lado do alferes (não sei o nome dele, nem o mencionaria, se o soubesse) fiz uma transmissão e perguntam-me que barulho era aquele, eu na minha inocência encostei o micro e disse que era o alferes a ressonar.
À chegada ao quartel, o Capitão estava em cima dos blocos de terra que se tinha afundado para se fazer uma piscina, e quando o Alferes passou, chamou-o ao gabinete e levou uma descasca.

O Radiotelegrafista Claro

 ************

2. Comentário do editor:

Caro camarada e amigo Claro,
Sê bem-vindo a este grupo de camaradas da Guiné que se serve desta página para contar as suas memórias, publicar as suas fotos, comentar postagens de outros camaradas, etc., participando assim na feitura deste espólio de ex-combatentes, melhor dizendo, combatentes, daquela guerra que ditou a morte prematura de quase 10.000 jovens e deixou marcas físicas e psicológicas a muitos milhares, dos quais tu és, infelimente, um testemunho. Esperamos que tenhas ultrapassado psicologicamente a tua deficiência física, se isso é possível na totalidade.
As minas e os fornilhos eram a forma mais cruel de combater, que nos esperava a cada esquina. De parte a parte não se evitava este meio mais covarde de atingir o IN. A cada passo a incerteza do seguinte.
O tempo que passaste nos hospitais, o sofrimento físico e psicológico a que foste sujeito e a adaptação à prótese e à nova vida, não devem ter sido fáceis de suportar. O teu testemunho pode ajudar camaradas na mesma situação que tu.

Muito obrigado por te juntares a nós, que ficamos ao teu dispor para receber e publicar o que queiras, relacionado com a tua (má) experiência enquanto combatente.

(*) O material que tenho cá, teu, para publicar, sairá no início da próxima semana.

Não quero terminar, sem antes te deixar um abraço de boas-vindas em nome dos editores e da tertúlia.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal

PS - O José Maria Calro passa a ser o nº 665 da lista dos amigoe e camaradas da Guiné, disponível na coluna do lado esquerdao, por ordem alfabética, de A a Z..

____________

Nota do editor

Último poste da série de 28 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13541: Tabanca Grande (443): Alberto Manuel Salvado dos Santos Grácio, ex- Alf Mil Op Esp/ Ranger da CCS do BCAÇ 4615/73 (Teixeira Pinto, 1973/74)

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Guiné 63/74 - P13467: Tabanca Grande (442): Fernando de Jesus Sousa, ex-1.º Cabo da CCAÇ 6 (Bedanda, 1970/71)

1. Mensagem do nosso camarada e novo amigo Fernando de Jesus Sousa, ex-1.º Cabo da CCAÇ 6, Bedanda, 1970/71, com data de 31 de Julho de 2014:

Luís Graça,
Primeiro deixe que me apresente.
Sou Fernando de Jesus Sousa, nascido a 24 de Dezembro de 1948, ex-1.º Cabo n.º 18954869.

Embarquei para a Guiné no navio Niassa em 20 de Maio de 1970.

Regressei, creio que em Novembro de 1971, evacuado para o HMP de Lisboa, por ter sido gravemente ferido, onde estive internado até Abril de 1973.

Fiz a minha comissão de serviço em Bedanda, integrado na CCAÇ 6.

Luís Graça, já nos encontrámos numa sardinhada em Peniche, promovida por um grande Bedandense e bom amigo Belmiro da Silva Pereira. Logo ali prometi-lhe que me iria associar a este fantástico grupo.

Acredite que foi por causa deste blogue que tudo fiz para aprender um pouco de internete, a fim de poder acompanhar tudo o que dissesse respeito à Guiné. Só eu sei, as emoções que sentia, com as vossas imagens e questões ligadas àquela terra, fotos e comentários de amigos em comum.

Por tudo isto obrigado.

Quero também anunciar-lhe que já acabei a escrita do meu livro, que irá ser publicado em Novembro.
Logo após isso irei enviar-lhe alguns enxertos de textos sobre a Guiné, que escrevi, onde abordo muitas questões pertinentes e falo abertamente do acidente de que fui vítima.

Fernando Sousa


CCAÇ 6 - Bedanda - Guiné - 1970/1972 - Trabalho do camarada José Carvalho publicado no Youtube


2. Comentário do editor:

Caro camarada Fernando Sousa,
Muito bem-vindo à Tabanca Grande.
É para um nós um orgulho saber que somos lidos por muitos camaradas. Pena que a maioria não se manifeste e não se dê a conhecer, tal como tu fizeste agora.
Pede-me o Luís para te dizer que aqui na Tabanca nos tratamos todos por tu, independentemente dos antigos (e actuais) postos, da nossa idade, da nossa formação académica, profissão, etc.
Une-nos aquele pedaço de África que nos marcou para sempre.

Pelo que nos dizes, és deficiente das Forças Armadas resultado do acidente de que nos falarás um dia. É um dos assuntos que só o próprio sabe como e quando aflorar. A nossa página pretende, entre outras coisas, ser um meio de catarse, pelo que estamos ao teu dispor.

Dizes que irás publicar um livro onde relatas episódios da tua comissão na Guiné, e que o mesmo será apresentado em Novembro. Fica desde já o nosso Blogue ao teu dispor para dar notícia desse evento. Quando quiseres, manda-nos por mail um convite digitalizado, assim como a capa do livro para publicarmos em devido tempo.

Posto isto, resta-me enviar-te o abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores que esperam muitos textos e fotos teus para publicação.

Ao teu dispor, o camarada e amigo
Carlos Vinhal
____________

Nota do editor

Último poste da série de 9 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13383: Tabanca Grande (441): Mário Jorge Figueiredo Lourenço, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CCAV 2639 (Binar, Pete, Bula, Ponta Consolação e Capunga, 1969/71)

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10659: O nosso livro de visitas (152): João Meneses, 2º ten FZE RA, DFE 21, gravemente ferido na península do Cubisseco, em 27/9/1972


Página do blogue Reserva Naval, do nosso camarada Manuel Lema Santos, "aberto  a antigos Oficiais da Reserva Naval na publicação de documentos, relatos, imagens e comentários. Um meio de comunicação e participação na divulgação do legado histórico da Reserva Naval da Marinha de Guerra"... No poste de 7 de maio de 2012, 


1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) João Saldanha Meneses:

Data: 3 de Novembro de 2012 17:33

Assunto: Tabanca Blog

Exmo Sr. Luis Graça

Começo por me apresentar (*):


João Meneses: 2º Ten FZE RA, oficial do Destacamento de Fuzileiros Especiais 21, na Guiné, no ano de 1972, tendo sido ferido em combate na provincia do Cubisseco [, a sudoeste de Empada, vd.carta de Catió,] em 27 de Setembro desse ano  (**), e tendo passado à situação de DFA [, Deficiente das Forças Armadas,] em consequência dos ferimentos então recebidos.

Posto isto:

Gostaria de fazer parte deste Blog, onde poderei eventualmente participar. Caso tal venha a suceder, e como nada acontece ser escrito sem uma visão própria dos factos, aceitando e respeitando todos, não deixarei de o transmitir

Qual a forma de o fazer?

Com os meus agradecimentos.

João Meneses

2. Comentário de Carlos Vinhal:

Caro camarada João Meneses

À boa maneira do nosso Blogue, permite-me o tratamento (mútuo) por tu. Em nome do Editor Luís Graça estou a agradecer o teu contacto e a dizer-te que será uma honra ter-te como tertuliano do nosso Blogue, mais conhecido por Tabanca Grande.

Infelizmente a Marinha é a Arma menos representada na tertúlia pelo que a tua "entrada" é uma mais-valia.

Isto funciona assim: envias-nos uma foto do teu tempo de Fuzileiro e outra actual (digitalizadas) em formato JPG, tipo passe de preferência, ou em alternativa outros formatos a partir dos quais os "nossos serviços técnicos" (eu) possam fazer as fotos da praxe para encimar os teus artigos a publicar.


Sabemos de ti o essencial, posto e unidade, falta a data de ida e regresso para a Guiné. Se quiseres, poderás na tua apresentação contar como, quando e onde foste ferido, se continuaste a carreira militar, qual o teu posto actual ou de passagem à reserva/reforma, etc.

A ideia é fazer um poste de apresentação à tertúlia com estes elementos mais básicos ou outros que queiras acrescentar. A partir daí, poderás enviar as tuas memórias escritas ou em imagem para serem publicadas. A maioria dos depoimentos escritos, e fotos, pertencem à malta do Exército, havendo ainda uma sensível colaboração da Força Aérea. Da Marinha, militaram por cá os Comandantes Manuel Lema Santos e Pedro Lauret, 2.º Ten José Macedo, Marinheiro Manuel Henrique Q. Pinho, e julgo que é tudo quanto aos valorosos camaradas da Armada.


No lado esquerdo da nossa páginas poderás encontrar as nossas regras e objectivos do Blogue, nada de transcendente, apenas normas de bom convívio, respeito pela diferença de opinião, etc.

Fico a aguardar o teu próximo contacto.

Até lá deixo-te um abraço em nome dos editores (Luís Graça, Eduardo Magalhães e Carlos Vinhal) e da tertúlia em geral.

Fico ao teu dispor para qualquer esclarecimento adicional.

O teu camarada,
Carlos Vinhal
_______________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 12 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10654: O nosso livro de visitas (151): José Lino Oliveira, ex-fur mil, CCS/BCAÇ 4612/74 (Cumeré, Mansoa, Brá, 1974)

(**)  Excerto do blogue Reserva Naval, poste de 7 de maio de 2012:

(...9 Entretanto, a situação no sul da Província tornava-se alvo de preocupação do Comando-Chefe, pois a actividade inimiga na área aumentara à medida que o esforço de guerra se deslocava para a fronteira norte. Em Julho de 1972 (Directiva 10/72 do Comando-Chefe) são atribuídos ao CDMG dois DFE’s para assalto e conquista da parte sul da península do Cubisseco. Esta seria uma tarefa típica de forças terrestres cuja finalidade primordial consistia em recuperar psicologicamente a população. É assim que a instrução de operações emanada pela Comando de Defesa Marítima da Guiné em 21 de Julho determina:

Âmbito da manobra militar socio-económica determinada instalação permanência forças região Cubisseco objectivo primordial recuperação psicológica POP (populações) permita construção próxima época seca reordenamento área. Ocupar tabanca região Cubisseco estabelecendo uma posição da qual possam ser conduzidas acções a fim de aniquilar IN exercendo interna acção psicológica sobre POP/IN com vista à sua recuperação e desequilíbrio de forças.

(...) Para esse efeito foi constituída a CTG5 e, a 24 de Julho, é lançada uma grande operação que se iria arrastar por quatro meses e meio com a finalidade de implantar, numa zona controlada pelo inimigo, uma base de onde seriam desencadeadas operações em todo o Cubisseco de Baixo e Pobreza. Era a Operação “Verga Latina”, onde se encontraram empenhados os dois Destacamentos de Fuzileiros Especiais Africanos.

O DFE 21, transportado pela LFG “Hidra”, desembarcou às 07:30 na Ponta Nalu, e o DFE 22 que se encontrava a bordo da LDG “Bombarda”, desembarcou às 06:30 junto às tabancas de Mansabá, reunindo-se os dois destacamentos no dia seguinte próximo da Tabanca Nova, onde foi montado estacionamento; continuando no local com trabalhos de desmatação e instalação, montaram de maneira expedita um aquartelamento que passou a ser designado por “Tabanca Nova da Armada”.

Enquanto os Destacamentos Africanos se encontravam no Cubisseco entregues à Operação “Verga Latina”, os três DFE’s metropolitanos mantinham-se em patrulhas e emboscadas ao rio Cacheu e seus afluentes, sendo que um em Vila Cacheu e os outros dois em Ganturé.

(...) Em Agosto já o inimigo entendera que a intenção da Marinha era permanecer no Cubisseco, pelo que passaram a ser aguardados fortes ataques à Tabanca Nova da Armada. Havia então necessidade de se preparar a defesa, pelo que se cavaram trincheiras com valas e foram montados redutos de armas pesadas:  um com dois morteiros 120 mm; um com cinco morteiros 81 mm; um com três morteiros 81 mm; outro com dois morteiros 81 mm e um de 60 mm, possuindo mesmo um canhão sem recuo 7.5 capturado ao inimigo.

(...) A 26 de Agosto o estacionamento foi flagelado pela primeira vez em ataques que se repetiriam, com maior ou menor violência, por seis vezes durante o mês de Setembro, mantendo-se os dois Destacamentos em intensa actividade na área, com excelentes resultados.

No dia 27 de Setembro, durante uma acção no Cauto, por heliassalto, o DFE21 entra de novo em combate, ficando gravemente ferido o STEN FZE RN Carvalho Meneses, recém-chegado à Província.

Embora com meios cada vez mais sofisticados, o inimigo continua a adoptar a táctica pura de guerrilha.

«Pareceu-me que o IN não se encontra em força na área. Conhecedor do terreno, sabe escolher os sítios onde pode fazer emboscadas com certo êxito e com elevada margem de segurança. Utiliza grupos pequenos para poder estar em vários lados ao mesmo tempo, cobrindo assim a quase totalidade da área. Mostram-se aguerridos mas cautelosos, pois ao mínimo movimento para manobra cortam o contacto e fogem.»

DFE21, Operação “Verga Latina”, SET72

«Após flagelação a aquartelamento, as nossas tropas (NT) detectaram 9 munições de lança-granadas (LG 8.9) metidas dentro dos respectivos tubos, os quais estavam enterrados até metade e com uma inclinação de 45º na direcção do aquartelamento. Os fios de ignição estavam ligados em paralelo para um possível disparo em simultâneo.»

I.O.M.G. n.º 9/72


(...) Durante o mês de Outubro os dois Destacamentos Africanos que integravam a TG5 continuavam empenhados na Operação “Verga Latina”, acantonados na Tabanca Nova da Armada, durante ess período flagelada por quatro vezes, enquanto os DFE’s metropolitanos se mantinham em acção na fronteira norte, entregues a nomadizações, patrulhas e emboscadas terrestres ou aquáticas, no rio Cacheu e afluentes.

«Pelas 08:50 um grupo de assalto com elementos dos dois Destacamentos desembarcou [...], regressando ao estacionamento onde chegou pelas 18:15, tendo capturado uma espingarda Mauser, munições diversas, material diverso, três homens, onze mulheres e nove crianças. Pelas 18:20 foi este flagelado com fogo de morteiro 82 mm e canhão sem recuo, sem consequências».

Durante o mês de Novembro, o estacionamento de Tabanca Nova da Armada foi flagelado por onze vezes, algumas mesmo junto ao “arame” (perímetro defensivo), permanecendo os DFE’s 21 e 22 naquele estacionamento de onde efectuavam permanentemente patrulhamentos ofensivos na área.

Porém, foi entendido pelo Comando de Defesa Marítima da Guiné que os objectivos que presidiam ao lançamento da Operação “Verga Latina”, que consistiam em “recuperar psicologicamente a população do Cubisseco”, não surtiam os efeitos desejados, já que a pouco numerosa população que vivia na área se encontrava perfeitamente enquadrada e mentalizada pelo inimigo. Foi por isso decidido retirar os dois Destacamentos, dasactivando o aquartelamento. (...)



(...) Comentário de 24/10/2012: 

João Saldanha Meneses disse...

Carlos Alberto Encarnação disse: "...a sua discordância já que ao local escolhido as LDM´s só podiam aceder durante cerca de uma hora no estofo da maré e, por outro lado,  qualquer operação originada naquele local obrigava a passar por uma estreita faixa de terra, sem qualquer protecção , o que permitia às forças do PAIGC conhecer todo e qualquer movimento efectuado, no dizer de um dos oficiais fuzileiros que ali estiveram bastava ao PAIGC ter um polícia sinaleiro instalado no terreno para conhecer os movimentos dos fuzileiros".

Estes comentários foram contrariados pelo CDMG com a seguinte máxima "A minha experiência diz-me que estão errados". A pretensão formulada quanto ao tipo de experiência a que era feita referência não logrou qualquer resposta e foi, mais tarde, considerada provocação. Acrescente-se que os dois oficiais que levantaram dúvidas sobre a correcção da escolha daquele local eram dos presentes aqueles que maior experiência e tempo de permanência na Guiné tinham...."

Concordo totalmente sobre a errada localização da "Tabanca Nova da Armada"  que, como foi dito, estava localizada numa zona isolada por tarrafo ligada ao restante território por uma garganta estreitíssima, fácil de controlar, como se verificou na prática. Acrescento que nos foi dada, para além da missão militar, a missão "psico" de aproximação à população. Esta última missão não se acertava com as actuações e espírito de combate de uma unidade de elite, além de que éramos colocados principalmente em zonas de ataque puro.

Quanto à LFG, (era sim uma LFP) que afirma ter sido afundada, tal não corresponde à verdade pois era uma LFP abatida que foi para ali enviada a pedido, para lhe ser retirado o canhão, que iria servir de defesa (e serviu) ao acampamento.

Não foi, também como foi dito, um  "fiasco". Não serviu a totalidade das suas intenções (psico), mas fez o que lhe foi ordenado, de forma impecável, criando um clima de insegurança ao IN numa zona considerava como controlada. Eramos uma unidade a que o IN tinha muito "respeito", pelas informações que eram difundidas pela rádio confirmado por documentos capturados.  (...)

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8462: O fim da picada: o reconhecimento do DFA (1): Os anos cansam e a burocracia enfada (Hugo Gerra, Cor DFA Ref)

1. Mensagem do nosso camarada Hugo Guerra [, aqui na foto à esquerda, quando jovem alferes, no da Guiné[], com data de ontem:


Data: 22 de Junho de 2011 17:58

Assunto: O Fim da Picada...armadilhada

Caros camaradas e amigos

Quando há umas semanas foi publicado no blogue um artigo sobre a realidade actual dos processos para considerar os ex-combatentes como DFA [Deficientes das Forças Armadas], salvo erro da lavra do Pereira da Costa (peço desculpa se não foi), fiquei de orelhas arrebitadas e com vontade de escrever qualquer coisa sobre o assunto.

Meio a brincar meio a sério, porque o assunto é melindroso, gostava de deixar agora o meu testemunho, que reflete um exemplo de muitos casos que conheci.

Sem tecer comentários.

Cronologicamente relatando "o fado" de um militar:

1969 ago 28 - Evacuação do HM Bissau para o HMP em Lisboa, pela Psiquiatria;

1969 nov 27- Presente à Junta Hospitalar Millitar; não é atribuida qualquer desvalorização;


1970 mai 08- Doença considerada adquirida em serviço de campanha;


1977 fev 22 –Requerimento do interessado a solicitar atribuição de desvalorização;

1980 abr 29-Indeferimento do requerimento,por já ter outra desvalorização;

2004 mai 05 – Clínica de Psiquiatria decide iniciar processo por Stress Pós Traumático (PTSD);

2005 jan 14 – Convocado para prestar declarações em Processo Sumário, tendo sido ignorado o que fora levantado em 1969;

2005 fev 10 – Ouvido em declarações, apresentando de novo as mesmas testemunhas já ouvidas em 1969

2010 mar 01- Processo segue da Secção de Justiça para Direção de Saúde;

2010 jun 10 – Autorizada a JHI no HMPrincipal;

2011 abr 11 – Recebe Guia de Marcha para Consulta;

2011 mai 18 – Consulta para atribuição de desvalorização, da doença porque fora evacuado da Guiné em 1969;

2011 jun 21 – Presente à JHI com atribuição de 30% de desvalorização, a somar aos 67% que tinha por ferimentos em combate;

O que se vai seguir não sei e, para ser franco já nem me interessa. Os anos cansam e a burocracia enfada.

Por mim,  missão cumprida. O Estado Português que fique com a indemnização que considero devida desde 1969.

Preocupam-me os nossos camaradas que padecem no corpo ou na mente as mazelas da guerra; será que têm pedalada para aguentar, ou dito de outra forma, será que merecem este tratamento?

Realcei as datas mais "interessantes" pelos anos decorridos entre cada evento.

Fiquem com um abraço grande do
Hugo guerra

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6667: As nossas mulheres (10): Um pouco de mim (Ana Duarte)

1. Mensagem de Ana Duarte, viúva do nosso camarada Sargento-Mor Humberto Duarte, que foi Fur Mil Op Esp / RANGER do BCAÇ 4514, Cantanhez -1973/74.

Um pouco de mim

Sou Ana Duarte,  viúva de Humberto Duarte,  Ranger que esteve na Guiné no BCaç 4514. Em 2000 foi considerado DFA e em 2002 reintegrado nas FA, fez o curso de Sargento Ajudante e infelizmente partiu em Fevereiro, sendo na altura o Sargento-Mor mais antigo de todas as FA no activo.

Sou moçambicana, vim em 75, éramos seis irmãos, casa sempre cheia de adultos e miúdos. Em casa era sossegada só lia e fazia puzzles, na rua tinha a alcunha de turra ou chamuça, gostava de me sentar a ouvir os mais velhos e o descanso de subir muros e árvores era ouvir a conversa dos escuteiros mais velhos e tentar perceber porque aqueles rapazes tão bonzinhos quando iam pró norte fardados voltavam brutos. O primeiro contacto com stress pós-traumático, tinha eu 9/10 anos, foi com um dos tais rapazes que tinha boina vermelha e tinha estado lá em cima,  perto de Tete.

Lutei ao lado do Humberto para conseguir que ele fosse considerado DFA e depois reintegrado. Depois disso foram vários os camaradas que foram por nós ajudados a iniciar os seus processos. Muitas vezes era eu que,  nos almoços, jantares e na concentração do 10 de Junho,  lhe chamava a atenção para este ou aquele.

Conheci alguns que um ano estavam impecáveis e no ano a seguir eu notava qualquer coisa no olhar que me dizia que o stress acumulado durante anos estava prestes a estoirar; quantos tinham empregos estáveis, uma vida familiar que parecia impecável e de repente tudo desmoronava e normalmente ficavam sós!?

Não estou a criticar familiares porque sei por experiência que não é facil viver com alguém que tenha uma percentagem grande de stress de guerra e muitas mulheres e filhos não têm conhecimento de causa daquilo que vocês passaram, a maior parte das fotos que elas viram foi em poses ou em descanso, falar normalmente quem verdadeiramente passou não fala e depois são alcunhados de malucos, bêbados... Têm problemas com álcool, muitos têm, mas porquê?

Eu tenho amigos que até me aturavam, mas como se habituaram a eu aguentar tudo, agora sou eu que não sou capaz de chorar ou queixar-me à frente deles, são as desvantagens de estar durante 12 anos na retaguarda de alguém com 40% de stress de guerra,  sempre preocupado com os outros, sempre a querer ajudar, mas quando as coisas corriam mal tinha que explodir e o normal no ser humano é explodir com quem se gosta mais.

Tenho doze anos tão intensos que pessoas que viveram 40 anos juntas, não têm. Pessoas que não conheciam a nossa história, mas nos conheciam pessoalmente, agora ficam muito espantadas e há quem não acredite que só vivíamos juntos há 12 anos.

Tenho muitas histórias que talvez ajudassem mulheres que amem mesmo o seu companheiro, mas que lhes seja extremamente difícil por vezes aguentar quando por alguma razão há uma descarga de stress, mas ao mesmo tempo essas mesmas histórias lidas por quem não consiga perceber o que é o stress pós-traumático, podem servir para,  como tanta vez infelizmente ouvi, [criticae],  "eram uns assassinos e agora são bêbados, agressivos.."

Tinham que ser histórias filtradas por alguém competente, que eu não sou, pois eu rio-me delas e não é agora, porque quando passavam as crises e algumas foram bem grandes, eu falava com ele, ríamos juntos e muitas vezes ele acabava a dizer "eu não sei como me perdoas,  como aguentas" e eu a responder "percebo-te, gosto de ti e amo-te".

Conhecem o filme Nascido a 4 de Julho? Eu costumava-lhe dizer que era a vida dele,  só que em vez de vir em cadeira de rodas, a cabeça dele é que tinha vindo.

Em 1998 vivia sozinho numa casa com um cão, uma cadela e um gato, água e luz com ligação directa, despensa e frigorífico vazios, de manhã bebia água e fingia que era leite, jantava em casa de um camarada, de vez enquanto tinha dinheiro que umas "amigas" lhe davam, deitava as beatas pela janela para as ir apanhar de madrugada, desfazê-las, secá-las na cloche e fazer novos cigarros. A 28 de Fevereiro de 2010 morre em casa nos braços da mulher, sendo o Sargento-Mor mais antigo das FA no activo, depois de reintegrado por streess pós-traumático.

Fico danada quando me dizem,  como disseram ontem,  "se não fosse a Ana..." porque a partir do momento em que o conheci, percebi o que tinha, gosto dele e o amo, só faço aquilo que tenho de fazer, ele também fez muito por mim, amou-me e casei, porque ele quase me obrigou para poder ter as regalias que tenho.

Gostei das fotos dos monumentos aos combatentes, mas já está na hora de isso passar para o outro lado, sair dos blogues dos ex-combatentes, passar para a nova geração, entrar nas escolas, nem que seja naquele dia em que o neto ou filho chegam dizendo que a professora quer um trabalho sobre o passado de Portugal ou o porquê do 25 de Abril.

A minha "guerra" era essa,  ao lado do meu marido e agora continua, eu sou educadora, neste momento as idades com que trabalho não dá para isso (2/3 anos), mas trabalhei muitos anos com miúdos de primária e aproveitava sempre essas datas para explicar qualquer coisa àquelas crianças. Deu frutos, porque no dia 12 estive em Belém, e a minha companhia foram, um com 22 anos que é militar e foi o último a quem o meu marido impôs a boina, um com 19, um dos tais de quem fui educadora, um com 13, vizinho, que um dia estava aflito com um trabalho sobre o 25 de Abril e os pais não sabiam explicar, e o meu neto com 7 anos que se fica quieto quando do toque do silêncio aos mortos, e na altura do Hino, que o canta todo.

Outra coisa, o 10 de Junho tem de ser em Belém, é lá que suposta ou verdadeiramente estão os nomes de todos, é uma maneira de chamar a atenção da opinião pública, ou então arranjem um dia dos ex-combatentes e vão lá todos. Em Abril estive no Porto, fui entregar uma lembrança do meu marido a um Camarada, e ele levou-me a um jantar de caloiros e fez-me falar.

Detesto falar em público, mas fi-lo para lhes falar dos ex-combatentes e no fim vieram agradecer, porque tinham pais, tios... que estiveram lá fora, que eles percebiam que havia qualquer coisa, mas não sabiam nada da guerra, nem do que muitos sofrem em silêncio por causa dela.

Desculpem o desabafo, mas eu sei o que passaram, o que passam hoje, conheço bem alguns que com a idade as coisas só pioraram, as mulheres não perceberam e agora estão com dificuldades e sozinhos.

Ana Duarte
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 13 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6591: O discurso de António Barreto no dia 10 de Junho de 2010 (3): O dia do ex-combatente devia ser comemorado noutra data (Ana Duarte)

Vd. último poste da série de 4 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6310: As nossas mulheres (16): Hoje é Dia da Mãe (Felismina Costa)

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3518: História de vida (18): Evacuado duas vezes e meia...(Hugo Guerra, ex-alf mil, cmdt Pel Caç Nat 55 e 60 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70); hoje cor ref, DFA



Meia evacuação, ou... uma grande salganhada


Hugo Guerra
ex-Alf Mil, comandante do Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 60 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70), hoje Coronel, DFA, na reforma


Às tantas. Até nisto fui exagerado. Fui evacuado por duas vezes e meia.

A meia evacuação

E tenho que começar pela meia evacuação para se perceber como aconteceram as outras duas. Foi assim:


Em Julho de 1969, já eu estava na Chamarra, fora, portanto de Gandembel e Ponte Balana, quando vim de férias à Metrópole. Tinha 24 anos, acabados de fazer, e já tinha dois filhos.

Mal acabei de regressar a Aldeia Formosa/Chamarra recebi uma carta da minha mulher, que teve o efeito duma mina anti-pessoal. Dizia-me ela que tinha encontrado o amor da sua vida e que ia viver com ele para Moçambique, pois fora mobilizado para uma comissão naquele Serviço que fazia os filmes, das festarolas que aconteciam em Angola e Moçambique, onde vim a trabalhar mais tarde.

Isto não me podia estar a acontecer e ainda hoje culpo estes acontecimentos de tudo o que vem a seguir.

Como não podia ficar parado a assistir de longe a este percalço, meti-me a caminho e fui falar com o General Spínola, pedi-lhe 8 dias para voltar a Lisboa e esclarecer aquele pesadelo, e que de imediato me foram concedidos.

A minha ligação de amizade com os Páras e o Coronel Diogo Neto, a quem pedi uma boleia no 1º avião que saísse de Bissau, colocou-me em Lisboa na noite seguinte.

Esclarecida a situação, para mim completamente surrealista, pois mais parecia estar a viver um pesadelo, fui às Urgências do HMP [Hospital Militar Principal, à Estrela] em desespero de causa, mas com a ideia que tinha duas coisas a fazer: (i) Cumprir o que tinha prometido ao General Spínola; e (ii) fugir de tudo isto - os meus 24 anos e a época em que vivíamos, não eram compatíveis com a visão marialva da vida que tinha levado até então.

Fui muito bem atendido no HMP e drogaram-me o suficiente para chegar a Bissau, como era meu desejo. Podia ter acabado ali a minha comissão mas o orgulho ferido e a vergonha eram muito fortes e pensava que o melhor era pôr a distância entre mim e toda esta porcaria.

Lá embarquei num avião militar que fez escala em Cabo Verde e, como ia cheio de comprimidos, adormeci profundamente num banco de madeira que por lá havia e esqueceram-se de me acordar.

Só passado mais de meia hora deram comigo e lá segui, com uma carta do HMP para baixar de imediato ao HM 241, à Psiquiatria. 18 de Julho de 1969. Como o percurso foi ao contrário chamo-lhe meia evacuação.

Vamos à seguinte

Na Psiquiatria em Bissau vi os apanhados do cacimbo e outros que se faziam a isso.
Não era bonito de ver essa golpada, quando mesmo ao lado tínhamos verdadeiros heróis, todos esfarrapados e já com peças a menos, que só eram evacuados se houvesse a certeza que não morriam pelo caminho; eu estive lá a estabilizar e como queria regressar ao meu pelotão, o Pel Caç Nat 55, os médicos devem ter percebido que eu já não batia certo e despacharam-me mesmo para Lisboa.

Passados dias vim então, evacuado para a Psiquiatria do HMP.

Na Psiquiatria onde fiquei internado em camarata, pois claro, com janela virada para o Jardim da Estrela onde as moto-serras começavam o seu chinfrim às horas em que conseguia adormecer (durante a noite os pesadelos eram mais que muitos), dizia eu, na Psiquiatria, éramos atendidos por Psiquiatras novatos, muito junto uns as outros, de modo que uma consulta era muitas vezes partilhadas com os vizinhos do lado.

Acho que a medicação também devia ser standard , o que nos fazia parecer um bando de doidinhos.

Cansado disto e porque mais uma vez me encontrava em Lisboa onde me sentia altamente traumatizado e desconfortável, pedi para tratar-me em ambulatório, gozei uns dias de férias no Algarve e, ainda sem os 12 meses cumpridos, pedi outra vez que dessem alta e mandassem de volta à Guerra.

Fui a uma Junta Médica e consideraram que eu estava no meu melhor e apto... para todo o serviço militar. Mais tarde e, na sequência deste filme, a doença foi considerada como adquirida em Serviço de Campanha.

Ter ou não 12 meses cumpridos em zona de 100% era importante por ser norma, não sei se escrita, que o pessoal nessas condições fazia o resto da Comissão em Portugal. Nem disso quis saber...

E só regressei a Bissau depois do Ano Novo, 1970, Janeiro, porque as meninas do Depósito Geral de Adidos, com peninha de mim foram escamoteando o meu regresso até passar as Festas Natalícias.

Terceira e última

Cheguei a Bissau em Janeiro, salvo erro a 18, e queriam ficar comigo na cidade. Bati o pé, fiz birra e lá marchei para S. Domingos, zona calma onde os periquitos faziam a sua adaptação ao clima e ao barulho da guerra.

Foi aí que dormi pela primeira vez numa cama normal com lençóis e tudo. Trocava todo o meu vencimento da Guiné por garrafas de whisky, que bebia até esquecer... mas as o 1º da CCS não se esquecia e lá vinha fazer contas comigo. Levava as garrafas, ainda intactas, e passados dias eu já estava a refazer o stock.

Fiquei a comandar o Pel Caç Nat 60 e ainda tenho algumas lembranças de coisas que por lá aconteceram. Adiante.

No dia 13 de Março de 1970, ia comandar um patrulhamento até à fronteira e eis senão quando detectámos uma primeira mina reforçada, mas em tal estado de conservação que não houve qualquer problema para a levantar.

Tinha no Pelotão um Primeiro Cabo, de nome Seleiro, já com um longo historial de levantar minas e, depois de a vermos, concordei que ele a levantasse, o que foi feito sem qualquer problema. Passámos o detonador para a bolsa do enfermeiro e continuámos a progressão.

Como eu era sempre o terceiro ou quarto homem depois das picas, vi perfeitamente que os picadores tinham localizado qualquer coisa. Montada a segurança lá chamei de novo o Seleiro para conferenciarmos sobre aquela.

Depois de nos certificarmos que estava isolada, tinha que decidir se abortava a operação, rebentando a mesma e regressando a São Domingos, expostos a alguma emboscada do IN. Se fosse entendido desactivar a mesma, poderíamos ir ao objectivo e no regresso levantá-la sem qualquer perigo.

Um e outro rastejámos até à mina que parecia nova e eu comecei a dizer ao seleiro que a queria levantar. Ele acabaria a sua comissão dois meses mais tarde.

Comecei a suar por todos os poros e depois de olhar bem aquela malvada, disse ao Seleiro que não era capaz. Ele disse-me que não havia crise e tomou o meu lugar.

Deitado no chão a cerca de 5 metros, acompanhei todos os seus movimentos com angústia e só relaxei um pouco quando ele, de joelhos e com a mina na mão, prestes a desarmadilhá-la me chamou:

- Meu Alferes, olhe aqui.

Comecei a levantar-me e senti o estrondo infernal, o sopro que me projectou de costas, o sangue quente a escorrer na cara e os gritos dele a dizer que estava morto…

Mas não estava. Os nossos homens trataram-nos o melhor possível, pediram as evacuações e fizeram uma macas com bambus e camisas. Tinha medo de perder a consciência e passar para o outro lado.

Aguentei, em choque, até chegarmos ao HM 241 em Bissau e o que mais me agradava naquele desespero todo era continuar a ouvir o Seleiro a dizer que estava morto. Se ele se calasse, sabia que podia ter perdido um amigo.

Quarenta e oito horas depois chegámos ao aeroporto de Figo Maduro e, como já foi dito por um camarada nosso, fomos colocados dentro de ambulâncias militares e sem qualquer barulho para não acordar a cidade, levaram-me a mim para o HMP na Infante Santo e o Seleiro foi levado para o Anexo, em Campolide.

Fiquei num quarto com mais dois camaradas que estavam lá a repousar, duma operação a uma hérnia um, e de um quisto qualquer, outro.

Só passados cerca de 10 dias a minha família foi avisada e nada disseram aos meus Pais. Afinal ainda podia morrer. Recordo-me de ver dois vultos aos pés da minha cama e ouvir a voz da minha irmã mais velha dizer, lamuriante:

- O meu irmão era tão bonito.

Imagino o aspecto que teria todo queimado e cheio de cicatrizes na cara, cabeça e membros. Nessa altura já o médico me tinha dito que tinha ficado sem o olho esquerdo e começaria os tratamentos a seguir à Páscoa quando estivesse mais estabilizado. Só ao fim de dez ou quinze dias comecei a poder comer porque até aí os dentes abanavam todos.

Em meados de Abril já fazia a pé o caminho para as diversas clínicas que passei a frequentar e apanhei o primeiro susto quando tiveram que me amputar os restos do olho.

Foi horrível mas acho que foi o Luís (Graça) que pediu algumas vivências de camaradas da Tabanca que tivessem frequentado o HMP, tout court.

Não sei se esta parte da Guerra é publicável, mas eu limito-me a contar a minha história, como a vivi e sobrevivi.

A verdade é que com isto tudo estava outra vez em Lisboa e, assim que achei que estava operacional, em Agosto outra vez, pedi para me mandarem à Junta Médica (JHM) e fiquei livre da minha guerra de G3.

Assim pensava. Em Outubro já estava em Angola a tomar conta da Fazenda Tabi, em zona de guerra, perto do Ambriz e fiquei naquele belo País até Abril de 1974. Foi o tempo para lamber e sarar as feridas.

Um abraço do
Hugo Guerra

__________


Notas de vb:

1. Artigos do Hugo Guerra em

Guiné 63/74 - P3443: Guiné/Vietname. Por favor, deixem-me sair de Gandembel (Hugo Guerra)

2. E da série Histórias de vida em:

17 de Novembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3464: Histórias de Vitor Junqueira (10): Santa Paz

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2415: Uma guerra entregue aos milicianos: onde estavam (estão) os nossos comandantes ? (Hugo Guerra, Coronel, DFA, na reforma)

1. Mensagem do Hugo Guerra (ex-Alf Mil, hoje Coronel DFA, na reforma, Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 60, Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70) (1):

Caros Camaradas:

Que comece um bom ano para todos nós, são os meus votos.

Estou a escrever só para pedir que façam uma importante correcção no meu currículo da Guiné (1).

Em São Domingos o meu Pel Caç Nat era o 60 (e não 50, como erradamente indiquei). As minhas desculpas a todos, especialmente ao pessoal dos Pelotões visados.

À pala desta minha incorporação no blogue já comecei a receber telefonemas e emails de malta que já não vejo há 38 anos…. E a sensação é óptima. Vamos ver se este ano dou a volta por cima e começo a conviver.

Já agora uma pergunta com água no bico.

A Guerra na Guiné não tinha Comandantes de Companhia, Batalhão, Sector etc? Ou foi só mastigada pela rapaziada miliciana, desde soldados a alferes?

Esses senhores não estavam lá ou querem continuar a desenfiar-se como quase sempre fizeram? (2)

Salvo as honrosas excepções dos nossos 3-4? Tertulianos que eram Capitães na altura, os demais continuam a enviar pra frente, agora da Net, dois Pelotões para evitar as idas pró mato, como faziam lá???

Só a partir de 3 Pelotões era moralmente obrigatória a chefia do Comandante de Companhia, salvo erro…..

Um abraço e até um dia destes

Hugo Guerra
_______________

Nota de L.G.:

(1) Vd. posts do Hugo Guerra:

22 de Dezembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2374: O meu Natal no mato (10): Bissau, 1968: Nosso Cabo, não, meu alferes, sou o Marco Paulo (Hugo Guerra)

29 de Novembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2312: Tabanca Grande (43): Hugo Guerra, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 55 e 50 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70)

(2) Do ponto de vista estatístico pode-se dizer que os oficiais superiores, na reforma, sobretudo do Exército, estão bem representados no nosso blogue... Mas poucos são os que, com a patente de capitão para cima, dão hoje a cara... Parabéns aos que são a excepção e que nos honram com a sua presença... E aproveito para sublinhar, mais uma vez, que a nossa Tabanca Grande não tem arame farpado nem porta de armas (nem, muito menos, messe de oficiais, messe de sargentos e refeitório de praças).

Há duas explicações para este fenónemo da ausência dos nossos antigos comandantes na nossa Tabanca Grande:

(i) há um problema geracional: em geral os capitões do QP, no meu tempo (1969/71), eram mais velhos cerca de 15 anos, do que os seus soldados, furriéis e alferes milicianos; isso pode torná-los, por exemplo, menos à vontade para chegar à Internet e a um blogue como o nosso; claro que há excepções: cito, a título de mero exemplo, o nosso saudoso capitão, na reforma, Zé Neto (1927-2006);

(ii) a ideologia (elitista) da corporação: os oficiais da Academia foram formatados de acordo com o figurino da segregação sócio-espacial... A palavra camarada não cola bem na pele de um oficial do QP, e sobretudo de um oficial superior, a menos que a sua origem não seja a Academia Militar (como era o acso do Zé Neto, ou dos oficiais superiores que vieram de milicianos, como o A. Marques Lopes ou o Hugo Guerra, por exemplo)... Claro, há as honrosas excepções, no nosso blogue (não preciso de citar nomes);

(iii) há um pudor imenso em falar, publicamente, de uma guerra tão longa e dolorosa como esta, que implicou também para os militares de carreira (oficiais e sargentos) pesados sacrifícios, a nível de saúde, de qualidade de vida pessoal e familiar... É bom não esquecer isso... A este propósito leia-se o post do nosso camarada
Pedro Lauret, Capitão de Mar e Guerra, na reforma, antigo imediato do NRP Orion, Guiné (1971/73):

13 de Março de 2007 >
Guiné 63/74 - P1590: O sacrifício dos oficiais do quadro permanente (Pedro Lauret)
(...) Qualquer oficial saído da Academia Militar em 1961, ou nos anos imediatamente seguintes, fizeram 4 comissões na mesma colónia ou em várias.

A vida dos meus camaradas do Exército foi de enorme esforço e sacrifício. Quem fez 4 comissões tem pelo menos um ida como subalterno e duas como capitão, eventualmente uma última como major. A vida de um oficial do QP eram dois anos em comissão, um ano no continente.

Como é sabido, o número de oficiais que entravam na Academia Militar começou a diminuir a partir de 1961. A Guerra nos três teatros de operações aumentou sempre em área operacional e em consequente número de efectivos, pelo que foi exigido um esforço muito grande aos oficiais dos QP, que a partir de certa altura já eram insuficientes, pelo que começaram a ser formadas capitães milicianos, como todos sabemos.

A tese de que havia guerra porque os oficiais dos QP a fomentavam para ganhar mais, e que praticamente a vitória militar estava garantida, foi posta a circular pela propaganda do Estado Novo tendo tido acolhimentos diversos, nomeadamente nos colonos em Angola e Moçambique (...).

(...) Das centenas de oficiais que fizeram várias comissões permitam-me que vos evoque dois de duas gerações: Carlos Fabião, uma comissão em Angola e, penso, quatro na Guiné; e Salgueiro Maia, que em 1974 tinha 28 anos, com uma comissão nos Comandos em Moçambique e outra na Guiné. (...)