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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7813: Blogues da nossa blogosfera (42): Coisas da Guiné, de A. Marques Lopes



Coisas da Guiné, o blogue do nosso camarigo A. Marques Lopes (*)... Desde Setembro de 2010. Já lá vão cerca de 70 postes.  O que se pode ver e ler ?  "É conforme me vou lembrando, e vou também pescando algumas coisas minhas que já publiquei ou que outros publicaram em blogues existentes" (incluindo o nosso, Luís Graça & Camaradas da Guiné)... 

Recorde-se que o   A. Marques Lopes, ex- Alf Mil At Inf, CART 1690 (Geba) / CCAÇ 3 (Barro) (1967/69)  tem uma vasta colaboração no nosso blogue, e em especial na I Série (entre Maio de 2005 e Maio de 2005). A actividade operacional das subunidades por onde ele andou (CART 1690 e CCAÇ 3) está aqui bem documentada, em texto e fotografia.


O A. Marques Lopes tem alguns dos melhores postes publicados no nosso blogue... De entre todos quero, mais uma vez,  destacar a história da professora de Samba Culô, morta por ele num ataque à aldeia sob controlo do PAIGC...  Foi uma história que o atormentou durante anos, até pelo menos a 2005, ano que voltou (de novo) à Guiné e a Samba Culo, tendo aí feito as pazes (o luto ou a catarse) consigo próprio e com a memória da guerrilheira abatida (**)...

Vou (re)negociar com o António a publicação, aqui, de uma ou outra das suas novas histórias. Para já, e para "abrir o apetite", tomo a liberdade de publicar a seguir um excerto do poste onde ele conta a sua viagem, em Dakota, de evacuação para o Hospital Militar Principal, ma sequência de graves ferimentos em combate (em 21 de Agosto de 1967, apenas 4 meses depois de ter chegado ao TO da Guiné):

Quinta-feira, 23 de Dezembro de 2010 > 29-Como fui evacuado 


(...) A 21AGO67, fui ferido por uma mina no caminho de SARE BANDA  [, link quebrado,] para BANJARA (A mina da minha vida) [, link quebrado]. Estive uma semana no Hospital de Bissau (HM241) e daí saí para a Base Aérea para ser evacuado para a Metrópole. Foi num Dakota C47.




Fui só com as calças e uma camisa. Foram também outros feridos que entraram no avião. Os bancos que vêem na gravura foram ocupados por uma senhoras, não sei quem eram, nós os feridos, uns cinco ou seis, fomos esticados numas macas no corredor. Ainda disse que não estava assim tão mal e que podia ir numa cadeira. Mas que não, que devia ir numa maca. Lá fui, e quando o avião já estava alto comecei a deitar sangue pelos ouvidos (era o meu ferimento principal), por causa da descompressão. Ninguém ligou mas eu tratei de mim. 

Ao fim de cinco ou seis horas, não sei bem, chegámos ao aeroporto militar de Las Palmas [, nas Canárias,], disseram-nos. Que quem quisesse podia sair para descontrair. Saí e estava cheio de fome, não nos tinham dado nada para comer, nem as "queridas" rações de combate. Vi vários militares e olhei para uma porta que me pareceu a entrada de um bar. Fui até lá e entrei.

Olharam para mim, mas ninguém pareceu espantado, já deviam estar habituados a estas visitas. Pedi uma cerveja e uma sandes. Devorei-as, era a fome. No fim fiquei atrapalhado porque vi que não tinha dinheiro. Nem escudos, nem pesos, muito menos pesetas. Baixei a cabeça e fui-me afastando do balcão até à porta. Ninguém olhou para mim, pareceram-me distraídos. Zarpei para o dakota e estiquei-me na minha maca. Passados tempos o avião arrancou até Lisboa. Ainda agora não sei se fui eu que fui esperto ou se foram eles que me deixaram ir sem me agarrarem para pagar.

Depois de quatro ou cinco, ou cinco ou seis horas, não sei, chegámos ao Figo Maduro. Estava lá os meus pais e a minha irmã, tinham-lhes dito que eu fora ferido e vinha. Choraram e ficaram contentes por me ver de pé. Foi pouco tempo, porque me meteram numa ambulância para ir para a Estrela, o HMP. (...)


____________

Notas de L.G.:

(**) Vd. postes de: 

29 Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXX: A professora de Samba Culo (A. Marques Lopes) 

(...) "Tenho de partir, de voltar a Portugal. Gostei muito de falar contigo, tinha mesmo necessidade de o fazer, já que, naquele dia em que nos encontrámos pela primeira vez, só eu te disse “firma lá!” e tu não me disseste nada. Percebo que nem me quizesses ouvir... E nunca mais dormi descansado até agora. (...)

"Quero pedir-te uma última coisa, que desculpes aquele meu soldado que tentou violar-te quando estavas agonizante. Conseguiste ver ainda que não o deixei fazer isso. Perdoa-lhe, era bom rapaz, um camponês minhoto que para aqui foi lançado e, sabes, é fácil perder a cabeça numa guerra de inimigos fabricados. Talvez o encontres por aí, o teu camarada Gazela matou-o em Jobel e o corpo dele por cá ficou. Deve andar, como tu, no meio desta floresta do Oio. Fala com ele agora". (...)
7 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - XLIX: Samba Culo II (A. Marques Lopes)

" (...) o que mais me impressionou nesta operação foi o seguinte: Samba Culo tinha uma escola; quando lá chegámos, vi escrito no quadro preto, em perfeito português: "Um vaso de flores". Tinha desenhado, a giz, por baixo, um vaso de flores.

"E o que nunca mais esquecerei na minha vida: quando atacámos a base, uma jovem dos seus 18 anos ficou com a barriga aberta por uma rajada de G3. E mais (coisas terríveis desta guerra!): o Bigodes, o Armindo F. Paulino (que foi, depois, feito 
prisioneiro pelo PAIGC e que acabou por morrer em Conakri), quis saltar para cima dela. Tive que lhe bater. Esta é uma situação que nunca me sai do pensamento... e da minha consciência.

"Tinham muitos livros em português, que era o que estavam a ensinar aos alunos (miúdos ou graúdos?). Trouxemos também (imaginem!) uns paramentos completos de um padre católico! Lembranças que se me pegaram para toda a vida" (...).

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Guiné 63/74 – P7088: FAP (54): O papel da Força Aérea na Guiné nos anos de 1972 e 1973 (Gil Moutinho)

1. Mensagem de Gil Moutinho, ex-Fur Mil Pilav, BA12 (Guiné, 1972/73), com data de 26 de Setembro de 2010:

Caro Carlos Vinhal e Luís Graça
Como já tinha este texto pronto, envio-vos e se acharem conveniente ou não, podeis juntar à minha apresentação

Será muita informação junta?

Achei oportuno, dar uma ideia breve e resumida do papel da Força Aérea, na Guiné, nos anos 72/73, na minha óptica de Piloto Miliciano (furriel no meu caso), pois amiúde, me questionam o porquê de termos deixado de voar no período pós-Strellas.

Assim mesmo, com estas palavras. Claro que contesto veementemente pois está totalmente errada a ideia que têm e explico porquê.


Uma vista de Bissau a partir de um T6


PAPEL DA FORÇA AÉREA NOS ANOS DE 1972 E 1973

1- Até Março /Abril de 1973, o espaço aéreo da Guiné estava por nossa conta,não havendo grande oposição do IN, salvo em alguns pontos fronteiriços onde tínhamos alguns cuidados para não passar para o lado de lá, pois podíamos ser abonados. Houve alguns casos de atingidos por armas ligeiras sem grandes danos.

Cada tipo de aeronave e respectiva tripulação tinha as missões determinadas em função das suas vocações e especificidades.

O Nordatlas e o Dakota prioritariamente tranportava tropas e carga em volume elevado,também evacuações em que se justificava o seu uso e sempre só em meia dúzia de pistas no TO.

Os Fiat’s faziam apoios de fogo, a aquartelamentos que fossem abonados, bombardeamentos em zonas pré-determinadas, reconhecimentos visuais complementados por fotografia e só a presença no ar era dissuadora.

Os helicópteros eram fundamentais na guerrilha, principalmente em operações no terreno, com colocação de tropas, a sua recolha, evacuação de feridos, etc. e então o heli-canhão era terrivelmente eficaz no apoio às tropas no terreno, sendo temidos pelo IN e benvindos pela NT.

Também partilhavam os tranportes de pessoas, carga geral e evacuados, com os DO’s, principalmente em aquartelamentos sem pista.

Os mesmos DO’s, tinham algumas dezenas de pistas onde aterravam, todas diferentes e com as suas limitações operacionais, quase todas em terra batida, com inclinações, com curvas, árvores na entrada ou saída, animais, a terminar na fronteira (caso de Buruntuma onde aterrávamos e descolávamos sempre para o mesmo lado não interessando a força e direcção do vento) etc. e onde levávamos cargas diversas, tropas correio (sempre muito apreciado) etc. e as evacuações sempre que solicitado, tanto de tropas como civis.

Também fazíamos reconhecimentos visuais e de Posto de Comando Aéreo em apoio de operações em curso no terreno com chefia de graduados do Exercito, armados por vezes com dois ninhos de foguetes de 37mm para apoio imediato às mesmas.

Um T6 em Cufar

Os T6, armados com vários tipos de bombas, de fragmentação, demolição e outras, executavam missões de Bombardeamento em pré preparação de operações, demantelamento de estruturas controladas pelo IN ou em zonas previamente declaradas, por um período de tempo, como de intervenção.

Armados com foguetes (72 divididos em dois ninhos de 36, um em cada asa)dávamos apoio a colunas em permanência no ar ou aterrados numa pista próxima e em alerta máximo. Também acompanhávamos navios da Marinha permanecendo no ar até terminar o trajeto. Lembro-me do percurso entre o Geba largo até Xime.

É difícil descrever todas as missões que se executavam no TO, a memória também não está fresca.


2-Depois de Abril de 73 alteraram-se algumas coisas.

A História dos Strellas já foi descrita e dissecada suficientemente.

Quando foi abatido o Ten. Pessoa, sendo o primeiro, não tínhamos noção alguma de que arma seria e muito menos das suas características, o que nos ajudaria nas contramedidas. Nesse mesmo dia, fui um dos primeiros a fazer buscas pois estava em Aldeia Formosa noutra missão, a acompanhar a coluna de Buba para Aldeia.

Tendo sido alvejado com um primeiro míssel, e tendo escapado (ainda não tenho explicação) e o asa da parelha Fur. Carvalho alvejado com mais 2 a 4 mísseis em tiro directo, nunca seria atingido pois os rastos dos mísseis eram bastante visíveis, e isso é que foi importante pois pela primeira vez já se adivinhava que não era uma mera arma convencional, apesar de já ter havido um ou dois episódios anteriores sem consequências e até se atribuíram a outra armas.

A esta distância no tempo, penso, que nesse dia, por precipitação, inesperiência ou azelhice, esgotaram o stock de mísseis existente para os tempos que se seguiram, pois no mesmo dia os ares de Guileje e arredores foram sobrevoados por variadas aeronaves nas buscas do Pessoa, a altitudes de morte certa, e mais nenhuma foi alvejada.

O que foi observado nesse dia foi descrito no respectivo relatório de voo, obrigatório em todas as missões.

Até ao abate do Ten. Cor. Brito, nosso Chefe Operacional, não houve alterações significativas dos procedimentos de voo, não tínhamos informações seguras de que arma e as suas características, para proceder conforme.

Houve a hecatombe do dia 6 de Abril, na zona de Guidaje, onde foram abatidas três aeronaves, tendo morrido as tripulações e passageiros, Maj. Mantovani, Fur’s. Baltazar e Ferreira como pilotos.

Nos dias imediatos (2 dias?), com a morte de uma grande percentagem, num pequeno universo de pilotos na Guiné e aeronaves abatidas, sem sabermos com rigor qual a arma, as suas características, que contramedidas adoptar, em choque, e porque não éramos “Kamikase”, paramos para análise da situação e para definição das estratégias a executar. Estavam em questão a nossa segurança, eventuais passageiros e das aeronaves.

A partir destas datas, houve alterações significativas nos procedimentos e parâmetros de voo.

Parelha de T6

Os bombardeamentos de Fiat e T6 passaram a ser feitos a altitudes superiores às habituais o que lhe retirou alguma precisão.

Houve a recomendação para evitar a altitude de voo entre os ~50 pés (~15 a 20m) e os ~7500 pés (~2500m), pois eram os parâmetros de eficácia dos Strellas. Os hélis continuaram em altitudes baixas (a rapar) pois não precisavam de alguma altitude para aterrar. Nos DO’s, inicialmente subíamos em espiral à vertical das pistas, até atingir a altitude de segurança, e descíamos à vertical dos destinos. Rapidamente abandonamos esse procedimento, pois com cargas máximas, temperaturas elevada do ar e dos motores e com uma demora de 30 minutos a atingir a altitude, já apareciam alguns problemas técnicos, e começamos a rapar as bolanhas e os rios.

Aqui quando a experiência e conhecimentos do terreno eram verdes poderia haver problemas de navegação e na época seca a visibilidade também era escassa.

Nesta modalidade, as comunicações com a Sala de Operações da BA12 (Marte era o indicativo) tornaram-se difíceis e resolveu-se o problema pondo T6 no ar a altitudes elevadas que faziam ponte às comunicações com as aeronaves que andavam a rapar.

Do início de Abril de 1973 ao início de Julho não voei, entre 2 meses inoperacional, às custas de um acidente em 2 rodas e 1 mês de férias. Contudo prestei serviço de terra na sala de operações com o control das aeronaves no ar.

De Julho ao fim do ano, quando terminei a comissão, ainda fiz 161 vôos operacionais em T6 e DO’s o que perfez cerca de 215 horas de voo.

Daqui se conclui que o ritmo operacional se manteve, mesmo com a presença das novas armas no TO, com alterações dos parâmetros de voo e condicionalismos de alguns locais.

De realçar o desempenho de toda a equipa de Especialistas, das diversas áreas, que nos colocavam os aviões operacionais com todo o profissionalismo e competência.

Também as Enfermeiras Pára-quedistas que nos acompanhavam, com abnegação e profissionalismo, em inúmeras evacuações merecem o nosso reconhecimento e carinho.

Resumindo, a Força Aérea continuou a voar.

Tentei resumir, muito fica por dizer, outros podem dar a sua achega e corrigir-me, posso falhar nos pormenores e a memória não é eterna.

Gil Moutinho
Fur Pil Mil. T6’s e DO’s
1972/73
Guiné
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 30 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7060: Tabanca Grande (246): Gil Moutinho, ex-Fur Mil Pil Av, BA12 (Guiné, 1972/73)

Vd. último poste da série de 5 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 – P7082: FAP (53): Estatística das minhas missões em DO-27 e FIAT G-91 (Miguel Pessoa)

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6276: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (21): Fotografias de pilotos em Cufar, Dezembro 73/Janeiro 1974 (António Graça de Abreu)

1. Mensagem de António Graça de Abreu* (ex-Alf Mil, no CAOP 1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), com data de 16 de Janeiro de 2010:

O furriel miliciano piloto Luís Inácio dos Santos enviou-me há tempos estas raras fotografias de pilotos de hélis e DOs em Cufar, em Dezembro 73/ Janeiro de 1974.
O Luís Santos continua hoje a voar e é piloto de um Falcon 7X privado.
Pedi-lhe autorização para publicar as fotos no blogue e entretanto reencaminhei-as para o nosso Miguel Pessoa.
O Luís autorizou e o Miguel, que não sabia da existência destas fotografias mas conhecia os pilotos, apontadores de héli-canhão e mecânicos, legendou-as, colocando em cima o nome dos camaradas da Força Aérea.
Deixo-as agora ao cuidado do Carlos Vinhal para publicação no blogue.
São importantes porque dão uma ideia da acção da Força Aérea em Dezembro/ Janeiro de 74, em operações e apoio aéreo a partir de Cufar.
É que subsiste a ideia entre muito boa gente e até menos boa gente de que, depois dos Strela em Abril de 1973 a Força Aérea deixou de voar, a guerra acabou, não saíamos dos aquartelamentos e fomos praticamente derrotados militarmente pelo PAIGC.
Nada mais falso.
Eu tenho um respeito imenso por esses pilotos com quem convivi de perto em Cufar, até Abril de 1974.

Abraço,
António Graça de Abreu


Clicar nas fotos para as ampliar
Fotos © Luís Inácio dos Santos (2010). Direitos reservados
Legendas de Miguel Pessoa


2. No meu Diário, escrevi a 26 de Dezembro de 1973

"Os Fiats a bombardear e os helicanhões a metralhar não têm tido descanso.
Na pista de Cufar regista-se um movimento de causar calafrios. Hoje temos cá dez helicópteros, dois pequenos bombardeiros T-6, três DOs, dois Nordatlas e o Dakota. A aviação está a voar quase como nos velhos tempos. Os helis saem daqui numa formação de oito aparelhos, cada um com um grupo constituído por cinco ou seis homens, largam a tropa especial directamente no mato, se necessário os helicanhões dão a protecção necessária disparando sobre as florestas onde se escondem os guerrilheiros, depois regressam a Cufar e ficam aqui à espera que a operação se desenrole. Se há contacto com o IN e se existem feridos, os helicópteros voltam para as evacuações e ao entardecer vão buscar os grupos de combate novamente ao mato. Ontem, alguns guerrilheiros tentaram alvejar um heli com morteiros, à distância, o que nunca costuma dar resultado.

Sem a aviação, este tipo de operações era impossível. Durante estes dias os pilotos dormem em Cufar e andam relativamente confiantes, há muito tempo que não têm amargos de boca. Os mísseis terra-ar do IN devem estar gripados porque senão, apesar dos cuidados com que se continua a voar, seria muito fácil acertar numa aeronave, com tanto movimento de aviões e hélis pelos céus do sul da Guiné.

Cufar fica a uns quinze, vinte quilómetros da zona onde as operações se desenrolam. Todos os dias, às vezes durante horas seguidas, ouvimos os rebentamentos e os tiros dos “embrulhanços”, das flagelações. É impressionante o potencial de fogo, de parte a parte. Os guerrilheiros montam também emboscadas nos trilhos à entrada das matas onde se situam as suas aldeias. Aí as NT começam a levar e a dar porrada, e não têm conseguido entrar nas povoações controladas pelo IN.

Natal, sul da Guiné, ano de 1973, operação “Estrela Telúrica.”
Tudo menos paz na terra aos homens de boa vontade".


Abraço,
António Graça de Abreu
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 19 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6190: Os nossos seres, saberes e lazeres (19): Nas Caraíbas, em Castries, capital da ilha de Santa Lúcia, encontrei um amigo negro da Guiné e depois fui almoçar com uns americanos ricos (António Graça de Abreu)

Vd. último poste da série de 4 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5935: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (20): O Honório e o 2º Sarg que dizia que se aguentava (Vítor Oliveira)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2330: A Marinha e a Força Aérea nas terras do Cantanhês (Mário Fitas, CCAÇ 763)

1. Mensagem do Camarada Mário Fitas, de 2 de Dezembro

Assunto - Os Marinheiros e os seus Navios

Caro Luís,

Corpo di bó, tá bom?

É verdade, há já alguns dias que tenho andado desenfiado. Mas só em termos de escrita, pois o trabalho de pesquisa e contactos continuam.

Como ainda sou "blufo" no Blogue, tenho andado a ver coisas para trasmente e tem sido de grande utilidade.

Vou ver se consigo falar com o Benito, para se fazer o levantamento das operações em conjunto das CCAÇ 763 e 1484.

Ao ler o Post Guiné 63/74 – DCCXC: Os marinheiros e os seus navios (1), vi a correspondência trocada entre o Moura Ferreira da CCAÇ 1621 – substitutos da CCAÇ 763 em Cufar - e o Lema Santos sobre um ataque ao Orion ao largo de Cadique, em 8 de Maio de 1966.

Orion com as marcas da Guerra assinaladas. Foto de M. Lema Santos.

Fui aos meus canhenhos, e lá está: “O 2º. Grupo de combate (o meu) montou segurança a um comboio naval no Cais de Impungueda e o Pel Art a pedido das F.N. flagelou Cafal”.


O 2º Gr Comb da CCAÇ 763 em Impungueda no dia em que o Lema Santos descreve o ataque ao Orion. O chefe dos Vagabundos (Mário Fitas, o 1º da esquerda) com o Manuel Ferreira (o homem que fazia tiro instintivo com a MG42, e que foi evacuado com hepatite, nunca mais soube deste meu maravilhoso companheiro). Do lado direito, o meu Cabo Piçarra, cacimbado de Beja, grande amigo. Foto de Mário Fitas.

A narração da verdadeira Guerra vai-se completando. Não há hipóteses de engano, o cruzamento está feito.

Assim sendo, aqui vai mais uma aventura dos Lassas de Cufar, na esperança, que o Lema Santos saiba alguma coisa sobre quais foram as LDM e a LFG que safaram o enrascanço. Porque da parte da F. Aérea, o Victor Barata já me deu uma boa pista, sobre os pilotos respectivamente do T6 que aterrou de emergência em Cufar, Alf. Pilav. Ribeiro e o parelha Ten. Cor. Pilav. Lopes Pereira.

Narra assim, a História da CCAÇ 763:

17 de Setembro de 1965 – A Companhia a 3 Gr Comb colaborou na operação Retorno, planeada para aniquilar o IN referenciado no novo acampamento localizado em Flaque Injã, tendo embarcado pelas 24h00 no cais de Impungueda em 2 LDM.

Pelas 1h25 a Companhia desembarcou na bolanha imediatamente a oeste de Caboxanque, rapidamente progredindo e ultrapassando esta tabanca e a de Flaque Injã internando-se na mata a leste desta. Era intuito da Companhia dirigir-se ao antigo acampamento, destruído no decorrer da operação Satã, que constituiria o 1º objectivo a alcançar.

Durante a progressão dentro da mata foram emboscados 5 elementos IN, dos quais 2 foram aprisionados, indicando a existência do novo acampamento. Este foi imediatamente detectado e quando a Companhia montava o dispositivo para atacar, o IN rompeu fogo com armas ligeiras fazendo uso de cartuchos com bala tracejante. Apesar da forte resistência oposta, as NT conquistaram o acampamento repelindo o IN que atacou imediatamente e a quem causaram 6 baixas e apreenderam diverso material.

Depois de batido o local a Companhia dirigiu-se em direcção a Caboxanque surpreendendo um numeroso grupo IN que atacou imediatamente causando-lhe mais 2 mortos e apreendendo uma ML, uma pistola e munições. Posteriormente, quando junto ao rio e aguardando reembarque, a Companhia foi atacada por um grupo entre 100 a 200 IN que tentaram a aproximação fazendo uso de armas ligeiras MP e LGF. As nossas tropas ripostaram. Considerado, porém, o elevado número de elementos IN foi pedido o apoio da FAP que flagelou duramente as posições do adversário.

Um dos T6 foi atingido com 17 impactos, pelo que teve de aterrar de emergência em Cufar. Após um demorado contacto, e com reforço de 2 LDM e da vedeta que entretanto chegaram ao local, o IN foi reduzido ao silêncio e repelido, permitindo desta forma o reembarque da Companhia.


Nota:

Segundo os nossos informadores, seria uma Companhia do Exército Popular (FARP), comandada pelo Comandante Nino. Seria? Aqui já não pode haver informações. Só do outro lado.

Continuando:

Ontem, dia 1 de Dezembro, estive num almoço tradicional rememorando Vila Fernando, a minha pequenina mas bela aldeia do Alentejo. Não me é possível deixar de escrever aqui um momento que me comoveu, mas que me encheu de orgulho, quando o capitão Rui Baixa, meu companheiro de brincadeiras de criança, me descreveu, como - ainda primeiro sargento - com o seu cabo escriturário, em Guidaje, limparam as campas dos Páras ali sepultados, e de tábuas dos caixotes do bacalhau fizeram cruzes para assinalar que os Portugueses nunca seriam esquecidos. Orgulho-me deste Homem Grande da Planície.

Como na Pami, o formigueiro vai abrindo novos caminhos.

Quem quiser que saiba beber desta inesgotável fonte que é a Tabanca Grande.
Do tamanho do Cumbijã, o abraço de sempre.

Mário Fitas

2. Nova mensagem do Mário Fitas, em 3 Dezembro:

Olá, Briote,

(...) É verdade, toda a operação por mim transcrita da História da CCAÇ 763, tem a ver com o T6 e o envolvimento do Dakota.

Não há nada escrito na História da Companhia, mas as descrições nos dias seguintes demonstram, de facto, a grande actividade da CCaç 763. Pois, a mata de Cufar Nalu, as tabancas a Sul e estrada e cruzamento para Catió eram patrulhadas, pelo que está escrito com dois grupos de combate sempre fora, e o Pelotão de Artilharia a flagelar Flaque Injã, Caboxanque, Cadique Iála e Cadique Nalu.

Mas eu vou tentar descrever o que a memória vai buscar. Recordo perfeitamente que o Dakota ia levar um motor para o T6 e o equipamento necessário para a sua colocação. Só que em Setembro ainda é época de chuvas na Guiné. A pista de Cufar era na altura a melhor pista de todo o Sul, mandada fazer pelo Sr. Camacho, dono da quinta de Cufar e terá sido inaugurada pelo Gen Craveiro Lopes em 1955. Em terra batida, tinha uma certa consistência.

O Dakota fez-se à pista de poente para nascente, ou seja sobre o ilhéu de Cantone para Cufar, mais propriamente do fim da pista para a porta do aquartelamento rolando naturalmente. A determinada altura a roda esquerda do trem de aterragem foi deixando um rasto e enterrando-se na pista, até que a aeronave adornou um pouco e afocinhando, enterrou as hélices no chão.

O Dakota enterrado na pista de Cufar (o Mário Fitas é o 1º da direita). Foto do Mário Fitas.

Isto tudo poderá ser confirmado com mais pormenores por algum camarada ou, inclusive, pessoal da FAP que, pertencente à BA12, se deslocou para Cufar, para reparar tudo.

Pelo exposto, as fotos do T6 e do Dakota estão de facto relacionadas com a operação Retorno, de 17 de Setembro de 1965. E acho que têm cabimento na descrição.

Estou à espera que o Carlos Filipe me forneça mais alguns dados sobre os cães, pois ele é que chefiava a secção de cães. Assim que tiver o material envio.

Um abraço do tamanho do Cumbijã,
Mário Fitas

PS - O assunto também inclui agora a malta da FAP. Era tudo boa gente, e para nós extraordinário sabermos que havia sempre alguém que dava uma ajuda quando havia enrascanço.
__________

Notas de vb:

(1) Vd.posts do Manuel Lema Santos:

25 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXC: Os marinheiros e os seus navios (Lema Santos)

13 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1842: 10 de Junho: Nós também estivemos lá (A. Marques Lopes / Lema Santos)

21 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXIII: Apresenta-se o Imediato da NRP Orion (1966/68) e 1º tenente da reserva naval Lema Santos

16 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1665: Operação Larga Agora, Tancroal, Cacheu, local maldito para a Marinha (Parte I) (Lema Santos)

13 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1586: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (2): Lema

7 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1571: A Operação Larga Agora, o Tancroal / Porto Batu e as cartas náuticas do Instituto Hidrográfico (Lema Santos)

11 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1420: O cruzeiro das nossas vidas (5): A viagem do TT Niassa que em Maio de 1969 levou a CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Manuel Lema Santos)

21 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXIII: Apresenta-se o Imediato da NRP Orion (1966/68) e 1º tenente da reserva naval Lema Santos