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sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18930: Toponímia de Lisboa: em dez nomes de "heróis do ultramar", consagrados nas ruas da capital no tempo do Estado Novo, em Olivais Velho, Benfica e Alcântara, 7 são de militares falecidos na Guiné e os restantes em Angola


Ilustração: Toponímia de Lisboa (2017) (com a devida vénia)

1. Toponímia de Lisboa é um blogue do Departamento de Património Cultural da Câmara Municipal de Lisboa – Núcleo de Toponímia, que se publica desde novembro de 2012. Nele fomos encontrar um artigo interessante sobre ruas, em Lisboa, com os nomes de "dez heróis do Ultramar", 3 falecidos em Angola e 7 na Guiné. [Contacto: toponimia@cm-lisboa.pt].

Com a devida vénia reproduzimos um extenso excerto desse poste:

Toponímia de Lisboa > 23 de Fevereiro de 2017 > Dez Heróis do Ultramar em Olivais Velho, Benfica e Alcântara

 Dez anos após o início da Guerra Colonial, a edilidade lisboeta colocou através de um único Edital (22 de junho de 1971), de acordo com a legenda, dez «Heróis do Ultramar» em Olivais Velho, Benfica e Alcântara, «falecidos no Ultramar, em combate ao terrorismo», conforme se lê no despacho do Presidente da Câmara de então, Engº Santos e Castro.

Este procedimento está justificado na Ata da reunião da Comissão Consultiva Municipal de Toponímia de 16 de junho de 1971 da seguinte forma:

 «Despacho de Sua Excelência o Presidente, solicitando parecer sobre a consagração na toponímia de Lisboa, dos nomes dos seguintes militares falecidos no Ultramar, em combate ao terrorismo : major aviador Figueiredo Rodrigues, alferes Mota da Costa, Carvalho Pereira e Santos Sasso, furriel Galrão Nogueira, soldados Rosa Guimarães, Santos Pereira e Purificação Chaves e marinheiros Correia Gomes e Manuel Viana. Considerando justificar-se plenamente uma homenagem à memória de tão heróicos militares e, tendo em vista a circunstância de os soldados e marinheiros não terem patente, a Comissão emite parecer favorável à consagração dos seus nomes».

[Olivais Velho:]

Os seis topónimos fixados em Olivais Velho foram:
  •  a Rua Alferes Mota da Costa/Herói de Ultramar/1937 – 1961,
  •  o Largo Américo Rosa Guimarães/Herói de Ultramar/1945 – 1967, 
  •  a Rua Furriel Galrão Nogueira/Herói de Ultramar/ 1941 – 1965, 
  • a Rua Alferes Carvalho Pereira/Herói de Ultramar/1941 – 1966, 
  • a Rua Alferes Santos Sasso/Herói do Ultramar/1941 – 1965 
  • e a Rua Major Figueiredo Rodrigues/Herói de Ultramar/ 1939 – 1969.

Manuel Jorge Mota da Costa (Porto – freg. Cedofeita/14.05.1937 – 14.05.1961/Angola), alferes paraquedista da 1.ª Companhia de Caçadores Paraquedistas do Batalhão de Caçadores 21 em Angola onde chegou a 17 de abril de 1961 e onde faleceu menos de um mês depois no Bungo, aos 24 anos, condecorado a título póstumo com a Medalha de Prata de Valor Militar com palma, ficou no Impasse 1 do Plano de Urbanização de Olivais Velho. 

O soldado Américo Rosa Guimarães (Oeiras/21.09.1945 -05.10.1967/Angola), condecorado postumamente com a Medalha de Cobre de Valor Militar com palma, também faleceu em Angola, aos 22 anos, e foi fixado no Impasse 2 do Plano de Urbanização de Olivais Velho.

Os outros quatro militares fixados em Olivais Velho faleceram na Guiné. 

O Furriel [Silvério] Galrão Nogueira (1941 – 1965/Guiné), falecido aos 24 anos, foi perpetuado no Impasse B do Plano de Urbanização de Olivais Velho. 

Ao alferes miliciano de Infantaria José Alberto de Carvalho Pereira (Lisboa/13.02.1941 – 12.03.1966/Guiné), falecido aos 25 anos e condecorado a título póstumo com a Medalha de Cruz de Guerra de 3ª classe, coube-lhe o Impasse 3 do Plano de Urbanização de Olivais Velho. 

 O também alferes miliciano de Infantaria Mário Henrique dos Santos Sasso (Lisboa – freg. de Stª Engrácia/14.12.1941 – 05.12.1965/Guiné), da Companhia de Caçadores n.º 728, condecorado com a medalha de Cruz de Guerra de 3ª classe a 2 de julho de 1965 e falecido aos 23 anos, ficou no Impasse 3′ do Plano de Urbanização de Olivais Velho. 

E por último, o major piloto aviador António de Figueiredo Rodrigues (Penalva do Castelo/01.01.1939 – 12.07.1969/Guiné) , falecido aos 30 anos, foi colocado na Rua A do Plano de Urbanização de Olivais Velho.

[Benfica:]

Em Benfica, homenagearam-se 3 militares falecidos na Guiné nos anos de 1964 e 1965, com a Rua José dos Santos Pereira/Herói do Ultramar/ 1943 – 1964, a Rua José da Purificação Chaves/Herói do Ultramar/1942 – 1964 e a Rua Manuel Correia Gomes/ Herói do Ultramar/1936 – 1965.

O soldado José dos Santos Pereira (Torres Vedras – A-dos-Cunhados/19.09.1943 – 15.12.1964/Guiné) faleceu aos 21 anos e foi condecorado, a título póstumo, com a Medalha da Cruz de Guerra de 2ª classe, tendo sido perpetuado na Rua C, à Estrada do Calhariz de Benfica (Quinta de Santa Teresinha). 

O soldado condutor Francisco José da Purificação Chaves (Loures/08.08.1942 – 24.01.1964/Guiné), falecido aos 21 anos na Ilha do Como e condecorado a título póstumo com a Medalha de Cruz de Guerra de 1ª Classe, ficou no Impasse I à Estrada do Calhariz de Benfica. 

O marinheiro fuzileiro especial Manuel Correia Gomes (Vila Verde-Turiz/15.02.1936 – 14.03.1965/Guiné), falecido aos 29 anos e condecorado a título póstumo com a Medalha de Cruz de Guerra de 2ª classe, foi fixado no arruamento de acesso entre a Estrada do Calhariz de Benfica e o arruamento paralelo ao caminho de ferro (Quinta de Santa Teresinha).

Também encontramos a Rua José dos Santos Pereira, em Maceira, no Concelho de Torres Vedras, de onde este soldado era natural, bem como a Rua Francisco José Purificação Chaves em Loures, concelho de nascimento do soldado.

[Alcântara:]

Finalmente, em Alcântara ficou a Rua Manuel Maria Viana/Herói de Ultramar/1944 – 1968, na Rua A à Travessa da Galé, também conhecida por Rua A à Avenida da Índia. 

O marinheiro fuzileiro especial Manuel Maria Viana (Odemira – S. Teotónio/07.08.1944 – 16.08.1968/Angola), integrado no Destacamento n.º 2 de Fuzileiros Especiais faleceu aos 24 anos e foi condecorado a título póstumo com a Medalha de Cobre de Valor Militar, com palma. Em 1971 a Escola de Fuzileiros criou também o Prémio Manuel Viana, em sua honra, a ser atribuído anualmente ao aluno com melhor classificação nos cursos de aplicação do 1.º grau.

A maioria destes topónimos – oito – são exclusivos de Lisboa e não se encontram na toponímia de mais nenhum local do país, excepto nos 2 casos mencionados de homenagem prestada na terra natal. 

Ver também outros artigos relacionados:

1 de Fevereiro de 2017 > A Guerra Colonial nascida há 56 anos, também no tabuleiro da Toponímia de Lisboa

14 de Fevereiro de 2017 > Quinze cidades e vilas de Moçambique na toponímia de Olivais Sul desde 4 de julho de 1967

16 de Fevereiro de 2017 > Doze cidades de Angola na toponímia de Olivais Sul desde 1969

[Revisão e fixação de texto: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Nota do editor:

Último poste da série > 12 de agosto de  2018 > Guiné 61/74 - P18917: Blogues da nossa blogosfera (99): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (18): Palavras e poesia

Vd. também poste de  16 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18927: Furriéis que tombaram no CTIG (1963-1974), por acidente, combate e doença - Parte II: Em combate (n=139) (Jorge Araújo)

quarta-feira, 9 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18619: Documentos (30): Directiva n.º 5/71 do General Spínola para disciplinar a atribuição de Condecorações no TO da Guiné, perante a discrepância entre os 3 Ramos das Forças Armadas (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando)

1. Mensagem do nosso camarada Virgínio Briote, ex-Alf Mil da CCAV 489 (Cuntima e Alf Mil Comando, CMDT do Grupo Diabólicos, Brá; 1965/67), com data de 19 de Abril de 2018, trazendo em anexo a Directiva n.º 5/71 do General António de Spínola onde chama a atenção para a discrepância entre os três Ramos das Forças Armadas na atribuição de Medalhas Militares.

Boa tarde, Carlos!
Em arrumações, dei com uma pasta com documentos sobre a guerra na Guiné que tem alguns elementos que podem ter interesse, não só para os nossos Camaradas como para os curiosos da Guerra na Guiné.
Por hoje envio-te um documento, sem comentários porque o acho esclarecedor, sobre a premente Questão das Medalhas.
Espero que o apreciem.
Tenho, pelos vistos, mais alguns com interesse, especialmente dos tempos do Gen. Spínola.

Um abraço até Monte Real.
V Briote


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terça-feira, 10 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17843: Convite (14): Palestra subordinada ao tema "Terrorismo", a ter lugar no Salão Nobre do Comando do Pessoal do Exército, antigo Quartel General do Porto, Praça da República, no próximo dia 13 de Outubro de 2017, pelas 15 horas

Comando do Pessoal do Exército

C O N V I T E

Palestra sobre o tema que preocupa a sociedade actual em todo o mundo, o terrorismo, a ter lugar no Salão Nobre do Comando do Pessoal do Exército, antigo Quartel General do Porto, sito na Praça da República, no próximo dia 13 de Outubro de 2017, pelas 15 horas.
A Conferência será proferida pelo Major-General Rodolfo António Cabrita Bacelar Begonha.


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Nota do editor CV

Último poste da série de 8 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15724: Convite (13): I Peregrinação Nacional dos Combatentes a Fátima, dia 1 de Maio de 2016

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16636: Os nossos capelães (5): Relação, até à sua independência, dos Capelães Militares que prestaram serviço no Comando Territorial Independente da Guiné desde 1961 até 1974 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Outubro de 2016:

Queridos amigos,
Foi no decurso da leitura da incontornável obra "História das Missões Católicas da Guiné", por Henrique Pinto Rema, Editorial Franciscana, 1982 que encontrei entre as páginas 709 e 712 esta relação que convirá fazer parte da documentação do blogue.
Aparecem nomes de padres que escreveram as suas memórias, caso de Abel Gonçalves e Mário de Oliveira, felizmente vivos, e mencionados no nosso blogue. e Arsénio Puim, que conheci em Bambadinca.
Bom seria que todos eles deixassem memórias sobre o que viram e experimentaram. O padre Pinto Rema observa que muitas vezes estes capelães substituíram os missionários e a inversa também foi verdadeira, refere concretamente Bolama, Bambadinca, Catió, Cacheu, Bissorã, Teixeira Pinto, Mansoa e Bigene. Também na falta ou ausência de capelães militares os missionários desempenhavam as funções religiosas essenciais de capelães nas unidades.
Uma história por fazer.

Um abraço do
Mário



Com a devida vénia a "História das Missões Católicas da Guiné", por Henrique Pinto Rema, Editorial Franciscana, 1982
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13616: Os nossos capelães (4): O bispo de Madarsuma, capelão-mor das Forças Armadas, em Gandembel, no natal de 1968 (Idálio Reis, ex-alf mil, CCAÇ 2317, Gandembel / Balana, 1968/69)

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15926: Notas de leitura (823): “Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África”, publicação do Estado-Maior do Exército, 1989 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Maio de 2015:

Queridos amigos,
Sob a coordenação do General Themudo Barata, o Estado-Maior do Exército deu à estampa no final da década de 1980 um conjunto de volumes alusivos ao estudo das campanhas de África.
Este volume diz inteiramente respeito à evolução do dispositivo da Guiné, não se tecem comentários sobre a diferentes estratégias, mas dá para perceber que o que aconteceu entre 1963 e 1968 foi uma tentativa de espalhar efetivos por todo o território, a partir do momento em que se percebeu que o inimigo instalara bases e dispunha do apoio de populações. E dá igualmente a perceber a escalada dos efetivos e a gradual africanização da guerra.
Refira-se que este estudo abarca exclusivamente o Exército.

Um abraço do
Mário


O Exército na Guiné: os números entre 1961 e 1974

Beja Santos

Temos passado ao lado da “Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África”, publicação do Estado-Maior do Exército, 1989. O terceiro volume desta série de obras é dedicado à Guiné e ao dispositivo das nossas forças.

Precede uma monografia breve que inclui resumo histórico. A Resenha inclui um bom número de cartas de situação que ajudam a compreender a evolução do dispositivo das nossas tropas na Guiné. Explica-se o adensamento da ocupação militar pela reduzida dimensão do território. O que me parece que me devia ter sido acompanhado de um comentário para se entender tal malha em localidades onde praticamente não havia população, caso do Sul e do Leste, mas que, na interpretação militar, devia ter destacamentos em pontos nevrálgicos da fronteira. Na primeira fase seguiu-se a hierarquia habitual: Comando-Chefe; Comando Militar; Zonas Militares à responsabilidade de Comandos de Agrupamentos; Setores entregues a Comandos de Batalhão; Subsetores a Comandos de Companhia; e Destacamentos de Pelotão e por vezes até de Secção.

Antes de eclodir a luta armada, eram numerosos os Destacamentos de Pelotão, depois foram substituídos por Companhias e mais tarde irradiou-se para Destacamentos com efetivos menos numerosos. Com Spínola, deram-se modificações importantes: criaram-se áreas de intervenção em territórios desocupados e ali só podiam ser conduzidas operações às ordens do Comando-Chefe.

Na primeira carta de situação, referida a Agosto de 1962, as unidades operacionais comportavam duas Companhias de Caçadores (de recrutamento local), uma Bateria de Artilharia, também de recrutamento local, uma Companhia de Caçadores, um Esquadrão de Reconhecimento e um Pelotão de Polícia Militar. Estes efetivos estavam em Bissau, Tite, Bafatá e Bula, sobretudo.

A segunda carta de situação refere-se a Novembro de 1963. Temos um dispositivo militar ainda bastante rarefeito, ao longo do ano houve tentativas de sabotagem em Paunca e Pirada, houve o ataque ao aquartelamento de Tite, emboscadas na região de Bedanda e ações violentas no Oio. Nesse mesmo Novembro, o dispositivo passou a ter três batalhões, um com sede em Mansoa, de colaboração com o batalhão de Bula, outro com sede em Buba e outro em Catió. O CTIG passou a ser reforçado com uma Companhia de Engenharia. Comparativamente a 1961, o dispositivo ganhou uma dimensão enorme: 7 Comandos de Batalhão de Caçadores; 1 Batalhão de Cavalaria; 15 Companhias de Caçadores; 7 Pelotões de Caçadores Independentes; 7 Companhias de Artilharia; 2 Companhias de Cavalaria; 1 Esquadrão de Reconhecimento; etc.

Tendo presente a terceira carta de situação, referente ao final do ano de 1964, verificam-se nítidas alterações ao dispositivo. O PAIGC já dispõe de corredores preferenciais para a infiltração, caso de Sitató, Jumbembem e Sambuiá no Norte, e Guileje no Sul. Surgem forças paramilitares, as Milícias. Há um Comando de Agrupamento em Mansoa, outro em Bolama e no Leste o Setor de Fá-Mandinga, grosso modo. No final do ano, há 12 Comandos de Batalhão, 47 Companhias tipo Caçadores, e em Bissau estão instalados os Comandos de Engenharia e das Transmissões, mais 4 chefias de Serviços (Religioso, Contabilidade e Administração, Justiça e Postal Militar).

Temos agora presente a carta de situação referente ao final de Dezembro de 1966. O dispositivo está mais ou menos estacionário, mas há algumas remodelações com aumentos efetivos de reforço, caso de 1 Comando de Agrupamento, 2 Comandos de Batalhão, 1 Companhia de Comandos, 19 Companhias tipo Caçadores. A Guiné dispõe neste momento de 15 Companhias de Milícias.

A carta de situação referente a Setembro de 1968 ainda não revela alterações no dispositivo geral. Mas cresceu o número de Pelotões de Artilharia. O Comando-Chefe dispõe de reservas: 1 Batalhão de Caçadores, 2 Companhias de Comandos e 1 Companhia de Artilharia, em Bissau; uma Companhia de Comandos em Cuntima, 1 Companhia de Caçadores em Contuboel, etc.

A sexta carta de situação é referente a Dezembro de 1968, o novo Comandante-Chefe já tomou alterações no dispositivo, adota um conceito de centralização, e cria os Comandos Operacionais (COP), em Aldeia Formosa, em Guileje e Gandembel e Binta, Bigene e Barro. O teatro de operações da Guiné está dividido em 4 grandes áreas (Bissau, Oeste, Leste e Sul). Assiste-se a uma maior concentração de meios ao longo da fronteira no Oeste e no Centro, criou-se no Leste junto à fronteira o Setor L4, e no Sul criaram-se os COP1 e COP2. O recrutamento local tende a expandir-se: 3 Companhias de Caçadores, 1 Bateria de Artilharia de Campanha, 19 Pelotões de Caçadores Independentes e 25 Companhias de Milícias.

A sétima carta de situação é referente a Agosto de 1969, verificamos novas alterações na organização dos meios operacionais: o Setor L4 fica na dependência direta do Comando-Chefe; os 2 COP do Sul foram extintos e transferidos para a Aldeia Formosa, etc. Criou-se um Agrupamento Operacional (CAOP), em Teixeira Pinto (é um órgão de comando apenas operacional). Em jeito de resumo, temos dois Comandos de Agrupamento (em Bissau e Bafatá), 1 CAOP (Teixeira Pinto), 18 Comandos de Batalhão (mais 5 do que do antecedente), 4 Comandos Operacionais (mais 1 do que do antecedente). O recrutamento local mostra-se estacionário.

A oitava carta de situação reporta-se a Agosto de 1970, verifica-se um acréscimo de meios operacionais, sobretudo com recurso ao recrutamento local (Comandos, Caçadores e Artilharia, bem como Milícias). O dispositivo de recrutamento local cresceu substancialmente: 1 Companhia de Comandos Africana, 8 Companhias de Caçadores, 18 Pelotões de Caçadores Independentes, 30 Companhias de Milícias.

A nona carta de situação é referente a Janeiro de 1973, o ritmo do recurso ao recrutamento local é uma constante. Apareceram Grupos Especiais de Milícias; a defesa antiaérea tornou-se uma realidade. Não se verifica, neste período, grande alteração nos limites das zonas de ação dos principais escalões; a intervenção do Comando-Chefe continuava a ser muito direta.

E assim chegamos à décima e última carta de situação, referente a Abril de 1974. Houve alterações decorrentes da atividade de reocupação no Cantanhez, da asfaltagem de estradas, aumentou o material antiaéreo. Procurando resumir as Unidades e Órgãos Operacionais nesta data, temos: 1 Comando de Agrupamento (COMBIS), 2 CAOP, 1 COT, 18 Comandos de Batalhão, 1 Batalhão de Comandos da Guiné, 3 Comandos Operacionais, 1 Batalhão de Engenharia, 4 Companhias de Comandos, 14 Companhias de Comandos da Guiné, 83 Companhias tipo Caçadores, 19 Pelotões de Caçadores Independentes, 34 Pelotões de Artilharia de Campanha (de recrutamento local).
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de março de 2016 Guiné 63/74 - P15916: Notas de leitura (822): “A tropa vai fazer de ti um homem! Guiné 1971-1974”, por Juvenal Sacadura Amado, Chiado Editora, 2016 (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15739: Consultório militar do José Martins (17): Arquivos, Bibliotecas e Centros de Documentação - Arquivo Histórico Militar

1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 2 de Fevereiro de 2016:

Caros editores
Aqui envio mais um texto sobre Arquivos.
Vou ver o que existe sobre os outras ramos.

Abraço
José Martins

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Nota de editor

Último poste da série de 6 de fevereiro de 2016 28 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15680: Consultório militar do José Martins (16): Arquivos, Bibliotecas e Centros de Documentação - Arquivo Geral do Exército

sexta-feira, 14 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12835: Brochura, "Soldado!, Coisas importantes que deves saber", 5ª ed. [Lisboa: SPEME, 1970, 14 pp.] (Parte I) (Fernando Hipólito / César Dias)

















(Continua)

Reprodução das 6 primeiras páginas da brochura de 14 páginas, "Soldado!, Coisas importantes que deves saber. Aos jovens soldados do Exército Português", ª ed.  [Lisboa: SPEME - Serviço de Publicações do Estado Maior do Exército, 1970, 14 pp.]




1. É um documento teórico-ideológico,  igual ao de muitos outros exércitos pelo mundo fora, mas no nosso caso elementar, destinado a uma população de baixa literacia, que só conhecia, no máximo o livro da 4ª classe. Muitos de nós deverão tê-lo lido ou folheado, nomeadamente os que pertenceram ao contingente geral.

É pena que, na 5ª edição, já de 1970 (!), ainda apareça a palavra "privilégio", mal grafada, como  "previlégio" (p. 3)... Por outro lado, o grafismo e as ilustrações são,  em 1970, já muito obsoletos... Mas o exército, e o seu estado-maior, era uma instituição conservadora... Enfim, os demais comentários, nomeadamente sobre o conteúdo da brochura, ficam para os nossos leitores.



O célebre Tio Sam, desenho por J.M. Flagg... Cartaz norte-americano, de 1917, inspirado no original britânico,  de 1914. Foi usado pelo exército norte-americano para recrutar soldados tanto para a Primeira como para a Segunda Guerra Mundial. Imagem do domínio púbklico. Cortesia de Wikipedia.




Outro ícone da propaganda de guerra, inspirador de uma série de  cartazes posteriores; Lord Kitchener Wants You... Cartaz que  representava Lord Kitchener,  o Secretário de Estado da Guerra, incitando os britânicos a alistaram-se no exército, em 1914.  Imagem do domínio público. Cortesia da Wikipedia. [Ver aqui mais posters sobre recrutamento militar: US Navy, 1863-1939].



O exemplar da brochura "Soldado!, Coisas importantes que deves saber", digitalizado, chegou-nos por mão do César Dias. Mas o precioso exemplar original, em papel, estava/está nas mãos do Fernando Hipólito que já aceitou o meu convite para se sentar à sombra da Tabanca Grande...

Mail enviado, na sexta-feira, 28 de Fevereiro de 2014, 10:57

Assunto:  Livro soldado
 ´
Bom dia Luis,

Mais um livro do Soldado, tinhamos um específico para Tavira, este era para a generalidade dos futuros militares. Mais uma relíquia que o [ Fernando] Hipólito sacou do baú.

Um abraço, César.

Na volta do correio, respondi ao César, com conhecimento ao Fernando, nestes termos:
"Cásar: só podemos estar muito profundamente agradecidos ao Fernando por mais esta preciosidade, depois do guia do instruendo... Eu quero apresentá-lo à Tabanca Grande. Só preciso de uma foto atual, e duas linhas, a dizer por onde andou em Angola... (Vou lá desde 2003)...

O Fernando já ganhou o direito de se sentar, contigo, comigo, com o Levezinho e outros camaradas, à sombra do poilão da Tabanca Grande!... Se me quiser mandar uma ou mais fotos dele, em Angola, ótimo" (...)..

Recorde-se que já foi publicado, aqui, o "guia do instruendo", usado no CISMI, Tavira, que nos chegou também por mão do César Dias,  tendo o original sido-lhe dado pelo seu camarada de recruta, o Fernando Hipólito, que será depois mobilizado para Angola.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10479: Os Soldados não morrem, apenas tombam no campo de honra (1) (José Martins)

Todos fomos INFANTES: 

Infantes na Idade; 
Infantes no Esforço; 
Infantes no Combate; 
Infantes na Nobreza, 

Somos soldados mal-amados, não só depois de mortos, mas ainda em vida!

Monumento de homenagem AO VALOR DO INFANTE, em Mafra


Os que caíram pela Pátria!

Os soldados não morrem, apenas tombam no campo da honra!

Por José Martins

Não tendo conhecimentos académicos em história para, com grau de fiabilidade, poder “divagar sobre o tema” não deixo, porém, de ter uma opinião própria, sabendo que o tema é polémico e que, muito provavelmente se irão levantar vozes divergentes.

A morte sempre existiu, até porque qualquer ser vivo não é eterno e, o ser humano, não é excepção à regra.

A cremação, tida nos tempos actuais como uma nova técnica/opção, já não é recente. Os Vikings honravam os seus guerreiros mortos, colocando-os num barco previamente preparado para, posto a navegar, ser atingidos com uma seta incendiária para que ardesse e ficasse, para sempre, no mar.

De forma diferente, tentando manter o corpo incorrupto para a eternidade, procedia-se à embalsamação, facto que nos recorda o antigo Egipto.

Combates, lutas e refregas sempre as houve, daí derivando feridos e mortos. É na Bíblia que nos é relatada aquele que é o primeiro incidente, no caso um fratricídio: “Caim disse a seu irmão Abel: Saiamos fora. E, quando estavam no campo, investiu Caim contra o seu irmão Abel, e matou-o (Génesis 4,8).

Para os portugueses, é a 24 de Junho de 1128 que a história regista a batalha de São Mamede, junto a Guimarães, altura em que o príncipe Afonso Henriques retira o governo do Condado a sua mãe, passando a usar o título de rei. É a primeira guerra civil portuguesa.

Painéis de azulejos. Pátio dos Canhões – Museu Militar - Lisboa 
© Foto José Martins 

Esta atitude não foi pacífica, já que Afonso Henriques queria a independência do território, que viria a ser Portugal, do reino de Leão e Castela do seu primo Afonso VIII, que se intitulava Imperador da península, mas da parte não ocupada pelos mouros. Mouros esses que, como é óbvio, não deixavam de tentar provocar as forças cristãs, não só a obstar o seu avanço, mas obrigá-los a retrair, se possível. Porém, nova data se vai impor na história deste país, o dia 25 de Julho de 1139, quando nos campos do Baixo Alentejo se dá a Batalha de Ourique entre as forças de Afonso Henriques e de Ali ibn Yusuf, Emir Almorávida, em que a sorte das armas pendeu para o lado lusitano. Para mais a coincidência de, nesse dia, ser a festa de São Tiago, não só o Patrono escolhido para Portugal, mas também ser o santo conhecido como o “mata mouros”. Com esta batalha, Afonso I de Portugal firma-se como rei dos portugueses e, com o apoio da nobreza, é aclamado rei soberano.

Painéis de azulejos. Pátio dos Canhões – Museu Militar - Lisboa 
© Foto José Martins 

Porém só a 5 de Outubro de 1143, pelo tratado de Zamora, assinado por Afonso VII, de Leão e Castela e Afonso I, de Portugal, se procede à separação dos reinos, até que pela Bula Manifestis Probatum, assinada em 23 de Maio de 1179, pelo Papa Alexandre III, confirma e reconhece a independência do país.

É neste período, da história do mundo ocidental, que vários reinos cristãos se colocavam à disposição do Papa, para irem libertar a Terra Santa ou combater, pela Fé Cristã, contra os Mouros. Numa dessas passagens por Portugal, acabado de ser reconhecido como reino independente, cruzados Flamengos, Normandos, Ingleses, Escoceses e Germanos, ajudaram o novo reino a expandir-se e a expandir a Fé que professavam e defendiam.

Pelas linhas anteriores, perpassa meio século da história nacional.

Quantas batalhas aconteceram neste período? Quantos soldados caíram no campo da honra? Quantos ficaram feridos e marcados para o resto das suas vidas, caso tenham sobrevivido aos ferimentos? Quantos prisioneiros foram restituídos à liberdade ou ficaram cativos e escravizados? Quantas famílias ficaram destroçadas? Não se sabe, não há registos. Mesmo que os houvesse, hoje, não passariam de estatísticas ou registos!

Hoje são factos. Apenas factos ou acontecimentos que servem, ou para fazer a “introdução” a qualquer artigo, com mais ou menos floreados, ou para exaltação patriótica, tão ao gosto dos governantes dos vários países, que olham para a história como justificação “lógica”, para imporem “as suas próprias lógicas”.

Os mortos foram chorados; os feridos foram curados dentro do possível; os estropiados, ocultados ou afastados; os prisioneiros, tentada a libertação ou, rapidamente, esquecidos; tudo em nome da nação, porque esta não se discute, porque a nação é eterna.

E de escaramuça em escaramuça, de combate em combate, de batalha em batalha, de guerra em guerra, o mundo avançou, os povos invadiram ou foram invadidos, escravizaram ou foram escravizados, as nações nasceram e pereceram, Portugal cresceu em território e em idade e, sempre, todo e qualquer crescimento arrasta atrás de si montes de problemas. Mas este crescimento teve problemas diversos, não só com Castela, mas também com os mouros, que originaram mais lutas, mais combates, mais batalhas, mais guerras, mais feridos, mais prisioneiros e mais mortos.

Nestes duzentos e tal anos reportados, quantos mortos originaram os combates travados? Onde ficaram? Onde os recolheram?

Em apenas dois “locais”, fundamentalmente: A nobreza, reis e cortesãos, em monumentais mausoléus, construídos em Catedrais ou nos seus palácios senhoriais; os soldados, o povo, na vala comum, no local da batalha, e depois de expostos ao saque.

Painéis de azulejos. Pátio dos Canhões – Museu Militar - Lisboa 
© Foto José Martins 

Desde sempre e até aos dias de hoje, sempre houve politicas de alianças, não só para poder aumentar o potencial dos exércitos mas, sobretudo, para haver validação desses actos e, assim, validarem alianças. Em Aljubarrota, em Agosto de 1385, estiveram cerca de 300 arqueiros ingleses, assim como o invasor, os castelhanos, tinham nas suas hostes aragoneses, italianos e franceses.

Consolidado o reino europeu, os portugueses fazem-se ao desconhecido: o norte de África, armados com a Espada e a Cruz, querendo dilatar a Fé e o Império. E novo local de sepultura surgiu, para os expedicionários portugueses: o solo africano ou, para os mais influentes e nobres, o regresso à terra mãe, quando resgatados, como foi o que sucedeu a D. Fernando de Portugal, o Infante Santo, que seu sobrinho-neto D. Afonso V, o Africano, resgatou das muralhas de Fez, e o fez trasladar para a Sala do Fundador, no Mosteiro da Batalha.

Painéis de azulejos. Pátio dos Canhões – Museu Militar - Lisboa 
© Foto José Martins 

 Depois da expedição a Ceuta, em 1415, Portugal fez-se ao mar. Melhor, regressou ao mar, já que tinha havido algumas incursões/experiência a partir do reinado de D. Dinis. Por outras palavras e para enquadrar esta fase com o tema: os navegadores/soldados encontraram uma nova forma de “cair pela Pátria”: por doença, em combate ou por naufrágio, a sua sepultura era nas profundezas do oceano.

Partindo deste “rectângulo à beira mar plantado”, navegando sob a protecção da Cruz de Cristo transportada no velame das naus, começamos por Ceuta, no Norte de África, em Agosto de 1415. Cruzamos oceanos e encontramos ilhas e arquipélagos; cruzamos o Mar Atlântico até ás terras de Vera Cruz, o Brasil; vasculhamos as costas africanas, primeiro a ocidente e depois oriente; passamos o Bojador e dobramos o Cabo das Tormentas, subjugando o Bojador e passando além da dor; chegamos à almejada Índia e navegamos no Indico e no Pacifico, até às terras de Lorosa’e (Timor) e da Malásia; e por fim, em Agosto de 1578, voltámos ao início: ao Norte de África, às terras quentes do norte africano: Alcácer Quibir.

Desde Ceuta, foram 162 anos em que “deixámos” no mar ou, uns metros acima da rebentação das ondas dos continentes tocados, em covas aberta nas matas tropicais, muitos de nós que caíram ou tombaram no campo da honra. Também houve, neste espaço de tempo, mais um combate entre forças portuguesas. A Batalha de Alfarrobeira entre D. Afonso V, com uma força de 30.000 homens, e o seu tio D. Pedro, duque de Coimbra, com cerca de 6000 homens que, apesar de não conhecidas, deve ter provocado muitas mortes entre os combatentes de um lado e outro, entre eles o Duque de Coimbra.

Mas foi em Alcácer Quibir que o português encontrou mais uma nova forma de enterramento dos seus combatentes: do Rei ao Soldado, todos mas todos, foram enterrados na bruma da saudade ou do nevoeiro, nevoeiro esse que viria a cobrir o país por seis longas décadas. E esta forma de “enterramento”, sem corpos, foi tão forte que, um dos soberanos que governaram este país nesses anos de sombra, “inventou um corpo do Desejado” que teria tumba nos Jerónimos, para assim acalmar o espírito deste povo que, qual Fénix, renasce sempre das próprias cinzas.

Foram anos sombrios para o povo, que nestas ocasiões, é sempre o primeiro a ser oprimido. A rivalidade entre países, que mais não era que rivalidades entre as famílias coroadas, transformava-se em rivalidades entre povos, aguçando a cobiça e, porque não dizê-lo, o ódio que muitas vezes era “distribuído” ao povo todo, como de pão se tratasse. O império de além-mar, longo de anos e caro em vidas, foi alvo de invasões e de moeda de troca entre os grandes da época.

Quem era aquele povo, pequeno e louco, que ousara entrar mar adentro, rasgar ondas, desafiar o desconhecido e provar, prova suprema de loucura, que o mar não era plano?

Quem eram esses pigmeus para desdenhar dos cartógrafos que “diziam” que o mar tinha fim, tinha um limite que, para além do qual só existia sombra?

“Isto é claro - diziam os navegantes -, que, depois deste Cabo, não há aí gente nem povoação alguma; a terra não é menos arenosa que os desertos da Líbia, onde não há água, nem árvore, nem erva verde; e o mar é tão baixo que, a uma légua de terra, não há de fundo mais que uma braça. As correntes são tamanhas que navio que lá passe, jamais nunca poderá tornar. E, por certo, não foi a eles o seu conhecimento de pequena escuridão quando o não soubessem assentar nas cartas por que se regem todos os mares por onde gentes podem navegar". [Gomes Eanes de Zurara, in “Crónica dos Feitos da Guiné”, capítulo VIII (Porque razão não ousavam os navios passar além do Cabo Bojador)].

E não tinha sido um português que, ao serviço do seu país, queria dar a “volta ao mundo”? E que só não o fez, porque o seu soberano tinha outras prioridades? E não tinha sido esse povo, que na sua pequenez havia desafiado “tudo e todos”? E não era esse povo que estava agora na mó de baixo, porque estava subjugado?

Que estranho cruzamento de povos e culturas. Um que não se queria subjugado e continuava a querer manter, sob a sua bandeira, os territórios “cujo achamento tinham feito”; os outros, do qual até os primeiros se tinham tornado independentes, há séculos, se ufanava que de tinham terras em todos os continentes. O mundo quase esqueceu, ou esqueceu mesmo, que Portugal existia e que, apenas, se encontrava privado da sua independência e, portanto, há que tentar conquistar pelas armas aquelas terras, que além de terem sido regadas por sangue português eram alvo de inveja, como na altura se provou, e o que futuro havia de provar, por mais vezes nos trezentos e trinta e cinco anos seguintes.

Painéis de azulejos. Pátio dos Canhões – Museu Militar - Lisboa 
© Foto José Martins 

Uma das primeiras atitudes a ter, por um invasor, é neutralizar as suas forças de defesa, pela extinção das mesmas ou o seu deslocamento para zonas estranhas aos seus elementos, de forma a ficarem “isoladas” e, portanto, a desmotiva-las a qualquer insurreição ou revolta. E isso tinha acontecido a Portugal. O seu exército havia “desaparecido” porque os seus elementos se tinham aliado ao invasor ou, porque aqueles que se opuseram foram sendo afastados ou tiveram de refugiar-se noutras terras.

A realidade não era brilhante. Portugal não tinha soldados nem armas, pelo que foi uma dura tarefa. Mais uma vez este povo enfrentou uma guerra tremenda, que durou até 1668, altura em que a diplomacia internacional, nomeadamente por parte da Inglaterra, França e Roma, conseguiram que fosse assinado o Tratado de Lisboa a 13 de Fevereiro de 1668, pondo fim a 28 anos de lutas entre Portugal e Espanha. Até a Holanda, que havia movido forte luta e ocupado parte do nosso império, quer no Brasil quer em África, mas cujas forças de ocupação foram desalojadas, se juntou à diplomacia internacional neste intento. É o velho ditado: “Se não os podes vencer, junta-te a eles”.

Apesar de haver grandes períodos em que, na história portuguesa, não se registam batalhas ou simples escaramuças, tal não quer dizer que não houvesse hostilidades, quer no reino quer nas suas possessões. Também não é intenção deste texto, nem seria local adequado, desenvolver as histórias da História, mas sim evocar o tema a que nos propusemos, “Os soldados não morrem, apenas tombam no campo da honra!”.

Nos anos de transição dos séculos XVIII para o XIX várias situações aconteceram e modificam a história, e de tal forma, que o período antecedido por estes factos, ficou na história como o Anterior Regime. A chegada de Napoleão Bonaparte ao poder em França e, as hostilidades sempre em aberto entre a França e a Inglaterra, a que se somou a derrota da esquadra francesa na Batalha de Trafalgar, em 21 de Outubro de 1805, ditaram que a França intentasse, contra a Inglaterra, o Bloqueio Continental, a que aderiram os países do Mar Báltico, e em que Portugal teria uma função muito importante, não só pela sua posição Ibérica mas, sobretudo, pela extensão dos seus territórios no Atlântico e no Índico. A intenção era não permitir a entrada dos navios ingleses nos portos dos países que aderissem ao bloqueio, asfixiando, assim, o poderio económico e comercial inglês.

A posição de Portugal era difícil. Tinha sido assinado, com a Inglaterra em 16 de Junho de 1373, o Tratado de Londres que, ao longo do tempo, veio sendo sempre revisto, ratificado e “contornado ao sabor dos interesses”. A indefinição de Portugal, ao tentar negociar com a Inglaterra secretamente, enquanto dava a entender à França a sua anuência, levou a que as tropas de Napoleão invadissem o nosso país, originando a retirada da Família Real e de muitos elementos da Corte, para o Brasil, em 27 de Novembro de 1807, ficando o governo do reino entregue a uma Junta Governativa do Reino, nomeada na véspera.

Painéis de azulejos. Pátio dos Canhões – Museu Militar - Lisboa 
© Foto José Martins 

As tropas francesas, comandadas pelo Coronel-General dos Hussardos Jean-Andoche Junot, entram pela zona de Castelo Branco, dirigem-se a Abrantes e seguem para Santarém, chegando a Lisboa em 28 de Novembro, mas a família real e a corte já se encontravam ao largo. Logo após a instalação das forças ocupantes ocorreram escaramuças, por parte da população de Lisboa e outras localidades, sempre reprimidas pelo invasor, com mais ou menos violência.

Esta invasão só termina, com a entrada em Portugal de uma força luso-britânica de cerca de 20.000 homens, sendo 6000 portugueses, sob o comando do General Artur Wellesley. Desembarcando junto à foz do Rio Mondego, dirige-se para Lisboa, recebendo reforços ao longo do percurso. Com a Convenção de Sintra, assinada em 30 de Agosto de 1808, é permitida a saída das tropas invasoras transportando, todo o que conseguiu saquear durante a sua permanência no país.

Para comandar uma segunda invasão a Portugal, é escolhido o Marechal Nicolas Jean de Dieu Suolt, cujas forças entram por Chaves em 12 de Março de 1809, seguem por Ruivães, Salamonde, Carvalho d’Este onde travam combate no dia 20, Braga e Porto, entrando na cidade em 29 de Março. Entretanto, entre o dia 18 de Abril e o dia 2 de Maio, há o combate pela defesa da Ponte de Amarante, onde os portugueses tiveram cerca de 1600 baixas entre mortos, feridos e prisioneiros.

A 12 de Maio Soult abandona o Porto dirigindo-se por Baltar, Guimarães onde se encontra com as forças comandadas por Loison, seguindo por Ruivães, Montalegre onde passa no dia 17 e retira-se para Ourense onde chega a 19 de Maio de 1809 e onde pode, finalmente, dar descanso às suas tropas. Mas Napoleão Bonaparte, o Grande Imperador, tinha uma obsessão louca por Portugal. Não só pelo apoio que estava a receber da Inglaterra, mas porque o povo enfrentou sempre, e de cabeça erguida, o invasor. Integrado nas tropas regulares ou actuando por sua conta e risco, em acções de sabotagem, pagando, muitas vezes, com a própria vida.

Por tudo isto e com o seu amor-próprio ferido, Napoleão tinha que lançar nova invasão deste pequeno reino. Nomeando o Marechal André Massena como comandante do exército invasor, confiou-lhe cerca de 65.000 homens, divididos por três corpos de exército, cargo que assume em Maio de 1810.

Painéis de azulejos. Pátio dos Canhões – Museu Militar - Lisboa 
© Foto José Martins 

Depois do cerco da praça espanhola de Ciudad Rodrigo, iniciado em 26 de Abril de 1810 e com o assalto final em 25 de Junho seguinte, a fortaleza só veio a cair no dia 9 de Julho, abrindo, assim, a entrada em Portugal. Em terras portuguesas, dá-se o Combate do Côa em 23 de Julho, sendo lançado o cerco da Praça de Almeida que durou até 28 de Agosto. Foi nesta praça que o invasor providenciou a alimentação do seu exército. Era normal o exército francês obter a sua alimentação pelo território por onde passava, mas em Portugal sempre houve o cuidado de contrariar este facto.

Massena deu ordem às suas tropas para avançar, em 15 de Setembro, fazendo-as seguir em direcção a Coimbra, mas as tropas comandadas por Arthur Wellesley estavam numa posição defensiva a norte desta cidade, na Serra do Buçaco, entre Penacova e Luso, onde se travou a Batalha do Buçaco, em 27 de Setembro de 1810, tendo as tropas invasoras cerca de 4500 baixas e as topas anglo-lusas sofreram 1252 baixas. Após a batalha as forças aliadas retrocedem em direcção a Coimbra, com o objectivo de depois atingirem posição nas Linhas de Torres Vedras.

Por onde passavam as tropas aliadas, iam aconselhando a população para retirarem, trazendo consigo o que lhes fosse possível transportar, destruindo tudo o que tivessem que abandonar e pudesse alimentar o inimigo, numa política de “terra queimada”. Os franceses contornaram por Norte, pela estrada de Mortágua e Mealhada. Ao passarem por Coimbra, os invasores encontraram bastantes víveres, mas devido ao saque desordenado, pouco lhes aproveitou.

Brigadeiro Jozé Maria das Neves Costa - Patrono do IGeoE
No ano de 1810, sob a orientação do engenheiro inglês Flether, trabalhou na construção das fortificações que constituem as Linhas de Torres Vedras.
© Foto: Instituto Geográfico do Exército

Entre Coimbra e as Linhas, ainda houve alguns combates significativos, entre a retaguarda dos aliados e a vanguarda francesa, em Pombal e Alenquer, até que a 11 de Outubro chegaram às Linhas de Torres Vedras, onde tiveram que parar, durante quatro semanas, aguardando uma hipotética ajuda em reforços.

Massena retrai as suas forças para Rio Maior e Santarém, enquanto envia um mensageiro a Napoleão, para pedir “ordens”. O mensageiro, o General Foy, foi escoltado à ida por um batalhão de infantaria e um esquadrão de cavalaria, com entre 500 a 750 elementos, mas no regresso foi escoltado por 1800 homens.

As tropas invasores passaram a retirar, tendo iniciada essa manobra na noite de 6 de Março, de acordo com a informação dada por um camponês, aos aliados. As tropas luso-britânicas vão no encalço do inimigo dando-se, em 11 de Março de 1811, o Combate da Redinha. A 22 desse mês, já o exército francês, em retirada, encontra-se entre e Guarda e Celorico. A 3 de Abril deu-se a Batalha do Sabugal e, a praça de Almeida que tinha ficado em poder dos franceses, é abandonada de 10 para 11 de Maio de 1811. As tropas invasoras seguem em direcção a Espanha.

(Continua)
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Nota de CV:

Esta é a primeira de três partes de um trabalho que o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), nos enviou em mensagem do dia 30 de Setembro de 2012

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8946: Patronos e Padroeiros (José Martins) (23): D. Afonso Henriques - Exército Português

1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 24 de Outubro de 2011:

Boa tarde
No 864.º Aniversário da Tomada de Lisboa aos Mouros e no Dia do Exército, Ramo das Forças Armadas a que a maioria dos Portugueses pertenceu/pertence, não podia deixar de enviar um texto sobre o PATRONO DO EXÉRCITO PORTUGUÊS - D. Afonso Henriques.

Grande abraço
José Martins

PATRONOS E PADROEIROS XXIII

Patrono do Exército Português

Afonso I de Portugal

Pela Graça de Deus, Rei dos Portugueses

Estátua de D. Afonso Henriques, localizada na Av. Ernesto Korrodi, em Leiria, que esteve instalada, inicialmente, no claustro do antigo Paço Episcopal de Leiria, mais tarde Quartel do Regimento de Artilharia Ligeira n.º 4 e, actualmente, instalações da Policia de Segurança Pública.
A autoria, assim como a data da obra, são desconhecidas.
© Foto de José Martins (17 de Julho de 2010)


A história, ao longo dos séculos, nem sempre registou os factos que iam ocorrendo, dai resultando que existem “diversas teorias e/ou dúvidas” sobre diversos factos.

É o que acontece com o nascimento daquele que havia de ser o primeiro Rei dos Portugueses. Onde nasceu? Guimarães, Viseu ou Coimbra? Qual a data do seu nascimento? Também não se sabe, sendo apenas apontado o ano de 1109, como o ano provável do seu nascimento. No entanto não existe dúvida de que nasceu nas terras denominadas, na altura, como Condado Portucalense, do qual, mais tarde e por expansão, seria o território que hoje ocupamos: Portugal.

É filho de D. Henrique de Borgonha (n.1066 — †Astorga, 24 de Abril de 1112) e D. Teresa de Leão (n. 1080 - †11 de Novembro de 1130, na Póvoa do Lanhoso), tendo iniciado o seu reinado em 5 de Dezembro de 1143.

Em 25 de Julho de 1139, dia litúrgico de São Tiago (Maior) que a tradição popular tornou o Patrono da luta contra os Mouros - apelidando-o de Mata-mouros - trava-se perto de Ourique, a sul do então limite territorial do Condado Portucalense, uma batalha contra Ali ibn Yusuf, Emir Almorávia. No final da batalha, favorável às armas portuguesas, Afonso Henriques proclamou-se rei, com o apoio das suas tropas.

Após a morte do pai, em 1120, Afonso de Portugal entra em conflito político com sua mãe, dada a proximidade da mesma com Fernão Peres de Trava, elemento de uma das mais poderosas famílias do Reino da Galiza. Tal facto levou a que D. Paio Mendes, Arcebispo Primaz de Braga entre 1118 e 1137, grande defensor da causa do Infante, fosse obrigado a exilar-se, tendo levado consigo o futuro Rei, que veio a ser armado Cavaleiro em Tui, no ano de 1122.

Novos incidentes se passam no Condado Portucalense, já que o Príncipe regressara, após estabelecimento da paz com a sua mãe D. Teresa.

Afonso de Leão e Castela, em 1127, invade o Condado, cercando Guimarães, onde, o seu aio Egas Moniz promete, em nome do seu pupilo, vassalagem e lealdade ao rei de Leão e Castela. Alguns meses depois, em 24 de Junho de 1127, as forças de Afonso Henrique e as de D. Teresa encontram-se na Batalha de S. Mamede, onde as primeiras saem vencedoras. Nesta altura e com a assunção do comando do Condado, nasce a ideia de transformar este território num país, iniciando conversações com a Santa Sé, com o objectivo de alcançar a autonomia da Igreja em Portugal e o reconhecimento do Condado como Reino.

Apesar de Afonso Henriques já usar o título de Rei desde 1139, este só veio a ser confirmado em Zamora, com o Tratado de Paz celebrado a 5 de Outubro de 1143, entre Afonso Henriques, de Portugal, e Afonso VI de Leão e Castela, que passaria a usar, como era seu desejo, o título de Imperador de toda a Hispânia, devendo os reis da península render-lhe vassalagem, facto que nunca aconteceu com o rei português.

Entretanto o Papa Alexandre III (Pontificado de 7 de Setembro de 1159 a 30 de Agosto de 1181), já havia reconhecido Portugal como vassalo da Igreja e país independente através da Bula Manifestis Probatum.

O rei, fundador da nacionalidade, parte para o alargamento do Reino, conquistando Leiria e Santarém através da técnica de assalto e iniciando o cerco a Lisboa, que cai em poder dos portugueses em 24 de Outubro de 1147. Nesse mesmo ano conquista Almada e Palmela, e, em 1160 Alcácer, além de grande parte do Alentejo, que viria a ser recuperado pelos mouros.

A perda de parte do Alentejo deve-se, também, às questões territoriais que se levantaram entre os reinos de Leão e Portugal, originando que numa dessas batalhas, o Rei português ficasse ferido, o que lhe veio a trazer o fim da sua carreira militar, passando a partilhar a governação com o seu filho e sucessor D. Sancho.

Em 1131, promove a fundação do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, por D. Telo e onze religiosos que adoptam as regras dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. O projecto é do Mestre Roberto, artista do estilo românico.

Contou, também, com a colaboração dos Monges de Cister, seguidores das regras de S. Bento, que fundaram em 1140 o Mosteiro de São João Baptista de Tarouca, e, com a doação de coutos na região de Alcobaça, cumprindo a promessa feita aquando da conquista de Santarém, onde foi fundado um Mosteiro, região que deu bastante incremento à economia, em especial a agrária.

O primeiro rei de Portugal veio a falecer em Coimbra em 6 de Dezembro de 1185, tendo sido sepultado no Convento de Santa Cruz de Coimbra, que foi o primeiro Panteão Nacional.

Odivelas, Dia do Exercito, 24 de Outubro de 2011
José Marcelino Martins
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Nota do Editor:

Vd. último poste da série de 11 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8889: Patronos e Padroeiros (José Martins) (22): D. Dinis - Curso de Infantaria da Escola do Exército - 1953-1956 (José Martins)