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terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5750: Convívios (183): 1º Encontro/Convívio do BCAÇ 4513 (Fernando Costa)


1. O nosso Camarada Fernando Costa, ex-Fur Mil Trms da CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, MAR73/SET74), enviou-nos a seguinte mensagem, acerca do Encontro/Convívio do seu batalhão:

1º Encontro/Convívio

Batalhão de Caçadores 4513

(BCAÇ 4513)


Realizou-se a 8 de Dezembro na Mealhada, o primeiro encontro dos elementos das quatro companhias que compunham este Batalhão.



Por ser o primeiro, os organizadores do evento estavam um pouco receosos de pouca adesão por partes dos ex-militares.


Redondamente enganados. Estiveram presentes na totalidade 104 pessoas, sendo 59 ex-combatentes e 45 familiares.

Na sua maioria, não se viam desde Setembro de 1974.

Ficou decidido que os futuros encontros passariam a ser no aniversário do embarque do Batalhão para a Guiné, ou seja a 16 de Março. Quando esta data calhar a um dia de semana, passará para o sábado seguinte.





Assim, anunciamos o próximo evento:



“37º Aniversário do Embarque para a Guiné”


Data: 20 de Março de 2010
Local: Regimento de Infantaria nº 15 – RI15 - Tomar

Programa:

10h00 - Cocktail de recepção do pessoal e acompanhantes;
11h00 - Homenagem aos mortos junto ao Monumento da Unidade com Colocação de uma coroa de flores;
11h15 - Agradecimento ao RI 15;
11h30 – Missa;
12h00 - Visita guiada ao Regimento;
13h00 -Saída em cortejo para o almoço, que será servido na Quinta da Gracinda (em Valdonas – a aproximadamente 2.000 metros do Regimento).

Se és um elemento do ex-4513/73, aparece com a família para reviver no presente, o que fomos no passado.

Inscrições:
e-mail – bcac4513@gmail.com
Fernando Costa
Fur Mil – Trms da CCS
Tel: 213145321 - 964217393

Um abraço,
Fernando Costa
Fur Mil Trms da CCS/BCAÇ 4513
___________

Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5716: Morte e sucessão do Cherno Rachide, ao tempo do BCAÇ 4513, em Set / Out 1973 (Fernando Costa)


Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa (Quebo) > Janeiro de 1973 > CCAV 8351 (1972/74) > Foto nº 2. "Depois da degola do carneiro. O Cherno é o que tem a faca na mão. À sua esquerda está um dos filhos".




Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > Janeiro de 1973 > CCAV 8351 (1972/74) > Foto nº 3. "Festa Fula da matança do carneiro. A figura central é o chefe religioso Cherno Rachide, que neste preciso momento acabou de sacrificar o carneiro depois de ter rezado missa". [Em segundo plano, por detrás do Cherno Rachide, vê-se o Cap Mil Vasco da Gama, comandante da CCAV 8351, Os Tigres de Cimbijã]

Fotos (e legendas): © Vasco da Gama (2008). Direitos reservados


1. Mensagem, de 3 do corrente, enviada pelo Francisco Costa, ex-Fur Mil Trms, CCS / BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, 1973/74) (*)

Luis,

Junto envio transcrição integral dos textos oficiais sobre o período em que faleceu o Cherno Rachide e a sua substituição. Desta forma poderás escrever à tua maneira o que é relatado.

Como podes verificar, estou a escrever a história integral do Batalhão 4513 desde a chegada à Guiné até à partida. Já tenho actualizada a lista de pessoal que compôs o batalhão e que é superior à inicialmente transcrita.

É de notar que não consigo encontrar nenhum médico inscrito nos quadros do batalhão, o que é de estranhar pois tenho a certeza que existia.

Em relação à farda do PAIGC (**), a legenda é simples No dia em que foi feita a substituição das NT pelas do PAIGC no quartel de Aldeia Formosa, pedi a um soldado que fizesse a troca de uma farda dele por um camuflado meu.

Assim, guardei até hoje para servir de "Ronco" ou seja recordação, dos tempos em que as tropas portuguesas lutaram contra aqueles que nos substituíram no terreno.

Há muita gente que diz que foi "entregar o ouro ao bandido", eu não partilho dessa opinião, mas acho que muita coisa poderia ter sido feita com mais dignidade para com aqueles que lá deixaram parte de si, para não falar dos que não chegaram a regressar.

(Não guardo rancores, guardo sim boas ou más recordações).

Fernando Costa
Ex-Furriel BCAÇ 4513



Excertos da história do BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, 1973/74) (Transcrição, para suporte digital: F.C.)

CAPÍTULO II > ACTIVIDADE NO TO DA GUINÉ


4º Fascículo (período de 1Set a 30Set73)

SITUAÇÃO GERAL

Ainda de acordo com o planeamento aprovado do treino operacional do BCAÇ 4516, o início do período foi caracterizado pela movimentação das 3 companhias do BCAÇ 4516 e 2 do BCAÇ 4513 para BUBA para efectuar a Op "LANCE PERTINENTE" cuja finalidade visava, à semelhança da Op "OUSADIA SATÂNICA" atingir o UNAL no sentida N/S – o objectivo não foi atingido pela completa intransitabilidade do terreno nesta época de chuvas constantes e intensíssimas, a falta de trilhos, a ausência de guias e a enorme distância a percorrer, mas considerava-se que foi bastante proveitoso para a finalidade do treino operacional do novo Batalhão, pela série de ensinamentos que uma acção desta envergadura traz para o pessoal e especialmente para os quadros.

Findo o treino operacional, o BCAÇ 4516 tomou a responsabilidade da sua zona de intervenção passando a depender a CCAV 8351 e o 2º PEL ART, estacionados no CUMBIJÃ, do novo Batalhão.

Entretanto as acções do BCAÇ 4513, agora liberto do treino operacional, começaram a tomar maior volume e assiduidade, para os patrulhamentos e emboscadas na direcção da fronteira da República da Guiné, e mais incremento na contra-penetração nos tradicionais corredores de passagem do IN.

Durante o mês, apenas se verificou uma acção IN e esta junto do RIO CORUBAL, no limite da ZA/2ª CCAÇ, que consistiu num contacto entre uma força daquela companhia, durante a acção "OGIVAL" com um grupo IN que,  após detectar as NT,  fez alguns disparos e retirou em direcção ao INSASSENE, deixando 1 Granada   de RPG-2 e vestígios de sangue.

Verificou-se no período o falecimento do CHERNO RACHID, chefe religioso de extraordinário prestígio no meio muçulmano, cuja perda abalou muita a população, receando-se não ser fácil encontrar quem o substitua com o mesmo prestígio e a mesma devoção à Causa Nacional (***).

No dia 29SET regista-se a chegada à Província do novo Governador e Comandante-chefe, General BETTENCOURT RODRIGUES, que substituiu nos cargos o General ANTÓNIO SPINOLA.

Referem-se como actividades mais importantes:

SET73

01 - Integrada no TO do BCAÇ 4516, inicia-se a operação "LANCE PERTINENTE". Para isso são deslocadas para BUBA, além das três CCAÇ do BCAÇ 4516, mais 1 GR COMB da 2ª CCAÇ/4513; 1 GR COMB da 3ª CCAÇ/4513; 1 GR COMB da CART 6250; 1 GR COMB da CCAV 8351. Acompanha estas forças o 2º CMDT do BCAÇ 4513 a fim de dirigir a operação.

02 - Inicia-se a Op "LANCE PERTINENTE" em direcção ao UNAL, com o deslocamento das forças de BUBA para BOLOLA, ao longo do RIO BAPO – UNAL. Continua-se as acções na região de ALDEIA  FORMOSA em direcção à fronteira e na região de CUMBIJÃ.

03 - Continua-se a Op "LANCE PERTINENTE". Forças da 3ª CCAÇ/4513 e CCAÇ 18 continuam a efectuar o patrulhamento da fronteira até ao RIO BALANA, em virtude de nesta época do ano, e devido às chuvas este mesmo rio não dar passagem. Forças da CCAV 8351 patrulham a região de CUMBIJÃ.

04 – Termina a Op "LANCE PERTINENTE" o objectivo não foi atingido pela muito difícil transpor o terreno nesta época, chuvas constantes e intensivas, falta de trilhos e ausência de guias e a enorme distância a percorrer. Forças da CCAÇ 18 patrulham a antiga picada da CHAMARRA-GANDEMBEL até à região de CHAMGUE LAIA.

05 - Regressam aos respectivos estacionamentos as forças do BCAÇ 4513 e BCAÇ 4516 intervenientes na Op "LANCE PERTINENTE". Forças da CCAÇ 18 patrulham o RIO BALANA sem contacto.

06 - Terminado que foi o treino operacional do BCAÇ 4516, as forças do BCAÇ 4513 retomaram a actividade intensiva de patrulhamento e contra penetrações nas regiões de BUBA, NHALA, MAMPATÁ, ALDEIA FORMOSA e nos corredores possivelmente utilizados pelo IN nos seus deslocamentos de S/N e vice-versa.

O BCAÇ 4516 assumiu a responsabilidade da sua área de intervenção, passando também desde esta data a CCAV 8351 e o 2º PEL ART (CUMBIJÃ) a dependerem operacionalmente daquele Batalhão.

07 - Forças da 2ª CCAÇ/4513 durante a acção "OGIVAL" entram em contacto com um GR IN EST em 20/25 elementos. O IN reagiu com RPG e AAut retirando-se em seguida. No reconhecimento efectuado capturou-se uma granada de RPG-2 e verificou-se a existência de extensas manchas de sangue. As NT sofreram 1 ferido ligeiro. Forças da 3ª CCAÇ/4513 e CCAÇ 18 patrulharam a região do RIO BALANA.

08 - Forças da 1ª CCAÇ/4513 detectaram em região (XITOLE 2 F 0-30) passagem de um GR IN estimado em 40/50 elementos no sentido N/S na madrugada deste dia.

10 - Forças das sub unidades do Batalhão e de reforço continuam os eus patrulhamentos e contra-penetrações respectivamente nas regiões de BUBA, NHALA, MISSIRÃ e Fronteira.

11 - Em conjugação com actividade operacional de patrulhamentos e emboscadas realiza-se mais uma coluna de reabastecimento a BUBA.

12 - Por necessidades prementes de reabastecimento, realiza-se mais uma coluna a BUBA.

13 - Forças da 2ª CCAÇ / 4513 executam patrulhamento conjugado com contra-penetração [C/PEN] na região de PONTE DO RIO CORUBAL sem contacto. Forças da 3ª CCAÇ / 4513 executam patrulhamento conjugado com contra-penetração  na região do RIO BALANA sem contacto. Forças da CART 6250 executam contra-penetração na região de MISSIRÃ sem contacto.

14 - Forças da CCAÇ 18 durante a acção "OBSERVADOR VI" patrulham a estrada CHAMARRA-GANDEMBEL até à confluência do RIO BALANA-RIO DADINA. Sem contacto.

15 - Em conjugação com actividade operacional de patrulhamento e emboscadas realiza-se uma coluna de reabastecimento a BUBA.

16 - Continua a actividade operacional de patrulhamento e contra-penetração  de todas as sub unidades dentro das respectivas ZA.

19 - Pelas 2100 horas são avistados de ALDEIA  FORMOSA e na direcção de CHAPADA [Chamarra ?]vários very-lights e balas tracejantes.

20 - Em conjugação com actividade operacional de patrulhamento e emboscadas realiza-se uma coluna de reabastecimento a BUBA.

21 - Forças da 3ª CCAÇ / 4513 durante a acção "OLARIA" patrulham e executam contra-penetração  no RIO BALANA sem contacto.

22 - O Comandante do Batalhão acompanhou uma patrulha à região de CHICAMBILO. Forças da 2ª CCAÇ / 4513 durante a acção "ORTIGA" executam patrulhamento conjugado com contra-penetração na região da confluência RIO CORUBAL-RIO UUGUIUOL sem contacto. Forças da CART 6250 durante a acção OASIS" executam patrulhamento conjugado com contra-penetração na região de BOLOLA sem contacto.

23 - Forças da CCAÇ 18 durante a acção "OBJECTIVA" executam patrulhamento conjugado com contra-penetração  na região do RIO BALANA sem contacto.

24 - Em conjugação com actividade operacional de patrulhamento e emboscadas realiza-se uma coluna de reabastecimento a BUBA.

25 - Forças da 2ª CCAÇ / 4513 durante a acção "OUSADIA" executam patrulhamento e contra-penetração no RIO UUGUIUOL sem contacto. Forças da CART 6250 durante a acção "ORIENTE" executam patrulhamento e contra-penetração  em MISSIRÃ sem contacto.

28 - Apresentou-se de licença, assumindo as funções de OF OP INF CAPITÃO JORGE F. CERVEIRA.
Em conjugação com actividade operacional de patrulhamento e emboscadas realiza-se uma coluna de reabastecimento a BUBA.

29 - Forças da 3ª CCAÇ / 4513 durante a acção "OXIGÉNIO" executam patrulhamento com contra-penetração na região de GAMÃ sem contacto.

30 - O Comandante do Batalhão acompanhou patrulhamento a JAI JULI.


CAPÍTULO II > ACTIVIDADE NO TO DA GUINÉ


5º Fascículo (período de 1Out a 31Out73)

SITUAÇÃO GERAL

A pluviosidade diminuiu consideravelmente, no entanto as bolanhas ainda se apresentam com muita água e os rios com grande caudal. Têm surgido problemas com o itinerário ALDEIA FORMOSA-BUBA, exigindo, alguns troços, medidas de manutenção, a fim de se manter a transitabilidade.

Por determinação superior, o BCAÇ 4516 passou a ser força de Intervenção do COMANDO-CHEFE, pelo que foi transferido para BISSAU, ficando no entanto, uma das suas CCAÇ, em reforço do Batalhão e sedeada em COLIBUIA.

A actividade do IN continuou a ser fraca, sendo de salientar a flagelação a CUMBIJÃ, não só pelo número de granadas utilizadas, como a precisão do seu fogo.

Da actividade das NT, dirigida essencialmente para a fronteira e corredores de passagem IN resultou a intercepção de uma coluna IN no corredor de BUJOL, detecção e levantamento de duas Minas A/P, uma delas na picada de MAMPATÁ-NHALA e o accionamento de uma Mina A/P  na região de NHACOBÁ.

Chegaram a BUBA, os Destacamentos de Engenharia nº 1 e 2 e a Brigada de Estudo e Construção de Estradas, para darem início à construção da estrada ALDEIA FORMOSA-BUBA, em duas frentes, sendo uma em BUBA e outra em ALDEIA FORMOSA.

Para os trabalhos da frente de ALDEIA FORMOSA, foi deslocado o Dest Eng nº 1. Como consequência deste deslocamento passou a ser exigido às forças do Sector um esforço extraordinário na realização de colunas de reabastecimento, a fim de colocar em ALDEIA FORMOSA os materiais necessários à obra a iniciar. Com a passagem das máquinas pesadas e de lagartas deste Destacamento, a estrada ficou bastante danificada, sendo necessário proceder-se a urgentes reparações em alguns pontos para garantir a transitabilidade da mesma.

Durante o período continuaram a deslocar-se a ALDEIA FORMOSA, em virtude do falecimento do CHERNO RACHID, várias autoridades tradicionais, algumas estrangeiras, entra as quais se destaca o CHERNO ALIU CHAM, do SENEGAL.

SEKUNA, filho do CHERNE RACHID, foi eleito, em assembleia dos "Homens Grandes", sucessor de CHERNO RACHID. (***)

Por motivo do acto eleitoral no dia 28, a festa do RAMADÃ nos dias 28 e 29, efectuaram-se diversas colunas a BUBA, NHALA, RIO CORUBAL para transporte da população.

Em 17 e 30 iniciaram-se os trabalhos de Engenharia de abertura da estrada de ALDEIA FORMOSA-BUBA, respectivamente nas frentes de ALDEIA FORMOSA E BUBA.

Referem-se como actividades mais importantes:

OUT73


01 - Deslocou-se a Bissau para entrar de licença disciplinar Major Dias Marques, 2º CMDT. O Nord-Atlas escala ALDEIA FORMOSA para transporte de frescos e pessoal.

02 - Forças da CCAÇ 18, durante a acção "OUTEIRO",  patrulham a Ponte do RIO BALANA sem contacto. Realiza-se uma coluna de reabastecimento a BUBA. O avião fretado do TAGP escala ALDEIA FORMOSA fim levar frescos para BUBA.

03 - Tem início a acção "OMOPLATA" executada por forças da 1ª CCAÇ / 4513, com a colaboração de meios navais. Esta acção visa atingir PONTA NOVA. Forças da 3ª CCAÇ / 4513 durante a acção "ORALIO" patrulham o Trilho de GAMÃ sem contacto.

04 - Termina a acção "OMOPLATA" em que as forças da 1ª CCAÇ / 4513 detectaram e levantaram uma Mina A/P  IN em região de (EMPADA 7 D 7-50).

O CMDT recebe a visita de todos os "Homens Grandes" da região que vêm comunicar que,  reunidos em assembleia, elegeram SEKUNA, filho do CHERNE RACHID, como seu sucessor. Exprimem todo o seu apoio e lealdade à Causa Nacional. Este mesmo facto é comunicado à REP ACAP, para ser transmitido a Sua Excelência Comandante-Chefe. (***)

05 - Realizou-se uma coluna de reabastecimento a BUBA. O Nord-Atlas escala ALDEIA FORMOSA, para transporte de frescos e pessoal.

06 - As Companhias do Batalhão e de reforço continuam as acções de patrulhamento e contra penetração nas regiões da fronteira, corredor do MISSIRÃ e BUJOL. Pelas 1630 horas, apresentou-se em ALDEIA FORMOSA um elemento da população, que tinha sido raptado pelo PAIGC no SENAGAL, e que fugira quando chegou a KANDIFARA. Depois de interrogado seguiu para BISSAU. Forças da 2ª CCAÇ / 4513 durante a acção "OPRESSÃO" executaram patrulhamento com contra penetração na região da Ponte do RIO CORUBAL sem contacto.

08 - Teve lugar em ALDEIA FORMOSA, uma reunião com o Comando do Batalhão em que estiveram presentes o Delegado da CH Serv Transp., o Delegado do QG/CTIG/4ª REP, o Comandante Interino e um Oficial do BENG 447, a fim de se coordenar os trabalhos de abertura da estrada ALDEIA FORMOSA-BUBA.

09 - Pelas 17H30  GR IN não estimado flagelou o Destacamento de CUMBIJÃ durante 45 minutos, com 100 granadas de CAN S/R 82 e 5 granadas de MORT 82, sem consequências.~As NT reagiram com fogos de ART e MORT.

Esteve presente no Comando do Batalhão, a apresentar os seus cumprimentos de despedida, o CHERNO ALIU CHAM,  da REP SENEGAL, e que agradeceu todo o apoio prestado quando do falecimento do CHERNO RACHID e todo o apoio sanitário que continua a ser dado em todos os postos fronteiriços da REP SENEGAL. (****)

Chegaram a BUBA os Dest Eng 1 e 2 e a Brigada de Estudos e Construção de Estradas.

10 - Realizou-se uma coluna de reabastecimento a BUBA a fim de transportar para ALDEIA FORMOSA, os elementos do Dest Eng 1, assim como algumas máquinas e material do mesmo.

11 - Forças da 2ª CCAÇ / 4513 durante a acção "OSIRIS" executam patrulhamento com contra penetração na região do RIO UUGUIUOL sem contacto. Forças da 3ª CCAÇ / 4516, accionaram na região de NHACOBA uma Mina A/P  IN, sofrendo dois feridos graves.

12 - Apresentou-se de licença disciplinar Cap Amaral, Comandante da CCAÇ 18.

13 - Realizou-se uma coluna de reabastecimento a BUBA, para transporte do material de Engenharia para ALDEIA FORMOSA.

15 - Notícia não avaliada da DGS local, refere que o IN tem deslocado forças de KANDIFARA para KASEMBEL. As companhias do Batalhão e de reforço continuam os seus patrulhamentos e contra penetração na região da fronteira e corredores de passagem IN, sem contacto.

16 - O Cmdt do Batalhão deslocou-se a NHALA e BUBA. Por determinação superior o BCAÇ 4516 passa a ser força de Intervenção do Comando-Chefe.

17 - Pelas 15h30  forças da 1ª CCAÇ / 4513 interceptaram em (XITOLE 2 E 7-17) grupo IN de 120 elementos armados, deslocando-se no sentido de S/N. NT sem consequências, o IN com prováveis feridos e mortos. Capturada 1 Granada  de RPG-7.

19 - Realizou-se coluna para transporte da 2ª CCAÇ / 4516 a fim de seguir para BISSAU.

20 - As companhias do Batalhão e de reforço continuam os seus patrulhamentos e contra penetrações na região da fronteira e corredores de passagem IN.

22 - Forças da CART 6250 procedem ao levantamento de minas instaladas pelas NT nas regiões de (XITOLE 4 E 4-41) e (GUILEJE 6 F 8-91).

23 - Durante a picagem do itinerário MAMPATÁ-UANE foi detectada e levantada uma Mina A/P  IN por forças da CART 6240. Seguiu para BUBA com destina a BISSAU a 1ª CCAÇ / 4516. O OF OP INF deslocou-se a BUBA e NHALA. Estiveram presentes em ALDEIA FORMOSA o Exmº Comandante do GA-7 e o Comandante da BAT ART/AAA 7040.

24 - Realizou-se mais uma coluna a BUBA para transportar a CCS / 4516, com destino a BISSAU. Chegou a ALDEIA FORMOSA o Exmº Comandante do CAOP-1. Juntamente com o Comandante do Batalhão deslocaram-se a MAMPATÁ. Forças da 1ª CCAÇ / 4513 transportadas em meios navais iniciaram a acção "OLIMPO" sobre a região de ANTUANE.

25 - Terminada a acção "OLIMPO" em que forças da 1ª CCAÇ / 4513 detectaram e levantaram uma Mina A/P  IN na região (EMPADA 7 D 6-44). Iniciaram-se os trabalhos de abertura e asfaltagem da estrada ALDEIA FORMOSA-BUBA. Permanece em ALDEIA FORMOSA o Exmº Comandante do CAOP-1.

26 - Forças da 3ª CCAÇ / 4513,  durante a acção "ORACULO", executam o patrulhamento conjugado com contra-penetração na região de GAMÃ e ponte do RIO BALANA. Durante este patrulhamento procede-se à instalação de um campo de minas na região da ponte do RIO BALANA, sobre a estrada para GADEMBEL. Regressa a BISSAU o Exmº Comandante da CAOP-1.

27 - Iniciaram-se os trabalhos de Engenharia na estrada ALDEIA FORMOSA-BUBA, frente de ALDEIA FORMOSA. Efectuou-se uma coluna a BUBA e outra ao RIO CORUBAL para trazer população com vista ao acto eleitoral do dia 28 e festas do RAMADÃ.

28 - Processou-se o acto eleitoral e iniciaram-se as festas do RAMADÃ, que trouxeram a ALDEIA FORMOSA muita população de BUBA, NHALA e SALTINHO.

29 - Pelas 1800 horas apresentaram-se em ALDEIA FORMOSA 3 elementos de população, naturais da REP GUINÉ, um homem,  uma rapariga e um rapaz. Realizou-se mais uma coluna a BUBA para transporte de regresso das populações que se deslocaram a ALDEIA FORMOSA.

30 - Esteve em ALDEIA FORMOSA o Exmº Comandante do CAOP-1, regressou a BISSAU no mesmo dia. Iniciaram-se os trabalhos de Engenharia da Estrada ALDEIA FORMOSA-BUBA,  frente a Buba.

31 - O Comandante do Batalhão deslocou-se a COLIBUIA e CUMBIJÃ, acompanhado de um delegado do BENG 447.

[Revisão / fixação de texto / bold: L.G.]
____________

Notas de L.G.:


(*) Vd. postes de:

25 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5160: Tabanca Grande (182): Fernando Silva da Costa, ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, 1973/74)

2 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5193: Memória dos lugares (50): Aldeia Formosa, BCAÇ 4513: A última visita do Gen Bettencourt Rodrigues (Fernando Costa)

(**) Vd. poste 3 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5583: Memória dos lugares (62): Trocando roncos com o PAIGC em Aldeia Formosa, em Agosto de 1974... (Fernando Costa)

(***) Sobre este influente, poderoso e controverso dignitário muçulmano, vd. postes de:

15 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LVII: O Cherno Rachid, de Aldeia Formosa (aliás, Quebo) (Luís Graça).

16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXVIII: Um conto de Natal (Artur Augusto Silva, 1962)

18 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCX: O Cherno Rachid da Aldeia Formosa (Antero Santos, CCAÇ 3566 e CCAÇ 18)

4 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1815: Álbum das Glórias (14): o 4º Pelotão da CCAÇ 14 em Aldeia Formosa e em Cuntima (António Bartolomeu)

2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2714: Antropologia (5): A Canção do Cherno Rachide, em tradução de Manuel Belchior (Torcato Mendonça)

(...) Não comento o livro e menos ainda transcrevo qualquer lenda. Abordo muito ligeiramente o posfácio. Nele fala-se de um Homem Grande, nosso contemporâneo, a viver em Aldeia Formosa (hoje Quebo) e visitado pelo autor do livro. Esse Homem Grande era Cherno Rachide.



Ficou o autor encantado com o seu saber e simplicidade. Depois de conversarem e antes de se despedirem, Cherno Rachide, a pedido do autor, ofereceu-lhe escrito em árabe a sua canção – A Canção de Cherno Rachide, cantada diariamente pelos seus alunos.

O autor tentou, segundo diz, na transcrição para português, manter o ritmo e a musicalidade.


É essa canção que a seguir transcrevemos. «Cherno Rachide mostra-se grato, pelo Governo da Província por haver possibilitado a realização do sonho de sua vida: a peregrinação a Meca». Transcrito do livro. (...)

27 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3361: PAIGC - Docs (2): O grande marabu Cherno Rachide, de Aldeia Formosa: um agente duplo ? (Luís Graça)

(...) "Os elementos de confiança do Partido são: em Cacoca, Daudá Camará, Abdulai Conté, Mbadi Bonhequi ; em Cacine, Laminé Camará, o relojoeiro, e Cassamá, motorista; em Missidé (Quebo), Aliu Embaló, e o grande marabu Cherno Rachid". (...)

28 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3374: Controvérsias (8): Cherno Rachide Djaló: um agente duplo ? ( José Teixeira / Manuel Amaro / Torcato Mendonça)

 16 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3638: A história dos Tigres de Cumbijã, contada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gama (3): Jan 73: Com o Cherno Rachide, em Aldeia Formosa

(****) Sobre o Islão e a Guiné Portuguesa, vd. o texto, em linha, de Francisco Proença de Garcia > Os movimentos independentistas, o Islão e o Poder Português (Guiné 1963-1974).


(...) Tom Gallagher esclarece-nos sobre a posição das comunidades muçulmanas, face ao Poder Português, no período em análise (1963-74), na seguinte passagem:
 
“(...) Ironicamente, o Portugal católico encontrou aliados mais leais entre as tribos muçulmanas, tais como os Fulas, na Guiné-Bissau e os Macuas, em Moçambique, do que entre os grupos africanos educados nas missões, mais inclinados a juntar-se aos nacionalistas. O conservadorismo da sua estrutura social fazia das tribos muçulmanas os aliados preferenciais dos portugueses, que chegaram a enviar peregrinos a Meca e construíram mesquitas na Guiné-Bissau em paga do apoio dos chefes locais (...)”(...).


Neste quadro, convém lembrar que, de acordo com o Supintrep nº. 10 (“Populações da Guiné”) e com a opinião de diversos autores guineenses (...), o Poder Português utilizou os grupos étnicos islamizados por possuírem uma organização social com uma estrutura mais complexa do que a das etnias de religião tradicional, podendo mesmo falar-se de uma estrutura “vertical”, com um “Estado organizado”, com classes e poderes separados, de acordo com as suas condições económicas. Esta organização proporciona-lhes uma elevada coesão pela obediência fiel dos elementos das tribos aos chefes religiosos e políticos, que disfrutavam de uma notável importância e aceitação perante os seus, pelo que o apelo a estes auxiliares era “(...) uma condição sine qua non de uma vitória portuguesa face aos animistas (...)”

De acordo com o “Relatório de Serviço” (...), na antiga Província Portuguesa, de 16 de Junho de 1972, elaborado por Amaro Monteiro na sequência de missão determinada pelo Ministro do Ultramar, as linhas de articulação dos dignitários islâmicos, no âmbito interno e no contexto africano, eram:


1) Quanto à confraria Qadiriya:

Em Jabicunda, o dignitário mais destacado da confraria era Al-Hajj Mamadu Mutaré Suaré (Jacanca), que exercia influência de tipo polarizante em todo o território, na área de Bafatá, e externa, na Gâmbia e no Senegal, articulando-se, neste último, com o seu irmão Caranca Djura Suaré (Casamansa), em consulta numa plataforma de paridade, não excluindo certo acatamento ao mesmo. Fazia a dádiva recomendável devida ao destaque, na linhagem xerifina, ao “Xerife” Yussuf Haydara (de Casamansa), portador da “Baraka”, aparentado com os Haydara de Tombuctu (Mali) e articulado a Marrocos.

Por via de seu irmão, inseria-se na dependência própria dos quadros confraternais, articulando-se, assim, ao “Cheik” Sidaty Ould Talibouya, expoente máximo da Qadiriya no Senegal, cujo poder de accionamento se estendia à Gâmbia, Mali, Guiné-Conacry e Guiné Portuguesa. Este “Xerife” senegalês visitava todo o território, colectando. Apresentava-se, pela linhagem e atributos pessoais, como ultrapassando na sua missão o quadro estrito das confrarias, e fundia-se com o Rei Imã numa origem multissecular: “a Casa do Profeta”.

Em Bijine, o mais destacado elemento era Al-Hajj Almami Sidi Acassamo (Mandinga) que manifestava acatamento xerifino e se articulava com o dignitário de Jabicunda, já citado. Contudo, em caso de recurso do respectivo parecer ou decisão, articulava-se ao “Cheikh” Sidi Abu Ibrahimo, na Mauritânia (Boutilimit) e não com Caranca Djura Suaré; também fazia a dádiva recomendável ao Cheik Sidaty Ould Talibouya.

2) No tocante à confraria Tidjanya, dizia a mesma fonte:

Os dignitários islâmicos mais proeminentes eram Al-Hajj Cherno Rachid Djaló (futa-fula) de Aldeia Formosa (rebaptizada Quebo, após a independência), o Xerife Secuna Haydara (de linhagem xerifina) de Ingoré e, em Cambor, o Al-Hajj Cherno Mamagari Djaló (futa-fula).

Cherno Rachid apresentava, como figura tutelar, seu irmão Al-Hajj Califa Mamadu Cabiro Djaló com posição prioritária honorífica e consultiva, embora o autêntico poder de accionamento fosse detido pelo Cherno Rachid. Articulava-se em consulta ao Califa Abdul Azis Sy (em Tivouane, a NE de Dakar) e, suplementarmente, a Al-Hajj Seydou Nourou Tal do mesmo país (em Dakar), conselheiro governamental e “director de consciência” dos tidjanistas tocolores e guineenses.

Exercia influência religiosa interna do tipo polarizante em todo o território, nomeadamente na áreas de Fulacunda e Gabú (postos não especificados) e, externa, como consultor, no Senegal (Casamansa), na República da Guiné (pontos não especificados) e no Mali (Bamako). Manifestava acatamento xerifino do tipo idêntico ao dos pólos de Jabicunda e Bijine tendo, também, feito a dádiva recomendável ao Xerife Yussuf Haydara.

Em Ingoré, o Xerife Secuna Haydara pertencia a uma família originária de Marrocos (Fês) e efectuou os seus estudos em Tuba, na Guiné-Conacry. Apresentava-se com uma ambivalência confraternal, pois era dirigente tanto da confraria Qadiriya como da Tidjanya (note-se, caso único no território), para o que concorre a sua natureza xerifina.

Secuna Haydara também exercia influência interna de tipo polarizante (em toda a linha de S. Domingos a Farim) e externa, a título consultivo (Casamansa), sendo a sua articulação em posição de acatamento com Al-Hajj Cheikh Ibraimo Djabi e, a nível paritário, com o Cherno Rachid. Este dignitário era parente do Xerife Yussuf Haydara, a quem não fazia a dádiva recomendável.

Por fim, o dignitário de Cambor, Cherno Mamagari Djaló, foi iniciado na confraria Tidjanya, no Senegal, pelo Xerife Hakilo Haydara, a cujo irmão Yussuf fazia a dádiva recomendável e a quem consultava, recorrendo, só em última instância, ao Califa Abdul Aziz Sy. A sua influência religiosa, a nível interno, é de tipo polarizante, em Cambor e nas zonas limítrofes. No entanto, manifestou alguma rivalidade em relação a Cherno Rachid pela sua influência no Gabú. Ao nível externo, efectua consulta no Senegal (Casamansa), Gâmbia (área de Djadjaburé) e em Conacry (não especificado).

Procurámos na medida do possível actualizar, presencialmente, todos estes pólos articuladores e difusores do Islamismo no território. Assim, no que respeita à confraria Qadiriya, os principais centros continuam a ser Jabicunda e Bijine, aos quais acrescentamos entretanto Farim.

Em Jabicunda, o Almami Ansu Cissé exerce influência interna, de tipo polarizante, em toda a área de Bafatá e, externa, na Gâmbia e Senegal. Paga a dádiva recomendável a um “Xerife” senegalês, cujo nome não conseguimos apurar. Os dignitários de Bijine Ualió Quntchumba Faty e Al-Hajj Koba Gassama (...), e Farim, Arafan Bacari Touré, respectivamente, todos com acatamento xerifino, articulam-se com o dignitário de Jabicunda, já referido.

No que se refere à confraria Tidjanya, Cambor é, presentemente, o maior pólo de difusão, sendo ainda dignitário Al-Hajj Ualió Mamagari (...) (portador de “Baraka”), considerado “Homem Grande” em todo o território; exerce influência de tipo polarizante no mesmo território, a nível interno, e externamente na Guiné-Conacry, Senegal, Gâmbia, Mali e Mauritânia (...).

Em Quebo, o dignitário islâmico mais proeminente é Al-Hajj Amadú Dila Djaló, filho de Cherno Rachid. Manifesta acatamento ao Xerife de Fês, Tidjani Hajj Zambir, filho de Sidi Al-Hajj Bensalem a quem faz a dádiva recomendável. Exerce influência religiosa interna, de tipo polarizante, na região de Quebo e, externa, como consultor, na Guiné-Conacry e no Senegal. Quanto a consulta, articula-se, tal como seu pai, ao Califa Abdul Azis Sy (nascido em 1904).

Este dignitário foi iniciado na confraria Tidjanya em Tivaouane, no Senegal. Completou os seus estudos no Egipto e efectuou diversas vezes peregrinações a Meca. Salientamos que este dignitário é deputado pelo PAIGC, na Assembleia Nacional Popular.

Ingoré, última fronteira guineense antes de Casamansa (...), continua a ser um grande pólo de difusão do Islamismo (permanece a bi-valência qadirista-tidjanista).

Aos centros tradicionais do território, acrescentamos o pólo de Sinchã Santa Mansata (Canhamina), onde Al-Hajj Umarú, com formação no Egipto e amigo próximo de Hassan II (segundo faz crer), construiu aquela que é considerada a maior mesquita da Guiné-Bissau.

Na perspectiva de Amaro Monteiro, se “(...) accionadas de Sul para Norte N ondas de subversão metódicas apontando às credibilidades e às sedes geografico-culturais dos dignitários xerifinos, o mecanismo de comunicação visado, rarefeitas as respectivas bases de sustentação (...)”(...), reagiria em sentido inverso, ou seja, se se projectarem, numa carta, todas as articulações confraternais e as linhagens xerifinas, verifica-se que estas teriam muito provável coincidência com os itinerários/focos de violência ou de desestabilização, que, em última análise, visariam o Rei Imã. Caso aquele entrasse, hipoteticamente, em colapso, provocaria o “(...) «curto circuito» dos mecanismos de comunicação sócio-religiosos (...)”(...), no referido sentido geográfico e, claro está, forte trauma nos pólos articuladores das confrarias Qadiriya e Tidjanya.

O Poder, ontem (o português) como hoje (o guineense), apercebendo-se de que não se pode alhear da importância muçulmana no território (...), que não pode ignorar o seu dinamismo por vezes encarado como concorrente da política externa do Estado, procura, por exemplo, custeando as despesas com a peregrinação a Meca (...) de personalidades destacadas da comunidade islâmica e com a construção de mesquitas, ganhar alguma autoridade, ou melhor, tenta obter, ou continuar a obter, os favores dos muçulmanos, sobretudo, importantes numa altura em que o mundo islâmico - pela mão do integrismo - assume uma importância política inusitada e que convém esconjurar.

Porém, o Estado laico dificilmente penetra no campo religioso. Aquilo que dá força ao Islão, nomeadamente ao Islão popular, é o facto de este representar, pelo menos em princípio, uma contra-sociedade, ou seja, uma sociedade paralela, que escapa por natureza ao poder do Estado (...). Assim, o Estado procura o aproveitamento pragmático dos muçulmanos, pois as respectivas características culturais são susceptíveis de, se bem exploradas, em termos de Apsic, reforçar ou constituir uma consciência nacional.

Em 1985, criou-se em termos oficiais a Associação Islâmica (presentemente presidida por Al-Hajj Sori Sow), sediada na capital agrupando todas as confrarias e comunidades espalhadas pelo país. Esta fórmula coordenadora faculta ao Islão o benefício do reconhecimento oficial, ao mesmo tempo que permite às autoridades governamentais “(...) transformar as estruturas muçulmanas em verdadeiras instituições paralelas do regime (...)”(...).

Aquela associação dispõe de um importante papel nas relações externas das comunidades muçulmanas nacionais, visto que é ela a encarregada de regularizar os contactos culturais e religiosos com o mundo árabe e de atrair capitais.

Após as primeiras eleições multipartidárias, em 3 de Julho de 1994, também as associações islâmicas proliferaram, contando-se presentemente no país mais cinco associações: a União Nacional para a Cultura Islâmica (1991), a Al Ansar (1992), com maioria de associados Mandingas; o Instituto Islâmico para o Desenvolvimento, que agrupa Fulas e Mandingas (1993); o Comité de Redacção e Tradução, que agrupa, essencialmente, Fulas (1994); e a Organização Islâmica, Cultura e Desenvolvimento, cuja maioria de associados é de Mandingas (1995).

Para eficiente accionamento da população, quer uma subversão quer uma contra-subversão necessitam de adequado conhecimento dos mecanismos informais de comunicação; nestes, o vector sócio-religioso desempenha, na África Negra, elevada importância, potencializada em terrenos humanos como o da Guiné pela impressiva presença de massa muçulmana. Uma guerra de semelhantes características globais ultrapassava obviamente a área de acção habitual das Forças Armadas. Assim, a resposta portuguesa para obstar “(...) à guerra global que a ela condicionava os actos da política (...)”(...) requerer-se-ia também geral, ou seja, em todas as “frentes”, por acções oportunas e estreitamente coordenadas nos campos social, político, militar e psicológico, como veremos no próximo capítulo e aliás desde já se vem inferindo. (...)

domingo, 3 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5583: Memória dos lugares (62): Trocando roncos com o PAIGC em Aldeia Formosa, em Agosto de 1974... (Fernando Costa)


Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > CCS/BCAÇ 4513 (1973/74) > Agosto de 1974 > No dia da entrega do aquartelamento ao PAIGC... O Fernando Costa (*), entre dois guerrilheiros, posando para a fotografia com uma metralhadora ligeira que me parece ser uma  PSSH, mais conhecida por "costureirinha"... (LG).

Fotos: © Fernando Costa (2009). Direitos reservados.


Guiné > Região deTombali > Aldeia Formosa > CCS/BCAÇ 4513 (1973/74) > Agosto de 1974 > Uma peça de fardamento do PAIGC, de cor castanha, com botões metálicos, dourados, trocada por um camuflado entre um guerrilheiro e o Fernando Costa.

"No dia em que foi feita a substituição das NT pelas do PAIGC no quartel de Aldeia Formosa, pedi a um guerrilheiro que fizesse a troca de uma farda dele por um camuflado meu.

"Assim, guardei até hoje para servir de ronco,  ou seja,  recordação dos tempos em que as tropas portuguesas lutaram contra aqueles que nos substituíram no terreno.

"Há muita gente que diz que foi "entregar o ouro ao bandido", eu não partilho dessa opinião, mas acho que muita coisa poderia ter sido feita com mais dignidade para com aqueles que lá deixaram parte de si, para não falar dos que não chegaram a regressar.

"Não guardo rancores, guardo sim boas ou más recordações. Fernando Costa, ex-Furriel Mil, CCS/BCAÇ 4513, 1973/74"
___________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 25 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5160: Tabanca Grande (182): Fernando Silva da Costa, ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, 1973/74)

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5489: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (18): Coincidências ou não, amigo e camarada Pires ? (Fernando Costa, CCS/BCAÇ 4513, Aldeia Formosa, 1973/74)

1. Mensagem de Fernando Costa, ex-Fur Mil Trms, CCS/BCAÇ  4513 (Aldeia Formosa, 1973/74) (*)

Assunto - Mais uma história com final feliz.

Através da Tabanca Grande fui contactado pelo nosso camarada Carlos Cordeiro,  também leitor assíduo do Blogue, com o fim de trocarmos informações que lhe interessavam para um estudo que está a realizar nos Açores, local onde reside e é professor universitário.

Num dos mails por mim enviados, dei a indicação que um Furriel de Transmissões do meu batalhão ,o BCaç 4513,  era açoriano e do qual só sabia o nome que lhe transcrevi.

No dia seguinte recebi a resposta com um possível contacto pois ele tinha encontrado na lista telefónica um nome idêntico e presumia ser a mesma pessoa.

De imediato liguei para os Açores à procura do Furriel Pires, e na realidade quem me atendeu foi o próprio.

Pelo que me disse nunca mais tinha tido qualquer tipo de contacto com pessoal do 4513. Foi como calculam uma grande alegria para ambos este encontro mesmo que telefónico.

E agora começam as coincidências, ou não:

(i) O nosso camarada Carlos Cordeiro quando abriu a primeira lista telefónica, fê-lo precisamente na página onde estava o nome pretendido;

(ii) O Pires era como eu Furriel de Transmissões;

(iii) Também pertencíamos à mesma Companhia;

(iv) Dormíamos no mesmo quarto;

(v) Como civis,  fomos ambos funcionários do Banco Comercial Português [BCP];

(vi) Actualmente estamos os dois reformados.

É demais.

E tudo isto porque existe um blogue onde os antigos combatentes se podem cruzar 35 anos depois.

Obrigado a todos que nele colaboram.

Fernando Costa
Ex-Fur Mil Trms

______________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 25 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5160: Tabanca Grande (182): Fernando Silva da Costa, ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, 1973/74)

domingo, 15 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5278: Estórias avulsas (58): Constituição de um Batalhão de Caçadores, por especialidades e nº de efectivos (Fernando Costa, BCAÇ 4513)


Pegando num típico batalhão de caçadores, como o BCAÇ 4513, conclui-se que num total de 567 homens, 57% tinham a especialidade de atiradores... As oito principais especialidades de apoio (condutores auto, pessoal de trasmissões e afins, alimentação e cozinha, sapadores, serviço geral - incluindo escriturários -, mecânicos auto e afins, corneteiros e serviços de saúde) representavam, só por si, 35% do total... Um em cada dez era condutor auto...

Infogravura: © Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné (2009). Direitos reservados

1. Mensagem enviada pelo novo Camarada Fernando Costa, ex-Fur Mil Trms da CCS do BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, 1973/74), em 14 de Novembro de 2009 (*):
Camaradas,
Já alguma vez pensaram em como eram constituído um batalhão de caçadores, quer no número de homens, quer por especialidades?
Esta noite fiz um pequeno exercício de pesquisa, sobre os números do meu batalhão, e aqui está o resultado:


Obs - Clicar duas vezes, em cima da imagem, para ampliar

Fernando Costa
Fur Mil Trms
2. Comentários de EMR / LG:
Trabalho notável, Fernando. Não tinha ideia tão precisa das inúmeras "competências" reunidas num batalhão... Fizeste o apuramento estatística, em Excel, baseado no teu batalhão ... Difícil é publicar isto direitinho, em html... O blogue só suporta documentos em formato txt ou doc, bem como imagens (jpg, gif...). Uma solução seria pôr isto em power point... Acabaste por mandar em jpg, obrigando a ampliação... O gráfico que publicamos permite comparar os operacionais com o pessoal de apoio: os primeiros representavam apenas 57% do total...
Um abraço. Obrigado
__________
Nota de M.R.:
Vd. último poste do mesmo autor em:

4 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5205: Convívios (172): 1º Convívio do BCAÇ 4513, 8 de Dezembro - Mealhada (Fernando Costa)



(*) Vd. último poste da série em:


11 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5252: Estórias avulsas (57): Funeral de 'homem grande', refeição melhorada... da tropa (José M. Ferreira)

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5205: Convívios (174): 1º Convívio do BCAÇ 4513, 8 de Dezembro - Mealhada (Fernando Costa)



1. Mensagem enviada pelo novo Camarada Fernando Costa, ex-Fur Mil Trms da CCS do BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, 1973/74) (*):


1º CONVÍVIO
BCAÇ 4513

Subunidades: 1ª Cia (Buba). 2ª Cia (Nhala), CCS e 3ª Cia (A. Formosa)

Os ex-Combatentes do Batalhão de Caçadores 4513 - Guiné, (Aldeia Formosa, Buba e Nhala), vão realizar um almoço convívio no próximo dia 8 de Dezembro, na Mealhada.

Queremos ter o maior número possível de elementos das quatro companhias.

Para que tal aconteça, inscreve-te e passa a informação a outros camaradas de que possuas qualquer contacto.

As inscrições estão a cargo do Jaime Ramos (Ex-Fur Mil da 3ª Cia).


Abraço,
Fernando Costa
Fur Mil Trms
__________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5196: Carta de despedida e conforto aos pais, do Ten-cor Andrade e Sousa, BCAÇ 4513, Aldeia Formosa, 1973/74 (Fernando Costa)

1. Mensagem de ontem, enviada pelo novo membro da Nossa Tabanca Grande, Fernando Costa, ex-Fur Mil, Trms, CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, 1973/74) (*):

Amigo Luís Graça,

Aos dias 27 de Fevereiro de 1973, o Comandante do Batalhão de Caçadores 4513, Tenente-Coronel de Infantaria César Emílio Braga de Andrade e Sousa, escreveu para os familiares dos militares que compunham este batalhão, uma carta de conforto e de esperança.

No passado dia 31 de Outubro de 2009, passados portanto mais de 35 anos de eu ter regressado da Guiné, a minha mãe fez-me a entrega da mesma.

Depois de a ler, tomei a liberdade de a partilhar convosco, tendo a consciência que nem todos tiveram este gesto da parte dos vossos comandantes.

Com um abraço de camaradagem

Fernando Costa
Ex-Furriel Miliciano



2. Comentário de L.G.:

Um documento raro e surpreendente: o comandante de batalhão, César Emílio Braga de Andrade e Sousa (que já terá morrido), escreve um carta de despedida aos pais dos seus homens, na véspera do embarque...

Como classificar este documento, que me parece único e quiçá ancrónico ? Uma "carta de conforto e de esperança", como lhe chama o Fernando Costa, cujos pais também receberam um exemplar desta epístola ? Gesto nobre e sincero de um oficial e cavalheiro ? Exemplo da cultura do autoritarismo paternalista do Estado Novo ? Demagogia pura e simples ? Acto de hipocrisia social e de cinismo ? Um português e militar de antanho, usando um estilo epistolar do Séc. XIX ? Um caso excepcional mas bonito que honra as Forças Armadas Portugueses ?...

Ao nosso leitor, é que compete decidir, comentar, opinar... Ao Fernando, o nosso muito obrigado por ter conseguido recuperar este e outros documentos do seu tempo de "último guerreiro do Império"...

O BCAÇ 4513 teve as suas subunidades espalhadas por Buba (1ª CCAÇ), Nhala (2ª CCAÇ) e Aldeia Formosa (CCS e 3 ª CCAÇ), segundo informação do Jaime Ramos... (LG)

[Revisão / fixação de texto / transcrição / edição: L.G.]




Regimento de Infantara nº 15. Tomar, 27 de Fevereiro de 1973.




Exmo Senhor,


Desejaria ter escrito por meu punho e individualmente aos familiares mais próximos, e muito particularmente aos Pais, de tantos quantos comigo vão partir para o Ultramar constituindo o Batalhão de Caçadores 4513. Tal foi materialmente impossível, forçando-me a recorrer ao único processo viável, pois admiti e contei que a vossa benevolência lhes permitiria compreender e desculpar a forma como concretizo este intento.

É meu único e firme propósito, dada a vossa qualidade de Pais, tentar minorar-lhes o desgosto da próxima separação do vosso filho, procurando com todos os meios ao meu alcance descansá-los em tudo e em tanto quanto meus préstimos possam alcançar e ser-lhes útil. Apraza a Deus que seja capaz de encontrar as palavras necessárias e que a minha consciência me exige.




Primeiro que tudo e a partir deste preciso instante, podem ficar certos que neste Batalhão tudo se fará para que o vosso filho se sinta dentro dele como numa sã e autêntica família, que a todo o custo procurará substituir - os seus próprios PAIS - não com uma amizade tão grande por tal ser impossível, que não permitirá poupar-nos seja a que esforços forem, para que dentro de tudo que esteja ao nosso alcance, nada lhe falte, levando-o a sentir que na sua Unidade tem sempre quem lhe queira com toda a alma e coração.
O vosso filho, e meu Soldado, será a meus olhos alguém que me diz muito e a quem oferecerei com todo o entusiasmo o melhor que seja capaz de encontrar em mim, incluindo, claro, a minha amizade, a que já tantos direitos tem. Isto é algo que só nós, SOLDADOS de Portugal, sentimos e compreendemos, mas admito que alguém na vossa família lho possa provar melhor do que eu, pois certamente que, entre vós, alguém passou pelas fileiras das Forças Armadas e sentiu ou se apercebeu do que acabo de afirmar.

Outro ponto que desejo focar, é que os Senhores não necessitarão seja de quem quem for para saberem ou para que melhor se cuide do vosso filho, pois estarei sempre a atendê-los e servi-los, logo que se me dirijam. Ele próprio lhes dirá como escrever-me para o Ultramar onde ficarei à vossa inteira e absoluta disposição.




Aproveito a oportunidade, apesar de certamente ser do vosso pleno conhecimento, de lhes lembrar que, na maioria esmagadora dos casos, o homem aos 20 anos conserva ainda muito de criança que há pouco deixou de ser e precisamente por isso carece inúmeras vezes do conselho experiente e amigo de seus PAIS, para que não proceda de forma que haja, ou possa ter que ser punido.
Penhoradamente solicito a vossa valiosíssima ajuda neste campo pois ele poderá evitar, a todos nós, sérios desgostos e contrariedades. Não tenho dúvidas que se contar com ajuda o Batalhão voltará sem que tenha sido necessário aplicar o Regulamento de Disciplina Militar, o que sem dúvida nos dará imensa alegria e, seja-me permitido, orgulho, pelo menos no que me diz respeito.

Para terminar desejo ainda informá-los que todos os Senhores Oficiais e Sargentos que comigo orientarão a Unidade e suas Companhias estão animados dos mesmos propósitos, o que me parece que melhor lhes garantirá a certeza - nomeadamente às MÃES com o inconfundível e entusiástico amor - que o vosso filho encontrará sempre à sua volta um grupo de graduados que muito o estimam, e que tudo vão fazer para o devolver ao vosso lar como um homem de carácter, são e glorioso, e um SOLDADO que soube servir PORTUGAL, honrando o nome que usa e o dos Pais que tão bem o souberam criar e educar.

Para vosso e meu descanso gostaria que junto de vós residisse alguém que tivesse pertencido à Companhia de Caçadores 454 - ANGOLA - ou BCAÇ 2836 - MOÇAMBIQUE- , pois seriam esses filhos de outros pais, que melhor os poderiam descansar e explicar o que desejei ser capaz de lhes transmitir se a tanto me tivessem ajudado as palavras que me ocorreram. Como receio não ter essa felicidade, empenho perante vós a palavra do Soldado que desejo e procuro ser, a de português que sempre me senti, e a do PAI que também sou, que vosso filho terá em meu coração um lugar quase tão grande como se fosse da minha própria família.

Que aos Senhores e ao vosso filho tudo corra bem e que dentro em pouco tempo seja ele próprio que junto de vós comprove tanto quanto acabo de vos afirmar.

Por Portugal, para todos nós e especialmente para vós as maiores felicidades.






__________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de:

25 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5160: Tabanca Grande (182): Fernando Silva da Costa, ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, 1973/74)

2 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5193: Memória dos lugares (50): Aldeia Formosa, BCAÇ 4513: A última visita do Gen Bettencourt Rodrigues (Fernando Costa)

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5193: Memória dos lugares (50): Aldeia Formosa, BCAÇ 4513: A última visita do Gen Bettencourt Rodrigues (Fernando Costa)

Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > s/d [1973?] > BCAC 4513 > A última visita do Com-Chefe e Governador Geral Bettencourt Rodrigues (de costas, de camuflado, à direita, recebendo honras militares)

Foto: © Fernando Costa (2009). Direitos reservados


1. Mensagem do Fernando Costa, ex-Fur Mil Trms, CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Março de 1973/Setembro de 1974) (*):

Caros amigos,

Volto ao vosso contacto para enviar uma foto onde aparece o Cmdt das Forças Armadas da Guiné, General Bettencourt Rodrigues (**), naquela que foi a última visita a Aldeia Formosa. Os militares que estão a fazer a guarda de honra, são do BCaç 4513. Esta foto, se assim o entenderem, pode ser incluída com as que se encontram no poste P5160 (***).

Um forte abraço, Ex-Furriel Mil Fernando Costa

2. Comentário de L.G.:

Ligou-me esta noite o Fernando, e tivemos uma longa conversa ao telefone. É um homem das Arábias, o novo membro, alfacinha, da nossa Tabanca Grande. Imaginem que ele, para além das chefe das transmissões em Aldeia Formosa (na ausência do Alferes da CCS que ficou no bem-bom de Bissau, a tomar conta das antenas das telecomunicações...), foi um homem dos sete ofícios... E sobretudo foi músico, chegou a acompanhar a Cilinha, que tinha a mania que sabia cantar o fado, nas visiats aos quartéis do sul... Pedia ter ficado em Bissau, ligado à Ra´+dio, ams não ficou pior cuasa do Alferes.

O Fernando Carvalhinho, um homem do fado, foi soldado, também de transmissões, na CCS do BCAÇ 4513... São muito amigos e o Fernando tem um excelente álbum fotográfico da Guiné. Eles ainda são do tempo de Spínola, que visitou duas vezes Aldeia Formosa. Numa delas, o Caco Baldé veio expressamente para dar uma porrada num 1º cabo de uma das companhias do Batalhão... Com o pessoal formado e alinhado na parada, rapou de um papel e chamou o cabo. Quando este compareceu perante o velho general, arrancou-lhe as divisas e deu-lhe dois pares de estalos...

O Bettencourt terá ido, uma vez, no fim de 1973 ou princípio de 1974... Tiha lá um sobrinho, madeirense. O Fernando já não se lembra do Cherno Rachide Djaló, que deve ter morrido antes da CSS do BCAÇ 4513 ter chegado Aldeia Formosa, em Março de 1973 (uma figura respeitada do Islão, de etnia futa-fula, já aqui evocado diversas veses, por mim, pelo Manuel Amaro, pelo Torcato Mendonça, e de quem já se disse tanta coisa, a de que inclusivamente teria sido um 'agente duplo', jogando com um pau de dois bicos...). O Fermando lembra-se, sim, de uma filha e eventualmente de um filho do grande marabú, que tinham uma loja na tabanca... A filha, que privada muito com a malta da tropa, terá já morrido, de doença prolongada, em Espanha.

Quanto à entrega do quartel ao PAIGC, em meados de Agosto, o Fernando tem muitas histórias - e algumas bem divertidas! - para nos contar...

O Fernando, que se reformou como bancário do BCP (pertenceu ao núcleo dos 100 primeiros colaboradores, e privou com o Jardim Gonçalves), conhece meio mundo (além da Europa, a África, a Austrália...). Antes de ir para a tropa, aos 17 anos, tocava numa orquestar ligeira em Moçambique, tendo acompanhado a Amália. Foi, naturalmente, um homem da noite, aqui, em Lisboa e em África. Em Bissau, frequentavam o Chez Toi onde chegou a encontrar miúdas, suas conheidas, de Lisboa, que eram contratadas para uma temporada... Afinal, não foram só os homens a fazer comissões de serviço em África... Foi também árbitro e dirigente federativo, a nível do futebol de salão ou Futsal... Tem um filho cineasta, que é também professor na Lusófona, logo colega do nosso Jorge Cabral.

Mas eu não vou adiantar mais (in)confidências... Percebo que ele goste mais de falar do que escrever, mas já se comprometeu a mandar mais fotos e mais histórias dos últimos tempos da guerra da Guiné... Boa noite, camarada Fernando, sou um prazer conhecer-te e ouvir-te ao telefone. Fico para já à espera de duas coisas que e prometeste: (i) fotografia (digitalizada) da farda nº 2, com botões dourados, que sacaste a um guerrilheiro do PAIGC em Agosto de 1974; (ii) e a cópia da carta que o teu tenente-coronal (Sacadura qualquer coisa) mandou aos pais da rapaziada, antes oara partida para a guerra, a explicar que ficava a tomar conta deles todos e que iria fazer tudo para os trazer de volta, sãos e salvos (!)... (Olha, acho isto bonito!)...

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Notas de L.G.:

(*) Ultimo poste da série Memória dos Lugares > 17 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5119: Memória dos lugares (49): Xime, Madina Mandinga, Bafatá e Nova Lamego- (Alfredo Dinis)

(**) GENERAL JOSÉ MANUEL BETTENCOURT RODRIGUES:

(i) Nasceu no Funchal em 5 de Junho de 1918;

(ii) Frequentou o Liceu de Pedro Nunes, em Lisboa.

(iii) Frequentou os preparatórios militares na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa;

(iv) Foi admitido ao Curso de Infantaria da Escola do Exército que terminou em 1939, como primeiro classificado;

(v) Concluiu o Curso de Estado-Maior com a classificação de Distinto em 1951;

(vi) 17 anos mais tarde, após a frequência do Curso de Altos Comandos, no qual teve a classificação de Muito Apto, é promovido a Brigadeiro;

(vii) Em 1972 é General.

(viii) Em 21 de Setembro de 1973 tomou posse como Novo Governador e Comandante-Chefe do CTIG, nomeado em substituição do carismático General Spínola (que cessara funções a 6 de Agosto).

(ix) Foi preso, no 26 de Abril de 1974, na Amura, pelos seus subordinados que faziam parte do MFA:

"(...) no dia 26 de Abril, onze oficiais dirigiram-se ao Gabinete do General Comandante e exigiram a sua demissão e o regresso a Lisboa. Foi um acto pacífico, civilizado, mas dramático. Com o General vieram também alguns oficiais que se lhe solidarizaram, nomeadamente o Brigadeiro Leitão Marques que o MFA julgava poder contar para o substituir".

Eis a lista dos oficiais revoltosos: Ten Cor Mateus da Silva, Eng Trms; Ten Cor Maia e Costa, Eng; Maj Folques, Cmd; Maj Mensurado, Pára; Cap Simões da Silva, Art; Cap Sales Golias, Eng Trms; Cap Matos Gomes, Cmd; Cap Batista da Silva, Cmd; Cap Saiegh, Cmd (Africano), Cap Ten Pessoa Brandão, Armada; Cap mil José Manuel Barroso.


Sobre este episódio escreveu Pezarat Correia:

(...) "Começo por dizer que tenho consideração pelo general Bettencourt Rodrigues, apesar do abismo ideológico que nos separa. Espero ainda escrever a explicar porquê. Evidentemente que teria gostado que ele, em 25 de Abril de 1974, tivesse aderido, mesmo que não ao MFA, pelo menos à JSN. Mas, como diz o Matos Gomes no comentário anterior, não lhe era possível, porque a rede política do Estado Novo o tinha apanhado. Mas tenho a certeza, até porque já falei sobre isto com muitos camaradas do MFA da Guiné, que a dignidade com que o Golias aqui se lhe refere, está na linha da dignidade com que o trataram na Guiné" Comentário por Pezarat Correia em 2007-10-18 10:12:04. Blogue Avenida da Liberdade

(x) Por despacho da Junta de Salvação Nacional, passou à situação de Reserva em 14 de Maio de 1974.

(xi) Outras das suas principais missões e colocações: Professor e Director dos Cursos de Estado-Maior; Chefe de Estado -Maior do Quartel-General da Região Militar de Angola; Comandante da Zona Militar Leste de Angola... Foi também Comandante do Regimento de Artilharia 1.

(xii) Exerceu, ainda, as funções de Adido Militar e Aeronáutico junto da Embaixada de Portugal em Londres e de Ministro do Exército (1968/1970). Foi nomeado para o Centro de Comando e Estado-Maior do Exército Americano, no Com-mand and General Staff College Fort Leavenworth, Kansas (1953).

(xiii) Condecorações: Medalha de Ouro de Valor Militar com palma; Medalha de Ouro de Serviços Distintos com palma e Grã-Cruz da Medalha de Mérito Militar.

(xiv) É co-autor, juntamente com os generais J. da Luz Cunha, Kaúlza de Arriaga e Silvino Silvério Marques, do livro de depoimentos África, Vitória Traída (Intervenção, 1977).

Vd. Também o sítio Guerra Colonial > Protagonistas > Bettencourt Rodrigues

(***) Vd. 25 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5160: Tabanca Grande (182): Fernando Silva da Costa, ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, 1973/74)