Mostrar mensagens com a etiqueta Fortaleza da Amura. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Fortaleza da Amura. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14211: Memória dos lugares (285): Fortaleza da Amura, estátua de Diogo Gomes, ponte cais de Bissau e edifício da Alfândega (Arménio Estorninho / Agostinho Gaspar / António Bastos)


Guiné > Bissau > c. 1970 > Fortaleza da Amura, ao fundo,  vista da ponte cais


Guiné > Bissau > c. 1970 > Muralhas da fortaleza da Amura (aldo sul), junto à avenida marginal; do aldo direito (não vísível da imagem) a praça de Diogo Gomes (navegador português do séc. XV)

~
 Guiné > Bissau > c. 1970 > Praça e estátua de Diogo Gomes frente à ponte cais de Bissau... Ao fundo, muralhas da fortaleza da Amura. Segundo Ana Vaz Milheiro, especialista em arquitetura colonial do Estado Novo, o pedestal (agora vazio) da estátua do Diogo Gomes ainda lá está, tal como a inscrição, um exerto do canto VII dos Lusíadas, "Mais mundo houvera"... O pedestal é obra do Gabiente de Urbanização do Ultramar. A estátua (removida para o forte do Cacheu) deve ser da autoria do escultor Joaquim Correia, autor de monumento análogo que ainda hoje está de pé na cidade da Praia, Cabo Verde. Esta e outras estátuas (Honório Barreto, Nuno Tristão, Teixeira Pinto) faziam parte de "um escrupuloso programa de 'aformoseamento' do espaço público", integrado nas comemorações do 5º centenário do desembarque de Nuno Tristão. na altura do governo de Sarmento Rodrigues (1945-48). No entanto, a colocação das estátuas destas figuras históricas da colonização só será efetuada na segunda metade da década de 1950 [Vd. Ana Vaz Milheiro - 2011, Guiné-Bissau. Lisboa, Círculo de Ideias, 2012. (Coleção Viagens, 5), pp. 32-33].




Guiné > Bissau > Fortaleza da Amura > c. 1970 > Vista do lado sul, ou seja, do Rio Geba. Entre o rio e a Amura ficava a praça de Diogo Gomes (com a respetiva estátua do navegador da casa do Infante Dom Henrique, tal como Nuno Tristão) e o porto de Bissau (à direita o cais do Pidjiguiti, não vísível na imagem,  e à esquerda a ponte-cais de Bissau onde muitos de nós desembarcámos...).

Fotos do álbum de Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, IngoréAldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70.

Fotos: © Arménio Estorninho (2015). Todos os direitos reservados [Edição: LG]



Guiné > Bissau > s/d > Vista aérea da Ponte Cais, e de parte da zona ribeirinha da Bissau Velha: à direita o edificio da Alfândega, em frente a praça e a estátua de Diogo Gomes e portão de armas e as muralhas (lado sul) do forte de São José da Amura (, coberto de seculares poilões)... Do lado esquerdo (e já não visível na imagem) ficava o cais do Pidjuiguiti.

A ponte-cais do porto de Bissau  (obra emblemática do governo de Sarmento Rodrigues, re,omtando o início das obras a julho de 1948) é inaugurada em 1953 por Raúl Ventura, subsecretário de estado do Ministério do Ultramar, sendo Sarmento Rodrigues ministro da tutela.

Pormenor de: Bissau. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 119" . (Edição Foto Serra, COP 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte - Publicações e Artes Gráficas, SARL).


Guiné > Bissau > s/d > Vista  da ponte-cais (ou porto) de Bissau, a partir da praça Diogo Gomes).

Pormenor de: Bissau. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 119" . (Edição Foto Serra, COP 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte - Publicações e Artes Gráficas, SARL).

.
Guiné > Bissau > s/d  [c. 1960/70] > Pormenor de monumento a Diogo Gomes (às vezes confundido com Diogo Cão) e Edifício das Alfândegas > Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 136". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal).


Colecção do nosso camarada, natural do concelho de Leiria, Agostinho Gaspar (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72,  Mansoa, 1972/74),





Guiné > Bissau > s/d > Edifício da Alfândega. Cortesia de Instituto de Investigação Cientifica Tropical, Arquivo Histórico Ultramarino [Calcada da Boa-Hora, nº 30. 1300-095 Lisboa Portugal].  Foto editada por LG.

[Embora o edifício seja estadonovista, e seguramente da autoria de um arquiteto do Gabinete de Urbanização do Ultramar, não sei quem ele é, nem em que data exata foi construído. Pode ser que algum leitor nos ajude... Vd. Milheiro, Ana Vaz, e Dias, Eduardo Costa - A Arquitectura em Bissau e os Gabinetes de Urbanização colonial (1944-1974). usjt - arq urb , nº 2, 2009 (2º semestre), pp.80-114 [Disponível aqui em pdf ]

O nosso camarada Mário Dias que acompanhou o progresso de Bissau,nos anos 50, na época pós-Sarmento Rodrigues, faz explicitamente referência ao edifício da Alfândega, sito na nova zona portuária: "Outras obras importantes para o progresso de Bissau foram realizadas. As novas instalações da Alfandega e armazéns portuários junto à nova ponte cais, o novo hospital, (hoje Simão Mendes), a nova estação dos correios, renovação de toda a iluminação pública, abertura de novas ruas e avenidas, o quartel dos bombeiros, o novo cinema da UDIB, a sede do Benfica, a sede da Associação Comercial (hoje do PAIGC) e demais realizações que estavam, embora lentamente e com muito atraso, a trazer Bissau para a 'civilização' ".









Cortesia de Vd. Milheiro, Ana Vaz, e Dias, Eduardo Costa - A Arquitectura em Bissau e os Gabinetes de Urbanização colonial (1944-1974). usjt - arq urb , nº 2, 2009 (2º semestre), pp.80-114 [Disponível aqui em pdf ] (Como se vê da figura acima, o edifício da Alfândega é um dos que não está ainda datado...)



Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho, com as ruas rebatizadas pelo PAIGC > 1975 > Planta da cidade > Localização de: (i) fortaleza da Amura; (ii) cais do Pidjiguiti (à esquerda); e (iii) porto de Bissau (à direita)... Alguns camaradas confundem, por vezes, a ponte-cais de Bissau com o cais do Pidjiguiti (para sempre associado aos acontecimentos de 3 de agosto de 1959)..

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015)




Guiné-Bissau > Regão de Cacheu >Cacheu > 3 de Março de 2008 > A estátua de Diogo Gomes, agora em depósito na antiga fortaleza portuguesa do Cacheu...


Foto: © António Paulo Bastos (2009). Todos os direitos reservados [Edição: LG]

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14201: Os nossos regressos (33): Ficámos na Amura, a aguardar embarque no Uíge... Partimos para Lisboa em 30 de outubro de 1968 (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

1. Texto enviado pelo Mário Gaspar [ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68), autor do livro de memórias "O Corredor da Morte" (Lisboa, 2014)], enviado a 13 do corrente:


Caros Camaradas da Tabanca Grande

A Companhia de Artilharia 1659 (CART 1659), com o lema “Os Homens não Morrem”, foi rendida pela CART 2410, penso que em 20 de Outubro de 1968. Rumámos a Bissau, do mesmo modo como chegáramos a 19 de Janeiro de 1967, quando rendemos a Companhia de Caçadores 798, na LDM e no Batelão. Para eles era a alegria do fim da comissão. Saíam já outras viaturas com os militares da Companhia rendida, que gritavam sorridentes em altíssimos berros:
- Salta periquito, salta periquito…

Pouco ou nada lembro da viagem para Bissau. Parece mais que o regresso não existiu, e que eu fiquei lá nas matas e nas bolanhas da Guiné.Não me recordo de ter tirado fotografias, na lancha em que segui para Bissau, mas elas existem e estavam num rolo da minha máquina fotográfica Canon, e estão aqui.






Guiné > Outubro de 1968> LDM  > Viagem Gadamael-Bissau  > Na LDM, de regresso a Bissau: o  meu Pelotão, estou de tronco nu e lenço no pescoço, na segunda fila a contar de baixo.




Guiné > Outubro de 1969 > LDM  > Viagem Gadamael-Bissau > A minha secção, sou o terceiro de cima





Guiné > Bissau > Outubro de 1968 > Eu, no Forte da Amura, a muitos poucos dias de embarcar no Uíge




Guiné > Bissau > Praça do  Império > Monumento Ao Esforço da Raça > Outubrod e 1968 > Eu, Mário Gaspat, aguardando o regresso


Lembro-me sim de chegar a Bissau, de entrarmos em viaturas. Fizemos muito barulho, cantámos, também a Marcha da Companhia, querendo acordar Bissau. Ficámos aquartelados no Forte da Amura. Ficámos a fazer todos serviços inerentes ao posto de cada um. Tínhamos os dias livres, e procurávamos comprar algumas prendas para oferecer aos nossos familiares quando do regresso, tão desejado, a casa. Dali, seria Lisboa o destino. As esplanadas estavam cheias, e enquanto conversávamos uns com os outros, íamos bebendo umas cervejas, normalmente algumas mesas na esplanada enorme do Hotel Portugal.




Guiné > Bissau >Outubro de 1968 > A dias do embarque de regresso, na esplanada do Hotel Portugal


Era o nosso local de encontro. Falava-se só de guerra. Nós acompanhávamos toda a situação de guerra em toda a Guiné. Até viemos a saber que a Companhia [, CART 2410,] que nos rendera já tinha tido problemas graves. À noite, numa esplanada, ainda comprei umas catanas, e outras prendas. No Mercado de Bissau, adquiri, máscaras de pau-preto, piripiri ou jindungo e muitos petiscos – principalmente pombos verdes no “Zé da Amura”, os pregos no “Benfica”, e cerveja, ostras e camarões em todo o lado. E mulheres todas, até as do MNF [, Movimento Nacional Feminino], que até tinha bons pedaços.




Guiné > Bissau > s/d m[. c 19690/70]   > "Praça Honório Barreto e Hotel Portugal"... Bilhete postal, nº 130, Edição "Foto Serra" (Colecção "Guiné Portuguesa") (Detalhe). 

Colecção: Agostinho Gaspar / Edição: Blogue  Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).



Como o General Spínola, na última visita que nos fizera em Gadamael Porto, pedira para que fossem distribuídos camuflados novos a toda a Companhia, visto aqueles que possuíamos estarem todos rôtos, a nossa Companhia começou a ser conhecida em Bissau por ZORBA, outros militares julgando sermos uma Companhia de periquitos, visto vestirmos fardas acabados de chegar do Casão Militar, diziam sempre:
– Salta periquito!...
– Salta? Vai já saltar! – Respondíamos quase em uníssono – afinal éramos a Família ZORBA. E toca de mandar umas bofetadas a quem tinha dito tal frase. Foram-se habituando à nossa presença, e já diziam:
– Esses tipos são velhos, são da ZORBA!

Os dias foram passando. Ainda fiz um serviço de Sargento da Guarda. Foi quando conheci pessoalmente, o agora cantor consagrado, Marco Paulo.

Na Casa da Guarda, vendo a documentação existente, verifiquei que tinha um preso detido. Depois de pensar que esta situação me poderia trazer alguns problemas, decidi mandar chamar o 1.º Cabo Cozinheiro. Disse-lhe o que se passava, tendo ele respondido:
– Eles possuem as chaves da prisão, costumam sair por vezes, e regressam depois! – Respondi-lhe:
– Pelo sim pelo não, faz-me o favor de mandar chamá-lo?!

Depois de falar com o rapaz que estava preso, dizendo-lhe que estava no fim da comissão, e que não fosse acontecer-lhe algo, eu poderia ser prejudicado,  ele respondeu:
– Volto já para a prisão, meu Furriel, tem razão!

Comecei a ler um livro de Rainer Maria Rilke, oferecido por uma das minhas madrinhas de guerra.





Guiné > Bissau > Outubro de 1968 > Almoço de despedida da CART 1659


Os dias todos iguais demoravam a passar e o paquete Uíge, da CCN [, Companhia Colonial de Navegação] nunca mais chegava. A CART 1659 organizou um almoço num grande restaurante em Bissau. Foi uma grande festa e cantámos, mais de uma vez, a Marcha do Regresso, a música foi executada por meio dos sons dos pratos, dos talheres, de palmadas das mãos nas mesas e com o bater dos pés no chão.

Finalmente no dia 30 de Outubro de 1968 embarcámos para Lisboa. Tal como sucedeu, no embarque numa lancha para Bissau, não me recordo da saída de Gadamael, nem mesmo como entrei no Uíge e foi parar ao porão uma mala de cânfora, com alguma bagagem dentro. (*)

Não regressaram três camaradas.

Mário Vitorino Gaspar
_____________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 1 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13455: Os nossos regressos (32): Fotos do álbum do ex-1º cabo bate-chapas, pelotão de manutenção comandado pelo alf mil Ismael Augusto, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14195: Memória dos lugares (284): Bissau. fortaleza da Amura: fiz lá serviço de sargento de dia e de guarda, e conheci um preso que tinha as chaves da prisão... (Mário Gaspar, ex-fur mil at art MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)


Bissau > Outubro de 1968 > O Máruio Gaspar junto ao forte da Amura.. Esta foto à anterior às obras de remodelação da fortaleza. Recorde-se que,alguns meses depois, no o início do ano de 1969, o novo Governador da Guiné, brig António Spínola,  terá manifestado o seu interesse em “cuidar da Fortaleza de S. José da Amura”, motivo pelo qual o arquiteto Luís Benavente terá sido requisitado para elaborar os estudos e o plano de actuação necessário.  Data deste período (e desta campanha de obras) a instalação na fortaleza do Comando Chefe [, QG/CCFAG - Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné], da Companhia de Polícia Militar, de um destacamento adido à Polícia Militar e do Comando Chefe do Agrupamento de Bissau.


Foto: © Mário Gaspar (2015). Todos os direitos reservados


1. Mensagem do Mário Vitorino Gaspar (ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68), autor do livro de memórias "O Corredor da Morte" [Lisboa, 2014]


Data: 13 de janeiro de 2015 às 21:08

Assunto: Forte da Amura (*)

Caros Camaradas:

Existiu uma Guerra, uns a denominam Guerra do Ultramar, mas para mim foi uma Guerra Colonial. Iniciada em 1961, dizem que terminou em 1974, mas mentira, nem mesmo em 1975 porque ela continua bem infiltrada dentro de cada um de nós. Se a pretendermos narrar, hoje, amanhã é tarde, temos pouco tempo à nossa frente. Não querendo que seja narrada, sem mentiras e omissões, temos de dar as mãos, e todos os camaradas contribuírem. Se tal não se pretender porque é prejudicial para alguém, então partam para outra – mas não contem comigo:

a) Blogues em que se contem anedotas – e existem por aí tantos!... que tal umas almoçaradas e jantaradas em louvor aos que morreram?

b) É com muita tristeza que ao consultar o Arquivo Histórico-Militar, e já lá fui as vezes suficientes para o verificar, tantas contradições e as tais omissões – e quem omite mente – de pôr as mãos à cabeça;

c) Depois uns senhores Gungunhanas surgem de barriga cheia, no seu trono, como donos da palavra, e sem respeito algum pelos outros – a pessoa a quem me dirijo sabe bem do que falo – e é pena;

d) O nosso blogue é uma família, e o local de troca de mensagens, não é uma arena; estudei em Vila Franca de Xira e sei bem como marra o boi. Não gostando das esperas de toiros, deixei de as frequentar.


Em relação ao Forte da Amura o que posso dizer? Cumpri a Comissão isolado no mato e não em Bissau. O que assisti em Bissau – em Setembro/Outubro de 1967 – quando estava no período de gozar licença invadiu-me de tristeza. Tiroteio em Bissau? Então não eram as Tropas Especiais que andavam em Guerra em plena cidade aos tiros após um jogo de futebol ?! (**)

(i) estive no Forte da Amura e fiz Sargento de dia e Sargento de Guarda, até ao embarque, em outubro de 1968;

(ii) o quartel não era de todo mau;

(iii) os s meus pequenos-almoços eram no "Zé da Amura", com uns pombos verdes fritos e cervejas;

(iv) conheci lá o  Marco Paulo que me ofereceu mancarra e cerveja que rejeitei;

(v)  havia alguém que não queria que eu morresse à sede e me enviava cervejas fresquinhas, mas nunca tive conhecimento quem era;

(vi) tinha um preso a meu cargo e, se não tenho a sorte de perguntar a razão de não estar preso, talvez não tivesse vindo com a minha Companhia;

(vii) quem passou a comissão de serviço no Forte da Amura teve muita sorte, coitados daqueles que estiveram nos "cus do mundo",  isolados no mato;

(viii) em Bissau havia muita mulher branca e até muita miúda cabo-verdiana linda.

Cumprimentos

Mário Vitorino Gaspar

________________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 20 de janeiro de  2015 > Guiné 63/74 - P14165: Memória dos lugares (282): Gadamael... O enigma da palavra ASCO que consta de um edifício em ruínas (que era messe de oficiais no tempo da CART 2410...) pode estar decifrado: seria o acrónimo da casa comercial Aly Souleiman & Companhia que existia em 1956 (Luís Graça / Mário Vasconcelos)

(**) Vd. poste de 2 de janeiro de  2010 > Guiné 63/74 - P5580: FAP (44): A verdade sobre os incidentes, em Bissau, em 3 de Junho de 1967, entre páras e fuzos... (Nuno Vaz Mira, BCP 12)

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14162: Historiografia da presença portuguesa em África (48): Praça de S. José de Bissau, segundo Francisco Travassos Valdez (1864) (A. Marques Lopes)

1.  Mensagem do nosso camarada A. Marques Lopes, coronel inf, DFA, na situação de reforma, ex-alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967) e da CCAÇ 3 (Barro, 1968):
Data: 18 de janeiro de 2015 às 13:25

Assunto: Praça de S. José de Bissau


Em "Africa Occidental – Noticias e Considerações – Tomo I",  Lisboa, Imprensa Nacional, 1864, pgs. 313-314, diz Francisco Travassos Valdez:

«Passemos agora a descrever a povoação. A praça de S. José de Bissau, com os seus poilões (erio exdentron anfractorum), árvores gigantescas que se erguem com majestade nos quatro baluartes, e que os abrigam com as sombras, sendo de taes dimensões que uma dellas tem 18 metros de perímetro na maior grossura, está situada na foz do rio Geba, e foi construída no ano de 1766, reinando el-rei D. José I.

De seu princípio teve alojamento para o governador, bons quartéis par 200 homens e officiaes correspondentes, igreja da invocação de S. José, alfandega, grandes armazéns, e um poço com agua potável. Mas depois de tudo isto feito com grossos capitaes, pela necessidade que houve de conduzir de Lisboa muitos operários e grane parte dos materiaes, bem como s vazos de guerra e tropa para sustentar a guerra contra o gentio papel e balanta, e para proteger a edificação da praça, que referem escriptores antigos custou a vida a mais de 2:000 portugueses, chegou este estabelecimento a uma decadencia tal que ainda há bem pouco só lhe restava um casarão construído de pedra e barro, aonde o governador e officiaes estavam pessimamente alojados e nas peiores condições hygienicas, um quartel para soldados, quasi em ruinas e em grande parte descoberto, uma mesquinha capella, alguma miseráveis barracas cobertas de palha, destinadas às mulheres dos 
soldados, e um poço cheio de entulho!
Fortaleza da Amura, foto de A, Marques Lopes (2014)

Ultimamente porém, alem de se estabelecer uma nova tarifa para os soldos dos officiaes da provincia de Cabo Verde, destacados na Guiné portuguesa, dando-se-lhe de augmento o equivalente a metade dos seus vencimentos, têem tido certo incremento as obras militares.

O governador geral Fortunato José Barreiros ordenou que se procedesse à reparação do forte do Pigiguiti, da tabanca e da palissada, e auctorisou a construção de uma parede (guarda fogo) no paiol da pólvora.


Sob a direcção do activo e inteligente governador da Guiné, Antonio Candido Zagallo, reconstruiu-se o quartel militar, comprehendendo alojamentos para os soldados e officiaes inferiores, arrecadação e cozinha, e começaram-se também as obras para a reconstrucção da casa de residência dos governadores, cujo madeiramento foi oferecido ratuitamente pelo falecido comendador Honorio Pereira Barreto.»


E acrescenta esta imagem, que me parece representar as construções feitas no interior da praça:



____________

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14147: Memória dos lugares (282): (i) A fortaleza da Amura, em Bissau, futuro museu... (Patrício Ribeiro); (ii) o arquiteto Luís Benavente (1902-1993) e o seu papel na salvaguarda do património português em São Tomé, Índia, Cabo Verde e Guiné (Vera Mariz)


1. Mensagem da nossa leitora Vera Mariz, doutoranda em História da Arte (Instituto de História da Arte, Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa)

Data: 13 de janeiro de 2015 às 12:49

Assunto: Fotos e memórias da fortaleza da Amura

Caríssimo Luís,


Muito obrigada pelo seu gesto, de outra forma não teria qualquer imagem da referida entrada virada à cidade. (*) [Foto acima, de Durval Faria, c. 1962/64].

O vosso trabalho é notável mas mais impressionante ainda é, sem dúvida, a capacidade que o blogue tem de cruzar tantos (e tão interessantes) testemunhos acerca dos mais variados temas.

Quanto ao que me pergunta sobre o arquitecto Luís Benavente... É uma figura interessantíssima mas muito maltratado devido à sua associação com o Estado Novo. Mas a verdade é que, independentemente das motivações do regime, o arquitecto Benavente teve um papel extraordinário no âmbito da salvaguarda do património português ultramarino, tendo passado por São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Índia e Guiné.

Capa do catálogo da exposição
 “Luís Benavente – Arquitecto” ~
ANTT [Arquivo Nacional da Torre do Tombo], 
Lisboa, 1997, pp. 163. 

No ano de 1958, através do Decreto 41.787, a Direcção-Geral de Obras Públicas e Comunicações do Ministério do Ultramar viu alargadas as suas incumbências, extrapolando a arquitectura e urbanismo, para abranger, igualmente, os monumentos de interesse nacional. Assim, a partir deste momento, caberia àquela Direcção-Geral o inventário, classificação, conservação e restauro dos monumentos portugueses erguidos no Ultramar ao longo dos séculos da presença nacional.

Foi, precisamente, na sequência deste diploma legislativo que o arquitecto Luís Benavente, Director do Serviço de Monumentos Nacionais na Metrópole desde o ano de 1952 e funcionário em comissão de serviço no Ministério do Ultramar desde 23 de Setembro de 1958, deu início a um programa centralizador de salvaguarda do património arquitectónico português do além-mar.

Além do arquitecto Benavente há a referir (entre outros) os casos de Fernando Batalha e Pedro Quirino da Fonseca, arquitectos que trabalharam também durante o Estado Novo nas comissões de monumentos de Angola e Moçambique, respectivamente. Quirino da Fonseca desempenhou, ainda, missões em Macau, Malaca e Ormuz.

Uma vez mais agradeço a sua simpatia e disponibilidade, bem como de todos os camaradas que tão prontamente acederam ao meu pedido.


2. Apelo dos editores 
Infografia: Miguel Pessoa (2014)
aos membros a Tabanca Grande

Data: 13 de janeiro de 2015 às 11:43

Assunto: Fotos e memórias da fortaleza da Amura

Amigo/as, camaradas:

O património arquitetónico que os portugueses deixaram pela mundo, desde o início da abertura da "primeira" autoestrada da globalização, é mal conhecido 
pelos próprios portugueses de hoje. 
Mas temos a obrigação de o estudar e divulgar...

Acabámos de colocar, no nosso blogue, dois postes sobre a Fortaleza da Amura (*)... A sua história e o próprio edifício são mal conhecidos. Daí o nosso apelo, mais uma vez, à boa vontade dos membros da Tabanca Grande:

(i) quem tem fotos ou outros documentos sobre a Amura ?

(ii) quem conheceu e eventualmente cumpriu servlço na Amura ?

(iii) quem tem histórias ou memórias relacionadas com a Amura ?

Como sabem, procuramos publicar, de preferência, no blogue, coisas nossas, inéditas, em primeira mão, na primeira pessoa...É também, como a gente  costuma diizer com algum humor negro, a nossa forma de recusa, enquanto geração de ex-combatentes, de irmos parar à vala comum da ignomínia e do esquecimento,,,

Um alfabravo valente para todos/as

 PS - A entrada principal da Amura, mais fotograda no nosso tempo era a entrada sul, virada para o rio e o porto... Já a outra, do lado norte, virada para a cidade, é menos conhecida...  (Vd. acima foto do Durval Faria, que deve ter sido tirada entre 1962 e 1964. Ainda a cidade não estrangulava o forte).


3. Comentário do nosso amigo (e camarada) Patrícío Ribeiro, empresário em Bissau. [, foto à esquerda, em dezembro de 2014, em Farim] (*):

Está a haver mais um movimento, em Bissau, de transformar a Fortaleza da Amura em Museu, pode ser que seja desta, assim como das tentativas de transformar o Bairro de Bissau Velho, numa continuação da Amura... Enfim, tem havido tentativas…

Bissau pouco tem para se visitar, excepto a actual “Casa dos Direitos”, na antiga 1ª Esquadra, junto à porta principal da Fortaleza da Amura. É um projecto da ONG ACP Portuguesa, em que a nossa amiga Fátima Proença o vai desenvolvendo desde o início.

Esperamos que a Amura seja mais visitada que a Fortaleza de Cacheu que mesmo assim é visita dos passeios de domingo das pessoas que saem de Bissau.

Vamos ter o novo Museu dos Escravos em Cacheu (, em que as obras foram pensadas, projectadas, assim comos os primeiros trabalhos do arranque, foram feitos pelo nosso saudoso Pepito). Sabemos que as obras continuam a decorrer e que este ano já vai ter o novo piso e telhado.

Cacheu vai ter dois lugares culturais para visitar. Para não falar dos outros Museus a céu aberto e a que ainda são… as cidades de Bolama (**) e Farim.


Guiné-Bissau > Região de Bolama / Bijagós > Bolama > Agosto de 2010 > Ruína do antigo Palácio de Bolama, que foi sede da administração colonial

Foto: © Patrício Ribeiro (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14145: Memória dos lugares (281): Bissau e a Fortaleza de São José da Amura (Séc. XVIII), remodelada em 1968/69 pelo arquiteto Luís Benavente para passar a receber o Comando-Chefe, a Companhia de Polícia Militar e o Comando-Chefe do Agrupamento de Bissau (Vera Mariz, doutoranda em História da Arte, IHA/FL/UL)



Foto nº 3

Guiné > Bissau >Fortaleza da Amura > Entrada do lado sul (frente ao porto e ao rio Geba)



Foto nº 4

Guiné > Bissau > Fortaleza da Amura > Aspeto da muralha exterior


Fotos nºs 3 e 4: Manuel Caldeira Coelho (ex-fur mil trms, CCAÇ 1589/BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68)


Fotos: ©  Manuel Coelho (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. (Edição: L.G.)



Foto nº 5

Guiné > Bissau > Fortaleza da Amura > c. 1962/64  > Entrada principal, virada para  cidade, ou seja, lado norte (?) >  Foto, sem legenda,  de Durval Faria (ex-fur mil inf,  CCAÇ 274 / BCAÇ 356, Fulacunda, 1962/64).


Fotos: © Durval Faria (2008). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem de Vera Mariz [, nossa leitora, doutoranda em história da arte,  Instituto de História da Arte, Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa] (*), com data de ontem:

Caríssimo Luís Graça, agradeço a sua atenção.

Aproveito para lhe dizer que:

O primeiro contacto do arquitecto Luís Benavente [, 1902-1993] com a Guiné teve lugar no ano de 1962.

No ano 1968, entre os dias 25 de Abril e 2 de Maio, Luís Benavente terá desempenhado nova missão em Bissau, à qual se seguiria uma terceira viagem já em 1969.

Isto porque no início do ano de 1969, o Governo da Guiné terá manifestado o seu interesse em “cuidar da Fortaleza de S. José da Amura”,  motivo pelo qual Luís Benavente terá sido requisitado para elaborar os estudos e o plano de actuação necessário.

Data deste período (e desta campanha de obras) a instalação na fortaleza do Comando Chefe [, QG/CCFAG - Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné],  da Companhia de Polícia Militar, de um destacamento adido à Polícia Militar e do Comando Chefe do Agrupamento de Bissau.
Quando terminar a tese [de doutoramento] tenho todo o prazer em enviar-lhe o capítulo referente à Guiné.

Cordialmente,
Vera



Foto nº 1 

Guiné > Bissau > Fortaleza da Amura > Construção iniciada em finais do séc. XVII, arrasada em 1707 e reconstruída em 1753, restaurada em meados do séc. XIX (1858-1860), bem como um século depois, a partir da década de 1960, sob orientação do arquiteto Luís Benavente.

Foi quartel-General durante a guerra colonial. É hoje panteão nacional da República da Guiné-Bissau.

Foto: © João José Alves Martins (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. (Edição: L.G.)

Foto nº 2

Guiné-Bissau > Bissau > Fortaleza da Amura > 7 de Março de 2008 >  Amura: um lugar repleto de história e de histórias... Entrada principal, lado sul, vista do interior da fortaleza.


Foto: © Luis Graça (2008) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. (Edição: L.G.)


2. Comentário de Cherno Baldé (*)

Caros amigos,

Para ajudar a esclarecer a dúvida da Sra.Vera, tenho o prazer de informar que a foto nº 1  apresenta a imagem da porta virada para o lado do rio (Ponte Cais de Bissau) e não a principal que se situa do lado oposto e virada para a cidade.

Quanto à foto nº 2, trata-se dos mesmos edifícios da primeira foto, situados à entrada da mesma porta, tirada no interior da fortaleza. (**)

Com um abraço amigo,
Cherno AB.



Foto nº 6

Guiné > Bissau > Fortaleza da Amura > Muralha exterior, do lado meridional  Foto de A. Marques Lopes, coronel inf, DFA,  na situação de reforma, ex-alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967) e da CCAÇ 3 (Barro, 1968) :

Foto: © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]


Guiné-Bissau > Bissau > Planta da cidade > c. 1975 > Localização da fortaleza da Amura, assinalado com um círculo a branco.

Foto: © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]




Guiné > Bissau > Fortaleza de São José da Amura > c. meados de Séc. XIX >  Vista da Amura.  Gravura. Fonte: VALDEZ, Francisco Travassos - "Africa Ocidental: notícias e considerações dedicadas a Sua Magestade Fidelíssima El-Rei O Senhor Dom Luiz I". Lisboa: Imprensa Nacional, 1864, 406 p., gravuras. Licença: Domínio Público (Autor falecido há mais de 70 anos).

Cortesia de Fortalezas.org
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de de 12 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14143: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (21): A fortaleza da Amura (Vera Mariz, doutoranda em história da arte)

(**) Último poste da série > 4 de janeiro de  2015 > Guiné 63/74 - P14115: Memória dos lugares (279): Bafatá, princesa do Geba, parada no tempo: o cinema local e o seu mítico guardião, Canjajá Mané, o casal João e Célia Dinis, Dona Vitória, as irmãs Danif (libanesas), o glorioso Sporting Clube de Bafatá (fundado em 1937 pelos prósperos comerciantes locais, e que chegou a ter 600 sócios), o ourives, o rio, os pescadores, e os demais fantasmas do passado que hoje povoam a terra de Amílcar Cabral... A propósito de "Bafatá Filme Clube" (2012) que acabou de passar na RTP2, no passado dia 1 (Valdemar Queiroz)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14143: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (21): A fortaleza da Amura (Vera Mariz, doutoranda em história da arte)




Foto nº 1 

Guiné > Bissau > Fortaleza de São José da Amura ou simplesmente Fortaleza da Amura > Construção iniciada em finais do séc. XVII, arrasada em 1707 e reconstruída em 1753, restaurada em meados do séc. XIX (1858-1860), bem como um século depois, a partir da década de 1970, sob orientação do arquiteto Luís Benavente.

Foi quartel-General durante a guerra colonial. É hoje panteãio nacionalda República da Guiné-BissaU.  Foto nº 17/199 do álbum Guiné, disponível na página do Facebook, do João Martins.


Foto: © João José Alves Martins (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. (Edição: L.G.)



Foto nº 2

Guiné-Bissau > Bissau > Fortaleza da Amura > 7 de Março de 2008 > Amura: um lugar repleto de história e de histórias... Entrada principal, vista do interior da fortaleza.

Foto: © Luis Graça (2008) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. (Edição: L.G.)


1. Mensagem da nossa leitora Vera Mariz:

Data: 12 de dezembro de 2014 às 12:29
Assunto: Fortaleza Amura

Caríssimo Luís Graça,

O meu nome é Vera Mariz e estou a fazer um Doutoramento em História da Arte acerca do restauro dos monumentos portugueses ultramarinos durante o Estado Novo.

No âmbito de uma das minhas investigações deparei-me com o vosso blog que está repleto de histórias e fotografias interessantíssimas. 

Queria perguntar-lhe se eventualmente terá uma fotografia da Porta de Armas da Fortaleza de São José da Amura. 

Por outro lado talvez possa esclarecer-me uma dúvida que tenho (já que nunca estive em Bissau). Esta Porta de Armas fica depois da entrada que surge na fotografia que lhe envio (encontrei no vosso blog) [foto nº1 ] ?

Agradeço desde já a sua atenção.

Cordialmente,

Vera.

2. Comentário, com data de hoje,  do nosso camarada João Martins, autor da foto acima reproduzida 


[, foto à esquerda: João Martins , ex-alf mil art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69 ]


Amigo Luís Graça

Esta, em minha opinião, só pode ser a parte exterior do forte. Por duas razões, porque tem os canhões apontados, e porque tirei esta fotografia  nunca tendo entrado no dito forte.

Aproveito para enviar. por email, as minhas memórias com várias fotografias de estátuas à Vera.

Grande abraço

João Martins

_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 22 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13429: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (20): Imagens de braços tatuados, do tempo da guerra colonial, precisam-se para trabalho jornalístico sobre a história da tatuagem em Portugal...

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12735: Manuscrito(s) (Luís Graça) (21): Que fazes aqui, Amílcar, / que já te mataram, Cabral ? / E de que traições podias falar, / se fosses vivo, tu, Osvaldo ? / E tu, Vieira ?





Guiné > Bissau > Quartel-General > O velho forte da Amura > Entrada principal > Foto nº 17/199 do álbum Guiné, disponível na página do Facebook, do João Martins.


Foto (e legenda): © João José Alves Martins (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. (Edição: L.G.) 



A velha Amura dos tugas
por Luís Graça


A velha Amura dos tugas,
agora cercada de guinéus
por todos os lados.
Ilha de areias movediças
num mar de belugas,
foi rampa de lançamento de lançados.
Dizem que aqui nasceu a Bissau colonial.
De linhas tortas,
as ruas direitas da capital.

Saúdo os ilhéus,
figuras de museu de cera,
de faces mortiças:
à frente, o capitão-diabo,
o bigode farfalhudo,
espadeirando a torto e a eito,
de peito feito
ao fogo do canhangulo.
Mais os seus soldadinhos de chumbo,
que eram uma ternura:
em linha, 

em formatura,
nas suas fardas multicolores, coloniais,
do tempo dos Cabrais.
Davam vivas à Pátria e à Rainha.
Aqui como em toda a parte,
onde o Império tinha engenho e arte.

Ah!, a velha Amura, 

inútil baluarte,
com os seus canhões
de bronze, incandescente...
Casamata, prisão,
dormitório, agora panteão,
nacional,
coberto de poilões.

Eram onze os soldadinhos,
como no jogo de matraquilhos.
E combatentes da liberdade da Pátria,
contei-os pelos dedos da mão.

Que fazes aqui, Amílcar,
que já te mataram, Cabral ?
E de que traições podias falar,
se fosses vivo, tu, Osvaldo ?
E tu, Vieira ?

E quanto a ti, Titina,
que incendiavas paixões
pelo Óio ?
Que fazes também aqui,
jazida entre os poilões,
debruados a branco,
da triste Amura ?
Cuidado, Silá,
que os tugas montaram-te cilada
na cambança do Rio Farim.

Vejo mais à frente o Domingos,
o valente Ramos,
herói de banda desenhada,
que irá morrer de morte matada,
em Madina do Boé.

E tu, Rui, e tu Demba, e tu  Djassi,
de quem eu não sei nada,
a não ser que morreste em 1964,
depois do tenebroso Congresso de Cassacá ?
Sei ainda que tens nome de rua,
Rua Djassi,
suja e esburacada,
na capital da tua terra,

ao pé do estádio Lino Correia,
outrora Sarmento Rodrigues,
transmontano de Freixo Espada à Cinta...

E tu, camponês, balanta, 
Pansau Na Isna,
herói do Como,
guerrilheiro-cowboy,
enfrentando as naves loucas dos tugas
com a tua Kalash de contrafacção ?

Na Amura fez-se história,
diz-me o guia.
Ou a história dos vencedores
que contam a história dos vencidos.

PS – Cuidado João, 

cuidado, Bernardo,
cuidado Vieira. 
Há quem te espere, 'Nino',
no Panteão Nacional.

Bissau, 7/3/2008.


____________

Nota do editor:


Último poste de 14 de fevereiro de  2014 > Guiné 63/74 - P12716: Manuscrito(s) (Luís Graça) (20): Gostei de voltar a Tavira (Parte IV): E de ter tempo para (re)descobrir a beleza e o brilho fascinantes do seu património edificado...