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sábado, 4 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21138: Ser solidário (233): Viagem à Guiné-Bissau (de 15 a 28/2/2020), homenagem em Suzana ao cap cav Luis Filipe Rei Vilar (1941-1970), relatório e contas do projeto Kassumai, e a nova associação Anghilau (criança, em felupe) (Manuel Rei Vilar)


A nova Associação Anghilau (criança, em felupe)


1.  Mensagem do nosso amigo Manuel Rei Vilar, irmão do nosso saudoso camarada cap cav Luís Rei Vilar (1941-1970), primeiro comandante da CCAV 2538 (Susana, 1969/71):


Data - quarta, 1/07/2020, 23:00

Assunto - Relatório de Actividades do Projecto Kassumai 2019-2020



Caríssimos Padrinhos, Madrinhas e Amigos do Projeto Kassumai (*)

Aqui vos envio os Relatório de Atividades do nosso Projeto de Apadrinhamento e as primícias da nova Associação Anghilau. 

Incluo neste relatório intermediário de 2020, uma récita da nossa viagem à Guiné-Bissau que se realizou no passado mês de fevereiro que teve como objetivo reinaugurar o Jardim-Escola de Suzana depois do restauro e dar a conhecer a realidade do Chão Felupe, de Suzana e também da Guiné-Bissau.

Espero encontrar-vos todos de ótima saúde nestes momentos que difíceis que todos vivemos. Todo o cuidado é pouco! O vírus ainda anda por aí e precisamos de muita prudência.

Kassumai
Manuel Rei Vilar



RELATO DA NOSSA VIAGEM À GUINÉ-BISSAU 
DE 15 A 28 DE FEVEREIRO DE 2020  (**)

A nossa viagem à Guiné correu sem incidentes. No momento do desembarque em Bissau, fomos rodeados por uma equipa de técnicos de saúde que nos mediram a temperatura e nos pediram para assinarmos uma ficha de saúde. 

Foi muito estranho, pois isto passou-se muito antes do primeiro caso de COVID em Portugal (2 de março) ter aparecido.

Depois de chegarmos a Bissau e termos pernoitado no Hotel Coimbra onde encontrámos o nosso guia e amigo Adriano Djaman, seguimos para Suzana no minibus que o Adriano se tinha encarregado de alugar para a nossa viagem. 

A viagem para Suzana faz-se bem até S. Domingos com estradas alcatroadas e pontes que ligam canais, rios e riachos ao longo do itinerário até S. Domingos. Depois as coisas mudam de figura e temos de enfrentar uma picada de 30 km até Suzana em que cheia de covas e buracos de grande densidade superficial. 

Aos safanões lá se chega a Suzana que fica assim bastante isolada visto que o estado da estrada a torna impraticável a muitas viaturas. 

A nossa chegada foi festejada por um grupo de mulheres de Suzana e as entidades da Escola que nos vieram esperar. E aí, perante tanta alegria e votos de boas-vindas, já os buracos e as covas da Estrada de S. Domingos caíram no esquecimento. Com muitas danças e sorrisos fomos assim acolhidos pelos nossos amigos Felupes. Com muita emoção e muito regozijo reconhecemo-nos uns aos outros com muitos abraços e sorrisos. É emocionante a humanidade que encontramos neste pais e neste Chão Felupe.

Fomos recebidos na Missão Católica e tivemos a alegria de encontrar o Padre Zé (Giuseppe Fumagalli que conheceu o Capitão), um pouco vergado pela idade mas cheio de satisfação e brilho nos olhos por nos ver. Disse que neste momento estava a compor uma Missa Crioula. 

Também encontrámos a Irmã Rute que é quem trata da população e que tem uma enfermaria na Missão Católica. Pela primeira vez conheci o meu amigo Olálio, dirigente local da ONG VIDA assim como o Padre Vítor que tanto nos têm ajudado nas nossas realizações. 

Depois de termos uma pequena reunião com os professores e começarmos a analisar as necessidades da Escola, dirigimo-nos para Varela, uma localidade a 15 km de Suzana, junto a uma bela praia. 

Depois de nos instalarmos no confortável Aparthotel da Avó Aniza que dispõe de um bom restaurante, fomos até à praia tomar uma rica banhoca. A praia é grande é linda apesar do mar ir fortemente devastando a orla marítima.

No dia seguinte mela manhã dirigimo-nos para Suzana onde deveríamos participar na reinauguração do Jardim-Escola que ficaria batizado Jardim-Escola Capitão Luís Filipe Rei Vilar. 

Curioso, realmente o passado colonial português. Num momento em que tantas estátuas, ligadas ao colonialismo são derrubadas, em Suzana o nome do Comandante da Companhia que ficou na memória dos Felupes por mais de 50 anos, foi dado ao seu Jardim-Escola, celebrando assim a fundação da Escola de Suzana pelo Capitão. 

Alguns dos antigos alunos vieram-nos cumprimentar apresentando-se como “sopitos”, nome dado às crianças que antes de regressarem às suas casas, eram reconfortadas, partilhando do rancho dos soldados. 

Também foi uma ocasião de reencontrarmos alguns dos nossos afilhados. Um grupo de várias dezenas de crianças bem vestidos e impecáveis cantou e encantou-nos com as suas canções, algumas bem conhecidas dos portugueses. Uma delas foi o “Hino dos Combatentes” recordando os combatentes do PAIGC caídos durante a guerra e recordando-nos a todos que houve combatentes que caíram dos dois lados. 

O Padre Vítor fez um poema ao Capitão que ele recitou com três meninos mais crescidos. Foi então que a placa do Jardim-Escola Capitão Luís Filipe Rei Vilar foi destapada. 

Depois visitámos as novas instalações completamente restauradas desde o chão até ao telhado, com a nova mobília adequada às atividades escolares das crianças e as novas instalações sanitárias munidas de uma fossa sética. No entanto, a água ainda terá de ser conduzida até às instalações e será necessário instalar um grande lavatório para a higiene das crianças. Um gradeamento envolve o espaço escolar permitindo uma maior segurança para as crianças.



Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Susana > 18 de fevereiro de 2020 > Os irmãos Rei Vilar (da esquerda para a direita, Manuel, Miguel e Duarte),   em dia de homenagem ao seu irmão mais velho, o  cap cav Luís Rei Vilar (1941-1970), ex-comandante da CCAV 2538 (Susana, 1969/71), morto em combate em 18/2/1970, no decurso da Op Selva Viva.


A escola de Suzana tem hoje 734 alunos, do Jardim-Escola até ao nono ano, tendo 36 professores dos quais 24 diplomados. No entanto, um dos principais problemas é o facto de não haver uma residência para os Professores. Do facto, estes não se fixam em Suzana e têm tendência a partir.

Quando estivemos em Suzana em 2018, encontrámos 35 alunos no Jardim-Escola. Atualmente, este número duplicou e vai ser necessário duplicar as instalações. Também nos foi pedido material e jogos educativos e filmes para as crianças. A Missão Católica assegura a compra de um televisor para as projeções.

Depois de termos tido mais algumas reuniões com os professores, com homens e mulheres do Conselho de Suzana dirigimo-nos para fora da Tabanca, para o sítio onde o Capitão foi mortalmente atingido, precisamente no dia 18 de fevereiro de 1970. Faria 50 anos! 

Quem nos diria que tudo isto aconteceria 50 anos depois desse malogrado dia em que tive de anunciar à minha mãe que o Luís tinha morrido. Essa tragédia nunca a esqueceremos! Desta forma transformamo-la em algo de positivo!




Voltámos para Varela onde outros deliciosos banhos de mar nos esperavam antes de partirmos no dia seguinte para outra tabanca do Cacheu, Batau, a tabanca do Padre Vítor que não nos pôde acompanhar nessa visita. 
Batau fica numa zona recuada do Cacheu perto de Calequisse. 

Saímos de manhã em direção a S. Domingos onde esperamos durante algumas horas a embarcação que nos levaria a Cacheu, uma cidade importante na Rota da Escravatura. Depois da travessia através Parque Natural dos Tarrafes do Rio Cacheu, chegámos à cidade de Cacheu, situada na margem esquerda do rio. 

Cacheu foi um dos primeiros estabelecimentos portugueses na Guiné e serviu durante vários anos como um centro dedicado ao comércio de escravos. Ai, visitámos a fortaleza portuguesa do século XVI, onde foram depositadas várias estátuas de navegadores e governadores portugueses da Província. Cacheu foi durante várias décadas um centro importante do comércio de escravos. 

Em frente da fortaleza, encontra-se um Memorial da Escravatura e do Tráfico Negreiro. Entrámos no Memorial onde estava a decorrer o I Simpósio Internacional "Cacheu caminho de Escravos, Histórias e memórias da escravatura e do tráfico na África ocidental". 

No Memorial descreve-se em vários quadros a história desta página negra da Humanidade. Esta história não é só portuguesa mas o comércio de escravos também foi alimentado, infelizmente, pelos próprios africanos. De qualquer forma aqui é relembrada e explicada no interior deste Memorial. 

Uma excelente exposição de tecidos guineenses encontrava-se nesse momento dentro do Memorial. É de referir aqui os lindíssimos tecidos que são produzidos na Guiné. 

Passámos a noite em Canchungo [ex-Teixeira Pinto] num hotel de uma estrela no máximo. Conseguimos arranjar jantar...mas foi difícil! Frango para todos. Estava tudo muito bom! Ninguém se queixou, nem ficou doente... mas devo dizer que aqui houve improvisação. Somos uns estoicos!

No dia seguinte, rumámos para Batau [, a sul de Calequisse, a oeste de Canchungo,] onde nos esperava uma grande comitiva. Toda a aldeia nos veio receber. Ai, visitámos a Escola que foi construída pela população assim como uma horta organizada pelas senhoras da aldeia para poderem pagar aos professores. O Daniel Gomes, um homem de Batau, chefe de uma família numerosa e polígama, acompanhou-nos na visita à horta da Escola
. 

A Escola encontra-se em muito mau estado, a precisar de pinturas e arranjos. As carteiras são feitas de grandes pranchas de poilão, a árvore sagrada da Guiné. As pessoas da aldeia acompanharam-nos nessa visita. Também eles nos pediram ajuda para as obras na Escola e para comprarem uma debulhadora de arroz. Como fazer para os ajudarmos? Se alguém tiver alguma ideia, será sempre bem-vinda. 

Os alunos da escola todos reunidos brindaram-nos com cantos luso-guineenses à sombra acolhedora do poilão. Foi um dia cheio de emoção ao encontrarmos esta gente acolhedora e generosa, oferecendo-nos um almoço muito saboroso. Depois, conversamos sobre as necessidades da população em geral e da Escola em particular. 

Despedimo-nos com lágrimas nos olhos. Gente boa e organizada neste país, um dos mais pobres do mundo. Há poucos dias, o Daniel Gomes escreveu-me a anunciar a morte do seu filho de 20 anos. Teve uma dor de barriga e dois dias depois faleceu! Provavelmente, uma apendicite. É assim a vida na Guiné, onde a assistência médica é praticamente inexistente! 

Depois de regressarmos a Bissau e passarmos a noite no Hotel Coimbra, navegamos numa lancha rápida no arquipélago dos Bijagós durante 4 horas até atingirmos a ilha de Orango onde tínhamos reservado no Orango Park Hotel. Este hotel diz que o produto das estadias é reservado à educação das crianças da tabanca mais próxima. No entanto, as crianças da tabanca não parecem muito bem tratadas. 


Em Orango deu para relaxarmos todas as emoções da viagem. Tivemos algum contacto com a população das tabancas mais próximas e visitámos a ilha de Uno, com uma paisagem variada com bosques de mangais e grandes poilões robustos e naturalmente esculpidos junto a uma grande lagoa circundada por plantações de arroz. A população da tabanca vizinha foi muito acolhedora. As mulheres a extrair o óleo de palma e os homens a observarem os visitantes.

Para terminar, regressamos a Bissau ao célebre Hotel Coimbra, o tal da livraria, no dia 24 de fevereiro. No dia 25 era terça-feira gorda, portanto em pleno carnaval, o Adriano levou-nos ao desfile que neste ano se realizava no Estádio de Bissau. Estava um sol abrasador! O Adriano, com os conhecimentos dele, entre outros o Ministro da Cultura da Guiné-Bissau, conseguindo-nos lugares de pé ao lado da tribuna presidencial. 


Manuel Rei Vilar
(2010)
Foi aí que assistimos a um espetáculo absolutamente grandioso. Cada etnia da Guiné tinha preparado uma representação com danças e acrobacias, tudo isto acompanhado por uma trupe de músicos e cantores. Um grande certame das competências de cada grupo. E finalmente, foi o grupo de Cacheu que saiu vencedor. [Vd. vídeo na página do Facebook do Manuel Rei Vilar.]

No dia 27 foram as eleições acompanhadas de um Golpe de Estado.

Ainda deu para visitarmos o Museu Etnográfico de Bissau, deveras interessante, guiados pelo diretor do Museu.




TRABALHOS REALIZADOS EM 2019

Com a vossa preciosa ajuda conseguimos renovar completamente o edifício do Jardim-Escola de Suzana, instalarmos durante 2019 novos sanitários, um Espaço para as Refeições e abrigo das intempéries assim como uma cerca à volta da Escola. 


Além disso pudemos também adquirir mobiliário necessário para a educação das crianças do Jardim-escola, construído por uma cooperativa de carpintaria de jovens. 

Atualmente, as crianças dispõem de um ambiente propício à instrução e educação graças à vossa solidariedade. Não esquecemos também a ajuda dos diversos intervenientes da aldeia, nomeadamente, a Missão Católica por intermédio do Padre Abraão e do Padre Victor, a ONG Vida através do nosso dinâmico amigo Olálio Neves Trindade, a dedicação dos operários que participaram na obra assim como o entusiasmo da População de Suzana. 

A todos, as crianças de Suzana agradecem. 



ASSOCIAÇÃO ANGHILAU 

Pensámos também que neste momento, seria útil modificarmos o nosso estatuto de Projeto Kassumai para passarmos a ser uma Associação com fins não lucrativos. 
Assim, reconhecidos oficialmente, este novo estatuto poder-nos-á trazer vantagens do ponto de vista tributário e igualmente do ponto de vista legal. 

De qualquer forma, continuaremos a funcionar exatamente da mesma maneira que temos funcionado até agora, sempre com os mesmos objetivos. 

Criámos assim a ASSOCIAÇÃO ANGHILAU (Anghilau significa criança em língua Felupe) no dia 11 de fevereiro de 2020. No dia 8 de março realizámos uma Assembleia Eleitoral para elegermos os Órgãos Sociais. Foram eleitos: 

MESA DA ASSEMBLEIA GERAL 

Presidente - Ivone Maria Domingues Félix
Secretária - Ana Maria da Conceição Ferraria
Relatora - Mónica Bento Lopes da Silva


DIREÇÃO 

Presidente - Manuel Rei Vilar
Vice-Presidente - Duarte Rei Vilar
Vice-Presidente - Miguel Rei Vilar
Secretária - Júlia Ribeiro dos Santos
Tesoureiro - Claude Piétrain

CONSELHO FISCAL


Presidente - Carlos José Vaz
Secretária - Ana Maria Botelho do Rego
Relator - José Constantino Costa



Dentro em breve, ser-vos-á enviada uma Ficha de Inscrição que vos pedia o favor de preencherem para a admissão como associado na Associação Anghilau. 



RELATÓRIO DE CONTAS DO PROJECTO KASSUMAI



Projeto Kassumai
Resultados do Ano 2019
Donativos (desde o inicio)
21.611,08 €
Despesas (desde o inicio)
13.846,35 €
Donativos em 2019
5.662,50 €
Despesas em 2019
9.237,62 €
Saldo
7.764,73 €

Despesas bancárias 2019/2020 = 258,11 € 


PERSPECTIVAS PARA 2020 

As perspetivas para este ano 2020 estão apresentadas no quadros seguintes.

Em resumo, as necessidades são:

· Instalação de água e lavabos nos sanitários;

· Compra de Material Escolar Educativo, Lúdico e Cultural

· Trabalhos de acabamento do Liceu de Suzana;

· Participação na criação duma Residência para os professores;

· Participação na Formação de duas educadoras. 









Fotos: © Manuel Rei  Vilar (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19431. A Galeria dos meus Heróis (20): - A Nucha ou a difícil arte do envelhecimento (III e última Parte ) (Luís Graça)


Luís Graça, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, Guiné, Contuboel, junho de 1969



A Galeria dos Meus Heróis: A Nucha ou a difícil arte do envelhecimento - III (e última) Parte


por Luís Graça


Continuação (*)



11. (...)Eis,  em resumo,  alguns excertos da longa conversa que eu tive, mais recentemente, com a Nucha, permitindo completar o “puzzle” do retrato do seu ex-companheiro e da narrativa sobre a relação de ambos, que terminou num já longínquo mês de junho de 2016:

− De qualquer modo, houve uma punição legal e uma reparação material…

− Ele teve uma pena suspensa, caricata, e foi obrigado a indemnizar-me por danos físicos e morais…

− De mal o menos…
− Se eu fosse uma verdadeira lutadora, ter-me-ia esforçado por provar que vivíamos juntos a maior parte do ano, em união de facto… Por uma questão de orgulho, não o fiz… Claudiquei!... Nunca me tinha visto num tribunal, com montes de gajos a despirem-me, mentalmente, de alto a baixo!

− Ias pôr em causa o teu autoconceito de mulher livre e independente ?!

− Posso estar a ser burra, mas assim foi-me mais fácil varrê-lo completamente da minha vida e das minhas memórias…

− Não reconheço esta Nucha…


− Sou uma mulher do Minho… de pêlo na venta e nas pernas!... Nisso sou uma cópia da minha mãezinha, que era capaz ser má como as cobras, quando lhe pisavam os caules!

− Que disparate!

− Portanto, tecnicamente não houve violência… doméstica! Não éramos um casal, o juiz deve pensado que eu era um cabra, julgou o caso como uma simples agressão corporal…

−… na cama!

− Foi tudo muito sórdido!... Ele [o Vaz C…] tinha massa, arranjou um advogado, conhecido aqui na praça, que lhe deve ter levado umas massas valentes, mas limpou-lhe a barra, que era pesada…

− E inverteram-se os papéis, não ?!

− Sim, às tantas, eu é que era a má da fita, a fria e astuta Eva que ludibriou o pobre e indefeso Adão!... Tive de reconstituir não sei quantas vezes a cena dessa maldita noite!...

− Vais ter que me contar, desta vez, essa cena com todos os pormenores escabrosos… Os amigos têm direito à verdade…

− Poupa-me, por favor!

− Como é que eu posso defender-te quando as pessoas vêm insinuar que fizeste uma cena de teatro só para provocar o teu ex ?


− Foi o que o advogado dele procurou demonstrar perante o juiz, passando da defesa ao ataque… A minha advogada era uma jovem, minha conhecida, que estava mais atrapalhada do que eu!...

− Sei as coisas muito por alto, da primeira vez que falámos ao telemóvel, ainda estavas muito transtornada...

- Sabes, ele era um tipo misterioso… Deixa-me falar dele como sendo um fantasma do passado!... Pensava que o conhecia minimamente, que estupidez a minha!...Vivi com um animal estranho, durante oito anos, se não foram oito, anda por lá perto, com muitos intervalos pelo meio entra a casa da Foz e a rua da Alegria…


− Ele falou-me em tiros de G3, deu a entender que andou na guerra colonial… Não quis aprofundar o assunto, seria indelicado da minha parte...


− Sim, ele esteve na Guiné, entre 1963 e 1965, se não erro… Não sou boa em datas. Regressou com 25 anos e só depois é que acabou o curso de engenharia, faltava-lhe um ano ou coisa assim… Deve ter apanhado a crise estudantil de 62… Não te sei dizer.

− Nasceu portanto em 1940 ou por aí…

− Sim, ele era mais velho do que eu uma boa dúzia de anos… Eu sou de 1952.

− Falava-te da guerra ?

− Pouco ou muito raramente... Sim, quando fomos à Guiné, ou melhor, à ilha de Orango, no arquipélago dos Bijagós… Fomos de avioneta, diretamente de Dacar para Orango… Em rigor, não estivemos na parte continental da Guiné-Bissau. Nesses dias, que adorei, vi os estranhos hipopótamos que vivem tanto em água doce como salgada, e que vão desaparecer com a subida do nível do mar, daqui a algumas décadas… Sim, nesses dias, ele falou-me por alto de algumas recordações do tempo da Guiné… Tinha estado em Bubaque, em 1964, numas curtas férias…


− Mas nunca te falou em episódios de guerra ?!... De um prisioneiro que terá tentado fugir e que foi abatido à queima-roupa...


− Não... Acredito que não deve ter sido fácil para ele. Mas eu também não queria saber nada sobre esse passado obscuro. E muito menos da merda da guerra!... Às vezes apanhava-o a falar...sozinho!

− Deve ter tido também um divórcio litigioso… E deve ter havido, aí, no passado dele, mais episódios de violência doméstica, não ?!

− É bem possível, mas era assunto tabu entre nós. Nunca falámos da ex-mulher dele.

− O passado de cada um de nós é sempre uma caixinha de Pandora.

− E eu que o diga, meu amigo!

− Percebi que também perdeu os pais, ainda relativamente cedo…

− Sim, num estúpido acidente automóvel, nas vésperas de Natal quando iam para Viana do Castelo. Há uns trinta e tal anos. Ele é que ia a conduzir. Os velhotes iam atrás. Ficaram esmagados pelo embate de um camião TIR, que ficou sem travões…


− Não o amavas assim tanto…

− Vamos lá a ver: habituámo-nos à companhia um do outro. Tínhamos, de facto,  algumas coisas em comum. Por exemplo, éramos cinéfilos, adorávamos o cinema italiano do pós-guerra... Ele era um gajo culto, para os padrões burgueses do Porto… Gostava de ir ao teatro, gostava de ouvir um bom concerto sinfónico, etc. Mas, amor, amor… É uma palavra demasiado forte que eu não gosto de pronunciar em vão… Andei toda a vida à procura do grande amor da minha vida, como quem joga no Euromilhões… Desisti, comecei a jogar à raspadinha, ou seja, ao Centimomilhões!

− Somos utópicos…

− Somos mas é
 estúpidos, pelo menos nós, as mulheres, somos mais estúpidas do que vocês…

− Não digas isso, estás ainda magoada ao fim deste tempo todo.

− O meu sexto sentido, a minha inteligência emocional, falhou desta vez… Aliás, tem falhado mais vezes. Afinal, nunca acertei com os gajos que passaram pela minha vida, ou pela minha cama, que são coisas que deveriam ser diferentes!

− Não, quando se tem vinte anos!... 


− Sim, nessa altura o sexo era tudo… E ainda não havia, felizmente, a Sida!.... Mas já tínhamos a pílula, ao menos… Nós, as mulheres!... E vocês, homens, esfregaram as mãos de contentes... Lembras-te ? Dizíamos que era o "amor livre"!...


− Mas, afinal, ainda o odeias, ao último ex ?


− Se queres que te seja franca, tenho-lhe um pó danado, só consigo fazer o luto de uma relação, através do ódio… Ainda não deixei de o odiar... E não quero encontrá-lo, o que é difícil para quem vive numa cidade como o Porto: evito, por exemplo, ir à Foz, e aos locais que frequentávamos... Felizmente que ele não vai ao Parque da Cidade nem faz parte da nossa tertúlia (**)... Vivi um ano quase enclausurada como uma monja...

− O amor e o ódio são as duas faces da mesma moeda… Mas como é que se risca uma pessoa da nossa vida ?... Foram oito anos de vida juntos… Vocês partilhavam algumas coisas boas da vida: as exposições de arte, as galerias, o teatro, o cinema, a música, a boa comida, as viagens…

− Até o nosso álbum de fotografias destrui, num acesso de raiva, as férias “maravilhosas” que ele me proporcionou na ilha do Príncipe ou na ilha de Orango… Rasguei todas as fotos em que aparecíamos juntos. É assim que faço o luto de uma relação quando as coisas acabam mal por culpa dos gajos…

− Parece-me que o teu ódio também é contra a injustiça da justiça, não ?!


A Nucha fez questão de me acompanhar ao comboio, apanhámos o metro até Campanhã. Pelo caminho foi-me então contando, mais descontraída, o que se passara nessa noite de junho de 2016…

− A brincar, a brincar, já lá vão dois anos…

Vim no comboio, de regresso a Lisboa, a tentar reconstituir, por escrito, o longo monólogo que a Nuncha teve na cama com ele, o Vaz C…, e que terá sido o “móbil do crime”… Ou pelo menos a gota de água que fez transbordar o copo de uma relação já há muito desgastada pela usura do tempo e da ro
tina… 

"Imagina, encontrei o Mastroianni em Lisboa!... Um Mastroianni grego, ateniense. Foi um dos estrangeiros que participou na conferência. Ele era lindo como um deus do Olimpo. Mais novo do que tu, muito mais novo. Um quarentão, charmoso, brilhante, sedutor, como Apolo. De facto, dava alguma parecença com o Mastroianni quando novo, que, como sabes, sempre foi o meu ator italiano preferido... Isto de ser cinéfilo é o que dá: confunde-se às vezes a ficção com a realidade. Gostamos de tirar parecenças dos atores que vemos na tela com as pessoas de carne e osso que vamos conhecendo na vida.

"Em boa verdade, já nos tínhamos encontrado antes, uma vez, em Barcelona, há uns poucos anos atrás, recordava-me do seu nome... Era o último da lista, o Zacarias, mas nem ele reparou em mim nem eu nele. Também era mais novo e desconhecido. Desta vez, em Lisboa,  ele era a estrela da companhia. Intelectualmente brilhante, fisicamente atraente. O encontro foi de dois dias, 5ª e 6ª. No primeiro dia, à noite, houve o tradicional jantar de gala, oferecido pela organização. O sítio não podia ser mais romântico e inspirador, no terraço coberto de um hotel de charme, um antigo palacete do séc XVIII, revestido a fabulosos azulejos da época, e que milagrosamente sobreviveu ao terramoto... Com vista para a Baixa e o estuário do Tejo, estás a ver ?!... A noite estava perfeita, com uma temperatura já de verão, e Lisboa estava em festa com a proximidade dos santos populares.

"Comeu-se bem e bebeu-se melhor, sabes como são os estrangeiros quando vêm cá, a Lisboa ou ao Porto, em negócios ou trabalho, gostam de juntar o útil ao agradável, o dever e o prazer. São muito trabalhólicos mas à noite tiram a gravata e o casaco, o mesmo é dizer, a máscara. O ambiente era descontraído, e desinibido, e havia uma tremenda carga de energia positiva no ar.

"Os trabalhos, no dia seguinte, só recomeçavam às 10h00, por alteração de última hora do programa. Esperava-se a presença do ministro. Ainda fomos ao Bairro Alto, mais para ver o ambiente e andar um pouco a pé. Depois regressámos ao hotel, que não era longe, estávamos alojados no mesmo sítio, e por coincidência no mesmo piso. Como estava sem sono e, em boa verdade, sentia-me 'very, very free, cool, happy', uma sensação que há muito não experimentava. 

"Apesar da nossa diferença de idades, para aí vinte, o Mastroianni quis ser gentil comigo, ficou mais tempo na conversa, bebemos o último copo 'para a sossega' (, fez ele questão de mo oferecer!), acabámos por subir juntos, no elevador, despedimo-nos com um beijo e eu aí..., tive uma sensação estranha, um impulso, agarrei, qual leoa, com as duas mãos, aquela cabeça de Apolo e,zás!, ..."

− Foi nesse preciso momento que o gajo, que estava a um canto da cama, a fingir que me ouvia, saltou como o tigre da Malásia, ferrou-me o pescoço com os dentes, tapou-me a boca com uma mão, puxou-me os cabelos com a outra, e deu um urro que ecoou pela casa toda: "Cala-te, sua...!"... E tentou estrangular-me, quase até à asfixia total. Tive uma fração de segundo de lucidez para perceber o que estava a acontecer e que ele me ia matar... Foi aí que consegui, num derradeiro esforço hercúleo, libertar a minha perna esquerda e dar-lhe uma joelhada fortíssima no baixo ventre. Deu um urro de morte: "Sua....caaaaa... braaaaa!!!!"... E, "in extremis", largou-me, desistiu, bloqueou, caiu exausto na cama, teve um ataque de choro, histérico ... O resto já sabes...

− Sim, conseguiste chamar o 112...

− Saltei da cama, cheia de dores, num estado miserável, desgrenhada, a roupa rasgada, pedi socorro ao 112... Não ofereceu resistência quando chegou a polícia... Só o voltei a ver no tribunal. Há um ano e picos. O processo correu célebre.

− E tu é que foste... a cabra!!!

− O gajo ficou completamente desvairado com a cena que eu estava a contar, em voz alta, mais para mim do que para ele... Na sua imaginação pornográfica viu-me agarrada ao grego, a rebolar na cama!... O gajo tratou-me como uma puta, privativa, a quem pagava, de vez em quando uns jantares em restaurantes de luxo, só para eu ser dele!

− E não aconteceu rigorosamente "mais nada" com o teu grego ?!...

− Não vou dizer que não estava excitada... Se calhar até era capaz de ir para cama com ele, mas fiquei por ali, peguei-lhe na cabeça com as duas mãos, como uma mãe faria a um filho, dei-lhe um longo beijo de boas noites ... e de despedia!... No dia seguinte, trocámos olhares cúmplices, acabou a conferência, ele apanhou o avião para Atenas e eu o comboio para o Porto... Nem sequer sei onde mora!...

De confidência em confidência, a Nucha ainda me disse:

− No fundo, fiquei com uma pena danada de não dormir com ele nessa noite, irrepetível! Ainda hoje não sei porque é que não o fiz... Muito provavelmente porque ele não me deu  "luz verde"... Sou muito intuitiva nestas coisas, dou muito importância ao comportamento não verbal dos meus parceiros... Senti atração por ele, não senti atração dele por mim...


− O teu Apolo não estava nos dias dele... Os deuses são caprichosos... tão ou mais que os humanos...


− Claro que eu fui completamente idiota ao contar esta história ao meu ex... Se calhar até fui cruel, sem intenção de o ser... Ou, se calhar, inconscientemente, quis provocá-lo, testar os seus limites de racionalidade...  Dir-me-ás, também tu, que, antes de seres meu amigo, és macho, que as mulheres não podem brincar com o fogo...

− Foi por isso que os homens, com medo, vo-lo roubaram!... É um dos mitos mais antigos da humanidade!

− Estás a ver ?!...Uma muher não pode ter desejos, não pode ser proativa em matéria de sexo...E muitos menos se tiver cabelos grisalhos... Uma gaja aos 64, era a idade  que eu tinha na altura, em 2016, não pode desejar um homem, vinte anos mais novo... Grego, lindo com o Apolo!... Sabes ?!,  tenho reconhecer que estou velha e acabada!...

− Que disparate!... Ainda estás aí para as curvas, como dizem os machos... Ou, como dizem aqui no Norte, ainda és uma gaja boa como o milho...

Não voltei a ver a minha amiga Nucha desde a nossa última conversa, em Campanhã, há uns meses atrás. Desejo-lhe, ainda a tempo, bons augúrios para 2019. E, nomeadamentem, mais sorte aos amores, já que a não tem tido ao jogo.



Alfragide, 21 de janeiro de 2019

Texto e foto: © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Notas do editor:

(*) Vd.postes anteriores da série > 


1 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19353: A Galeria dos Meus Heróis (17): Os caminheiros do parque da cidade - II (e última) parte (Luís Graça): com os meus votos para o novo ano que aí vem, o 2019. Porque a saúde, afinal, não serve para mais nada... a não para sermos livres e felizes! (Luís Graça)

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18200: (De)Caras (104): Patrício Ribeiro, nascido em Águeda, criado em Angola, "filho da escola" da Armada, ex-grumete fuzileiro, empresário em Bissau, ator e observador da história recente da "pátria de Cabral", o "homem certo no sítio certo"... Ou melhor: o "tuga" que sabe mais da Guiné, e para quem a Guiné "sabi di mais"...


Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Orango > 7 de outubro de 2008 > O Patrício Ribeiro no--- Hotel de Orango, na ilha mais atlântica da Guiné-Bissau, a 100 km de Bissau, ou seja, a 7 horas de canoa "nhominca", de Bissau..

[O nosso amigo e camarada Patrício Ribeiro é um português, natural de Águeda, criado e casado em Angola, com família no Huambo, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bssau desde meados dos anos 80 do séc. passado, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda.]

Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Guiné-Bissau > Bissau > Impar Lda > 15 de abril de 2017 > Foto da página do Facebook da Impar Lda: 25 anos na Guiné-Bissau, a trabalhar na área da energia e comunicações: energia solar geradores, bombas de água solar, rádios VHF/HF, GPS, radares... Ver aqui a sua galeria de projetos realizados, do arquipélago dos Bijagós à fronteira com o Senegal e a Guiné Conacri... 100 guineenses (trabalhadores e suas famílias dependem da carteira de encomendas desta empresa, e da sua boa gestão)...

Foto: cortesia da Impar Lda... Ao fundo, o Patrício Ribeiro, de óculos escuros, orientando so trabalhos de montagem de painéis solares...


1. Resposta do Patrício Ribeiro ao comentário do nosso editor Luís Graça (*):

Luís, o comentário que enviei sobre as fotos da praia de Varela, foi a partir da minha lareira nas margens do Vouga [, em Águeda], onde há frio e foi com um copo de tinto na mesa …
Gosto de falar da minha praia de Varela de que adoro; dos banhos na água quente a 30º, das minhas pescarias diretamente para o grelhador, acompanhadas por umas bacias de ostras, etc…

O que escrevi no comentário, é um pequeno resumo dos diversos capítulos vividos naquela época, mas muitos deles ainda os considero 'classificados' …

Quando nos voluntariamos a ajudar os outros, quando pessoas a chorar nos pedem para não os deixar para trás …,   a “formação militar não o permite", vem ao de cima...

E, por força das condições, passamos a ser o elo de ligação entre o resto do mundo e o interior de um país em guerra, de onde não é possível informar os familiares: onde estamos, que estamos vivos … Repara, não havia telefones e as fronteiras estavam fechadas, quer internamente, quer com os países vizinhos e estas últimas estavam a ser bombardeadas. Bissau ficava longe e não  se sabia o que se passava no interior.

E quando do exterior… nos pedem a colaboração, através do nosso “bombolom”, para encontrar esta e aquela pessoa de quem não se tem notícias há muitas semanas … certamente qualquer um de nós ajudaria, se tivesse condições...

Os restantes capítulos vão saindo, quando alguém tocar na "ferida".

Luís, depois de ter saído na canoa nhominca, que, no regresso, na minha presença, carregou da fragata Vasco da Gama a primeira ajuda humanitária para a Guiné, destinada à Missão Católica de Suzana,  eu voltei para Portugal. Não, não fiquei lá...

Mas passados 2 meses regressei à Guiné, via Dakar e táxi aéreo para Bubaque, dali para Bissau em vedeta de guerra, que foi construída no Alfeite e que estava na mão dos militares senegaleses.

De Bissau por vezes saía para Varela, quando recebia um 'papelinho' avisando que era melhor ir dar uma volta… Pegava na minha mochila com uma lata de atum, atravessava a pé as bolanhas e lá ia eu para banhos.

O aeroporto de Bissau, esteve fechado quase um ano…

Quando da morte do 'Nino', tinha ido passar o fim de semana à ilha de  Orango…

Na morte do Ansumane Mané, estava fora de Bissau...Ao reentrar em Bissau encontrei quase uma centena de milhares de pessoas, a saírem a pé. Algumas já iam para lá de Nhacra. Fiz um apelo na rádio RTP África, para mandarem transporte, afim de apanharem as pessoas que estavam a dormir à beira da estrada, sem qualquer condição.

Ao mínimo problema, a estrada principal era fechada a viaturas, em Safim.

Assim. como da morte dos restantes [altos dirigentes do país...], estava fora, por Varela, Contuboel, etc.

Abraço

Patricio Ribeiro

MPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau ,
Tel / Fax 00 245 3214385, 6623168, 7202645, Guiné Bissau | Tel / Fax 00 351 218966014 Lisboa
www.imparbissau.com
impar_bissau@hotmail.com


2. "Curriculum vitae" (abreviadíssimo...) que o Patrício Ribeiro nos mandou em 10/9/2009 (, devendo acrescentar-se que ele é membro sénior da Tabanca Grande, entrou em... janeiro de 2006):



(i) nasci [em 11 de outubro de 1947,] nas margens do Rio Vouga, centro do mundo, sou vizinho do D. Duarte Lemos, frequentei a Escola Industrial de Águeda;

(ii) fui Fuzileiro (Gr FZ) [, portanto "filho da escola"];

(iii) passei por Bissalanca em 1969, estava muito calor: como não tinha roupa apropriada (tinha deixado o camuflado em Vale do Zebro, na escola de Fuzileiros), mandaram-me seguir para Luanda [, 1969/72]…

(iv) ao fim de uns anos, deixaram-me ir para casa, em Luanda, em 1972...

(v) por lá fiquei até ao último avião, da ponte aérea para Lisboa (, enfim, outras guerras);

(v) a minha família viveu dezenas de anos no Huambo (, antiga Nova Lisbao): pai, mãe e irmãos, etc.

(vi) minha mulher é natural do Huambo;

(vi) por questões profissionais, em 1984 fui para Bissau; 

(vii) gostei, fiquei por lá desde então:

(viii) fundei a Impar Lda: o 'patrão' paga-me para fazer coisas que gosto, em locais de difícil acesso, e porque é uma aventura permanente… já não sei viver sem ela!

(ix) faltam-se 2 660 dias para a reforma… 

Lx, , 10/9/2009

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P17977: Historiografia da presença portuguesa em África (100): António Estácio: O Contributo Chinês para a Orizicultura Guineense - Parte II: (iii) da pesca à agricultura; (iv) os primeiros chineses e seus descendentes




V Encontro Nacional da Tabanca Grande, Leiria, Monte Real, 2010 > António Estácio, 


1. Continuação da publicação da comunicação do António Estácio, sobre o contributo da comunidade chinesa na Guiné, para o desenvolvimento da cultura do arroz. nas primeiras décadas do séc. XX, Temos a autorização expressa do autor, o nosso amigo e camarada António [Júlio Emerenciano ] Estácio, que tem 45 referências no nosso blogue. Eis aqui uma breve nota curriucular sobre ele:

(i) é lusoguineense, nascido em 1947, e criado no chão de Papel, em Bissau, com raízes transmontanas, tendo vivido também em Bolama;

(ii) formou-se como engenheiro técnico agrário (Coimbra, 1964-1967, Escola de Regentes Agrícolas, onde foi condiscípulo do Paulo Santiago), depois de frequentar o Liceu Honório Barreto;

(iii) fez a tropa (e a guerra) em Angola, como alferes miliciano (1970/72); 

(iv) trabalhou depois em Macau (de 1972 a 1998); 

(v) vive há quase duas décadas em Portugal, no concelho de Sintra; 

(vi) é membro da nossa Tabanca Grande desde maio de 2010; 

(viii) tem-se dedicado à escrita, dois dos seus livros mais recentes narram as histórias de vida de duas "Mulheres Grandes" da Guiné, a cabo-verdiana Nha Carlota (1889-1970) e a guineense Nha Bijagó (1871-1959);

(ix) o seu livro mais recente (2016, 491 pp.), de temática guineense, tem como título "Bolama, a saudosa", edição de autor;

(x) a comunicação que agora se reproduz foi feita no âmbito da V Semana Cultural da China, de 21 a 26 de janeiro de 2002;


2. O Contributo Chinês para a Orizicultura Guineense - Parte II: (iii) da pesca à agricultura: (iv) os primeiros chineses e seus descendentes (pp. 440-446)


In: Estácio, António J.E. (2002) – O Contributo Chinês para a Orizicultura Guineense, in: Actas, V. Semana Cultural da China, Centro de Estudos Orientais, ISCSP/UTL: 431‑66














(Continua)
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Nota do editor:

Último poste da série >  15 de novembro de 2017 >  Guiné 61/74 - P17974: Historiografia da presença portuguesa em África (99): António Estácio: O Contributo Chinês para a Orizicultura Guineense - Parte I:  (i) preâmbulo: (ii) generalidades

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16966: Memória dos lugares (357): Ilha de Orango, uma pérola do arquipélago dos Bijagós, num dos sítios mais ameaçados do mundo, devido às alterações climáticas (Foto e legendas: Patrício Ribeiro, Bissau)


Foto nº 1 >  Rio para Anor... e riquíssima avifauna da ilha


Foto nº 2 > Rio para Anor


Foto nº 3 > Vedação para hipopótamos de água salgada, animais que são sagrados para os bijagós... É uma espécie única no mundo


Foto nº 4 > Transporte de um gerador para o hotel


Foto nº 5 >Bar do hotel 


Foto nº 6 > O "repouso do guerreiro!...

Guiné -Bissau  > Região de Bolama / Bijagós > Ilha de Orango >  Hotel de Orango > 6-7 de outubro de 2008 >Viagem pelos hotéis do mato: o Orango Parque Hotel, em  pleno Parque Nacional de Orango  um  projeto de ecoturismo [Ver aqui a excelente página na Net, do hotel, lamentavelmente "apenas" em espanhol e inglês]

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro  (2008). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Poucos (ou nenhum de nós) terão ido à(s) ilha(s) de Orango, no tempo da guerra colonial. Nem sequer a Bubaque, mais conhecida do turista... Orango é a ilha mais afastada do continente, e só a viagem é uma aventura...

As praias do arquipélago dos Bijagós eram só para alguns, privilegiados... O Patrício Ribeiro é "o último dos tugas" na Guiné-Bissau, que por razões sentimentais e profissionais lá vive há 3 décadas... Tem a sabedoria dos "africanistas", sabendo conciliar trabalho e lazer ou, como a gente dizia no nosso tempo, "serviço e conhaque"...

Recorde-se que ele é sócio e diretor técnico da Impar Lda, a empresa que tem levado a energia elétrica, produzida por equipamentos fotovoltaicos, aos mais recônditos sítios da Guiné-Bissau... E este é mesmo um sítio recôndito, de difícil acesso, mas deslumbrante. Uma sugestão para  a tal "viagem da minha vida" que alguns de nós gostariam de poder fazer antes de morrer... [Vd. aqui mais fotos de Orango no Google Imagens.]

Estas fotos de Orango resultam dessas andanças do "pai dos tugas" (como ele é carinhosamente conhecido em Bissau)... Andavam por aqui "adormecidas" nas nossas bases de dados.

Lembremos, entretanto, que a Guiné-Bissau está em segundo lugar na lista dos 10 países mais vulneráveis do mundo, devido às mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global do planeta... A seguir ao Bangladesh e antes da Serra Leoa... Seis desses dez países são africanos... A Guiné-Bissau pode mesmo vir a ser riscada do mapa... num futuro não muito distante... (LG)


Mapa da região de Bolama / Bijagós. Cortesia da Wikipédia. Orango é a mais distante das ilhas.


2. Comentário de hoje,  do Patrício Ribeiro,  a estas fotos com mais de oito anos, a pedido do editor [, o nosso camarada encontra-se ainda em Portugal onde veio passar a quadra festival, em Lisboa; está agora na sua terra natal, Águeda, onde foi  fazer "as podas de janeiro",  estando em vésperas de regressar ao trabalho no fim do mês: está  previsto um almoço de despedida, com os amigos "tugas", no restaurante do costume , em Alcântara];


 Já lá vão alguns anos, desde estas fotos agora editadas.

Iniciei os meus passeios pelas diversas ilhas de Orango em 1995, para ajudar na construção do Parque Natural de Orango, PNO.

É um  local de difícil acesso, a 100 km de Bissau. O transporte faz-se durante 7 horas sem paragem, nas canoas nhomincas, pelo mar.

Uma das minhas maiores surpresas  foi como as pessoas falavam português comigo. Por toda a Guiné-Bissau, é o local onde melhor falam português. Talvez seja porque no dia a dia, só falam o Bijagó, utilizando pouco o crioulo. Ou porque na escola de Iticoga, com mais de 200 alunos, os professores pratiquem o ensino em Português.

A tabanca de Eticoga, é a maior dos Bijagós, tem mais de 100 casas, tem aeroporto, (quando o mato está cortado), uma Casa Museu da Rainha Pampa, Centro de Saúde e a sede do PNO.

Nestes meus anos de viagens, muitas vezes com lama até à cintura, já dormi muitos meses nas ilhas de Orango, a maior parte das vezes, na minha tenda junto a uma praia. E algumas vezes no Hotel Parque de Orango, construído por um amigo em 1998. Um local lindo, de sonho.

Claro que também dormi com os hipopótamos por perto, foi necessário fazer fogueiras para os afastar, na tabanca de Anor e no mato da ilha Orangozinho, com os crocodilos em Imbone, etc. etc.

E agora com zero graus, à lareira na minha tabanca [de Águeda], à espera de regressar a estes lugares quentes .