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quarta-feira, 29 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16248: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (18): Resposta ao Manuel Luís Lomba

 
 1. Em mensagem de 28 de Junho de 2016, o nosso camarada António José Pereira da Costa, Coronel de Art.ª Ref (ex-Alferes de Art.ª da CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74), enviou-nos a sua apreciação/resposta ao texto do camarada Manuel Luís Lomba publicado no Poste 16243 para integrar a sua série: "A Minha Guerra a Petróleo".



A Minha Guerra Petróleo (18)

“Resposta ao Manuel Luís Lomba”

Começo por informar que não li o livro do Cor. Golias. As considerações que vou fazer têm unicamente que ver com as afirmações do Luís Lomba no post 16243.

Recordo ao camarada que a História demonstra que Portugal teve sempre dificuldade em se afirmar a no seu espaço geoestratégico e, por consequência, não é verdade que tenha descido da “glória legada pela gente de rija têmpera de outras eras, a protectorado dos seus principais credores internacionais e que estes sobrepuseram a sua “troika” à governação nacional”. Basta recordar, entre outras, as sucessivas intervenções britânicas ao longo dos tempos, as invasões francesas, etc.

Em qualquer apreciação que se faça é irrelevante que “Portugal seja o segundo país mais antigo da Europa, terceiro mais antigo do Mundo, todas as suas instituições creditadas de Direito e acreditadas em todas as instâncias internacionais”. Entre países, tamanho não é qualidade e idade não é posto. Recordaria também que se “de facto, nem o regime nem o governo eram sancionados pelo povo” haveria que fazer qualquer coisa… especialmente ao fim de 13 anos de “guerra”. Não sei, ainda hoje, o que seja a “corporação militar nacional, acusando a sua usura nas guerras de África, destituíra-os, com economia de sangue, de desordens, sem a vacatura nas nossas instâncias supremas e restabelecera de imediato a cadeia de comando das nossas FA”. O texto parece-me confuso e gostava de ser esclarecido neste ponto…

Ignoro a existência de um plano B, mas sempre considerei que se fosse realizada uma tentativa de cessar-fogo entre os beligerantes no terreno, as coisas iriam esclarecer-se a nível internacional, primeiro, e nacional, depois. Já disse, noutro local, que as conversações directas Spínola-Cabral poderiam ter poupado muitas vidas e recursos. Não concordo, portanto, com a ideia do PAIGC de só negociar com o governo português. Admito que eu não seja um português “de rija têmpera”, mas não vale a pena continuarmos no campo das hipóteses. De qualquer modo, há que ter em conta que o país era só um e que havia os antecedentes da revolta da Madeira/Guiné/Cabo Verde que seria uma hipótese a não descartar. Ignoro, mas admito que o sob o “impulso da arma de Transmissões da Guiné, os primeiros militares a tomar conhecimento do sucesso total, o MFA de Bissau executou esse golpe por conta própria, na manhã do dia 26, decapitando o alto comando militar, secando a sua fonte de informações, pela dissolução da PIDE/DGS, à revelia da orientação do MFA central e das ordens do seu supremo comando”. Para mim, o decapitar do comando militar, lá como cá, era intuitivo. Quanto à PIDE, não creio que ela tivesse campo político para tomar qualquer atitude de oposição, por falta de apoios no local, assim como também não estou a vê-la a pesquisar activamente informações junto do In ou ex-In e a ir diligentemente fornecê-las ao MFA.

O favorecimento do IN surgiria, mais tarde ou mais cedo com a independência – e não havia outra solução – a menos que as unidades estacionadas na PU pretendessem, pelo menos em grande parte, continuar com a luta. Não creio que as NT admitissem tal hipótese, não vejo a finalidade, nem as possibilidades de êxito, mas o camarada lá saberá no que se fundamenta.

É lapidar afirmar que “a quebra do moral e da disciplina são recompensas ao IN e foi desde sempre comum ao soldado, profissional ou do contingente geral e que um golpe daquela natureza, em tão sensível teatro de guerra, seguramente não buscava o contrário”. Nem outra coisa era de esperar! Tem sido sempre assim em todos os países e guerras do mundo. Já afirmei que a tal “Descolonização Exemplar” foi a que foi possível no contexto nacional e internacional (este mais preponderante). Em política, como na guerra, faz-se o que se pode e os outros agentes envolvidos deixam e não o que queremos fazer. Treinadores de bancada, só à noite, na BolaTV. No que respeita à “desgraça dos povos colonizados, com os quais Portugal levava 500 anos de compromissos” quero recordar que a expressão colonizados fala por si e que não há ”compromissos” estabelecidos com aqueles a quem colonizamos. A colonização não assenta em compromissos, mas no domínio efectivo de outro povo. A situação actual do nosso país não é de compromisso, mas de domínio. O “empobrecimento de todos, em favorecimento de terceiros, que nunca derramaram uma lágrima, uma gota de sangue ou de suor, nem pelas gentes nem por aquelas terras africanas” não é para mim, uma preocupação. É uma questão que diz respeito aos guineenses. Com efeito, se combatemos os movimentos independentistas era porque não queríamos “aquela” solução, ou alguém levou a que não a quiséssemos, porventura de modo fraudulento, o que é grave. Não tendo tido força para impor – especialmente a nível local e internacional – o nosso ponto de vista, só temos que aceitar os acontecimentos e actuar em conformidade.

Claro que nos (e a todos nós, penso eu) “assiste o direito de o “escrutinar(?)” como uma desobediência grave aos seus supremos superiores hierárquicos, o Presidente da República e o Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, já então legitimados pela circunstância, pelo seu afã de obstar que a Descolonização da Guiné, e, por extensão, a do restante Ultramar”. É uma opinião como outra qualquer. Os “partidos armados” eram, como é natural, os únicos merecedores de tentar a “satisfação das utopias que povoavam a cabeça de minorias e das ideologias em moda”. Neste ponto, considero uma injustiça que os que se expuseram e esforçaram para atingir um objectivo (fosse ele qual fosse) tivessem de ser sujeitos a um sufrágio. Gerido e vigiado por quem? Nunca por Portugal que era parte interessada e cujas FA estavam cansadas da situação. Ou ainda haveria portugueses de “rija têmpera” prontos para essa tarefa? Uma tal solução é dar aos que nada fizeram, a possibilidade de participar em qualquer coisa que se obteve com esforço. Depois, com o evoluir da situação interna da Guiné, logo se veria. As maiorias raramente realizaram algo, em momentos difíceis de qualquer país, antes pelo contrário. Quanto à “realidade concreta”, se calhar, se bem observada, seria surpreendentemente diferente da que nos vendiam. A caixa de Pandora abrir-se-ia sempre e não colou a “imagem de “república das bananas a Portugal”. Se a Guiné-Bissau “se transubstanciou em Estado falhado” não é da nossa responsabilidade. Se calhar “as maiorias”, mas de lá, têm uma palavra a dizer… Mas não os portugueses.

“São as nações que fazem os exércitos e não os exércitos que fazem nações. E, na realização dessa “Descolonização exemplar”, o MFA de Bissau apenas só teve ouvidos para os tiros e para os que os disparavam”. Mais duas verdades incontroversas. Uma é um tema vasto que nos levaria longe. Basta perguntar para onde queria ir a Nação Portuguesa com o Exército que ia produzindo, dia a dia. Quanto à segunda, basta recordar as razões porque estávamos ali. Se nunca tivesse havido tiros e quem os disparasse teríamos ficado cá, julgo eu. Não penso que se mobilizassem unidades militares para ir desenvolver o “TO daquela PU” ou doutra.

“Em 1974, o exército do PAIGC tinha tantos anos de vida (10) como de errância, indigente de massa territorial, e ousava-o disputar com o Exército Português, com os seus 900 anos de existência e de gloriosas armas, o seu currículo de conquistas territoriais e de gentes, à dimensão das margens do Atlântico e do Índico, que transformara num “lago português”. Calma, camarada! Estes arroubos de patriotismo carecem de fundamento. Se falamos de conquistas (territoriais e de gentes) estamos a admitir que atacámos e subjugámos e, nesse caso, seria bom sabermos porquê e para quê. Claro que há os contextos históricos, por isso uma certa moderação impõe-se especialmente nas margens dos oceanos… Se calhar, não foi bem assim. A História não é um desafio de futebol a contar para a “Taça dos Países com Guerra”. Os fenómenos são complexos e quando nos são apresentados assim devemos desconfiar. Quanto à tal “errância, indigente de massa territorial” recordo que a vida de guerrilheiro é mesmo assim e, normalmente, só envereda por ela quem quer.

A retirada de Guileje, “decidida sob a responsabilidade e comando de um oficial superior”, já foi aqui dissecada. Naquela posição havia apenas um obus de 14 cm operacional, e não 14,5 cm, com o alcance que o construtor britânico lhe deu e inferior ao das peças do inimigo. Para trás tinha ficado o Pel. Fox de Guileje e agora havia apenas uma viatura blindada. O camarada saberá como se reage com “morteiros de 81, canhões s/r 10,7”, ao fogo da artilharia do In, de alcance superior ao nosso. Por mim, confesso a minha ignorância. Os “abrigos de betão armado, resistentes a granadas perfurantes, poderiam constituir “uma espécie de Termópilas para a sua guarnição, no entanto longe de idêntico e funéreo”. Não sei o que os que lá estiveram acham disto. Por mim, acho pobre uma comparação romântica e inútil o conceito táctico, uma vez que o importante é que uma missão é uma ou mais tarefas com uma ou mais finalidades. Ou seja, é importante o que se faz, mas mais importante para que se faz e o que vai fazer depois. Nunca participei nas “colunas de reabastecimento de ida e volta a Gadamael” e sempre achei absurdo que se fizessem “colunas de ida e volta à água, a 4 km de distância”. Acho uma impiedade o comentário feito, mesmo que por alguém muito valente.

A “nomadização” é um tipo de operação de infantaria característica da guerra subversiva e que nada tem que ver com o abastecimento de água que se insere na área da Engenharia. É óbvio que “a população preferiu acompanhar a retirada da tropa e ficar ao seu lado, à libertação oferecida pelo PAIGC, não obstante patrocinada por todo o mundo - ONU, Organização da Unidade Africana, Blocos Ocidental, Comunista e Não-Alinhados...” Como o camarada sabe, em certos locais a separação das populações estava feita de tal modo que, quem não estava por nós (ou por eles) era contra nós (ou contra eles). Como reagiriam as NT se a população preferisse ficar? E como reagiria o In ao entrar no quartel e ver a população calmamente entregue às suas tarefas quotidianas ou arvorando bandeiras do Partido?

A crise de Gadamael, “sequela da retirada de Guileje” também foi já bastamente discutida. Não acredito nos 30 “portugueses de rija têmpera” num universo de 400. Não estive lá e por isso acho que devo abster-me de comentários desagradáveis e avaliações abusivas. Tenho muita consideração por quem lá esteve e estarei disposto a ouvi-los, se alguma vez encontrar algum. Não sou capaz de criticar o “esmorecimento moral com sentido a derrota e a contagiante quebra da disciplina” dos que ficaram. Julgo que só os que lá estiveram poderão fazê-lo, entre si. Do mesmo modo não me pronuncio sobre a crise de Guidaje. Vi passar a 38.ª de Comandos, a coluna Bissau-Farim carregada de munições e torpedos bengalórios para abrir caminho a partir de Farim. Vi passar o Nord-Atlas, à vertical da estrada, carregado de munições para reabastecer os cercados e tive conhecimento de que a coluna de reabastecimento que foi montada não chegou ao objectivo e acabou bombardeada pela FAP. Não sei, por isso, se esta batalha foi a “mãe de todas as batalhas” ou se teve com elas outro grau de parentesco. Talvez avó…

Não sei a que Guiné nos estamos a referir ao falar da obra “que os nossos antepassados realizaram em 500 anos”. A nossa observação à chegada e os factos históricos que têm vindo a ser divulgados e estudados não corroboram esta tese. A História regista a “Descolonização da Guiné”, com o seu efeito sistémico no restante Ultramar, como seria lógico. Obtida a independência pelo PAIGC, como visualizamos a situação nos outros TO? Será que as tropas estacionadas em Angola e Moçambique tinham um ataque de patriotismo e valentia e ganhavam a guerra em três tempos? Ou também optariam por “um acto de irreverência com ou sem o apoio de um grupo de jovens oficiais, uns mais e outros menos contaminados pela ideologia em moda?” Nunca o saberemos, mas eu creio mais na segunda hipótese.

Estive na Guiné e não encontrei os tais “tão seculares “compromissos” assumidos entre portugueses e guineenses”. Guineenses? Portugueses? Então não era tudo o mesmo país? Não vejo quais poderiam ser os diálogos mais “alargados e abrangentes”, e com quem, para além dos “monólogos impositivos dos camaradas José Araújo, Pedro Pires e até do Juvêncio Gomes”, tendo em conta a situação acumulada desde 1973.

Os “indicadores estatísticos referidos às situações militar, económica, sociológica e histórica da Guiné” demonstram, quer se queira, quer se não queira, “a iminência da nossa derrota no campo de batalha”, propalada pelos nossos militares profissionais, não desde 1974, mas em consequência de uma análise constante da situação. Esta análise não “configura menos respeito pelos que deram a vida em combate e algo de menosprezo pelas centenas de milhares de portugueses que se entregaram ao serviço militar do seu país, sem nada pedir e sem perguntar se o país lhe daria alguma coisa”. Antes pelo contrário. O que fazer para parar com uma fenómeno sociológico que ninguém queria? Prolongar o sacrifício em nome de quê ou de quem? Infelizmente as coisas são como são e não como gostaríamos que fossem.

Na sua reincarnação(?) como idealistas pela autodeterminação e pela democracia dos povos em vias de colonização, o que é que os nossos corifeus do MFA/Descolonização viram de semelhante a esse ideal, na prática dos chamados Movimentos de libertação, para além de partidos-armadas, e não viram nos movimentos e correntes de opinião, que perseguiam os mesmo fins, mas sem derramamento de sangue - porque a civilização e a moral lhes ensinara que os fins não justificam os meios -, que justificasse o apressado abandono de territórios e gentes? Compadrio ideológico ou medo dos seus tiros? Eles eram formados, formatados, municiados, alimentados e patrocinados pelos países do Bloco Comunista e do Terceiro Mundo, plenos de ditaduras e de aversão aos direitos humanos. Duas perguntas longas e profundas! Por mim, não “reincarnei” em nada, nem em ninguém e já atrás falei sobre estes temas.

Os povos estavam colonizados e não em vias disso. Nunca tive ocasião de encontrar nenhum movimento ou corrente de opinião, que perseguia os mesmos fins dos movimentos guerrilheiros, mas sem derramamento de sangue e muito menos na Guiné. O camarada saberá melhor que eu o que fizeram, onde e quando.

Desconheço o compadrio ideológico a que o camarada se refere e quem foi formado, formatado, municiado, alimentado e patrocinado pelos países do Bloco Comunista e do Terceiro Mundo, plenos de ditaduras e de aversão aos direitos humanos. Não encontrei esta tendência num número significativo de portugueses.

Pois claro! O que o que havia a fazer era “consultar o Zé Povinho” que saberia discernir o que havia a fazer. Nunca tinha discernido, mas agora iria discernir. Ou prolongar a guerra ou a conceder a independência ou uma terceira solução: talvez a independência concedida aos bocadinhos… Não sei o que seria discernido, mas… era uma hipótese académica de trabalho.

Aparte a referência à idade dos países, sugiro ao camarada que verifique se Portugal foi “fundador da ONU e da NATO e de todas as suas instituições reconhecidas pela Comunidade internacional”, e das condições em que tal se verificou.

A autocrítica pública do General Spínola só a ele diz respeito, mas sei que o Brig. Spínola de 1968 não era o Gen. Spínola de 1973 e creio que o camarada deveria pensar nisto. É que as mentalidades mudam os modos de ver alteram-se e essa mudança é que é sinal de inteligência.

E sendo um “ex-combatente amador da Guerra da Guiné, faço uma achega à “profissional”: Não obstante os seus picos, com a crise dos 3 Gs, Canquelifá, Pirada, etc., a gradação da Guerra da Guiné não ultrapassou a fasquia da “baixa densidade”. Esclareço que os conflitos são de baixa intensidade e não de menor densidade. E, mesmo assim, não quer dizer que se ganhem, ou melhor que se resolvam com maior facilidade. Está mais que dito e redito quais eram as características deste conflito de baixa intensidade.

À sua afirmação de que “desde 1128 que o Exército Português vinha sendo glorioso em guerras de “média e alta densidade”… quero recordar que em 1128 não havia Portugal, que conviria que desse uma volta pela História de Portugal para saber exactamente o que se ganhou e onde e o que se perdeu e porquê. Regresse ao passado fique-se e fixe-se nele, sem ideias feitas e com a necessária abertura para reconhecer onde estivemos bem, menos bem e até mal ou muito mal, sendo certo que as causas em História são remotas, próximas e pretexto para a ocorrência dos factos.

“O comunismo e o seu bloco implodiram, mas Portugal preservou-se(?) comunista, pela partilha da sua Língua com os povos que beneficiaram/sofreram a sua Colonização”. Sobre a língua portuguesa falada pelos tais povos de que o camarada fala recordo os longos diálogos de português camiliano que eu tive com as minhas lavadeiras e os debates literários que sustentei com os militares do recrutamento local. E, ainda hoje, ao entrar num comboio da linha de Sintra, fico pasmado com a fluidez do diálogo em português literário dos fulas que por aqui habitam. Que riqueza de vocabulário! Que exactidão nas expressões!

As minhas desculpas e um Abraço ao Camarada Manuel Luís Lomba
António J. P. Costa
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15809: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (17): O Moral das Tropas é Bom!

terça-feira, 28 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16243: (In)citações (94): A Guiné e a sua circunstância: Da efeméride da crise dos “3 Gs” e do livro “Descolonização da Guiné”, da autoria do Coronel Jorge Sales Golias (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705,  Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), com data de 21 de Junho de 2016:

A Guiné e a sua circunstância: Da efeméride da crise dos “3 Gs” e do livro “Descolonização da Guiné”, da autoria do Coronel Jorge Sales Golias, um assumido e notável actor da mesma

Quando o nosso país, por manifesta fraqueza da geração de governantes superveniente ao 25 de Abril, desceu da glória legada pela gente de rija têmpera de outras eras, a protectorado dos seus principais credores internacionais e que estes sobrepuseram a sua “troika” à governação nacional, logo a Guiné e a sua circunstância me acudiram à lembrança. Ante o seu anunciado regresso, ora para apalpar nossa frouxidão, lembrei-me de regressar ao passado da Guiné.

Para a realidade de Portugal como o segundo país mais antigo da Europa, terceiro mais antigo do Mundo, todas as suas instituições creditadas de Direito e acreditadas em todas as instâncias internacionais, sem exclusão do regime político e do governo, o acontecimento do 25 de Abril de 1974 foi um dia inicial inteiro e limpo. De facto, nem o regime nem o governo eram sancionados pelo povo e a corporação militar nacional, acusando a sua usura nas guerras de África, destituíra-os, com economia de sangue, de desordens, sem a vacatura nas nossas instâncias supremas e restabelecera de imediato a cadeia de comando das nossas FA.

De acordo com o seu plano B, seria desencadeada uma rebelião em Bissau, em alternativa ao eventual insucesso na Metrópole.

Com o plano A rápida e exemplarmente triunfante em Lisboa e no país, ocorreu um evento paradoxal: por impulso da arma de Transmissões da Guiné, os primeiros militares a tomar conhecimento do sucesso total, o MFA de Bissau executou esse golpe por conta própria, na manhã do dia 26, decapitando o alto comando militar, secando a sua fonte de informações, pela dissolução da PIDE/DGS, à revelia da orientação do MFA central e das ordens do seu supremo comando.

Golpismo em favorecimento do IN, não por contingência, mas por “criação” ideológica, bem patente na narrativa, sem dúvida sincera e honesta, do Coronel Jorge Sales Golias.

O saber de que a quebra do moral e da disciplina são recompensas ao IN foi desde sempre comum ao soldado, profissional ou do contingente geral. E um golpe daquela natureza, em tão sensível teatro de guerra, seguramente que não buscava o contrário. E terá sido a “mãe de todas as batalhas” que levaram à tal “Descolonização exemplar”, para desgraça dos povos colonizados, com os quais Portugal levava 500 anos de compromissos e o empobrecimento de todos, em favorecimento de terceiros, que nunca derramaram lágrima, gota de sangue ou de suor, nem pelas gentes nem por aquelas terras africanas.

E assiste-nos o direito de o escrutinar como uma desobediência grave aos seus supremos superiores hierárquicos, o Presidente da República e o Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, já então legitimados pela circunstância, pelo seu afã de obstar que a Descolonização da Guiné, e, por extensão, a do restante Ultramar, fosse realizada tendo por sujeito os povos e a sua realidade concreta e não para satisfação das utopias que povoavam a cabeça de minorias e das ideologias em moda, sustentadas em partidos armados, mas estranhas às suas maiorias. E terá constituído como que uma caixa de Pandora que se abriu para a impunidade campeadora, que colou a imagem de “república das bananas” a Portugal e que transubstanciou a Guiné-Bissau em Estado falhado.

São as nações que fazem os exércitos e não os exércitos que fazem nações. E, na realização dessa “Descolonização exemplar”, o MFA de Bissau apenas só teve ouvidos para os tiros e para os que os disparavam.

Em 1974, o exército do PAIGC tinha tantos anos de vida (10) como de errância, indigente de massa territorial, e ousava-o disputar com o Exército Português, com os seus 900 anos de existência e de gloriosas armas, o seu currículo de conquistas territoriais e de gentes, à dimensão das margens do Atlântico e do Índico, que transformara num “lago português”.

A retirada de Guileje enquadra-se numa manobra militar, não imposta mas decidida, da responsabilidade e comando de um oficial superior. Era uma posição dotada de obuses de 14,5 de longo alcance, morteiros de 81, canhões s/r 10,7, viaturas blindadas e abrigos de betão armado, resistentes a granadas perfurantes, predestinada por Amílcar Cabral a campo de batalha, uma espécie de Termópilas para a sua guarnição, no entanto longe de idêntico e funéreo fim. Como as baixas constituem o indicador da densidade das guerras, nesse período a que foi alvo de flagelações, massivas e continuadas, do armamento pesado registou-se uma só vítima mortal – o malogrado furriel de minas e armadilhas. Com o seu sorriso habitual e cínico, Nino Vieira dizia que a sua guerra contra Guileje só rendia baixas fora do quartel – nas ocasiões das colunas de reabastecimento de ida e volta a Gadamael e da ida e volta à água, a 4 km de distância.

A nomadização fora instalada em 1964, objecto de tanta intervenção da Engenharia de Bissau e, ao longo de 9 anos, até 1973, não foi possível abrir poços ou fazer furos mais próximos?

Essa famigerada retirada denuncia uma singularidade, apenas timidamente focada: a população preferiu acompanhar a retirada da tropa e ficar ao seu lado, à libertação oferecida pelo PAIGC, não obstante patrocinada por todo o mundo - ONU, Organização da Unidade Africana, Blocos Ocidental, Comunista e Não-Alinhados...

Seguiu-se a crise de Gadamael, sequela da retirada de Guileje e o seu preço, pago aqui com elevado número de mortos, imposto pelos factores cruciais: a troca da posição principal de resistência, dotada de abrigos específicos, por uma posição secundária, dotada de valas a céu aberto, a sua súbita e imprevista sobrecarga de população e militares e, sobretudo, o esmorecimento moral com sentido a derrota e a contagiante quebra da disciplina. A defesa de Gadamael passou por um período em que apenas foi sustentada pela valentia de cerca de 30 militares, do seu universo de 400. A chegada de uma companhia de pára-quedistas em seu reforço não só foi suficiente para a aguentar, mas também para forçar o IN a recuar para o território estrangeiro; e, se mais alguns chegassem, tirariam partido da “época das chuvas” como aliada e teriam perseguido os atacantes, enquanto estes chafurdavam no terreno, empenhados em safar o armamento pesado investido nas flagelações.

A crise de Guidaje foi a “mãe de todas as batalhas” dessa “Operação Amílcar Cabral” e a maior devoradora de vidas em ambos os campos. O aquartelamento só não terá imitado a retirada de Guileje, aos primeiros momentos do seu brutal ataque, graças a um factor: o desempenho ético e profissional do seu comandante, em posição de comando avançada, Tenente-coronel Correia de Campos que, com o seu exemplo de competência, coragem e valentia, obstou à quebra do moral e da disciplina aos seus comandados. Virá a ser o ignorado comandante no terreno da manobra das forças da Cavalaria de Santarém e de Estremoz que “convenceram” Marcelo Caetano à rendição, no 25 de Abril.

A História regista que a “Descolonização da Guiné”, com o seu efeito sistémico no restante Ultramar, foi obra da irreverência de um grupo de jovens oficiais, uns mais e outros menos contaminados pela ideologia em moda, por haverem voltado o feitiço (MFA) contra o seu feiticeiro (o General Spínola) - facto assumido por um dos seus actores principais, no aludido livro homónimo – que se apressaram em abandonar, em 5 meses, o que os seus antepassados realizaram em 500 anos.

Os tão seculares compromissos assumidos entre portugueses e guineenses não mereceriam diálogos mais “alargados e abrangentes”, que os monólogos impositivos dos camaradas José Araújo, Pedro Pires e até do Juvêncio Gomes?

Não invocando os indicadores estatísticos referidos às situações militar, económica, sociológica e histórica da Guiné, a iminência da nossa derrota no campo de batalha, propalada pelos nossos militares profissionais, desde 1974, configurará menos respeito pelos que deram a vida em combate e algo de menosprezo pelas centenas de milhares de portugueses que se entregaram ao serviço militar do seu país, sem nada pedir e sem perguntar se o país lhe daria alguma coisa. O PAIGC e os seus 4 mil militares seriam tão virtuosos e capazes que correriam a tiro os 45 mil militares/militarizados sob a bandeira de Portugal?

Partilho a indignação dos Pilav`s, esses tão poucos “cavaleiros do céu”, a quem tanto se deveu, em lidar com a atoarda da “perda da superioridade aérea”. Segundo o dicionário, “superioridade é a qualidade do que é superior” e, quanto aos meios aéreos da Guerra da Guiné, os tugas dispunham de aeronaves de pistão e de propulsão, enquanto os turras só disporiam de papagaios de papel…

Na sua reincarnação como idealistas pela autodeterminação e pela democracia dos povos em vias de colonização, o que é que os nossos corifeus do MFA/Descolonização viram de semelhante a esse ideal, na prática dos chamados Movimentos de libertação, para além de partidos-armadas, e não viram nos movimentos e correntes de opinião, que perseguiam os mesmo fins, mas sem derramamento de sangue - porque a civilização e a moral lhes ensinara que os fins não justificam os meios -, que justificasse o apressado abandono de territórios e gentes? Compadrio ideológico ou medo dos seus tiros? Eles eram formados, formatados, municiados, alimentados e patrocinados pelos países do Bloco Comunista e do Terceiro Mundo, plenos de ditaduras e de aversão aos direitos humanos.

Se consultado, o Zé Povinho saberia discernir: Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és!...

Outorgante expedito da “democracia” aos africanos, o MFA menorizou a nós, aos nossos pais e avós na sua outorga. Pela minha parte, já perdoei ao seu ideólogo programático, o falecido e então Major Melo Antunes, essa discriminação negativa: um ano de espera para uma Assembleia Constituinte, outro ano de espera para uma Assembleia Legislativa, dois anos de espera para eleger um Presidente da República e 8 anos de tutela armada – extinta pela revisão constitucional de 1982.

E porquê? Pela lógica idêntica à dos partidos armados da Guiné, Angola e Moçambique: não o sendo formalmente, o MFA era também um partido-armado…

No seu impetuoso “progressismo”, o MFA desvalorizara flagrantemente a nossa qualidade de segundo pais mais antigo da Europa e de terceiro mais do Mundo, reconhecido de Direito Internacional, desde 1179, fundador da ONU e da NATO, todas as suas instituições reconhecidas pela Comunidade internacional, então regido por uma constituição, das mais avançadas do mundo – reconhecimento do próprio Amílcar Cabral, que o complementava com o lamento de não ser cumprida.

Foi uma bizantinice, em resposta à qual avoco a autocrítica pública do General Spínola:
- “Sinto-me responsável pelo nascimento e criação do MFA e arrependo-me em não ter obviado o problema ao recusar-me a chefiar o golpe de Estado que instituiria da democracia; antes do 25 de Abril. Toda a Calçada da Ajuda (zona dos quartéis) e toda a Cavalaria estavam do meu lado”.

E sendo um ex-combatente amador da Guerra da Guiné, faço uma achega à “profissional”: Não obstante os seus picos, com a crise dos 3 Gs, Canquelifá, Pirada, etc, a gradação da Guerra da Guiné não ultrapassou a fasquia da “baixa densidade”.

Desde 1128 que o Exército Português vinha sendo glorioso em guerras de “média e alta densidade”…

Regressei passado, mas não fico nele. O comunismo e o seu bloco implodiram, mas Portugal preservou-se comunista, pela a partilha da sua Língua com os povos que beneficiaram/sofreram a sua Colonização.

Manual Luís Lomba
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16236: (In)citações (93): O que será a paz? (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux. Enf.º da CCAÇ 2381)

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16206; (Ex)citações (310): (i) lendas e narrativas do MFA de Bissau (a propósito do livro do Jorge Sales Golias); e (ii) o significado do vocábulo "Puto" (a Pátria que tínhamos... e que já não temos) (José Manuel Matos Dinis)

1. Comentário de José Manuel Matos Dinis  ao poste P16204 (*)


Eu adquiri o livro [do Jorge Sales Golias] e por ele constatei que o MFA começou numa viagem de avião para Bissau, em 1 de Julho de 1972, que reuniu o autor, Carlos Matos Gomes ("um camarada informado, lúcido e consciente da ditadura e da inutilidade da guerra"), bem como José Manuel Barroso jornalista do República, respectivamente capitães do QP e capitão miliciano. 

"A conversa evoluíu no sentido de mantermos a ligação e a firme intenção de nos reunirmos em Bissau para análise da situação politico-militar e eventual trabalho político com vista a uma tomada de posição do Exército no futuro do país. E assim havia de ser!" - pag.33, a primeira do texto.

Categoricamente fica agora desmentida a questão da carreira dos capitães-milicianos, que durante tanto tempo serviu de justificação para o movimento dos "prejudicados" capitães do QP, onde, aliás, já não encaixavam muito bem no argumento os oficiais de patentes superiores.

Ao longo do texto não se constata outra preocupação, que não seja a da concretização do golpe que libertaria os militares do QP, que era a preocupação do conjunto de promotores que, segundo a descrição, foi aumentado com mais adesões de oficiais de mais elevadas patentes, golpe que encaixava nas ambições pessoais de Spínola, que deu apoio, e terá provocado perplexidade determinante no Governo.

Jorge Sales Golias
Nestes termos, ganha realce o meu argumento de que os elementos do MFA apenas queriam recolher
ao conforto dos respectivos lares, onde as famílias os esperavam com desejo, pois os envolvidos não tiveram preocupações sérias com o destino dos povos das colónias onde havia Forças Armadas, mesmo em Angola praticamente pacificada. Longe das mulheres e dos filhos é que residiam as preocupações. Esta e outras razões parecem encaminhar as causas do 25 de Abril para a tese de Manuel Godinho Rebocho, constante da publicação "Elites Militares e a Guerra de África".

Também em nenhum lugar do livro de Golias foi aflorada a questão da sobrevivência da nação, cuja economia pujante era estruturada nas três mais importantes parcelas, a metrópolo, Angola e Moçambique. Naquele tempo Portugal só recorreu a um empréstimo externo para financiar Cahora-Bassa, e a metrópole tinha os mercados africanos portugueses como preferentes para a colocação dos seus produtos incapazes de concorrerem noutros mercados. 

Além disso, havia um importante mercado de invisíveis correntes provenientes de matérias-primas africanas e davam conforto aos cofres do Banco de Portugal. Assim, nem o intelectual []Melo] Antunes [1933-1999] vislumbrou qualquer problema com o desmembramento do conjunto, situação relevante do ponto de vista da metrópole.

Ainda somos afectados por essa decisão, pois aos resultados positivos das execuções orçamentais, Portugal não voltou a conseguir idêntico desiderato durante o regime alegadamente democrático, 42 anos depois.

Como dizia o brasuca, "pimenta no cú do outro, para mim é refresco", pelo que ninguém deve admirar-se do abandono ostensivo e surpreendente para os movimentos, pois o importante era o regresso urgente. Sobre os argumentos de "democracia, desenvolvimento e descolonização" já me referi bastante, e há muitas outras ilações sérias sobre a matéria, que evidenciam que a democracia nem sequer era seguida entre o que os revoltosos decidiam. 

Os irresponsáveis capitães aparecem agora a propor-nos compreensão, esquecendo que não foram vítimas de nada, nem do regime opressivo, nem das escolhas que fizeram, salvo, se essas escolhas não foram sérias, como, aliás, parece e avulta das traições praticadas. 

JD.


2. Resposta ao editor que me pediu o seguinte, em 22 de maio passado:

.
Zé Dinis (c/c Antº Rosinha): Vês se me esclareces o uso do vocábulo "Puto" (diminuitivo de Portugal), usado no teu tempo em Angola e ainda hoje. Diz-me quem usava o termo: os brancos, em geral, os africanos, também ?... Tinha um sentido depreciativo ou não ?

Estranho que os nossos dicionários ainda não tenham grafado o vocábulo, ao fim destes anos todos... Ab. Luis


Data: 25 de maio de 2016 às 20:59
Assunto: O uso do vocábulo Puto


Olá Luís, boa noite!


Colocas uma questão para a qual não tenho ciência. Mas posso arriscar.
"Puto" é uma expressão que me soou sempre com algum carinho, algum sentido de origem, e ouvi-a tanto em Angola, como em Moçambique.

Se tivermos em conta o significado de pequeno, pode traduzir a referência à metrópole feita nas grandes provincias ultramarinas. Uma referência "simplex", de apenas duas sílabas, e dita tanto por brancos, como por pretos ou mulatos.

Era como se fosse a terra mãe de todos nós, os que aqui nascemos, como os que lá eram governados a partir do "jardim". O governo está no Puto; o Sporting é do Puto; vou passar as férias no Puto; este vinho é do Puto; chegou agora do Puto, são expressões que representam as circunstâncias de referências à metrópole.

Seria uma espécie de idiomática, mas o Rosinha pode dar um contributo mais válido. (**)

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P16001: Nota de leitura (832): “A descolonização da Guiné-Bissau e o movimento dos capitães”, por Jorge Sales Golias, Edições Colibri, 2016 (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Abril de 2016:

Queridos amigos,
Atenda-se ao que Carlos de Matos Gomes escreve no prefácio desta narrativa que possui os requisitos para fazer parte da investigação histórica indispensável:
"Os relatos das reuniões de militares na Guiné desmontam pela base as calúnias que por vezes surgem sob a forma de interpretações históricas, atribuindo à contestação dos militares que roubaram a ditadura a uma mera e mesquinha motivação corporativa. O livro de Jorge Golias expõe a desonestidade desses adeptos do antigo regime e do colonialismo".
Em boa hora Jorge Sales Golias passou a escrito e deu sequência a factos históricos que a generalidade do povo português, e mormente as novas gerações precisam de conhecer para clara certidão da verdade de um teatro de operações que se encaminhava para uma tragédia do tipo de Índia.

Um abraço do
Mário


A descolonização na Guiné-Bissau e o movimento dos capitães (1)

Beja Santos

Oportunidade única de conhecer pela boca de um dos seus protagonistas o que foi o processo de descolonização da Guiné encetado formalmente a 26 de Abril de 1974, com a tomada do poder pelo núcleo do MFA da Guiné. A narrativa é de um capitão de Operações de Transmissões que acompanhou a génese do MFA da Guiné e terá um papel preponderante nos acontecimentos que antecedem o reconhecimento da independência da República da Guiné-Bissau: “A descolonização da Guiné-Bissau e o movimento dos capitães”, por Jorge Sales Golias, Edições Colibri, 2016.

Jorge Sales Golias chega a Bissau em Junho de 1972, viaja na companhia do Capitão Miliciano José Manuel Barroso, jornalista do “República”, que irá desempenhar relações de funções públicas no Gabinete do General Spínola e do Capitão (Comando) Carlos de Matos Gomes que ia para a sua terceira comissão. Ficará colocado no Agrupamento de Transmissões, explica-nos as suas missões, a sua relação com o Comandante do Agrupamento Tenente-Coronel Mateus da Silva, outra figura preponderante no 26 de Abril de 1974 em Bissau e período seguinte. Em pinceladas grossas, descreve a situação militar na Guiné, ao tempo da sua comissão: a reocupação do Cantanhez, a perda da supremacia aérea, os acontecimentos de Guidage, Guileje e Gadamael e o estado de desmoralização das tropas, cada vez mais acantonadas aos seus destacamentos. Com detalhe, menciona a reunião dos Altos Comandos de 15 de Maio de 1973 e a perceção de tragédia que lhe está subjacente.

A narrativa inflete para a origem do Movimento dos Capitães, reuniões que passam a ter lugar a partir do final do ano de 1972 e que têm o seu pico alto em 12 de Agosto de 1973 quando se discute, no Clube de Oficiais de Bissau, o decreto-lei n.º 353/73, reunião que dá lugar a outra e pela primeira vez ouve-se a palavra revolução, a 28 de Agosto surge uma carta que irá recolher 52 assinaturas, aquela que, segundo o autor é a carta fundadora do Movimento dos Capitães. Os contactos extravasam para Lisboa, e depois para o país. Alguns dos subscritores da carta dos 52 passam a participar nas reuniões na metrópole. Começa a evoluir-se para um golpe de Estado que apeie Marcello Caetano e derrube o seu regime. O MFA da Guiné, por sua conta e risco, preparou o Plano B do MFA, no caso de falhar o golpe em Lisboa, seria a vez dos militares em Bissau.

Em 25 de Abril, os serviços de escuta das Transmissões trouxeram as primeiras notícias pelas 5 de manhã, começam então em Bissau reuniões no Batalhão de Caçadores Paraquedistas, estão presentes o seu Comandante e oficiais de outras Unidades, como Raúl Folques, Matos Gomes, Zacarias Saiegh, Sosua Pinto, Pessoa Brandão. À tarde delineiam-se os planos de operações para controlar todos os pontos sensíveis e chegar à fala com o Governador Bettencourt Rodrigues e outras figuras preponderantes das Forças Armadas. Sabe-se que Bettencourt Rodrigues não só não reconheceu a Junta de Salvação Nacional como deu instruções à PIDE para seguir os movimentos dos oficiais do MFA.

Na manhã de 26, estes militares do MFA Guiné dirigem-se à Amura e entram no gabinete do Governador e Comandante-Chefe. Ocorre uma altercação que envolveu o Brigadeiro Leitão Marques, mas tudo acaba corretamente, fazem-se detenções formais e o Tenente-Coronel Eduardo Mateus da Silva é convidado pelo MFA da Guiné para encarregado do Governo, o Comodoro Almeida Brandão só aceitou desempenhar as funções de Comandante-Chefe. Jorge Sales Golias é nomeado Chefe de Gabinete de Mateus da Silva. Entra-se em conversações com os representantes da sociedade civil, procede-se à libertação de presos políticos, tiveram lugar alguns desacatos tanto em Bissau como no interior, caso de assaltos a casas comerciais. Procede-se à primeira organização de estruturas de apoio ao Governo até que em 7 de Maio o Tenente-Coronel Carlos Fabião foi designado por Spínola para novo encarregado do governo. Traz instruções precisas de Spínola: negociar o cessar-fogo; tratar o PAIGC como um partido igual aos outros; promover um referendo com vista a uma solução federativa. Mas Carlos Fabião apercebe-se rapidamente que tudo mudara, no contexto internacional, na evolução da guerra, no próprio estado de espírito das Forças Armadas Portuguesas. A especificidade do MFA na Guiné garante a sua presença na estrutura executiva do Governo, Mateus da Silva vai a Lisboa com uma agenda que inclui em todos os pontos entrar em negociações com o PAIGC. Spínola revela-se dramático, vai criando a sua própria agenda, pensa mesmo ir a Bissau a um Congresso do Povo, seria aclamado e subverteria os propósitos de independência do PAIGC. Enquanto tudo isto ocorre, a diplomacia move-se em Dakar, Londres e Argel, as nossas tropas começam a conviver com as forças do PAIGC, logo em 19 de Maio o Capitão Silva Ramalho, da Companhia de Sare Bacar, convive com as forças de Quemo Mané, é patente uma grande desorientação entre os comissários políticos e os comandantes militares do PAIGC.

É um período de intensos boatos, de reagrupamento de forças políticas, conflitos de trabalho, de greves. É neste contexto que se institucionaliza o MFA na Guiné e Jorge Sales Golias pormenoriza a orgânica da Estruturação Democrática do MFA.

Encetam-se conversações com as forças do PAIGC, disciplinam-se os relacionamentos hierárquicos, travam-se exageros e radicalismos. As tensões políticas metropolitanas refletem-se na Guiné-Bissau entre moderação e extrema-esquerda. No centro político estava o Alferes Miliciano João Ferreira do Amaral, na extrema-esquerda o Alferes Miliciano Celso Cruzeiro, dinamizador do Movimento para a Paz que reivindica à cabeça o cessar-fogo imediato, sem condições. Sales Golias comenta: “Oportunistas que na altura eram mais revolucionários do que os capitães do MFA. Consequência de o MFA na metrópole não ter ainda definido as linhas principais de atuação e estar dependente da vontade de Spínola e do governo”.

E em 1 de Julho de 1974 realizou-se a primeira Assembleia-Geral do MFA na Guiné. O ponto alto da Assembleia foi a aprovação por aclamação de uma moção em que se apelava para o Governo português reconhecer a República da Guiné-Bissau, para que se reatassem as negociações com o PAIGC, após o impasse de Argel, e apelava-se para que os militares portugueses encarassem a sua presença atual e futura na Guiné como forma de prestar a sua cooperação desinteressada ao povo da Guiné.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de abril de 2016 Guiné 63/74 - P15987: Nota de leitura (831): “As guerras coloniais portuguesas e a invenção da História”, por Luís Quintais, Imprensa de Ciências Sociais, 2000 (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15978: Nota de leitura (830): Jorge Sales Golias, um capitão eng trms, no TO da Guiné (1972/74), que teve um papel prepoderante no MFA, no 25 de abril e no processo de descolonização: escreve um livro de memórias 40 anos depois

Foi ontem feito  o lançamento oficial do livro de Jorge Sales Golias (*). Infelizmente, não nos foi possível comparecer por estarmos com aulas à hora em que se realizou a sessão. Mas aqui ficam  mais alguns elementos informativos sobre o livro, com destaque para o seu detalhado índice. 

Esperemos que alguns dos nossos leitores queira e possa fazer-nos chegar, para publicação, a sua "nota de leitura" deste livro, escrito por antigo capitão eng trms, no TO da Guiné, que teve um papel prepoderante no MFA da Guiné e no processo de descolonização. (**) LG

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Título: A Descolonização da Guiné-Bissau e o Movimento dos Capitães

Editora: Colibri
Ano: 2016
Data de publicação: Abril de 2016
Temas: História ContemporâneaDescolonizaçãoRevolução
Colecção: Memórias de Guerra e Revolução
Capa: capa mole
Tipo: Livro
N. páginas: 376
Formato: 23x16
Peço de capa: 20,00 €
ISBN: 978-989-689-570-9

Sinopse:

No caso de A Descolonização da Guiné - Bissau, MFA 72-74, de Jorge Golias, a História é o trabalho sério e rigoroso, pessoal, de colocação no seu devido lugar do que aconteceu na Guiné – "província ultramarina" de Portugal desde o início do processo que conduziu ao 25 de Abril de 1974 até ao fim da guerra que ali decorreu durante onze anos, à transferência da soberania para o PAIGC e ao içar da bandeira da República da Guiné-Bissau. É uma história complexa, tão importante como desvalorizada e, tantas vezes, adulterada.

O livro de Jorge Golias é também um resgate da verdade, feito com uma invulgar abordagem da escrita, em que o tempo da narrativa é o tempo da história e a aventura individual do autor é o fio de Ariadne que permite seguir a série de acontecimentos que vamos encontrar até ao embarque do último representante da soberania portuguesa em Bissau. O resultado é uma crónica dos dois anos de 1972 a 1974, que o autor escreve como se estivesse a vivê-los hoje. [Carlos de Matos Gomes] 

 A Descolonização da Guiné-Bissau tinha tudo para correr mal: 
– Os nossos militares na Guiné, de todas as patentes, clamavam pelo "regresso imediato a Portugal"; – O povo português em Lisboa gritava “nem mais um soldado para o Ultramar; 
– O PAIGC, muitas vezes, não se entendia e dava ordens contraditórias e provocatórias. 
 – Spínola opunha-se ao reconhecimento e defendia um referendo de continuidade numa comunidade lusíada. 
A Descolonização surge assim como a síntese destes contrários, promovida pelo MFA na Guiné e pelo governador e comandante-chefe, com o apoio do MFA em Portugal [Jorge Sales Golias]



Índice:

PREFÁCIO [, de Carlos Matos Gomes]

1. A CHEGADA A BISSAU 
O choque térmico 
As primeiras impressões 

2. AS MINHAS MISSÕES 
A minha guerra 
A missão a Jemberém 
Outras missões 
Outras actividades 
À margem da guerra 
A minha outra guerra

3. “ZOE” – A REVISTA DO AGRUPAMENTO TM

4. A SITUAÇÃO MILITAR NO TO DA GUINÉ 
A reocupação do Sul-Cantanhês 
A perda da supremacia aérea 
O cerco e a libertação de Guidage 
A retirada de Guileje 
O inferno de Gadamael 
A guerra dos 3 G’s 

5. A SITUAÇÃO POLÍTICA NO TO DA GUINÉ 
A posição do governo português 
A marca Spínola 
Reunião de Altos Comandos de 15 de Maio de 1973 
A partida do centurião 
Um estudo do Estado-Maior 
O General Bettencourt Rodrigues e os sinais do fim próximo 

6. AS ORIGENS DO MOVIMENTO DOS CAPITÃES 
As primeiras reuniões 
O papel do Agrupamento de Transmissões 
A primeira Comissão do Movimento de Capitães 
Episódio tenente-coronel Luís Ataíde Banazol 

7. O 25 DE ABRIL NA GUINÉ-BISSAU 

8. GOLPE MILITAR EM BISSAU E DIAS SEGUINTES 
A tomada do poder em 26 de Abril 
1º Encarregado de governo – ten-cor Mateus da Silva 
Incidentes no interior 
Primeira organização de estruturas de apoio ao governo 
2º Encarregado de governo – ten-cor Carlos Fabião 
O MFA na Guiné-Bissau 
Agenda do tenente-coronel Mateus da Silva para Lisboa 
Encontros de Dakar, Londres.1, Londres.2, Argel.1 e Argel.2 
Legalização de partidos políticos 
Acontecimentos deste período – até 30 de Junho 
Contratempo com ordem de desmobilização do MFA 
Institucionalização do MFA na Guiné 
Organização da Área da Informação 

9. A DESCOLONIZAÇÃO DA GUINÉ-BISSAU 
Primeiras actividades 
O Movimento Para a Paz – MPP 
Visita de trabalho da Comissão Coordenadora do Programa 
Chamada a Lisboa de oficiais do MFA 
Assembleia do MFA na Guiné de 1 de Julho 
Reunião marginal de Fuzileiros 
O Congresso do Povo 
Ultimatos do PAIGC 
Retracção do dispositivo 
A Companhia 18 
O problema das Tropas Africanas 
Reunião Extraordinária dos órgãos do MFA 
Acontecimentos até 31 de Julho 
Encontros no Cantanhês em 15, 16 e 18 de Julho 
Assembleia Geral do MFA de 29 de Julho 
A caminho da independência de jure – de 1 a 31 de Agosto 
A Transferência de Poderes – de 1 de Set a 14 de Outubro 

10. IMPRESSÕES E EMOÇÕES À DISTÂNCIA DE 40 ANOS 

BIBLIOGRAFIA E FONTES 
LISTA DE SIGLAS 
LISTA DE ANEXOS 
ANEXOS E APÊNDICES 
CALENDÁRIO DO 25 DE ABRIL NA GUINÉ 
LISTA DE NOMES 

O autor > JORGE SALES GOLIAS:

(i) nasceu em 1941 em Mirandela:

(ii) cursou a Academia Militar (Exército-Arma de Transmissões) e licenciou-se em Engenharia Electrotécnica no IST;

(iii) participou na guerra colonial (Guiné 72-74) e no 25 de Abril de 1 9 74;

(iv) foi chefe de gabinete do Encarregado do Governo da Guiné, membro da Assembleia do MFA , assistente do Conselho de Administração dos CTT/TLP e adjunto do Chefe de Estado- -Maior do Exército;

(v) tem o posto de Coronel, reformando-se em 1992 e fazendo depois uma carreira de gestão de empresas nas áreas de investigação e desenvolvimento de electrónica.

 (vi) é sócio de: A25A, Liga dos Amigos do Arquivo Histórico Militar, Casa de TMAD e Academia de Letras de Trás-os-Montes;

(vii) integra a Comissão da História das Transmissões Militares e o Grupo de Amigos do Museu das Transmissões; 

(viii) é co-autor das seguintes obras: Vinte e Cinco de Abril – 10 anos Depois, As Transmissões Militares – da Guerra Peninsular ao 25 de Abril, Mirandelês” e “Bicentenário do Corpo Telegráfico 1810-2010. Coordena a Tertúlia Transmontana na Casa de Trás -os-Montes e Alto Douro;

(ix) elo seu papel no 25 de Abril é citado na História de Portugal, de José Mattoso,  e tem o seu nome inscrito no monumento aos Capitães de Abril, em Grândola: 

(x) é  cronista regular do Notícias de Mirandela, e tem colaborado com a "Revista Raízes", com o Notícias de TMAD e "O Referencial", da A25A.


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Notas do editor:

(*) vd. poste de 7 de abril de 2016 Guiné 63/74 - P15948: Notas de leitura (825): "A Descolonização da Guiné-Bissau e o Movimento dos Capitães", de Jorge Sales Golias (a lançar na 5ª feira, dia 14, em Lisboa): pré-publicação de um excerto por cortesia do autor: A perda da supremacia aérea – Março de 1973
(**) Último poste da série > 15 de abril de  2016 > Guiné 63/74 - P15977: Nota de leitura (829): “A África começa mal”, de René Dumont, edição portuguesa de 1965 (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15948: Notas de leitura (825): "A Descolonização da Guiné-Bissau e o Movimento dos Capitães", de Jorge Sales Golias (a lançar na 5ª feira, dia 14, em Lisboa): pré-publicação de um excerto por cortesia do autor: A perda da supremacia aérea – Março de 1973


Guiné > Pós 25 de abril > Primeiro encontro entre as NT e o PAIGC > O Cap Silva Ramalho, companhia de Saré Bacar [, na fronteira com o Senegal, a 39 km a nordeste de Contubole], sentado à direita, de óculos escuros, a falar com um representante do PAIGC, através de um intérprete.

Foto (e legenda): © Jorge Sales Golias (2016). Todos os direitos reservados



Capa do livro de Jorge Sales Golias, "A descolonização da Guiné-Bissau e o movimento dos capitães" (Lisboa, Edições Colibri, 2016), a ser lançado no próximo dia 14 deste mês, 5ª feira, às 18h, na CPHM - Comissão Portuguesa de História Militar, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, 11, Lisboa. (*)


1.  Mensagem de Jorge Sales Golias, do dia 5 do corrente:

Boa noite, camarada Luís,

Agradeço-lhe as suas palavras e, bem assim, toda a explicação detalhada sobre a perfomance do blogue.

Não lhe vou prometer grande colaboração porque estou envolvido numa teia de compromissos que me esgotam os tempos livres. Mas quem corre por gosto não cansa.

E para prestar a minha homenagem a este site extraordinário que o camarada  coordena.  vou então mandar-lhe para pré-publicação um extracto do texto do  livro "A Descolonização da Guiné-Bissau e o Movimento dos Capitães". 

Mando  também uma foto não publicada sobre o 1º Encontro NT-PAIGC.

Abraço do Jorge Golias,

Jorge Sales Golias,  transmontano de Mirandela, nascido em 1941, ex-cap eng trms, licenciado em engenharia electrónica pelo IST - Instituto Superior Técnico, membro do MFA, Bissau, adjunto do CEME, gen Carlos Fabião em 1974/75, cor trms ref, administrador de empresas].



2. Excerto do livro "A Descolonização da Guiné-Bissau e o Movimento dos Capitães" (Lisboa, Edições Colibri, 2016).  Cortesia do autor (**)


(...) A perda da supremacia aérea – Março de 73

As comunicações mais críticas no TO eram, sem dúvida, as de pedido de apoio aéreo (APAR). A rede de APAR de VHF funcionava nas frequências exclusivas de 49,0 e 51,0 MHz. Em combate, as ligações faziam-se entre os E/R AVP-1 e os E/R ARC-44 do aéreo (59).

Esta ligação era dificultada pela não total compatibilidade dos rádios do Exército e da Força Aérea, mas sempre se fazia satisfatoriamente, o que era vital, pois em situações de combate, nomeadamente de emboscadas, o apoio aéreo era prestado em poucos minutos, dadas as curtas distâncias em jogo.

Tal status garantia às NT que as situações de confronto eram relativamente curtas, pois os guerrilheiros do PAIGC sabiam que rapidamente ficavam sob fogo aéreo dos aviões T-6 e Fiat G-91 e retiravam, dispersando antecipadamente.

Outro apoio vital era o das evacuações por helicóptero (Allouette) directamente do mato para o Hospital Militar de Bissau (HMB). Os pedidos de apoio aéreo feitos para a Base Aérea Militar eram em HF, com os AN/GRC-9 (60) e os RACAL TR-28.

No entanto, o status da supremacia aérea, determinante para as NT desde o início da guerra em 1963, viria a perder-se em 1973, dez anos depois, com a introdução no campo de batalha, pelo IN, dos mísseis terra-ar SAM-7 (STRELA), de fabrico soviético. Estes eram portáteis a dorso e actuavam orientados por raios infravermelhos e visando a fonte quente do aéreo.

Registo a este respeito os primeiros abates no TO de FIAT G-91, em Março de 1973, um com o tenente Miguel Pessoa em Guileje (61)  que se ejectou e foi recuperado pelas NT (através de uma operação especial no dia seguinte) e outro, dias depois, pilotado pelo tenente-coronel Almeida Brito, no Sul, que foi a primeira vítima desta nova arma.

Dos vários aviões alvejados, cito o do capitão piloto aviador Pinto Ferreira, do meu curso da AM [, Academia Militar], que viu sair o míssil e através de uma acrobacia o conseguiu despistar.

O comandante da Zona Aérea era o coronel piloto aviador Lemos Ferreira, que nesta altura, em face da recusa de alguns pilotos em voar, ele próprio desempenhou algumas missões. (...)

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Notas do autor:


(59) Também havia pedidos de APAR pelas redes de HF, High Frequency, Alta Frequência, de 3 a 30 Mhz, que permitia uma comunicação a maiores distâncias, mas cuja ligação na Guiné nem sempre era possível.

(60) Army Navy/Ground Radio Communications, de origem Americana.

(61) O PAIGC usou aqui pela 1ª vez o Strela. Para tal atacou de dia a guarnição para a obrigar a pedir apoio de fogos. Apoio pedido, foi o avião atacado logo que chegou e deu-se o 1º abate no território.




de que o Jorge Sales Golias é coborador


3. Nota do editor:

Agradecemos a gentileza do camarada Jorge Sales Golias, que não conhecemos pessoalmente, e a quem saudamos pelo lançamento do seu livro. Oportunamente, será feita a  devida "nota de leitura" ou recensão bibliográfica a cargo do nosso colaborador permanente Mário Beja Santos ou por iniciativa de qualquer outro dos leitores do livro que o queiram comentar publicamente, aqui no nosso blogue.

Apraz-nos registar que os camaradas da Guiné, independentemente da época em que lá estiveram, da sua condição militar (arma, especialidade, posto, etc.) têm vindo a escrever e a publicar livros sobre os acontecimentos em que participaram, nesta antiga província (ou colónia) portuguesa, entre 1961 e 1974. 

Nunca é demais recordar  que o nosso blogue não tem nenhum bandeira, a não ser a da camadaragem e da verdade. Somos um blogue de memórias e de afectos. E é importante que todos os camaradas da Guiné  se sintam aqui tão confortáveis, neste espaço plural, a Tabanca Grande,  onde todos cabemos com tudo aquilo que nos une e até com aquilo que nos pode separar.  

Jorge, parabéns, boa sessão de lançamento e boa sorte para o livro. LG

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Notas do editor:

(*) Vd. postes de 


3 de abril de 2016 > Guiné 63/74 - P15932: Agenda cultural (472): sessão de lançamento do livro de Jorge Sales Golias, "A descolonização da Guiné-Bissau e o movimento dos capitães" (Lisboa, Edições Colibri, 2016, 385 pp.), dia 14 de abril de 2016, 5ª feira, às 18h, na Comissão Portuguesa de História Militar, Palácio da Independência, largo de São Domingos, 11, Lisboa. Prefácio: cor Carlos Matos Gomes; apresentação: cor Aniceto Afonso

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15935: (Ex)citações (307): A descolonização da Guiné-Bissau tinha tudo para correr mal (Jorge Sales Golias)


Capa do livro  de  Jorge Sales Golias, "A descolonização da Guiné-Bissau e o movimento dos capitães" (Lisboa, Edições Colibri, 2016)] (*). Reproduzida, com a devida vénia ...





Jorge Sales Golias [ nascido em Mirandela, em 1941, ex-cap eng trms, licenciado em engenhria electrónica pelo IST, membro do MFA, Bissau, adjunto do CEME, gen Carlos Fabião em 1974/75, cor trms ref, administrador de empresas; vai lançar, no próximo dia 14, o seu livro "A descolonização da Guiné-Bissau e o movimento dos capitães" (Lisboa, Edições Colibri, 2016)] (**)

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Notas do editor:

(*) Vd, poste de 3 de abril de 2016 > Guiné 63/74 - P15932: Agenda cultural (472): sessão de lançamento do livro de Jorge Sales Golias, "A descolonização da Guiné-Bissau e o movimento dos capitães" (Lisboa, Edições Colibri, 2016, 385 pp.), dia 14 de abril de 2016, 5ª feira, às 18h, na Comissão Portuguesa de História Militar, Palácio da Independência, largo de São Domingos, 11, Lisboa. Prefácio: cor Carlos Matos Gomes; apresentação: cor Aniceto Afonso

(**) Último poste da série > 29 de março de 2016 >  Guiné 63/74 - P15911: (Ex)citações (306): A propósito da última troca de prisioneiros, em Aldeia Formosa, no dia 14 de setembro de 1974....Prisioneiros, não, "retidos pelo IN"...

domingo, 3 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15932: Agenda cultural (472): sessão de lançamento do livro de Jorge Sales Golias, "A descolonização da Guiné-Bissau e o movimento dos capitães" (Lisboa, Edições Colibri, 2016, 385 pp.), dia 14 de abril de 2016, 5ª feira, às 18h, na Comissão Portuguesa de História Militar, Palácio da Independência, largo de São Domingos, 11, Lisboa. Prefácio: cor Carlos Matos Gomes; apresentação: cor Aniceto Afonso




Convite para a sessão de lançamento do livro de Jorge Sales Golias, "A descolonização da Guiné-Bissau e o movimento dos capitães" (Lisboa, Ed Colibri, 2016, 385 pp.),, dia 14 de abril de 2016, 5ª feira, às 18h, na CPHM - Comissão Portuguesa de História Militar, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, 11, Lisboa.

Prefácio: cor Carlos Matos Gomes; apresentação: cor Aniceto Afonso; sessão presidida por gen Alexandre Sousa Pinto (presidente da CPHM)


1. Mensagem do nosso leitor (e camarada)  Jorge Sales Golias [ ex-cap, eng trms, membro do MFA, Bissau, adjunto do CEME, Gen Carlos Fabião - 1974/75, cor trms ref, administrador de empresas]

Data: sábado, 2 de Abril de 2016 19:29

 Assunto: A Descolonização da Guiné-Bissau


Exmo Senhor Dr. Luís da Graça,

Na qualidade de autor do melhor blogue sobre a guerra colonial, venho convidá-lo a assistir ao lançamento do livro "A Descolonização da Guiné-Bissau", da minha autoria e pedir-lhe que divulgue o evento e o livro no seu blogue.

O livro tem 385 páginas, das quais 100 de documentos, fotos e imagens (com desenhos do António Carmo, feitos para o efeito), cita cerca de 400 nomes (dos quais cerca de 70 da Guiné) e tem 275 notas de rodapé. O prefácio, de Carlos de Matos Gomes, é uma magnífica peça de contextualização histórica.

Na circunstância, apresento-lhe os meus melhores cumprimentos,

Jorge Sales Golias





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Nota do editor:

domingo, 4 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13097: (Ex)citações (230): Estudos Gerais da Arrábida > A descolonização portuguesa > Painel dedicado à Guiné (29 de Julho de 1997) > Depoimento do general Bethencourt Rodrigues (Excertos, com a devida vénia...)



Página de rosto do 

Arquivo de História Social > Instituto de Ciências Socias da Universidade de Lisboa (o link original foi descontinuado: ver aqui em Arquivo.pt)


"O Arquivo de História Social publica nesta página uma série de entrevistas sobre a descolonização portuguesa de 1974/1975, fruto de um projecto do Instituto de Ciências Sociais apoiado pela Fundação Oriente. Maria de Fátima Patriarca, Carlos Gaspar, Luís Salgado de Matos e Manuel de Lucena que coordenou, entrevistaram grandes protagonistas desse processo: por um lado, governantes, chefes militares, dirigentes do MFA e outros que então actuaram na Guiné-Bissau, em Cabo Verde, Angola e Moçambique; por outro lado, responsáveis metropolitanos ou íntimos colaboradores seus.

"Não procurando promover qualquer interpretação, chegar a juízos gerais ou encerrar os eventos abordados numa dada problemática, o grupo entrevistador foi seguindo os relatos e aceitando as visões dos seus interlocutores, embora não deixasse de lhes solicitar esclarecimentos por vezes incómodos." 



1. Estudos Gerais da Arrábida  > A descolonização portuguesa >  Painel dedicado à Guiné (29 de Julho de 1997)  > Depoimento do general Bethencourt Rodrigues

(disponívbel em Arquivo.pt: 


[ Excertos, com a devida vénia: corrigimos  o nome do general que é Bethencourt e não Bettencourt  (, foto à esquerda, na base naval do Alfeite, em 30/4/1974; foto do álbum da família do cor inf António Vaz Antunes, a quem a agradecemos a gentileza, na pessoa do seu filho Fernando Vaz Antunes).

[Como se vê, pelo depoimento, ele foi avaro (e por isso dececionante) em palavras e emoções no que respeita ao "assalto" ao seu gabinete, na Amura. ] (*)

(…) Luís Salgado de Matos:

Passando agora para a Guiné. O sr. general chegou a organizar algum Congresso do Povo?

General Bethencourt Rodrigues: 

Sim, o quinto. Foi até o acontecimento político-social mais marcante do meu mandato como Governador. Para sua informação, eu descrevo isso com algum detalhe no depoimento que o Paradela de Abreu me solicitou em tempos, Vitória Traída. Mas houve também os congressos regionais, de onde eram cooptados os delegados para o Congresso Provincial.

Tudo isso movimentou na altura milhares de pessoas, completamente à margem do PAIGC.

Manuel de Lucena: 

Mas essa não interferência do PAIGC era deliberada por parte deles…

General Bethencourt Rodrigues: 

Incapacidade militar, meu caro amigo!

Luís Salgado de Matos: 

Havia alguma reflexão no Estado Maior sobre a táctica que o general Spínola estava a desenvolver na Guiné?

General Bethencourt Rodrigues: 

Ele fazia a sua política, era lá com ele. Cada um tinha as suas características próprias. Volto a repetir: os comandantes militares gozaram sempre de uma larga autonomia.

Quando cheguei à Guiné em 1973, habituado como estava à largueza de Angola, o que mais me impressionou foi a pequenez daquilo tudo. A Guiné é um país cuja área varia em função da maré!

Manuel de Lucena: 

Na Guiné, o sr. general chegou a pensar numa concentração do dispositivo?

General Bethencourt Rodrigues: 

Sim, planeava converter as 225 guarnições em 80 e tal. A dispersão é inimiga da eficácia. Mas já não tive tempo,

Manuel de Lucena: 

Por outro lado, a quadrícula dispersa é sinal de presença efectiva, possibilita o contacto directo com as populações…

General Bethencourt Rodrigues: 

É uma outra forma de ver as coisas. Simplesmente, havia que fazer uma opção.

Luís Salgado de Matos: 

Manteve o acordo do general Spínola com os Felupes, em que estes recebiam 100 escudos por cada cabeça de guerrilheiro abatido?

General Bethencourt Rodrigues: 

Não estava ao corrente desse acordo, mas se ninguém o denunciou…

Manuel de Lucena: 

Quando chegou à Guiné encontrou uma tropa bem preparada, motivada, com bons quadros? Faço lhe esta pergunta porque a ideia que normalmente se tem acerca do estado de espírito da nossa tropa na Guiné é a de uma desmoralização generalizada.

General Bethencourt Rodrigues: 

Sobre isso direi o seguinte: só se morre uma vez, não há mortes provisórias. Quando se combate com convicção e tenacidade, quando se tem a certeza de um trabalho bem feito, a motivação é coisa que não falta.

Manuel de Lucena: 

Mas o MFA na Guiné, ao nível dos quadros, aparentava estar bem organizado, tinha um número muito significativo de adesões. Qual era a sua percepção?

General Bethencourt Rodrigues: 

Não tive conhecimento disso, Que as condições eram terríveis, não contesto. Agora dizer que a tropa estava desmoralizada, de maneira nenhuma! Em Angola podia cumprir-se uma comissão alternando sítios fáceis com difíceis. Na Guiné não; vivia-se num sobressalto permanente. Por isso é que na Guiné as comissões duravam 21 meses e em Angola 24. Só quando os strelas entraram em cena é que as comissões passaram a 24 meses. O general Spínola deixou ficar os que lá estavam e aumentou o contingente com tropas frescas.

Manuel de Lucena: 

O 25 de Abril foi então uma surpresa para si?

General Bethencourt Rodrigues: 

Tanto foi que me assaltaram o gabinete! Embora quase tivesse assistido ao golpe das Caldas, quando vim a Lisboa em Março de 1974, não dei por nada. Quando a Revolução estalou, estava perfeitamente inocente.

Luís Salgado de Matos: 

O sr. general tinha confiança na tropa das informações? Na Marinha, onde fiz o meu serviço militar, corria que o Exército, na Guiné, estava infiltrado pelo PAIGC de alto a baixo.

General Bethencourt Rodrigues: 

Em geral tinha. Nas Informações trabalhava-se em estreita colaboração com a DGS, reconhecidamente competente nesse campo. O PAIGC, de resto, não tinha técnica para entrar um jogo desses.

Diz-se que um dos efeitos da contra-subversão é a lassidão, Mas a lassidão também os afectava a eles. O PAIGC não estava menos exausto que nós.

Manuel de Lucena: 

De qualquer forma, de todos os MFA's, não restam dúvidas de que o MFA da Guiné era o melhor estruturado. Basta atentar nos nomes proeminentes do 25 de Abril que saíram da Guiné. Se eles fossem fracos, o sr. general, no dia 25, ter-se-ia rido na cara deles e dado voz de prisão. Depois, o evoluir dos acontecimentos logo após o 25 Abril veio a demonstrar que na Guiné a vontade de regresso à Metrópole se sobrepunha praticamente atudo.

General Bethencourt Rodrigues: 

Olhe, como dizem os brasileiros, quando um general passa à reserva vira historiador. Foi o que sucedeu comigo. Reformado aos 55 anos, dediquei-me ao estudo. Pesquisei, li, meditei, E sabe a que conclusão cheguei? Que o país nunca teve um problema de defesa nacional em África. A tropa podia estar farta, mas obedecia. Faz parte da nossa natureza. A esse respeito nunca tive dificuldade - fui sempre obedecido. Raramente tive de usar de expedientes punitivos; escolhi sempre a via do exemplo: quando era preciso suportar dificuldades, eu fazia questão em suportá-las.

Quando estive em Lisboa em Março de 1974 - vim cá buscar 150 contos -, achei isto uma coisa horrorosa. Tinha havido a remodelação ministerial, a última do professor Marcelo. Senti um mal-estar generalizado, uma atmosfera pesada. Felizmente, o episódio da «brigada do reumático» apanhou-me já a caminho da Guiné.

Manuel de Lucena: 

Como foi a reacção ao golpe das Caldas na Guiné?

General Bethencourt Rodrigues: 

Irrelevante. O Ultramar ficava muito longe.

Luís Salgado de Matos: 

O facto do general Spínola ter saído após Guileje foi entendido como uma derrota? Não afectou as pessoas que lá estavam?

General Bethencourt Rodrigues: 

Note: o general Spínola esteve lá oito anos, fora nomeado no tempo do do Salazar. Eu até dizia: o Spínola não deve sair da Guiné senão por limite de idade ou de caixão. E, caramba, oito anos na Guiné é de morrer! A partir de determinada altura, admito que as coisas terão deixado de lhe correr de feição, nomeadamente porque o Governo não lhe dava todo o dinheiro que pretendia para a sua política de aliciamento das  populações.

Apesar de cada um ter a sua maneira de comandar, eu não enjeitei a sua política de melhoria desenvolvimento das populações autóctones. Mas com uma diferença: eles não me metiam a mão no bolso! Quer dizer; não lhes satisfazia todos os pedidos. Recordo-me de um dia ter  ido a uma sanzala e de um grupo de mulheres me ter pedido rádios. Vejam bem: rádios para falar com os maridos quando estes iam a Bissau! Não fui para a Guiné para agradar a toda a gente. Fui lá para cumprir o que devia ser cumprido.

Manuel de Lucena: 

Na conversa que teve com o professor Marcelo, antes de ir para a Guiné, não ficou com a sensação que a saída do general Spínola lhe causava a ele, Marcelo, um problema bicudo?

Luís Salgado de Matos: 

E a isso eu acrescento: a implicava a admissão da derrota de Spínola na Guiné?

General Bettencourt Rodrigues: 

Leiam o Depoimento do professor Marcelo Caetano. Ele narra a nomeação a reunião com os altos comandos.

Manuel de Lucena: 

E quando é nomeado para a Guiné tem outra entrevista com o professor Marcelo ...

General Bethencourt Rodrigues: 

Naturalmente. No entanto, o pretexto dessa conversa até foi outro assunto, designadamente, a negociação de um contrato publicitário entre a RTP e a Movierecord - eu nessa altura em administrador delegado da RTP. Só depois é que o Presidente do Conselho me assediou para a Guiné, onde a situação se deteriorara nos últimos tempos.

Luís Salgado de Matos: 

Mas porque é que saltaram a escala hierárquica e o escolheram a si? Não foi pela aura vitoriosa que trazia do Leste de Angola?

General Bethencourt Rodrigues: 

Sim, pode aceitar-se essa leitura.

Manuel de Lucena:

 Mas o sr. general Bethencourt e o sr. general Spínola são comandantes de estilos e escolas diferentes, não é assim?

General Bethencourt Rodrigues: 

O mais possível.

Manuel de Lucena: 

De resto, a «terceiro-mundialização» que o Exército português conheceu durante o PREC - e que se traduzia em ordens por despacho, ultrapassagem das hierarquias, etc. – não procedeu da organização do general Spínola na Guiné?

General Bethencourt Rodrigues: 

Mas note que, ao contrário do que muita gente pensa, o general Spínola não era assim tão popular na Guiné.

Manuel de Lucena: 

Quando fui subordinado do major Salles Golias, que servira sob as ordens do general Spínola na Guiné, e depois se tornou seu inimigo figadal recordo-me de ele ter dito que era capaz de tudo para evitar que o general Spínola, já depois do 25 de Abril, voltasse a pôr os pés na Guiné. O major Golias estava ciente que o general Spínola deixara uma multidão de indefectíveis, tanto cá como na Guiné.

General Bethencourt Rodrigues: 

Mas esses fiéis - o Monge, o Bruno, o Fabião, etc. - já haviam todos regressado quando fui para a Guiné. O sr. general Spínola, lamento dizê-lo, era muito faccioso. Para ele, quem não tivesse andado no Colégio Militar ou não fosse de Cavalaria era menos que zero.

Texto fixado por Pedro Aires Oliveira, a partir de notas suas e de  Fátima Patriarca.

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Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série:

4 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13096: (Ex)citações (229): O MFA na Guiné-Bissau: comentário do ten cor ref Jorge Sales Golias sobre os acontecimentos de 26 de abril de 1974, em Bissau: o gen Bethencourt Rodrigues e os oficiais que com ele se solidarizaram foram tratados com deferência e cordialidade (Carlos Pinheiro / Bento Soares)

4 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13095: (Ex)citações (228): O golpe de 26 de abril de 1974, o MFA, o Com-Chefe, gen Bethencourt Rodrigues, e o comandante interino do COMBIS, cor inf António Vaz Antunes (Luís Gonçalves Vaz, que tinha 13 anos, e vivia em Bissau, sendo filho do cor cav CEM Henrique Gonçalves Vaz, último chefe do Estado Maior do CTIG)

Vd. também:

1 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13078: O golpe militar de 26 de abril de 1974 no TO da Guiné: memorando dos acontecimentos, pelo cor inf António Vaz Antunes (1923-1998) (Fernando Vaz Antunes / Luís Gonçalves Vaz): Parte I