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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14240: Inquérito online: somos um povo de afetos ? Resultados preliminares (n=70): 80 % dos respondentes "concordam totalmente", com a proposição segundo a qual "em matéria de afetos, e em relação aos guineenses, levamos hoje a dianteira a russos, chineses, cubanos, suecos e outros que apoiaram o PAIGC no tempo da guerra colonial"...



Um cartoon (ou cartune, como vem grafado nos novos dicionários da língua portuguesa) histórico alusivo ao reconhecimento, por parte do Portugal democrático, da independência da Guiné Bissau, em 10 de Setembro de 1974.

Fonte: Gaiola Aberta. nº8 (1 de Outubro de 1974) © José Vilhena (1974) (com a devida vénia). 

Imagem gentilmente cedida por Jorge Santos, um dos primeiros membros da nossa Tabanca Grande (2005). Foi 1º Grumete Fuzileiro, Companhia de Fuzileiros nº 4 (Moçambique, Metangula, Cobué, Jan. 68/ Abr.70). É DFA, e autor de uma das páginas mais antigas sobre a guerra colonial.

Imagem também disponível  no Centro de Documentação 25 de Abril, da Universidade de Coimbra. Vd. também aqui uma página dedicada ao grande cartunista português José Vilhena (n. 1927, Figueira de Castelo Rodrigo).

I. Mensagem que circulou hoje pelo correio interno da Tabanca Grande;

Assunto: Sondagem > Somos um povo de afetos ? Resultados preliminares (n=70)

Amigos/a, camarada:

É a primeira "sondagem" do ano.... Prometemos, ao pessoal, não o massacrar muito, ao longo de 2015... Mas a tua opinião é importante... Estas sondagens não têm a veleidade de serem "científicas", o seu objetivo é didático, ajudam-nos a conhecer-nos melhor, a nós e aos outros... E animam o blogue. Temos ainda 4 dias para votar. Os resultados preliminares que apresentamos, respeitam a 70 votantes...

Recorde-se a pergunta sobre a qual tens que dar a tua opinião ("concordo", "discordo"...): 

"Em matéria de afetos, e em relação aos guineenses, levamos hoje a dianteira a russos, chineses, cubanos, suecos e outros que apoiaram o PAIGC no tempo da guerra colonial" (*)...

O voto é feito diretamente no blogue, "em linha", no canto superior esquerdo... E podes comentar aqui, na caixa de comentários do poste P14234 (*).

Outra coisa: nunca dês a ninguém, estranho ao blogue, a nossa lista de endereços. Por razões de segurança... Há quem ande a usar,  indevida e abusivamente,  a nossa lista de endereços de email. Nas comunicações entre nós mete sempre os destinários com os endereços ocultos (Bcc).

Obrigados. Um alfabravo caloroso. Cuidado com a(s) gripe(s)...

Os editores
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II.  Resultados preliminares (n=70)

1. Concordo totalmente > 56 (80%)

2. Concordo em parte  > 6 (8%)

3. Não concordo nem discordo / Não sei  > 3 (4%)

4. Discordo em parte  > 2 (2%)

5. Discordo totalmente > 3 (4%)


Votos apurados: 70
Dias que restam para votar: 4

__________________________________


Nota do editor:

(*) Vd. poste de 8 de fevereiro de 2015 >Guiné 63/74 - P14234: Sondagem: opinião "em matéria de afetos, e em relação aos guineenses, levamos hoje a dianteira a russos, chineses, cubanos, suecos e outros que apoiaram o PAIGC no tempo da guerra colonial"...

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10466: Blogpoesia (305): O helicóptero (Jorge Cabral, Missirá, 1970)





Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) >CCAÇ 12 (1969/72) > Uma helievacuação em Madina Colhido (muito provavelmente), no subsector do Xime... Pelos vestígios de queimadas, nota-se que estávamos na época seca, logo a foto será dos primeiros meses de 1970... O riquíssimo Álbum Fotográfico do meu querido amigo e camarada Arlindo Teixeira Roda (naturald e Pousos, Leiria, a viver em Setúbal há décadas) não tem, legendas...

Fotos: © Arlindo Teixeira (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados



O Helicóptero

Pelo ar lento que aquece,
Um pássaro de ferro e aço
Leva o morto que apodrece,
Na boca mais um abraço.

A gente fica a pensar
Mas mais um morto que interessa,
Já vêm mais pelo mar,
Vêm muitos e depressa.

A gente pensa,
Mas fica com o dedo no gatilho,
Na garganta um nó que pica,
Na preta o ventre com o filho.


Jorge Cabral, Missirá, 1970

Jorge Cabral 
(ex-alf mil art, Pel Caç Nat 63, Fá e Missirá, 1969/71).

In jornal “Apoiar”, 23 (Jan/Mar 2002), 
órgão da Apoiar - Associação de Apoio aos Ex-Combatentes, Vítimas de Stress de Guerra

(Selecção de Jorge Santos, membro da nossa Tabanca Grande, 
e autor da página sobre A Guerra Colonial
republicado na I Série do nosso blogue, 

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Nota do editor:

Último poste da série > 30 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10458: Blogpoesia (304): Cangalheiros deste povo (Ricardo Almeida, o poeta da CCAÇ 2548, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71)

sábado, 19 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5504: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (13): Várias mensagens da tertúlia - II (Editores)

Reproduzimos mais 10 mensagens de Natal de camaradas que se nos dirigiram através de correio electrónico.

Os editores retribuem e agradecem.



1. Mensagem de António Paiva com data de 13 de Dezembro de 2009:

Camaradas,
A todos desejo um FELIZ E SANTO NATAL, na companhia de Vossas famílias.
Ficamos esperando que 2010, nos traga mais alegrias que tristezas.
Aí vos mando uma ternura de NATAL.

Um abraço
António Paiva



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2. Mensagem de Joaquim Mexia Alves com data de 14 de Dezembro de 2009:

Caro Carlos, meu camarigo
Com os desejos de um Santo Natal e um Ano Novo cheio das bençãos de Deus, para ti e todos os teus, convido-te a acederes ao meu blogue para leres um conto de Natal, um hábito que tenho desde há uns anos a esta parte.

http://www.queeaverdade.blogspot.com

Isto do meu blogue não é segredo nenhum, só não falo mais dele na Tabanca porque não é tema da Tabanca, mas tenho muito gosto em que o visitem e conheçam melhor a minha vida.

Abraço amigo do
Joaquim Mexia Alves

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3. Mensagem de Albino Silva com data de 17 de Dezembro de 2009:

Caro Carlos Vinhal e todos os Tertulianos.
Quero aqui deixar Votos de Um Santo Natal e um Ano Novo com muitas coisas na nossa Tabanca.
Brevemente enviarei coisas novas também.
BOAS FESTAS ...
Albino Silva

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4. Mensagem de Idálio Reis com data de 18 de Dezembro de 2009:

Aos velhos companheiros, que num outro tempo, partilharam comigo o serviço militar por terras ardentes da Guiné, ao manifestar-lhes uma d(o)uradoira amizade, faço votos que no seio dos seus entes mais queridos, usufruam de um feliz Natal.

Um grande abraço do
Idálio Reis



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5. Mensagem de Jorge Félix com data de 18 de Dezembro de 2009:

Caríssimos,
Aproveito os endereços para agradecer e encaminhar Votos de um Ano de 2010, (quem pensava chegar cá?), recheado de alegrias e saúde.

Com amizade vos abraço
Jorge Félix

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6. Mensagem de Vasco da Gama com data de 18 de Dezembro de 2009:

Camaradas e Amigos de terra, ar e mar,
Não conheço pessoalmente alguns dos elementos contidos no pacote, proveniente do Idálio, mas isso que importa? Aqui vai um grande abraço natalício para todos e votos de um grande ano de 2010 com muita saúde, pois o resto vem por arrastamento.

Abraços fraternos do,
Vasco da Gama

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7. Mensagem de Artur Soares com data de 19 de Dezembro de 2009:

Olá, Luís Graça e co-editores!
Nesta época Natalícia, desejo a todos os tertúlianos, um Feliz Natal, cheio de saúde, paz, amor e alegria e que o Novo Ano de 2010, traga as maiores felicidades, extensivos aos seus famíliares.

Um abraço para todos
Artur Soares



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8. Mensagem de Jorge Santos com data de 19 de Dezembro de 2009:

Para todos os Tertulianos, seus familiares e amigos:
Votos sinceros de um Natal em paz, com bastante saúde e muita alegria.
Que o ano de 2010 seja de felicidade e de esperança no futuro.
Festas felizes

Jorge Santos

"Um Natal de solidariedade, mas no coração de toda a humanidade"

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9. Mensagem de Torcato Mendonça, via telefone:

O nosso camarada Torcato Mendonça
, em conversa telefónica com o editor Carlos Vinhal, pediu para transmitir a toda a Tertúlia os seus votos de um Bom Natal, de acordo com as convicções religiosas de cada um, e um Novo Ano com saúde que é o que mais queremos na nossa idade. Para os tertulianos mais novos, muitos êxitos nas carreiras profissionais e que nunca falte a oportunidade de serem úteis ao progresso deste país.

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10. Mensagem de José da Câmara com data de 19 de Dezembro:

Caro amigo Carlos Vinhal,
Mais um Natal se aproxima.
Para todos os camaradas aqui ficam os meus votos de um muito Boas Festas, muita saúde, e muita alegria na companhia de todos aqueles que vos são muito queridos. Mas bom mesmo seria que todos nós pudessemos fazer Natal todos os dias do ano.

Um abraço do tamanho do Atlântico que nos une,
José Câmara
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5501: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (12): Vamos ajudar camaradas em dificuldades (Manuel Marinho)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5398: Blogues da Nossa Blogosfera (29): Portal Guerra Colonial Portuguesa: novas publicações (Jorge Santos)

A sítio Guerra Colonial Portuguesa, criado em  Março de 2006 e que tem como principais secções: Bibliografia, Filmografia, Associações, Canções de Lisboa, Memorial, Monumentos, Convívios, Brasões, Condercorações...


1, Mensagem do Jorge Santos:

Caso seja do vosso interesse, consultem a Bibliografia [do meu portal sobre a Guerra Colonial Portuguesa] sobre os temas indicados, onde constam outros assuntos também. Para consultar só as actualizações da Bibliografia, clicar nos títulos das obras em Novos Registos. Contém dados, sinopse ou pequeno extracto e capa da obra.


2. Comentário de L.G.:

O Jorge Santos é um incansável mas sempre discreto membro da nossa Tabanca Grande, já de longa data. Se não estou  não erro, entrou o nosso blogue em finais de 2005.  É, portanto, um senador. Não temos nenhuma foto dele, nem antiga nem actual. Foi 1º Grumete Fuzileiro (DFA), Companhia de Fuzileiros nº 4, em Moçambique, Metangula~e  Cobué, de Janeiro de 1968 a  Abril de 1970.  Esteve uns tempos sem dar notícias (como ele gosta de dar, sobre convívios, livros, actualizações do seu portal, etc.). No passadado dia 23 de Outubro fomos surpreendidos com a seguinte mensagem:

Não tenho acompanhado, como desejava, o evoluir das 'Tabancas', pois encontro-me a recuperar de um AVC que sofri na Noruega, e que me deixou bastante afectado da parte esquerda do corpo, em especial a vista, o que me dificulta imenso estar no computador ou navegar na Net.

Aproveito agora lhe endereçar a nossa solidariedade e os nossos votos de uma rápida e boa recuperação.  L.G.

3. Bibliografia sobre Colonização – Guerra Colonial – 25 de Abril – Descolonização > Novos Registos


Autor / Título / Editora / Ano

 
Ana Cristina Silva > A dama negra da ilha dos escravos. Presença, 2009

António Tabucchi > Nocturno indiano. Publicações D. Quixote, 2009

Arlindo Barbeitos > Angola/Portugal – des identités coloniales équivoques. L’Harmattan, 2009

Artur Portela > A guerra da meseta. Publicações D. Quixote, 2009

Camilo Mortágua > Andanças para a liberdade, Vol. 1 (1934-1961). Esfera do Caos, 2009

Carlos Serrano > Angola – Nascimento de uma nação. Kilombelombe, 2009

Cristina Nogueira e Silva > Constitucionalismo e império – Cidadania no ultramar português. Almedina, 2009

Diogo Andrade > Alvorada desfeita. Guimarães, 2009

Eduardo Naia Marques > O que África me ensinou. Pedra da Lua, 2009

Eugénio Monteiro Ferreira e Carlos Monteiro Ferreira > Eugénio Ferreira – Um cabouqueiro da angolanidade. Campo das Letras, 2008

Fábio Pestana Ramos > Por mares nunca dantes navegados. Contexto, 2008

Filipa Martins > Quanta terra. Guimarães.  2009

Joana Matos Tornada > Nas vésperas da democracia em Portugal. Almedina, 2009

João Céu e Silva > Uma longa viagem com António Lobo Antunes. Porto Editora, 2009

João Vicente Martins > Os bakongo ou tukongo do nordeste de Angola. Imprensa Nacional, 2008

John P. Cann > A Marinha em África. Prefácio. 2009

José Eduardo Reis Oliveira > Golpes de mão’s – Memórias de guerra. Autor, 2009 (*)

José Luandino Vieira > O Livro dos guerrilheiros. Caminho, 2009

José Luís Cabaço > Moçambique – Identidades, colonialismo e libertação. Unesp, 2009

José Milhazes >Angola – O princípio do fim da União Soviética. Vega, 2009

Manuel Godinho Rebocho > Elites militares e a guerra de África. Roma, 2009 (*)

Manuel Pedro Dias > Aquartelamentos de Moçambique – Distritos do Niassa e da Zambézia, 1964-1974. Autor, 2009

Maria Celestina Fernandes > A muxiluanda > Chá de Caxinde, 2008

Mário Matos e Lemos e Alexandre Ramires > O primeiro fotógrafo de guerra português – José Henriques de Mello. Imprensa Univ. Coimbra, 2008

Medina da Silva > África não se esquece. Edições Ecopy, 2009

Paulo Granjo > Um amor colonial. Cosmos, 2009

Rogério Andrade Barbosa > O segredo das tranças. Scipione, 2008

Rui Avillez de Basto > Páginas de África. Protexto, 2009

Sérgio Neto > Colónia mártir, colónia modelo. Imprensa Univ. Coimbra, 2009

Sérgio O. Sá > De Quibala a Malele (Norte de Angola). Autor, 2009

Sheila Khan > Imigrantes africanos moçambicanos. Colibri, 2009

Sousa e Castro (Coronel) > Capitão de Abril, capitão de Novembro. Guerra e Paz, 2009

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Nota de L.G.:

(*) Membro do nosso blogue.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2636: Convívios (42): Encontro do BART 645 em Fátima, no dia 29 de Março de 2008 (Jorge Santos)

BATALHÃO DE ARTILHARIA 645
Guiné 1964/1966

Dia 29 de Março realiza-se o Convívio do pessoal do BART 645 - Águias Negras, em Fátima.

Contacto: Rogério Cardoso 939 339 340 – 214 833 507
__________

Nota do editor

(1) - O Brasão apresentado foi retirado de uma fotografia de um memorial de brasões de unidades existente em Mansabá, à época em que estive neste aquartelamento.
As minhas desculpas aos Águias Negras

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2308: Notas de leitura (3): Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné, de Manuel Amaro Bernardo (Jorge Santos)

Capa do último livro de Manuel Amaro Bernardo. Imagem: O General António de Spínola passa revista às tropas do Batalhão de Comandos da Guiné, acompanhado do seu comandante, Major Almeida Bruno (Fonte: Editora Prefácio).


1. O nosso camarada Jorge Santos, autor do sítio Guerra Colonial Portuguesa (onde pode ser consultada a mais completa e sempre actualizada lista bibliográfica sobre a guerra colonial, de A a Z, a par de uma valiosa filmografaa) mandou-nos, em 23 de Novembro, a seguinte nota, para conhecimento da Tertúlia:

Será lançado no dia 29 (quinta-feira), pelas 18 horas, no Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11, em Lisboa, o livro Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné, da autoria de Manuel Amaro Bernardo, editado pela Editora Prefácio.

A apresentação será efectuada pelo General Ricardo Durão. O livro aborda a guerra na Guiné, e as sequelas do pós-independência, através de diversos testemunhos. O autor não conheceu o TO da Guiné.

Do Prefácio: (…) O livro de Manuel Bernardo narra, através de diversos testemunhos, a guerra da Guiné. Foi um dos teatros onde, porventura, a luta foi mais intensa e dura; contudo, em todo o momento podíamos, desde que com o planeamento adequado e os efectivos necessários, estar presentes em qualquer ponto do território, o que não podia ser conseguido pelo inimigo. Isto não origina que o esforço militar se pudesse prolongar indefinidamente; havia que procurar solução política, inteligente e condigna, que não foi tentada atempadamente. (…).

Cumprimentos e bom fim de semana
Jorge Santos


2. Manuel Amaro Bernardo > Nota biobliográfica:

(i) Nasceu em Faro;

(ii) Foi promovido a alferes em 1960;

(iii) É Coronel do Exército (Infantaria), na reforma;

(iv) Cumpriu quatro comissões no Ultramar (Angola e Moçambique);

(v) No 25 de Abril estava colocado na Academia Militar, "onde existia um núcleo importante de oficiais contestatários ao regime anterior";

(vi) Estave no Regimento de Comandos, na Amadora, no 25 de Novembro de 1975, no Posto de Comando, dirigido por Ramalho Eanes;

(vii) Desempenhou funções de comando no Batalhão n.º2/GNR (1979/85);

(viii) Foi promotor de justiça e juiz nos Tribunais Militares de Lisboa (1987/95);

(ix) É diplomado com o Curso de Ciências da Informação da Universidade Católica (1990/93);

(x) É autor dos seguintes livros (além de outros, em co-autoria):

Os Comandos no Eixo da Revolução; Crise Permanente do PREC; Portugal 1975/76 (1977);

Marcelo e Spínola, a Ruptura; as Forças Armadas e a Imprensa na Queda do Estado Novo; Portugal 1973-74. (1994 e 2. edição em 1996, Ed. Estampa).

Equívocos e Realidades - Portugal 1974-75. (2 volumes 1999).

Combater em Moçambique – Guerra e Descolonização, 1964-1975 (2003, Ed. Prefácio) (1).

Memórias da Revolução; Portugal 1974-1975 (2004, Ed. Prefácio) (2).


Fonte: Passa-Palavra, jornal dos Comandos de Portugal (com a devida vénia...)

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Notas dos editores:

(1) Do blogue do nosso camararada e amigo João Tunes:

Bota Acima > 8 de Julho de 2004 > Africando

(...) Voltei a ler mais um livro do Coronel reformado Manuel Amaro Bernardo. Desta vez, dedicado a Moçambique [ “Combater em Moçambique – Guerra e Descolonização – 1974/1975”, Manuel Amaro Bernardo, Ed. Prefácio]. É uma miscelânea de memórias da sua experiência em campanha, narrativas sobre os processos da guerra e da independência, colecta de depoimentos de vários camaradas de armas, uns intervenientes activos na resistência à independência, outros, pelo menos, críticos radicais da descolonização. A ideia regeneradora é uma constante sem falhas. A guerra foi heróica, a descolonização foi um crime. Frelimo e independência foram, são e serão a desgraça dos moçambicanos (depois de ter sido a nossa).

(...) "Nada tenho contra a proliferação desta literatura. Era inevitável. Até lhes compro os livros e os leio.O problema, quanto a mim, reside apenas no seu peso relativamente desproporcionado no panorama editorial. Bem sei que lhes 'chegou a hora'. Mas, sem contraponto, corre-se o risco de haver fixação num estereótipo bem marcado (extremado) que não permite a incorporação do fenómeno em termos de memória colectiva. E, assim, corre-se o risco de os portugueses, perante África, continuarem na sua ancestral incapacidade de olhar e entender o Outro. E se esta incapacidade, grande tragédia nossa, serviu para 'alguma coisa' (pelo menos serviu para uns tantos) no passado, hoje, sem colónias, só nos separa do mundo, impedindo-nos de termos história. E não há negócio que ganhe com o negócio. (...).

(2) Vd. recensão crítica do João Tunes > Bota Acima > 18 de Junho de 2004 > Leitura cruzada

(...) Terminada a leitura do livro da historiadora Dalila Cabrita Mateus [ “A Pide/DGS na Guerra Colonial – 1961-1974”, Dalila Cabrita Mateus, Ed Terramar ] aqui referido, entrou-me nas mãos um outro livro volumoso (750 pgs!) do Coronel reformado Manuel Amaro Bernardo [“Memórias da Revolução – 1974/1975”, Manuel Amaro Bernardo, Ed Prefácio] .

Acabei por terminar a leitura do segundo antes de trazer para aqui a apreciação sobre o primeiro. Aparentemente, os dois livros não se cruzam.Os factos abordados no livro de Dalila Mateus terminam quando começam os que são tratados no livro do Coronel reformado.

Dalila Mateus concentra-se nas actividades da Pide/DGS nas antigas colónias. O Coronel, abordando a descolonização, transborda para o campo da revolução e da contra-revolução, sobretudo em termos das movimentações golpistas dos militares de direita até ao 25 de Novembro de 1975.

Enquanto o livro sobre a Pide/DGS é obra de historiadora que usa as ferramentas e a metodologia do ofício (foi adaptado de uma tese de doutoramento), o Coronel utiliza os seus conhecimentos, amizades e cumplicidades (ele próprio navegou nas águas da contra-revolução), para construir uma completíssima recolha de depoimentos sobretudo dos militares que se opuseram à descolonização, que lutaram contra o MFA e contra o rumo revolucionário (com alguns depoimentos esparsos de pides, civis envolvidos no golpismo de direita e um (!) depoimento, entre dezenas de entrevistas, de um (!) militar do MFA).

Nota-se que a perspectiva da historiadora parte de um enfoque de 'esquerda' sobre a guerra colonial, enquanto o Coronel reformado partilha com os seus depoentes a rejeição do processo de descolonização e constrói e reconstrói os conhecidos lugares comuns da visão dos militares desconsolados com o 25 de Abril, logo nesse dia ou no dia seguinte. E é aqui que, a meu ver, os livros sempre acabam por se cruzarem (simetricamente). (...)

sábado, 1 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2077: Convívios (27): Notícias de convívios de Unidades que estiveram no TO da Guiné (Jorge Santos)

Para conhecimento de todos os frequentadores da nossa Página, damos notícia de convívios em 2007 das Unidades que estiveram no TO da Guiné.


3.ª COMP/BART 6523
Guiné 1973/1974
Dia 8 de Setembro realiza-se o Convívio.
Contacto: Alves 938 011 596



CCAV 2748
Guiné (Canquelifa) 1970/1972
Dia 30 de Setembro realiza-se o Convívio em Almeirim.
Contacto: Palma 919 457 954




CART 3330
Guiné 1970/1972
Dia 6 de Outubro realiza-se o Convívio em Évora.
Contacto: Luís Amaral 917 715 237
_____________________________________

Notas do co-editore CV:

O Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, agradece a preciosa colaboração do nosso companheiro Jorge Santos , que nos forneceu os elementos indispensáveis para a elaboração deste Post com notícias de convívios de Unidades que estiveram no TO da Guiné.

Vd. Post de 14 de Agosto> Guiné 63/74 - P2056: Convívios (24): Notícias de convívios de Unidades que estiveram no TO da Guiné (Jorge Santos)

domingo, 11 de fevereiro de 2007

Guiné 63/74 - P1513: Os três fuzileiros navais: desertores ou prisioneiros ? Aonde e quando ? (Jorge Santos)

Texto do Jorge Santos, ex- 1º Grumete Fuzileiro (DFA), Companhia de Fuzileiros nº 4 (Moçambique > Metangula, Cobué, 1968/70), estimado membro da nossa tertúlia desde o princípio de Julho de 2005, e editor do sítio A Guerra Colonial, uma das mais completas e antigas páginas existentes na Net, em português, sobre a guerra do ultramar.


Amigo Luís:

Envio-te um extracto de texto de Amílcar Cabral que encontrei na Net (1):

“Não devemos esquecer que há erros, faltas, atrasos: por exemplo, muitas emboscadas mal preparadas, tendência em chegar atrasado no lugar previsto, ausência de vigilância, importante nos rios, ainda que estejamos bem armados para atirar nos barcos, falta de coragem para atirar nos aviões, embora saibamos que, quanto mais atiremos neles, mais os aviadores têm medo. Não obstante saibamos que em Quitafine, e em outras regiões, como Boé, nossos companheiros foram capazes de combater os aviões portugueses com uma coragem extraordinária, muitos não seguiram este exemplo. Em muitos lugares atrasamos nossos ataques, imobilizamos nossa infantaria durante muito tempo. Muitos carregadores de patchanga[pistola metralhadora PPSH] foram estragados, porque, uma vez carregados, não foram esvaziados nos combates. Não fizemos os necessários reconhecimentos antes de passar aos ataques. O resultado é que, muitas vezes, durante os ataques, fomos surpreendidos pelas minas. Não soubemos traçar os planos necessários, tendo em vista os ataques: um dirigente pode definir um plano geral de ataque, mas, quando se trata de planos mais pormenorizados, os próprios comandantes, no momento do ataque, se sentiram incapazes. Portanto, não pudemos extrair o máximo rendimento desses ataques.

"Devemos reconhecer, por exemplo, que até hoje só fizemos prisioneiros portugueses durante dois ataques: a Cantancunda e a Bissassema. É muito pouco, tendo em vista todos os ataques que fizemos aos seus quartéis. Quando os portugueses fogem de mais de vinte quartéis, avaliamos as oportunidades que perdemos de matar ou aprisionar um grande número de inimigos. A falta de vigilância, de constância e de perseverança é infelizmente um dos defeitos característicos de nossas forças armadas.” (2).

Tenhamos agora em atenção o seguinte:

- Houve três prisioneiros portugueses, militares, feitos pelo PAIGC em Bissassema, aconteceu, salvo erro, em 2 de Fevereiro de 1968;
- Em 15 de Fevereiro de 1968 são entregues à Cruz Vermelha Senegalesa, pelo PAIGC, três militares portugueses feitos prisioneiros, com declarações de Amílcar Cabral sobre a disposição do PAIGC de parar o combate com a condição do reconhecimento do direito à independência da Guiné.

Este é o único caso de que li ou ouvi falar sobre TRÊS MILITARES (e aqui não interessa a que ramo pertenciam ou a especialidade que tinham).

Serão os mesmos da propaganda que é apresentada pelo PAIGC (3)? Se são, há aqui várias divergências:

(i) Na propaganda do PAIGC consta a data de 18 de Fevereiro (de que ano ?), e a entrega à cruz Vermelha Senegalesa dos militares portugueses acontece a 15 de Fevereiro de 1968;

(ii) Segundo o Amílcar Cabral, só houve prisioneiros em Cantacunda e Bissassema; em Cantacunda, segundo o relato do A. Marques Lopes, houve onze prisioneiros e um morto, na noite de 10 para 11 de Abril de 1968 (4);

(iii) Os militares com a especialidade de fuzileiro partiam para as suas comissões praticamente com um ano de serviço militar já feito, ou mais. Acontece que o António Pinto e o José Sentieiro, e segundo o que consta na propaganda do PAIGC, e pelos seus números de matrícula, são da incorporação de Abril de 1967. O Costa Alfaiate, segundo o seu número de matrícula, é da incorporação de Janeiro de 1968.

(iv) Ora, se segundo Amílcar Cabral, só houve prisioneiros em Cantacunda (onze, de uma só vez) e em Bissassema (aqui 3 militares ao mesmo tempo, possivelmente os fuzileiros identificados pela propaganda do PAIGC), pergunta-se: Quantas vezes o PAIGC aprisionou três militares portugueses duma só vez? Se foi só uma vez em Bissassema, pergunta-se se devem ser considerados prisioneiros ou desertores ? Quem desertava e se entregava ao inimigo era considerado prisioneiro ?

(v) Por fim, o PAIGC diz que os fuzileiros eram da base de Ganturé, na região do Cacheu (carta de Bigene). Bissassema, por sua vez, ficava a suodoeste de Tite.

A imagem reproduzida no blogue é de muita má qualidade, sendo difícil perceber a alegada satisfação dos desertores. Diz a legenda: "A satisfação dos fuzileiros navais Pinto, Alfaiate e Sentieiro, fotografados em lugar seguro, após terem abandonado a base fluvial de Ganturé". Além disso, se eles abandonaram a base de Ganturé, devem ter-se entregue ao PAIGC no norte, próximo da fronteira do Senegal e não no sul...

Enfim, face ao exposto atrás, ainda há muitos pontos a esclarecer... sobre este alegado episódio de deserção.


Jorge Santos

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Notas de L.G.:
(1) Vd. RATIO PRO LIBERTAS - discussão de idéias e propostas sobre liberdade, cidadania e sociedade > Nem vem com esta droga de Enem: Ou como não explicar a África, por Anselmo Heidrich

(2) Amílcar Cabral apud CHALIAND, Gérard. A Luta pela África: estratégias das potências. São Paulo: Brasiliense, 1982, p. 52.

(3) Vd. post de 4 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1496: PAIGC (2): Propaganda: Notícia da deserção de três fuzileiros navais (Fernando Barata)

(4) Vd. post de 18 Maio 2005 > Guiné 69/71 - XXI: O ataque e assalto do IN ao destacamento de Cantacunda (1968 (A. Marques Lopes)

"(...) Ataque a Catacunda. 10/11 de Abril de 1968

"(...) O soldado Aguiar (João Alves Aguiar) foi o único que tentou resistir com a G3 à boca do abrigo e morreu, por isso. Onze foram capturados, entre eles o furriel que comandava o destacamento, o Vaz. Foram libertados, depois, aquando da tentativa de invasão na Guiné-Conakri (Operação Mar Verde). Menos o Armindo Correia Paulino e o Luís dos Santos Marques, que morreram lá de cólera. Apesar das péssimas condições e dos fracos efectivos, é evidente (e sei que foi assim, porque me contaram) que houve desleixo e facilitismo em excesso. Se não tivesse havido, não tenho dúvidas que as coisas não teriam sido tão fáceis para os atacantes" (...)

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Guiné 63/74 - P1488: Vídeos (1): Reportagem da RTP sobre os talhões e cemitérios militares no Ultramar (Jorge Santos)

Informação que nos chega, amavelmente, pelo nosso camarada Jorge Santos, membro da nossa tertúlia e editor do sítio Guerra Colonial Portuguesa:


EM REPORTAGEM - DOR ADORMECIDA

Programa da RTP, de 20 de Setembro de 2006, sobre os talhões e cemitérios militares em Angola, Guiné e Moçambique.

Trinta anos depois do fim da guerra colonial, existem famílias que estão interessadas em transladar os restos mortais dos seus parentes e pretendem pedir ajuda ao Governo português. A última trasladação dos restos mortais de um militar falecido nas ex-colónias ocorreu em 2003 (1).

Entrem no link abaixo indicado e vejam a reportagem na íntegra (em vídeo de 15 m). Inclui imagens dos cemitérios militares de Bissau e Bambadinca (este completamente abandonado):

http://www.rtp.pt/wportal/informacao/reportagem/

Cumprimentos
Jorge Santos

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Nota de L.G.:

(1) Sobre este dossiê (doloroso) , vd. os seguintes posts:

28 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1468: Mortos que o Império teceu e não contabilizou (A. Marques Lopes)

22 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1453: Ninguém fica para trás: uma nobre missão do nosso camarada ex-paraquedista Manuel Rebocho

25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto

9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida

26 de Setembro de 2006 > né 63/74 - P1117: Reabilitação de talhões e cemitérios militares nas antigas colónias (Jorge Santos)

23 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1108: Cemitérios militares: chocado com o programa da RTP1 (Paulo Santiago)

23 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1106: A ubiquidade dos nossos mortos (Zélia)

21 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1099: O cemitério militar de Guidaje (Manuel Rebocho, paraquedista)

20 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1093: Programa da RTP1, hoje, às 21h, sobre as campas abandonadas dos nossos mortos (José Martins)

28 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P919: Vamos trasladar os restos mortais dos nossos camaradas, enterrados em Guidage, em Maio de 1973 (Manuel Rebocho)

30 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXIX: Do Porto a Bissau (23): Os restos mais dolorosos do resto do Império (A. Marques Lopes)

terça-feira, 26 de setembro de 2006

Guiné 63/74 - P1117: Reabilitação de talhões e cemitérios militares nas antigas colónias (Jorge Santos)

Mensagem do nosso amigo e camarada Jorge Santos, o nosso ex-fuzileiro que esteve em Moçambique e que anima a página A Guerra Colonial, a mais antiga de todas:


Luís:

Segundo notícia publicada no Correio da Manhã de 9 de Janeiro de 2005, que anexo, estão sepultados em vários talhões e cemitérios das antigas colónias os seguintes combatentes: na Guiné, 630; em Moçambique, 1053; e emAngola, 1346.

O Ministério da Defesa fez na altura um protocolo com a Liga dos Combatentes. Seria interessante saber o que se fez, o que se faz e o que se vai fazer. E convém ter em atenção e lembrar que este processo já se arrasta desde 5 de Fevereiro de 2003. Mas creio que não é só à Liga dos Combatentes que se devem colocar questões: e então o que fazem as outras Associações de Ex-Combatentes? Qual tem sido o papel delas neste processo todo?

E os associados das várias Associações também têm uma palavra importante adizer. Basta que nas Assembleias Gerais façam aprovar uma moção a exigir dasDirecções uma intervenção junto de quem de direito sobre o caso dos camaradas que se encontram sepultados nos vários talhões e cemitérios das antigas colónias. Honra e respeito aos que tombaram nas várias frentes de combate.
Abraço,

Jorge Santos
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Notícia publicada no Correio da Manhã, de 9 de Janeiro de 2005

Defesa: Ministro assina protocolo com Liga dos Combatentes
Portas vai recuperar cemitérios do Ultramar


A poucos dias da pré-campanha eleitoral, o ministro da Defesa não quer deixar pendentes dossiês no seu Ministério. O último foi assinado ontem no Porto e estabelece um protocolo com a Liga dos Combatentes, tendo em vista recuperar talhões e cemitérios nas antigas colónias onde ficaram sepultados milhares de combatentes.

Paulo Portas assinou, por isso, um documento que prevê uma verba de 600 mil euros a distribuir por tranches até 2008. O ministro justificou a iniciativa com a frase: “Só merece respeito dos vivos quem honra os seus mortos”.

Os alvos são, por exemplo, as sepulturas sem nome ou os talhões votados ao abandono. Segundo o Ministério, pelo menos 3000 militares portugueses foram sepultados nas ex-colónias em mais de 300 locais diferentes. O processo que deu origem a este protocolo, iniciado a 5 de Fevereiro de 2003 e ontem concluído. Moçambique, Angola, Guiné-Bissau, Cabo-Verde e até Timor-Leste são os países de acção do programa. No território nacional também está contemplada a recuperação da Cripta, no Alto de São João, em Lisboa, mas só deverá ser abrangida em 2006.

Já este ano, o protocolo com a Liga dos Combatentes prevê a recuperação do talhão no cemitério de Santana, em Luanda, Angola, os cemitério do Alto das Cruzes, na mesma cidade e o de São José de Lhanguene, em Maputo, Moçambique .

Em 2007 está ainda prevista a recuperações de talhões em Timor-Leste num processo coordenado pela tutela, pela pasta da Diplomacia – através dos consulados, embaixadas e adidos militares – bem como da Liga dos Combatentes, liderada pelo general Chito Rodrigues.

NOTAS DE UM PROTOCOLO

MILITARES

Segundo um levantamento feito pelo Ministério da Defesa, em Angola estão sepultados 1346 combatentes em 163 locais diferentes. Em Moçambique são 1053 e na Guiné são 630.

PAGAMENTOS

Só este ano, o Ministério compromete-se a pagar à Liga dos Combatentes 37 500 mil euros até 28 de Fevereiro, a mesma soma até 30 de Abril, 31 de Julho e 31 de Outubro.

SONDAGENS

O momento de pré-campanha levou Portas a comentar a sondagem do Expresso que dá ao seu partido 6,3 por cento: “Para mim é ouro”. Hoje tem um almoço em Santa Maria da Feira.

Cristina Rita / José Rodrigues

sexta-feira, 14 de julho de 2006

Guiné 63/74 - P960: Antologia (49): Oficialmente morreram 17 cubanos durante a guerra

Luís:

Segundo este artigo que anexo, e pelas afirmações de Filipe Perez Roque - Ministro das Relações Exteriores de Cuba, de visita a Cabo Verde, morreram 17 cubanos na Luta pela Independência da Guiné e Cabo Verde.

Saúde
Jorge Santos



Cuba manifesta desejo de intensificar cooperação com Cabo Verde
(26-06-2006)

Autor: Isabel C. Bordalo

Fonte: Inforpress, agência noticiosa de Cabo Verde

[Cabo Verde], Praia, 26 de Junho de 2006 (Inforpress)

O ministro das Relações Exteriores de Cuba, Filipe Pérez Roque, defendeu, hoje, o aprofundar das relações de cooperação entre Cabo Verde e o seu país, nas áreas já acordadas e de “acordo com as prioridades estabelecidas pelo governo cabo-verdiano”, após uma reunião de trabalho com o seu homólogo, Victor Borges.

Referindo-se às relações bilaterais, a nível político, diplomático e de cooperação, como sendo "exemplares" e gozando de uma "saúde excelente", Filipe Pérez Roque, lembrou a colaboração existente, nos domínios da saúde e educação, e também na agricultura, uma área que deverá ser retomada, no quadro dos programas de cooperação da FAO.

“A cooperação entre os dois países é histórica” e baseada num diálogo respeitoso e em ampla coincidência sobre muitos temas da agenda internacional”, afirmou o ministro cubano recordando que “mais de 600 jovens cabo-verdianos” foram formados em Cuba, encontrando-se actualmente mais de 60, nas universidades cubanas, e estudar para regressarem e incorporarem-se no “desenvolvimento da sua pátria”.

Nas áreas da saúde e educação, Filipe Pérez Roque lembrou que se encontram “40 médicos e especialistas” cubanos em Cabo Verde, bem como vários professores universitários e de ensino técnico profissional. 

O ministro das Relações Exteriores fez ainda questão de evocar os “17 cubanos que caíram combatendo pela independência da Guiné e Cabo Verde”, para recordar que Cuba sempre “se bateu pela independência dos povos africanos”.

Também o ministro dos Negócios Estrangeiros, Cooperação e Comunidades de Cabo Verde, Victor Borges, se referiu as boas relações “políticas e diplomáticas” que os dois países têm mantido, sobretudo na área da qualificação dos quadros cabo-verdianos que “foram formados em Cuba e regressaram para participar activamente no desenvolvimento” do arquipélago.

Esta cooperação assume, segundo Victor Borges, “importância acrescida quando mais de três dezenas de médicos cubanos contribuem de forma significativa, com assistência técnica, para a melhoria do sistema de saúde cabo-verdiano”. A cooperação tem sido “igualmente profícua”, nos domínios da educação e formação, destacando-se aqui o “envio de especialistas para o ensino técnico e a concessão de bolsas de estudo”, como refere o Ministério dos Negócios Estrangeiros acrescentando que se encontram actualmente em Cuba 147 estudantes cabo-verdianos.

quarta-feira, 12 de julho de 2006

Guiné 63/74 - P956: Antologia (48): Félix Laporta, o primeiro cubano a morrer, num ataque a Beli, em Julho de 1967

Guiné > Sector de Cubucare > Guerrilheiros do PAIGC sendo inspeccionados por um comandante. A partir de Maio de 1966, o PAIG começou a contar com o apoio (secreto) de Cuba, sobretudo em homens (médicos, artilheiros, instrutores). Oficialmente, morreram 17 cubanos em combate desde 1967 até ao fim da guerra.

Foto: UN / Yutaka Nagata, fonte: Return to the Source: Selected Speeches, by Amilcar Cabral. New York: Monthly Review Press, 1974. (Imagem gentilment cedida por Jorge Santos, 2005)


Texto enviado pelo Jorge Santos:

Artigo onde o embaixador de Cuba em Bissau afirma:

(i) Os primeiros cubanos, 3 médicos e 3 artilheiros, chegaram à Guiné a 1 de Maio de 1966;
(ii) FÉLIX LAPORTA foi o primeiro soldado cubano a morrer num ataque ao aquartelamento de Béli (sudeste da Guiné-Bissau), a 2 de Julho de 1967.

Saúde
Jorge
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Se Cabral fosse vivo estaria ao lado de Fidel, diz embaixador de Cuba em Bissau

RTP -Informação

O embaixador de Cuba em Bissau afirmou que, se o fundador das nacionalidades cabo-verdiana e guineense, Amílcar Cabral, fosse vivo, estaria "com toda a certeza, a lutar contra o imperialismo" ao lado do presidente cubano, Fidel Castro.

Pedro Donia discursava numa cerimónia organizada pelo Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) destinada a celebrar o 40º aniversário da chegada à então província portuguesa da Guiné dos primeiros seis "internacionalistas" de Cuba, que ajudaram o "movimento libertador" na luta pela independência nacional (1963/74).

"Os ideais de independência e autodeterminação e de luta contra o imperialismo de Amílcar Cabral, tal como se apresentou perante Fidel Castro em meados dos anos 60, manter-se-iam hoje bem vivos se fosse vivo. E, se fosse vivo, estaria, com toda a certeza, ao lado do líder cubano", afirmou o diplomata.

Segundo os relatos históricos, os primeiros seis cubanos - três médicos e três artilheiros - chegaram a solo guineense a 1 de Maio de 1966, a que se juntou, um mês depois, novo grupo de "internacionalistas", que, ao longo do conflito e após a independência, ajudaram o PAIGC quer na luta quer no domínio da saúde e educação (1).

"Logo no dia em que chegaram começaram, imediatamente a trabalhar. Os médicos a assistir os feridos e os artilheiros na formação dos combatentes do PAIGC", afirmou Pedro Donia, lembrando a "amargura" de Cabral, então presidente do "movimento libertador", quando caiu o primeiro soldado cubano, Félix Laporta, a 2 de Julho de 1967, num ataque ao aquartelamento de Béli (sudeste da Guiné-Bissau).

Aqueles ideais, sublinhou o diplomata cubano, constituem a razão do regresso de Cuba a Bissau, após "alguns anos de adormecimento" nas relações bilaterais, reactivadas em Janeiro de 2005 quando o presidente do PAIGC, Carlos Gomes Júnior, então primeiro- ministro, efectuou uma visita oficial a Havana e rubricou um novo Acordo Geral de Cooperação.

Na cerimónia, que decorreu na sede do PAIGC em Bissau e onde está patente uma exposição fotográfica da presença cubana no país, estiveram presentes Carlos Gomes Júnior e a direcção do partido, bem como dezenas de antigos combatentes e responsáveis da missão diplomática da vizinha Guiné-Conacri, cujo exército também ajudou na luta de libertação do jugo colonial português.

No meio de fortes e sentidas homenagens a todos os que caíram em combate, independentemente da sua nacionalidade, o PAIGC distinguiu Fidel Castro com um "Diploma de Mérito e Reconhecimento", "símbolo do apreço" do partido de Cabral por "todo o povo cubano".

Por seu lado, Carlos Gomes Júnior sublinhou a importância do apoio cubano para a construção da nova nação guineense, sublinhando que ela está "selada com o sangue dos que tombaram" durante a luta.

O presidente do PAIGC apelou também para a libertação "imediata e incondicional" dos cinco jovens dirigentes cubanos que estão encarcerados em prisões norte-americanas, acusados de terrorismo, tema que o embaixador de Cuba denunciara momentos antes, no meio de fortes críticas à política de embargo dos Estados Unidos.

As relações formais de cooperação entre os dois países remontam a 21 de Outubro de 1976 quando, em Havana, se realizou a primeira reunião da Comissão Mista, mas caíram num "marasmo" no início da década de 90.

A cooperação entre os dois estados viria a ser relançada em fins de Setembro de 2004 durante os trabalhos da XII Comissão Mista - que decorreram em Bissau e permitiram a aprovação de mais de uma dezena de projectos - e seria reforçada com a visita de Carlos Gomes Júnior a Havana, em Janeiro do ano seguinte.

Entre esses projectos está o relançamento da Faculdade de Medicina de Bissau, criada em 1977 e desactivada no início dos anos 90, bem como outros ligados à formação e assistência às universidades, destacando-se o Instituto Agrícola (ou Escola Técnica Agrícola).

Na ocasião, as duas partes chegaram também a acordo em projectos de assistência técnica nos domínios das Pescas, Educação, Desporto, Cultura, Agricultura, Obras Públicas, Construção, Urbanismo e Saúde.

Outros projectos são o apoio à construção, de raiz, do Museu da Luta de Libertação Nacional, bem como a conservação dos locais históricos da guerra da independência (1963/1974), nomeadamente em Boé, leste do país.

Agência LUSA, 3 de Junho de 2006

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Nota de L.G.

(1) Vd. post de 11 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P951: Antologia (47): Um médico cubano no Morés e no Cantanhez (Domingos Diaz, 1966/67)

sábado, 1 de abril de 2006

Guiné 63/74 - P648: Bibliografia de uma guerra (12): Op Mar Verde


Selecção de Jorge Santos:

TÍTULO: “Operação Mar Verde – Um documento para a história”
AUTOR: António Luís Marinho
EDITORA: Círculo de Leitores
DATA: Fevereiro de 2006

Da editora:

"A nossa história mais recente, os trâmites de uma polémica operação de limpeza.
Luís Marinho apura a verdadeira dimensão da ordem dada pelo governador da Guiné-Bissau em Novembro de 1970, operação executada por Alpoim Galvão.

"A ordem de captura e morte dos dirigentes do PAIGC acabou por falhar. Amílcar Cabral foi traído e assassinado três anos depois por membros do seu próprio partido. Com esta obra, o autor volta aos agitados anos 70, à dimensão da luta armada e analisa o polémico documento que teria dado ordem de captura e morte aos dirigentes africanos".

De Guilherme Alpoim Galvão (1):

«Lendo e relendo as páginas da obra que o Luís Marinho pacientemente pesquisou e escreveu, recordei o que se passou há trinta e cinco anos, praticamente metade da minha vida, com alguma nostalgia mas também com um frémito de entusiasmo, pois foram anos duros mas excitantes, de estudo, reflexão, planeamento e acção, muita acção.»
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Nota de L.G.

(1) vd post de A. Marques Lopes, de 22 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXX: Bibliografia de uma guerra (9): a invasão de Conacri

sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

Guiné 63/74 - P444: PAIGC: Armazéns do Povo (Jorge Santos)


Guiné > s/d > Região sob controlo do PAIGC > Um armazém do povo. Fonte: PAIGC.

Texto do Jorge Santos:

O PAIGC promove a criação dos Armazéns do Povo por decisão tomada no 1º Congresso de 1964.

O objectivo dos Armazéns do Povo, empresa geral de comércio de tipo estatal, era garantir o fornecimento de artigos de primeira necessidade à população das regiões libertadas e, por meio de troca, receber produtos agrícolas que deveriam em seguida escoar-se para o exterior, criando-se e desenvolvendo-se assim, progressivamente, a base de um comércio externo.

O número de Depósitos dos Armazéns do Povo passou de 6, em 1964, para 16, em 1969.

FONTE: PAIGC - História da Guiné e Ilhas de Cabo Verde. Porto: Edições Afrontamento. 1974

terça-feira, 20 de dezembro de 2005

Guiné 63/74 - P372: Antologia (34): Mensagem de Natal de Amílcar Cabral (1966) (Jorge Santos)


Guiné > 1966 > Mensagem de Natal de Amílcar Cabral, "encontrada num acampanhamento guerrilheiro durante um golpe de mão".

Fonte: Monteiro, R.; Farinha, L. - Guerra colonial: fotobiografia. Lisboa: Círculo de Leitores/Publicações D. Quixote. 1990. 116 (Com a devida vénia).

Selecção de Jorge Santos (2005). Transcrição da mensagem, dactilografada em papel timbrado de Le Secrétaire Génerale, PAIGC, Unidade e Luta:

"Mensagem

"Caro companheiro,

"Nesta quadra do ano, em que as famílias comemoram a sua existência e se renovam nos corações dos homens as esperanças numa vida melhor, tenho o prazer de vos dirigir saudações fraternais e combativas, em nome da direcção do nosso Partido e do nosso Povo.

"Somos a mesma família, porque enfrentamos juntos os mesmos sacrifícios, ao serviço duma existência digna para todas as famílias. Somos os mesmos homens, porque fecundamos as mesmas esperaças que, pela acção concreta, queremos transformar numa realidade nova - uma vida de liberdade, de paz e de progresso para todos os homens.

"A nossa marcha comum, num acto de solidariedade consciente e revolucionária , vale mais do que todas as palavras.

"Saúde e bom trabalho, companheiro!

"Fraternalmente, Amílcar Cabral.
Dezembro 1966"
______

(*) Aproveito para infornar que o primeiro autor desta publicação, de grande valor documental, é o nosso amigo e camarada Renato Monteiro, ex-furriel miliciano da CART 2479 / CART 11, que esteve comigo em Contuboel em de Junho a meados de Julho de 1969. Reencontrámo-nos, ao fim de 36 anos, através deste blogue.

sábado, 17 de dezembro de 2005

Guiné 63/74 - P362: Poesia de Cabo Verde de Aguinaldo Fonseca (Jorge Santos)

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo >

"O belo porto de mar de São Vicente; ao centro o ilhéu que se confunde com um barco. Outubro de 1941".

Luís Henriques (ex-1º Cabo nº 188/41 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5, que esteve em Cabo Verde, Ilha de São Vicente, no Lazareto, 1941/43).

© Luís Graça (2005)

Selecção do nosso camarada Jorge Santos

Aguinaldo Fonseca (1)


POVO

É sempre a mesma história repetida.
É sempre o mesmo lodo, a mesma fome
É sempre a mesma vida mal vivida
De quem amassa o pão mas não o come.

É sempre a mesma angústia desgrenhada
De quem naufraga em terra olhando o oceano;
O rubro desespero, a mão crispada,
O sonho a desfolhar-se… e o desengano.

É sempre este horizonte de fuligem,
É sempre este arranhar em duro chão,
Com fúria até ao centro da vertigem
Em busca da raiz da salvação.

In “Boletim Mensagem”, Ano III, nº 1, Janeiro de 1960


TERRA MORTA

Os meus irmãos, na terra estéril,
Seguem aos tombos pela vida fora,
Tontos de sol
Fartos de vento,
E sobre as ondas
Nas claras noites de lua cheia
Bóiam miragens
De verdes prados e extensos bosques.

Os meus irmãos na terra triste
(O mar em volta, o céu por cima)
Arrastam longas canções de bruma
Que sobem no ar buscando céus
E depois caem de asas fechadas
Desamparados.

Os meus irmãos na terra morta
Exposta ao vento, ao sol, às aves
Olham o mar
Olham as nuvens…
- Ficam à espera
De mãos vazias.

In “Mensagem – Casa dos Estudantes do Império, 2º Vol. ”, ALAC Editor, Outubro 1996.
____________

(1) Há um texto de Amílcar Cabral, originalmente publicado em 1952, onde se faz referência ao jovem poeta Aguinaldo Fonseca:

"A Poesia Cabo-Verdiana abre os olhos, descobre-se a si própria, - e é o romper duma nova aurora. É a claridade que surge, dando forma às coisas reais, apontando o mar, as rochas escalvadas, o povo a debater-se nas crises, a luta do cabo-verdiano "anónimo", enfim, a terra e o povo de Cabo Verde. Por isso, o caracter intencional - e felizmente intencional - do nome da revista que revela essa profunda modificação na Poesia Cabo-Verdiana: Claridade (...).

"As mensagens da Claridade e da Certeza têm de ser transcendidas. O sonho de evasão, o desejo de "querer partir", não pode eternizar-se. O sonho tem de ser outro, e aos Poetas - os que continuam de mãos dadas com o povo, de pés fincados na terra e participando no drama comum - compete cantá-lo. O cabo-verdiano, de olhos bem abertos, compreenderá o seu próprio sonho, descobrirá a sua própria voz, na mensagem dos Poetas.

"Parece que António Nunes e Aguinaldo Fonseca estão na vanguarda dessa nova Poesia. Não se conformam com a estagnação. A prisão não está no Mar.

"O primeiro, auscultando a terra e o povo, sonha com um "Amanhã" diferente, que antevê possível. E descreve a alteração que há de operar-se: "Em vez dos campos sem nada..." E profetiza, para a terra cabo-verdiana, a "vivificação da Vida".

"O segundo exprime, em toda a sua grandeza, o "naufrágio em terra" do povo a que pertence. Retrata os "homens calados" sofrendo a "dor da Terra-Mãe...num abandono de não ter remédio". Dos homens, "presos na cadeia da desesperança". E o seu sonho, não é de "querer partir": é de
Outra terra dentro da nossa terra".

Amílcar Cabral > Apontamentos sobre a Poesia Caboverdiana (*)

* Apareceu pela primeira vez em Boletim de Propaganda e Informação III, 28 (01/01/1952). Reproduzido em Obras Escolhidas de Amílcar Cabral, Vol. I: A Arma da Teoria - Unidade e Luta. Lisboa: Seara Nova. 1976. 25-29.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2005

Guiné 63/74 - P334: Os poetas da Guiné-Bissau (1): Julião Soares Sousa

Selecção de Jorge Santos.

Autor: Julião Soares Sousa

CANTOS DO MEU PAÍS

Canto as mãos que foram escravas
nas galés
corpos acorrentados a chicote
nas américas

Canto cantos tristes
do meu País
cansado de esperar
a chuva que tarda a chegar

Canto a Pátria moribunda
que abandonou a luta
calou seus gritos
mas não domou suas esperanças

Canto as horas amargas
de silêncio profundo
cantos que vêm da raiz
de outro mundo
estes grilhões que ainda detêm
a marcha do meu País

In: "Um Novo Amanhecer". Coimbra: Livraria Minerva.1996.

Nota encontrada na Net sobre o autor:

"The author is a native of Bula, República da Guiné-Bissau. In 1990 he contributed to the review A Gália of the Associação Galaico-portuguesa da Língua (Santiago), and the newspaper A cabra. He has also contributed poetry to Journal da Maia. At the time these poems were published the author was Coordenador Geral do Grupo de Reflexão e Debate / África, located in Coimbra. A student of history specializing in Portuguese expansion, he was active in the Estudantina Universitária de Coimbra from 1992".

Fonte: RICHARD C. RAMER > Old & Rare Books > RECENT PORTUGUESE PUBLICATIONS BULLETIN 19 > October 1999

sábado, 3 de dezembro de 2005

Guiné 63/74 - P316: Antologia (30): A Província Portuguesa da Guiné (1961) (Jorge Santos)


Por mão do nosso incansável Jorge Santos, autor da página sobre A Guerra Colonial, chega-nos um este texto sobre a geogrfia e a demografia da Guiné Portuguesa (Dados informativos, 1961).

Estes dados são mais do que um simples curiosidade, para os nossos amigos e camaradas de tertúlia. Têm também interesse histórico: basta compararmos a população de hoje da Guiné-Bissau (que mais do que duplicou) e termos em conta as dramáticas mudanças climáticas que estão afectar a África subsaariana. Por exemplo, quem conhece a Guiné-Bissau de hoje diz que já não chove como há quarenta anos atrás... Enfim, não sei se há dados históricos da metereologia da Guiné-Bissau para confirmar esta tendência.


Situação geográfica e superfície

A província da Guiné acha-se situada na costa ocidental do continente africano, entre o território do Senegal, que lhe serve de fronteira ao norte, e a República da Guiné, que a delimita a leste e a sul.

O seu litoral fica compreendido entre as latitudes 12º 20’ N (Cabo Roxo) e 10º 59’ N (Ponta Cagete).

Além da parte continental e das ilhas de Jeta, Caro, Pecixe, Bissau, Areias, Bolama, Carar, Como e Melo, que lhe ficam contíguas, compreende ainda a província o fronteiro arquipélago de Bijagós, formado por dezenas de ilhas e ilhéus, entre as quais sobressaem as de Caravela, Canhabaque, Formosa, Une, Cavalos e Poilão.

No seu conjunto ocupa a Guiné Portuguesa uma superfície total de 36.125 Km2.

Relevo e hidrografia

Se exceptuarmos algumas pequenas zonas do Leste da província, na região de Boé, onde os últimos contrafortes do maciço do Futa Djalon elevam o terreno até alturas que só raramente atingem os 300 metros, não se encontram na Guiné elevações dignas de menção.

A falta de relevo é especialmente assinalável numa larga faixa litoral, cuja planura, permitindo a invasão profunda, pelo mar, dos antigos cursos dos rios, dá origem às conhecidas «rias» que sulcam grande parte dessa zona da província.

Podem considerar-se na Guiné, no que respeita a cursos de água, duas zonas que a linha limite das marés divide: a zona litoral e a zona interior.Na primeira, os antigos cursos dos rios, ao serem invadidos pelo mar, dão origem às chamadas «rias», das quais as mais importantes, de norte para sul, são as de Sucujaque, Cacheu, Bissau, Grande ou de Buba e Cacine.

Na zona interior, que abrange as regiões situadas para além do limite das marés, assinala-se já a existência de cursos de água doce, com um regime de cheias relacionadas com as variações climatéricas, os quais, devido aos rápidos que cortam os seus percursos, são apenas navegáveis em pequenas extensões.

As principais bacias hidrográficas que se encontram nesta zona são as do rio Cacheu ou Farim, navegável em cerca de 100 Km do seu percurso por navios até 2000 toneladas, do Geba, que constitui a principal via de comunicação fluvial da Guiné, e a do Corubal, que tem a sua origem no Futa Djalon e vai desaguar no estuário do rio Geba, sendo navegável em cerca de 150 km.

Clima

Situada sensivelmente a meia distância entre o Equador e o trópico de Câncer, a Guiné tem o clima quente e húmido característico das regiões tropicais, em que apenas se assinalam duas estações: a quente ou das chuvas, que começa em meados de Maio e se estende até meados de Novembro, e a estação seca e fresca, que cobre o restante período do ano.

Na época das chuvas a humidade atmosférica é bastante elevada e a temperatura média, à sombra, oscila entre 26º e 28º C.

A pluviosidade é superior em média a 2000 mm, sendo os meses de Julho e Agosto os que registam maior número de dias de chuva.

As temperaturas médias da época seca não vão além de 24º C, sendo os meses mais frescos os de Dezembro e Janeiro.

No que respeita às temperaturas, consideram alguns autores a possibilidades de dividir o ano nos seguintes quatro períodos:

a) período fresco - no qual se verificam as maiores amplitudes térmicas, e que abrange os meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro.

b) 1º período quente – durante os meses de Março, Abril e Maio, em que as variações térmicas são ainda de certo vulto, especialmente nos meses de Março e Abril.

c) Período das chuvas – que se estende pelos meses de Junho, Julho, Agosto e Setembro.

d) 2º período quente – abrangendo os meses de Outubro e Novembro.

Com as suas características acentuadamente tropicais, o clima da Guiné tem sido considerado como insalubre, devido às suas altas temperaturas, densa humidade, baixa pressão atmosférica e emanações das regiões alagadiças das zonas planas.

É exagerado, no entanto, generalizar a toda a província as más condições climatéricas, visto que em certas regiões, como no Boé, Bafatá e outras, se encontram grandes áreas em que a adaptação do europeu se faz com bastante facilidade e em que o clima não é mais pernicioso do que o de muitos outros lugares do território português.

População

A população total da província da Guiné, segundo o censo de 1950, era de 510.777 habitantes, distribuídos da seguinte maneira:
- 2263 brancos
- 11 indianos
- 4568 mestiços
- 503.935 negros.

Por estimativa realizada em 31 de Dezembro de 1958 a população total da província era de 568.300 habitantes.

FONTE: Províncias Ultramarinas Portuguesas: dados informativos. Volume 1. Lisboa: Agência Geral do Ultramar, 1961.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2005

Guiné 63/74 - P308: O Código de Conduta do Combatente da Guerra do Ultramar (Jorge Santos)

Cartaz dos Serviços de Propaganda do Estado Maior do Exército.

© Jorge Santos (2005).


Reproduz-se a seguir o "código de conduta" do militar português em África. Documento enviado pelo Jorge Santos (ex-fuzileiro, da 4ª Companhia de Fuzileiros, Niassa, Moçambique, 1968/70; membro da nossa tertúlia e autor da página na NET A Guerra Colonial):

Cópia do documento SPEME-Mod.1157 (Serviços de Propaganda do Estado-Maior do Exército - Modelo 1157). Este impresso era distribuído aos nossos camaradas, mobilizados para o Ultramar.

Pelos dados que tenho, sobre publicações editadas por esses serviços, creio que o SPEME funcionou entre 1964 e 1969. Portanto o Código de Conduta é desse período.

A distribuição do mesmo, e segundo deixa entender o próprio Código, seria feita quando as unidades estavam formadas e prestes a embarcarem.

Não tenho cópia do original pois o texto foi-me cedido. No entanto, e visto ser uma publicação do Exército, creio que ou o Arquivo Geral do Exército ou a Biblioteca do Exército o devem ter, pois, quanto mais não seja, constitui um património.

Será possível, pelo menos entre os combatentes mais velhinhos, existir algum exemplar? É possível.

Um abraço a todos os tertulianos.
Jorge Santos


O CÓDIGO DE CONDUTA

Ao partires para o Ultramar, ciente da importância da missão que vais desempenhar, deves-te sentir orgulhoso e confiante porque não ignoras a razão que nos assiste na luta que somos obrigados a sustentar contra o terrorismo. Bem sabes que quem luta com razão e pelo direito é sempre mais forte. Lembra-te:

«A FORÇA DA NOSSA RAZÃO É A RAZÃO DA NOSSA FORÇA»

Agora, que vais partir, e depois, quando já estiveres no Ultramar, deves ler e repetir mentalmente o seguinte:

- Sou um militar Português que cumpre a sua missão de defender a Pátria, se necessário à custa da própria vida;

- Confio nos meus chefes e, por isso, serei disciplinado e cumprirei fielmente as suas ordens, na certeza de que a disciplina constitui a força principal dos exércitos. Se for graduado, darei em todas as circunstâncias, o exemplo de que todos os meus subordinados necessitam e esperam de mim;

- Procurarei ser bom camarada, esforçando-me por colocar sempre o interesse geral acima dos meus interesses pessoais;

- Não esquecerei que esta guerra é uma luta pela conquista da adesão das populações. Por isso, ajudá-las-ei e farei o que puder para conseguir e merecer o apoio delas;

- Estarei sempre disposto a colaborar com as autoridades civis na obra de desenvolvimento em que todos estamos empenhados;

- Não referirei, na minha correspondência particular, qualquer operação, assunto de natureza militar;

- Nunca, e em nenhuma circunstância, divulgarei informações de interesse militar, especialmente quando se tratar de operações de combate;

- Não permitirei que o inimigo me aprisione;

- Lutarei sempre para não cair nas suas mãos;

- Não permitirei que qualquer documento ou material de que eu seja portador lhe caia nas mãos mesmo que tenha de os destruir;

- Nunca esquecerei que sou um soldado Português. Saberei ser sempre merecedor da confiança que em mim depositam, saberei sempre que o meu comportamento é importante para o êxito do exército e que o meu esforço é indispensável para a continuação de Portugal;

- Lutarei pelo futuro e glória da minha pátria, da minha família e de todos os portugueses;

- Com a ajuda de Deus, na hora do regresso quero gritar orgulhosamente: MISSÃO CUMPRIDA!

(SPEME – Mod. 1157)

quarta-feira, 23 de novembro de 2005

Guiné 63/74 - P286: Antologia (26): A geração do stresse pós-traumático de guerra (Luís Graça)


© A. Marques Lopes (2005)

Dois jovens portugueses, "passando férias" em Banjara, algures na Zona Leste da Guiné, por volta de 1967 (enquanto os seus colegas americanos se batiam pela liberdade e morriam no Vietname, como tordos...).

Na altura estes tugas estavam alegremente a capinar o terreno e deitar abaixo árvores para montarem a tenda... Como se vê, naquela época ainda não havia qualquer sensibilidade ecológivca...

[ Banjara, destacamento da CART 1690, sediada em Geba, e de que o nosso A. Marques Lopes foi alferes miliciano atirador... Banjara ficava na estrada Bissau-Mansabá-Bafatá. Mais a norte, ou melhor, a nordeste, ficava Cantacunda, o sítio da Guiné onde o PAIGC, de um só vez, apanhou 11 militares portugueses, à mão, e matou outro...] (1)
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Por sugestão do nosso amigo e camarada Jorge Santos (ex-fuzileiro, autor da página sobre A Guerra Colonial e membro da nossa tertúlia), aqui fica um belíssimo, comovente e frontal testemunho de um oficial médico da Marinha - como presumo que seja o autor destas histórias da botica, escritas na Revista da Armada, sob o pseudónimo Doc - que um dia encontrou, na urgência de um hospital, um ex-combatente da Guiné, das tropas especiais, com visíveis problemas de stresse pós-traumático de guerra, e que o soube ouvir, apoiar e encaminhar, mesmo sendo ainda um jovem interno do internato complementar da sua especialdade (não diz qual...).

Curiosamente, reparo agora que nunca falámos aqui, nesta tertúlia, desse problema que se chama stresse pós-traumático de guerra (2). L.G.
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Histórias da botica (14): o combatente. Revista da Armada. 348, (Dezembro de 2001).
(Com a devida vénia e os nossos agradecimentos à esta excelente publicação da nossa Marinha e ao autor do texto. Subtítulos da minha responsabiliddae. L.G. ).

Há não muito tempo, numa Urgência de um grande hospital da capital alguém gritava:

- Olhe que eu já matei por Portugal!! – era um homem de meia idade, desgrenhado e de barba por fazer. Aproximei-me dos gritos. No caminho um enfermeiro saía irritado afirmando: mais um doido. É o terceiro hoje!

De perto o homem, apesar da agitação, tinha um ar digno. Era alto, com um ar sólido de quem é capaz de mover montanhas, a barba, já grisalha, assentava sob uma tez morena, de homem do campo. Olhava directamente nos olhos da sua interlocutora: uma médica, por quem eu não tinha muito apreço – no geral, conflituosa e pouco estimada por todos os outros naquela equipa de urgência. Era até conhecida, entre os mais novos, pela peçonhenta, uma vez que da sua pele emanava um brilho pouco natural, certamente graças aos muitos cremes de beleza, com que besuntava a face.

Tratava-se de uma discussão por papéis, em que a peçonhenta argumentava de maneira agressiva, afirmando que a “ficha” do paciente não existia. Este defendia-se dizendo que não sabia nada de “fichas”, esperava haviam já 3 horas e queria ser atendido. Então, com a humildade própria de um simples interno, avancei e disse, a tão ilustre clínica, que ia atender o senhor. Que se acalmasse, que outros doentes com “fichas” no devido lugar esperavam por ela.


Um ex-operacional das tropas especiais

Fui movido pela curiosidade, antevendo a história que tal homem produziria. Queria saber afinal quem ele matou e porquê? Conversámos, então, num corredor movimentado, onde todos passavam demasiado apressados para nos ouvir.

Queixava-se de insónias, há já uma semana que não conciliava o sono...

Tinha combatido nas tropas especiais da guerra de África, na Guiné. Já fora casado mas a mulher deixara-o. Os seus dois filhos viviam com a mulher, que lhes dizia que o pai não prestava. Desde o final da guerra, tinha tido vários empregos, mas não os conservara. Vivia de biscates e morava numa caravana, velha, num parque de campismo dos subúrbios.

- Mas agora não dorme exactamente porquê? – perguntei eu, tentando ser objectivo.

Não dormia porque era como se tudo fosse real. Ainda sentia os cheiros de África, a humidade no tarrafo, o capim na face, o camuflado colado ao corpo, o peso, frio, da metralhadora nas mãos... Mas o pior, o pior, era a sensação de medo...

A emboscada e o sangue do António, que ainda sentia nas mãos, o amigo que segurara nas mãos, até ao último estertor. Era véspera de Natal, tinham ido tomar banho a um riacho próximo, quando foram atacados...O António era o primeiro da fila – percebe, doutor – os turras apontaram a quem vinha à frente...

Tudo lhe voltava, num ciclo infindável de medo, agressividade e sofrimento...

Achava que não tinha tido do país, por quem arriscou a vida, qualquer reconhecimento. Afinal, quando voltou não lhe tinham reservado o trabalho, para o qual "era preciso ter o serviço militar cumprido", outro, um revolucionário exilado em Paris na época colonial, tinha ocupado o lugar...

Casou, mas divorciou-se, pouco tempo depois. Não conseguia explicar à mulher a ansiedade da espera, os gritos da refrega, nem o sangue do amigo morto, que lhe salpicara a cara. Se tinha pesadelos? Não, tinha poucos pesadelos, porque dormia pouco...Eram mesmo os dias que o enervavam...


Na Guiné, longe do Vietname...

Tudo isto, achava ele, não interessava a ninguém no país actual, E não compreendia nada...não compreendia um país em que as ruas se enchem de dejectos de cães e senhoras com nome de cão, como Lalá e Bibi, artificiais e secas, preenchem os serões de televisão. Não percebia, ainda, porquê pouco se falava do António, nem de todos os que partiram por servirem, a custo da própria vida, uma causa que lhes havia sido imposta...Não compreendia, finalmente, porquê, no nosso país se obliterava como se de um segundo se tratasse, uma guerra que marcou gerações...Pelo menos no Vietname há filmes, as pessoas revêm o seu sofrimento, parece haver reconhecimento – dizia com dor no olhar.

Lembrei-me, recentemente, deste Combatente. Nestas férias de Verão vi que na parada de um antigo quartel, onde existe uma placa com os nomes dos mortos em acção, nos vários conflitos em que o regimento participara, tinham construído um lago de aspecto nada condizente com o lugar, nem com o respeito merecido por aqueles que já partiram e cuja memória dignifica o lugar.

Pareceu-me um sacrilégio. Seria como construir um lago de patos sobre os monges sepultados, num qualquer átrio de igreja...Pareceu-me ainda pior, porque esse quartel, agora transformado em parque turístico, é gerido por militares...

Na verdade, acredito, que poucos países revelaram, pelo menos na época actual, tanto desrespeito pelos seus veteranos de guerra. E estou certo, que o Combatente tem razão. No nosso país, nem mesmo aos políticos – a grande maioria [tem]apresentado, de forma implícita ou explícita, pouca simpatia pelos militares - interessam os sofrimentos de um grupo de homens tristes, marcados pelo dor e pela desgraça.

Eu nunca combati. Nunca estive na Guiné. Não posso compreender, na sua totalidade, o sofrimento deste homem, nem de outros como ele...Impressionou-me a história de um homem destroçado, ainda a combater pela vida, tantos anos após o fim da guerra. Pareceu-me um preço patriótico demasiado elevado, num país em que cada vez mais os valores da nação se vergam ao dinheiro, ao voto fácil, à falsidade e à negociata barata.

Sei, que quando penso no Combatente, e na história da sua vida, tenho pena, muita pena de toda uma geração apanhada numa guerra – agora considerada politicamente incorrecta – que os continua a fazer sofrer com tanta intensidade. Tenho pena, também, de pertencer a um país que não distingue entre o poder e os homens simples, quase sempre joguetes inocentes...

E talvez eu seja indigno sequer de falar deste assunto, já que para mim "os turras" e a guerra de África, são apenas vozes e notícias, dispersas, de infância. Fica aqui, pelo menos aqui, este pequeno contributo para que tal injustiça seja reconhecida.

O Combatente, sei de fonte segura, frequenta há pouco tempo uma consulta de psicopterapia, com outros da sua geração que também perderam a juventude na guerra. Nunca recuperará a família, o emprego, mas talvez recupere o respeito dos filhos – um objectivo meritório.

Tem que deixar morrer os sons da batalha dentro de si e aceitar que há outro dia. Tem que perdoar. Só assim poderá fechar, acredito sinceramente, o abismo profundo que lhe dilacera a vida.

Fala-se agora mais nestes assuntos, do que na época em que ouvi o Combatente, no silêncio daquele corredor barulhento... Também houve um filme ou outro, sobre esta forma tão dolorosa de sofrer...Talvez as coisas melhorem finalmente.

Eu desejo, do fundo da alma - para ele e para todos como ele - que atinjam a benção do esquecimento e tenham a força para criar um novo princípio...Do pouco que tenho, ofereço aquilo que mais me custou a conquistar e mais prezo na vida: ofereço-lhes o meu respeito...

Bem hajam pelo sacrifício!!
Doc
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Nota de L.G.

(1) Vd. post de A. Marques Lopes, de 18 de Maio de 2005 > de Guiné 63/74 - XXI: "O ataque e assalto do IN ao destacamento de Cantacunda (1968)

(2) O stresse, como figura, jurídica é recente na legislação portuguesa: a primeira referência conhecida é a que consta na Lei nº 46/99, de 16 de Junho de 1999, respeitante ao “apoio às vítimas de stresse pós-traumático de guerra”.

O conceito de “deficiente das Forças Armadas” passava, então, a ser alargado ao cidadão português, militar ou ex-militar, que fosse “portador de perturbação psicológica crónica resultante da exposição a factores traumáticos de stresse durante a vida militar”, quer no teatro de guerra, quer no desempenho de missões humanitárias e de paz ou de acções de cooperação técnico-militar no estrangeiro.

Ao Estado competia criar uma "rede nacional de apoio" às vítimas de stresse pós-traumático de guerra, no âmbito do Serviço Nacional de Saúde e do Sistema de Saúde Militar, em articulação com as organizações não governamentais (ONG).

A essa rede incumbe "a informação, identificação e encaminhamento dos casos e a necessária prestação de serviços de apoio médico, psicológico e social". Essa rede foi entretanto criada, pelo D.L. nº 50/2000, de 7 de Abril. Por sua vez, a Portaria nº 647/2001, de 28 de Junho, veio estabelecer os termos do respectivo financiamento.

Luís Graça