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sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Guiné 63/74 – P7226: Controvérsias (107): O que era ser ranger entre 1960 e 1974? (José Gonçalves, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 4152/73)


1. O nosso Camarada José Gonçalves, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER, CCAÇ 4152/73 (Gadamael e Cufar, 1974), enviou-nos, em 30 de Outubro de 2010, a seguinte mensagem:


Camaradas,

Já há muito tempo que estou faltoso em enviar as fotos da praxe, uma das condições do “alistamento” no Blogue.

Aqui as envio agora, com mais uma que já havia enviado, da cerimónia da entrega do aquartelamento de CUFAR ao PAIGC.
O que era ser ranger entre 1960 e 1974?
Camaradas de armas,

Ultimamente tenho estado a pensar nas condições e formação militar que a nossa tropa tinha para enfrentar, um inimigo com uma experiência profunda do terreno, armamento melhor e uma experiência que em alguns casos era superior a 10 anos de combate, assim como uma cultura e formação de guerreiro. Acho que já aqui foi escrito que, para certas tribos na Guiné, um homem, para ser homem, tinha que beber por um crânio humano.

Como todos nós sabemos, os nossos soldados, na sua maioria, eram agricultores, pedreiros, pastores, etc. e iam para a guerra com cerca de 6 meses de treino e os oficiais e sargentos milicianos com cerca de um ano de instrução e uma idade muito perto dos 20 anos.

Na minha opinião este treino era absolutamente inadequado, principalmente quando era administrado por pessoas que não tinham vontade, capacidade nem conhecimentos para o fazer como era o caso dos milicianos.
Muitos dos oficiais milicianos eram recrutados no curso de sargentos milicianos e não tinham idade e, ou, maturidade suficiente para assumirem as responsabilidades de comando.

Vejamos: um alferes miliciano, que era responsável por administrar uma recruta e depois a especialidade aos soldados que eventualmente iam consigo para a guerra, aprendia o “ofício” de militar instrutor e comandante em 6 meses (dos quais 3 eram para a sua própria introdução no Exército e os outros 3 para frequentar um curso intensivo - a especialidade), no meu caso “Operações Especiais”.

A maior parte dos milicianos não tinha convicção para esta guerra e o seu principal objectivo era sobreviver, ele e aqueles que serviam sob o seu comando.

Isto era totalmente demonstrado pela dedicação que a grande maioria dos milicianos dava à formação dos praças, que eventualmente iam arriscar a vida na Guerra do Ultramar.

A formação militar era insuficiente e inadequada!

Isto era sabido pelos escalões do nosso Exército e um dos remendos que tentaram fazer, foi colocar pessoal de operações especiais na formação de companhias para que, estes milicianos melhor treinados mas muito longe de profissionais, conseguissem uma melhor formação operacional nas suas companhias.

Esta filosofia era-nos transmitida em Lamego, mas eu penso que era uma “táctica” muito mal pensada, pois os Rangers nunca foram aceites e não queriam, nem se podiam impor, aos seus demais camaradas e aos capitães milicianos que, na sua maioria, não tinham conhecimento de tal estratégia ou ignoravam-na por completo. Na minha opinião não havia metodologia implementada para esta integração.

Os 10 Mandamentos RANGER lidos todos os dias em Penude, na formatura matinal
Então o que era um Ranger nos anos da guerra?

Um Ranger, era um miliciano recrutado nas fileiras dos milicianos (após prestação de testes às suas capacidades físicas e psicológicas), para serem chefes militares de elite, preparados e treinados para isso, e que no fim de cursos duríssimos e altamente exigentes (a nível de equipa, grupo de combate e companhia de instrução no C.I.O.E.), eram distribuídos pelas diversas unidades de tropa normal.

Esta política, na minha opinião pessoal, não fazia absolutamente sentido nenhum a não ser que houvesse uma estratégia perfeitamente definida e melhor delineada, para que os conhecimentos que os Rangers adquiriam (apesar de eu os achar inadequados), fossem disseminados por todos os militares que compunham uma companhia.

Isto estava muito longe do que acontecia na realidade, pois quando da formação das companhias, aos Rangers eram-lhe atribuídos uma equipa (no caso de um 1º Cabo Miliciano) ou um pelotão (no caso de um Aspirante Miliciano), para serem treinados para a guerra.

Os outros pelotões e equipas eram treinados pelos outros milicianos que não tiveram o treino de Ranger.

Por outro lado muitos dos Rangers que foram integrados nas companhias “de tropa macaca como alguns lhe chamavam”, com as suas melhores formações físicas e psicológicas incutidas na sua especialidade, impunham treino rigoroso e muito exigente a homens mal alimentados que, como é óbvio, os debilitava nas suas melhores aptidões físicas e pior animados nas suas capacidades mentais.

Cometeram-se muitos disparates que, por vezes, resultaram em ferimentos graves nos soldados que estavam sob os seus comandos.

Como devem saber, porque acho que aqui já foi referido, o treino dos Rangers era realizado, na sua quase totalidade, com bala real, mas havia muita preocupação por parte do pessoal instrutor e monitor, altamente competente em minimizar a eventualidade de provocação de acidentes.

Vários Rangers, acabada a especialidade e integrados nas unidades a que eram destinados, decidiam incutir o mesmo treino que lhes foi ministrado em Penude, aos soldados que lhes foram destinados, mas sem as condições (alimentação, equipamento, armamento, munições e outros sistemas de suporte), que lhes permitissem que estes treinos obtivessem os sucessos desejados.

Em diversos casos estes métodos foram completamente desastrosos devido, essencialmente, às faltas de capacidade de transmissão das técnicas e conhecimentos adquiridos, pelo lado dos instrutores e, por outro lado, à falta de poder de assimilação dos instruendos.

Grande quantidade dos soldados que eram incorporados nunca se convenceram que iam lutar feroz e mortalmente contra outros homens, numa guerra (ainda por cima de guerrilha), perigosa e traiçoeira, que os poderia mutilar ou que lhes poderia ser fatal.

Eu tive militares que foram comigo para a Guiné, que não consegui no seu período de instrução que dessem uma simples cambalhota. Ao forçá-los a fazerem isso, caíam mal e, num caso específico, um deles inclusivamente partiu a clavícula.

Pensei na altura que talvez 50% ou 60% tivessem reunidas as capacidades mínimas (físicas e psicológicas), para enfrentar a guerra.

Mas era óbvio que isso, para o poder político e militar, não era importante e o que se pretendia era carne para canhão e formar os tais dispositivos de quadrícula (linha dianteira da guerra espalhada por todo o lado na Guiné).

Era assim que se formava a “tropa macaca portuguesa”, que aguentou 3 frentes de guerra durante 14 anos, apesar de todas as vicissitudes, como treino insuficiente, fraco armamento, péssimas acomodações, transportes deficientes e uma alimentação de bradar aos céus.

Quero só acrescentar um acontecimento que se passou numa das poucas vezes que fui em patrulha, antes do 25 de Abril, e que me foi relatado por um dos oficiais do PAIGC, em Gadamael-Porto, durante uma das nossas conversas.

Qual não foi o meu espanto, quando um chefe do PAIGC nos perguntou, se nos lembrávamos de uma patrulha que tínhamos feito no dia X, pelas tantas horas, na região de Unsiré e Gadamael fronteira.

Respondemos que sim e perguntamos porque nos fazia essa pergunta.

Mais espantado fiquei, quando ele nos disse que, nesse dia, tínhamos passado por uma emboscada montada por eles nessa zona.

Perguntamos logo porque não abriram fogo e a resposta foi algo que ainda hoje me regozijo: “NÃO ABRIMOS FOGO PORQUE PENSAMOS QUE ERAM COMANDOS”.

Como oficial que fui, quero dizer a terminar que nunca mais quero ir para uma guerra, nem comandar ninguém, mas se tivesse que ir de novo hoje só aceitaria desde que me acompanhassem os mesmos militares portugueses desse tempo, porque demonstraram capacidades invulgares de enorme de sacrifício, tolerância e adaptação às circunstâncias mais adversas.

Espero que este texto gere novos “postes” sobre este assunto, pois considero-o como um dos pontos fundamentais, para compreendermos como conseguimos aguentar uma guerra daquelas durante tanto tempo.


Cufar > 07SET1974 > Cerimónia da entrega do aquartelamento ao PAIGC
Cumprimentos para todos
José Gonçalves
Alf Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 4152/73
__________

Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

29 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 – P7190: Controvérsias (106): Venho aqui para vos dizer que estou vivo! (António Matos)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7212: Álbum fotográfico de José Gonçalves, ex-Alf Mil Op Esp, CCAÇ 4152/73 (Gadamael e Cufar,): Com o PAIGC em Gadamel (Maio) e em Cufar (Agosto)... e em ainda em Bolama


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CCAÇ 4152/73 (1974)  > Maio de 1974 > Apresentação do comissário político do PAIGC ao Régulo de Gadamael



Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4152/73 (1974) > Agosto de 1974 (?) > Cerimónia da entrega do aquartelamento de Cufar ao PAIGC



Guiné > Bijagós > Bolama > s/d [ 1974] > O José Gonçalves  junto ao  monumento  que dizia "Mussolini,  ai caduti di Bolama" [ , De Mussolini, aos caídos em Bolama] 

Fotos (e legendas): © José Gonçalves (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Mensagerm do José Gonçalves, nosso camarada e amigo que vive na diáspora, no Canadá, e que foi Alf Mil da CCAÇ 4152/73, tendo estado em Gadamael entre Janeiro e Julho de 1974:

Caro Luis:

Já há muito tempo que estou faltoso por não te em enviar as tais fotos da praxe, condição aliás do enlistamento no Blogue. Aqui tas envio com mais algumas como:

(i) a apresentação do comissário político ao Régulo de Gadamael;

(ii) a cerimónia da entrega de Cufar ao PAIGC;

(iii) e a do célebre monumento em Bolama que dizia "Mussolini ai caduti di Bolama" (**), e que eu dedico a todos aqueles camaradas que por lá passaram.

Cumprimentos para todos
José Gonçalves

 (**) Homenagem de Mussolini aos 5 aviadores italianos, vitimas de queda dos seus aparelhos em 5 de Janeiro de 1931 quando faziam a ligação Itália/Brasil com escala por Bolama


(...) Finalmente: Bolama que tem em si um dos raros monumentos ao esforço fascista de paz, quando Mussolini e Ítalo Balbo tentaram o cruzeiro aéreo para unir Roma ao Brasil. Com efeito, dois dos aparelhos despenharam-se em Bolama e a missão esteve em riscos de se malograr. Tal não aconteceu porque a tenacidade de Ítalo Balbo a isso se opoz. Resta desse desastre o belo monumento aos «Caduti di Bolama» no qual se reproduz um aspecto dos destroços dos aviões — duas asas, uma das quais ainda erguida aos céus e a outra quebrada e caída em terra.

O monumento foi feito por italianos e com pedra italiana, vinda de Itália, para esse fim. Mandou-o erguer Mussolini e na sua base lá se encontra a coroa de bronze por ele oferecida, com estes dizeres — Mussolini ai cadutti di Bolama. Ao lado, a águia da fábrica de hidro-aviões Savoia, uma coroa com fáscios da Isotta-Fraschini e a coroa de louros da Fiat. É curioso notar que este será um dos raros monumentos do fascismo, no mundo, que no fim de 1945 não foi apeado. Virado para diante e no alto, o distintivo dos fáscios olha ainda com alienaria o futuro, no seu feixe de varas e no seu machado, a lembrar a grandeza da Roma do passado. (...)

Fonte: Extractos de: César, A. -  Guiné 1965: contra-ataque. Braga: Pax, 1965.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7187: Memória dos lugares (106): Gadamael e as peripécias do pós-25 de Abril de 1974 (José Gonçalves)

Guiné > Região de Tombali > Gamael > Maio de 1974 > A primeira visita do PAIGC à tabanca e aquartelamento: e O Comandante do COP5 (Cap Ten Fuzo Patrício ), do seu lado direito está o comissário político do PAIGC. O nosso camarada José Gonçalves está atrás, na segunda fila,  entre os dois. O capitão Pimentel, comandante da CCAÇ 4152/73,  está ao lado do José Gonçalves, por detrás do Comandante Patrício. (*)






Guiné > Região de Tombali > Gamael > 1974 > O capitão Peixoto da CCAV 8452, de T-shirt branca com o seu nome estampado. De lado estão dois capitães do COP5 e de costas o Alf Mil Lobo, da CCAÇ 4152/73 da minha companhia. Esta foto foi tirada na messe de oficiais da CCAV 8452, construída com troncos e chapas de lata.


Fotos (e legendas): © José Gonçalves (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

1. Mensagem do nosso camarada José Gonçalves, que vive no Canadá há mais de 3 dezenas de anos:

Data: 29 de Outubro de 2010 02:04
Assunto: Fotos de Gadamael e pessoas faladas neste blog mas até agora sem fotos



Caro Luís:

Aqui te mando duas fotos tiradas em Gadamael.

A primeira foi quando da primeira visita do PAIGC e onde se encontra o Comandante do COP5 (Cap Ten Fuzo Patrício );   do seu lado direito está o comissário político e eu encontro-me atrás entre os dois.  O capitão Pimentel,  comandante da minha companhia, está ao meu lado por detrás do Comandante Patrício.

Como podem observar não era todos os dia que recebíamos visitas destas. Estavamos todos a acompanhar o "camarada" numa visita à tabanca. Será que alguém ainda se lembra do nome deste comissário político ? Eu já não tenho a minima ideia. Do que me lembro fpo ele ter sido ultrapassado,  nos encontros posteriores,  por individualidades militares com maior patente. Acho que só o vi mais uma vez,  mas não como participante activo.

A outra é uma foto do capitão Peixoto da CCAV 8452,  de T-shirt branca com o seu nome estampado,  que era o uniforme preferido do mesmo. De  lado estão dois capitães do COP5 e de costas o Alf Mil Lobo da minha companhia. Esta foto foi tirada na messe de oficiais da CCAV 8452 que,  como se vê,  era de troncos e chapas de lata.

Cumprimentos

José Gonçalves

Alf Mil Op Esp
CCAÇ 4152/73
_____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 1 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3262: No 25 de Abril eu estava em... (3): Gadamael e depois Cufar (José Gonçalves, ex-Alf Mil Op Esp, CCAÇ 4152)

(...) Maio de 1974: Apresenta-se o senhor comissário político



Era em principio de Maio de 1974 pouco depois do 25 de Abril . Estava na messe de oficiais a beber o meu whisky quando o barman me diz que estava um preto a querer falar com o comandante. Eu fui ver o que era e deparo com um indivíduo, desconhecido, bem vestido e com muita cortesia me pediu para falar com o comandante. Perguntei-lhe quem era e o que queria do comandante. Para minha surpresa disse-me que era o comissário político do PAIGC para a zona de Gadamael e que queria falar com o comandante sobre o 25 de Abril. Fiquei de boca aberta, como é de calcular, e mandei-o entrar e pedi para chamarem o comandante.


O comandante chegou (o nome dele apagou-se da minha memória mas era um capitão tenente fuzileiro especial) e perguntou-lhe se tinha vindo sozinho. O comissário politico disse-lhe que não e que tinha vindo com 2 pelotões e que estavam escondidos perto do campo de aviação. O comandante disse-lhe que o pessoal do PAIGC não podia ficar nesse local e ou se retirava ou se apresentava.


O comissário então dirigiu-se para o mato e começou a falar em voz alta e começaram a aparecer soldados do PAIGC vindos da mata, armados até aos dentes. O comandante então disse-lhes que não permitia que ficassem ali armados, e que para entrarem tinham que nos entregar as armas. Qual não foi o meu espanto quando eles disseram que sim. Nós pedimos a um escriturário para fazer a escrita e começamos a recolher as armas.


Eles entraram e foram conviver com o pessoal que estava do "nosso lado”. Beberam e comeram e nós conversámos com o comissario, depois fomos apresentá-lo ao régulo e mostrámos-lhe o aquartelamento e a tabanca. Depois foi a vez de lhes entregar as armas para estes se irem embora para o outro lado da fronteira . Ouve pequenos desacordos porque alguns deles pensavam que tinham entregue mais munições do que recebiam mas como já estavam bêbedos a maior parte deles (pois os nossos soldados se tinham encarregado disso) e com a comando deles tudo se resolveu amigalvelmente. (...)



Visita de cortesia dos nossos oficiais a Kandiafara, na Guiné-Conacri


Tive outra surpresa quando estes nos convidaram para irmos visitar o aquatelamento deles, em Kandiafara. Eu decidi não ir pois o meu treino de ranger fez-me um pouco incrédulo de tudo o que se estava a passar mas os meus camaradas foram. O que me contaram foi que quando passaram a fronteira as autoridades da Guiné Conacri tinham mandado que o PAIGC entregasse os portugueses que tinham passado a fronteira. A resposta do PAIGC foi que não o fariam porque eram convidados do PAIGC e que os devolveriam ao seu aquartelamento e caso a Guiné Conacri os quisesse prender teria que os ir buscar a Gadamael Porto. Claro que nunca vieram.


Depois deste incidente tivemos vários encontros todos eles em Gadamael Porto onde o PAIGC já vinha de Unimog, de marca russa. Nesta altura as negociações em Londres não estavam a correr muito bem e houve alturas onde nós pensámos que teríamos que voltar a lutar outra vez.

Tínhamos decidido entre nós que avisaríamos e daríamos a uns e outros 3 dias antes de reiniciar as hostilidades. Tudo isto foi decidido na messe de oficiais em Gadamael Porto entre uns bons copos de whisky. No pós-25 de Abril fomos militares e também diplomatas pois estávamos em contacto direto com o PAIGC. Disto não tenho a certeza pois os nomes da maior parte das pessoas me escapam, mas lembro-me de um dos dirigentes do PAIGC que veio sempre à paisana e que me parece muito com o Nino Vieira mas não posso afirmar pois nessa altura eu não tinha absolutamente ideia nenhuma de quem era o Nino Vieira.


Retirada de Gadamael sob protecção do... PAIGC


Também tivemos problemas com as milicias porque estes se voltaram contra nós (o que não é de admirar pois nós basicamente os abandonámos à sua sorte) e tivemos que ter protecçao do PAIGC quando nos retirámos de Gadamael. O mesmo não aconteceu em Cufar onde não houve problemas na retirada.. (...)

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7156: Memória dos lugares (103): Gadamael: a misteriosa sigla A.S.C.O já lá estava no tempo do Luís Guerreiro (1969) e do José Gonçalves (1974), dois camaradas que vivem no Canadá


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CART 2410 (1968/69) > Messe e quarto de sargentos... Terá sido também, em tempos, armazém comercial... A misteriosa sigla, A.S.C.O., já lá estava nessa época...




Foto: © Luís Guerreiro (2010). Todos os direitos reservados.




1. Mensagem de Luís Guerreiro, com data de 21 do corrente:


Assunto: Memória dos lugares Gadamael

Caro Luis:

Foi com bastante agrado que vi todas as fotos que o Pepito enviou de Gadamael.


Sobre o edifício em ruínas em 1968/69, quando da permanência da CArt 2410, era a nossa
messe e quartos de sargentos, e se a memória não me atraiçoa tinha sido armazém comercial.

No P3087, já tinham sido publicadas as minhas fotos de Gadamael, aonde o referido edifício se encontra , e com a nome ASCO bem legível, só que na altura ninguém prestou atenção. Vou voltar a enviar a mesma foto.

Por hoje é tudo

Cumprimentos



Luís Guerreiro


[Ex-Fur Mil do 4.º Gr Comb da CART 2410,
Os Dráculas, 
Gadamael, Ganturé e Guileje, 1968/70, 
 e mais tarde do Pel Caç Nat 65, 
Bajocunda e Buruntuma,  1970;  
a viver em  Montreal, Canadá, desde 1971]  






2. Mensagem do José Gonçalves, também de 21 do corrente (e de quem ainda não temos nenhuma foto; vive igualmente no Canadá):


Assunto: O enigma do edifício de Gadamael

Olá, Luis. 

Aqui te mando uma foto antiga do edificio em questão onde se pode claramente ver a insígnia ASCO que também não sei o que quer dizer mas pela foto antiga parece ter havido mais letras [, vd. foto à direita].  O edificio não era messe de oficiais mas sim de sargentos e tinha sido também enfermaria, (aliás foi aqui neste edificio que me prepararam para a evacuação de sintex para Cacine, no dia em que fui ferido,  17 Fev 1974).

 Depois dos ataques de 73 a enfermaria foi implantada mesmo em frente,  do outro lado da rua,  num abrigo em betão armado que se construiu para o efeito apesar de esta continuar a ser utilizada ainda mas não tinha camas .

A Messe de oficiais era mais perto da antiga pista e está identificada numa das fotografias que o Pepito mandou como sendo Instalações do comando, centro de transmissões e residência de oficias. Isto pederá ter sido antes de mim mas quando cheguei a Gadamael o centro do comando e transmissões (COP5)  estava nesse tal abrigo de betão armado,  perto do início da pista. Este edificio era a sede da secretaria da minha companhia,  messe de oficiais da minha companhia e alojamento para o 1º sargento e capitão. 

No meu tempo os oficiais e sargentos dormiam perto dos soldados. Eu dormia na mesma casa onde estava metade do meu Poletão e os furriéis faziam o mesmo.

Estranho que estes abrigos não tenham permanecido pois existiam dois. A enfermaria no local onde indiquei e o de telecomunicações no início da pista. O PAIGC talvez os tenha destruido.

Cumprimentos para todos os bloguistas

Alferes Mil Op Esp,
CCAÇ 4152/73
 (Gadamael Porto,  Jan 74/Jul 74)

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3262: No 25 de Abril eu estava em... (5): Gadamael e depois Cufar (José Gonçalves, ex-Alf Mil Op Esp, CCAÇ 4152/73)






Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > Em quase todos os aquartelamentos do CTIG, houve a seguir ao 25 de Abril de 1974 tentativas mais ou menos bem sucedidas de aproximação do PAIGC com vista ao cessar fogo, ao fim da guerra e à reconciliação (e vice-versa). Nas duas fotos de cima, vemos um camarada nosso, o ex-Fur Mil José Manuel Lopes, celebrando a esperança da paz e da reconciliação com os guerrilheiros do PAIGC. O mesmo aconteceu, mais a sul, em Gadamael, conforme o depoimento do José Gonçalves, que hoje vive no Canadá.

Fotos: © José Manuel (2008). Direitos reservados.

1. Mensagem enviada em 24 de Fevereiro de 208, por José Marcelino Gonçalves, ex-Alf Mil Op Especiais, CCAÇ 4152 (Gadamael e Cufar, 1973/74). Vive no Canadá e faz parte da nossa Tabanca Grande desde 24 de Junho de 2008 (*).


Assunto - Mais um tertuliano fã do nosso blogue


Caro camarada Luís:

Apresenta-se o Alferes Miliciano de Operações Especiais, José Gonçalves.

Antes de mais tenho que pedir desculpa pela acentuação e ortografia uma vez que vivo no Canadá (já lá vão 33 anos). O meu teclado não tem acentos e a minha língua agora é o ingles.

Sei que ou te encontras na Guiné ou vais em breve para a Guiné para o Simpósio sobre Guileje. Espero ler o teu parecer sobre este acontecimento.

Tenho vindo a acompanhar este teu/nosso blogue que aprecio muito, e dou os meus parabéns a todos os responsáveis e participantes pela capacidade de reviverem da sua memória com toda a emoção que lhes vai na alma a sua história da Guiné que por vezes é bastante dolorosa.

Também é emocionante a galhardia como muitos dos nossos camaradas prestam homenagem aos seus companheiros de batalha. Pela minha parte decidi desde início esquecer tudo aquilo que para mim foi algo traumático, principalmente pelo esforço e sacrificíos inúteis que todos nós fizemos por uma Pátria que valorizava mais um helicóptero ou um jacto do que um dos seus filhos a morrer no mato. Todos estas experiências e recordações foram esquecidas e raramente contadas porque não via razão para recordar tais experiências. Achando e lendo este blogue muitas coisas me vieram à mente e aqui encontrei coragem de recordar e de uma certa maneira reviver alguns momentos que julgava perdidos. Também pensei que poderia juntar algumas passagens pós- 25 de Abril que ainda não vi contadas.

Eu, como a maioria dos participantes deste blogue, também estive na Guine em Gadamael Porto desde Janeiro de 1974 até Junho do mesmo ano quando o mesmo quartel foi entregue ao PAIGC. De Gadamael a minha companhia, a CCAC 4152, foi para Cufar e aí também entregou o quartel ao PAIGC.


Gadamael: 27 ataques no primeiro mês, Janeiro de 1974...


As minhas experiências em Gadamael, apesar de não serem as mesmas do pessoal que ali esteve em Maio e Junho de 1973, também não foram das melhores tanto no aspecto bélico como no aspecto de condições de vida.

No espacto bélico tivemos 27 ataques (bombardeamentos) no primeiro mês que ali morámos (se se pode dizer que morávamos ali) mas a pontaria do PAIGC não era muito boa nesse tempo, uma vez que era raro alguma granada cair dentro do aquartelamento e quando caía nós respondíamos com tudo o que tinhamos à disposição (3 obuses nessa altura).

Nós sabíamos onde eles também moravam (do outro lado da fronteira) e havia sempre um obus apontado para lá e pronto a disparar. Se a pontaria deles estivesse fraca, nós raramente respondíamos e pensavamos que eles também assim o entendiam. Apesar de não acertarem no quartel, isto tinha um efeito muito grande no abastecimento (que só vinha de Cacine através de LDM durante o dia e quando a maré estava alta). Ora o PAIGC sabia disto e em quase todas as oportunidades de abastecimento eles faziam o seu bombardeamento o que não deixava o abastecimento acontecer.


As granadas de obus e a nossa contabilidade criativa


Na altura em que estive em Gadamael também havia muito controlo sobre a quantidade de granadas de obus utilizadas principalmente em batida de terreno. Estas batidas eram altamente necessárias para que o PAIGC não se sentisse à vontade na nossa zona. Nós sempre fizemos batidas, mas fazíamos uma contabilidade muito criativa. No relatório dos bombardeamentos contávamos as granadas de resposta (O que muitas vezes não acontecia e se ripostávamos contávamos mais granadas do que as utilizadas) e depois usávamos essas granadas nas batidas. Só o exército português poderia fazer guerra desta maneira.


Fominha, muita fominha: "Comeremos cães assim que os gatos se acabarem"


A falta de mantimentos ia cada vez aumentando e tive bastante problemas (quando estava a comandar a companhia devido à ausência do capitão que tinha ido de ferias) porque os soldados fizeram uma demonstração contra as condições alimentares pois só tínhamos arroz e salsichas para cozinhar.

Lembro-me que uma vez o cozinheiro improvisou e fez arroz de tomate com ketchup que ainda havia, pois não havia hamburgers para o utilizar mas o arroz estava intragável. Foi-me dito que alguns soldados tinham começado a caçar gatos e a fazer petiscos com os mesmos.

Foi desta forma que a minha companhia era conhecida em Bissau pelo pessoal de secretaria como a "companhia dos Gatos”, caso que constatei quando fiz a liquidação da mesma. A razão desta alcunha é que eu tinha mandado um telegrama para Bissau com a autorização do comandante do COP 5 (com conhecimento geral) que dizia mais ou menos isto:

“Mantimentos estão-se a acabar. Pessoal presentemente comendo gatos o que também se está esgotando. Comeremos cães assim que os gatos se acabarem.”

As condições de vida também tinham muito a desejar no que respeita a acomodações que nos foram dadas (7 meses depois do desastre de Guileje): estavam pacialmente destruídas e a primeira coisa que tivemos que fazer foi reconstrui-las para podermos pôr um tecto que nos protegesse das chuvas que viriam em breve.

Granadas de bazuca que faziam... pluff!!!

A companhia que fomos render tinha feito algo mas tinham-se concentrado principalmente na construção de abrigos e valas que agora havia por todo o lado. O quartel ainda estava repleto de granadas inimigas que não tinham rebentado e ali se encontravam apropriadamente marcadas com um pau espetado no chão. Algumas destas a poucos metros do paiol de munições (por vezes havia sorte).

No que respeita a material bélico também estavamos muito mal. Eu lembro-me de ter que pedir granadas emprestadas a outro pelotão porque não havia o suficiente para podermos is fazer patrulhas. A companhia anterior à nossa tinha distribuido rockets de bazooka por certas zonas estratégicas para defender certas áreas através de bazooka.

A aparência destes rockets não era da minha confiança e resolvi um dia ir testar umas quantas para verificar se elas estavam funcionais e também para treinar o atirador de bazooka. Fomos para o cais e eu disse ao bazuqueiro para atirar uns quantos rockets para o rio em direcção ao rio Cacine que se via do cais. Qual foi a minha aflição quando o rocket não disparou totalmente e ficou ardendo dentro do tubo e o bazuqueiro a gritar e querendo atirar a bazooka para o chão e fugir. Tive que lhe dar um grito e ordem para se manter de pé com a bazooka apontada para o rio. Ele assim o fez mesmo tremendo como uma vara verde e, passado uns segundos, o rocket ardeu bem e saiu do cano, caindo aí a 50 metros em frente. Ao mesmo tempo começaamos a ouvir rebentamentos, o que era mais um ataque. Fui participar o acontecido ao comandante e a resposta foi que essas eram os únicos rockets que tínhamos.

Passado um mês em Gadamael fui ferido (em acidente com um canhão sem recuo nosso, uma outra estória para contar) e passei quase 2 meses em Bissau a recuperar.

Enfim há muitas estorias para contar como todos nós as tivemos mas a mais interessante é a que conto a seguir.

Maio de 1974: Apresenta-se o senhor comissário político

Era em principio de Maio de 1974 pouco depois do 25 de Abril . Estava na messe de oficiais a beber o meu whisky quando o barman me diz que estava um preto a querer falar com o comandante. Eu fui ver o que era e deparo com um indivíduo, desconhecido, bem vestido e com muita cortesia me pediu para falar com o comandante. Perguntei-lhe quem era e o que queria do comandante. Para minha surpresa disse-me que era o comissário político do PAIGC para a zona de Gadamael e que queria falar com o comandante sobre o 25 de Abril. Fiquei de boca aberta, como é de calcular, e mandei-o entrar e pedi para chamarem o comandante.

O comandante chegou (o nome dele apagou-se da minha memória mas era um capitão tenente fuzileiro especial) e perguntou-lhe se tinha vindo sozinho. O comissário politico disse-lhe que não e que tinha vindo com 2 pelotões e que estavam escondidos perto do campo de aviação. O comandante disse-lhe que o pessoal do PAIGC não podia ficar nesse local e ou se retirava ou se apresentava.

O comissário então dirigiu-se para o mato e começou a falar em voz alta e começaram a aparecer soldados do PAIGC vindos da mata, armados até aos dentes. O comandante então disse-lhes que não permitia que ficassem ali armados, e que para entrarem tinham que nos entregar as armas. Qual não foi o meu espanto quando eles disseram que sim. Nós pedimos a um escriturário para fazer a escrita e começamos a recolher as armas.

Eles entraram e foram conviver com o pessoal que estava do "nosso lado”. Beberam e comeram e nós conversámos com o comissario, depois fomos apresentá-lo ao régulo e mostrámos-lhe o aquartelamento e a tabanca. Depois foi a vez de lhes entregar as armas para estes se irem embora para o outro lado da fronteira . Ouve pequenos desacordos porque alguns deles pensavam que tinham entregue mais munições do que recebiam mas como já estavam bêbedos a maior parte deles (pois os nossos soldados se tinham encarregado disso) e com a comando deles tudo se resolveu amigalvelmente.

Visita de cortesia dos nossos oficiais a Kandiafara, na Guiné-Conacri

Tive outra surpresa quando estes nos convidaram para irmos visitar o aquatelamento deles, em Kandiafara. Eu decidi não ir pois o meu treino de ranger fez-me um pouco incrédulo de tudo o que se estava a passar mas os meus camaradas foram. 

O que me contaram foi que quando passaram a fronteira as autoridades da Guiné Conacri tinham mandado que o PAIGC entregasse os portugueses que tinham passado a fronteira. A resposta do PAIGC foi que não o fariam porque eram convidados do PAIGC e que os devolveriam ao seu aquartelamento e caso a Guiné Conacri os quisesse prender teria que os ir buscar a Gadamael Porto. Claro que nunca vieram.

Depois deste incidente tivemos vários encontros todos eles em Gadamael Porto onde o PAIGC já vinha de Unimog, de marca russa. Nesta altura as negociações em Londres não estavam a correr muito bem e houve alturas onde nós pensámos que teríamos que voltar a lutar outra vez.

Tínhamos decidido entre nós que avisaríamos e daríamos a uns e outros 3 dias antes de reiniciar as hostilidades. Tudo isto foi decidido na messe de oficiais em Gadamael Porto entre uns bons copos de whisky. No pós-25 de Abril fomos militares e também diplomatas pois estávamos em contacto direto com o PAIGC. Disto não tenho a certeza pois os nomes da maior parte das pessoas me escapam, mas lembro-me de um dos dirigentes do PAIGC que veio sempre à paisana e que me parece muito com o Nino Vieira mas não posso afirmar pois nessa altura eu não tinha absolutamente ideia nenhuma de quem era o Nino Vieira.

Retirada de Gadamael sob protecção do... PAIGC

Também tivemos problemas com as milicias porque estes se voltaram contra nós (o que não é de admirar pois nós basicamente os abandonámos à sua sorte) e tivemos que ter protecçao do PAIGC quando nos retirámos de Gadamael. O mesmo não aconteceu em Cufar onde não houve problemas na retirada..

Por agora já chega de estórias e espero ter contribuido com algum conhecimento. Até agora não compartilhado com o blogue.

Se por acaso necessitares de mais alguma informação sobre o período em que vivi em Gadamael ou até fotografias do encontro com o PAIGC eu posso mandar.

Adeus e bom simpósio

2. Comentário de L.G.:

Meu caro Gonçalves:

O teu texto estava meio esquecido, no nosso blogue, à espera de uma alma caridosa que o corrigisse. Infelizmente, como tu sabes, não temos profissionais, a tempo inteiro, a trabalhar no blogue. Somos todos voluntários e... amadores. Portanto, começo por te pedir desculpa, a ti e aos nossos amigos e camaradas da Guiné, por este hiato de tempo, excessivamente longo, entre o envio da tua mensagem e a sua publicação.

Enfim, já tinhas sido apresentado ao pessoal da Tabanca Grande (*). A tua presença honra-nos e enriquece-nos. Não és o único camarada que vive e trabalha no Canadá, de qualquer modo és mais um digno representante dos portugueses da diáspora (que se estima sejam mais de 5 milhões, dos quais não sabemos, infelizmente, quantos estiveram na Guerra do Ultramnar, e em particular na Guiné). Faz o que puderes por divulgar o nosso blogue e o nosso projecto de reunir os camaradas da Guiné, à volta das nossas vivências e memórias.

Gostei muito de ler o teu depoimento. O que tu contas, passou-se um pouco por toda a parte, nos nossos aquartelamentos, de norte a sul, de leste a oeste. Infelizmente, houve vencidos e vencedores, entre os guineenses, e não conseguimos acautelar devidamente os direitos dos homens que combateram do nosso lado (milícias, militares do recrutamento da província, tropas especiais...). Houve momentos altos e baixos neste processo. Não vamos fazer agora juízos de valor. Nem muito menos recriminar-nos uns aos outros. Interessam-nos reconstituir os factos, organizá-los, analisá-los, divulgá-los, contar como é que se fez essa transição (e depois a entrega dos aquartelamentos) entre as duas forças em presença, o PAIGC e as NT, etc. Como tu muito bem dizes, tivemos que ser soldados e diplomatas... 

Afinal de contas, a guerra é conflito entre duas partes. E geralmente nunca acaba com a aniquilação total ou a derrota, pura e simples, de uma das partes. Acaba em negociação, tarefa reservada aos políticos, Curiosamente, foi um general quem disse que a guerra é a continuação da política de Estado por outros meios... Faz-se a guerra, muitas vezes para melhorar, simplesmente, a capacidade de negociação de uma das partes... Temos que perceber o lado sociológico e estratégico da guerra como conflito... Foi isto, de resto, que se passou na Guiné... Mas tu estavas lá, no 25 de Abril de 1974, e eu não... Tens outra autoridade para falar...

Oxalá o teu depoimento tenha o mérito de pôr o resto da malta, do teu tempo, a falar deste tema: Onde é que estavam no 25 de Abril, e como é que foram os últimos dias de guerra e os primeiros dias de paz (**)...
 
Obrigado pelo teu relato objectivo, sincero e asssertivo, o que não te impediu de o enriquecer com observações bem humoradas. Se puderes, manda-nos imagens digitalizadas desse tempo, em Gadamael e depois Cufar. Material desse não abunda, e é pena que se vá perdendo com o tempo...

Boa saúde e bom trabalho para ti e para a tua família.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2982: Tabanca Grande (76): José Gonçalves, ex-Alf Mil Op Esp da CCAÇ 4152 (Guiné 1974)

Guiné >Região de Tombali > Gadamael - Porto > Tabanca, reordenada pelas NT.

Foto: Autores desconhecido. Álbum fotográfico Guiledje Virtual. Gentileza de: © AD -Acção para o Desenvolvimento (2007).


1. Em 23 de Junho passado, recebemos uma mensagem do nosso novo camarada José Gonçalves que passamos a apresentar

Luis
Eu sou o anónimo que respondeu a polémica de quem ganhou ou perdeu a guerra na Guiné relatando a minha experiência em Gadamael e obviamente dando a mnha opinião.

Não é normal fazer comentários anonimamente, mas como comentaste eu não tenho usuário do Google mail.

Como podes também verificar, eu tentei apresentar-me aqui há uns tempos atrás e por duas vezes mandei este e-mail (aqui anexado) o que nunca vi publicado no Blog.

Também tenho dialogado com o Nuno Rubim acerca de Gadamael e tentar ajudá-lo sobre o pedido dele, mas não tenho muito conhecimento de como o quartel era durante o tempo quente de Maio de 1973.
O Nuno Rubim também me disse que o conhecimento que eu tenho do Pós 25 de Abril poderia ser interessante para este Blog. Eu estou disposto a colaborar naquilo que nos aconteceu em Gadamael durante 1974 até entregarmos o quartel ao PAIGC.

A minha memória já não é o que era, mas há acontecimentos que nunca nos esquecemos apesar de os nomes de algumas personagens estarem apagadas da minha memória.
Podes publicar as estórias que aqui envio e se quiseres fotos, posso mandá-las, mas talvez possa demorar algum tempo porque vou de férias a Portugal por algum tempo.
O Nuno Rubim tem muitas fotos que lhe mandei e se quiseres tens a minha autorização de as usar.

Um abraço do
José Gonçalves

2. Já em 16 de Março este nosso camarada tinha reenviado a mensagem que se segue com a sua apresentação. A original tinha data de 23 de Fevereiro de 2008. Ei-la:

Luís
Não sei se recebeste este meu email pois agora verifiquei que o tinha mandado para um endereço que não é o actual. De qualquer maneira aqui vai.

Caro camarada Luís.
Apresenta-se o Alferes Miliciano de Operações Especiais José Gonçalves.

Antes de mais tenho que pedir desculpa pelas acentuação e ortografia (1) uma vez que vivo no Canadá (já lá vão 33 anos) o meu teclado não tem acentos e a minha língua agora é o inglês.

Sei que, ou te encontras na Guiné ou vais em breve para a Guiné para o Simpósio sobre Guilege. Espero ler o teu parecer sobre este acontecimento.

Tenho vindo a acompanhar este teu/nosso blog que aprecio muito, e dou os meus parabéns a todos os responsáveis e participantes pela capacidade de reviverem da sua memória com toda a emoção que lhes vai na alma a sua história da Guiné que por vezes é bastante dolorosa.

Também é emocionante a galhardia como muitos dos nossos camaradas prestam homenagem aos seus companheiros de batalha.

Pela minha parte decidi desde início esquecer tudo aquilo que para mim foi algo traumático principalmente pelo esforço e sacrifícios inúteis que todos nós fizemos por uma Pátria que valorizava mais um helicóptero ou um jacto do que um dos seus filhos a morrer no mato.

Todas estas experiências e recordações foram esquecidas e raramente contadas porque não via razão para recordar tais experiências.
Achando e lendo este Blog muitas coisas me vieram à mente e aqui encontrei coragem de recordar e de uma certa maneira reviver alguns momentos que julgava perdidos.

Também pensei que poderia juntar algumas passagens pós 25 de Abril que ainda não vi contadas.
Eu como a maioria dos participantes deste Blog também estive na Guiné em Gadamael Porto desde Janeiro de 1974 até Junho do mesmo ano, quando o mesmo quartel foi entregue ao PAIGC.

De Gadamael, a minha Companhia (CCAÇ 4152) foi para Cufar e aí também entregou o quartel ao PAIGC. (...) (2)

3. Caro José Gonçalves
É com imensa alegria que recebemos cada camarada que se nos apresenta, mais ainda quando nos escreve alguém da diáspora.

Finalmente estás apresentado aos camaradas e leitores do nosso Blogue.
Contigências várias concorreram para que só agora chegues ao conhecimento de todos os tertulianos.

Quando puderes, manda as fotos da praxe, a antiga e a actual (tipo passe de preferência, já agora em JPEG) para constar da nossa fotogaleria, em construção, que servirão também para encabeçar os teus trabalhos publicados.

Aguardamos as tuas estórias vividas no pós 25 de Abril, aí na Guiné, pois é um período pouco tratado no nosso blogue.

Para evitar desencontros com a tua correspondência, deverás enviar as tuas mensagens para luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com, com conhecimento para os endereços pessoais dos editores. Ficamos desde já ao teu inteiro dispor.

Por agora recebe um abraço de boas vindas em nome dos editores e de todos os tertulianos.
Carlos Vinhal
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Notas do co-editor:

(1) - Os editores corrigem os textos de modo a apresentar uma ortografia correcta a quem lê.
(2) - Esta mensagem é muito extensa e vai ser alvo de um poste, a publicar pelo Editor do Blogue. Neste, fica só o essencial.