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quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16754: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (106): meninos do Xime: numa foto de 1970, do José Nascimento, da CART 2520, vejo agachada a minha prima Sene Soncó, que depois viria a casar com um irmão meu que cumpriu serviço militar em Farim... Infelizmente, ambos já faleceram (José Carlos Mussá Biai, engenheiro florestal, Lisboa)


 Foto nº 1 A >  Guiné > Zona leste > Setor L1 >  Ao centro, a menina Sene Soncó



Foto nº 1 > Guiné > Zona leste > Setor L1 > Xime > CART 2520 > c. 1970 > Da esquerda paar a direita, de pé, fur Renato Monteiro, um dos picadores e o fur José Nascimento... Em baixo, "meninos do Xime", entre os quais a menina Sene Soncó, prima e cunhada do nosso amigo José Carlos Mussá Biai, que podia perfeitamente estar nesta foto, já que vivia nessa  altura no Xime...

 [O Zé Carlos é membro, da primeira hora, da nossa Tabanca Grande, vive hoje em Portugal onde se formou em engenharia florestal, trabalhando na Direção-Geral do Território (DGT), Direção de Serviços de Informação Cadastral (DSIC), Divisão de Cadastro Geométrico da Propriedade Rústica (DCG), Rua Artilharia Um, nº 107, 1099 - 052 Lisboa, tel. 21 381 96 00].


Foto (e legenda): © José Nascimento (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xime > 1/10/2006 > Os "minos do Xime", na escola primária, mais de 35 anos depois...


Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xime > 1/10/2006 >  Rua principal


Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xime > 1/10/2006 > Grupo de antigos combatentes que estiveram ao lado das NT durante a guerra colonial...Entre eles, dois irmãos e um primo do José Carlos Mussá Biai, membro da nossa Tabanca Grande.. (*)


Fotos (e legendas): © Domingos Fonseca  / AD - Acção para o Desenvimento, Bissau (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amigo, natural do Xime. José Carlos Mussá Biai, com data de hoje

Olá,  Luís, viva

Mais uma vez fui surpreendida pela riqueza deste nosso Blog. (**)

Nesta fotografia tirada pelo camarada José Nascimento,  da CART 2520, vejo agachada a minha prima Sene Soncó, que depois casou com um irmão meu que cumpriu serviço militar em Farim. (***)

Ambos, infelizmente já faleceram. Sene há poucos anos e o meu irmão faleceu no dia 27 de julho de 2016, vítima de alergia a um medicamento qualquer que lhe foi receitado no hospital.


Um abraço,

Zé Carlos

_________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - P441: Estou emocionado (J.C. Mussá Biai)

(...) Estou emocionado!...

 (...) As fotos falam por si. Os locais por onde brinquei, onde dei alguns mergulhos... Melhor, ainda as pessoas que me viram nascer, que cuidaram de mim e com quem partilhei refeições, angústias e alegrias. Estou a referir-me aos meus irmaõs mais velhos (sim, meus irmãos de sangue) e de um primo-irmão dos quais lhe falei.

Os meus irmãos são, Fodé Biai, o primeiro a contar da direita para a esquerda e Bacar Biai, o segundo na mesma ordem e Malam Mané, o quarto, dos que estão de pé.

O Fodé e o Malam cumpriram o serviço militar em Farim e depois Bissau, sendo o Malam depois transferido para Bambadinca. O Bacar sempre esteve em Xime.

(...) O curioso de tudo isso, quem tirou as fotografias é um colega meu, o Domingos Fonseca, trabalhei junto com ele na Escola do Ensino Básico Preparatório Amizade Guiné Bissau - Suécia, em Bissau. Ele leccionava a língua portuguesa e eu matemática, antes de ele ir tirar o curso de engenheiro técnico agrário na Argélia. Estive com ele no ano 2000 em São Domingos onde ele estava como responsável de AD." (...)

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16741: Fotos à procura de... uma legenda (77): Malta da CART 2520, no Xime, em 1970: afinal de quem é o braço com relógio no pulso que está por cima do ombro do Renato Monteiro ? (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)



Guiné > Zona leste > Setor L1 >  Xime > CART 2520  > c. 1970 > Furriéis:  da esquerda para a direita: (i) Fermandes, (ii) José Nascimento (o autor da foto).  (iii), Oliveira e (iv)  Renato Monteiro [este último, pertenceu originalmente à CART 2479 / CART 11 (1969/70), ao tempo do Valdemar Queiro:  é hoje um grande  fotógrafo do nosso quotidiano, do nosso tempo e lugares, com direito a entrada... na Wikipédia],

Foto (e legenda): © José Nascimento (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem,. com data de 20 do corrente:Valdemar Queiroz [, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]

Mais uma foto à procura de uma legenda!

Afinal de quem é o braço, com relógio no pulso, que está no ombro esquerdo do Renato Monteiro, o último à diteita . no foto? Ou por outras palavras, quem abraça quem ?

É uma grande fotografia que eu gostava, todos nós gostávamos,  que fosse o Monteiro a explicar/comentar.

Abraço.
Valdemar Queiroz
_________________

Nota do editor

Último poste da série >  20 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16739: Fotos à procura de...uma legenda (76): qual é a relação que existe entre a superlua de 14 de novembro de 2016 e a rosácea do tempo gótico do séc. XIV, onde fui batizado em 1947 ? (Luís Graça)

sábado, 19 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16737: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (10): A música das nossas vidas: "Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle, mon amour"... ou o braço de ferro entre o fur mil Renato Monteiro e o nosso primeiro Vaz, cuja amada esposa se chamava Isabel e vivia a 5 mil km de distância, em Vila Real, Portugal...


Foto nº 1A > Xime > CART 2520  > c. 1970 > Furriéis, à direita Renato Monteiro, seguindo-se o Oliveira, o José Nascimento e  o Fernandes


Foto nº 1


Foto nº 2 A > Xime > CART 2520 > c. 1970 > Da esquerda paar a direita, fur Renato Monteiro,  um dos picadores e  o fur José Nascimento


Foto nº 2


Foto nº 3A  > Xime > CART 2520 > c. 1970 > 1º. srgt  Vaz à direita, a seguir furriéis Nascimento e Soares...

Foto nº 3 


Foto nº 4


Foto nº 4 A A>  Xime > CART 2520 > c. 1970 > Da direita para a esquerda:  sentados, fur Monteiro, fur Durão e 2º. srgt  Zé do Ó. De pé, também da direita para a esquerda, fur Costa, fur Nascimento e Mancaman, filho do chefe dos picadores [, Mancaman Biai].

Guiné > Zona leste > Setor L1 >  Xime | CART 2520 (1969/71)

Fotos (e legendas): © José Nascimento (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem, com data de 11 do corrente,  do nosso amigo e camarada algarvio José  Nascimento (ex-fur mil art, CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71):

Caro amigo e camarada Carlos Vinhal,

Aqui vai a história de um pequeno episódio passado entre o fur mil Renato Monteiro e o 1º. srgt Vaz,  da minha Cart 2520.

Já tive a felicidade de me encontar algumas vezes com o Renato Monteiro [, hoje escritor e fotógrafo,], mas o 1º. sgrt Vaz nunca mais o encontrei, creio até que já faleceu, gostava de o ter encontrado para lhe dar um grande abraço, isto apesar de ter havido algumas divergências entre nós, contudo existiu sempre muito respeito e sã camaradagem.

Um grande abraço,
José Nascimento 


2.  Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (10) > A música das nossas vidas: "Isabelle, Isabelle, Isabelle, mon amour"... ou o braço de ferro entre o fur mil Renato Monteiro e o nosso primeiro Vaz

por José Nascimento


Isabelle era a música preferida do furrriel Renato Monteiro e esta com alguma frequência dava umas voltas no pequeno gira-discos que morava no balcão do pequeno bar de sargentos no Xime.

Isabel vivia em Vila Real, ou nas suas proximidades, na longínqua Metrópole, amada esposa do 1º. sargento Vaz a quem já tinha dado dois rebentos, um na pré adolescência, o outro alguns anos mais novo. Já com alguns meses de Guiné,  a saudade do 1º. Vaz pela sua Isabel roía-lhe a alma.

Sempre que se proporcionava, o Renato Monteiro saltava para dentro do balcão do bar e punha às voltas a sua Isabelle preferida. Só que de tanto ouvir "chamar" por Isabelle,  a do Charles Aznavour, o 1º. sargento Vaz lembrava-se da sua Isabel, a que tinha ficado a milhas de distância,  e a sua cabeça também começava às voltas, girava, girava, ou melhor, entrava em parafuso.

Até chegou ao ponto de tentar proibir que o Monteiro ouvisse a sua música preferida, fazendo uso do maior número de divisas amarelas que ostentava sobre os seus esqueléticos ombros.

"Monteiro, não quero ouvir essa música",  vociferava o 1º. sargento.

"Mas se eu gosto?!," retorquia o furriel.

Normalmente ou era um, ou era outro que cedia e quando era o 1º sargento, refugiava-se na secretaria, batendo com alguma violência a já carcomida porta que a separava do bar de sargentos.

Até que um dia...

Mais uma vez o Monteiro liga a pequena máquina e entra em rotação a sua Isabelle, Isabelle, Isabelle mon amour (**).

De repente salta de dentro da secretaria, qual fera enfurecida,  o 1º. sargento Vaz.

"Outra vez Monteiro?!",  berrou.

Dirige-se ao pequeno gira-discos, saca a Isabelle do rotativo prato e exclama furioso:

"Agora só vai ouvi-lo no fim da comissão".

Enraivecido, enfia-se na secretaria e mete o pequeno disco no cofre aí existente e fecha-o à chave.

Não sei qual foi o destino desta Isabelle, se foi libertada ou se ficou prisioneira no cofre da CART 2520,  mesmo sem ter ido a julgamento. (***)

Um grande abraço para esta Tabanca que cada vez será maior.

José Nascimento
______________


(**) Letra da canção de Charles Aznavour (c. 1965/66):

Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle
Isabelle Isabelle Isabelle mon amour

Les heures près de toi
Fuient comme des secondes
Les journées loin de toi
Ressemblent à des années
Qui donnent à mon amour
Un goût de fin du monde
Elles troublent mon corps
Autant que ma pensée

Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle
Isabelle Isabelle Isabelle mon amour

Tu vis dans la lumière
Et moi dans les coins sombres
Car tu te meurs de vivre
Et je me meurs d'amour
Je me contenterais
De caresser ton ombre
Si tu voulais m'offrir
Ton destin pour toujours

Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle
Isabelle Isabelle Isabelle mon amour

[Letra reproduzidas com a devida vénia, a partir daqui:
http://www.paroles.net/charles-aznavour/paroles-isabelle#OXimuDIQg7WdWApW.99]

[Vd. também oágina oficial do cantor: Charles Aznavour (n. 1924),  O cantor francês, de origem arménia, vai atuar em Lisboa no próximo dia 10 de dezembro de 2016...Aos 92 anos!!! ]

Tradução (rápida) de LG:

As horas perto de ti
fogem como segundos,
os dias longe de ti
parecem  anos,
dando ao meu amor
um gosto de fim do mundo,
e perturbando tanto o meu corpo
como o meu pensamento

Isabel Isabel Isabel Isabel
Isabel Isabel Isabel,  meu amor

Tu vives na luz
e eu em cantos escuros,
porque tu morres de vida
e eu morro de amor.
Contentar-me-ia
em acariciar a tua sombra
se tu quisesses oferecer-me
o teu destino para sempre.

Isabel Isabel Isabel Isabel
Isabel Isabel Isabel,  meu amor

(***) Vd. poste de 6 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12684: Memória dos lugares (263): O Xime, ao tempo da CART 2520 (1969/71), comandada pelo cap mil António dos Santos Maltez, natural de Aveiro (Renato Monteiro)

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16707: Inquérito 'on line' (82): Quem nunca comeu macaco-cão ? Em 35 respostas (provisórias), mais de metade (60%) diz que nunca comeu ... Só 4 dizem que comeram e gostaram... Outros tantos comeram e não gostaram... O prazo para responder termina em 17/11/2016, às 7h32. Cem respostas, no mínimo, precisa-se!


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional de Cantanhez > Iemberém > 9 de dezembro de 2009 > 15h50 > Macaco fidalgo vermelho (ou fatango, em crioulo).  Espécie, nome científico: Procolobus badius. Em inglês, western red colobus. É uma espécie ameaçada, fundamentalmemte devido à caça e à desflorestação. (*)

Por esta altura, havia uma jovem bióloga portuguesa, a fazer o seu doutoramento em Inglaterra, com um estudo sobre os babuínos da Guiné-Bissau.Verificamos com muita satisfação, passados quase 8 anos (!),  que a Maria Joana Ferreira da Silva doutorou-se em 2012 e trabalha agora em Portugal, na CIBIO-InBIO, Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos,  Universidade do Porto. Demos lhe em 2009 uma ajudinha para contactos e entrevistas (**),  a par  dos nossos amigos da AD - Acção para o Desenvolvimento, ONG à frente da qual estava o nosso saudoso amigo Pepito (1949-2014)... O nosso blogue cumpre, também  assim, a sua missão como "fonte de informação e conhecimento"...mas também de tomada de consciência dos problemas ecológicos, globais, regionais e locais,,,

Foto: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 (1972/73) > O "Pifas", mascote da companhia...

Foto: © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Em muitos aquartelamentos das NT, durante a guerra colonial, havia animais destes, em cativeiro... Macaco-cão, macaco-kom, uma espécie que nos era familiar...Nome científico: Papio hamadryas papio.

No mato, era,  para as populações e para os guerrilheiros do PAIGC,  uma das principais fontes de proteína animal. As populações sob o nosso controlo, ou que viviam perto dos nossos aquartelamentos e destacamentos, também os caçavam, mais ou menos furtivamente.  Mas era frequente, quando em operações,  avistarmos bandos de 100 ou mais babuínos em estado selvagem nas matas e florestas do triângulo Xime-Bambadinca-Xitole, em finais  dos anos 60 / princípios dos anos 70...

A sua caça chegou a ser proibida pelas autoridades da Guiné-Bissau logo a seguir à independência... Mas foi sol de pouca dura... Nos últimos 30/40, a população guineense de babuínos tem vindo a decrescer dramaticamente, devido à combinação de diversos factores:

(i) mudanças no território devidas às plantações extensivas de caju,  que ocupavam já no início do séc. XXI mais de 2/3 de toda a terra arável da Guiné-Bissau; (ii) a desflorestação ilegal, devido à procura externa de madeira exótiocas (por ex., pau sangue); (iiii) caça intensiva praticada por grupos de militares como forma de compensação extra-salarial; (iv)  crescente procura da carne de macaco-cão e de outros primatas (macaco-fidalgo, etc.), como produto "gourmet",  pelos restaurantes de Bissau e periferia; (v) o uso da pele do babuíno pelos praticantes da medicina popular tradicional; e., por fim , (vi) o tráfico de juvenis para alimentar o mercado interno de animais de estimação.

Fonte: Adapt. de Maria J. Ferreira da Silva,  Catarina Casanova  & Raquel Godinho - On the western fringe of baboon distribution: mitochondrial D-loop diversity of Guinea Baboons (Papio papio Desmarest, 1820) (Primates: Cercopithecidae) in Coastal Guinea-Bissau, western Africa. "Journal of Threatened Taxa" | www.threatenedtaxa.org | 26 June 2013 | 5(10): 4441–4450

 [Consult em 10 de novembro de 2016]. Disponível em:  http://threatenedtaxa.org/ZooPrintJournal/2013/June/o321626vi134441-4450.pdf



I. INQUÉRITO 'ON LINE': 

"NUNCA COMI MACACO-CÃO (BABUÍNO) NA GUINÉ" (***)

Respostas (preliminares) (n=35), às 23h30 de ontem


1. Nunca comi >  21 (60,0%)

2. Comi e não gostei  > 4 (11,4%)

3. Comi e gostei  > 4 (11,4%)

4. Não tenho a certeza se comi  > 6 (17,2%)

Total  > 35 (100,0%) 


O prazo para resposta ao inquérito termina no dia 17/11/2016, 5ª feira, às 7h32.  Esperamos até lá obter 100 ou mais respostas.



II. Seleção de comentários dos nossos leitores:


(i) Henrique Cerqueira (****)

Eu nunca comi macaco-cão, mas experimentei comer macaco doutra espécie (o mais avermelhado) que pelos vistos era vegetariano [ fatango, em crioulo, macaco fidalgo vermelho, vd. foto acima].

A sua carne depois de cozinhada tinha o aspecto da carne de gazela e sabor idêntico a carne de mato. Não era mau de todo e como a fome de carne era muita até se safava. O pior era quando se via o animal após ter sido chamuscado para queimar o pêlo como se faz ao porco.É que parecia uma criança autêntica.

Mas a minha experiência gastronómica também passou por comer calau ou urubu que os civis chamavam de pato da bolanha. Quando chegavam ao nosso poder já vinham devidamente esfolados e sem alguns apêndices que os identificavam . E assim sendo a fomeca apertava, o paladar não era mau e as cervejas (basucas) empurravam muito bem o repasto.

Outro dos petiscos muito apreciados  eram o porco espinho do mato e o papa formigas.Que em Bissorã apreciam com alguma frequência à venda pelos civis.
Só não experimentei comer cobra e rato do mato porque para mim eram mesmo repugnantes, mas para os meus soldados africanos [, da CCAÇ 13,] era um petisco de tal ordem que,.  mesmo que estivéssemos em missões,  eles quebravam todo o silêncio e entravam numa euforia tal que toda a segurança que tivéssemos montada ficava desde logo comprometida.

Foram experiências interessantes e às vezes até de recurso.

(ii) José Nascimento (****)


Mesmo tendo passado alguma fomimha, nunca comi carne de macaco, mas houve alguns elementos do meu pelotão [, CART 2520, Xime e Quinhamel, 1969/70, ] que comeram, não sei em que condições. 

Pelo Mato de Cão passei por lá uma vez, fiz o percurso entre Bambadinca (atravessei o Geba) e o Enxalé. Deve ter sido em Abril-Maio de 1970. Não vimos vivalma, só tabancas abandonadas.

(iii) José Nunes (****) 


Aquando da montagem eléctrica da Carpintaria Escola de Cumura, comia na Missão de Padres Italianos.

Um dia ao almoço veio para a mesa umas travessas com aves,pois muita alimentação era feita à base de caça, patos,  galinhas do mato... Como não sou amante de aves esperei que viesse algo mais, então surgiu uma travessa com carne,  uns "bifinhos" jeitosos, e o rapaz aviou-se... Ao dar a primeira dentada, pensei, estes "italianos" são mesmo malucos,  temperar a carne com açúcar....

Lá fui mordiscando, quando do topo da mesa o Padre Settimio me diz: "desculpa,  não sei se gosta de macaco ?!"... Já não consegui comer mais...

Depois da independência,  D. Settimio Ferrazzeta veio a ser o 1º  bispo da Guiné. Passei momentos inesquecíveis nesta Missão que na altura abrigava todos os leprosos da Guiné, as "pastas" eram feitas na Missão e como eram deliciosas!


 (iv) Artur Conceição (*****)


(...) Comi macaco em Bissau num restaurante que tinha essa especialidade, e que ficava localizado numa rua em frente aos Correios, para o lado do Forte da Amura, uma ligeira subida do lado esquerdo. 

O nome 'cabrito pé da rocha'  para mim é novidade (...).

(...) Eu comi porque me garantiram que era macaco fidalgo, porque. sem tal garantia, o macaco cão penso que não seria capaz de comer, sendo que uma das razões era exactamente o contacto que tinha com eles, o macaco cão.

Para além de macaco fidalgo confeccionado em restaurante, e que já não posso dizer se gostei ou não, comi também gazela, uma ou duas vezes, javali, várias vezes, águia e raposa uma vez. Cobra... embora digam que é um petisco, penso que era mais fácil comer capim. (...) 

________________

Notas do editor:


(**) 13 de janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3734: Fauna & flora (8): O estudo do Papio hamadryas papio (Maria Joana Ferreira Silva)

(...) O meu projecto de doutoramento tem três principais objectivos: (i) Determinar o estatuto de conservação dos babuínos da Guiné na Guiné-Bissau. (...); (ii) Investigação de aspectos socio-ecológicos (...); (iii) Investigação da história demográfica passada (...)

(***) Último poste da série > 4 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16684: Inquérito 'on line' (81): a avaliar pelo total de respostas (n=91), só uma minoria (15%) refere a existência de casos de deserção (n=15) na sua unidade (companhia ou equivalente)... Menos de metade do que terá ocorrido na metróple (=34)... Impossível saber se há casos repetidos... A nossa estimativa, grosseira, é de 500 casos de deserção em toda a guerra: 2/3 na metrópole, 1/3 no TO da Guiné

(****) Vd. poste de 10 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16706: De Cufar a Mato Cão, histórias de Luís Mourato Oliveira, o último cmdt do Pel Caç Nat 52 (2) - Experiências gastronómicas (Parte II): Restaurante do Mato Cão: sugestões de canibalismo, bom pão e melhor... macaco cão no forno com batatas!


sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16518: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (9): "Rã Teimosa", a última Operação da CART 2520


Desembarque de tropas no Xime: a nossa conhecida LDG 105 (NRP Bombarda)[1]


1. Em mensagem do dia 19 de Setembro de 2016, o nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) enviou-nos esta memória sobre a última operação em que participou sua Unidade.


Recordações da CART 2520

9 - "Rã Teimosa", a última Operação da CART 2520

Ordens são ordens e são para cumprir, custe o que custar.

Como era normal, estas chegaram do BCAÇ 2852 sediado em Bambadinca. Estava planeada uma operação para o dia 16 de Maio de 1970, para a zona do Xime. Isto a escassos dias da CART 2520 sair desta zona operacional. Dentro de duas semanas a nossa Companhia partiria rumo a Quinhamel.
A ideia não caiu muito bem no seio das nossas tropas, nomeadamente entre os furriéis e logo se pensou pressionar o Capitão [mil António dos Santos] Maltez, através dos nossos alferes,  para nos "baldarmos" a esta operação.

Estava a fazer um ano que a CART 2520 tinha estabelecido a sua base no Xime. Foi muito elevada a nossa actividade operacional no mato, assim como muitas seguranças às embarcações que navegavam no rio Geba. Também se fizeram inúmeras colunas de serviço a Bambadinca e esporadicamente a Bafatá. As baixas tinham sido duas, jamais regressariam ao seio dos seus familiares. Por doença também foram vários os que já nos tinham deixado. Por baixa psicológica só no meu pelotão foram dois os elementos que não voltaram, sendo um deles o Furriel Alvarez, um mês depois de chegarmos ao Xime já estava evacuado para Bissau.

Chegada então a hora do início da operação e ainda de madrugada, lá vamos nós a caminho do mato com as devidas precauções e também com alguma ansiedade à mistura.

Assim que o sol começou a iluminar a mata, creio que na zona da Ponta Varela,  houve indicações para que ninguém saísse debaixo da copa das árvores e permanecesse no máximo silêncio possível para não denunciarmos a nossa presença.

Várias foram as vezes que fomos sobrevoados pelo DO que possivelmente seria comandado pelo Major [op /inf  Herberto Alfredo do Amaral] Sampaio,  do Gabinete de Operações de Bambadinca. Por diversas ocasiões junto ao rádio transmissor da nossa Companhia ouvi o operador lá do alto chamar por nós. Nesse dia o nosso emissor receptor "esteve avariado".

A operação decorreu sem incidentes e sem nenhum contacto com o inimigo.

De regresso à nossa base, recordei o dia anterior, quando entrámos no gabinete do nosso Capitão Maltez e as palavras que este nos dirigiu:
- Como já sabem, esta noite vamos sair para uma operação, mas o Alferes Lapa vai explicar-vos como vai ser - e abalou porta fora.

Esta seria a última operação da CART 2520 no Xime, a qual teve o nome de "Operação Rã Teimosa". Mas nós com a ousadia que tivemos em expor as nossas convicções contra todas as regras estabelecidas, através do Alferes Lapa, fomos mais teimosos que esta rã e nem os nossos soldados souberam o que se passou na tarde do dia anterior no gabinete do Capitão Maltez.

Entretanto chegou CART 2715 / BART 2917 que nos viria render. A CART 2520 saiu em duas fases, a primeira no dia 31 de Maio e a última a 9 de Junho de 1970.

Assim se iniciou uma segunda etapa da nossa Companhia em terras da Guiné, que foi bem mais tranquila, como que uma espécie de um merecido prémio.

E aqui vai um grande abraço para todos os elementos desta Tabanca Grande, em especial para o amigo Luís Graça e camaradas da CCAÇ 12 (CCAÇ 2590).

José Nascimento



No Bar de Sargentos


Com o Furriel Joaquim [João dos Santos] Pina,  do 1º Gr Comb da CCAÇ 12, algarvio como eu, antes de uma Operação

Texto, fotos e legendas : © José Nascimento (2016). Todos os direitos reservados


2. Comentário do editor:

Eis as oito linhas que foram dedicadas à "Op Rã Teimosa", na História da Unidade: BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70, cap II, p. 152:





Recorde-se que o BCAÇ 2852 também acabou nesse mês de maio a sua comissão de serviço. Em 29 e 31 de maio de 1970, chegava o BART 2917, começando a sobreposição. Em 8/6/1970, o BCAÇ 2852 deixou o setor L1, partindo para Bissau onde aguardou transporte para a metrópole.

Três dias antes da Op Rã Teimosa,  em 14 de maio, às 17h00, o IN tinha atacado, com canhão s/r, LGFog e armas automáticas, em Ponta Varela (XIME 7B5-45), na margem esquerda do Rio Geba,  o barco (civil) "Bihe", causando  1 morto, 1 ferido grave, 3 desaparecidos, todos civis, e danos materiais.
____________

Notas do editor:

[1] - Sobre a LDG Bombarda vd. postes de Manuel Lema Santos de:

22 de Dezembro de 2016 > Reserva Naval nas LDG - Lanchas de Desembarque Grandes (5)
e
24 de Dezembro de 2016 > Ainda a LDG “Bombarda” - LDG 201

Último poste da série de 17 de março de 2016 > Guiné 63/74 - P15870: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (8): Quem não se lembra do antigo ditado que diz: "em tempo de guerra não se limpam armas"

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16489: Memória dos lugares (345): O destacamento e a jangada de João Landim, no Rio Mansoa (José Nascimento / Francisco Gamelas / Leonel Olhero / Alcídio Marinho)



 Guiné > Região de Cacheu > Junho de 1973 > Margem direita do rio Mansoa... Travessia  de João Landim, que se fazia em janganda. . Primeiro entravam as viaturas, depois as pessoas. Bissau ficava a cerca de quinze/vinte  quilómetros. Foto nº 51C, do álbum de Francisco Gamelas.

Foto (e legenda): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > 1965/66 > A famosa jangada que atravessava o Rio Mansoa em João Landim, ligando Bissau com a região do Cacheu

Foto (e legenda): © Virgínio Briote (2005). Todos os direitos reservados



1. Comentários ao poste P16486 (*):

José Nascimento [ex-Fur Mil Art da CART 2520, 
Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71); vive no Algarve]


João Landim era constituído por um barracão em madeira e que era gerido em conjunto pela Marinha, que uma jangada, e pela Engenharia, que tinha outra jangada. A outra parte era um barracão em alvenaria, se a memória não me falha, era dividido em duas partes.

As condições não eram as melhores, havia uma latrina feita em madeira construída sobre o lodaçal da margem do rio Mansoa. Havia uns bidões com um chuveiro onde podíamos tomar banho, muitas vezes tínhamos que esperar que nos touxessem água de Safim e era de lá que esperávamos que viessem as nossas refeições e que quase sempre chegavam tarde e a más horas.

Felizmente havia um gerador que fornecia energia eléctrica, mas estavam tão perto de nós que ainda hoje parece que ouço o roncar do seu trabalhar. A guarnição era constituída por uma secção e quando o alferes Marques, ainda em Safim,  me disse, "vais para lá tu,  Nascimento", só aceitei ir com voluntários. A maioria do pelotão ficou em Safim.

Com algum receio dos jacarés ainda dei uns mergulhos no rio Mansoa e também vivi alguns episódios curiosos. João Landim ficava na margem direita do rio e mal de nós se nos quisessem fazer algum mal, penso que não havia interesse por parte do PAIGC, porque João Landim era um ponto de transição entre a zona de guerra e a dita ilha de Bissau e os guerrilheiros podiam perfeitamente passar entre a população. Quem é que sabia? Quando tiver oportunidade coloco umas fotos.

PS - Caros editores: quero corrigir que João Landim ficava na margem esquerda do rio Mansoa e não na margem direita, a sua água era salgada e sofria a influência das marés (cheia/vazia) e por vezes chegava quase ás paredes do nosso barracão. Nunca me senti muito seguro neste destacamento com pouco mais do 6 gatos pingados, sendo que durante a noite estava sempre um elemento de sentinela e como é evidente o meu sistema de alarme estava sempre em alerta.



Carta da província da Guiné  (1961) > Escala 1/500 mil > Posição relativa do destacamento de João Landim, cujas instalações ficavam na margem esquerda do rio Mansoa, do aldo de Safim, ou seja, na ilha de Bissau, e não na margem direita, do lado de Bula. A distãncia, em linha reta, até Bissau deveria seria de 20 km.

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016)


Francisco Gamelas [ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089
 (Teixeira Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73): vive em Aveiro]


Sobre João Landim, tanto quanto recordo, não existiria no local qualquer destacamento. Era a malta de Bula que fazia a protecção, sempre que a jangada era utilizada. Creio mesmo que era malta de Bula que operava a jangada. Isto do lado Norte. Do lado de Bissau nunca me recordo ali existir qualquer tipo de protecção, nem recordo ter ali existido qualquer conflito com a população. As viaturas circulavam livremente. Ataques do PAIGC à jangada, no meu tempo, nunca ouvi falar.

Leonel Olhero [, ex-Fur Mil Cav do Esq Rec 3432 (Panhard),
Bula, 1971/73]


A protecção às jangadas em João Landim era feita pela malta do Esquadrão de Bula.

As jangadas eram operadas pela Marinha que estava aquartelada do lado de lá, na outra margem, num destacamento de barracas feito de latas. Todavia, ao fim da minha comissão 1973 (embarquei em 4/10/73),  João Landim já tinha instalações condígnas feitas em cimento e "até" bonitas.

Fui furriel das Panhards e fiz escoltas a João Landim, três vezes ao dia e sem conta. Nunca aquelas colunas foram atacadas.









Guiné > Rio Mansoa > João Landim >  c. 1972/74 > A "jangada militar"


Fotos (e legendas): © Leonel Olhero  (2012). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Alcídio Marinho [ex-fur mil inf, CCAÇ 412 
(Bafatá, 1963/65): vive no Porto]


Quando chegou o mês de abril de 1965, o meu pelotão (3º) estava destacado, desde março, ma povoação de Geba, fomos avisados que iriamos ser rendidos pela CCAÇ  557 (, do José Botelho Colaço).

Chegou o fim do dito mês de abril e rumamos a Bissau, ficando a pertencer ao BCAÇ 600.
Em Bissau fazíamos patrulhamentos nocturnos e destacamentos semanais em João Landim, a nível de secção reforçada, cerca de vinte homens.

Então, colocou-se o problema, qual dos sargentos vai comandar o destacamento? Ofereci-me, para ir.
Levei o pessoal da minha secção e mais uns voluntários, incluindo um cozinheiro.
Na aquela altura, as instalações eram apenas um barraco e cada um desenrascava-se. Levamos géneros e viveres para uma semana, quando era preciso, éramos reabastecidos

No fim da primeira semana, do pessoal os que quiseram regressar a Bissau, foram substituídos por outros voluntários. Ali não havia o problema do serviço como havia em Bissau, cada um andava de calções e á vontade.

Estive duas semanas seguidas no principio de maio. Mais tarde na última semana na Guiné, voltei e dali partimos na antevéspera do embarque (Uíge), para Lisboa (27/5/1965).

Foram umas férias bem merecidas.

A jangada era em madeira, tinha um cabo que atravessava o rio, e que passava numas roldanas que com umas manivelas fazia a travessia do rio.

A população civil era controlada à entrada de um lado e do outro.

As unidades militares eram apenas controladas pelas ordens de serviço e também era controlado o peso e o número das viaturas para não sobrecarregar a jangada.

O pessoal que manobrava a jangada eram nativos comandados por um cabo, creio que era papel (raça).
Durante o dia, quatro militares estavam no controle em terra, de cada lado do rio. Na jangada circulavam dois e às vezes três. A outra malta estava estacionada do lado de Bissau.


Guiné-Bissau > Ponte Amílcar Cabral,  mais conhecida  por  ponte João Landim. Com 785 metros de comprimento, inaugurada em 2003, tendo sido totalmente financiada pela União Europeia e construída por um consórcio espanhol  [Foto à esquerda com a devida vénia, fonte: Acciona-Engineering]


Por vezes éramos visitados por colunas da Companhia e às vezes até aparecia o Comandante da Companhia, o Sr. Tenente Azevedo

Um dia, deixaram passar um individuo com uma malinha. Ele já estava na jangada e eu mandei que saísse para revistar a mala. Dentro tinha ligaduras e outro material médico. Mandei um rádio para Bissau e vieram buscá-lo, já não passou dali.

Foram umas semanas bem passadas. Quando queríamos peixe, lá vai uma granada ofensiva para o rio 
e recolhíamos o peixe, que distribuíamos pelos nativos que apareciam por ali.

Assim conheci João Landim, não estava sujeito aos salamaleques da tropa macaca de Bissau.



Guiné-Bissau > Rio Mansoa, Ponte Amílcar Cabral > Abril de 2005 > Belíssima foto do português Carlos Galveias [Reproduzida, com a devida vénia, do seu blogue República da Guiné-Bissau > 28 de abril de 2005 > Guiné-Bissau Topur 2005 - Actualização].

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sábado, 25 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16237: Convívios (756): XIV Encontro do pessoal da CART 2520, levado a efeito no passado dia 14 de Maio de 2016, em Fátima (José Nascimento)

 FÁTIMA 14 DE MAIO DE 2016 - XIV CONVÍVIO DO PESSOAL DA CART 2520


1. Mensagem do nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) com data de 15 de Junho de 2016:

Caro Camarada Carlos Vinhal,
A Cart 2520 que esteve no Xime e Quinhamel, realizou o seu 14.º Convívio no dia 14 de Maio.

O ponto da concentração foi em Fátima e teve início pelas 10 horas.
Seguiu-se o almoço de confraternização que teve lugar no restaurante "Quinta do Casalinho Farto", nas proximidades de Fátima.
Este convívio que juntou um grupo razoável de ex-combatentes e familiares, foi organizado pelos nossos camaradas António Durão e Sousa Lopes com a colaboração do José Cordeiro.
Pela primeira vez compareceu o nosso camarada Mário Andrade, Condutor, que também prestou serviço na messe e alojamento dos nossos oficiais. Este nosso camarada relembrou que era nas caravanas que serviram de aposentos ao Amílcar Cabral quanto este percorreu a Guiné pelos Serviços Florestais, antes do início da guerra, que os oficiais de Cart 2520 dormiam.
Como habitualmente contaram-se muitas histórias, reviveram-se outras tantas emoções.
Foi um dia muito bem passado e que ficará nas nossas memórias, nomeadamente pela foto de grupo que entretanto foi tirada.

E aqui vai um grande abraço para o camarada Carlos Vinhal e para todo o pessoal da Tabanca Grande.
José Nascimento
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de junho de 2016 Guiné 63/74 - P16215: Convívios (755): AVECO- Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste , nas festas do concelho da Lourinhã (23 a 26 de junho de 2016)... Mas também a banda de música Melech Mechaya (a 25, sábado, 23h30)

quinta-feira, 17 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15870: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (8): Quem não se lembra do antigo ditado que diz: "em tempo de guerra não se limpam armas"

1. Mensagem do nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) com data de 4 de Março de 2016:


Quem não se lembra do antigo ditado que diz: "em tempo de guerra não se limpam armas"

Esta é uma afirmação perfeitamente falsa, pelo menos no conceito de um coronel de quem não sei o nome, mas que tinha a alcunha do "Onze".

Estava eu no destacamento do Biombo, do qual guardo boas recordações, quando fui visitado por este oficial, que chegou acompanhado por vários militares armados e também por um major que mal colocou os pés no chão, a primeira coisa que fez, foi mandar formar os meus soldados, neles incluídos uma secção de milícias, tendo de seguida começado a inspeccionar as armas que lhes estavam distribuídas.

Ao encontrar a Mauser de um dos milícias, suja de pólvora, quis saber o porquê, ao que o mesmo respondeu:
- Soldado branco foi à caça.

Foi o suficiente para este coronel olhar para o lado e pretender saber o que se tinha passado. O meu militar, para quem o milícia apontou, lá tentou desculpar-se que tinha encontrado umas munições abandonadas, mas não foi o suficiente juntamente com as minhas justificações, para nos ser levantado um auto, do qual resultou uma punição de 8 dias de detenção para o soldado e de 10 de detenção para mim.

Temos de voltar ao serviço militar, porque esta "punição" nunca chegou a ser cumprida.

Alguns meses antes já havia sido visitado pelo coronel "Onze", no terceiro dia em que cheguei ao Biombo. No total das duas vezes que esteve no destacamento, não permaneceu mais do que vinte minutos, apenas pretendeu saber se estávamos bem fardados e bem barbeados. Em seu entender o barracão a que chamavam destacamento ou quartel, onde nem sequer entrou, tendo entrado apenas na nossa mini cantina, não se encontrava em perfeito estado de limpeza, porque havia algumas folhagens no chão.

Não me perguntou pelo meu estado de saúde, pois eu tinha a cara com um enorme inchaço e também estava com alguma febre devido a um problema dentário, problema este que só se resolveria completamente após o meu regresso à Metrópole e infelizmente com a raiz do dente ao sol.

Não pretendeu saber como é que nos alimentávamos e em que condições os alimentos eram confeccionados, a cozinha era um telheiro apoiado em 4 pilares e pouco mais, e a nossa mesa do "refeitório" era feita de umas quantas tábuas mal pregadas.

E o posto médico? Simplesmente não existia e havia apenas um armário de madeira, que felizmente estava razoavelmente apetrechado com medicamentos, porque a CArt 2520 tinha uma excelente equipa de enfermeiros comandada pelo Furriel Enfermeiro Augusto Costa e da qual fazia parte o Cabo Silva que nos acompanhou durante os seis meses em que permanecemos naquele destacamento. Mesmo assim, quantas vezes fomos pedir medicamentos a uma Missão Anglicana que existia lá perto de nós. Também cooperávamos com esta Missão.

A água, se é que era potável, íamos buscá-la em bidões de gasolina vazios, a um poço existente a mais de quinhentos metros das nossas instalações, de qualquer modo não estava envenenada porque esta seria a primeira habitação de dezenas de rãs que por lá moravam.

E como é que nos defenderíamos se porventura o inimigo quisesse organizar connosco uma "excursão" a partir do Biombo até um sítio qualquer do Senegal ou da Guiné Conacri? Ou, o mais certo seria não haver interesse por parte do PAIGC em nos molestar, porque a zona do Biombo/Ondame era "colónia" de férias dos seus militantes?

Para a iluminação existiam um ou dois "petromax". Eu próprio adquiri um candeeiro a petróleo daqueles que as carroças usavam antigamente, para ter luz nos meus "aposentos".

Gostava de poder dizer ao "meu" coronel que não gastámos 3 munições abandonadas numa prateleira. Gastámos sim, mas foram mais de 3 mil e já não faziam parte da dotação da Companhia, foram trazidas por prevenção quando deixámos o Xime.

A nossa permanência no Biombo foi quase um caso de sobrevivência, os mantimentos não eram nem em quantidade nem em qualidade suficientes para alimentar diariamente quase um pelotão de militares e muitas vezes tivemos que nos socorrer da caça para nos alimentarmos.Também comprávamos por imposição aos nativos das tabancas, cabritos ou galinhas ao preço que nós próprios estabelecíamos, mas nunca roubámos. Algumas vezes também comprávamos uma ou duas pernas de vaca quando havia "choro", cerimónia fúnebre em que os nativos matam os seus animais para as celebrações.

Sempre se procedeu à limpeza de armas, mas não era regra, normalmente era de acordo com a convicção de cada um e até me recordo de um soldado ter disparado acidentalmente um tiro enquanto cuidava da sua G3, foi por pouco que não houve graves consequências, o que contradiz o ditado: "Em tempo de guerra não se limpam armas".

Foi muito ingrato quase no fim da comissão e depois de tantos sacrifícios, de tanto sofrimento, de tanta luta e de tantos perigos passados, ter recebido como recompensa uma punição registada na caderneta militar. Felizmente esta detenção não chegou a se concretizar e acabou por ser ultrapassada. Tenho a perfeita consciência de que fui uma peça importante para a CArt 2520, principalmente para o 3.º Pelotão. Cheguei a ser durante muito tempo o único graduado deste grupo de combate e também o seu comandante, com a certeza de que conduzi os meus homens nas matas do Xime, tão bem quanto o saudoso Alferes Joaquim da Costa Marques e com absoluta confiança dos combatentes deste Pelotão.

O tempo já apagou a ira e a raiva que ficaram dentro de mim, mas quando me recordo deste episódio ainda sinto alguma revolta e essa jamais me abandonará.

Para que não haja dúvidas aqui vai a respectiva transcrição da caderneta militar.

"...e na verificação do estado de limpeza e conservação do material e munições do destacamento de que é comandante, dando lugar a que embora na sua ausência, uma praça metropolitana utilizasse munições que se encontravam abandonadas numa prateleira da cantina e, com uma espingarda Mauser distribuída a um milícia fosse à caça dos pássaros".

Para todos os amigos da Tabanca Grande, aqui vai também um grande abraço.
José Nascimento
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15742: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (7): O Soldado João Parrinha, natural de Cabeça Gorda, Beja

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15742: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (7): O Soldado João Parrinha, natural de Cabeça Gorda, Beja

O José Nascimento no cais do Xime,
que foi construído no tempo da CART 2520
1. Mensagem do nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) com data de 3 de Fevereiro de 2016, com uma pequena homenagem a um Soldado do seu Pelotão.


O Soldado João Parrinha


O João Parrinha era um rapaz tipicamente alentejano. Natural de Cabeça Gorda, nas proximidades de Beja, bonacheirão, muito simples e humilde, sem qualquer instrução, quando lhe perguntei por que razão não sabia ler nem escrever, pois no tempo em que eu fui para a escola primária, já o era obrigatório, ele respondeu-me:
José Nascimento, foto atual
- Obrigatório sim, mas como poderia eu ir à escola se ela ficava a mais de 20 quilómetros de onde eu morava?

Passado algum tempo de estarmos na Guiné, apercebi-me da sua proximidade, mais do que qualquer dos outros elementos do meu pelotão. Quando saíamos para o mato,  ele procurava estar sempre perto de mim e até quando fazíamos segurança à ponte sobre o rio Udunduma, os nossos colchões eram colocados no chão ou em cima de algumas chapas de zinco e o nosso tecto eram as estrelas, eu dormia entre os soldados e normalmente o Parrinha era o que ficava mais por perto.

Certa vez quando houve uma pequena escaramuça com elementos do PAIGC, na zona de Madina Colhido, o Parrinha foi ferido por um estilhaço dum rocket e logo gritou por mim:
- Meu furriel,  estou ferido!

Fui ver o que se passava, foi de imediato tratado pelo nosso enfermeiro. Felizmente era um ferimento ligeiro nas costas e sem qualquer gravidade.

Por coincidência ou não,  ele fazia anos na mesma data que eu e numa das nossas deslocações a Bambadinca, cruzámo-nos com um nativo que transportava um pequeno porco e logo ali fez negócio e o animal seria para fazer um petisco no dia do nosso aniversário.

Levado o bicho para o Xime, o Parrinha construiu uma pequena pocilga e com os restos da cozinha lá ia alimentando o nosso bácoro, que foi comprado a meias.

Mas,  para nosso descontentamento,  os "turras" resolveram estragar-nos a nossa planeada festa de aniversário e numa noite qualquer atacaram o quartel do Xime. Felizmente para o 3.º pelotão estávamos no Udunduma.

O que aconteceu é que a improvisada pocilga foi pelos ares e o nosso pitéu passados alguns dias deixou de o ser em consequência do incidente.

De vez em quando o Parrinha pedia-me dinheiro emprestado e logo se prontificava a pagar,  assim que recebia o seu modesto vencimento.

No destacamento do Biombo [,, quando fomos para Quinhamel], onde a actividade era mínima, andava quase sempre desenfiado, até chegava a dormir nas tabancas e eu fazia que não sabia de nada.

Já na Metrópole,  e passados alguns anos após o nosso regresso da Guiné, numa passagem por Cabeça Gorda,  fui à procura do Parrinha, e qual não é a minha surpresa quando me dizem que ele estava no Algarve, até me disseram em pormenor onde ele morava.

Assim que tive oportunidade lá fui a Olhão, ao Bairro dos Pescadores, onde encontrei este antigo militar. Conversa puxa conversa, em determinado momento ele me diz:
- Quando fomos para a Guiné,  ia com a ideia de lhe dar um tiro.
- Porquê? - indaguei com alguma admiração.
- É que,  quando estávamos em Torres Novas, você deu-me um pontapé no traseiro.

Recordei-me que,  durante a instrução,  lhe dei um pequeno toque, sem qualquer intenção de o magoar, tipo sacudir o pó dos fundilhos das calças, como que a lhe dizer "vamos lá, você é capaz de fazer este exercício".. Ficou melindrado.


Fiquei então a perceber o porquê da sua proximidade na nossa passagem pela Guiné... Conversámos por mais algum tempo e saí da sua casa com vários quilos de peixe de primeira qualidade e com a convicção que o ódio (se é que existiu) se transformou em amizade.

Infelizmente já não voltei a falar com este rapaz que foi a minha sombra na Guiné. O coração do João Parrinha resolveu pregar-lhe uma partida e deixou de bater precocemente, ele já não pertence ao número dos vivos.

Adeus,  João Parrinha, até à eternidade!... E para o pessoal da Tabanca Grande um enorme abraço.

José Nascimento
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15490: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (6): A Bandeira

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15490: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (6): A Bandeira

1. Mensagem do nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) com data de 1 de Dezembro de 2015:

Caro Amigo Carlos Vinhal
Fui encontrar uma pequena história que escrevi há vários anos e que julgava perdida.
Vou digitalizar esta folha e enviá-la tal como está, porque gostava que ela entrasse para a Tabanca Grande.

Entretanto recebe um grande abraço.
José Nascimento


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Nota do editor

Último poste da série de 27 de julho de 2015 Guiné 63/74 - P14936: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (5): Idas a Bafatá para comprar vacas

domingo, 20 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15132: Memória dos lugares (319): Cais do Xime no tempo da CART 2520 (José Nascimento, ex-Fur Mil)

Cais do Xime - Adeus Xime


1. Mensagem do nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) com data de 7 de Setembro de 2015:

Caro camarada Carlos Vinhal
O pessoal da Cart 2520, praticamente acompanhou toda a construção do cais do Xime, já não a tenho a certeza se desde o seu início, se já estava em construção quando lá chegámos.
O seu construtor foi um senhor que se dava pelo nome de Mendes e tinha a seu cargo uma equipa de nativos. Os seus aposentos eram junto aos dos oficiais e dizia-se que bebia uma garrafa de whisky por dia.
Lembro-me perfeitamente do ruído das máquinas a trabalhar, principalmente do bate-estacas a "enterrar" as estacas pelo lodo do rio abaixo e que formaram o suporte de toda aquela estrutura em madeira.
Recorri ao meu álbum de recordações fotográficas para enviar algumas fotos tiradas nesta estrutura, que nos foi muito útil para a descarga de víveres, bem como de munições. Este cais do Xime também serviu de ponto de passagem das nossas tropas que iam para outros pontos da Guiné ou que viajavam para Bissau, alguns para consultas externas, como foi o caso do nosso amigo Joaquim João Pina da CCAÇ 12, de outros que regressavam à Metrópole, ou que mudavam para outras zonas operacionais, como foi o nosso caso.

Entretanto recebe um grande abraço deste amigo,
José Nascimento

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Cais do Xime - A descarregar uma barcaça

Cais do Xime - A descarregar uma barcaça

Cais do Xime - A descarregar uma barcaça

Cais do Xime - A descarregar uma barcaça

Cais do Xime - Fase de Construção

Cais do Xime - Bate-estacas

Cais do Xime - Com o Fur Mil Enf.º Costa, à esquerda

Xime - Estrada entre o quartel e o cais

Cais do Xime - Fase de construção

Cais do Xime - Passagem de tropas e descarregamento de víveres

Cais do Xime e camaradagem

Cais do Xime - Pôr-do-sol

Cais do Xime - Salta periquito

Cais do Xime
Fotos e legendas: © José Nascimento
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15065: Memória dos lugares (318): em terra dos felupes: Bolor, Rio Cacheu, Djufunco, Varela... (Patrício Ribeiro)