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segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18240: Ser solidário (209): Construção de Escola em Candamã, iniciativa da Associação Humanitária Resgatar Sorrisos (Mário Beja Santos / Luís Branquinho Crespo)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Janeiro de 2018:

Meus estimados, 

Sou de opinião que se devia publicitar este pedido sobre os "Diferentes" e os "Viriatos", é nestas coisas que sinto imenso orgulho em ser português. 
Mário

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2. Mensagem de Luís Branquinho

Enviada a 19 de Janeiro
Para: Beja Santos
Assunto: Envio do desenho da Escola da Guiné

Dr Beja Santos
Primeiro que tudo a sua saúde e a dos seus e um Bom ano de 2018.
Suponho que se lembra de mim (escrevi o livro “Guiné - Um Rio de Memórias”) e dou-lhe a conhecer a escola que a Associação Humanitária Resgatar Sorrisos (ONGD) vai começar a construir em Candamá, próximo de Bambadinca: duas salas de aula, casas de banho e cozinha).
Iremos em, Março próximo oito homens em Missão Humanitária concluir a primeira fase da obra que já está marcada no terreno com as fundações já efectuadas.

Como sei que andou por esses sítios (eu andei mais abaixo pelo Xitole e Saltinho) pode informar-me quem esteve nessa zona para além da companhia dos Diferentes e dos Viriatos? Gostaria de os contactar e talvez possa deles obter apoio para a Obra Humanitária que a Resgatar Sorrisos leva a efeito.
Aguardo as suas informações.

Um abraço e ao dispor
Atentamente
Luís Branquinho Crespo








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3. Aqui fica o apelo do nosso camarada Luís Branquinho Crespo (ex-Alf Mil Art da CART 2413, Xitole e Saltinho, 1968/70), sensibilizando os "Diferentes"(?) e os "Viriatos" (CART 2339 dos nossos camaradas Carlos Marques Santos, Ernesto Ribeiro e Torcato Mendonça), assim como outros camaradas que passaram por aquele sector, para ajudarem nesta acção humanitária com origem na ONGD Associação Humanitária Resgatar Sorrisos.
CV
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18053: Ser solidário (208): Tabanca de Porto Dinheiro: unidos pela educação em Timor: convívio com o João e a Vilma Crisóstomo, o Rui Chamusco, o Gaspar e a Maria da Glória Sobral, o Eduardo Jorge Ferreira, a Alice Carneiro e o nosso editor Luís Graça...Vem aí um novo projeto, o LAMET - Luso American Movement for Education in Timor Leste...

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17654: Notas de leitura (984): "Guiné: um rio de memórias", de Luís Branquinho Crespo: exorcizar velhos e novos fantasmas - Parte I (Luís Graça)



Capa do livro do Luís Branquinho Crespo, "Guiné: um rio de memórias". Leiria, Textiverso, 2017, 181 pp. (Prefácio de António Graça de Abreu). [Preço, com envio através do correio: € 15,80 já com portes, podendo esse valor ser transferido para o seguinte IBAN 0010 0000 1888 8110 0015 3.]



1. Esta é a viagem que muitos daqueles de nós, que estivemos na Guiné, entre 1961 e 1974, gostaríamos de ter feito (ou ainda fazer) no tempo útil das nossas vidas… E este é o livro que gostaríamos de ter escrito (ou ainda escrever), no regresso a casa…

”Turismo de saudade ?”… Não, não gosto do termo. Prefiro antes, talvez, expressões como “fazer o ajuste de contas com o passado”, “exorcizar os fantasmas da guerra colonial na Guiné”, “recompor o puzzle esburacado da memória”…

Quarenta anos depois de regressar a casa, são e salvo, mas provavelmente com a morte na alma, como muitos de nós, o advogado leiriense Luís Branquinho Crespo, ex-alf mil, cmdt do Pel Caç Nat 54 (Xitole e Saltinho, 1968/70), voltou aos lugares onde deixou a sua juventude. Foi lá que completou os seus 25 anos, em 22 de dezembro de 1969.

Como muitos outros ex-combatentes que seguiram as mesmas peugadas, voltando à Guiné (uma, duas, três e até, nalguns casos, em missões humanitárias ou não), o autor partiu de avião e voltou por terra, de jipe, com mais dois ex-camaradas, em março de 2010. Atravessou sete países: Guiné-Bissau, Senegal, Mauritânia, Sará Ocidental, Marrocos, Espanha e Portugal. 

Convenhamos que foi uma aventura com alguns riscos calculados… Sete anos depois deu à estampa este livro de 181 páginas, e 21 capítulos. Não é um romance, não é um diário, não é uma crónica de viagem, não é uma biografia, não é um ensaio, não é um documento memorialístico, não é um longo poema, não é um solilóquio… É tudo isto um pouco, é algo mais, é uma mistura de géneros. É também uma ponte lusófona entre dois povos cujos destinos a história aproximou e afastou…

O jurista não matou o poeta da juventude (“Cidade sem fim”, Leiria, 1963). Como também o ex-combatente não impediu o viajante de redescobrir os cheiros e os sabores da “primeira vez“, nem o homem de sentir empatia e compaixão pelos guineenses de ontem e de hoje e de tentar compreender, mais do que explicar, os erros, os bloqueios, os paradoxos e as perplexidades do presente que estão a hipotecar o futuro da Guiné-Bissau.

Não sei qual foi o “making of” deste livro. Mas imagino: o autor deve ter feito o seu “diário de bordo”, além do “registo fotográfico” desta viagem de regresso à Guiné que em grande parte compartilhou com mais dois ex-combatentes, a par de pesquisas no nosso blogue e exploração de outras fontes.

Luís Branquinho Crespo coloca-se decididamente na pele de “viajante” e não de “turista”. Citando Paulo Bowles, uma viagem “é sempre uma experiência íntima” (p. 27). E, como alguém disse, e eu gosto de repetir, um turista é uma espécie de “estúpido em férias”: não vai à descoberta, vai para onde lhe mandam, com tempo e hora marcada...

Para se sentir mais confortável na elaboração da narrativa dessa experiência única (que é voltar à terra onde se viveu e combateu durante quase dois anos, a milhares de quilómetros de casa), ele coloca-se na pele de uma personagem, o Carlos Viegas, hoje contabilista, e que vivia em São Martinho do Porto, Alcobaça, à data da sua mobilização para a Guiné. É, obviamente, o “alter ego” de Luís Branquinho Crespo. De jipe, a que ele chama “toca-toca”, vai percorrer grande parte da Guiné, de Bissau ao Saltinho, com incursões pelo leste (Xime, Bambadinca, Bafatá, Xitole), pelo sul (Contabane, Mampatá, Quebo, Guileje, Cacine) e pelo norte (Varela).

O mesmo “toca-toca” levá-lo-á de regresso a casa, com mais dois companheiros de aventura: o Joaquim (que é o “retrato físico e psicológico” do nosso conhecido António Camilo, comerciante em Lagoa, a quem a revista "Visão" chamou o "o bom gigantye") e o Xavier (de quem se sabe pouco: é enfermeiro em Montemor-O-Novo)… Três almas inquietas, divididas entre o passado e o presente, exorcizando velhos e novos fantasmas..

Esta trilogia, com mais alguns personagens secundários mas fortes (a Fá de Varela, o Braima Bá, o Matias, a Maria, o António Pouca Sorte, o Aníbal do Pelicano, o Dauda, o Tchuto Axon, o Pepito de Iemberém…), podia ser a base da arquitetura de um poderoso romance, se o autor quisesse (e pudesse) enveredar pela ficção… Se o pano de fundo da história fossem os náufragos do império e da luta de libertação…

Mas, não, o autor quis apenas fixar para a posteridade estas suas “memórias da Guiné, alegres e doridas”, como ele deixou expresso na dedicatória autografada no livro que me ofereceu.

Mas, não, o autor quis apenas fixar para a posteridade estas suas “memórias da Guiné, alegres e doridas”, como ele deixou expresso na dedicatória autografada no exemplar do  livro que me ofereceu.(*)

Tinha feito uma primeira leitura em diagonal do livro, quando me chegou à mão, pelo correio, amável oferta do autor. Só há dias o li, na praia, de uma só penada, numa tarde.

2. Na realidade, é uma narrativa que nos toca e nos agarra, àqueles de nós que conheceram a Guiné, a de antes e/ou a depois da independência. O meu destaque vai para dois ou três capítulos fortes: cap 7. António Pouca Sorte; cap 13. ‘A gente tem a alma aberta como ostra comida’; cap 19. Janela do tamanho de porta de partida… É tudo horizonte… E, depois do horizonte, horizonte há…

O António Pouca Sorte, “mais preto que branco”, nascido na serra do Caldeirão em 1965, é uma história de vida pungente, de um homem, fugido à justiça portuguesa, que acabou por se perder pelos matos, bolanhas e rias da Guiné, um tangomau ou lançado dos tempos modernos, sem identidade nem memória (cap. 7).

O dramático relato do Braima Bá é o de um homem que, tendo servido o exército colonial, desde 1964 até ao fim da guerra (, onde acaba integrado no batalhão de comandos africanos), e que vai conhecer “o corredor da morte” do Cumeré, a fuga, o exílio, o opróbio, e que no final da vida ainda tem “a alma abertu suma ostra ora ku i kumedo” (p. 116) (cap. 13).

Por fim, no regresso a casa (cap. 19), Carlos, Joaquim e Xavier visitam a ilha de Goré, em frente a Dacar, capital do Senegal, e obrigatoriamente a casa dos escravos: “por ali passaram 12,5 milhões de homens na direcção das Américas por uma porta estreita que só para o mar” (p. 151)… “Ao Carlos, ao Joauqim e ao Xavier a palavra tornou-se muda e tolda-se-lhes a vista e as pernas tremiam-lhes: quem ali não se lembra de Auschwitz, Birkenau, Bremem, Essen, Treblinka”… (p. 151 “Os negreiros árabes ali os descarregavam” (p. 152)…”Ali está uma parte da miséria da humanidade” (p. 153)…

[A ilha de Gorée está classificada pela UNESCO como património mundial da humanidade´e foi recentemente visitada, incluindo a Casa dos Escravos, pelo nosso Presidente da República em visita oficial ao Senegal].

(Continua) (**)
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2 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17425: Notas de leitura (963): “Guiné, Um rio de memórias”, por Luís Branquinho Crespo, Textiverso, Unipessoal, Lda, 2017 (Mário Beja Santos)

21 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17383: Notas de leitura (959): Prefácio de António Graça Abreu, ao livro "Guiné: um rio de memórias", de Luís Branquinho Crespo, lançado em Leiria no passado dia 6 com a presença do Presidente da Câmara Municipal local, Raul Castro, também ele ex-combatente

18 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17370: Tabanca Grande (437): Luís Branquinho Crespo, ex-alf mil, CART 2413 (Xitole e Saltinho, 1968/70)... Passa a sentar-se à sombra do nosso polião, no lugar nº 744. É advogado em Leiria e autor do livro "Guiné: Um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017)

(**) Último poste da série > 4 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17648: Notas de leitura (983): Um belo conto de Abdulai Sila, “O Reencontro” (Mário Beja Santos)

terça-feira, 6 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17437: Notas de leitura (965): Guiné: um rio de memórias, "alegres e doridas"... Porque regressar é preciso: "costuma(-se) dizer que tem mais dores aquele que nunca regressa completamente"... E quem o reafirma é o Luís Branquinho Crespo, que lá voltou quarenta e tal anos depois...



Dedicatória autografada para o nosso editor: "Para Juís Graça, aqui lhe ofereço estas memórias da Guiné, alegres e doridas. [Luís Branquinho]. 17.05.2017"



Contracapa: texto e  foto do autor


Capa do livro do Luís Branquinho Crespo, "Guiné: um rio de memórias".
Leiria, Textiverso, 2017. 


O autor escreveu a seguinte dedicatória no livro: 

"A todos os que ficaram para lá do mar como o Braima Bá e o António Pouca Sorte", duas figuram que personificam aqui os perdedores de todas as guerras. 





Ficha técnica do livro do nosso camarada Luís Branquinho Crespo, “ Guiné – Um Rio de Memórias” . Preço, com envio através do correio: € 15,80 já com portes, podendo esse valor ser transferido para o seguinte IBAN 0010 0000 1888 8110 0015 3.






1. Excerto, com a devida vénia ao autor e editor, das pp. 95/96. Dá para perceber o estilo incisivo,  seco, frases curtas, às vezes quase telegráficas,  de repórter à Hemingway, do nosso Luís Branquinho Crespo que regressa à Guiné em 2010, mais de quarenta anos depois de ter feito a guerra como alf mil, na CART 2413 (Xitole e Saltinho, 1968/70). (É advogado desde os anos 70, em Leiria, e passou recentemente a integrar a nossa Tabanca Grande, sentando-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 744).

É um livro que se lê num fôlego: 21 capítulos, não chega às 180 pp. Veja-se o índice, e logo um "rio de memórias" começa a fluir, nomeadamente para aqueles, como eu conheceram, no leste, o setor L1, o triângulo Xime-Bambadinca-Xitole... e lidaram quase dois anos com as gentes da Guiné, na paz e na guerra...

Veja-se como o autor, numa pincelada magistral, descreve a aproximação de uma "mulher grande" até ao jipe dos viajantes: " (...) o Carlos, que ia na parte de trás do Toca-Toca, viu-a chegar com aquele jeito manso, bamboleante e sorridente, com que as mulheres do mato, em pose erótica e alegre, sabem dar ao corpo" (p. 95).

É um livro que deve ser lido neste verão, tempo propício para os viajantes, os que partem,os que regressam, por todos aqueles nossos camaradas que já voltaram à Guiné e por todos aqueles que não tencionam, por esta ou aquela razão, lá voltar. Ou que nunca pensaram sequer nessa possibilidade.

A viagem de Carlos Viegas ("alter ego" do autor),  Xavier e Joaquim  termina com esta frase, que tem muito de sabedoria popular e de verdade psicofisiológica: "Costuma(-se) dizer que tem mais dores aquele que nunca regressa completamente" (p.175).

Estou grato ao autor pelo envio deste exemplar autografado. Prometi fazer-lhe, com tempo e vagar, uma mais detalhada nota de leitura, complementando a já feita, "just in time", pelo nosso crítico literário, o Mário Beja Santos, e outras que entretanto possam aparecer. ( **).

Obrigado, Luís, por estas memórias "alegres e doridas" da "nossa" Guiné...  A viagem segue dentro de momentos, por que ao fim e cabo a vida não é mais do que uma viagem pela "picada fora"...  (LG).

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 2 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17425: Notas de leitura (963): “Guiné, Um rio de memórias”, por Luís Branquinho Crespo, Textiverso, Unipessoal, Lda, 2017 (Mário Beja Santos)

(**) Último poste da série > 5 de junho de  2017 > Guiné 61/74 - P17433: Notas de leitura (964): Anuário da Província da Guiné, ano de 1925 - Um documento histórico incontornável (1) (Beja Santos)

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17425: Notas de leitura (963): “Guiné, Um rio de memórias”, por Luís Branquinho Crespo, Textiverso, Unipessoal, Lda, 2017 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Maio de 2017:

Queridos amigos,
Luís Branquinho Crespo tinha fundadas razões para regressar ao Xitole e ao Saltinho. Não é uma viagem solitária, vem em grupo, concede a este um papel subalterno, a romagem pertence-lhe, encontrar-se-á com gente abandonada, um guineense que combateu do lado português e um português que anda por ali aos tombos, não muito conformado mas resignado à, procura de raízes.
Acima de tudo, o que comove da leitura de um texto despretensioso é a entrega da intimidade, onde os pontos mais altos da chamada literatura dos regressos.

Um abraço do
Mário


Tem mais dores aquele que nunca regressa completamente

Beja Santos

Meu prezado Luís Branquinho Crespo,
Agradeço-lhe do coração o envio que me fez do seu livro que li com natural emoção. Nesse ano de 2010, ambos visitámos a Guiné, o Luís ansiava chegar ao Xitole e ao Saltinho, o meu “chão” era o Cuor e também Xime-Bambadinca, foi neste território que vivi 25 meses a fio; seguramente que nos cruzámos, já que vivemos por ali entre 1968 e 1970, Bambadinca era o nosso posto de abastecimento e quando fui viver para Bambadinca, em Novembro de 1969, pelo menos comandei três colunas ao Xitole, certo e seguro cruzámos as nossas vidas. De tal modo, que em 2010 percorri Bambadinca a Xitole, lendo o que escreveu tudo se reavivou na minha memória. Independentemente do prazer que tive em ler o seu livro, que tomei por um despretensioso bloco de notas de impressões de viagem a um retorno tão desejado, não tenho palavras para lhe agradecer o encontro de memórias que me proporcionou. Vamos agora especificamente ao seu livro “Guiné, Um rio de memórias”, que o nosso blogue tão justamente tem referido(1). Primeiro, fez bem, muito bem mesmo, em arquitetar Braima Bá e António Pouca Sorte, náufragos numa guerra e num país novo, que teve uma alvorada promissora e hoje depende de doadores e de um terrível noticiário que mete drogas e governos que não pode governar. As suas memórias inscrevem-se naquilo que Margarida Calafate Ribeiro crismou de literatura de regressos, e tem razão, o que ali aconteceu foi um dos marcos miliários que fez do menino um homem, e todas aquelas experiências foram decisivas, calejaram antigos combatentes em pessoas preparadas para destrinçar com mais rapidez entre o essencial e o acessório.

Segundo, gosto muito da sua viagem com seres humanos que não ter responsabilidade no seu regresso, fez bem, igualmente, em desenhá-los como turistas ou acompanhantes das alegrias e dores do regresso. E usou da simplicidade recordando a Bissau do seu tempo e a Bissau de 2010. Assim chegamos ao encontro com Braima Bá, ele tem muito para contar, fez muitos anos de guerra, fugiu ao terror das matanças da tropa africana que acreditou em Portugal, a despeito de um ódio velho Braima irá mostrar que está do lado da nação guineense, no conflito político-militar de 1998-1999. O quadro da guerra de guerrilhas e o que se passou depois da independência está resumido, parte-se para o Saltinho, anseia-se pelo Corubal.

Terceiro, tece-se no seu rio de memórias uma ida a Guileje e o encontro com António Pouca Sorte, alguém que tentou triunfar nos negócios em Portugal e na Guiné e que vive agora num rio de esquecimento, é imagem de tanta peregrinação de alguém que já não sabe qual a certeza do lugar em que vive. Quem viaja consigo percorre outros lugares, como Bambadinca, mas é o Xitole e o Saltinho os pontos fulcrais da sua literatura de regressos, aí serão retomadas as dores da guerra, a que chama labaredas lembranças, a invocação dos mortos, como se mobilava a solidão naqueles lugares ermos. A contrastar as emoções, o ver como esse mundo se desmoronou, casas em ruínas, ruínas do quartel do Xitole e ali mesmo a decomposição da autoridade do tempo presente, como anotou: A casa dos sargentos era, agora, o posto de polícia do Xitole, onde vivia um que fazia de polícia e tinha acabado de se levantar.

Fazia de conta que era a autoridade. De manhã e à tarde apresentava os olhos cheios de remela e continuava sem fato apropriado, nem boné, nem relógio que lhe comandasse o início de qualquer serviço. Com a irregularidade de se apresentar ao serviço não tinha nem podia ter alguma autoridade. Vestia calções, tufados, velhos e sujos e calçava sapatilhas desbotas na cor e muito usadas”.

Haverá mais observações sobre estados de ruína. E viaja-se até ao Saltinho, pressente-se que o coração anda alvoratado, são lembranças fortes.

Quarto, finda a romagem, há que fazer conceções ou turismo, viagens a Bafatá e a Buba, mas ainda um regresso ao Saltinho, volta-se a falar de Braima Bá e dos fuzilamentos dos Comandos, das operações que ambos viveram, cabe a Braima Bá o relato do fim da guerra e o desabafo de que não houvera reconciliação entre guineenses, continuam zangados, guardam velhos ajustes de contas, de prepotências e traições. Em dado momento, o bloco de notas faz-se uma enorme reflexão sobre o passado e o presente da Guiné, um belo texto.

Quinto, agora começa a viagem de regresso por terra, ao longo do Senegal, da Mauritânia, atravessasse o território Sarauí, mais à frente Marraquexe, depois de outras paragens chega-se a Portugal, os turistas irradiam para os respetivos poisos. E no termo da viagem o narrador despede-se de si e dos outros escrevendo: “Costuma dizer que tem mais dores aquele que nunca regressa completamente”. Às vezes questiono quais as grandes categorias de motivações para se fazerem estas viagens: ajuda humanitária para um povo amável, a quem apraz a nossa presença e o nosso cuidado; o regresso aos locais onde se cresceu e onde se deixaram fidelidades; o sentido da visitação para encontrar ambientes que para muitos foi uma autêntica descoberta de um continente, com aqueles cursos infindáveis de água, um tempo radicalmente divido em duas estações, os assombros dos tornados, das trombas de água, dos solos lunares… E junta-se o pretexto para encontrar gente que combateu ao nosso lado. Seja qual for a motivação dominante, racha o coração aproximarem-se de nós a pedir pensões, a pedir empregos em Portugal, para trazermos os filhos, para aqui estudarem ou serem futebolistas, estenderem a mão a pedir uma magra ajuda, porque se passa fome. Se somos fracos, se já nos informaram o que nos espera, negamos o propósito do regresso; se ali combatemos verdadeiramente ao lado de quem em nós confiou de pedra e cal, é inevitável o regresso, há quem confie que é uma honra merecida ali chegarmos com um beijo, um afago, o peso etéreo de um abraço que vale milhões de palavras. Também por isso se honra o passado comum lavrando estas memórias.
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Notas do editor

(1) - Vd. poste de 21 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17383: Notas de leitura (959): Prefácio de António Graça Abreu, ao livro "Guiné: um rio de memórias", de Luís Branquinho Crespo, lançado em Leiria no passado dia 6 com a presena do presidente da Câmara Municipal local, Raul Castro, também ele ex-combatente

Último poste da série de 29 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17406: Notas de leitura (962): “Arcanjos e Bons Demónios, Crónicas da Guerra de África 1961-75”, por Daniel Gouveia, 4.ª edição, DG Edições, 2011 (3) (Mário Beja Santos)

domingo, 21 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17383: Notas de leitura (959): Prefácio de António Graça Abreu, ao livro "Guiné: um rio de memórias", de Luís Branquinho Crespo, lançado em Leiria no passado dia 6 com a presença do Presidente da Câmara Municipal local, Raul Castro, também ele ex-combatente


Capa do livro do Luís Branquinho Crespo, "Guiné: um rio de memórias".
 Leiria, Textiverso, 2017


Leiria > Celeiro da  Casa do Terreiro > 6 de maio de 2017 > Sessão de lançamento do livro "Guiné: um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017) > Da esquerda para a direita, eng Carlos Fernandes, escritor,especialista em história local e regional (ele próprio natural das Cortes, tal como o Branquinho Crespo, e aqui presente na qualidade de editor),  o  dr. António Graça de Abreu, apresentador da obra, o  dr. Luís Branquinho Crespo, autor, o  dr. Raul Castro, presidente da Câmara Municipal de Leiria,  e José Cunha, presidente da União de Freguesias de Leiria, Pousos, Barreira e Cortes



Leiria > Celeiro da  Casa do Terreiro > 6 de maio de 2017 > Sessão de lançamento do livro "Guiné: um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017) >  O  dr. Raúl Castro, presidente da Câmara Municipal de Leiria,   ele próprio antigo combatente na Guiné, aqui no uso da palavra. (Nasceu em Abrantes, em 1948, é presidente da autarquia leiriense , desde 2009).


Leiria > Celeiro da  Casa do Terreiro > 6 de maio de 2017 > Sessão de lançamento do livro "Guiné: um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017) > O eng Carlos Fernandes, representante da editora,  no uso da palavra.



Leiria > Celeiro da  Casa do Terreiro > 6 de maio de 2017 > Sessão de lançamento do livro "Guiné: um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017) > O dr. António Graça de Abreu, membro da nossa Tabanca Grande, apresentador da obra, e o  dr. Luís Branquinho Crespo, autor.


Leiria > Celeiro da  Casa do Terreiro > 6 de maio de 2017 > Sessão de lançamento do livro "Guiné: um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017) >  Aspeto da assistência


Leiria > Celeiro da Casa do Terreiro > 6 de maio de 2017 > Sessão de lançamento do livro "Guiné: um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017) > Sessão de autógrafos, com o Luís Branquinho Crespo, à direita. (Ex-alf mil, CART 2413, Xitole e Saltinho, 1968/70, advogado em Leiria, passou a integrar a nossa Tabanca Grande desde 18/5/2017, com o nº 744).

Fotos : © Luís Branquinho Crespo (2017). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem, de 18 do corrente, emviada pelo António Graça de Abreu,membro da nossa Tabanca Grande;


Meu caro Luís:

Segue o meu prefácio às "Memórias" do Luís Branquinho Crespo.

Na apresentação do livro, baseei-me neste meu texto, mais umas notas e improvisos. Saímo-nos todos muito bem, para uma sala cheia, aí com 60 pessoas. 

Para publicar no blogue, faltam as fotos do acontecimento. Espero que o Branquinho tas envie em breve. Esteve lá o Presidente da Câmara, dr. Raul Castro, nosso camarada da Guiné, e mais gente grada e de qualidade, de Leiria e arredores.

Este mail também vai para conhecimento do Branquinho Crespo.

Abraço amigo,
António Graça de Abreu


2. Guiné: um rio de memórias, de Luís Branquinho Crespo (Leiria, Textiverso, 2017) > Prefácio de António Graça de Abreu 

Nós todos, ex-combatentes na guerra da Guiné, apanhados na verdura dos anos pelas convulsões do fim do império, somos hoje pacatos cidadãos com bonitas idades entre os sessenta e muitos, setenta e os oitenta anos. Temos trajectórias sinuosas e extremadas por bolanhas, tarrafos, florestas e rios dessa fantástica terra verde e amarela onde delapidámos e construímos os dias, e que permanece em nós, na memória serena ou exaltada de um passado como pequenos ou grandes guerreiros numa guerra que aparentemente nada tinha a ver connosco, mas onde fomos dignos portugueses, como sempre dando corpo a uma enorme e implacável gesta, com séculos de história, eivada de heroicidade, medos e loucura.

Alguns de nós temos tido a ventura de, quase cinquenta anos depois, regressarmos aos lugares onde derramámos sangue, muito suor e algumas lágrimas, onde assumimos uma vez mais este singular sortilégio de um povo estranho e excelente a quem, como recordou o padre António Vieira, já em 1670, “Deus deu pouca terra para o nascimento e tantas outras para a sepultura; para nascer pouca terra, para morrer, toda a terra; para nascer Portugal, para morrer, o mundo.” [1]

Os livros de memórias, diários, relatos factuais escritos pelos velhos combatentes das guerra de África (1961-1974) continuam a aparecer regularmente nos escaparates das livrarias sempre com novas abordagens, objecto do entendimento de cada um, em retratos exemplares de um passado distante mas que continua vivo, está no tutano dos nossos ossos e só se extinguirá quando levarmos connosco para uma outra vida os retratos esfusiantes da nossa quase meninice, com uma espingarda nas mãos, os olhos tracejados a sangue e o esvair de mil sonhos.

Quanto ao conflito bélico, no que à antiga Guiné Portuguesa diz respeito, todos os que por ela passámos, somos porventura os eleitos dos deuses da guerra, pelo extremar das situações de combate, pela inclemência de um clima hostil, pela dificuldade de inserção do nosso combatente num quotidiano onde as chagas e o sofrimento corriam em catadupas, onde, contraditório como tudo o que a Portugal costuma dizer respeito, acabámos por encontrar a harmonia possível, o entendimento fraterno com os nossos camaradas de armas e com as populações nativas. Foi a quase mágica adaptabilidade portuguesa, experimentada, testada pelos quatro cantos do mundo, essa capacidade de inventarmos mais vida, de estarmos de bem connosco e com as mais desvairadas gentes a quem, por tantas singulares razões, ligámos a nossa existência.

O Luís Branquinho Crespo, na tropa, em 1964
Luís Branquinho Crespo é um dos nossos, um excelente oficial miliciano na Companhia de Artilharia 2413 que fez a guerra da Guiné aquartelada no Xitole e depois no Saltinho, terras do interior do território guineense, entre 1968 e 1970.

Ao publicar agora o seu livro Guiné, Rio de Memórias, Branquinho Crespo desdobra-se em descrições iluminadas sobre esse período único da sua vida. Logo nas primeiras páginas temos o relato emocionado da despedida de Carlos Viegas, o alter ego que o autor utiliza como nome nestes textos, ao despedir-se da sua mãe, uma senhora rasgada pelo sofrimento da partida para a guerra do seu filho querido, agarrando-se ao estribo do comboio “branca, lavada em lágrimas e contendo as golpadas da dor da despedida num silêncio que lhe gritou dentro do peito. Tinha a alma cheia de labaredas, como a flor da blusa.”

Esta mãe, é por certo a mãe de todos nós, os que um dia partimos para a guerra da Guiné.

Mas este livro de Luís Branquinho Crespo, ao contrário do que eventualmente possa parecer, não corresponde apenas a um caudal de memórias sobre um passado cada vez mais distanciado das nossas vidas.

Luís Branquinho Crespo, em 2002,
com 57 anos
Branquinho Crespo regressou à Guiné em 2010 para, de bem com a sua consciência, de bem consigo próprio, recordar o passado e empreender depois uma fascinante viagem por terra,
de volta a Portugal. Nesta sua obra mostra-nos um pouco das realidades da Guiné-Bissau, do dia a dia do país trinta e sete anos após a independência, com todos os problemas subsequentes a uma má descolonização e aos quase permanentes conflitos internos numa terra já soberana e dona do seu destino.

O autor lembra a tragédia dos fuzilamentos, em 1975, de centenas e centenas de guineenses que combateram na guerra ao lado das tropas portuguesas. Conversa com um africano que a quase tudo assistiu e que se refere aos homens “descarregados vivos e nunca mais ninguém os viu. Percebes? Nunca mais foram vistos, mas todas noites acordam comigo.” São marcas terríveis num filho da Guiné.

Nas suas andanças recentes pelas terras guineenses, Luís Branquinho Crespo encontra uma figura de português exemplar, de seu nome ou alcunha António Pouca Sorte, homem do barrocal algarvio, expatriado na Guiné-Bissau pós-independência, por obtusas razões, impossibilitado de voltar a Portugal e que se começa a esquecer gradualmente da pátria portuguesa. Depois de 17 anos de vida na Guiné-Bissau, quando perguntado “Afinal o que se passa contigo?” António Pouca Sorte responde: “Eu sou como a Guiné, o meu nome é todo o mundo me esquece.”

Como referi, Branquinho Crespo fez a viagem por via terrestre no regresso da Guiné-Bissau a Portugal, no ano de 2010, num jipe com mais dois amigos através da Guiné, o Senegal, a Mauritânia, o antigo Sahara Espanhol, Marrocos, Espanha e finalmente Portugal. Foram quase cinco mil quilómetros de jornada pelas franjas marítimas do deserto do Sahara, por terras abrasadas pelo calor, distantes de tudo excepto do coração dos raros homens que por aí viajam, se reencontram e em solo quente e inóspitos retalham pedaços de vida.

Este “Guiné, Rio de Memórias” transforma-se então num livro de viagens, entrelaçando ficção e realidade no exaustivo jornadear, de terra em terra, de floresta em floresta, de deserto em deserto, desde a Guiné-Bissau até à “doce pátria” lusitana. São páginas curiosíssimas que se lêem com espanto, numa escrita rica, acutilante, descomplexada mas intensamente trabalhada. De resto, o autor escreve todo este livro com uma limpidez e uma qualidade rara nestas obras que vão sendo publicadas sobre as nossas guerras em África.

Em Goré, no Senegal, ao encontrar os antigos entrepostos de escravos que no passado eram levados para as américas em condições infra-humanas na travessia do Atlântico, Branquinho Crespo debruça-se sobre o infamante comércio de escravos e fala-nos nos “negreiros árabes que ali os descarregavam, depois de terem desbastado à catanada todos os que estivessem cansados (…) Impressionante o número dos que por aquela janela, aquela porta de saída tinham partido. E os que morreram? E como morreram? E como sofreram antes de morrer? E os lançados ao mar? (…) Vão lá e digam o que vão sentir. Ali está uma parte da miséria da humanidade. No meio daquelas cores quentes sente-se frio, muito frio. Tanto frio.

E apenas três almas portuguesas, de jipe, para atravessar o Sahara.”

Guiné, Rio de Memórias, o livro de Luís Branquinho Crespo é uma obra sobre um regresso a África. Mas como recorda o autor “nunca se regressa completamente”, a Guiné da nossa vida de quase meninos, no calor da guerra, no calor do tempo, no calor da fraternidade entre todos, permanecerá dentro de nós, para sempre.

Essa terra onde, como o autor escreve, “a ideia de Estado é uma coisa vaga ou desconhecida. Aliás na Guiné existe Nação, o que parece um contrassenso, mas é assim mesmo. E o Estado está a nascer ou vai nascendo. Ou nunca mais nasce. Ou vai morrendo, mas ainda está imberbe e não é recomendável. Talvez tudo isto espante, mas é verdade.”

E no entanto este livro é igualmente uma obra de confiança nas sinuosidades do comportamento humano, também de crença num futuro melhor para as multifacetadas gentes da Guiné-Bissau que como recorda Branquinho Crespo “Tem uma população jovem alegre, disponível e apesar de tudo cheia de esperança. E vai mudar, começa a haver sintomas de que algo vai mudar. Vão, vejam, sintam.”

Que se cumpram os bons augúrios de Luís Branquinho Crespo nessa espantosa terra verde e amarela, a que todos nós, ex-combatentes na Guiné-Bissau estamos ligados pela memória que nos circula no sangue e no bater ritmado do coração. (**).

António Graça de Abreu

[1] Padre António Vieira, Sermão sobre a fama de Santo António, a 13 de Junho de 1670, em Roma.


3. Onde e como adquirir o livro:

O  livro pode ser pedido à editora que tem a seguinte direcção:

Textiverso, Unipessoal, Lda
Rua António Augusto Costa, n.º 4
Leiria Gare
2415-398 LEIRIA
Contactos telefónicos:
244 - 881 449
966 739 440

E também ao autor:

Luís Branquinho Crespo

Largo da Infantaria 7, n.º 129 - 1.º Andar
2410-111 LEIRIA
Contactos telefónicos
244 843 270
918 353 265

Os interessados não se esqueçam de indicar a direcção...

O livro “ Guiné – Um Rio de Memórias” importa no valor de € 15,80 já com portes e esse valor pode ser transferido para o seguinte IBAN 0010 0000 1888 8110 0015 3

Caso pretendam pagar por cheque pode ser enviado para qualquer uma das direcções acima indicadas,

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17370: Tabanca Grande (437): Luís Branquinho Crespo, ex-alf mil, CART 2413 (Xitole e Saltinho, 1968/70)... Passa a sentar-se à sombra do nosso polião, no lugar nº 744. É advogado em Leiria e autor do livro "Guiné: Um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017)


1. O Luís Branquinho Crespo é o novo membro da nossa Tabanca Grande. Passa a sentar-se, à sombra do nosso poilão, no lugar nº 744. 

Formalizamos deste modo a sua entrada nesta comunidade virtual de camaradas e amigos da Guiné (*). Tínhamos prometido apresentá-lo no dia 11 do corrente. Ele, por sua vez, ficou de nos enviar duas coisas: (i) as duas fotos da praxe, uma atual e outra do tempo da tropa; e (ii) o texto da apresentção do seu livro, que esteve a cargo do nosso camarada António Graça de Abreu.

O nosso grã-tabanqueiro é do tempo do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), esteve no sector L1, na zona leste, no Xitole e Saltinho, como alferes miliciano, na CART 2413.

Sobre esta subunidade temos poucas (13) referências no nosso blogue... Os elementos a seguir discriminados foram-nos fornecidos pelo nosso colaborador permanente José Martins. Muito sumariamente diremos então que a CART 2413:

(i) foi mobilizada Eegimento de Artilharia Pesada nº 2, instalado na Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia;

(ii) foi inicialmente comandada pelo cap art Raul Alberto Laranjeira Henriques, sendo substituido,
pelo cap inf José Medina Ramos;

(iii) tinha como divisa “Nova Onda”;

(iv) embarcou para a Guiné em 11 de agosto de 1968, chegando a Bissau no dia 16 desse mês;

(v)  fez em  Fá Mandinga, a IAO (Intrução de Aperfeiçoamento Operacional), ainda ao tempo do BART 1904;
(vi) participou em m operações nas zonas de Nova Lamego e Cabuca;

(vii) a 12 de setembro de 1968 desloca-se para o sector Xitole, para sobreposição com a CART 1646, tendo assumido a responsabilidade desse subector em 18 de setembro;

(viii)  desloca um pelotão para o Saltinho, ao mesmo tempo que fica integrada no dispositivo de manobra do BCAÇ 2852;

(ix) em 25 de eevereiro de 1969,  com a criação do subsector do Saltinho, foi o pelotão, da CART 2413, substituido pela CCAÇ 2406;

(x) durante alguns períodos e por tempo variável, deslocou pelotões para guarnecer os destacamentos de Quirafo, Sinchã Maunde Buco, Cambassé, Sinchã Madiú e Tangali;

(xi) nos finais de abril de 1969, passou a deslocar um pelotão para a ponte do rio Pulon, também conhecida como como Ponte do Fulas (não sabemos a razão da designação);

(xii) ter,minada a comissão, foi rendida pela CART 2716, em 7 de junho de 1970, tendo recolhido a Bissau, de onde embarca para a metrópole em 18 de junho.

Portanto, a  CART 2413 estava adida ao BCAÇ 2852. Sabemos que foi rendida pela CART 2716 / BART 2917 (1970/72), a que pertenceu, entre outros, o nosso David Guimarães. Mais tarde, hão de passar pelo Xitole os nossos camaradas Francisco Silva, Joaquim Mexia Alves, entre outros, da CART 3492... E ainda temos o José Zeferino, alf mil da 2ª CCAÇ / BCAÇ 4616 (Xitole, 1973/74), que fechou a guerra, com 2 mortos, 15 de maio de 1974, se não erro...
De qualquer modo, os "periquitos" da CCAÇ 12 [ou CCAÇ 2590] cruzaram-se com os "velhinhos" da CART 2413...Fizemos colunas loucas, no 2º semestre de 1969 para levar a "bianda" aos camaradas de Mansambo, Xitole, Saltinho... E operações no mato... Foram anos loucos, os de 1969 e 1970. Estou-me a lembrar da Op Bodião em fevereiro de 1970. Não sei se o Luís Branquinho Crespo participou nessa operação ou se, nessa altura, estava destacado.


2. Sobre  Luís Branquinho Crespo podemos repetir aqui o que já dissemos sobre ele e que vem, de resto, na sua página no Facebook;  

(i) nasceu em Leiria, na freguesia das Cortes; (ii) andou na Escola Secundária Francisco Rodrigues Lobo (Leiria); (iii) estudou em Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, tendo completado o curso em Lisboa; (iv) pelo meio, fez a triopa e a guerra colonial na Guiné, com o poste de alf mil, (v) vive em Coimbra e é advogado em Leiria.

É, além disso, autor do livro "Guiné: um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017), lançado recentemente (**).

Talvez os camaradas, mais velhos,  do tempo do BCAÇ 2852, tal como o Jaime Machado, o Torcato Mendonça ou o Beja Santos... se lembrem do Luís Branquinho Crespo...Se não erro, será o primeiro camarada da CART 2413 a integrar a nossa Tabanca Grande. 

Sobre o Xitole temos 196 referências, menos do que sobre Mansambo (332), Xime (367) ou Bambadinca (574) mas mais do que sobre o Saltinho (108).

O Luís é, naturalmente, bem, vindo à nossa Tabanca Grande.  E fazemos votos para o seu livro seja um sucesso, Aguardemos mais notícias suas e, naturalmente, também histórias do seu/nosso tempo.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17342: Tabanca Grande (436): Luís Branquinho Crespo, autor de "Guiné: um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017) aceita o nosso convite para ser o nosso próximo grã-tabanqueiro


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Capela > 2010 > O Luís Branquinho Crespo  (advogado, Leiria) e o António Camilo (empresário, Lagoa) colocando a imagem de N. Sra. de Fátima, na sua base.




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Capela > 2010 > A imagem, depois de colocada na sua base.

Fotos: © António Camilo (2010). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Mensagem de Luis Branquinho Crespo (autor de "Guiné: um rio de memórias", Leiria, Textiverso, 2017):

[Foto à esquerda, da respetiva página no Facebook]

Data - 10 maio 2017 15:02
Assunto - Rio de Memórias


Meu Caro Luís Graça

Muito obrigado pela ousadia em escrever-me e sobretudo pela franqueza da sua carta (*). Muitos "chutariam" para o lado uma justificação e nem sequer se arriscariam a dizer a verdade. Ainda bem que assim é.

Correu muito bem a apresentação do livro, pode crer.

Com gosto farei parte da Tabanca Grande.

Logo que me for possível mandarei uma fotografia minha do meu tempo de militar e uma actual.

Vou contactar o Dr. António Graça de Abreu para o mesmo vos dar conhecimento do texto de apresentação.

Conheço Guiledje e pertenço aos amigos da capela desse quartel (**), embora o meu tempo tivesse sido no Xitole e no Saltinho. Mas é com muito gosto que depois darei mais dados sobre mim. (***)

Receba um grande abraço deste camarada

Luís Branquinho Crespo
Advogado
Largo da Infantaria 7, n.º 19, 1.º Andar, 2410 - 111 Leiria - Portugal
Tel: (351) 244 843 270  Fax: (351) 244 843 279
_____________________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

7 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17326: Fotos à procura de uma... legenda (85): Nossa Senhora de Fátima de Guileje... a propósito do lançamento do livro de Luís Branquinho Crespo, "Guiné: um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017)

5 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17320: Agenda cultural (557): Lançamento do livro "Guiné: um rio de memórias", de Luís Branquinho Crespo. Sábado, 6 de maio, às 15h30, em Leiria, no Celeiro da Casa do Terreiro. Apresentação do nosso camarada António Graça de Abreu. O autor fez parte do Grupo dos Amigos da Capela de Guileje.


domingo, 7 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17326: Fotos à procura de uma... legenda (85): Nossa Senhora de Fátima de Guileje... a propósito do lançamento do livro de Luís Branquinho Crespo, "Guiné: um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje ou a caminho de Guileje > 2010 > "A Nossa Senhora de Fátima de Guileje"... A última doação à Capela de Guileje, uma imagem de N. Sra. de Fátima, trazida de Portugal por António Camilo e Luís Branquinho Crespo. 

Recordamos aqui uma mensagem do nosso saudoso amigo Pepito (1947-2014), com data de 16/3/2010:

"Luís: Mais uma importante contribuição dos nossos amigos da Capela de Guiledje, o António Camilo e o Dr. Luis Branquinho Crespo (na foto), que fizeram questão de se deslocarem a Guiledje para doarem a imagem da Nossa Senhora de Fátima à Capela. Este gesto tão bonito, foi acompanhado pelos votos de que esta oferta ajude a Guiné-Bissau a encontrar rapidamente os caminhos da Paz. Abraço. Pepito."

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2010). Todos os direitos reservados [ Edião e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário do nosso editor, inserido no  poste P17320 (*), a propósito do lançamento do livro "Guiné: um rio de memórias", de Luís Branquinho Crespo, advogado em Leiria, que esteve na zona leste, Xitole/Saltinho, entre 1968 e 1970, possivelmente a comandar um Pel Caç Nat (sabemos que no  final de 1968, ao tempo do BCAÇ 2852, o Pel Caç Nat 63 estava no Saltinho, o  Pel Caç Nat 53 em Bambadinca, e o Pel Caç Nat 52 em Missirá: em abril de 1969, o Pel Caç Nat 63 vai para Bambadinca).

 Luís, caro camarada da Guiné:

Antes de mais os meus parabéns pela publicação do livro "Guiné: um rio de memórias". Fico sempre feliz quando vejo um camarada meu, dos tempos da Guiné, exorcizar em livro, em prosa ou em verso, os fantasmas que ainda povoam a floresta galeria da nossa dorida memória..

Embora não nos conhecendo pessoalmente, o nome do Luís não me era estranho... Não estudei em Leiria, sou da Lourinhã e acompanhei, à distância, através do meu amigo de infância Álvaro de Carvalho, hoje conhecido psiquiatra, a irreverência e a inquietação, poética, cultural e cívica, da sua geração (onde se incluem figuras públicas como o Alberto Costa...) enquanto estudantes do liceu de Leiria... Recordo-me de ler, fascinado, o vosso jornal e sobretudo a vossa produção poética...

Por outro lado, tenho velhos e bons amigos aí, em Leiria (...). Vou, desde 1975, com alguma frequência à bela capital do Liz... É nesse concelho, em Monte Real, que se tem realizado, todos os anos, desde 2010, o Encontro Nacional da Tabanca Grande, o mesmo é dizer, do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que tem 13 anos de existência...

Em contrapartida, sinto-me constrangido, ao escrever-lhe, porque nunca cheguei a dar resposta, que eu me lembre, ao seu amável convite, de 2/12/2013, para aceitar apreciar e comentar o seu manuscrito e ajudá-lo a encontrar um editor. Remexendo numa das minhas várias caixas de correio, deparei-me com a sua mensagem... Nem sequer foi aberta, o que é lamentável, mas eventualmente desculpável: nessa altura, eu ainda estava no ativo, como professor universitário, e nem
sempre conseguia dar resposta aos muitos mails que recebia, quer por razões profissionais, quer na qualidade de editor do blogue. Confesso que não me lembro desta sua mensagem...

Peço-lhe, tardiamente, que aceite as minhas desculpas. Fico feliz por ter encontrado um editor, para mais da terra. Vou ler o livro e prometo fazer-lhe uma bela recensão, eu ou o nosso crítico literário
Mário Beja Santos. Também seria interessante podermos publicar o texto de apresentação.(...) Sei que o apresentador é de cinco estrelas, o meu amigo e nosso camarada António Graça de Abreu.

E faço questão desde já de o convidar, a si, Luís, para integrar a nossa Tabanca Grande. Somos já 742 os grã-tabanqueiros registados (54, infelizmente, já falecidos)... O Luís tem por certo histórias e fotos para partilhar connosco. Para já, e para o apresentar, só preciso de duas fotos, uma do tempo da Guiné e outra atual, e um pequeno CV militar...

Em tempos publicámos uma espantosa foto que o saudoso Pepito nos mandou com o Luís, de costas, "desembrulhando" a nossa senhora de Fátima de Guileje... Na altura o Luís foi, com o Camilo e o Pepito até Guileje, fazer a entrega da imagem... É uma belíssima e feliz imagem, que junto remeto, para o caso de não a ter. O Luís, afinal, fez parte do Grupo de Amigos da Capela de Guileje! (**)

Receba uma alfabravo do camarada Luís Graça.
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sexta-feira, 5 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17320: Agenda cultural (557): Lançamento do livro "Guiné: um rio de memórias", de Luís Branquinho Crespo. Sábado, 6 de maio, às 15h30, em Leiria, no Celeiro da Casa do Terreiro. Apresentação do nosso camarada António Graça de Abreu. O autor fez parte do Grupo dos Amigos da Capela de Guileje.



O convite chega-nos pela mão atenta e solícita do nosso camarada e colaborador permanente José Martins, que tem uma relação especial com Leiria, terra dos seus antepassados. A Textiverso é uma editora com sede em Leiria. O Luís Brnaquinho Crespo deve ter sido alfeeres miliciano num companhia que estve no Xitole / Saltinho, entre 1968 e 1970, é portanto contemporâneo de alguns de nós (BCAÇ 2852, CCAÇ 12...).


Sinopse do livro

Assombrados por lembranças passadas, três homens, entre vários, regressam ao ponto de partida de há muitos anos.

Num percurso atravessado por bolanhas e tarrafos da terra verde de floresta e do chão vermelho e amarelo da Guiné-Bissau, confronta-se esse rio de lembranças e de memórias mais recentes com os registos da solidão e de abandono como os sofridos por Braima Bá e pelo António Pouca Sorte. A que não é alheia uma descolonização pouco exemplar.

É este derramamento doloroso de memórias que percorre o livro e as elas são tão permanentes que nem o regresso pelo deserto afasta aqueles homens daquelas vidas que ficaram para sempre desacompanhadas.

O livro “Guiné - Um Rio de Memórias” é, também, além do mais, uma viagem íntima por um país de inacreditabilidades


Luís Branquinho Crespo - Nota biográfica 
(i) nasceu em 22 de dezembro de 1944 na localidade de Portelas da Reixida, freguesia de Cortes, concelho de Leiria:

(ii) fez os seus estudos no antigo Colégio Correia Mateus e, em seguida, no antigo Liceu de Leiria;

(iii) ingressou depois na Faculdade de Direito de Coimbra, interrompendo o curso por ter sido mobilizado para a guerra colonial na Guiné-Bissau;

(iv) de regresso, ainda frequentou a Faculdade de Direito de Lisboa, mas acabaria por se licenciar na Faculdade de Direito de Coimbra;

(v) exerce a profissão de Advogado em Leiria desde meados dos anos 70 do século XX;

(vi) publicou em Leiria, em 1963, o livro de poemas “Cidade Sem Fim” (70 p., colec. Almagre, n.º 2, capa de Augusto Mota);

(vii) em 1966, ainda em Leiria, foi co-autor da antologia “Almagre 3”, com Levi Condinho, Jaime Fernandes, António Maria de Sousa e Alberto Costa;

(viii) urante o seu percurso liceal, ganhou um 1.º Prémio de Poesia, e, durante mais de um ano, foi o editor da página cultural “Madrugada”,  no jornal “A Voz do Domingo”, também de Leiria;

(ix) tem colaboração dispersa por vários periódicos.

Fonte: Cortesia de Tinta Fresca - Jornal de Arte, Cultura e Cidadania


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 2010 > "A Nossa Senhora de Fátima de Guileje"... A última doação à Capela de Guileje, uma imagem de N. Sra. de Fátima, trazida de Portugal por António Camilo e Luís Branquinho Crespo. Recordamos aqui uma mensagem do nosso saudoso amigo Pepito (1947-2014),  com data de 16/3/2010: 

"Luís: Mais uma importante contribuição dos nossos amigos da Capela de Guiledje, o António Camilo e o Dr. Luis Branquinho Crespo (na foto), que fizeram questão de se deslocarem a Guiledje para doarem a imagem da Nossa Senhora de Fátima à Capela. Este gesto tão bonito, foi acompanhado pelos votos de que esta oferta ajude a Guiné-Bissau a encontrar rapidamente os caminhos da Paz. Abraço. Pepito."

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné Todos os direitos reservados.
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