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quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P15024: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (XI Parte): Mornas e Segundo Encontro com o RDM num mês

1. Parte XI de "Guiné, Ir e Voltar", enviado no dia 17 de Agosto de 2015, pelo nosso camarada Virgínio Briote, ex-Alf Mil da CCAV 489, Cuntima e Alf Mil Comando, CMDT do Grupo Diabólicos, Brá; 1965/67.


GUINÉ, IR E VOLTAR - XI

Mornas

Tinha-a conhecido em casa da Dora. Uma cabo-verdiana linda, a pele morena clara, lábios um pouco salientes, desenhada sobre o magro, à volta dos 20.
Trocaram as palavras do costume quando a Dora os mostrou um ao outro.
Teresa.
Teresa quê?
Teresa!
Olhos grandes, claros, esverdeados, ficavam bem com aquela pele. Voz doce, ar curioso. Esquiva e desinteressada, virou-lhe logo as costas, cada um foi para seu lado.
Esteve ali, conversou com este e aquele até se fazerem horas. Quando descia as escadas, ela chamou-o, ar atrevido, pareceu-lhe até demais. Mas já vai, não se despede da gente?
É, voltamo-nos a encontrar um dia, atirou ela, vemo-nos por aí, não? Bissau não é assim tão grande!
Se é meu desejo? Saiu a desconversar, meio desconsolado.

Dias depois, sentado no Bento, viu-a passar. Os olhares dos outros chamaram-lhe a atenção. Todos se viraram, não era fácil passar despercebida. Parecia-lhe mais alta. Os olhos com um verde mais magnífico ainda, levemente sombreados, cabelo liso preto, a pousar nos ombros, elegante num vestido sem mangas, azul-escuro pintalgado de bolinhas brancas, a balançar um pouco acima dos joelhos, sandália de meio tacão. Como se tivessem combinado, dirigiram-se um para o outro, mãos estendidas, cumprimentaram-se com alguma timidez. Os olhares dos outros não os largavam.
Ai, não, não me sento aí no café!
Vamos então andar um pouco, por aí?
Meteram-se no carro1, uma volta pelas ruas, por aí não, é a minha casa. Então para onde quer ir? Saíram da cidade, para os lados da Sacor, estacionaram de frente para o Sol, a desaparecer no Geba. O rádio a passar Capri, c’est fini, ela a cantarolar baixo, até começar a falar.


Quem sou eu? Sou este que está aqui, Teresa!
Mas quem és tu, porque estás aqui?
Aqui, como?
Porque estás aqui comigo? Sabes lá, que resposta!
A conversa assim, até encontrar o fio. Esta guerra, os desencontros, as pessoas para um lado e para outro, muita gente deslocada das suas casas, todos a virem para Bissau, muita tropa também, onde é que isto vai parar. Assim, de um momento para o outro, de rajada.
Depois mais suave, as origens, as famílias, os amigos, os interesses. Frequentava o 7.º no liceu de Bissau, os pais eram de Cabo Verde, tencionava fazer Medicina em Lisboa, estava com "As vinhas da Ira" nas mãos, acabara um livro de Hervé Bazin. “Só ódio”, conheces? Queres que to empreste?
Para quê, se é só ódio?
Pode ser interessante para ti, como sabes que não gostas sem o ler?
O que estava ali a fazer, perguntou-se. Como se tivesse adivinhado ela adiantou que gostava de estar ali, de olhar o Geba, de o conhecer, de olhá-lo nos olhos. Mas quem és tu, ainda não falaste de ti!
O dia a cair como cai em África, noite num momento. Temos que ir, não é?
Deixou-a à porta da Sé, junto à rua dela. Até amanhã, Teresa. O grupo dele saía na madrugada seguinte, para o norte.

No regresso procurou-a. Os olhos, grandes na mesma, pareciam de cor diferente, o rosto mais fechado, algum problema?
Uma semana à espera este tempo todo, começou ela, porque não apareceste? Olha-me de frente, assim não, olha-me nos olhos, assim! O que sou para ti, ora diz? Porque me foges com os olhos?
Séria, os olhos a entrarem por ele dentro, porque andas atrás de mim? Não falas? Responde! Porque não falas? Gosto que me contes tudo! Mais calma, encostada a ele, tão baixo que mal a ouviu, vamos sentar-nos no jardim? Estamos mais à vontade, a mamã não está, se ela aparecer apresento-ta, qual é o mal?
Que gostava, mas agora não. Então logo? Os papás ficam no varandim a aproveitar o fresco, até às 11, depois vão-se deitar.
Que é que te deu, não falas? Tens namorada na metrópole? Todos vocês têm, sei muito bem, como é ela? A boniteza não é só na cara, sabias? Não gostas de mim? Então que estás aqui a fazer?
Estás a olhar assim para mim porquê? Achas que não temos cabeça para pensar, que só somos corpo para vocês gozarem?
Vens logo à noite? Quando os papás se vão deitar fico sempre um bocado à janela.
Atordoado, saiu dali, sem saber o que fazer, nem para onde ir até. Uma mulher diferente!
Depois o tempo passou, o entusiasmo teve altos e baixos, até esfriara, há quase um mês que não se viam.

Do portão viu a Dora ao cimo das escadas. Ambiente animado, pessoal a dançar cá fora, meia dúzia de pares, tudo gente cabo-verdiana, colados uns aos outros, aquele jeito deles, os corpos no ritmo das mornas e coladeras.
Então, bem aparecido, zangado comigo?
Que não, nada de que se lembre, os olhos dele pelo baile, a Teresa a dançar, a um metro bem medido do par, a saia do vestido acima dos joelhos, o decote a mostrar. Mal os olhos se cruzaram, ela encostou-se ao parceiro, a cara para o outro lado.
Passa-se alguma coisa que eu não saiba? Que não, não havia problema nenhum, andava ocupado, aos fins dos dias não tinha vontade de sair, só isso, mais nada.

Despediram-se da Dora, isso agora vai, olhar maroto para as mãos deles. Tinham dançado uma e outra vez, quase só os dois no fim, tão colados que os outros até repararam.
Meteram pela rua de Santa Luzia, de mãos dadas, a brincarem um com o outro, a rirem-se por ali abaixo.
À porta dos pais dela, os rebentamentos que ouviam há já algum tempo soavam mais fortes. Agora é todas as noites isto! Estes tiros onde são?
Jabadadas2, menina, chega-te para cá, para onde vais, Teresa?
Tenho medo, não posso, encosta-te então, não te sentes mais abrigada assim, não é das explosões que tenho medo, então de que é?
Uma mão na perna, a subir, ai, aí não! Respirações atrapalhadas, afastados, um momento que não acabava, a olharem um para o outro, uma sirene bem perto, os lábios a rasparem-se, o gosto da boca dela, a mão dele nos seios, aqui não, anda, não podemos ficar aqui, mãos amarradas, que malucos, que é que estamos a fazer?
Na espreguiçadeira onde se recostava a ler e a sonhar nas tardes quentes de Bissau, ansiosa, não sabia o que queria, a mão dele fazia-lhe comichão no joelho, riso abafado das cócegas e do nervoso. A mão em cima da dele, parecia-lhe que a acalmava. As duas mãos juntas, a subirem por ela acima, não posso, tem cuidado, miminhos só, não me faças mais nada!

Não ando a fazer nada com ela, nem pretendo nada da Teresa, só passar uns momentos entretido. Não sei é se me vou aguentar assim!
Esta história com a Teresa pode dar chatices, pode trazer-te problemas!
No 14-04 com o pára-brisas no capô, vento na cara, a falar com ele, a caminho de Brá.
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Notas
1 - Volkswagen alugado
2 - Flagelações quase diárias a Jabadá, do outro lado do Geba

************

O 2.º Encontro com o RDM num mês

‘Nunca louvarei capitão que diga não cuidei’

Tal há-de ser quem quer, com o dom de Marte,
Imitar os ilustres e igualá-los:
Voar com o pensamento a toda parte,
Adivinhar perigos, e evitá-los,
Com militar engenho e subtil arte,
Entender os inimigos, e enganá-los,
Crer tudo, enfim, que nunca louvarei
O Capitão que diga: "Não cuidei".

Lusíadas
Luís de Camões
Canto VIII, 89

Uma história que não gostava nada de recordar e que se esforçava por esquecer, passara-se em Jolmete, na zona de Teixeira Pinto, no noroeste, ainda não há muito tempo.
Uma zona calma, de um momento para o outro transformou-se num barril de pólvora seca.
O grupo “Centuriões” tinha regressado de lá com três feridos, um dos quais logo evacuado para o Hospital da Estrela. A única acção de fogo em que estiveram metidos consistiu na reacção ao primeiro ataque ao aquartelamento de Jolmete, com o grupo acidentalmente lá.
Era a primeira vez que a companhia lá estacionada via fogo a sério. Sabe-se qual é a reacção da grande maioria de quem é atacado. Primeiro, procura-se abrigo, depois se vê.
Só que naquela noite, o vê-se ficou-se no grande celeiro que os abrigava, a ver se o IN se chateava e ia embora. O que não aconteceu, claro. Se não fosse o grupo do Rainha estar cá fora, por não caber mais ninguém no armazém, abrigar-se e responder, muito provavelmente os atacantes podiam ter feito mais estragos.
Ficaram bem impressionados com a resposta do grupo e o capitão das operações do batalhão estacionado em Teixeira Pinto pediu que, ou continuassem ou fossem outros deles para lá. E foi assim que outro grupo apareceu em Teixeira Pinto e nesta história.

Quando chegou, viu uma povoação agradável, para as proporções locais. Arrumada, uma rua larga fazia de centro e de passagem para tudo à volta.
Foi recebido por um tenente-coronel, voz esganiçada, pequena estatura, careca, franzino, pouco mais de 50, talvez, uma caricatura de militar, pareceu-lhe.
Na sala de operações, um quarto com um mapa grande da zona pregado com pioneses na parede, o Tenente Coronel explicou a situação militar da zona do batalhão sob o seu comando. Para além do alferes do grupo de comandos estava presente também o capitão das operações, um homem diferente como veio a comprovar mais tarde.
Estava tudo em ordem, insistia o comandante do batalhão, a pacificação era um acontecimento, só umas pequenas borbulhas lá para os lados do tal Jolmete. Pingalim para o mapa, quero que você e o seu grupo vão aqui, depois ali, para aí a 10 centímetros para norte do primeiro local e depois venham para aqui, Jolmete no pingalim, outros 10 centímetros para leste. Não deixou de esboçar um sorriso, lá no íntimo e não está mesmo seguro que o sorriso não tenha sido visto pelo estratega. No mapa, aquelas voltas todas dava para aí meio metro. Depende da escala, claro, mas meio metro para um dia, mesmo naquele mapa, pareceu muito. Mesmo assim, se houvesse motivos suficientes, iam a isso que era para isso que ali estavam.
É de notar que o tenente-coronel, soube-se depois, ficara algo incomodado com o relatório que o alferes Rainha fizera e que lhe chegara do QG uns dias antes com um pedido de esclarecimento do chefe da 3.ª Rep. indagando as razões que tinham levado o comando do batalhão a permitir que o nativo de nome Antigas, capturado pelo IN e solto dias depois de ter estado num acampamento IN na área de Bugula, quando se apresentou na sede do batalhão, em vez de ter explorado imediatamente o sucesso o deixou abandonar o quartel e andar pela povoação a contar a história.
Nada de processos de intenções, mas é um aspecto que se deve considerar, tendo em conta os acontecimentos que se seguiram.

Para quantos dias, meu tenente-coronel?
Tudo de seguida! Depois de regressarem logo se vê, peremptório.
O alferes olhou-o e viu que tinha pela frente um guerrilheiro com uma larga experiência em secretarias e departamentos similares, sem imaginar que a especialidade que tirara ainda fora mais apurada.
Tribunais Militares, RDMs e secretarias, veio a saber depois, tinham sido os principais campos de batalha que praticara até à data.
O alferes com um ar, diga-se, nada adequado para um caso daqueles, ora bem, meu tenente-coronel, então V. Ex.ª quer que o grupo vá aqui, depois para aqui e depois para aqui, não é? Tudo de seguida?
Porquê um esforço destes, tantos quilómetros de mata, rios e tarrafos, bolanhas, em plena época das chuvas, sem qualquer conhecimento da localização de acampamentos INs que não seja o que se diz aí pelas ruas? Porque não fazer uma saída de cada vez, com objectivos bem definidos, em vez de andar a passear pelo mato?
Os comandos são grupos reduzidos, meu tenente-coronel e até aqui têm sido empregues em golpes de mão, com objectivos bem localizados e com guias de confiança. Outras missões são para outro tipo de tropas!
Não lhe compete dizer o que se deve fazer, aqui quem manda sou eu e o nosso alferes executa.

Uma miséria de abandono, Jolmete era um barraco enorme, onde estavam lá metidos nas piores condições cerca de 100 homens, arame farpado à volta, logo junto ao barracão. O capitão Corte-Real, comandante da companhia, o que não queria era chatices, e verdade seja dita, só deixou de as ter quando, meses mais tarde, foi estraçalhado por uma mina entre Farim e o K3.
O grupo saiu naquela noite como estava combinado, chuva em cima, trilhos e trilhos, tarrafo intransponível, poderiam andar lá dias se não tivesse decidido ir por outro lado. À hora marcada lá estava o PCV3 no ar, o tenente- coronel então onde estão?
Aqui em baixo, onde havia de ser? Assinalar com uma granada de fumos para saber onde estamos? Uma granada de fumos não lanço. Estamos aqui junto a esta bolanha, para norte do seu PCV.
Aí? Mas não foi isso que eu determinei! Volte já para lá, para o local combinado!
A conversa assim toda animada, indique então a posição para onde quer que a gente vá.
Viemos desses lados, vamos voltar aí para quê, está a ver aí de cima alguma posição IN? Nós é que temos que ver aqui em baixo? Olha Álvaro, o soldado do rádio, desliga mas é essa merda!
E o Álvaro cumpriu a ordem.
E andaram por aqueles trilhos dentro de água, o dia todo até à noite quando chegaram mais mortos que vivos a Jolmete.
Espaço para dormirem no barracão não havia, para comer havia umas excelentes bolachas, daquelas que só vão para baixo com meio litro de água.
Abrigaram-se debaixo das árvores que havia por ali, a tentar dormitar, com pingas de água a cair-lhes em cima.
De madrugada, tocaram-lhe no ombro, o comando do batalhão estava a enviar-lhe uma mensagem.
Explique com urgência os motivos do não cumprimento da missão. Que a missão estava em marcha, voltaria a sair, para o outro ponto indicado, às 5. Não! Vai sair mas é para outro lado, para aqui, para Teixeira Pinto, debaixo de prisão, vou mandar uma coluna buscá-lo.
Foi assim que o alferes foi transportado, numa viatura, por um compreensivo capitão com os elementos do grupo a fazerem o caminho a pé.
No quarto de operações, o tenente-coronel aguardava-o, com o capitão das operações. Que não tinha cumprido a missão e ainda fora mal educado para um oficial superior.
Um auto de averiguações, duas horas para responder por escrito a 34 quesitos.
Um criminoso de guerra, um desertor, ou quê?
Veja lá como fala, sou seu superior, sou tenente-coronel, sou o comandante deste Batalhão! E o nosso alferes está aqui às minhas ordens, com todas as consequências, não se esqueça!

Tinha na frente um bravo militar, esqueceu-se e não devia. Está-se a ver o que aconteceu. Um auto de averiguações transformou-se num auto corpo de delito, numa hora ou menos, uma rapidez que nem no tribunal militar territorial de Tomar!
E 5 dias de prisão disciplinar, o máximo da competência do tenente-coronel.
Tinha acabado de ouvir as razões do castigo, os oficiais, todos em sentido no tal quarto. Sim, que ouvira o que fora lido, que ouvia bem. E que ia reclamar da redacção da punição por, no seu ponto de vista, a redacção não corresponder aos factos. Aguente aí, alferes, o capitão das operações a murmurar baixo, a mexer-se.
Tem que pedir licença para reclamar! De qualquer maneira, concedo-lha.
Cá fora, em conversa com alguns alferes que assistiram à cerimónia ficou a saber que o tenente-coronel era muito disciplinador.

Depois foi o regresso a Bissau. Mal chegou não descansou enquanto não contactou com um dos ajudantes de campo de Governador-Geral, um alferes conhecido de outros gabinetes. Dias depois foi chamado ao Palácio, apresentou-se no gabinete do General Schulz. O General veio até cá fora, ao jardim, e foi aí que teve conhecimento, pela sua boca, dos factos.
Se acha que está a ser injustiçado, recorra, senhor alferes, foi a primeira resposta que ouviu.
Agradeceu ao general o conselho. Mas a principal razão que o levara a pedir que o recebesse tinha a ver com o crachá que o General lhe tinha entregado em mão no final do curso. E que estava ali para o devolver se o general, a partir deste caso de Jolmete, não o considerasse apto a chefiar uma unidade de comandos.
O General mudou o charuto para a outra mão, deu dois passos e olhou-o.
Continue o seu trabalho e faça tudo para que não voltem a ocorrer situações dessas, rematou o Governador-Geral de mão estendida.

Um caso que se arrastou meses e meses. Mudou o capitão dos comandos, mudou o Brigadeiro Comandante Militar, o tenente-coronel de Teixeira Pinto foi transferido para o sul, Catió mais precisamente, muita coisa andou, nada de resposta à reclamação que apresentara. Nem ninguém, desde a 1.ª à 4.ª Rep. sabia onde parava a folha de papel de 25 linhas.

Em meados de Fevereiro do ano seguinte, o novo comandante da Companhia de Comandos disse-lhe que o Comandante Militar, o Brigadeiro Reymão Nogueira, queria pôr ponto final naquela questão, que era melhor ir lá falar com ele.
Alferes, estas questões não adiantam nada ao andamento da guerra, só atrapalham. Claro que são importantes, especialmente quando, como parece ser o caso, não houve motivos assim tão sérios para uma tão severa punição. O que aconteceu foi que o alferes demorou a cumprir uma ordem de um oficial superior. Facto grave! Por outro lado, há que ver as atenuantes que eu acho que não validam a sua atitude, ajudam a compreendê-la.
É do seu conhecimento que a sua punição não sofreu até agora qualquer agravamento. Nem eu nem o nosso Governador-Geral a agravaram. Bom, o que tenho a dizer é o seguinte. O alferes retira a queixa contra o nosso tenente-coronel e eu, não lhe agravo a punição. E é de regra, o Ministro não mexer em penas que não tenham sido agravadas pelos Comandantes Militares.
Finalmente, e isto é muito importante, a sua punição, já publicada em Ordem de Serviço, está registada, não há nada a fazer. Não ocorrendo mais nenhum problema disciplinar, ainda temos de pensar como vamos encerrar o assunto, ok? Entendido?
Cansado, aquele processo há meses a moê-lo, muitas outras coisas na cabeça, optou pela retirada. Dá licença que me retire, meu Brigadeiro?
Enquanto descia as escadas o primeiro pensamento que lhe veio à cabeça foi pirar-se dali para fora, desertar!
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Nota
3 - Posto de comando volante ou de comando aéreo, normalmente a bordo de um Dornier.

(Continua)

Texto e foto: © Virgínio Briote
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Nota do editor

Postes anteriores da série de:

28 de Junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14803: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (I Parte): Introdução, Dedicatória e A Caminho

30 de Junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14814: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (II Parte) Em Cuntima, na fronteira Norte com o Senegal (1)

30 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14817: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (II Parte) Em Cuntima, na fronteira Norte com o Senegal (2)

2 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14827: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (III Parte): Morreu-me um gajo ontem

7 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14845: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (IV Parte): Comandos do CTIG

9 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14857: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (V Parte): Brá, SPM 0418

14 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14876: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (VI Parte): A nossa causa é uma causa justa

23 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14922: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (VII Parte): Clara; Apanhado à mão e Entre eles

30 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14951: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (VIII Parte): "Hotel Portugal"; "Um guia" e "Artigo 4.º do RDM"

6 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14975: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (IX Parte): Mais dois lugares è mesa; Bomba em Farim e Rumo a Barro
e
13 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14998: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (X Parte): Barro, Bigene; Bigene, Barro

sexta-feira, 15 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11256: Agenda cultural (256): Camões levou 20 anos a escrever 'OS Lusíadas': dez cantos, 1102 estrofes, 8816 versos, 88160 sílabas métricas... O ator António Fonseca levou 4 anos a decorá-los e amanhã, no CCB, vai dizê-los, das 10h às 24h, no CCB, em Lisboa... Acontecimento único, a não perder: afinal são os 8816 versos da nossa identidade maior!...



Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões. Capa da primeira edição, 1572 (Fonte: Wikipédia)


"Do justo e duro Pedro nasce o brando,
(Vede da natureza o desconcerto!)
Remisso, e sem cuidado algum, Fernando,
Que todo o Reino pôs em muito aperto:
Que, vindo o Castelhano devastando
As terras sem defesa, esteve perto
De destruir-se o Reino totalmente;
Que um fraco Rei faz fraca a forte gente."

Luís Vaz de Camões, Os Lusíadas, Canto III, estrofe 138 [Negritos nossos. LG]



.
CAMOES, Luís de, 1524?-1580
Os Lusiadas / de Luis de Camões. - Lisboa : em casa de Antonio Gõçaluez,, 1572. - [2], 186 f. ; 4º (20 cm) 

http://purl.pt/1
http://purl.pt/1/cover.get

 - Edição princeps conhecida por edição "Ee", distingue-se pela sétima estância da primeira estrofe "E entre gente remota edificarão". - Assin.: [ ]//2, A-Y//8, Z//10. - Na portada cabeça do pelicano voltada para a esquerda do observador. - Folha branca com notas manuscritas PTBN: CAM. 2 P.; CAM. 3 P.. - Encadernação da época de pergaminho, com falta dos atilhos PTBN: CAM. 4 P.. - Pert. na f. [2]: «T. NORTON» PTBN: CAM. 2 P.. - Nota manuscrita na folha de guarda: «Pertencia a livraria de D. Francisco Manuel de Mello»; na p. de tít.: «Manoel Lopes Teixr.ª»; na última f.: «D. Jer.mo Correa da Costa» PTBN: CAM. 4 P.. - Exemplar restaurado PTBN: CAM. 2 P.. - Anselmo 697. - D. Manuel 136. - Simões 116

CDU 821.134.3-13"15" [Portugal. Biblioteca Nacional]


1. CCB - Centro Cultural de Belém, Lisboa, Sábado, 16 Mar 2013 - 10:00 às 00:00 (*)


 TEATRO MERIDIONAL – ANTÓNIO FONSECA

OS LUSÍADAS, de Luís Vaz de Camões (**)

António Fonseca dirá os dez Cantos, num único dia. O público pode assistir ao espectáculo integral ou assistir a alguns Cantos. O Canto X será dito em partilha pelo António Fonseca e alguns participantes que trabalharão previamente com o actor na aproximação ao poema.

Horário:

Canto I > 10h00
Canto II > 11h00
Canto III > 12h00
Canto IV > 15h00
Canto V > 16H00
Canto VI > 17H00
Canto VII > 18H00
Canto VIII > 19H00
Canto IX >  22H00
Canto X > 23H00


Pequeno Auditório
M/12 anos
Preços 2€ cada canto. Descontos>  10 cantos 16€; 5 cantos avulso 8€. Não há lugares marcados

Sinopse:

(...) "Os Lusíadas são, para nós, portugueses, a maneira maior de contar um tempo, de diversas formas inscrito nos nossos cromossomas e na nossa memória, em que todos os conceitos da mundivisão foram completamente alterados, em que as paredes se romperam: um punhado de homens lança-se no espaço desconhecido, por razões que podemos imaginar: ambição, desespero, aventura, convicção, necessidade, inconsciência…

As mudanças, políticas, sociais e económicas que vivemos em catadupa exigem o reforço da nossa identidade individual e colectiva, das nossas âncoras. Actualizar aquelas motivações de viver, que são ainda, apesar de tudo, as nossas, através da arte maior da poesia de Camões" (...).

Concepção e interpretação >  António Fonseca
Espaço cénico e figurinos > Marta Carreiras
Desenho de luz > José Álvaro Correia
Música original e sonoplastia > Fernando Mota
Fotografia > Susana Paiva
Assistência > Rosa Cardoso
Assistência de cenografia > Marco Fonseca
Montagem > Marco Fonseca e Nuno Figueira
Operação técnica > Nuno Figueira
Registo vídeo > Patrícia Poção
Produção executiva > Natália Alves
Direcção de produção > Maria Folque
Produção > Teatro Meridional
Direcção artística do Teatro Meridional > Miguel Seabra e Natália Luiza

2. Recortes de imprensa:

 (i) Local.pt

(...) "Os Lusíadas, obra maior da nossa Literatura e da Literatura Universal,  tem, entre nós, vários defices: é semi-odiada quando somos alunos do ensino secundário; é apreciada sem ser conhecida quando crescemos; é uma vaga referência cultural ligada, pelo menos, à toponímia de alguns centros urbanos; e, para muito poucos de nós, portugueses e falantes do Português, é uma grande estória primordial de Ser Humano, uma síntese de algumas das ideias que moldaram e moldam a nossa vida e a nossa Cultura. Este projecto pretende ser uma proposta de actualização desta estória: no seu pensamento, nas suas referências históricas, no nosso imaginário colectivo, na sua arte maior de poesia. Não vou recitar os dez cantos de Os Lusíadas, vou dizê-los com o coração" [, António Fonseca].

(ii) RTP > Antena Um:

(...) De fio a pavio, a obra maior de Luís Vaz de Camõe foi dita, hora a hora, no palco do grande auditório do Centro Cultural Vila Flor [, Guimarães 2012]. Um projeto do ator António Fonseca, que há alguns anos se embrenha pelas estrofes de "Os Lusíadas". É dito um canto por hora. O último, o Canto X, junto com várias famílias entusiastas de Guimarães. Em palco quase cem pessoas numa produção que foi apresentada a 9 de junho [de 2012]. A antena 1 assistiu a um dos ensaios. (...)

(iii) UCV.UC > Televisão Web da Universidade de Coimbra  > You Tube > "Os Lusíadas - A Viagem", com António Fonseca (vídeo 3' 50'')


(...) 8816 Versos

Título original:
8816 Versos
De:
Sofia Marques
Classificação:
M/12
Outros dados:
POR, 2012, Cores

É dito que Camões terá demorado 20 anos a escrever os 8816 versos que compõem Os Lusíadas.
António Fonseca dedicou quatro anos da sua vida a torná-los seus. Neste filme, é documentado o ano que antecedeu a apresentação final da falação d' Os Lusíadas, a 9 de junho de 2012, no âmbito dos Festivais Gil Vicente em Guimarães, que deu os versos de Camões a ouvir e a dizer. Texto: Cineclube de Guimarães. (...) 
_________________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 9 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11218: Agenda cultural (255): Convite para o 5.º encontro da "Tertúlia Fim do Império”: Messe da Batalha/Porto, dia 14 de Março, pelas 16h00 (Manuel Barão da Cunha)

(**) Apontamentos sobre Os Lusíadas (Excertos)


Rota da primeira viagem de Vasco da Gama

Vasco da Gama partiu de Lisboa com três navios e um barco de mantimentos em Julho de 1497. Fez escala na Ilha de Santiago, em Cabo Verde, e daí navegou directamente para Sul, no que viria a ser a mais longa viagem por mar até então empreendida. Virou a sudoeste para evitar as calmarias  do Golfo da Guiné, depois a sueste para alcançar novamente a Costa Africana. Passados 90 dias sem avistar terra, aportou à Baía de Sta. Helena, na África do Sul, em Novembro de 1497. Passou o Cabo da  Boa Esperança com alguma dificuldade devido às tempestades. Depois de ultrapassar o limite das  navegações de Bartolomeu Dias, a expedição iniciou as suas descobertas próprias: Natal, no dia 25 de  Dezembro, o rio Zambeze um mês mais tarde, a Ilha de Moçambique em começos de Março. A frota  atingiu Mombaça, o actual Quénia, depois Melinde, mais a norte, em Abril de 1498, onde puderam manter  relações amigáveis com o rei local e obter um piloto árabe famoso (Ahmad Ibn Majid) que levou os  barcos até à Índia. Empurrada pela monção de sudoeste, a frota estava à vista da Índia em 18 de Maio.  O desembarque realizou-se quatro dias mais tarde.

Depois de três meses de negociações com alternativas de amizade e de hostilidade aberta,  Vasco da Gama iniciou o caminho de regresso trazendo os navios carregados de especiarias e de outras mercadorias de preço. Largando a 29 de Agosto de 1498, chegou a Lisboa depois de grandes dificuldades e de ter perdido um navio, nos finais do Verão de 1499. (...)

(---) A forma

"Os Lusíadas" foi lido pela 1ª. vez a D. Sebastião e editado em 1572, após a  necessária autorização e licença da Inquisição. O poema está dividido em 10 cantos e é constituído por 1102 estrofes [, 1102 x 8 = 8816 versos, 88 160 sílabas métricas]. O canto mais longo é o X com 156 estrofes. As estrofes ou estâncias são oitavas e cada verso é  composto por 10 sílabas métricas (verso decassilábico ou heróico). As estrofes apresentam  o seguinte esquema rimático invariável: a b a b a b c c, rima cruzada nos 6 primeiros versos  e emparelhada nos dois últimos. (...)

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Guiné 763/74 - P10628: Blogpoesia (304): Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades [Ta muda tenpu, ta muda vontadi] (Luís de Camões / José Luís Tavares)


Efígie de Luís de Camões, "principe dos poetas. Selo de 50 centavos, Guiné, República Portuguesa, emitido por ocasião do 400º aniversário de Os Lusíadas



Fonte: Cortesia de

Postugal > Portugal on stamps, blog de Michel Wermelinger [ "I’m a Portuguese living in the UK and this is a ‘show and tell’ site about my home country. The rest of this page explains how the site and my stamp collection are organised. Thanks for dropping by and I hope you enjoy the visit" (Michel Wermelinger)].


[Poste dedicado aos nossos amigos da banda portuguesa de música klezmer Melech Mechaya em digressão por Cabo Verde e Brasil, no âmbito da 20ª edição do Festival Sete Sois Sete Luas: João Graça, violino e nosso grã-tabanaqueiro; Miguel Veríssimo, clarinete; André Santos, guitarra; João Sovina, contra-baixo; e Francisco Caiado, percussão; e que esta noite estão a tocar na Ilha da Brava, berço desse poeta maior da caboverdianidade, que se chama Eugénio Tavares, 1867-1930]


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, 
Ta muda tenpu, ta muda vontadi, 

Muda-se o ser, muda-se a confiança; 

Ta muda ser, ta muda konfiansa; 

Todo o mundo é composto de mudança, 

Tudu mundu é fetu di mudansa, 

Tomando sempre novas qualidades. 

Ta toma senpri nobus kolidadi. 



Continuamente vemos novidades, 

Sen nunka pára nu ta odja nobidadi, 

Diferentes em tudo da esperança; 

Diferenti na tudu di speransa; 

Do mal ficam as mágoas na lembrança, 

Máguas di mal ta fika na lenbransa, 

E do bem, se algum houve, as saudades. 

Y di ben, si izisti algun, ta fika sodadi. 



O tempo cobre o chão de verde manto, 

Tenpu ta kubri txon di berdi manta, 

Que já coberto foi de neve fria, 

Ki di nebi friu dja steve kubertu, 

E em mim converte em choro o doce canto

Y, na mi, ta bira txoru u-ki n kantaba 



E, afora este mudar-se cada dia,
Ku dosura. Y, trandu es muda sen konta,

Outra mudança faz de mor espanto: 

Otu mudansa ta kontise ku más spantu, 

Que não se muda já como soía. 

Ki dja ka ta mudadu sima kustumaba.


Camões (c. 1524-1580)


Tradução, do português para crioulo cabo-verdiano, de José Luís Tavares)
Fonte: Blogue Um Reino Maravilhoso > 3 de fevereiro de 2011 > Camôes em crioulo cabo-verdiano [Adaptado e reproduzido aqui, com a devida vénia...)


_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 6 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10625: Blogpoesia (303): Quero um futuro marcado com traço por mim riscado (Josema)

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6571: Blogpoesia (73): Viva Portugal! (Felismina Costa)

1. Mensagem da nossa amiga e tertuliana Felismina Costa* com data de 9 de Junho de 2010:

Amigo Carlos Vinhal
Comemorando mais uma efeméride tracei umas linhas sobre a Pátria que nos viu nascer:
A nossa Pátria! e tomei a liberdade de lhas enviar.

Aproveito para lhe agradecer o link para o contacto com as estórias do amigo Juvenal Amado, pois são muitos agradáveis.

O meu obrigada pela sua atenção e o meu desejo de um bom feriado e de comemorações onde todos vós, sois os nossos heróis de referência.

Um abraço para todos da amiga
Felismina Costa


Viva Portugal!

Gritamos orgulhosos
Em qualquer parte onde viva um português!
Orgulhosos da Pátria de Camões
Da Pátria de Pessoa
Da Pátria de Eça, de Camilo,
De Aquilino, de Cesário, de Régio, de Torga,
Da Pátria de Matildes, de Sofias, de Natálias de Anas
De Adolfos, de Afonsos, de Anteros
Pátria de Herculano, de O Neil
De Almada, de Garret, de Bernardim, de Damião de Góis,
De Jorge de Sena, de Eugénio de Andrade, de Florbela
E de quantos mais?
Minha Pátria escrita e dita com as vozes e as mãos!
Minha Pátria defendida, com a vida, e o suor dos meus irmãos!
Minha Pátria, meu berço, meu chão!
Minha vida aprendida em teu falar português
Minha luta que se trava e se ganha, imbuídos de certeza!
Ao menos… mais uma vez!
Nessa língua em que se entendem tantos milhões de seres humanos,
Puxemos pela coragem
Cantemos (A Portuguesa)!


Felismina Costa
Agualva, 9 de Junho de 2010
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 4 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6310: As nossas mulheres (16): Hoje é Dia da Mãe (Felismina Costa)

Vd. último poste da série de 11 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6370: Blogpoesia (72): Escondam-se que eles vêm aí (Albino Silva)

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4351: Blogpoesia (47): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (IV Parte): II Dinastia (De D.Manuel, O Venturoso, até ao fim)




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Cafal Balanta > Destacamento da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74) > O apartamento de Cafal Balanta, na zona turística do Cantanhez... Publicidade, para quê ? ... Pode-se perguntar: E preço (s) ?... Não vinha nos prospectos da época...


Fotos: © Manuel Maia (2009). Direitos reservados.


IV parte da História de Portugal em Sextilhas, escritas pelo épico do Cantanhez (O Manuel Maia, formado em história, foi Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74) (*).


Mensagem de 5 de Maio de 2009


Antes de me debruçar sobre a matéria em questão, gostaria de agradecer a todos quantos fazem o subido favor de me ler, honrando-me com os seus comentários.

Quando te enviei o excerto deste trabalho, fi-lo na esperança de que pudesses tecer
alguns comentários quanto ao seu interesse, e também, porque não revelá-lo, na expectativa de haver entre os camaradas alguém ligado a editoras gráficas, pressupondo uma hipotética publicação, uma vez que "em se tratando de poesia" o acesso é bem mais difícil que a prosa ...

Manuel Maia

Comentário de L.G.:

Manel: Portugal é um país de poetas e de soldados onde a poesia não enche a barriga do pobre e o soldo do soldado não dá para a caneta, a tinta e o papel... Mesmo assim a malta escreve, e canta, até o dedo doer, até a voz doer...É o teu fado, meu vate, nosso bardo, nosso épico...Alegras-nos a alma, enriqueces a nossa cultura e a nossa história, dás um bela lição aos tabanqueiros... Sabes que a malta conhece mal (e porcamente) a sua própria história, por que se calhar a escola, a nossa escola, não nos ensinou amar os nossos poetas, os nossos heróis, os nossos santos, a amar e a criticar os nossos reis, os nossos comandantes... É poesia, é pedagogia, é amor às nossas coisas... São as nossas raízes, é a nossa idiossincrasia, é a nossa identidade... Não tenhamos pejo nem pudor de sermos tugas! (LG).


História de Portugal em Sextilhas - IV Parte

101-Tratado em Tordesilhas põe travão
às lutas desabridas, ambição
p´las terras que havia a descobrir...
Falece D. João de Portugal,
faltando um seu herdeiro natural,
cunhado Manuel lhe vai seguir...


102-Brindado O Venturoso pela sorte
por Gama do Oriente encontrou norte,
trazendo mil riquezas de presente.
À Terra Nova vai Corte-Real
depois será Brasil, já com Cabral
padrão das quinas ´stá no mundo assente ...


103-Foi Vasco, um bravo luso, a comandar
ousada expedição Índia por mar
que trouxe mil riquezas p´ra Lisboa.
Nascido em Silves, bom navegador,
serviu O Venturoso com rigor
e engrandeceu seu nome e o da c´roa...


104-Dos temporais saído triunfante
o bravo Gama, intrépido almirante,
travou rebelião da marinhagem.
Piloto em Moçambique fez trapaça
visando a entrega aos mouros, em Mombaça,
da frota lusa a meio da viagem...


105-Acaso alerta Vasco p´ra cilada,
daí matar o cafre à cutilada,
seguindo até Melinde que é fiel.
O rei lhe dá piloto experimentado
que cumpre acordo pré-determinado,
levá-lo a Calecute o seu papel...


106-Ainda na baía de S. Brás,
queimada S. Miguel ficou p´ra trás,
das quatro naus só três cumprem missão.
Fundeia a esquadra junto a Calecute
certeira fora a escolha do azimute
rajá lhes fez pomposa recepção...


107-De Angra, donatário João Vaz,
vogando em mare nostrum, sempre audaz,
tem mar nas veias clã Corte-Real.
Gaspar, seu filho, aporta ao Canadá,
no ano em que o Brasil, Cabral nos dá,
morrendo ano seguinte p´ra seu mal...


108-P´ra Índia vai Cabral mais seus valentes,
com treze naus pejadas de presentes,
p´ra dar ao Samorim de Calecute.
Os ventos desviaram-no da rota,
para avistarem terra em zona ignota,
mudando assim depressa de azimute...


109-Enorme cordilheira é avistada,
coberta de arvoredo e encimada
por crista montanhosa que seduz.
Surpreso face ao belo litoral,
experimentado nauta que é Cabral,
à terra dá por nome Vera-Cruz...


110-Buscando ancoradouro o encontrou
dez léguas adiante e o baptizou
do nome que hoje tem, Porto Seguro.
Padrão e cruz enorme é colocada
p´ra missa pascoalina celebrada
ante índio curioso, ´inda tão puro...


111-Herói Bartolomeu que já dobrara
as tormentosas águas e ganhara
grã fama ante a gente marinheira.
Mau grado ataque à zona com prudência
soçobra face à enorme violência
daquela tempestade traiçoeira...


112-Das treze que zarparam de Belém,
em Calecute seis atracam bem,
com recepção honrosa ao capitão.
Montada foi então a feitoria
que lucro para o reino aportaria,
Cabral, só com trê naus, regressa então...


113-Seu pai Fernão Cabral, alcaide-mor,
Gouveia, a mãe, de nome Leonor,
em terras de Belmonte foi nascido.
Lisboa o recebeu junto da corte
a capitão d´armada o leva a sorte,
p´ra achar Brasil, Cabral foi escolhido...


114-Foi Pêro Vaz Caminha, cavaleiro
da casa da balança, mestre herdeiro
d´armada de Cabral, o escrivão.
Fez carta de achamento do Brasil
onde informava el-rei de novas mil
com pormenor, rigor, exactidão...


115-Um pensador profundo, inteligente,
ourives consagrado(?), Gil Vicente,
custódia de Belém foi(?) sua lavra...
Cosrumes, língua, vida social
espelha em sua obra teatral,
burilador do ouro(?) e da palavra...


116-Na Índia se fundaram feitorias,
defesa para as ricas especiarias,
garante p´ro negócio lucrativo...
Mais tarde, vice-reis serão criados,
cidades e mil portos ocupados
que o lucro vale o esforço dispendido...


117-Servindo interesses desta lusa grei,
partiu p´ra Índia como vice-rei,
Francisco Almeida um bom perito em mar...
Chefia quize naus, seis caravelas,
milhar e meio d´homens dentro delas,
querendo novas terras conquistar...


118-Tomou Quiloa e lá fez fortaleza,
Mombaça transformou em pira acesa,
jurou vingança à morte de seu filho.
Acossa Mor-Hocém, destrói-lhe armada
prendendo Albuquerque, gera alhada,
que ofusca o seu passado todo brilho...


119-Carece a Cruz de urgência em controlar
os mares da Ásia, até poder tomar,
a Terra Santa há muito desejada.
Afonso de Albuquerque tem missão
de conquistar Malaca, Ormuz, Ceilão,
numa estratégia bem delineada...


120-Tributos passa a impor aos seus vencidos
p´ra encher os lusos cofres exauridos,
Lisboa é incontrolada e despesista
Mau grado ouro da Mina em profusão,
pimenta a abarrotar as naus de então,
não há riqueza grande que resista...


121 - Regressa ao reino após longa viagem
trazendo mil sucessos na bagagem,
daí grande importância o rei lhe dá.
Agora com Tristão da Cunha, ao lado,
partiu p´ra iniciar vice-reinado
mal chegue ao fim triénio de quem está...


122-Do mar da Arábia então capitão-mor
foi preso por Francisco, em Cananor,
que a governança nunca quis largar.
o rei, Marechal Coutinho, envia urgente
p´ra dirimir, de vez, questão candente
fazendo a entrega a Afonso do lugar.


123-Fernão de Magalhães, um transmontano,
de fidalguia baixa, não mundano,
nas armas vai catar sua ascensão...
Com D. Francisco Almeida vai zarpar
p´ra Índia em sua armada p´ra ganhar
saber consolidado, p´ra missão...


124-Castela leva ao mastro por bandeira,
da nau, a abarcar mundo, volta inteira,
vincado o desinteresse lusitano.
El-rei D. Manuel não entendera
alcance da proposta que fizera,
Fernão de Magalhães, um transmontano...


125-Negando a Magalhães, que era Fernão,
apoio p´ra circum-navegação
que Elcano haveria de acabar.
Deixou à Espanha glória pioneira
de dar a volta ao mundo, vez primeira,
que à História caberia registar...


126- Mercê do muito lucro acumulado,
estilo manuelino ´é então mostrado
na Pena, nos Jerónimos, Belém...
Riqueza e arte andaram de mãos dadas,
pois D. Manuel as quis perpetuadas,
memórias que hoje a História ´inda retém...


127-Enorme militar, Pacheco Pereira,
na Índia evidencia a dianteira,
do Portugal de então, desse momento.
Cosmógrafo de grã categoria,
esmeraldo de situs orbis, cria,
legando ao mundo seu conhecimento...


128-De Grão Pacheco e Aquiles Lusitano,
Camões o rotulou, honesto, lhano,
fautor de mil façanhas pela grei.
D´el-rei D. Manuel ganha honrarias,
do sucessor mais torpes vilanias,
injustamente o prende, João, rei...


129-Depois deste reinado glorioso
virá João Terceiro, O Piedoso,
monarca com as Letras por destino.
Colégio das Artes lhe é devido,
aos Jesuítas faz formal pedido
p´ra propagarem Fé, bem como ensino...


130-Atento à francesa vil cobiça
que o lucro da pilhagem corso atiça
el-rei colonizar irá enfim...
Impõe em Vera Cruz capitanias
que p´ra Madeira deram garantias
de ali ir implantar sistema afim...


131-Dos vice-reis da Índia, evocados,
heróicos governantes tão honrados
João de Castro é vulto relevante.
Com meia dúzia de homens corajosos
defende Diu dos Turcos belicosos
até expulsar a força sitiante...


132-Por terra estão muralhas defensivas
após as otomanas investidas
de assalto à lusa praça em DIU erguida.
Restauro é pois urgente ante a ameaça
dinheiro não tem Castro, por desgraça,
a Goa pede ajuda de seguida...


133-Em carta comovente, o vice-rei,
uns trinta mil pardaus pediu à grei,
as barbas enviando de penhor...
Edis Goeses sensiblizados,
dinheiro emprestam muito emocionados,
perante tal grandeza e pátrio amor...


134-De Montemor o Velho oriundo,
fugindo da miséria, fez-se ao mundo
na esperança de futuro por Lisboa.
Depois dos dissabores da capital,
procura o exotismo oriental
partindo em trinta e sete rumo a Goa...


135-Percorre a Índia, a China e o Japão
conhece p´rigos, medos, aflição,
perpassa cativeiros, vida dura.
Regressa para Goa decidido,
dali para Lisboa, enriquecido,
p´ra se instalar de vez, finda a aventura...


136-Do Tejo, a outra banda foi seu norte,
ali criando a prole co´a consorte
escrevendo mil viagens que encetou...
A Peregrinaçam, estranhamente,
peregrinou no prelo duplamente
os anos de Oriente que passou...

137-Na Peregrinaçam a fantasia
combina co´a verdade e a magia
para agarrar leitor que sorve as linhas...
De Fernão Mendes Pinto, há detractores
roídos por invejas, desamores,
capazes das mentiras mais mesquinhas...


138-Enorme historiador renascentista,
João de Barros seu lugar conquista,
no galarim das mais ilustres gentes...
Feitor e tesoureiro são funções
que ocupa por diversas ocasiões
com desempenhos fortes e prudentes...


139-Prudência que não tem no Maranhão,
tentado a donatário capitão,
negócio ruinoso foi desdita...
Buscava ouro amarelo, vil metal,
azar bateu-lhe à porta p´ra seu mal,
pois de ouro nem sinal de uma pepita...


140-Ao rei que acatou a Inquisição
sucede o neto D. Sebastião,
a quem a história chama Desejado.
Razão pr´o cognome está na morte
do pai pr´a quem madrasta foi a sorte,
deixando a um feto um fardo bem pesado...


141-E o velho Portugal, argamassado
com brios, honras, sangue derramado,
irá perder em breve a identidade.
El-rei Sebastião não dá ouvidos
a velhos conselheiros que aturdidos
em vão tentam travar sua vontade.


142-Fogosa juventude e galhardia,
a ânsia de mostrar a valentia,
retratam bem o seu altivo porte.
Batalha dos três reis, registo triste,
ferido o jovem tomba, não resiste,
Alcácer-Quibir foi leito de morte...


143-Camões lhe dedicou sua grande obra
que mostra o peito luso ter de sobra
a força, a coragem e ousadia
que afasta, de uma vez, velhos temores
ao galgar mar, vencer Adamastores
que o mito popular, criara um dia...


144-Nobreza empobrecida por linhagem,
as Letras de Coimbra na bagagem,
estúrdia e boémia por opção.
Das armas foi amante quezilento
Camões que causou grave ferimento,
no paço, a pajem grande rufião...

145-Não teve berço d´oiro Luis Vaz,
tão pouco a burguesia lhe subjaz,
mas Letras almejava ter por meta.
Coimbra lhe abriu portas do saber
mercê do tio Bento, chanceler,
que nele vira a aura de poeta...


146-P´ra corte se encaminha o grande vate
que cego fica em Ceuta num combate,
e é preso por ferir pajem real...
Na armada de Cabral arriba a Goa
serviu no Calabar, volta a Lisboa,
ali perece e deixa obra imortal...


147-Mau grado esta vivência desregrada,
(artista é mesmo assim, tão preso a nada...)
só Letras cultivou com forte apego.
Privou em Goa com Garcia de Horta
escrevendo-lhe uma ode onde o exorta,
na lírica atingiu grande relevo...


148-Boémia juventude do poeta
a punição na Índia lhe acarreta,
catorze anos de errância no Nascente...
Naufraga no Mekong, vadia em Goa,
esmola em Moçambique, quer Lisboa,
regresso lhe custeiam de presente...


149-Ao editar a obra genial
granjeia o estatuto d´imortal
no galarim das Letras instalado...
Partindo p´ro etéreo foge à ofensa
d´abjecta filipina vil presença,
no trono luso por si tão amado...


150-Cristovão Moura, o tal luso traidor,
irá comprar ajudas de favor
(junto à nobreza e clero português)...
Apoios p´ra Filipe que é segundo
p´ra que este venha a ser senhor do mundo,
gerindo os dois reinos de uma vez...


151-E morre o cardeal, velho regente,
ao trono é o castelhano um pretendente
por ser neto d´el-rei O Venturoso.
Receios são sentidos pela grei
que vai querer Prior do Crato a rei,
mas sai o espanhol vitorioso...

Manuel Maia

[Fixação / revisão de texto: L.G.]

__________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores:

2 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4274: Blogpoesia (43): A história de Portugal em sextilhas (Manuel Maia)

3 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4278: Blogpoesia (44): A história de Portugal em sextilhas (II Parte) (Manuel Maia)

6 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4290: Blogpoesia (45): História de Portugal em Sextilhas (Manuel Maia) (III Parte): II Dinastia, até ao reinado de D. João II

terça-feira, 26 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1886: Tabanca Grande (18): Luís A. Camões de Matos, Op Cripto da CCAÇ 2589 / BCAÇ 2885, Mansoa (1969/71)

1. Mensagem de 15 de Junho do camarada LUÍS CAMÕES, enviada ao Editor do Blogue

Apresenta-se e pede autorização para entrar na Tabanca Grande o 1º Cabo Operador Cripto 13926268 Luis A. Camões de Matos, nome de guerra Cripto Camões, da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, do sector de MANSOA onde permaneceu de Maio de 69 até fim de Fevereiro de 71. Cripto mas não secreto desde 71.

Como já não existem mensagens secretas nem confidenciais, tenho algum material para enviar.

Sou amigo pessoal do Gabriel Gonçalves (GG) e do Fernando Franco, com quem tenho partilhado alguns comentários do blogue.

Um forte abraço
Luís Camões



As fotos de antes e depois que o camarada Luís Camões enviou para a nossa fotogaleria








2. Comentário do co-editor do Blogue

Caro Luís Camões, bem-vindo. És mais um elemento do BCAÇ 2885, já representada pelo César Dias no nosso Blogue. ´

Durante o tempo em que estivemos adstritos ao CCAÇ 2885, a CART 2732 e as vossas Companhias fizeram algumas Operações em conjunto, o que valorizou muito a nossa operacionalidade.

Assim adquirimos conhecimentos que nos foram muito úteis durante o resto da nossa Comissão de Serviço.

Esperamos de ti estórias e fotos dos teus tempos de Mansoa, onde passei muitas vezes e onde fui mordido sem dó nem piedade pelos mosquitos, bem mais bravos que os de Mansabá.

CV