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segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13728: (Ex)citações (238): Água da Bolanha... quem a não bebeu ?! (Mário Pinto, ex-fur mil at art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71)

1. Mensagem do Mário Pinto [ex-fur mil at art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71]

Data: 12 de Outubro de 2014 às 15:46

Assunto: Água da Bolanha quem a não bebeu (*)

Caro Luís Graça

O tema "água da bolanha quem a não bebeu?"  remete para  mais um dos sacrifícios que nós, os ex-combatentes, estávamos sujeitos nas nossas muitas missões pelas matas e bolanhas da Guiné.

No meu sector não era a falta de água que nos afligia, pois existia muita e felizmente em quantidade. o problema é que a maioria dos poços existentes a sul de Mampatá estavam todos minados ou inquinados pelo PAIGC o que limitava o nosso abastecimento quando das nossas deslocações. Era preciso uma atenção redobrada e uma picagem maciça do terreno quando era necessário o seu abastecimento nas nossas missões a sul de Mampatá e não nos podemos esquecer dos famosos comprimidos que nos eram distribuídos para colocar na água inquinada das bolanhas e poços.

Tivemos alguns dissabores na procura do precioso líquido, lembro-me de uma vez o 1.º Cabo Enf Alves que seguia no 4.º Grupo de Combate e que regressava do corredor de Missirã, depois de lá ter permanecido 24 horas ter caído numa mina A/P na nascente de Iroel, já perto de Mampatá, quando procurava abastecer-se devido à sede que apertava.

Eram muitos os perigos que assolavam as NT à procura de saciar a sede, porque dois cantis de água que levávamos à cintura para 24 horas era muito pouco para quem com o calor tórrido da Guiné se desidratava a cada minuto que caminhava sob aquela temperatura de 45º e de uma hostilidade sem piedade para quem não estava habituado àquela intempérie. Nem a rudeza da maioria dos nossos soldados, oriundos do Alentejo e habituados ao sol e ás temperaturas elevadas da sua terra em pleno verão, aguentavam tamanha contrariedade que era a sede.

No mato que eu me lembre fomos sempre deficitários quanto a água excepto no período das chuvas, aí sim havia com fartura ás vezes até em demasia. Existia outra situação que não ajudava nada a nossa necessidade de matar a sede era a ração de combate que nos distribuíam quando saíamos, derivado à sua constituição à base de salgados e doces, o que não admirava a maioria optar por a deixar no aquartelamento e não se alimentar durante a saída.

Uns mais outros nem tanto, mas o certo é que nós todos tivemos a nossa cota parte nas águas das bolanhas.

Um abraço
Mário Pinto (**)
_____________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 12 de outubro de 2014 > Guiné 63/734 - P13722: Fotos à procura de... uma legenda (38): Estrada Nova Lamego-Bafatá, maio de 1970: Fomos à água... Água das Pedras ou da Bolanha ? (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13370: O(s) comandante(s) de batalhão que eu conheci (2): No COP 4, no meu tempo, houve duas exceções, major Carlos Fabião e ten cor Agostinho Ferreira (Mário Pinto, ex-fur mil at art, CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71)



Guiné > Região de Tombali  > Mampatá > Centro da aldeia e quartel de Mampatá. Foto do álbum de Carlos Farinha, ex-Alf Mil da CART 6250,Mampatá e Aldeia Formosa, 1972/74,


Foto (e legenda): © Carlos Farinha (2009). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Comentário de Mário Pinto ao poste P 13368 (*)

Caros camarigos:

Como sabeis, já há muito que é conhecida a minha atitude crítica  em relação aos  nossos Oficiais Superiores porque o que vi pessoalmente leva-me a  um comentário  não abonatório aos mesmos, salvo raras excepções que,  infelizmente pelo que vamos conhecendo,  foram comuns a todos os períodos de comissão e sectores da Guiné.

Só conheci dois sectore:  de facto foi Buba e Aldeia Formosa. Pertenci a um Comando Operacional que era o COP4 comandado por outro grande militar na altura Major Carlos Fabião ele e o Ten Coronel Agostinho Ferreira. Foram as excepções no meu tempo e nestes sectores. 

Estiveram vários comandantes no sector,  alguns até com reputação, mas não deixaram de ser uma desilusão para todos com as suas decisões desconexas de falta de conhecimento logístico do terreno e mesmo desconhecendo as formas de actuação do PAIGC, por falta de sua presença no terreno e experiência em combate. 

Era gente que regulava-se por mapas e croquis absoletos  em gabinetes fora das realidades do mato e mal aconselhados por Capitães comandantes de Companhia que nem ao mato iam. Chefes operacionais que em vez de acompanharem pessoalmente os movimentos de quem estava destacado no terreno, preferia mandar vir uma DO para do ar e fora de perigo ver onde se posicionavam os Grupos de Combate, correndo o risco de  denunciar ao PAIGC as nossas posições,  como aconteceu por diversas vezes. 

Isto tudo se passou no meu tempo e no meu sector. por isso digo com conhecimento de causa que os nossos Oficiais  Superiores,  salvo algumas excepções,  não cumpriram as missões que lhe foram confiadas,  limitaram-se a deixar correr o tempo e a fazer uns relatórios baseados nas informações e nas acções de quem na verdade andava no terreno operacional.........

Posto isto meus caros, mais não posso dizer-vos que,  na verdade, já vocês não saibam (**)......

Um abraço

Mário Pinto

[ [ex-fur mil at art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71; está na nossa Tabanca Grande desde julho de 2009] (***)




A nova força africana... O major Fabião, na altura (1971/73) comandante do Comando Geral de Milícias... In: Afonso, A., e Matos Gomes, C. - Guerra colonial: Angol,a Guiné, Moçambique. Lisboa: Diário de Notícias, s/d. , pp. 332 e 335. Autores das fotos: desconhecidos. (Reproduzidas com a devida vénia).


(***) Vd. poste de 24 de julho de 2009 >  Guiné 63/74 - P4735: Tabanca Grande (164): Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil da CART 2519, Buba, Mampatá e Aldeia Formosa, 1969/71

domingo, 6 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13369: O(s) comandante(s) de batalhão que eu conheci (1): Mário Pinto (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1969/71), Luís Graça (Bambadinca, 1969/71), Jorge Teixeira (Portojo) (Catió, 1968/70), Francisco Baptista (Buba e Mansabá, 1970/72)

1. Comentários ao poste  P13368 (*)


(i) Mário Pinto

 [ex-fur mil at art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71]

O Ten Coronel Agostinho Ferreira, é dos poucos oficiais superiores a quem tiro o meu quico, pois não se remetia ao seu gabinete a dar ordens mas sim acompanhava os militares em todas as operações do seu sector e conhecia a sua ZO  pessoalmente como poucos a conheciam. 

Tive a honra de o acompanhar na Op Novo Rumo,  ao sul da Guiné,  onde pude apreciar a sua destreza de comando,.

O metro e oito,  como era conhecido,  era um homem muito grande e respeitado pelas tropas sob o seu comando, estou convicto que,  se mais houvesse oficiais da sua estirpe, o rumo dos acontecimentos por todos conhecido teria outro desfecho.

(ii) Luís Graça 

[editor, ex.-fur mil armas pesadas inf, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71]

Meu caro Mário, eu costumo dizer o mesmo em relação ao único oficial superior que saiu "uma vez" (!),  comigo no mato, o ten cor inf Polidoro Monteiro, comandante "imposto" por Spínola ao BART 2917, ainda  no decurso dos primeirso meses de comissão, em finais de 1970  ou princípios de 1971, se não erro,

E eu conheci dois batalhões (BCAÇ 2852 e BART 2917)...

Mas não gostaria de generalizar,  como tu generalizas... A nossa experiência foi muito limitada, eu conheci um ou dois setores na zona keste (L1, L2...), não mais. Há camaradas que nem isso, conheceram apenas o seu subsetor onde estiveram em quadrícula...

Entendo o teu elogio ao então ten cor Agostinho Ferreira, que de resto é partilhado por mais camaradas nossos...  Também partilho do teu ceticismo em relação à nossa "elite militar", mas não faço juízos de valor... A minha experiência é limitada e não gostaria de ser injusto em relação à generalidade dos nossos comandantes, operacionais ou não...

A guerra arrastou-se por demasiado tempo (1961/74) e, em boa verdade, havia pouco entusiasmo em morrer pela Pátria no ultramar...

Muitos destes homens já morreram ou estão na fase terminal das suas vidas... É verdade que nem todos mereceram o nosso respeito e admiração... Mas a guerra acabou há 40... E nós falamos, hoje, sobretudo de nós, das "cenas" em que fomos atores ou protagonistas... É verdade, é raro, no nosso blogue haver um elogio rasgado, sincero, a um comandante de batalhão... Porquê ?

Por outro lado, justa ou injustamente, Spínola será recordado, no meu tempo (1969/71) por ser um comandante "justiceiro" e até "populista", aparentemente implacável para com os seus subordinados, nomeadamente os oficiais superiores, tenentes coroneis e majores, que ele considerava laxistas, incompetentes, que mal tratavam os seus homens ou não se preocupavam com o seu bem-estar, que eram operacionalmente inaptos, etc.

Em que medida isto afectou o "moral" das tropas ? Ou subverteu a disciplina militar ? 

Acho que podemos abrir um nova série:  o que eu proponho é que se fale, aqui, dos comandantes de batalhão que cada um de nós conheceu no TO da Guiné, mal ou bem...

Ora aqui está um bom tema de dissertação e discussão... Já não falo do Com-chefe (Schulz, Spínola, Bettencourt Rodrigues)... Esse, era como um deus, ncessariamente longe e distante. Mas o "comandante de batalhão", esse, pelo menos viajou connosco no mesmo navio, esteve no mesmo setor (nem sempre) e uma vez ou outra visitou-nos (no nosso subsetor)...

Camaradas, procurando ser justos e objetivos, que lembranças têm do vosso "tenente coronel" ? Ainda se lembram, ao menos, do nome dele ? Nalguns casos, deu-nos um louvor ou uma "porrada"..
Vamos falar do conhecemos, não do que ouvimos dizer... Toda (ou quase toda) a gente teve um batalhão ou este adiada a um batalhão,,, Deixemos agora o Spínola em paz, lá no Olimpo dos guerreiros bem como o interminável debate sobre a guerra ganha/guerra perdida... Se puderem mandem fotos dos vossos comandantes, melhor ainda...


(iii) Jorge Teixeira (Portojo)

[ex-fur mil do Pelotão de Canhões
S/R 2054, Catió, 1968/70]

Dois pontos sobre os comentários do Luís: Quantos de nós conheceram oficiais superiores ? Mesmo os que foram incluindos em Batalhãos, provavelmente conheceream o seu comandante  apenas nas despedidas.

Pessoalmente, com o meu pelotão, estive adido às CCS de dois Batalhões, o 1913 e o 2865. A minha opinião sobre os dois comandantes está resumida em uma ou outra publicação no blogue. (Há um segundo comandante no 2865, e a minha opinião sobre ele também está referida. Infelizmente, já faleceu. Podem ler a sua biografia nor portal Ultramar Terraweb,.

Mas nada que tenha a ver com operacionalidade. Nunca tive acesso a "segredos". As minhas opiniões são sobre a parte humana. E,  tanto quanto me pareceu, e hoje ainda mantenho, ambos eram dominados pelos segundos comandantyes. Por várias razões.

O segundo ponto, tem a ver com o Spínola. Na realidade era comum ouvir-se na caserna, "faço queixa ao Spínola". Não sei se algum, alguma vez, o fez.

Pessoalmente assisti a uma cena degradante e patética do Senhor General, precisamente com o Senhor Comandante (o primeiro, Belo de Carvalho) do 2865, que lhe valeu um castigo. Era uma pessoa muito querida entre o pessoal. Sei que chegou a Comandante da EPA que exercia aquando do 25 de Abril.
Pelo comunicado dos militares "revolucionários" da EPA, que pode ser lido em 25 de Abril - Base de Dados Históricos, parece que o estigma da Guiné lhe ficou sempre preso no corpo.

O mito Spínola, para mim, nunca existiu. Nunca gostei dele como pessoa nem como militar. Muito menos como político.

Como seria a Guiné sem ele ? Não faço ideia nenhuma.

Como me comentou o Luís em tempos, oficiais de Cavalaria nunca gostaram de outras armas. Não terão sido estas as palavras, mas não ando longe.



[ex-alf mil inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72)]

Dos meus 17 meses em Buba na CCaç 2616, pertencente ao BCAÇ 2892, comandado pelo Tenente Coronel Agostinho Ferreira, recordo sobretudo as boas referências de todos os camaradas em relação às relações cordiais e ao tratamento correto que tinha com todos. 

Era também falado por ser um comandante que algumas vezes saia com os seus homens e por ser um bom estratega militar. Eu poucas vezes estive com ele, talvez duas vezes em Aldeia Formosa e não sei se alguma vez em Buba, pois não me lembro se deslocar lá. Mas sei que era um homem admirado e estimado por todo o batalhão e pelas companhias independentes que estavam sob o seu comando. 

Eu estou mais de acordo com o Luís Graça, do que com o Mário Pinto, acho que por muito bons que fossem os chefes militares, a guerra estava perdida no plano político internacional, pois tinhamos a ONU contra nós e grandes países do leste e ocidente a ajudar os movimentos de libertação.

Pela recordação que tenho do Tenente-Coronel Agostinho Ferreira, sendo um militar que não virava as costas ao perigo, não se dava ares de guerreiro como o major de operações Pezarat Correia, ou o próprio General Spinola, o homem do monóculo e do pingalim. Tenho duvidas se ele acreditaria numa vitória militar.
Foi um bom homem. Paz à sua alma!

____________________

Nota do editor:

(*) 6 de juho de 2014 > Guiné 63/74 - P13368: Recordando o BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71) comandado pelo ten cor Agostinho Ferreira, o "metro e oit" (Luís Nascimento, Viseu)

Guiné 63/74 - P13368: Recordando o BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71) comandado pelo ten cor Agostinho Ferreira, o "metro e oito" (Luís Nascimento, Viseu)



Interessante composição do nosso camarada Luís Nascimento, tendo por base o galhardete do BCAÇ 2879. Um "recuerdo", diz ele.

Foto: © Luís Nascimento (2014). Todos os direitos reservados


1. Mensagem de Luís Nascimento, ex-1º cabo cripto da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71), que vive em Viseu, e é nosso grã-tabanqueiro:


Data: 10 de Maio de 2014 às 19:29
Assunto: Recuerdos

Amigo Luis Graça,

Junto envio um galhardete do Batalhão de Caçadores 2879, comandado pelo Tenente Coronel [Manuel] Agostinho Ferreira (o "metro e oito") (*), e cujas as companhias 2547, 2548 e 2549 estiveram em Cuntima do Norte, Jumbémbém e  Nema, respetivamente, e a CCS  em Farim. A CCAÇ 2549 era comandanda pelo cap inf Vasco Lourenço.

Em Canjambari, estva a minha companhia, a CCaç 2533, adida ao BCAÇ 2879.  Era comandada pelo Capitão Sidónio Ribeiro da Silva.

Abraço,

Luis Nascimento





Ten cor inf Manuel Agostinho Ferreira (*), comandante do BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71) e do BCAÇ 2892 (Aldeia Formosa, 1969/71), popularmente conhecido como o "metro e oito". Faleceu em 2003, com o posto de  major general. Foto de Mário Pinto.

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Nota do editor:

(*) vd. poste de 18 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10399: As Nossas Tropas - Quem foi quem (10): Ten Cor Manuel Agostinho Ferreira, o "metro e oito", comandante do BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71) e BCAÇ 2892 (Aldeia Formosa, 1969/71) (Paulo Santiago / Carlos Silva / Manuel Amaro)

(...) Distinto oficial, inteligente e corajoso, que, sendo comandante de batalhão, não se poupava a esforços nem a sacrifícios, assim como não hesitava em participar nas operações, a fim de poder apreciar in loco a justeza dos factores de planeamento, quantas vezes abstractos, que os manuais forneciam.

Esta postura do nosso comandante que, por um lado, era altamente louvável, por outro incutia na rapaziada uma confiança que fazia ultrapassar o medo que porventura existisse. Tal atitude granjeou-lhe da nossa parte uma grande simpatia e admiração que ainda hoje se faz sentir e há-de perdurar ao longo dos tempos até ao último sobrevivente do Batalhão. expressão de tal sentimento resulta bem claro nos almoços de confraternização do Batalhão" (...) (Carlos Silva)

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12569: E fazíamos grandes jogatanas de futebol (4): Futebolices em Mampatá e a CART 2519... (Mário Pinto)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a seguinte mensagem.


Camaradas,

Já que estamos numa de futebolices, Mampatá e a CART 2519 não podiam ficar indiferentes ao pontapé na bola que salutarmente se fazia naquela altura por lá.

Ficaram célebres algumas peladinhas que fazíamos com a inclusão do Capitão da Companhia, que aliás era o próprio a incentivar o pessoal para a mesma. Entretanto aproveitavámos a peladinha para lhe aplicar umas valentes caneladas de amizade que levava o mesmo, muitas vezes, a queixar-se e com hematomas nas pernas, tal era a dose.

Chegou-se também a fazer um Campeonato com as Companhias de Aldeia Formosa, respectivamente, CART 2521 e CCAÇ 2616 e CCS do Batalhão, que ficavam a cerca de 7Km de nós.

O nosso Vagumestre e o Fur Mil José Alberto Gonçalves, do Pel Caç Nativos, chegaram mesmo a criar uma escola de djubis de Mampatá onde ensinavam algumas práticas da modalidade.

O Futebol  nem sempre foi uma constante da nossa Companhia, pois nos primeiros tempos a intensidade e o empenhamento na construção da estrada Buba-Aldeia Formosa era tal que a nossa disposição para qualquer coisa era nula. Só mais tarde e depois de nos termos fixado na Tabanca é que criámos condições para a sua prática com o fim de nos recrearmos nos momentos de descanso..... 

Junto algumas fotos desses tempos, com maior predominância sobre as escolas de Jubis de Mampatá.  [Seguem algumas fotos desses bons tempos].








Um abraço a todos
Mário Pinto
Fur Mil At Art da CART 2519 
___________ 

Nota de M.R.: 


Vd. último poste desta série em: 

9 DE JANEIRO DE 2014 > P12561: E fazíamos grandes jogatanas de futebol (3): O 'Jogo da Bola' nos intervalos da guerra: os craques da CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/74) ... (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp)

domingo, 8 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12411: O que é que a malta lia, nas horas vagas (11): Noticias e recortes de Jornais da Metrópole e Rádio Bissau (Mario Pinto)

1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a seguinte mensagem.


Camaradas,



Aqui vai a minha contribuição sobre esta matéria respondendo ao solicitado pelo Luís Graça  [, sobre o que é que a malta lia, nas horas vagas].

Em Mampatá no meu tempo, depois da construção da cantina, foi criado pelo meu grande amigo Furriel José Alberto Gonçalves,  do Pelotão de Nativos,  um jornal de parede que logo foi apelidado de Jornal da Caserna. Nele o nosso camarada José Alberto colocava todas as noticias e recortes de Jornais que ele recebia da Metrópole, este era uma das nossas fontes de noticias,  para além da Rádio Bissau que com algum custo se ouvia naquela Tabanca a Sul de Aldeia Formosa.

Também havia quem recebesse, pelo correio, jornais regionais, revistas e livros que passavam de mão em mão para assim à luz dos famosos candeeiros improvisados a petróleo ( Uma bojeca vazia cheia de petróleo e uma torcida de pano colocada através da tampa furada ) e assim passávamos muitas vezes o bocado do fim de tarde quando a noite caia porque nem sempre havia pachorra para jogar ás cartas, dar à língua ou algo semelhante.
O José Alberto, um homem do Norte (Baião) apaixonado pelo Raly e tudo que metesse desporto motorizado e adepto do F.C.Porto, lá ia atualizando quase diariamente o seu jornal de parede que em parte tinha por base o jornal a Bola e o Jornal de Baião, que mais tarde se veio a tornar seu Director.

Um pormenor curioso é que os jornais depois de lidos, tinham uma dupla função, fazia-se uma bola trapeira que era a alegria dos Jubes de Mampatá.

Ainda hoje a malta se lembra com alegria dessas peripécias futebolísticas com a bola trapeira em habilidades e naqueles famosos campeonatos de quem dava mais toques.

Voltando à leitura, tirando alguns eruditos pela mesma como o Alf Borges ou Fur Enf Agostinho, pouca paciência havia para livros porque a nossa mente era absorvida por outras preocupações e realidades sempre presentes no nosso quotidiano.

Junto algumas fotos dos nossos lazeres...





Aproveito para desejar a todos os camaradas um Bom e Feliz Natal.


Um abraço,
Mário Gualter Rodrigues Pinto
Fur Mil At Art da CART 2519
____________ 
Nota de M.R.:

Vd. último poste do mesmo autor em: 

7 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12409: O que é que a malta lia, nas horas vagas (10): Assinava o "Comércio do Funchal" e a "Seara Nova" e tinha os meus livros, alguns do Máximo Gorki, por exemplo (Hélder Sousa, ex- fur mil trms TSF, Piche e Bissau, 1970/72) 

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12194: In Memoriam (164): Faleceu o Jerónimo Jesus da Silva, o "rebenta-minas", sold condutor auto da CART 2519 (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71) (Mário Pinto)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a seguinte mensagem:

Camaradas


A minha homenagem a um saudoso camarada Morcego de Mampatá, que ontem, 22 de Outubro, nos deixou.

O JERÓNIMO, “O REBENTA MINAS”,  FALECEU 

Para os que nos lêem e não sabem, o rebenta-minas era a viatura que seguia, regra geral, apenas com o condutor, na frente, a “abrir” caminho para uma coluna motorizada.

Jerónimo Jesus da Silva, Sold Condutor da CART 2519,  OS MORCEGOS DE MAMPATÁ, devido à sua sempre disponibilidade para encabeçar a frente das colunas Buba-Aldeia Formosa com a sua GMC, conhecida pela HÉRCULES, foi baptizado e ficou conhecido pelo rebenta-minas.

O Jerónimo era um Minhoto de gema, natural de Guimarães,  e chegou à CART 2519 em Março de 1969, aquando do início do nosso IAO.

Era um mancebo robusto, bem disposto e sempre pronto para realizar qualquer serviço, ou outra eventualidade.

Na Guiné,  e ainda PIRIQUITO, o Jerónimo revelou-se um militar destemido e voluntarioso e foi na construção da estrada nova Buba-Aldeia Formosa, ao encabeçar as colunas que seguiam diariamente de Mampatá para o local de trabalhos, que ele se tornou célebre e respeitado por todos. 

Indiferente ao temível perigo oferecido pelas traiçoeiras minas, que todos dias sabíamos estarem *a nossa espera, colocadas pelo PAIGC todas as noites na estrada, o Jerónimo não deixava, mesmo assim, de ir com a sua viatura a assegurar o caminho a cada coluna motorizada, expondo-se ao eventual rebentamento de alguma delas, ou às balas do IN, que quase todos os dias fazia uma sortida com flagelação e, ou, emboscada. 

Mais tarde, abandonada a construção da estrada nova, o Jerónimo passou a integrar as colunas de abastecimento que iam à LDG, no cais de Buba, pela estrada velha, carregar os abastecimentos para o nosso Sector, nunca deixando de ser o "REBENTA MINAS".

Questionado, dizia sempre com alguma humildade:
- Alguém tem de ser o primeiro e eu,  como já estou habituado,  não me importo!

Foram várias as vezes que o meu Grupo de Combate picou a estrada à frente da sua GMC, tendo ele sempre afirmado que tinha uma confiança enorme nos camaradas que o precediam na picagem.

Tinha razão, pois foram imensas as minas que levantámos naquela estrada.

A sua Hércules era já sobejamente conhecida por todos, não só por encabeçar as inúmeras colunas, mas pelos zumbidos característicos do seu motor, quando em pleno esforço era submetida na frente das colunas, anunciando assim a sua presença aos que faziam as protecções e os trabalhos.

O Jerónimo Jesus da Silva foi louvado por escrito pelo comando devido à sua extraordinária coragem.

Mais tarde veio a sofrer de stress pós-traumático de guerra, com deficiência e incapacidade 36%, resultante dos traumas provocados pela sua continua voluntariedade em enfrentar o perigo.

À sua enlutada família aqui deixo os meus sentidos pêsames, desejando que o nosso Camarada Jerónimo descanse em paz e que um dia, esteja onde estiver, todos nos juntemos novamente.

Preparação de uma coluna

Distribuição do pessoal militar e civil pelas viaturas

Coluna em marcha picada fora

Evolução ao longo da picada

Uma das minas anticarro

 Viatura após explosão de uma mina

Avaliação dos estragos causados


Endireitamento da viatura
Fotos: © Mário Pinto (2013). Todos os direitos reservados 


Um abraço,
Mário Gualter Rodrigues Pinto
Fur Mil At Art da CART 2519
__________

Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 



quarta-feira, 10 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11370: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (1): As primeiras respostas: José Colaço, Jorge Teixeira (Portojo) e Mário Pinto



Crachá da nossa Tabanca Grande... Infografia: © Miguel Pessoa / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné  (2013)


1. Dirigimos anteontem, dia 9, através do correio interno da Tabanca Grande, um pedido que é também desafio aos nossos amigos e camaradas: a resposta a algumas questões sobre o nosso blogue, que vai fazer 9 anos de existência, em 23 deste mês. Responder é uma forma (bonita e motivadora, para nós, editores e colaboradores) de associar os nossos grã-tabanqueiros às... "comemorações". Aqui vão as perguntinhas... (O questionário também pode ser respondido pelos  amigos e camaradas que nos leem mas que não estão formalmente registados na Tabanca Grande.

15 perguntinhas ao leitor:

(1) Quando é que descobriste o blogue ?

(2) Como e através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) desde quando ?

(4) Com que regularidade vês/lês o blogue ? (diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)

(6) Conheces também a nossa página no Facebook ? (Tabanca Grande Luís Graça)

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?

(10) Tens dificuldade, ultimamente, de aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos sete anteriores encontros nacionais ?

(13) Estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer

Obrigado pela tua resposta,. que será publicada, com direito a foto. O editor, Luís Graça


2. Publicamos as primeiras respostas que nos chegaram


2.1. José Colaço [, ex-Soldado Trms, CCAÇ 557, Cachil,Bissau e Bafatá, 1963/65]

Caro amigo Luís Graça.

Modéstia à parte vou tentar dar o meu contributo porque tu, o Carlos e agora o Eduardo sem esquecer o nosso (jubilado) Briote merecem tudo o que lhes possa dispensar em atenção e posto isto passamos ao questionário.

(i) Em 2008.

(2) Como a Guiné tem sido fértil em noticias desde os anos em que nós saímos de lá,  primeiro devido à guerra,  depois com os assassínios sem culpa formada, a seguir os golpes de estado e como há sempre qualquer coisa que fica e vai daí o meu interesse comecei a pesquisar no Google frases com a palavra Guiné e quando dei por mim estava a ler o blogueforanadaevaotres do Luís Graça.

 (3) Desde 1 de Junho de 2008.

 (4) Quando não estou impedido por motivos de força maior,  diariamente e por vezes mais que uma vez.

(5) Ultimamente tenho ficado mais pelo pequeno comentário e assim comunico que vou teimando em estar vivo.

(6) Sim [, também conheço a página do Facebook].

(7) Não. Vou muito mais vezes ao blogue.

(8) Do blogue,  as histórias vividas que os camaradas contam por exemplo a tragédia no rio Corubal, a retirada de Guileje e tantas mais que se não fosse o que os nossos camaradas escreveram e o blogue publicou nunca fariam parte dos nossos conhecimentos porque seriam enterradas, cremadas com o seu narrador. Do Facebook,  visito-o porque é um espaço onde o pessoal dá largas à sua imaginação mas para mim quanto a crédito fica a milhas do blogue.

(9) No blogue: Dos ataques verbais por vezes um pouco agressivos, no que ultimamente se tem notado uma grande sensibilidade para melhor em toda a tertúlia. No facebook é mais público e como nunca fui de me exibir (passe a expressão) daí a razão da minha simpatia pelo blogue.

 (10) Não, [não tenho sentido dificuldades d aceder ao blogue]

 (11) O blogue para mim foi aquela lufada de ar fresco sobre aqueles anos desde 1963 até aos dias de hoje. A página do Facebook é mais um espaço de diversão.

(12/13)  A resposta a esta questão,  uma vez que me é difícil responder,  fica para encerrar o questionário.

(14)  Acho. Sei que enquanto esses dois timoneiros,  tu e o Carlos,  se mantiverem ao leme da piroga o blogue continuará por tempo indeterminado.

(15) Outras criticas, sugestões, comentários:

Se já participei ? Não. Se estou a pensar ir ? Não. Com estes dois nãos,  que razão me assiste para fazer criticas, sugestões ou comentários?!

2.2. Jorge Teixeira (Portojo)  [ex-Fur Mil do Pelotão de Canhões S/R 2054, Catió, 1968/70]
(1) Nan Net, já não me lembro onde enconteri a referência

(2) Não me responderam na primeira inscriç~
ao. Talvez um ano depois, o amigo Victor Condeço falçou-me dele e contei-lhe a história. A partir daí ele meteu a cunha e entrei de serviço.

(3) Não me lem,bro. Talvez há uns 6 anos.

(4) [Visito o blogue] de tempos a tempos.

(5) Ultimamente não tenho mandado nada a não ser uns comentários de vez em quando.

(6) [A nossa página no Facebook] descobri-a há dias.

 (7) [Vou mais vezes ao] blogue

(8) [O que gosto mais do Blogue:] De histórias bem contadas. Isto é, pdoem ser romanceadas, tipo Zé Ferreira, mas não com mentiras como algumas que li.  E do Facebook ?

(9) [O que gosto menos do Blogue:] Mentiras e histórias mal contadas.

(10) [Dificuldades no acesso:] DE vez em quando.

(11)  O blogue representou coisas boas, até reencontrar amigos e conhecer outros. Isso foi o mais importante.

(12/13) Não. E não penso ir a esse [o VIII Encontro nacuional].

(14) Claro [, que o blogue ainda têm fôlego... para continuar]

(15) Outras críticas, sugestões, comentários:  Nenhumas.

2.3. Mário [Gualter Rodrigues]  Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519,  "Os Morcegos de Mampatá"(Buba, Aldeia Formosa eMampatá - 1969/71)]

Caro Luís Graça

Dentro das possibilidades vou tentar responder o mais correcto possível ao teu questionário.


(1)  Descobri o Blogue há cerca de 3 anos e picos......

(2) Através de pesquisa, aquando das declarações controversas do General Almeida Bruno, escrevi um comentário e ainda não era membro depois fui convidado pelo nosso editor Magalhães Ribeiro.

(3)  Creio que desde Outubro de 2009.

(4) Já houve tempos que via diariamente e ás vezes que uma vez, agora vejo dia sim dia não.......

(5) Atualmente creio ter esgotado todo o material que tinha para postar no Blogue pois já lá vão 40 e tal histórias.

(6) Conheço bem [o Facebook,]  vou lá regularmente.

(7) Exacto, estou muitas horas ligado á Net e como tenho várias páginas no Facebook é natural que vá lá mais vezes do que à  página da Tabanca Grande........

(8)  Creio ser comum a todos, são as histórias e fotos do nosso tempo na Guiné e [é bom] recordá-las,  ás vezes com saudade.

(9) Comentários despropositados, artigos sem interesse objectivo que nada tem a ver com a Guiné e que ultimamente tem sido muito comum no Blogue.

(10) [Acesso:] Não, tem sido tudo dentro da normalidade

(11) Representa a amizade e a irmandade que só quem esteve na Guiné conhece.

(12) Já, participei em 2011 no VI encontro em Monte Real.

(13) Ainda não decidi,  está pendente do calendário de eventos que tenho para fazer que só sai no fim de Abril, princípios de Maio.

(14) Na minha modesta opinião, tem necessidade de novos camaradas que tragam novas histórias e temas de modo a despertar o pessoal da apatia existente.

(15) Caro Luís, quem sou eu para criticar o Blogue!...

sábado, 30 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11331: Convívios (509): Almoço/convívio do pessoal da CART 2519, dia 4 de Maio de 2013, Benavente (Mário Pinto)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (BubaAldeia Formosa eMampatá - 1969/71), enviou-nos uma mensagem solicitando a divulgação do programa da festa da sua unidade:

CART 2519 "OS MORCEGOS DE MAMPATÁ OS COIRÕES"




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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

30 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11331: Convívios (508): 4.º convívio da CCAV 8352, no próximo dia 2 de Junho de 2013, em Barcouço / Mealhada (Manuel Teles)

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10399: As Nossas Tropas - Quem foi quem (10): Ten Cor Manuel Agostinho Ferreira, o "metro e oito", comandante do BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71) e BCAÇ 2892 (Aldeia Formosa, 1969/71) (Paulo Santiago / Carlos Silva / Manuel Amaro)

1. Mail de Paulo Santiago [, foto à direita], de 15 de janeiro de 2008:

Camaradas: Acabei de ler o poste do Carlos Silva "de Abrantes para Farim" (*) onde aparece como comandante de batalhão [, o BCAÇ 2897, ] o ten-cor Agostinho Ferreira, chamado de Metro e oito, o qual tive o prazer de conhecer, numa visita ao Saltinho, em 1971, visita mencionada numa das minhas Memórias, sendo na altura comandante do batalhão de Aldeia Formosa [, o BCAÇ 2892].


Foi no mesmo dia que conheci o, na altura, cap mil Rui Alexandrino Ferreira, [o nosso] Ruizinho, comandante da CCAÇ 18, também na Aldeia Formosa. Aliás, no livro Rumo a Fulacunda, o Rui fala, em termos elogiosos, do seu comandante de batalhão, o ten-cor Agostinho Ferreira.


Porque saiu de Farim para Aldeia ? Terá sido alguma chicotada psicológica do Spínola ? O Carlos Silva que explique este desfasamento.

Abraço, Paulo Santiago

P.S.- Não descobri o mail do Carlos Silva para dar conhecimento.




Ten cor inf Manuel Agostinho Ferreira, comandante do BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71) e do BCAÇ 2892 (Aldeia Formosa, 1969/71), popularmente conhecido como o "metro e meio". Faleceu em 2003, com o postod e major general. Foto de Mário Pinto.



2. Nota do Carlos Silva, que foi apresentado á nossa  Tabanca Grande em 20 de julho de 2007 [Foi fur mil at armas pesadas inf, tendo pertencido à CCAÇ 2548 (Jumbembem, 1969/71), do BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71).


O ten cor Manuel Agostinho Ferreira, falecido a 29-10-2003, com a patente de Major-General, ficou conhecido pela rapaziada do Batalhão pelo “metro e oito “. Distinto oficial, inteligente e corajoso, que, sendo comandante de batalhão, não se poupava a esforços nem a sacrifícios, assim como não hesitava em participar nas operações, a fim de poder apreciar in loco a justeza dos factores de planeamento, quantas vezes abstractos, que os manuais forneciam. 

Esta postura do nosso comandante que, por um lado, era altamente louvável, por outro incutia na rapaziada uma confiança que fazia ultrapassar o medo que porventura existisse. Tal atitude granjeou-lhe da nossa parte uma grande simpatia e admiração que ainda hoje se faz sentir e há-de perdurar ao longo dos tempos até ao último sobrevivente do Batalhão. expressão de tal sentimento resulta bem claro nos almoços de confraternização do Batalhão (*). 


3. Resposta à pergunta do Paulo Santiago, que ficou mais de quatro anos por responder:
Excerto do poste 8 de outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5075: Não-Estórias de Guerra (1): O Furriel Enfermeiro de Quebo (Manuel Amaro)  [, foto atual, à direita]:
 (...) Quando cheguei a Aldeia Formosa (Quebo) no final de 1969, aquilo era assim quase um paraíso.

Tínhamos feito um mês de estágio em Nhacra (englobando Safim, João Landim, Cumeré e Dugal). Aqui no Dugal, o Pelotão do Alferes Caçador ainda foi presenteado com uma rocketada que levantou as chapas da cobertura.

A viagem em LDG, via Bolama, até Buba, foi desagradável. A coluna Buba/Aldeia de uma qualidade indescritível.

Mas em Aldeia Formosa não havia guerra. Diziam os mais velhos que isso se devia à acção de alguns Comandantes que por lá passaram, nomeadamente o major Azeredo e o major Fabião. E também devido à existência do Cherno Rachid Djaló. Mas… como não há bem que sempre dure…

Entre 20 de Março e 30 de Abril de 1970, Aldeia Formosa foi duramente castigada pelo inimigo. Tanto com emboscadas no mato, de que resultaram três mortos, como ataques ao quartel.

Os ataques do PAIGC a Aldeia Formosa incomodaram tanto o General Spínola que este tomou a decisão de substituir o Comandante do BCAÇ 2892, nomeando para o cargo, o Ten Cor Manuel Agostinho Ferreira.

O novo Comandante, mal tomou posse reuniu com o 2.º Comandante, o Oficial de Operações, Comandantes de Companhia, Oficiais e Sargentos. Falou muito e ouviu pouco. De seguida, sentou-se naquela mesa enorme, na Sala de Operações, e, olhando para os mapas, questionava o oficial de operações:
- A CART 2521 tem o pessoal todo operacional?
- Sim, tem, meu Comandante.
- E a CCAÇ 2615 tem o pessoal todo operacional?
- Sim, tem, meu Comandante - repetiu o Major... Mas hesitou e corrigiu…
- Bem, quer dizer… o Furriel Enfermeiro está destacado no Posto Escolar.

O Comandante deu um salto e gritou:
- É isso… não pode ser. O pessoal de saúde tem que estar integrado nas suas Unidades Operacionais. Esse Furriel cessa funções hoje. Amanhã já está integrado na Companhia. Nomeia-se outro Furriel, Amanuense ou de Transmissões, para a Escola.

O Tenente Lopes, que dava os últimos retoques no stencil da Ordem de Serviço, ainda conseguiu incluir o texto do Despacho, que foi publicado e distribuído, nesse dia, já noite dentro.

Esta foi a grande decisão do novo Comandante. E a decisão foi cumprida

No dia 6 de Maio de 1970, quando o Pelotão (aqui apetece-me chamar-lhe Grupo de Combate) saiu para a Operação de rotina, já integrava o Furriel Enfermeiro, de camuflado, carregando uma bolsa tradicional, mas de G3 a tiracolo. Esta cena teve assistência, mirones, assim uma coisa semelhante à apresentação do Cristiano Ronaldo, em Madrid…

Saliente-se que esta decisão e a sua imediata implementação, foi tão importante que, quando o Pelotão que fazia a segurança nocturna, no exterior do quartel, regressava a casa, já se cruzou com o gila, informador do PAIGC, que ia a caminho da fronteira, para transmitir a novidade.

Nino recebeu o mensageiro que chegou com ar cansado da viagem, mas feliz por cumprir tão importante missão informativa:
- O novo Comandante de Quebo já tomou uma decisão. O Furriel Enfermeiro que estava na Escola passou a operacional. A partir de hoje, cerca de 15% das operações na área de Quebo terão a sua participação.

Nino, que de início parecia tranquilo, começou a dar sinais de impaciência e algum nervosismo. Para disfarçar, começou por acariciar a sua kalash com a mão direita, mas a esquerda, mais difícil de controlar, começou a coçar a cabeça. Quando o Nino coçava a cabeça já se sabia que alguma coisa estava a correr muito mal.
- Isso é mau. E logo agora que tínhamos algum controlo na zona.

Nino pensou, pensou… mas não demorou mais de cinco minutos para ordenar aos seus adjuntos o que fazer de imediato:
- As armas pesadas cumprem o plano até esgotar as munições... O grupo do GB, até ordem em contrário, não faz as emboscadas previstas na zona de Quebo.

E a ordem foi cumprida. E a vida continuou. Até que uns dias depois, ainda em Maio, o gila aparece de novo e informa:
- Camarada Comandante Nino, o Furriel Enfermeiro deixou a zona operacional. Agora só faz colunas de reabastecimento Quebo/Buba/Quebo. É que os outros enfermeiros não gostam de fazer colunas e ele gosta de ir a Buba comer peixe grelhado e cumprimentar os amigos que tem em Buba e Nhala.

Nino pareceu não dar muita importância à informação, mas logo que o gila se afastou, ordenou, até ordem em contrário, a paragem da colocação de minas na estrada e/ou ataques às ditas colunas. E a ordem foi cumprida.

Mas a vida no teatro de guerra é muito agitada, mesmo para quem não faz a dita. Ainda decorria o mês de Junho e já o gila estava a solicitar nova audiência.
- Camarada Comandante Nino´, lembra-se do Furriel Enfermeiro de Buba, que foi ferido e não foi substituído? Está no Hospital em Lisboa, com uns centímetros de intestino a menos…

Nino não entendeu a razão desta conversa, mas replicou:
- Em Buba os colonialistas têm um médico.
- Pois - concordou o gila -, mas o médico vai de férias a Portugal. O Camarada Nino imagina quem vai substituir o médico durante esse tempo?... O Furriel Enfermeiro do Quebo.

Nino soltou um palavrão. (Que eu não repito, porque eu não escrevo palavrões, mesmo quando são ditos por outros). E depois ordenou:
- Até ordem em contrário, o Grupo do MS não executa ataques na zona de Buba.

E a ordem foi cumprida.... Em Outubro lá estava de novo o gila informador, o que era um incómodo para Nino, porque estas informações eram pagas, mas ao mesmo tempo eram informações válidas e sempre credíveis, portanto úteis, para a operação do PAIGC.
- Então que notícias temos de Quebo? - perguntou Nino.
- Coisa grande, Camarada. A Companhia de Nhala vai para Quebo e a de Quebo vai para Nhala.

Nino não entendeu a razão da importância desta informação e argumentou:
- Mas isso é uma simples troca, não altera nada.
- Altera, sim, camarada Comandante. É que o Furriel Enfermeiro, agora, vai ficar em Nhala, até ao fim da comissão, em Setembro do ano que vem. – sentenciou o gila.

Nino, que até ali estivera de pé, durante toda a conversa, sentou-se, baixou a cabeça, colocou-a entre as mãos e, em vez do tradicional palavrão, disse baixinho:
- … Dasse… dasse… dasse…

Passados uns minutos levantou-se, passou as mãos pelo rosto, alisou o cabelo e ordenou a todos os seus comandantes:
- Até Setembro de 1971, não haverá qualquer acção contra os militares colonialistas instalados em Nhala, incluindo o quartel, a estrada e os carreiros.

E a ordem foi cumprida.... Em Setembro de 1971, o Furriel Enfermeiro do Quebo e Nhala regressou à Metrópole. O gila emigrou e é estivador no porto de Marselha. O Nino… bem, sobre o Nino toda a gente sabe tudo.

A maior parte dos protagonistas desta não-estória já faleceram e não poderão confirmar o que aqui está escrito. Mas o nosso Camarada José Martins, recorrendo a todas as suas fontes de informação, poderá confirmar que todas as ordens de Nino, aqui referidas, foram cumpridas. (...)

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Nota do editor:

(*) Poste de 15 de Janeiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2440: História do BCAÇ 2879, 1969/71 (1): De Abrantes para Farim (Carlos Silva) ]

Útimo poste da série > 25 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10193: As Nossas Tropas - Quem foi quem (9): Marcelino da Mata, 1º cabo, Gr Cmds Diabólicos (1965/66) (Virgínio Briote)