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sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22945: As tuas melhoras, camarada !... (1): Padre Mário de Oliveira (ex-alf mil capelão, CCS/BCAÇ 1912, Mansoa, 1967/68), hospitalizado, em Penafiel, com múltiplos traumatismos, mas consciente, depois de grave acidente automóvel

1. O nosso camarada Mário de Oliveira, de 84 anos, ex-alf mil capelão, CCS/BCAÇ 1912 (Mansoa, 1967/68), está hospitalizado, no Centro Hospital do Tâmega e Sousa, em Penafiel, com traumatismo múltiplos, mas consciente, na sequência de grave acidente automóvel, ocorrido anteontem à tarde, em Macieira da Lixa, Felgueiras. (Para mais detalhes, ver aqui notícia de ontem, no semanário Visão).

 Foi assistido, nos cuidados intensivos, por uma querida sobrinha, enfermeira, que falou com ele, embora ele não lhe pudesse responder por estar entubado. Ele foi pároco da sua freguesia, Paredes de Viadores, depois de ele vir da Guiné (, de mal com Deus e com César...).

Desejamos ardentemente as suas rápidas melhoras, eu e a Alice  (de que ele é um velho amigo, foi ao nosso casamento, civil, em Candoz). 

Um abraço fraterno, Luís Graça.

PS - Se acharem bem, mandem-lhe uma mensagem, para ele ler, quando sair do hospital e voltar a casa,  ele vai gostar e não se importa que eu aqui divulgue o seu endereço de email, que de resto é público: padremario@sapo.pt 


2. O Mário de Oliveira tem 15 referências no nosso blogue. Ele é  um dos nossos capelães (,  que integram a nossa Tabanca Grande, juntamente com:

  • Arsénio Puim (açoriano, da Ilha de Santa Maria, ex-alf mil capelão, CCS / BART 2917, Bambadinca, 1970/72);
  • Augusto Batista (ex-alf mil capelão, CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã. 1969/70);
  • Horácio Fernandes (ex-padre franciscano, ex-alf mil capelão, CCS/BART 1913, Catió, 1967/69);
  • Libório Tavares (1933-2020) (, natural de São Miguel, Açores, ex-alf mil, CCS/ BCAÇ 2835, Nova Lamego, 1968/69).

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19023: Os nossos capelães militares (9): segundo os dados disponíveis, serviram no CTIG 113 capelães, 90% pertenciam ao Exército, e eram na sua grande maioria oriundos do clero secular ou diocesano. Houve ainda 7 franciscanos, 3 jesuitas, 2 salesianos e 1 dominicano.









Fonte: Henrique Pinto Rema - "História das Missões Católicas da Guiné": Editorial Franciscana, Braga, 1982, pp. 709-712 (Vd. a extensa recensão bibliográfica feita pelo nosso camarada e colaborador permanente Mário Beja Santos)


1. Vendo a lista,  supra, dos capelães militares (sim, porque também há capelães hospitalares, há ou havia capelães nas prisões, nos navios da marinha mercante, etc.), que seviram no TO da Guiné, entre 1961 e 1974, podemos fazer algumas leituras interessantes, em complemento dos comentários já feitos pelos nossos leitores (*):

O exército é de longe o ramo das forças armadas que mais mobilizou capelães: 102 num total de 113, ou seja, mais de 90%.  A presença de capelães na FAP (n=7) e na Marinha (n=4) é diminuta. Na Marinha, só há registo da presença do 1º capelão a partir de finais de 1965. E na FAP,  logo no início de 1964.




Fonte: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)


Foram mobilizados, em média, 7 capelões por ano, no período entre o início (1961) e o fim da guerra (1974). Mínimo: 2 (em 1962) e máximo 13 (em 1969 e em 1970) (Gráfico nº 1).

Em dois casos (os nºs 92 e 93 da lista supra) sabe-se que terminaram a comissão em 23/9/1974, mas é omisso o ano de início: presumimos que fosse 1973.

Constata-se  que todos, no geral, cumpriram a comissão de 21/22 meses, que era a norma no TO da Guiné, para o pessoal do Exército. Um ou outro fez "mais do que uma comissão".

Um dos capelães que esteve mais tempo no CTIG é o Joaquim Dias Coelho (nº 16): esteve lá 5 anos, deu-se bem com a Guiné... Percebe-se: era o capelão-chefe (fevereiro de 1964/ março de 1969). E devia viver, em Bissau, no célebre "Vaticano",  a moradia reservada aos capelões-chefe.

O salesiano Serafim Alves Monteiro Gama (nº 15 da lista) também exerceu funções de capelania durante mais de 5 anos (de 1964 a 1969).

Mas deve ter sido o franciscano (OFM) Manuel Pereira Gonçalves (nº 91 da lista ) que deve ter batido o recorde em termos de tempo: 6 anos (maio de 1968 / junho de 1974).

OFM quer dizer Ordem dos Frades Menores, vulgarmente conhecidos como Franciscanos.  É o clero regular mais representado (, são 7 ao todo), nesta amostra de capelães militares. (O  meu parente  Horácio Neto Fernandes, nascido em Ribamar, Lourinhã,  nº 42 da lista, era franciscano, e esteve lá dois anos, primeiro em Catió e depois em Bambadinca e Bissau, de novembro de 1967 a novembro de 1969; pormenor intrigante, nunca nos encontrámos em Bambadinca, nem eu conheci nenhum capelão, entre julho de 1969 e maio de 1970,  em Bambdainca, no primeiro  batalhão, a que esteve adida a minha companhia, a CCAÇ 12: refiro-me ao BCAÇ 2852 (1968/70). É possível que não houvesse número suficiente de capelães militares para as necessidades do exército, no TO da Guiné. E o BART 2917 ficou sem capelão (que era o Arsémio Puim) ao fim de ano...

O restante clero regular está escassamente representado por: (i)  um dominicano (OP= Ordem dos Pregadores); (ii) dois salesianos; e (iii) três jesuitas (SJ=Sociedade de Jesus). O resto (a grande maioria, mais de 80%) é clero secular ou diocesano, dependendo portanto de um bispo...  Há 4 capelões-chefe, que muito provavelmente pertenciam ao quadro permanente do Exército, e que terão feito várias comissões, em diferentes teatros de operações (Guiné, Angola, Moçambique...). Vamos contabilizá-los à parte. Os restantes, terminadas as suas comissões, voltavam às suas dioceses ou casas religiosas.

Há, porém, dois ou três, que foram para casa mais cedo, dois deles, meus conhecidos (e membros da nossa Tabanca Grande), por "razões disciplinares" (, ou seja, "mal com Deus e com César"):

(i) Mário de Oliveira (nº 39 da lista): só cumpriu 3 a 4 meses (de outubro de 1967 a janeiro de 1968);

(ii) Arsénio Chaves Puim (nº 66): só cumpriu 12 meses (de maio de 1970 a maio de 1971). (**)

O Carlos Manuel Valente Borges de Pinho (nº 89) também só cumpriu a sua missão durante uns  escassos seis meses, de março a setembro de 1973. Sabemos, por informação do nosso camarada Fernando Costa, de 4 de setembro de  2014, que o alf mil capelão Carlos Manuel Valente Borges de Pinho pertenceu à CCS/BCAÇ  4513 (Aldeia Formosa, 1973/74).

O nº 1 da lista, António Alberto Alves Machado, também só cumpriu pouco mais de um ano (janeiro de 1961/fevereiro de 1962)... Pode ter adoecido, não sabemos...

Os que estiveram menos tempo (poucos meses) foram naturalmente os que vieram em finais de 1973/ princípios de 1974 ou até pós-25 de abril (há um caso, de um capelão da FAP, Eduardo Raposo do Couto Resende que veio em agosto de 1974 e regressou em outubro, não deu para "aquecer o altar"...).

O Augusto Pereira Baptista  (nº 50) também é membro da nossa Tabanca Grande. Pertenceu à CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70).

Obrigado ao Mário Beja Santos, por ter "recuperado" e disponibilizado esta preciosa lista... que presumimos esteja completa. (***)

Mais contributos precisam-se,  dos leitores do blogue, sobre os nossos capelães. Gostávamos sobretudo de saber a que batalhões pertenceram estes nossos camaradas, supracitados... Na maior parte dos casos, não ainda temos essa informação.

PS - Temos mais de 80 referências no nosso blogue com o descritor "capelães"... E pelos menos a mais os seguintes "nossos capelões":

(i) Abel Gonçalves (Força Aérea, agosto de 1970 / agosto de 1974); tinha passado anteriormente pelo exército: BCAÇ 1911 (Teixeira Pinto, Pelundo, Có e Jolmete, 1967/69) e pelo BCAV 1905  (Teixeira Pinto, Bissau e Bafatá, 1967/68).

(ii) Libório Tavares [nome completo: Libório Jacinto Cunha Tavares], açoriano, capelão no BCAÇ 2835(Nova Lamego, 17/1/1968 - 4/12/196).

_____________

(...) O Puim considera-se duplamente maltrado pela instituição militar e pela hierarquia religiosa. À data era capelão-mor, no CTIG, o Padre Gamboa [, Pedro Maria da Costa de Sousa Melo de Gamboa Bandeira de Melo, ] que tinha o posto de major, coordenando e supervisionando todo o trabalho de capelania (Vivia, em instalações próprias, em Bissau, conhecidas por Vaticano). Em Fevereiro de 1971, o Puim ainda tinha participado, em Bolama, num retiro espiritual, com os demais capelães da Guiné, dirigido pelo Major Capelão Gamboa. Houve discussão acesa, foi discutido o papel dos capelães na guerra colonial, a posição da Igreja, etc. (...)

sábado, 15 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19017: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XLIII: O alf mil capelão Carlos Augusto Leal Moita


Foto nº 7 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > 1969 > O nosso Capelão, à civil, lendo a Bíblia [?].
~


Foto nº 8 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > Dezembro de 1967 > Cerimónia religiosa local, Natal 67.


Foto nº 4A > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > Noiute de Natal > 24 de dezembro de 1968. 9h e meia da noite. Noite. Em primeiro plano, o capelão Moita fumando. O Virgílio Teixeira, é p segundo, de óculos, na segunda fila, a contar da esquerda para a direita.


Foto nº 4A > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > Noiute de Natal > 24 de dezembro de 1968. 9h e meia da noite.


 Foto nº  5 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > Noite de Natal > 24 de dezembro de 1968 >  Outra foto da consoada. Fim de jantar.


Foto nº 1 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > Numa coluna na estrada de Nova Lamego-Piche, Novembro 67. Eu sou o do meio do grupo, e do lado esquerdo o Capelão Moita, e à direita o Alferes Mesquita, responsável das Transmissões.


Foto nº 2 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) >Na coluna para Piche, em cima do mesmo Unimog, agora noutra perspectiva. Nov./67. O operador da Bazooka tinha de ser eu, para a foto, ao lado o Capelão Moita e outro pessoal
  

Foto nº  3 > Guiné > Região do Cacheu > Piche > CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > Novembro de 1967 > Já no Quartel de Piche, sendo a figura principal o Capelão Moita de costas. O médico Lema Santos, que ali está de óculos, ao meu lado.


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do Virgílio Teixeira:

Data: 21/08/2018, 17:25
Assunto - Guerra e Paz, a Alma e o Espírito: o alferes capelão Moita

Caro amigo e camarada Luís Graça:

Vou procurando e encontro novos temas, mais pequenos, mais fáceis de digerir.

Acho que este é um tema que ainda não vi tratado aqui, e parece interessar a alguns praticantes e não só. A presença de um representante da Igreja no seio daquele conflito, era sempre bem vindo. Já morreu, Paz à sua alma.

Vai para o lote, espero que não cause problemas na tua organização. Obrigado e até muito breve.

Virgílio Teixeira


2. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Virgílio Teixeira (*), ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, set 1967/ ago 69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem já cerca de 80 referências no nosso blogue.

Guiné - Portugal 67/69 - Álbum de Temas:

T055 – O NOSSO CAPELÃO, ALFERES GRADUADO MOITA, QUE SE JUNTOU MAIS TARDE AO BCAÇ1933


I - Anotações e Introdução ao tema:

INTRODUÇÃO:

A nossa guerra não se fez só de armas, minas, emboscadas, flagelações, bebedeiras, mulheres e outras coisas mais, também o espirito precisava de alguma paz de alma, e para aqueles que nunca se esqueceram da fé, da religião, da missa, de um conforto, então cada Unidade – maior ou menor – tinha o seu Padre Capelão, normalmente Alferes Graduados, acho que era assim, mas não tenho a certeza disso.

O meu batalhão [, o BCAÇ 1933,] partiu sem Capelão, e ainda esteve um mês pelo menos sem ele, mas quando chegou foi bem-vindo, a passou a integrar na perfeição as tropas todas que já estavam no terreno, foi uma companhia muito interessante.

Ele tinha de se deslocar às várias unidades aquarteladas pelos Sector a que pertencia, e foi a todas, penso eu, até talvez a Madina do Boé, não garanto, se alguém souber da sua presença pode e deve vir contrariar este texto.

Eu tenho de confessar que não fui daqueles que mais ‘utilizou’ o seu trabalho, a sua missão. Estivemos juntos num ou noutro ‘velório’ e pouco mais, em termos religiosos, acho que nunca assisti a uma missa naquele tempo todo.

Aliás, e pensando bem, já nem me lembro bem onde ficavam as capelas, em Nova Lamego conheço, porque lá estive num velório, mas em São Domingos não me lembro mesmo nada.  Nem sei onde eram as suas instalações, ele devia ter alguma coisa só para ele.

Fomos amigos e camaradas, andamos em várias colunas, mas não tenho grandes reportagens disso, pois as saídas em coluna só em Nova Lamego, em São Domingos só de barco, e não me lembro de ele nos acompanhar nessas deslocações, nem interessa isso.

Ele fazia as suas refeições na messe de oficiais como era da praxe, mas muitas vezes estaria por fora, noutros aquartelamentos.

Foi um bom companheiro, além do culto religioso, era também brincalhão, quase não parecia um padre, mas um amigo.

Juntei alguns elementos, fotos, onde ele aparece, devo ter mais, mas estes chegam para nos lembrarmos da sua memória, pois já faleceu, segundo disseram num almoço convívio. Ele foi a alguns, mas eu nunca mais o encontrei, viajamos no Uíge e depois acabou.

Espero que os leitores gostem e apreciem também estes ex-combatentes, independentemente da sua religião, porque eles estavam lá, mas não tinham arma distribuída.

Paz à sua alma.

Alferes Miliciano Carlos Augusto Leal Moita, desconheço qual a sua localidade de origem.

[Nota do editor LG: 

Soubemos, por pesquisa na Net, que em 1988 continuava como capelão militar, com o posto de major... Em 1967, frequentou o 1º Curso de Formação de Capelães Militares , integrado num grupo de mais de 50. O curso realizou-se na Academia Militar, de 23 de agosto a 17 de setembro de 1967. Nele participaram, por exemplo, dois membros da nossa Tabanca Grande: Horácio Neto Fernandes, e Mário de Oliveira (mais tarde conhecido como Padre Mário da Lixa)]

II – As Legendas das fotos:

F1 – Numa coluna na estrada de Nova Lamego-Piche, Novembro 67. Eu sou o do meio do grupo, e do lado esquerdo o Capelão Moita, e à direita o Alferes Mesquita responsável das Transmissões.

F2 – Na coluna para Piche, em cima do mesmo Unimog, agora noutra perspectiva. Nov./67. O operador da Bazooka tinha de ser eu, para a foto, ao lado o Capelão Moita e outro pessoal, que leva a tiracolo uma máquina fotográfica e pela capa parece a minha, uma Konica, talvez seja apenas a capa pois a máquina tirava-se fora, e a foto é da minha máquina.

F3 – Já no Quartel de Piche, sendo a figura principal o Capelão Moita de costas. Piche, Nov./67. Esta foto já conhecida a quando do paradeiro do Médico Lema Santos, que ali está de óculos, ao meu lado, e mais longe o Capitão comandante da CCAÇ1662, e lamento não saber agora o nome dele. Está também o alferes Mesquita ao lado de outro que não sei quem é, e o respectivo ‘empregado de mesa’ a servir a malta.

F4 / F4A – O Capelão Moita, fumando a sua cigarrada, no fim do jantar. São Domingos, 1968. Também não sei a data desta foto, mas parece um jantar na messe de oficiais, com algum motivo especial, pois o nosso Tenente Bigodes está com uma garrafa de champanhe na mão. Ao lado esquerdo do capelão Moita, de costas, parece-me o alferes Almodôvar, ainda lá estava pelos vistos. Ao lado de olhar esgueiro o alferes Mesquita. Lá atrás, temos da esquerda para a direita, o Capitão Martins, o alferes Carneiro, o alferes Teixeira, o Tenente Bigodes, depois em pé um soldado condutor que servia na messe, muito educado e de boas maneiras, e sentado na ponta o alferes Machado, mais conhecido por ‘Machadão’ dado o seu enorme corpo e peso, era o Minas e Armadilhas. Era do Porto, encontrei-o algumas vezes, mais tarde soube que já tinha falecido, devido talvez ao coração, pois ficou ainda mais pesado do que era.

Não vejo a mesa do Comando, e esta disposição não era a usual, por isso me leva a pensar que já é posterior à evacuação do nosso comandante, Tenente Coronel Armando Saraiva, ocorrida em Novembro de 1968, por isso ou é a noite de Natal, ou a noite de Fim de Ano, por causa da garrafa de champanhe. E pelas roupas e pelo aparato da mesa, deve ser um destes eventos.

F5 – Outra foto mas o mesmo tema, o Capelão Moita. Fim de jantar em São Domingos, 24dez1968. Aqui além dos restantes indicados acima, pode ver-se em primeiro plano o nosso Capitão Cardoso, novo comandante da CCS/BCAÇ1933, e a sua jovem esposa ainda em plena Lua-de-mel. Acho que esta cabeça em frente é do Major Graciano Henriques, o nosso Comandante não estava mesmo lá.

F7 – O nosso Capelão, à civil, lendo a Bíblia. São Domingos, 1969.

F8 - Cerimónia religiosa local, Natal 67, Nova Lamego Dez 67

Em, 2018-08-21

Virgílio Teixeira

«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BATCAÇ1933/RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21SET67 a 04AGO69».

______________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 10 de setembro de 2018 >Á Pistas e aeronaves (ii): Nova Lamego, 1º trimestre de 1968

sábado, 13 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14742: (Ex)citações (281): Sexo em tempo de guerra... O ponto de vista de um ex-capelão (Mário S. de Oliveira)

1. Mensagem de Mário de Oliveira, nosso grã-tabanqueiro,  mais conhecido como Padre Mário da Lixa), é um  dos nososs conhecidos capelães que fizeram a guerra colonial  devido aos seus problemas com o Exército, a PIDE/DGS e a hierarquia da Igreja [, foto atual à direita].

Foi alf mil capelão, CCS/BCAÇ 1912, Mansoa, entre novembro de 1967 e em março 1968; vive no concelho de Felgueiras; foi jornalista e  autor de vasta obra de reflexão espiritual e teológica. O seu último, "Fátima, S.A." mereveu destaque no "Expresso". (*)

De: Mario de Oliveira

Data: 5 de junho de 2015 às 20:57

Assunto: (Ex)citações...

Oh raio...o "pessoal" afina logo á primeira, se calhar sem aprofundar bem o simbolismo da questão. Aqui, no meu ponto, ninguém tem que se envergonhar de nada porque...era a própria política "colonialista" de uma "colonização manca"​ - falta de efetivos humanos para colonizar - que incentivava a interligação do homem branco com a mulher africana, na intenção de que (segundo D. Carlos e outros), o novo ser vivo que acaso viesse ao mundo dessa "interligação" passasse a ser o chefe de posto/cipaio/fiscal/chefe de a, b, c, dependências governamentais, para colmatar a falta de "minhotos, transmontanos, beirões (como eu), tudo na procura de "popular" os locais onde acaso tivessem assentado pé.

Ironicamente, a interligação, não comtemplava a interligação entre "a mulher branca" e o africano. Aqui, é que assenta o fulcro da questão.

No aspeto pessoal de cada quem, cada um dos intervenientes terá que ter na sua consciência a sua ligação com as africanas. Houve e há muitos que o fizeram "honestamente" por se terem assimilado-convivido com as mulheres africana em questão e, a estes, só e de louvar porque constituíram uma família.

Mas, não duvido absolutamente nada, que outros o fizeram por necessidade fisiológica e, quiçá, de uma forma pouco respeitosa. Cada um que tenha o seu descargo de consciência mas envergonhar-se...seria errado. Arrepender-se talvez fosse mais aconselhável. (**)


Abraço a todos.

Máio S. de Oliveira

______________

Notas do editor:

(*)  Sobre o último livbro,m "Fátima", o nosso camarada escreveu-nos o seguinte, em mensagem de 5 do corrente:

Olá, camarada Luís Graça:
Tomo a liberdade de te fazer chegar esta informação:

A PROPÓSITO DE FÁTIMA S.A.

Saiu em meados de Maio 2015 e, até agora, só eu já despachei pelos CTT quase 200 exemplares para outras tantas pessoas que se me dirigiram interessadas na sua aquisição. A 2.ª edição sai agora, na 2ª semana de Junho. Até o grupo Leya já se rendeu ao Livro e faz encomendas à pequena Editora do Livro, Seda Publicações.

Na minha qualidade de presbítero-jornalista, "viajei" por dentro dos Documentos oficiais disponibilizados pelo Santuário de Fátima e pude ficar a conhecer todo o “segredo” de Fátima, desde 1917 até aos nossos dias. O resultado desta minha investigação é este Livro de 288 pgs, 14 capítulos

Cada exemplar fica por 17€ + 2,35€ de portes de correio. Poderei suportar os portes, se assim entenderem. Enviem-me o v/ endereço postal e o Livro vai ter a vossa casa, autografado por mim. Depois, fazem a transferência bancária para o NIB da m/ conta-reforma: 0007 0000 0077 5184 2312 3. 

Os meus direitos de Autor são integralmente para o Barracão de Cultura. Espero as v/ encomendas. Não se arrependerão. 

O meu abraço, Mário.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13567: Inquérito online: A propósito dos capelães militares no CTIG... Resultados preliminares (n=34) quando faltam 2 dias para fechar a votação... A resposta mais frequente: "Guardo boas recordações deles" (n=11)



Ex-alf mil capelão Augusto Batista  
(CCS/BCAÇ 2861,
Bula e Bissorã. 1969/70)
A. INQUÉRITO ONLINE: A PROPÓSITO DOS CAPELÃES MILITARES NO CTIG... (PODES DAR MAIS QUE UMA RESPOSTA)

1. Não conheci nenhum  > 11 (32%)

2. Houve momentos em que senti a sua falta  > 1 (2%)

3. Guardo boa recordação deles  > 11 (32%)

4. Davam algum conforto espiritual aos nossos soldados  > 6 (17%)

5. Eram tão importantes como os médicos  > 0 (0%)

6. Eram mal compreendidos por todos nós  > 2 (5%)

7. A hierarquia a militar não confiava neles  > 1 (2%)

8. O Estado Novo e a Igreja abusaram deles  > 4 (11%)

9. A malta deixou de praticar (ir à missa, confessar-se, rezar…)  > 5 (14%)

19. Não estavam preparados para lidar com a malta  > 5 (14%)

11. Nunca senti a sua falta  > 6 (17%)

12. A experiência da guerra fez-lhes mal  > 1 (2%)

13. Acho que um psicólogo seria mais útil  > 2 (5%)

14, Deveria ter havido também capelães muçulmanos  > 1 (2%)

15. Não sei, não tenho opinião  > 3 (8%)

Total de votos apurados:  34

B. Não são muitos, os antigos capelães militares que passaram pelo CTIG, e que nos honram com a sua presença, sentados sob o poilão da Tabanca Grande... Recorde-se esses nossos quatro grã-tabanqueiros:

Arsénio Puim (açoriano, da Ilha de Santa Maria, ex-alf mil capelão, CCS / BART 2917, Bambadinca, 1970/72;   foi  expulso do Batalhão e do CTIG em Maio de 1971;  no final da década de 1970 deixou o sacerdócio, formou-se em enfermagem, casou-se, teve filhos:L vive na Ilha de São Miguel):

[Arsénio Puim, Bambadinca, c. 1970/71]

Horácio Fernandes

Augusto Batista [, vd. foto acima]:  (i) ex-alf mil capelão CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã. 1969/70; (ii) capelão Militar das Tropas Paraquedistas, em S. Jacinto (jul/1978 - nov/1982); (iii) capelão das Tropas Paraquedistas em Tancos (nov/1982 - ago/1988);  (iv) capelão addjunto da Chefia do Serviço de Assistência Religiosa da Força Aérea, em Lisboa (ago/1988 - out/1990); (v) capelão do Hospital da Força Aérea no Lumiar, Lisboa (out/1990 - jul/1995):   e (vi) capelão  chefe da GNR - Guarda Nacional Republicana, em Lisboa (jul/1995 - mar/2000); é hoje ten cor ref. e vive no concelho de Vila Nova de Gaia, tendo sido trazido até nós pela mão do Armando Pires,

Horácio Fernandes (padre franciscano, foi alf mil capelão na CCS/BART 1913, Catió, 1967/69; deixou o sacerdócio em 1972; casou-se e teve filhos; é inspetor da educação, reformado: nasceu em Ribamar, Lourinhã, em 1935; vive no Porto):

Mário de Oliveira (mais conhecido como Padre Mário da Lixa): seguramente  o mais mediático dos quatro, devido aos seus problemas com o Exército, a PIDE/DGS, o seu bispo (do Porto), a hierarquia da Igreja... Foi alf mil capelão, CCS/BCAÇ 1912, Mansoa, entre novembro de 1967  e em março 1968; é autor de vasta obra de reflexão espiritual e teológica: vive no concelho de Felgueiras.

[Mário de Oliveira, foto atual à esquerda]

C. Muitos de nós convivemos, minimamente, com um capelão militar, no CTIG. Temos seguramente opinião sobre os nossos capelães:  o seu papel, o seu relacionamento com a  população e com a tropa; a sua preparação; a sua importância... A sondagem em curso contem 15 hipóteses de resposta, que não são falsas nem verdadeiras... 

Caro leitor, dá a tua opinião. Podes escolher duas ou mais respostas. Tem ainda 2 dias... Vota diretamente no blogue, na coluna do lado esquerdo, ao canto superior... Obrigado.


sexta-feira, 11 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12968: 10º aniversário do nosso blogue (4): Para além do Mário de Oliveira e do Arsénio Puim, terá havido mais capelães militares expulsos do CTIG... Terá sido o caso do alf mil capelão, também de nome Mário, do BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala, Buba, 1973-74), ainda em Bolama, na IAO... (Testemunho de um leitor e camarada nosso que pede reserva de identidade)


Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS / BART 2917 (1970/72) > s/d> O Alf Mil Capelão Arsénio Puim, expulso do Batalhão e do CTIG em Maio de 1971.

Foto: © Gualberto Magno Passos Marques (2009). Todos os direitos reservados



Guiné-Bissau > Região do Oio > Mansoa > 1995 > O jornalista Mário de Oliveira com o padre missionário que foi encontrar em Mansoa.

Foto: © Padre Mário da Lixa (2003) (com a devida vénia...)


1. Mensagem de um nosso leitor (e camarada) que não quer ser identificado, por razões que me apresentou e que eu aceitei como válidas, estando esta situação prevista nas regras originais do nosso blogue. 

Será apenas identificado pela última letra do alfabeto, Z (*). Tenho os contactos de telefone e endereço de email. Vive na região Centro.


Data: 27 de Março de 2014 às 03:07

Assunto: Capelães militares expulsos

Caríssimo Luís Graça.

Antes de mais, permite-me que me apresente. Sou [Z...],  ex-Alf.Mil. da 2ª CCaç. do BCaç. 4513 (Aldeia Formosa-Nhala-Buba - 1973-74), actualmente reformado.

Hesitei bastante antes de me decidir por este contacto, duvidando se valeria a pena. Mas, tudo vale a pena, vale sempre a pena... Isto, porque, li ontem (dia 25 de Março) no Blog que tão bem "comandas", e que visito diariamente desde que o descobri por acaso, há já uns anos, li, dizia, o seguinte: [vd. poste P12897]: «Em toda a história da guerra colonial, no CTIG, houve dois casos de capelães militares que foram "expulsos"», a propósito das referências ao Padre Mário da Lixa. 

Ora, acho que vale a pena corrigir esta afirmação e pôr em dúvida se, estaremos nós, hoje, em condições de saber quantos padres e não padres terão sido subtilmente, (ou com mediatismo como é o caso do Padre Mário da Lixa), afastados do território da Guiné sem deixar rasto. 

É preciso ter presente que a PIDE agia sem espalhafato e com muito profissionalismo. O caso que conheci de perto, o do Alf Mil Capelão que integrava o meu Batalhão no início, e que ainda não vi referido no Blog, é um indício de que podem ser muitos mais os padres que "desapareceram", ou foram afastados.

 Este que cito, e com quem me dava muito bem, "desapareceu" da noite para o dia, literalmente. Ao princípio, com ingenuidade e a medo, alguns ainda perguntavam: «Viste o Capelão? O que é que lhe aconteceu?». Mas a compreensão veio rápida e também o silêncio tácito e sensato. Todos pensaram: «O caso não me diz respeito». Caso abafado!

Tudo isto aconteceu apesar de, no dia de apresentação do Batalhão ao General Spínola em Bolama e na reunião que se lhe seguiu com ele e com todos os oficiais, ele lhe ter dito: «O nosso Alferes pode falar à vontade, dizer o que pensa, porque daquela porta - e apontou - não sairá uma palavra. (O Cmdt do Batalhão, enfiado, transpirava e bufava...). 

O General, antes, interpelara-me a mim. Queria saber o que eu pensava da nossa presença em África, da nossa acção na Guiné, do contributo dos militares naquela sociedade, etc. E eu, cobardemente, (sensatamente?), recitei-lhe a cartilha oficial, a que me ensinaram, sem introduzir originalidades nem virtuosismos, enfim, pensando que era o que ele queria ouvir (e não era), mesmo se o meu pensamento estava nos antípodas do que lhe dizia, devido à minha sólida politização, muito anterior à entrada para o Exército. 

O General ouviu-me em silêncio (e eu a ler-lhe o pensamento: «Mais um idiota!»), e depois interpelou o Alf Capelão. Quando este começou a falar, sem tibiezas e com uma audácia a roçar o desaforo, para as circunstâncias e para a época, eu não sabia onde me havia de enfiar... Foi então que o Gen. Spínola o interrompeu para o pôr à vontade, como citei antes. E ele continuou, pondo em dúvida o colonialismo e a legitimidade de tudo quilo que a maioria entende por legítimo, natural, a ordem das coisas..., mas também questionando o estado social da colónia, em pleno século XX, depois de 500 anos de colonização. 

Era um valente. E não apenas intelectualmente: vi-lhe dar um murro nos queixos a um soldado que apalpou o rabo a uma adolescente estudante de Bolama que seguia à nossa frente no passeio, que ele até voou!. Ficámos amigos e com muito respeito mútuo: ele era padre católico e eu ateu empedernido. Desapareceu depois de uma distribuição clandestina de panfletos à tropa sobre, creio, a má alimentação que era distribuída aos soldados, (ou a toda a tropa?).

Há uns anos comecei na Net a fazer tentativas de o encontrar, mas em vão. Nem do seu nome já estou certo, apenas me recordando que era Mário. Daí que tenha entrado em contacto com o Padre Mário da Lixa, nome que já conheço há muitos anos, mas apenas o nome, na esperança de que fosse ele próprio, (tinha muitas reservas), ou que me soubesse dar pistas. Ele foi muito amável comigo, mas não me pôde ajudar. Foi então que dei conta do desfasamento das nossas passagens pela Guiné. Desisti.

Muito mais teria para dizer, mas acho que já me excedi. Poderás, se o entenderes, fazer uso deste texto, (ou eliminá-lo), desde que não seja referido o meu nome. 

Porquê? Porque fiquei mal impressionado e muito preocupado quando, em tempos li no Blog referências a um "caso" que foi mediático e que se passou na minha Companhia, entre os alferes e o capitão e, desde aí, fiquei sempre a pensar que, pese embora a nobreza e os objectivos do Blog, e de ser um veículo honesto para o reencontro das pessoas e das ideias, também pode permitir intromissões despudoradas e mal informadas (intencionadas?), que foi o que se passou no caso da minha Companhia. 

Senti-me visado. Vi pessoas vangloriar-se de actos que não praticaram e outros fazerem críticas sem conhecimento de causa. Tudo foi mais complexo do que as pessoas pensam. E mais melindroso. As pessoas que opinaram não sabem, por exemplo, que a dada altura esteve eminente um acto da maior violência, que poderia ter "descambado" e provocado muitos mortos. Porque o caso gerou partidários e, no envolvimento, vieram ao de cima as piores qualidades humanas, traduzidas em vinganças, traições e cobardias, mesmo de quem não se esperaria. Imperou o bom-senso, felizmente. 

Sei do que falo porque estive directamente envolvido. (Foram precisos 40 anos para eu falar assim abertamente. E não sei se a despropósito). No Blog, apenas um veio a terreiro, honesto e sem papas na língua pôr os pontos nos iis: um furriel miliciano da minha Companhia, que não citarei. E ninguém falou mais no assunto. Por tudo isto, prefiro "não dar a cara". Não esquecerei o assunto mas não quero polémicas. E não só eu, pelos vistos... De toda a Companhia, que eu saiba, apenas um antigo camarada "dá a cara". Não é por acaso.

Caro Luís Graça. Repito que podes simplesmente apagar este relato sem qualquer melindre da minha parte. A menos que aches que traz alguma novidade em relação aos capelães afastados.

Se o entenderes, podes usar este mail para dizer alguma coisa.

Um abraço deste admirador do teu excelente trabalho (bem coadjuvado é certo),
o ex-combatente,  Z [...]


 2. Caro camarada:

Obrigado pela tua desassombrada e oportuna mensagem... Agradeço-te igualmente a sinceridade das tuas palavras. Devo dizer-te, desde já, que quero publicar o teu poste, sem te identificar pelo nome (conforme teu pedido)... É mais um contributo, importante, para este dossiê, delicado, que tem a ver com a "santa aliança" Estado Novo-Igreja Católica, nomeadamente em África e durante a guerra colonial...

Tens toda a razão em contestar a minha afirmação segundo a qual «em toda a história da guerra colonial, no CTIG, houve dois casos de capelães militares que foram "expulsos"... Em boa verdade, eu não me exprimi de maneira clara, concisa e precisa: queria eu dizer que apenas conhecia "dois casos", de que o blogue, de resto, já se tinha feito eco... No fundo, o que eu queria é que aparecessem mais depoimentos sobre os "nossos capelães", e eventualmente mais casos como os do Mário de Oliveiraário e do Arsénio Puim... Falamos de testemunhos em primeira mão, como o teu...

Falas-me do capelão do BCaç 4513 (Aldeia Formosa, Nhala, Buba, 1973-74),.. Que desapareceu sem deixar rasto, e cujo primeiro nome seria Mário...Vamos tentar descobrir o seu paradeiro, E para isso é importante a divulgação da tua mensagem. Não é habitual publicarmos mensagens sem identificação do autor, mas eu entendo a tua relutância e o teu melindre em dar a cara...Preciso, em todo o caso de saber em que data e em que poste foi abordado ou comentado o caso que referes:

(... ) Porque fiquei mal impressionado e muito preocupado quando, em tempos li no Blog referências a um "caso" que foi mediático e que se passou na minha Companhia, entre os alferes e o capitão e, desde aí, fiquei sempre a pensar que, pese embora a nobreza e os objectivos do Blog, e de ser um veículo honesto para o reencontro das pessoas e das ideias, também pode permitir intromissões despudoradas e mal informadas (intencionadas?), que foi o que se passou no caso da minha Companhia. 

Senti-me visado. Vi pessoas vangloriar-se de actos que não praticaram e outros fazerem críticas sem conhecimento de causa. Tudo foi mais complexo do que as pessoas pensam. E mais melindroso. As pessoas que opinaram, não sabem, por exemplo, que a dada altura esteve eminente um acto da maior violência, que poderia ter "descambado" e provocado muitos mortos. 

Porque o caso gerou partidários e, no envolvimento, vieram ao de cima as piores qualidades humanas, traduzidas em vinganças, traições e cobardias, mesmo de quem não se esperaria. Imperou o bom-senso, felizmente. Sei do que falo porque estive directamente envolvido. (Foram precisos 40 anos para eu falar assim abertamente. E não sei se a despropósito). (...)

Sobre o teu BCAÇ 4513 (e as suas várias companhias), temos apenas 18 referências... e não me lembro do tal "caso" (de insubordinação ?) a que te referes. É natural, o blogue tem 10 anos, 13 mil postes, 652 camaradas registados, fora os "visitantes", e mais de 45 mil comentários... Tens que me ajudar a identificar essa "cena"... de eu não me lembro:

(...) No Blog, apenas um veio a terreiro, honesto e sem papas na língua pôr os pontos nos iis: um furriel miliciano da minha Companhia, que não citarei. E ninguém falou mais no assunto. Por tudo isto, prefiro "não dar a cara". Não esquecerei o assunto mas não quero polémicas. E não só eu, pelos vistos... De toda a Companhia, que eu saiba, apenas um antigo camarada "dá a cara". (...)

Sim, o ex-1º cabo cripto José Carlos Gabriel, 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74)... Há outro camarada, o Fernando Costa , ex-fur mil trms, mas esse pertenceu à CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, mar73 / set74)...

Sobre os nossos capelães, há dois Mário Oliveira, o da Lixa (1967/68), que esteve em Mansoa, e um outro que andou por Catió (1971/72)... E este último era tenente miliciano...  Mas nenhum deles é do teu tempo.

Se tiveres um telefone fixo, diz.me, que eu ligo-te... De qualquier modo, vou ter um intervenção cirúrgica, a partir de 3ª feira, dai 1 de abril... e devo ficar uma semana no "estaleiro", sem poder editar o blogue... Mas os coeditores continuam de serviço... Se me quiseres contactar (ou responder por esta via), fico-te grato. Gostaria de publicar, até lá, o teu texto.... Tens os meus contactos: . Diz-se se posso (e devo) referir a tua companhia e batalhão omitindo o teu nome e posto... Concordas ?

Um alfabravo (ABraço). Luis

3.  No dia 30 de Março último, o nosso camarada Z... responmdeu-me nestes termos:

(...) Olá, caro amigo Luís Graça.

Fiquei muito contente ao abrir o Mail e ver logo que te deste ao trabalho de me responder.
É uma honra muito grande. Porque já sou teu amigo há algum tempo, mesmo sem o saberes nem me conheceres e porque tenho uma grande admiração (e respeito) pelo gigantesco trabalho que tens feito, mesmo ajudado, para manter em funcionamento este "veículo" que leva a todo o lado e a toda a gente uma mensagem, uma recordação, um abraço e muita divulgação. (***)

Como é possível? Como consegues ter tempo para me dar atenção em particular e ainda disponibilizar os teus contactos pessoais? Por tudo isto, espero que a "tal" intervenção cirúrgica não seja nada de especial... já agora, desejo-te uma rápida recuperação.

Ainda tentei à tarde ligar-te para casa, para te poupar o trabalho de leres estas linhas, mas não resultou. Eu também não me sentia muito à vontade para devassar a tua privacidade.
Sobre as questões colocadas, gostaria de as separar em duas partes: a questão dos alferes de Nhala [, sobre a qual peça reserva e é só para teu conhecimento].

Sobre a questão da publicação do texto sobre os Alferes Capelães, tem menos que saber: podes publicar todos os elementos menos o meu nome, embora para os daquela "guerra" seja facilmente identificável. Os Capelães que me referenciaste são anteriores à minha comissão. Já agora só mais uma curiosidade: tal como o Alf Capelão não chegou a sair de Bolama onde fazíamos o IAO, também o Cmdt. do Batalhão, Ten Cor Andrade e Sousa seria substituído (nunca soube as razões, ou não recordo), pelo Ten Cor. Carlos Ramalheira até ao fim da comissão. Cordelinhos do Spínola...

Não te roubo mais tempo. Muito gostaria de te dizer como, não "dando a cara", perco horas esmiuçando o "nosso" blog no prazer de rever as terras da Guiné e as suas gentes (tão maltratadas ainda hoje), rever caras conhecidas e rever amigos que não me conhecem. Outro deles, é o Mário Beja Santos, de quem já li tudo o que havia para ler, e que continuei a acompanhar no seu regresso à terra e às pessoas que ama, lá onde todos nós deixámos um pouco da pele, mas de onde trouxemos muito mais do que levámos.

Para me contactares, para além deste mail; fica com o meu telefone fixo e telemóvel [...]

Boa recuperação e um abraço.

Sempre ao dispor (...)

____________

Notas do editor:

(*) Vd. página II Série do Blogue > Como entrar para a Tertúlia dos Amigos e Camaradas, ex-combatentes, da Guiné (1963/74)

(...) Os autores são sempre identificados pelo seu nome (excepcionalmente, por pseudónimo, ou iniciais, em caso de razões ponderosas) e são responsáveis pelo que escrevem ou editam. O mesmo acontece [, utilização de pseudónimo ou iniiciais] com militares ou combatentes, de um lado e de outro, ainda vivos, cujo comportamento possa ser objecto de crítica, por razões criminais, éticas, disciplinares ou outras. (...)

(**) Sobre o Mário Oliveira, tenente miliciano capelão que esteve em Catió, ver aqui:

30 de janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1474: O capelão Mário Oliveira, de Catió, que ia a Bedanda (Mário Bravo)

28 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1469: Bedanda, manga de saudade ou uma dupla sinistra, o padre e o médico (Mário Bravo, CCAÇ 6)

terça-feira, 25 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12897: (De) Caras (16): Quem tramou o alf mil capelão Mário de Oliveira, do BCAÇ 1912 (Mansoa, 1967/69) ?... Não foi o BCAÇ 1912 que expulsou o Mário de Oliveira, a PIDE tinha escritório aberto em Mansoa (Aires Ferreira, ex-alf mil inf, minas e armadilhas, CCAÇ 1698, Mansoa, 1967/69)


Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 1912 (1967/69) >  O alf mil capelão Mário de Oliveira entre soldados da CCS/BCAÇ 1912 e/ou da CCAÇ 1686 (que esteve sempre em Mansoa e a que pertenceu o Aires Ferreira, alf mil inf, minas e armadilhas, e membro da nossa Tabanca Grande) . O Mário de Oliveira viria a receber ordem de expulsão da Guiné em 8 de Março de 1968.

Foto: © Padre Mário da Lixa (2003) (com a devida vénia...)

1. Em toda a história da guerra colonial, no CTIG, houve dois casos de capelães militares que foram "expulsos"... Não sabemos ao certo por quem: (i) o bispo castrense (ii) a hierarquia militar; ou (iii) a polícia política ... Eu diria antes que foram dois erros de "casting" (sem que isto nada tenha de ofensivo para com os visados)...

Um deles é o padre Mário de Oliveira, que será sempre até morrer, o padre Mário da Lixa (*)... Foi capelão do BCAÇ 1912 (que esteve sediado em Mansoa, 1967/69)... Recorde-se que o BCAÇ 1912, mobilizado pelo RI 16, partiu para o CTIG 8/4/1967 e regressou a 16/5/1969.. O cmdt era o ten cor  inf  Artur Afonso Pereira Rodrigues. Subunidades de quadrícula:  CCAÇ 1686 (Mansoa); CCAÇ 1685 (Fá Mandinga, Fajonquito,  Fá Mandinga, Mansoa); e  CCAÇ 1684 (Bissau, Ingoré, São Domingos, Susana, Mansoa).

O outro caso de um capelão "expulso" foi o açoriano Arsénio Puim (que deixou, de resto, o sacerdócio em finais dos anos 70): foi capelão do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).

Curiosamente, os dois são membros da nossa Tabanca Grande... Mas quantos capelães passaram pela Guiné ? É uma boa pergunta, a que não sabemos,  para já, responder...Seguramente algumas largas dezenas ou algumas centenas, já que, em princípio  havia um capelão por batalhão (c. 600 homens)...

Ora, ao que sabemos, foram apenas estes dois homens, e nossos camaradas,  os únicos capelães a entrar  em rota de colisão com a dupla hierarquia da Cruz e da Espada... Não os queremos nem santificar nem diabolizar, mas apenas ouvir (e saber ouvir) as suas histórias... Felizmente estão os dois vivos e têm inclusive participado em convívios anuais dos respetivos batalhões...

Temos cerca de 6 dezenas de referências a capelães no nosso blogue. Aliás,  temos mais dois capelães  registados no blogue:  o Augusto Baptista e  o Horácio Fernandes (este de resto contemporâneo do Mário de Oliveira)... É pena não haver mais capelães da Guiné a querer dar a cara neste blogue, que está aberto a todos os camaradas que por lá passaram, por aquela "terra verde e rubra"...

A nossa pergunta,  de momento, é: quem tramou  o Mário de Oliveira ? (**) (LG)

2. A este propósito, fomos recuperar o depoimento do Aires Ferreira, ex-alf mil inf, minas e armadilhas, da CCAÇ 1686 (Mansoa), do BCAÇ 1912 (Mansoa, 1967/69). O Aires Ferreira esteve em Mansoa de 13/4/1967 a 13/5/1969, e conviveu, portanto, com o Mário de Oliveira, como se depreende deste episodio que ele já aqui em tempos nos contou, aquando da sua apresentação, em  28/7/2006, à Tabanca Grande:


2.1. Missa em Cutia
por Aires Ferreira


Cutia era um destacamento que tinha um grupo de combate e ficava entre Mansoa e Mansabá  e entre o Morés e o Sara - Sarauol.

O Batalhão tinha um capelão que, um certo domingo, lá para o fim de 67, resolveu ir celebrar missa a Cutia. Para isso, arranjou uma escolta de voluntários que, comandados pelo furriel S.S., lá foram, com 2 Unimogues e o jipe do capelão.

A missa foi celebrada e no regresso, um dos Unimogues despistou-se e uma grande parte do pessoal da escolta ficou com ferimentos muito graves, tendo os restantes seguido até Mansoa para pedir auxílio.

Nesse Domingo eu estava de Oficial de Dia ao quartel de Mansoa e desconhecia totalmente este assunto. Cerca da hora de almoço, passava junto à porta de armas, encontrei o Ten. Cor, o Comandante do Batalhão, que me disse:
- Alferes Ferreira, o seu grupo está todo destroçado na estrada de Cutia, o que está aqui a fazer? Vá já para lá.
- Não posso, estou de serviço - disse eu e apontei a braçadeira.
- Dê cá, eu fico com ela. O piquete vai já atrás de si com a ambulância.


Guiné > Região do Oio > Mansoa > c. 1969/71 >
O destacamento de Cutia. Foto de César Dias
Assim foi. Lá fui, munido da pistola Walther, com um condutor que por ali apareceu e chegámos depressa. A cena era trágica. Havia 5 ou 6 militares gravemente feridos e deitados na berma. O único militar que ali estava capaz de dar uns tiros para defender o local, se o IN por ali aparecesse, era … o Capelão, que de joelhos na estrada, junto ao jipe, fazia as suas orações, de G3 ao lado.

Logo de seguida chegou o necessário auxílio e todos os feridos foram evacuados e tratados.

O Alferes Capelão que faz parte desta história era… o Padre Mário Pais de Oliveira, bem conhecido desta Tertúlia,  e a quem envio um grande abraço.

Aires Ferreira

2.2. Comentário adicional  do Aires Ferreira, com data de 15/9/2006:


Igreja de Mansoa. c. 194/66. Foto de Tony Borié

Luís Graça:  Não foi o BCAÇ 1912 que expulsou o Padre Mário do seu seio. Penso que nem tinha autoridade para o fazer. O que aconteceu, foi que o Padre Mário politizou fortemente as homilias das missas dominicais na Igreja Paroquial de Mansoa e isso criou problemas ao Comando do Batalhão. Além disso, a PIDE tinha em Mansoa um funcionário com escritório aberto.

Sei que o Comando foi por várias vezes chamado a Bissau e por fim o Padre Mário saiu de Mansoa. 

Estávamos em 1967, éramos todos muito jovens e acho que faltou uma pitadinha de bom senso ao Padre Mário, para levar a água ao seu moinho. Ele que me perdoe, mas foi o que pensei na altura.

Aires Ferreira




Guiné > Mapa geral da província (1961) > Escala 1/500 mil  > Região do Oio > Detalhe: posição relativa de Cutia no triângulo Bissorã- Mansabá- Mansoa.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)



Padre Mário da Lixa. Foto da sua página,
aqui reproduzia com a devida vénia
2.3. Sobre a sua experiência na Guiné entre finais de 1967 e princípios de 1968,  como capelão militar, o Mário de Oliveira, disse o seguinte:

(...) "Na guerra colonial, vivi integrado no Batalhão 1912, sedeado em Mansoa. Era o único padre capelão. Havia outro padre em Mansoa, mas na igreja da Missão, com quem sempre dialoguei, durante os quatro meses que lá vivi e actuei. Mas como capelão militar era o único padre no Batalhão.

"Enquanto não me expulsaram, pude privar de perto com as diversas chefias militares e com as centenas de soldados rasos que davam corpo ao Batalhão. Encontrei homens que estavam na guerra com convicção. A tese oficial do Regime sobre a guerra estava bem interiorizada neles. E eram generosos, à sua maneira, na entrega de si mesmos àquela causa, sem se aperceberem que era uma causa perdida. Mas havia também os que se aproveitavam da guerra, com sucessivas comissões, bem remuneradas, e quase sempre longe dos perigos das frentes de combate. Dizê-lo, não é novidade para ninguém. E havia os oficiais milicianos que, duma maneira geral, estavam na guerra contrariados e cuja preocupação maior era poderem regressar à sua família e à sua terra sãos e salvos" (...).

Fonte: Vd. post de 27 de Junho de 2005 > Guiné 60/71 - LXXXV: Antologia (5): Capelão Militar em Mansoa (Padre Mário da Lixa) (***)

Num outro texto, também publicado na I Série do nosso blogue, em 17/5/2006, o Mário de Oliveira explicou como é que foi apanhado pela armadilha da guerra colonial e o que é que a sua experiência, como capelão militar no CTIG, representou para ele, como homem, cidadão e padre:

(...) Acordei para a Guerra Colonial, quando, em 1967, fui chamado ao Paço episcopal do Porto - tinha então 30 anos de idade e cinco anos de padre, na Diocese, e era professor de Religião e Moral no Liceu D. Manuel II - para ser informado, de viva voz, pelo Bispo-Administrador Apostólico, D. Florentino de Andrade e Silva, de que o meu nome já tinha sido enviado para Lisboa, pelo que, em breve, iria ser chamado a frequentar um curso de capelães militares, na respectiva Academia Militar!
Não me perguntou o Bispo se eu estava disposto a ir, se tinha alguma coisa a objectar. Não me consultou. Apenas me informou e deu-me a ordem de marcha. Como se a Igreja fosse um enorme quartel, onde a generalidade dos seus membros apenas obedece, cumpre ordens dos superiores, auto-apresentados como infalíveis, como donos da verdade, como rostos visíveis de Deus, senão mesmo, o próprio Deus na terra.

A verdade é que eu, nessa altura, embora ficasse mudo de espanto e como que apunhalado no peito, não ousei sequer contradizer o Bispo. E lá fui para a Academia Militar, com mais umas dezenas de outros padres do país, pelos vistos, todos mais ou menos incómodos, por razões as mais diversas, nas respectivas dioceses.

Ao fim de cinco semanas de curso intensivo, fui dado como apto e parti para a Guiné-Bissau, a fim de me integrar, como alferes capelão, no Batalhão 1912, que já operava militarmente em Mansoa, a 60 kms de Bissau.

Hoje, também eu me pergunto: Como é que isto foi possível? Como é que eu nem sequer me lembrei de formular objecção de consciência? Como é que fui logo obedecer a semelhante ordem? (...)

______________

Notas do editor

(*) Da página pessoal do Padre Mário da Lixa, retirámos alguns apontamentos autobiográficos que nos ajudam a entender melhor a o seu percurso como homem, cidadão e padre bem como a sua curta passagem pela Guiné.

(i) Nascido em 1937, na freguesia de Lourosa, concelho de Santa Maria da Feira, numa família da classe trabalhadora, entrou no seminário em 1950;

(ii) Em 1962, foi ordenado padre, na Sé Catedral do Porto, pelo bispo D. Florentino de Andrade e Silva, Administrador Apostólico da Diocese, que substitui o Bispo D. António Ferreira Gomes (1906-1989), exilado por ordem de Salazar em 1959...

(iii) A partir de 1963 foi professor de religião e moral em dois liceus do Porto;

(iv) Em Agosto de 1967 "foi abruptamente interrompido nesta sua missão pastoral pelo Administrador Apostólico da Diocese, por suspeita de estar a dar cobertura a actividades consideradas subversivas dos estudantes (concretamente, por favorecer o movimento associativo, coisa proibida pelo regime político de então)";

(v) Nomeado capelão militar, "sem qualquer consulta prévia, pelo mesmo Administrador Apostólico", viu-se compelido a frequentar, durante cinco semanas seguidas, um curso intensivo de formação militar, na Academia Militar, em Lisboa;

(vi) Em Novembro de 1967, desembarca na Guiné-Bissau, na qualidade de alferes capelão do Exército português, integrado no BCAÇ 1912, com sede em Mansoa;

(vi) Menos de cinco meses depois, em março 1968,  é "expulso de capelão militar, por ter ousado pregar, nas Missas, o direito dos povos colonizados à autonomia e independência", e mandado regressar à sua diocese, sendo "rotulado pelo Bispo castrense de então, D. António dos Reis Rodrigues, como padre irrecuperável ";

(viii) Em Abril de 1968, foi nomeado pároco da freguesia de Paredes de Viadores (Marco de Canaveses);

(ix) Em Junho de 1969 é exonerado da paróquia de Paredes de Viadores pelo mesmo Administrador Apostólico da Diocese do Porto, que o havia nomeado;

(x) Em Outubro de 1969 está a paroquiar a freguesia de Macieira da Lixa (Felgueiras), por nomeação do Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, entretanto, regressado do exílio;

(xi) Em Julho de 1970 é preso pela PIDE/DGS;

(xii) Em Março de 1971 sai da prisão política de Caxias, depois de ter sido julgado e absolvido pelo Tribunal Plenário do Porto;

(xiii) Volta a ser preso pela PIDE/DGS em Março 1973; quando sai em liberdade, em Fevereiro de 1974, é "informado, de viva voz, pelo Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, que já não era mais o pároco de Macieira da Lixa";

(xiv) Em 1975 torna-se jornalista profissional;

(xv) Em Julho 1995, e a convite do jornal Público, "regressou à Guiné-Bissau, onde permaneceu durante uma semana, com o encargo de escrever uma crónica por dia sobre o passado e o presente daquela antiga colónia portuguesa" (...).




Guiné-Bissau > Região do Oio > Mansoa > 1995 >  O jornalista Mário de Oliveira com o padre missionário que foi encontrar em Mansoa.

Foto:© Padre Mário da Lixa (2003) (com a devida vénia...)


(**) Último poste da série > 21 de fevereiro de 2014 >  Guiné 63/74 - P12753: (De)caras (15): O meu primo Agnelo, e meu conterrâneo da ilha de Santo Antão, comandante do PAIGC, com quem me reencontrei no pós-25 de abril, em Bissau, era eu empregado bancário, no BNU - Banco Nacional Ultramarino (António Medina, ex-fur mil op esp, CART 527, Teixeira Pinto, 1963/65, a viver nos EUA, desde 1980)

segunda-feira, 24 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12895: Notas de leitura (575): "Como Fui Expulso de Capelão Militar", por Padre Mário de Oliveira (Mário Beja Santos)






Capa do livro “Como eu fui expulso de capelão militar”, por Mário de Oliveira (Edições Margem, 1995)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Outubro de 2013:


Queridos amigos,
São assim as surpresas da Feira da Ladra.
Estou já regalado com livros encontrados de leituras que fiz na meninice e que espero que venham a ser úteis para um livro que ando a congeminar sobre as minhas memórias de fedelho, eis quando uma bela capa me chamou a atenção.

Porque o Padre Mário não se faz rogado, capas só de grandes autores como Inácio Matsinhe e neste caso Roberto Chichorro, um dos nomes maiores da pintura moçambicana. O título tinha o seu picante, e a decisão ficou tomada quando vi que se tratava da memória dos quatro meses em que ele viveu na Guiné-Bissau como capelão.
Posso imaginar a turbulência que ele lá provocou, nos meios castrenses. Também assim se fez a história da Guiné, com padres revoltosos.

Um abraço do
Mário



Como fui expulso de capelão militar: O Padre Mário de Macieira da Lixa explica-se, mostra o seu diário

Beja Santos


“Como eu fui expulso de capelão militar”, por Mário de Oliveira (Edições Margem, 1995) é o testemunho do Padre Mário de Oliveira que em Março de 1968 foi expulso de capelão militar depois de integrar durante quatro meses um Batalhão na Guiné.

 Sacerdote polémico, vive desde Outubro de 1975 como padre sem ofício pastoral, dedica-se a um projeto denominado Igreja Popular e é jornalista. 

Antes de ser capelão militar na Guiné-Bissau, foi professor de Religião e Moral no então Liceu D. Manuel II e era assistente diocesano da JEC. Terão chegado queixas ao administrador apostólico da Diocese do Porto acerca do seu trabalho com os jovens, foi despachado para a Academia Militar para frequentar o curso de Capelões. 

Não guarda em grande conceito o Bispo castrense, D. António dos Reis Rodrigues. Tece comentários amargos à conivência da hierarquia da Igreja Católica com o regime de Salazar. Naqueles meses da Guiné escreveu um diário e explica as reservas utilizadas: 

“O diário propositadamente omite o nome das terras por onde passei. Tão pouco divulgo o número do Batalhão em que fui integrado e no seio do qual desencadeei a ação que culminou com o meu afastamento compulsivo”.

O diário começa no dia 28 de Outubro de 1967: 

“Não sinto saudades. Não chorei à partida. E não esforço. Mas costumou-se a separação. Só Deus me aguentou. Se Ele não fosse o ideal da minha vida, não teria saído”

No dia seguinte, o capelão do Batalhão celebrou Missa no porão do Uíge: 

“Não me satisfez a Missa. Está numa linguagem que não se entende. Celebrámos a Festa de Cristo Rei e ninguém terá entendido isso”

Percebe que não houve fraternidade, no final da Missa foram todos a correr para os bares. E no dia seguinte houve instrução, tece outro tipo de recriminações: 

“O major falava das moças pretas. E pude ouvi-lo a instruir como conhecer quando o soldado poderia usá-las sexualmente. E quando elas, por sinais já convencionais, deixassem perceber concordavam, que era só procurar um sítio para isso. Ouvi bem! Nenhum estímulo a saberem servir, a respeitar, a permanecer fiéis. Será isto civilizar? Será isto amar o preto, respeitá-lo?”.

A viagem prossegue maravilhosamente e a 1 de Novembro o Capelão apercebe-se que estavam perto da Guiné, aqui chegarão no dia seguinte. A 4 regista os muitos soldados que vê em Bissau, as viaturas do Exército e escreve: 

“Tenho a sensação de estar num país estrangeiro. Não se entende os que os nativos dizem entre si. Outro defeito grave do passado. Nem a língua comum se procurou dar ao nativo

A 8 marcha para o seu Batalhão, à noite aproximou-se do edifício das praças, encontrou muita gente na jogatina. Medita sobre o que poe fazer para a valorização pessoal, ali não há clima de virtude. Os dias que se seguem são de contacto com as unidades, desloca-se e celebra Missa num fortim: 

“Ali estão perdidos dias seguidos. Estiveram presentes. Também o que estava de vigia no ponto mais alto, pois ficava mesmo em frente do altar. Num cenário de guerra, Cristo nasceu. E falou”

Vai registando factos para si surpreendentes: um inimigo que fugiu da prisão; a chegada de uma companhia de uma operação, chegaram eufóricos porque mataram e feriram e não tiveram baixas; vai registando depoimentos, acompanha o tenente médico pelas tabancas.

Por vezes, espraia-se em dissertações sobre a evangelização em África, mas acontecimentos triviais ou inusitados são transcritos para o papel como aquele Pedro que estava louco de amores pela Mariana e atirou duas granadas de sopro que feriram a bajuda. Reflete sobre a Missa. 

Numa coluna que se deslocou a Bissau rebentou uma mina em plena estrada, o capelão ia num jipe, a tudo assistiu. Escreve sobre o Advento. A 8 de Dezembro, exalta Maria, mãe da humanidade. Visita a cadeia onde se encontra pessoal preso em operações, há ali também suspeitos. Sente-se nas suas reflexões que está a entrar num caldeirão emocional. Nunca esquece os soldados feridos, acompanha-os, reza com eles. Continua a visitar os destacamentos e as tabancas. Começou a preparação litúrgica do Natal, toma nota dos maus tratos dados aos nativos que se recusaram a fazer capinações. 

Escreve longamente na vigília de Natal e a 25 regista que chegaram dez feridos, um dos quais já sem pernas, mais uma mina anticarro. 

“Nunca passei uma noite de Natal tão esquisita. Estive no refeitório das praças, em confraternização geral, com oficiais da companhia que jantava e os comandos. Mas não estava bem. Nunca senti saudades de ninguém. Apenas sofria". 

A 26, é procurado por um alferes que manifestara vontade de se confessar e que pediu para comungar.

Já não esconde o seu estado de revolta, refere a situação desumana dos prisioneiros, as torturas a que são submetidos. Em 1 de Janeiro, houve um ataque ao aquartelamento onde estava o capelão. Morreu um soldado milícia e ele rezou a seu lado. Os textos ganham dureza: construímos a paz ou alimentamos uma guerra, o texto da sua homilia vai suscitar polémica. O seu chefe religioso de Bissau vai inteirar-se da situação. 

O seu diário é tão confuso quanto a sua incompreensão ao destino que lhe está reservado. Continua a celebrar Missa, percebe-se que o deixam andar pelos destacamentos, não o querem no Batalhão. Regista a 30 de Janeiro: 

“Vivo horas difíceis. Estou a ser rejeitado e mal interpretado. Deus é o meu apoio, a minha força, o meu refúgio. Soube, ontem, que veio cá ao quartel um agente da PIDE para falar com um dos comandantes. Foi pedido o meu cadastro. Será pelas homilias. Como português e como cristão, apenas quero dar o meu contributo para a solução do problema que nos mantém cá na Guiné”

No dia seguinte chega uma mensagem para se apresentar em Bissau. E escreve: 

“Mas que mal fiz eu? Será um crime pregar aos cristãos a Palavra de Deus com clareza e objetividade e querer que as relações em Batalhão e fora dele sejam mais realizadas no Amor uns aos outros?”

Sente-se caluniado, até admitiram a hipótese de ter vindo assalariado por um grupo de revolucionários do Porto.

As suas homilias são cada vez mais incómodas, o Padre Mário tira toda a incandescência possível das homilias: 

“Muita gente, mesmo de responsabilidade, confundiu o Reino dos Céus com a vida ultraterrena, à qual se chegava abandonando esta. Não sei mesmo como foi possível fazer da religião um conjunto de práticas de piedade que nada tinham a ver com a vida no mundo, quando o Evangelho de Cristo é todo ele atividade contínua e entusiasta no mundo”

Exalta a sociedade nova, critica os ociosos e recorda o cristianismo primitivo. A 17 de Fevereiro, o seu chefe religioso apareceu e falou-lhe em particular, perguntou-lhe se aceitava mudar de unidade, ir para outro batalhão, recomendou-lhe que usasse da prudência no futuro. A 22 de Fevereiro, volta a Bissau, encontra-se com o chefe religioso de Lisboa. E diz ao seu superior que não achava justo mudar de batalhão, não praticara qualquer crime. O seu chefe reagiu mal: 

“Há já um mês que queriam mandá-lo para Lisboa. Eu é que o fui segurando aqui. Mas, já que agora me fala dessa maneira, não muda de Batalhão: vai para Lisboa e lá vê-se o que se há de fazer”

No fim de Fevereiro recebe instruções para embarcar para Lisboa. E conclui:

“Ouvi do meu bispo as piores referências! Não quis ouvir-me. Não me deu oportunidade de o informar, pormenorizadamente, do que se tinha passado. Não se mostrou interessado em conhecer a mensagem que anunciara no correr dos quatros meses”

É considerado irrecuperável para determinadas atividades sacerdotais. E daqui parte para casa dos pais, em Lourosa, onde chegou pela meia-noite. Era dia dos seus anos.
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Março de 2014 > Guiné 63/74 - P12864: Notas de leitura (574): "Pai, tiveste medo?", por Catarina Gomes (Mário Beja Santos)