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terça-feira, 17 de outubro de 2006

Guiné 63/74 - P1187: Guidaje: soldado paraquedista Lourenço... deixado para trás (Manuel Rebocho)

Texto do Manuel Rebocho - Sargento-Mor Paraquedista, na Reserva, que foi operacional na Guiné (Maio de 1972/Julho de 1974) e é hoje doutor por extenso, pela Universidade de Évora -, enviado em 2 de Outubro de 2006, e onde se resume o trabalho jornalístico, publicado pelo jornal quinzenário AuriNegra, com sede em Cantanhede (II série, nº 102, de 24 de Setembro de 2006), sobre a trágica morte e o miserável abandono do Soldado Paraquedista Lourenço, em Guidaje.


AURINEGRA ÀS VOLTAS POR GUIDAJE
Manuel Rebocho

Na sua edição de 24 de Setembro último, o Jornal Aurinegra edita um extenso trabalho sobre o Soldado Pára-Quedista Lourenço, enterrado em Guidaje, nascido e criado no concelho de Cantanhede, onde o jornal se publica. Era assim um filho da terra.

Na primeira página surge uma fotografia do Lourenço, com a farda azul de Pára-Quedista, que preenche metade da página, sob o título DEIXADO PARA TRÁS. E, como texto, escreve: “Com 19 anos de idade, o soldado Lourenço tombou no campo de batalha, na Guiné, quando procurava ajudar um camarada ferido. Foi enterrado em Guidaje, em campo aberto junto ao quartel e deixado para trás até hoje. Há agora uma pequena possibilidade de recuperar os seus restos mortais e fazer o luto com a honra devida".

Na página 3, em Editorial do Director, o Dr. António Fresco escreve, sob o título Contra os canhões:

“Estão profundamente marcadas na memória de muitos portugueses as recordações incómodas da Guerra do Ultramar, cujo principal mérito foi o de transformar milhares de jovens inocentes, filhos de um deus menor, em mártires, bodes expiatórios de uma culpa que nunca foi sua, pagando pecados que nunca cometeram. Estes foram os verdadeiros mártires de Abril.

"Se pode dar-se razão à máxima de que não há revolução se o sangue não correu, é possível dizer que este sangue derramado por jovens portugueses em África chegou a Lisboa e fez os seus efeitos. Mesmo ficando em Tite, em Guidaje, no Quanza, no Uíje, no Niassa e em muitos outros sítios cujos nomes nos parecem exóticos mas que para muitos ainda soam a medo e a guerra. Muitos que a protagonizaram e sofrem efeitos que nunca mais se apagaram e muitos outros, famílias inteiras, obrigados a conviver com a dor da perda irreparável.

"E muitos, por razões que a razão não compreende, não puderam sequer fazer um luto devido, uma vez que os corpos dos seus por lá ficaram. É o caso do soldado Lourenço, que hoje ocupa uma parte significativa do AuriNegra. Deixado para trás, no meio da devastação e no teatro da guerra mais sangrenta, na fronteira da Guiné com o Senegal, o filho de Fornos, Cadima, foi enterrado à pressa, embrulhado num lençol e lançado a uma terra com a qual só teve a ver porque uma guerra estúpida a isso o condenou.

"Mais de trinta anos depois, os restos mortais continuam a ser reclamados. E há gente de armas que entende ser dever da Pátria recuperar aqueles que morreram em seu nome. Esta Pátria que nos incita, ainda hoje, contra os canhões, marchar, marchar, não pode ignorar e não pode deixar ninguém para trás.”

O tema ocupa ainda e integralmente as páginas 9, 10 e 11.

Na página 10, com uma fotografia dos pais do Lourenço, desenvolve-se um artigo sob o título Deixado para trás > GUERRA NO ULTRAMAR > Soldado Pára-Quedista de Fornos, Cadima, morto em combate há 33 anos, permanece sepultado no mato a norte da Guiné.
O jornal resume assim, o texto desta página: “Um cemitério improvisado nas imediações do então aquartelamento de Guidaje, a norte da Guiné, guarda, desde 1973, os restos mortais de José de Jesus Lourenço, soldado pára-quedista natural da localidade de Fornos, freguesia de Cadima. O corpo foi enterrado em campo aberto juntamente com os de mais nove combatentes, (outros dois pára-quedistas, cinco soldados do Exército e dois nativos) e nunca foi resgatado, contrariando a máxima dos pára-quedistas segundo a qual ninguém fica para trás".

O jornal identifica ainda os outros sete camaradas do recrutamento metropolitano e esclarece que “em estudo está a abertura de uma conta no banco através da qual amigos e militares possam contribuir”, para os custos das transladações.

Na página 10 o Jornal desenvolve dois artigos, o primeiro sob o título Morte heróica: Soldado de Fornos levou tiro fatal quando tentava salvar camarada ferido.

Como resumo deste título escreve: “A morte do soldado pára-quedista, de 19 anos, da localidade de Fornos, Cadima, ganha nova dimensão quando se conhecem as circunstâncias em que ocorreu. Num depoimento oficial, o sargento da companhia de que José de Jesus Lourenço fazia parte afirma que o pára-quedista encontrou a morte quando tentava retirar um camarada ferido da zona de morte”.

No segundo artigo sob o título Na guerra por opção, José de Jesus Lourenço foi para a tropa como voluntário para despachar o serviço obrigatório.

Com resumo escreve: “Foi o desejo de despachar a tropa que, segundo os seus pais, ainda vivos, levou José de Jesus Lourenço a oferecer-se como voluntário, tinha então 18 anos. Caso não o tivesse feito, provavelmente seria chamado a cumprir o serviço militar cerca de dois anos depois, já depois do 25 de Abril, pelo que dificilmente se bateria pela Pátria no então Ultramar.”

Integrando ainda este artigo são feitas diversas referências à pessoa do Lourenço, todas elogiosas, da responsabilidade de vizinhos e amigos que com ele conviveram e trabalharam.
A página 11 é preenchida com um resumo das operações em torno de Guidaje, particularizando-se aquelas em que interveio a companhia do Lourenço, resumo este, de minha própria responsabilidade, e o mapa do improvisado cemitério.

A contribuição do jornal que, justificada e compreensivelmente, enfatiza toda a investigação em torno do soldado Lourenço, filho da terra, é no mínimo de grandiosidade jornalística e de extrema utilidade, para os nossos propósitos.

A justificação da componente social desta investigação encontrámo-la, quando, já em Fornos, a jornalista, eu e um camarada dos combates na Guiné, que nos acompanhava, interpelámos um habitante sobre o local onde moravam os Senhores (dizíamos o nome dos pais do Lourenço). O homem em causa, que aparentava pouco mais de 30 anos, afirmou não conhecer as pessoas cujos nomes lhe citávamos, mas quando lhe dissemos “são os pais de um soldado Pára-Quedista que morreu na Guiné e o corpo não veio”, o homem respondeu: “Ah, já sei, é ali”. Este episódio revela o quanto a sociedade tem preservado e transmitido às gerações seguintes este lamentável episódio daquele lugar, pois o homem que interpelámos não se pode recordar de algo que aconteceu quando ainda não era vivo: tem-lhe sido transmitido.

Conscientes da componente social de que se reveste o nosso objectivo e da notável contribuição do jornal AuriNegra, cuja abertura da conta bancária nos poderá proporcionar o último meio que nos falta, o monetário, seguimos em frente até entregar às suas famílias os restos mortais dos nossos camaradas que FORAM DEIXADOS PARA TRÁS.

Um abraço a toda a tertúlia, em especial, e a todos os leitores em geral.
Manuel Rebocho
__________

Nota de L.G.:

(1) Vd. posts de:

14 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P877: Nós, os que não fazemos parte da história oficial desta guerra (Manuel Rebocho)

28 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P919: Vamos trasladar os restos mortais dos nossos camaradas, enterrados em Guidage, em Maio de 1973 (Manuel Rebocho)

21 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1099: O cemitério militar de Guidaje (Manuel Rebocho, paraquedista)

quinta-feira, 5 de outubro de 2006

Guiné 63/74 - P1151: Resposta ao Manuel Rebocho: O papel do Orion na batalha de Guileje/Gadamael (Pedro Lauret)

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Guiné > Região de Tombali > Rio Cacine > 1971 ou 1972 > Pedro Lauret, oficial imediato do NRP Orion (1971/73), na ponta do navio, a navegar no Cacine, tendo a seu lado o comandante Rita, com quem fez a primeira metade da sua comissão na Guiné. "Um grande homem, um grande comandante" (PL).

Foto alojada no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.


Foto © Pedro Lauret (2006) . Todos os direitos reservados.


Caro Manuel Rebocho,

Agradeço a tua carta (1) pois ela permite esclarecer alguns aspectos da situação que se viveu naquele mês de Maio e princípio de Junho de 1973 na Guiné. O Blogue do Luís Graça [& Camaradas da Guiné] tem exactamente esse mérito, pôr a falar entre si companheiros de armas que viveram tempos difíceis, recordar acções que viveram em conjunto e contribuir, à sua medida, para que se faça História.

Para poder responder às tuas questões tenho esclarecer em primeiro lugar que o dispositivo de fiscalização nos rios da Guiné era efectuado por Task Groups (TG) constituídos normalmente por uma Lancha de Fiscalização Grande (LFG) e duas Lanchas de Desembarque Médias (LDM), a bordo da LFG seguiam cerca de 8 botes Zebro III com marinheiros fuzileiros como condutores. O comandante da LFG era o comandante da força (CTG). Este dispositivo permitia efectuar um variado tipo de acções quer de ordem ofensiva, defensiva ou logística.

No dia 1 de Junho de 1973 (não consegui confirmar com toda a certeza o dia pois o Diário Náutico da Orion referente ao período de 1970-1973 desapareceu), cerca das 20:00 encontrando-se o NRP Orion fundeado no rio Cumbijã recebemos ordem para seguir para Cadique e embarcar uma Companhia de Paraquedistas e seguir para Cacine com todo o dispositivo.

O Navio subiu o rio e embarcou a companhia de Paras com botes.

Foram dadas indicações às duas LDM – as LDM tinham como militar responsável, não um Sargento mas um Cabo de Manobra - que integravam a TG, para seguirem para Cacine pelo canal do Melo. A Orion não podia passar pelo canal do Melo por causa do calado pelo que saiu a barra do Cumbijã, navegou para sul entrou a barra do Cacine. Chegámos a Cacine nos primeiros alvores já aí se encontrando as 2 LDM, e desembarcamos a companhia de Paras.

A bordo da Orion entrou o Major paraquedista Pessoa que nos informou do seguinte:

  • Guileje, após intensos bombardeamentos fora evacuada e o contingente aí instalado seguiu para Gadamael;
  •  O Major Coutinho e Lima, comandante do COP, que tinha dado a ordem, seguira para Bissau sob prisão;
  • Gadamael estava sob fogo intenso e a grande maioria dos militares tinha fugido para as margens do rio Cacine (ver depoimento do Capitão Ferreira da Silva no Jornal Público) (1);
  • O General Spínola tinha estado em Cacine e tinha dado ordem explicita para ninguém ir socorrer o pessoal que andava fugido nas margens do rio, apelidando-os de cobardes;
  • O Major Pessoa ainda nos informou que se nós não fossemos recuperar o pessoal ele próprio iria nem que fosse de canoa.

O navio por sua inteira responsabilidade, e sem nada comunicar ao Comando da Defesa Marítima,  decidiu de imediato ir recuperar o pessoal. Foram dadas indicações aos patrões das LDM para seguirem nas águas da Orion.

Passamos o rio Meldabon junto a uma marca radar (marca Lira), a qual já não era passada por uma LFG há muito, não se conhecendo a situação dos fundos. Conseguimos seguir até ao rio Dideragabi (ver carta Cacoca/Gadamael, 1/50 mil), para montante era impossível navegar pois já não tínhamos fundo.

Foram colocados botes na água que passaram revista à margem esquerda do Cacine bem como as duas LDM. Foram recolhendo pessoal que traziam para bordo da Orion onde os feridos passaram a ser tratados, os mais ligeiros no convés,  os mais graves foram para a coberta das praças. Foi fornecida alguma alimentação ao pessoal. Como já havia muito pessoal a bordo,  as LDM passaram a levar o pessoal para Cacine.

Já de noite a Orion dirigiu-se a Cacine não podendo desembarcar os feridos mais graves pois estávamos em baixa-mar e a pista de lodo impedia-o.

Nessa noite a coberta das praças funcionou como navio hospital. O soro, compressas e outra material de primeiros socorros esgotaram. Foi pedido reabastecimento urgente a Bissau. Na manhã seguinte o material chegou num pequeno avião da Marinha.

Continuamos na zona por vários dias com o dispositivo.

Vou agora comentar a tua carta.

- Fotografias – Na primeira vê-se uma das LDM atracada à Orion a passar pessoal para bordo, na segunda os botes e as LDM a recolher pessoal das margens, conforme acima expliquei e como foi relatado pelo jornalista do Público.

Quero dizer, como comentário, que o que foi feito é o que está acima descrito, nunca dissemos outra coisa. Nunca foi dito que a Orion embarcou directamente o pessoal das margens, era absurdo. O que na realidade fizemos foi apenas desobedecer a uma ordem explicita do Comandante Chefe, quando o que estava em causa eram centenas de vida de militares e civis, numa altura em que a Força Aérea não voava quer para apoio de fogo quer para evacuações.

É completamento falso que tenhamos recebido qualquer ordem do major Monje, ou de qualquer outro, ou que as LDM tivessem actuado que não por ordem do navio, o único contacto que mantivemos foi com o major Pessoa. Nesse dia não recebemos ordens, estivemos entregues a nós próprios, o descontrolo era total, só isso explica a ordem do general.

O Major Monje só muito mais tarde viria a bordo, só no dia seguinte e apenas para coordenar acções, os navios dependiam directamente do Comando da Defesa Maritima.

Não fomos flagelados, mas podíamos ter sido, basta olhar para o mapa, também nunca dissemos que o fôramos e nem sequer dissemos em sitio algum que tínhamos corrido qualquer risco maior que os outros.

Na tua carta falas apenas de população nas margens, mas não era só população nas margens mas população e militares. O depoimento do Ferreira da Silva (2) é totalmente esclarecedor.

Penso que para já é tudo, estou sempre à disposição para qualquer outro esclarecimento (3).

Um abraço
Pedro Lauret
_____________

Nota de L.G.:
 
(1) Vd. post anterior

(2) Vd. Segunda e última parte do trabalho de investigação do jornalista Eduardo Dâmaso > (Público, 26 de Junho de 2005), reproduzido no nosso blogue, em post de 15 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P879: Antologia (43): Os heróis desconhecidos de Gadamael (II Parte)

(3) Vd. outros posts relacionados com este tópico:

15 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P878: Antologia (42): Os heróis desconhecidos de Gadamael (Parte I)

2 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVIII: No corredor da morte (CCAV 8350, Guileje e Gadamael, 1972/73)

2 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - XCI: Antologia (6): A batalha de Guileje e Gadamael

quarta-feira, 4 de outubro de 2006

Guiné 63/74 - P1150: Carta a Pedro Lauret: A actuação da LFG Orion na evacuação das NT e da população de Guileje, no Rio Cacine, em Junho de 1973 (Manuel Rebocho, ex-Srgt Pára, CCP 123, 1972/74)

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Guiné > Região de Tombali > Cacine > Rio Cumbijã > Junho de 1973 > "A LFG Orion, com populares a serem evacuados (...). A população de Guileje, não sendo aceite pela população de Gadamael, por serem chãos diferentes (no sentido de etnias), embarca num navio Patrulha que a levaria para Bissau, onde desembarcou".


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Guiné > Região de Tombali > Cacine > Junho de 1973 > Uma LDM [Lancha de Desembarque Média] com militares e populares e a costa do rio onde nunca o Orion conseguiria chegar".

Legendas de Manuel Rebocho. Fotos de Delgadinho Rodrigues (2006), gentilmente cedidas por Manuel Rebocho (2006). Todos os direitos reservados.

Fotos alojada no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.




Manuel Rebocho, ex-srgt pqdt, BCP12 / CCP 123 (BS 12, Bissalanca, 1972/74)

Foto: © Manuel Rebocho (2006)


Texto enviado pelo Manuel Rebocho, ex-sargento paraquedista da CCP 123 (Maio de 1972/Julho de 1974), hoje Sargento-Mor Pára-quedista, na Reserva, e doutorado pela Universidade de Évora em Sociologia da Paz e dos Conflitos (tese de doutoramento: "A formação das elites militares portuguesas entre 1900 e 1975").

Carta a Pedro Lauret (1)

Não pretendo fazer polémica mas também a não recuso. Assumo a frontalidade e a responsabilidade do fiz e vi fazer.

A actuação da LFG [Lancha de Fiscalização Grande] Orion, na evacuação das populações de Guileje, que tinham sido forçadas a acompanhar as tropas portuguesas que se retiraram para Gadamael Porto, na manhã do dia 22 de Maio de 1973, teve o seu mérito (2), mas não exageremos.

Nas duas fotografias, que junto, a primeira é da LFG Orion, onde se vêem os populares a serem evacuados. Contudo, a segunda mostra uma LDM [Lancha de Desembarque Média] com militares e populares e a costa do rio onde nunca o Orion conseguiria chegar.


Temos assim que só chegaram ao Orion as pessoas que foram transportadas pela LDM, que era comandada por um Sargento. Acresce, que esta LDM estava aportada em Cacine e foi o então Major Manuel Monge, que desempenhava as funções de Segundo Comandante do COP 4, quem lhe ordenou aquela missão. 

Tendo o Sargento procurado esquivar-se ao cumprimento da ordem, a mesma foi-lhe imposta pela força já que o então Capitão Pára-Quedista Norberto Crisante de Sousa Bernardes que, como eu próprio, assistiu à ordem, determinou a uma força, que ele próprio integrou, que acompanhasse o Sargento e assegurasse a defesa da dita LDM.

Todos sabemos que Manuel Monge era um dos Oficiais mais íntimos de Spínola, cujo comportamento não pretendo justificar, mas antes, ser cientificamente sério. Neste sentido, Monge determinou a evacuação só depois de ter o beneplácito de Spínola.

Neste caso, não recuso méritos ao Orion, que os teve, mas não exageremos, quanto às motivações e iniciativas. O Orion cumpriu uma missão que lhe foi ordenada. E só. Lembro que o Orion estava no local, porque havia ido buscar a CCP [Companhia de Caçadores Pára-quedistas] 123, que integrei como operacional durante 26 meses, a Cadique (Cantanhez) no rio Cumbijã, precisamente para auxiliar Gadamael Porto, como fez. 

O Orion desembarcou a CCP 123 em Cacine, tendo a companhia seguido depois para Gadamael,  de LDM, mas, mesmo assim, desembarcou na zona onde estava a população, seguindo depois a pé até Gadamael, dado que o porto estava a ser constantemente bombardeado.

O Orion esteve sempre muito distante do alcance das granadas que o PAICG estava lançando sobre Gadamael. A população estava dispersa na margem, mas também muito distante de Gadamael.

A presente carta é da responsabilidade do tertuliano Manuel Rebocho, mas não só, também o é do Sargento-Mor Pára-Quedista Manuel Rebocho, que esteve nos actos que refere, e também do Doutor Manuel Rebocho que investigou estas operações durante mais de cinco anos.


Aceite o tertuliano, o camarada e V. Excia. os protestos dos meus mais elevados cumprimentos pessoais.

PS - O Delgadinho Rodrigues era na altura dos factos, tal como eu, Segundo Sargento Pára-Quedista e éramos da mesma companhia [CCP 123]. O facto de ele ter tirado as fotografias prova que estava lá. Como estava.

[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]Guiné 63/74 - P1137: Do NRP Orion ao MFA: uma curta autobiografia (Pedro Lauret, capitão-de-mar-e-guerra)


_________

Notas de L.G.:

(1) Vd post de 1 de Outubro de 2006 >

(2) Vd. posts de 15 de Junho de 2006 :

Guiné 63/74 - P878: Antologia (42): Os heróis desconhecidos de Gadamael (Parte I)

Guiné 63/74 - P879: Antologia (43): Os heróis desconhecidos de Gadamael (II Parte)

quinta-feira, 21 de setembro de 2006

Guiné 63/74 - P1099: O cemitério militar de Guidaje (Manuel Rebocho, paraquedista)



Mapa do cemítério militar de Guidaje, fornecido pelo Estado Maior da Força Aérea. A imagem foi-nos gentilmente cedida pelo nosso camarada Manuel Rebocho.

Foto: © Manuel Rebocho (2006)


Texto do Manuel Rebocho, que é sargento-mor paraquedista na reserva, e foi operacional na Guiné entre os dias 8 de Maio de 1972 e 8 de Julho de 1974 (1)

Luís Graça

Um abraço, extensivo a todos os tertulianos.

No seguimento de outros contactos sobre a transladação dos restos mortais de camaradas que foram enterrados em Guidaje, trago hoje alguns elementos novos.

Antes de tudo, gostaria que colocasses no blogue um outro mail que te enviei e que, naturalmente por falta de tempo, não consta ainda editado (2). Porém, o importante nesse mail, era a minha sugestão, na sequência de outra opinião de outro camarada, para que encabeçasses um grupo de trabalho com o objectivo da transladação dos restos mortais destes oito camaradas.
Dizia também, que confiava com base no que “conhecia da pessoa do Chefe do Estado-Maior da Força Aérea” que ele nos iria facultar o mapa das campas dos camaradas que tinham ficado em Guidaje. Com efeito, não me enganei e, em boa verdade, estou muito satisfeito por isso.

O referido e importante mapa acaba de me ser entregue, via familiares, a quem o Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, a requerimento destes, o mandou entregar. Mapa que junto em anexo para conhecimento de todos os tertulianos e quantos consultam o blogue, que sei serem muitos milhares de ex-combatentes, mas não só.

Este mapa pode ser muito melhorado, quanto à sua interpretação, pois, como sabemos, o camarada Albano Costa domina e dispõe da fotografia de satélite, de toda aquela área, pelo que lhe faço aqui um convite, para além de um expresso pedido, para que represente o mapa, que agora junto, sobreposto numa fotografia de satélite.

Legenda do mapa:

Coloco a legenda noutra página, porque a legenda contida no próprio mapa está manuscrita e lê-se com muita dificuldade, para além dos nomes não estarem completos. Eu decifrei facilmente os nomes porque tenho outros documentos que me auxiliaram, documentos, estes, que me foram enviados pelo Albano Costa, a quem é devido o reconhecimento pelo esforço desta pesquisa.

Campa 1 > Manuel Maria Rodrigues Geraldes, Sold. n.º 06471572, da 2.ª CC/BC 4512/72. Filho de António Emílio Geraldes e de Ascensão dos Santos Rodrigues. Natural da freguesia de Vale de Algoso, Concelho de Vimioso.

Campa 2 > Bacote Tanga, Soldado nativo, da 3.ª Companhia de Comandos Africanos.

Campa 3 > António das Neves Vitoriano, Soldado Pára-Quedista n.º 528/72, da CCP 121.

Campa 4 > José de Jesus Lourenço, Soldado Pára-Quedista n.º 544/72, da CCP 121.

Campa 5 > Manuel da Silva Peixoto, Soldado Pára-Quedista n.º 1176/70, da CCP 121.

Campa 6 > Talibú Baió, Soldado nativo, da C C n.º 19.

Campa 1-A > José Carlos Moreira Machado, Furriel Miliciano n.º 02893771, da CC 3518. Filho de Manuel Machado e de Delta de Jesus Moreira. Natural do lugar de Sá, freguesia de Ervões, Concelho de Valpaços.

Campa 2-A: João Nunes Ferreira Soldado n.º 09477371, da CC 3518. Filho de Luís Ferreira e de Maria Martinha. Natural da freguesia de Câmara de Lobos, Concelho de Câmara de Lobos – Madeira.

Campa 3-A > Gabriel Ferreira Telo, 1.º Cabo n.º 03117871, da CC 3518. Filho de João de Jesus Telo e de Maria Filomena Ferreira Telo. Natural da freguesia de Paul do Mar, Concelho de Calheta – Madeira.

Campa 4-A > António Santos Jerónimo Fernandes, Fur. Miliciano n.º 09486271, da CC nº. 19. Filho de Domingos António Jerónimo Fernandes e de Maria da Glória Fernandes Jerónimo. Natural da freguesia de Garção, concelho de Vimioso.

Nota que considero muito importante:

Apresento a filiação e naturalidade dos camaradas do Exército, porque, em minha opinião, não se devem transladar os corpos, para os cemitérios das suas freguesias, sem autorização dos familiares. Os elementos apresentados permitem obter essas autorizações, a quem tiver condições para isso.

Quanto aos camaradas Pára-Quedistas, não apresento os mesmos elementos porque já possuo as citadas autorizações.

Tenho agora reunidas todas as condições para a transladação dos restos mortais destes camaradas: tenho os mapas, que eram imprescindíveis, e tenho as devidas autorizações das autoridades da Guiné Bissau. Faltam, porém, os meios financeiros, já que as autoridades portuguesas, segundo me informaram, não têm meios para o efeito. É a minha próxima tarefa: encontrar os meios.

Continuo, todavia, a considerar, que não devem ser transladados apenas os Pára-Quedistas, mas todos os camaradas cujos restos mortais ali se encontram. Conto convosco.

Um abraço a todos os tertulianos

E até breve. O mais tardar até 14 de Outubro, onde alguns nos conheceremos pessoalmente, o que de momento não acontece.

Manuel Rebocho


Guiné > O sargento paraquedista Rebocho (Maio de 1972/Julho de 1974), hoje Sargento-Mor Paraquedista, na Reserva, e doutorado pela Universidade de Évora em Sociologia da Paz e dos Conflitos (tese de doutoramento: "A formação das elites militares portuguesas entre 1900 e 1975").

Foto: © Manuel Rebocho (2006)
__________

Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 28 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P919: Vamos trasladar os restos mortais dos nossos camaradas, enterrados em Guidage, em Maio de 1973 (Manuel Rebocho)

(2) Julgo ser este o e-mail do Manuel Rebocho, que recebi em 24 de Julho de 2006 e que, por lapso ou falta de tempo, não chegou a ser dvulgado no blogue. Passo a transcrevê-lo:

Meus Caros Idálio Reis, Luís Graça e todos os TERTULIANOS

Em resposta ao mail do Idálio Reis, de hoje, dia 24 de Julho, tenho a informar:

1. Efectivamente fui eu quem esteve em casa dos pais do Lourenço, em Cantanhede; da irmã do Peixoto, em Vila do Conde; e da mãe e dos irmãos do Vitoriano, em Castro Verde. A todos prometi que havia de lhes entregar os restos mortais dos seus entes queridos. Tudo farei para cumprir a minha promessa, mesmo que pague do meu bolso.

2. Quanto ao ponto da situação:

a) As autoridades políticas e militares portuguesas não se recusam a trazer os corpos, o que vão dizendo é que não têm dinheiro;

b) Desloquei-me ao Estado-Maior da Força Aérea para solicitar os mapas do local onde foram enterrados os Soldados Pára-Quedistas. Recusaram-mos;

c) A família do Vitoriano remeteu requerimento ao General CEMFA, solicitando os mapas. Do que conheço do General CEMFA, considero que ele lhos vai entregar. Se os mapas forem recusados, a família irá recorrer a Tribunal.

d) Organizou-se, na Universidade de Évora, um Grupo de Arqueólogos, de que faz parte uma das irmãs do Vitoriano, para se deslocarem à Guiné com o objectivo de procederem às escavações para recolherem e catalogarem os restos mortais dos militares que foram enterrados em Guidage;

e) Reuni-me em Évora, com o núcleo de Estudantes da Guiné, para os auscultar sobre a eventualidade de se ir à Guiné transladar os restos mortais de alguns antigos combatentes. Todos os alunos se mostraram completamente disponíveis para ajudar e esclareceram que nem as autoridades nem as populações colocariam qualquer entrave ao que eu pretendia;

f) Solicitei audiência e reuni-me com o Senhor Chanceler da Guiné, Dr. Mbala Alfredo Fernandes, Licenciado em Sociologia pela Universidade de Évora, que me informou da sua total disponibilidade para colaborar no que fosse necessário, expressando mesmo, a disponibilidade das autoridades do seu país para ceder toda a documentação possível. O Dr. Mbala considerou mesmo que o Presidente da República, General Nino Vieira, estaria disponível para nos receber.

3. Quanto à organização de uma comissão com este objectivo, considero uma ideia generosa, porquanto, já percebeste, que a tarefa não é de fácil resolução.

4. Como Lisboa fica numa posição mais ou menos central, para além de não poucas outras razões, sugiro desde já, que a comissão seja coordenada pelo Luís Graça (3) e integre todos os que tiverem possibilidades de dar algum contributo. E então, estou certo, cumprirei a minha palavra, com a vossa ajuda.

5. A partir dos elementos que me foram fornecidos pelo Albano Costa, um entusiasta de Guidage (ou Guidaje, segundo o Luís Graça) (4), ao lado dos três Pára-quedistas estão enterrados outros cinco militares metropolitanos.

6. Trabalhando eu sozinho, não podia ir além dos Pára-quedistas, por mais que isso me desagradasse. No passado fim-de-semana reuni com a família do Vitoriano, onde esta questão foi muito discutida, mas a falta de meios colocavam-nos limitações.

7. Trabalhando, neste assunto, uma comissão, considero que se terá que falar em oito corpos e não em três.

Um abraço ao Idálio Reis, ao Luís Graça e a todos os TERTULIANOS

NOTA:
Este mail vou igualmente enviá-lo ao Luís Graça.

(3) Meu caro Manuel: O coordenador da comissão só pode ser... o Manuel Rebocho. O teu exemplo de dedicação, solidariedade, camaradagem e patriotismo é inexcedível. Tu és o homem certo no lugar certo. Nós pomos o nosso blogue à disposição desta belíssima causa. E daremos a cara se for preciso. Mas a liderança está bem entregue. (LG)

(4) Guidaje (e não Guidage) é a grafia usada pelos nossos serviços cartográficos que elaboraram a respectiva carta (1/50.000)

quarta-feira, 28 de junho de 2006

Guiné 63/74 - P919: Vamos trasladar os restos mortais dos nossos camaradas, enterrados em Guidage, em Maio de 1973 (Manuel Rebocho)



Guiné > O sargento paraquedista Manuel Rebocho (Maio de 1972/Julho de 1974), hoje Sargento-Mor Paraquedista, na Reserva, e doutorado pela Universidade de Évora em Sociologia da Paz e dos Conflitos (tese de doutoramento: "A formação das elites militares portuguesas entre 1900 e 1975").

Fotos: © Manuel Rebocho (2006)


Texto do Manuel Rebocho, Sargento-Mor Pára-Quedista, na Reserva, que foi operacional na Guiné (Maio de 1972/Julho de 1974, hoje doutor por extenso, pela Universidade de Évora, e um dos mais recentes membros da nossa tertúlia. O apelo do Manuel Rebocho merece, desde já, o meu apoio, extensivo - julgo eu - ao resto dos camaradas e amigos da Guiné. Eu ignorava completamente esta situação de abandono, puro e simples, de camaradas mortos em combate!... Só o desnorte do regime político de então e dos responsáveis das suas Forças Armadas é que pode explicar esta situação infamante... Mas para já temos de saber quantos são, quem eram, a que unidade pertenciam, donde eram naturais... É uma boa ocasião para sensibilizar a opinião pública portuguesa para o drama de toda uma geração que fez a guerra colonial e que recusa ser uma geração envergonhada, culpabilizada, esquecida, e menos ainda uma geração de coitadinhos... Reivindicamos o direito à memória e à dignidade (LG)


Meu caro Luís Graça

Embora um pouco demorado e contra o meu habitual, junto te envio as duas fotografias que me solicitaste.

Quanto à tua pergunta, se sou doutorado ou doutorando, digo-te que sou doutorado em Sociologia da Paz e dos Conflitos. A tese que defendi subordinei-a ao tema “A FORMAÇÃO DAS ELITES MILITARES PORTUGUESAS ENTRE 1900 E 1975”.

Aproveito para te agradecer, bem como ao Humberto Reis, a vossa disponibilidade para colocarem, no blogue, a carta militar de Guidage (2). Iguais agradecimentos dirijo ao Albano Costa por me ter enviado a fotografia de Guidage, tirada de satélite.

O meu interesse por Guidage tem fundamentos científicos, na medida em que concluí que as consequências negativas para as nossas tropas, durante os combates que tiveram lugar naquela zona, durante o mês de Maio de 1973, se ficaram a dever a erros grosseiros de planeamento e execução das operações militares.

Objectivamente, a morte dos quatro Soldados Paraquedistas, no dia 23 de Maio, durante a execução da Operação Mamute Doido, junto à tabanca de Cufeu, deveram-se, segundo a minha investigação, a erros que eu não admitia a qualquer dos três cabos da minha Secção. E o pior, e de todo injustificável, é que três destes Soldados forem enterrados, tal como um elevado número de Soldados do Exército, junto ao arame farpado, do lado de fora, do Destacamento de Guidage.

Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Novembro de 2000 > A bolanha de Cufeu.
Foto e legenda: © Albano M. Costa (2005)
Tenho procurado apoios para a transladação dos restos mortais destes camaradas (Páras e do Exército), para os cemitérios das suas terras Natal, por considerar inconcebível este abandono, dos corpos de jovens que morreram no cumprimento de obrigações que a Pátria lhe impôs. Apoios que ainda não consegui. Mas também te digo, que não conheço a palavra desistência.

É que, para além de tudo o que se tem dito, sobre as motivações que conduziram ao Golpe Militar de 25 de Abril de 1974, uma coisa ninguém refere, mas eu sei: enquanto decorriam os combates em Guileje/Gadamael e Guidage, (lembro que o abandono de Guileje se verificou no dia 22 de Maio e estes combates em torno de Guidage, de que te estou a falar, decorreram no dia seguinte), Spínola dirigiu uma carta ao Ministro do Ultramar dizendo-lhe que não tinha meios para continuar a Guerra.

Ressalta daqui, e o Investigador não o pode ignorar ou esconder, que os combates de Guileje/Gadamael e Guidage constituíram formas de pressão de Spínola sobre o poder central para negociar a Guerra.

Então, os homens que morreram nestes combates e, sobretudo, os que ali foram enterrados, constituem-se, quanto a mim, como os grandes mártires “por Abril”. Os outros, bem os outros... Esses trataram da vidinha.

Neste sentido, continuarei a trabalhar para que os nossos camaradas tenham uma sepultura condigna. É o mínimo que eu me sinto na obrigação de fazer.

Já agora, se encontrares o Albano Costa, não te esqueças de lhe dizer que no blogue nos tratamos todos por tu.

Um grande abraço do
Manuel Rebocho
__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 14 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P877: Nós, os que não fazemos parte da história oficial desta guerra (Manuel Rebocho)
Meus caros tertulianos

(2) Em 22 de Junho últim, o Manuel Rebocho escreveu a seguinte mensagem para o Humberto Reis:

Meu caro amigo Humberto Reis:

Cumpri uma comissão de serviço como pára-quedista, na Guiné, entre 1972 e 1974. Venho investigando aquela guerra que, se por uma lado foi igual a muitas outras, também é certo que apresenta algumas espeficidades muito particulares e até atípicas.


Venho agora investigando os combates em torno de Guidage, no mês de Maio de 1973. Para este estudo estou a servir-me das cartas militares que estão no nosso blogue, porém, falta uma que é muito importante: a carta que contém a povoação de Guidage,que fica por cima da carta de Binta.

Como me parece que é o meu amigo quem coloca as cartas no blogue, venho pedir-lhe que faça mais um esforço e cologue lá também a já referida carta de Guidage.

Com o abraço bloguistaManuel Rebocho


O Humberto respondeu no dia seguinte (e deu-me conhecimento do teor da resposta):

Amigo Manuel Rebocho:

Aqui no blogue funciona apenas o tu, sem postos nem títulos. Sobre o teu pedido informo-te que não sou eu que insiro o material no blogue, mas sim o Luís Graça, pois eu em termos informáticos sou um aprendiz de principiante. Julgo que num CD que já dei ao Luís, lá está a carta de Guidaje para inserir no blogue, logo que ele tenha disponibilidade para tal. Portanto, em breve o teu pedido vai ser satisfeito. Faz-me lembrar os programas da rádio dos discos pedidos. Qualquer coisa que precises é só pedir, depois logo se vê se pode ser satisfeito, ou não.
Um abraço,

Humberto Reis

Eu, por meu turno prontifiquei-me a arranjar-lhe o mapa de Guidage, com a seguinte nota (27 de Junho de 2006):

(i) Gostava de ter duas fotos tuas: uma dos bons velhos tempos e outra mais recente, para pôr na nossa fotogaleria…

(ii) Depois arranjo-te o mapa de Guidage… O Humberto Reis é que é o patrão… Entrego-mos digitalizados, eu reduzo-lhes a dimensão e ponho-os em linha (‘on line’) nas nossas páginas na Net… É uma tarefa que requer tempo e paciência…

(iii) Há dias escrevi-te o seguinte (no nosso blogue), espero que tenhas lido, já que não me respondeste: “Meu caro Manuel Rebocho: O José Casimiro Carvalho já me tinha falado em ti. Ex-combatente da Guiné e doutorado (ou ainda doutorando ?) em sociologia, estás duplamente em casa, que é como quem diz: deves sentir-te confortável na nossa tertúlia virtual. Como já cá estás dentro, faz o favor de cumprir a praxe: 2 fotos, uma estória... ou as estórias que quiseres, porque o nosso hobby era a blogoterapia... Escrevemos, contamos estórias, mostramos as nossas fotografias, investigamos, apontamos o dedo à muralha de silêncio que se faz à nossa volta, a geração que fez a guerra colonial e que a perdeu (ou talvez não, por que como diz o Leopoldo Amado, a guerra colonial é apenas uma das faces da moeda; poderemos ter perdido a guerra, mas ganhámos a paz, ou pelo menos estamos a tentar conquistá-la)...

Boa saúde, bom trabalho!
Luís Graça

quarta-feira, 14 de junho de 2006

Guiné 63/74 - P877: Tabanca Grande: Manuel Rebocho, Sargento-Mor Paraquedista na Reserva - Nós, os que não fazemos parte da história oficial desta guerra

Meus caros tertulianos, com uma saudação muito particular ao nosso inquilino, Luís Graça, permitam-me a impertinência de meter a minha colher.

Fui Sargento Pára-Quedista e estive colocado na Guiné entre os dias 8 de Maio de 1972 e 8 de Julho de 1974, sempre como operacional. Sou, de momento, Sargento-Mor Pára-Quedista, na Reserva e tenho por nome Manuel Rebocho.

Sobre o assunto que o Idálio Reis colocou a Nuno Rubim, posso acrescentar-lhe que a história da sua Companhia, a CCAÇ 2317 do BCAÇ 2835, se encontra disponível ao público e está na caixa nº 74, da 2ª Divisão, da 4ª Secção, no Arquivo Histórico Militar, junto a Santa Apolónia, em Lisboa.

Todavia, e como muito bem acentua Nuno Rubim, os relatórios das operações não constam, nem fazem parte desta história, vá-se lá saber porquê! Mas tenho uma opinião, que pode não passar de uma especulação: as histórias são sempre contadas pelos vencedores, logo, à sua semelhança e medida.

E, como concluí, no final da minha investigação sobre a Guerra da Guiné, que conduziu à minha tese de doutoramento em Sociologia, na Universidade de Évora, nos últimos anos da guerra, não havia, ou praticamente não havia, Oficiais oriundos da Academia em lugares de combate. Então, os relatórios das operações só podem revelar que a guerra foi feita pelos milicianos, que não fazem parte dos vencedores de Abril, logo, suprimem-se os relatórios.

É a vida meus amigos… É a vida.

Um abraço a todos,
do Manuel Rebocho

PS - Ah, faltava dizer-lhes, que tomei contacto com o vosso/nosso blogue, através do então Furriel Miliciano José Casimiro Carvalho, da CCAV 8350 (a que abandonou Guileje, em 22 de Maio de 1973), o grande herói de Gadamael Porto, que, não obstante isso, também não faz parte da história oficial da Guerra da Guiné (1).

Comentário de L.G:

Meu caro Manuel Rebocho: O José Casimiro Carvalho já me tinha falado em ti. Ex-combatente da Guiné e doutorado (ou ainda doutorando ?) em sociologia, estás duplamente em casa, que é como quem diz: deves sentir-te confortável na nossa tertúlia virtual. Como já cá estás dentro, faz o favor de cumprir a praxe: 2 fotos, uma estória... ou as estórias que quiseres, porque o nosso hobby era a blogoterapia... Escrevemos, contamos estórias, mostramos as nossas fotografias, investigamos, apontamos o dedo à muralha de silêncio que se faz à nossa volta, a geração que fez a guerra colonial e que a perdeu (ou talvez não, por que como diz o Leopoldo Amado, a guerra colonial é apenas uma das faces da moeda; podremos ter perdido a guerra, mas ganhámos a paz, ou pelo menos estamos a tentar comquistá-la)...

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Nota de L.G.

(1) Vd. post de 2 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVIII: No corredor da morte (CCAV 8350, Guileje e Gadamael, 1972/73)