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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5842: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (8): Momentos de lazer

1. Mais uma Nota Solta da 643, enviada ao Blogue pelo nosso camarada Rogério Cardoso* (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), no dia 16 de Fevereiro de 2010.


MOMENTOS DE LAZER

Não pensem que o clima em Bissorã era sempre pesado, claro que tínhamos que contar em qualquer momento com uns tirinhos, mas como o hábito faz o monge, não era para estranhar. Mas como ia dizendo, normalmente as tardes eram preenchidas com actividades desportivas.

Havia futebol no campo pelado, usado pelo Atlético Clube de Bissorã, partidas de volei, em que aparecia sempre o Administrador Arnaldo Spencer Salomão sempre de equipamento branco, o capelão Padre Leonardo Medeiros e muitos militares como, João Graça, Carlos Alberto, Inácio, Geraldes, Frazão, Hipólito, Rogério e demais elementos.

Seguia-se o banho e jantar na casa da D. Maria do Sr. Maximiano e normalmente uma noitada de cartas nos nossos alojamentos. Eram partidas de King, e quando aparecia o Sr. Michel Ajouz, um velhote libanês de óptimo trato, grande sabedor de Bridge, então era jogo a sério. Parceiro do Sr. Michele que fizesse asneira era o bom e o bonito, ouvia das boas, mas no fim ficava tudo em bem, era a febre do jogo.

Também havia sempre gente para uma lerpinha, jogo que não levava ninguém a lado algum, eram nervos, tabaco e whisky e às vezes zanga.

Claro que muitas as vezes tudo isto era interrompido, ou por ataque à povoação ou saída repentina para Morés, Biambi, Maque, etc., saídas que o Comando ordenava com frequência, além de umas escoltas para o Olossato e Mansoa, mas como todos nós sabemos estes momentos de lazer ajudavam a passar o tempo.

Foto 12 > Fur Mil Rogério com Furriéis da CART 730

Foto 10 > Jantar com civis > À direita o Pedrinho.

Foto 6 > Bissorã > Dia de S. Martinho de 1964, junto ao paiol.
Fotos: © Rogério Cardoso (2010). Direitos reservados.

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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 18 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5839: O 6º aniversário do nosso Blogue (5): A Tabanca Grande (Rogério Cardoso)

Vd. último poste da série de 13 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5809: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (7): O Ventoínha e o seu rádio fulminado

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5809: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (7): O Ventoínha e o seu rádio fulminado

1. Mais uma Nota Solta da CART 643, enviada ao Blogue pelo nosso camarada Rogério Cardoso (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), no dia 3 de Fevereiro de 2010:


O VENTOINHA

De baixa estatura e porque andava sempre em correria, este condutor da CART 643 tinha a alcunha do VENTOINHA. Em virtude de haver na altura excesso de Condutores na Companhia, o citado moço foi colocado como impedido do alojamento de Sargentos, alojamento esse que segundo informações passou a ser Bar dos Sargentos das Companhias vindouras, 816 ou 1419?

O seu sonho era ter um rádio/telefonia, para nos momentos de descanso ouvir música e as notícias. Esse sonho era difícil de concretizar, o pré não era mais do que umas centenas de escudos, ainda por cima uma parte ficava na Metrópole.

Juntou a pouco e pouco alguns escudos e comprou em segunda mão a um civil o dito aparelho. Andou de mão em mão a mostrá-lo, e chegado a noite, porque havia fraca recepção, decidiu ligar à antena do rádio militar. A assistência era grande até parecia uma cena do filme O PÁTEO DAS CANTIGAS, os camaradas estavam ansiosos por ouvir aquela fonte.

Mal ligou, caiu uma forte trovoada antecipada por um raio, mas logo por azar foi direito à antena e logo o aparelho começou a deitar fumo.

Claro com a crueldade normal dos jovens ouviu-se dizer:

- Oh Ventoinha a caixa talvez ainda sirva para uma gaiola de periquitos.

Rogério Cardoso
CART 643
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 7 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5781: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (6): Rondas e sentido de solidariedade na 643

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5781: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (6): Rondas e sentido de solidariedade na 643

1. Mais umas notas soltas da CART 643, enviadas por Rogério Cardoso (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), em mensagem com data de 2 de Fevereiro de 2010:


RONDAS À VOLTA DE BISSORÃ EM MEADOS DE 1964

Como todos os ex-combatentes sabem, as rondas eram serviços com algum perigo, senão vejamos:

Na Cart643 saía um jeep com o condutor, normalmente um Furriel Miliciano e duas Praças, sentados no banco trazeiro e que era virado para fora. A volta era um pouco complicada porque Bissorã era cruzada por diversas estradas, assim descriminadas:

Partindo do Largo dos Correios, que era paredes meias com o chamado Quartel, saía a estrada para Mansôa com muitas moranças com uma extensão considerável.
Para Mansabá, estrada que na altura não tinha circulação, mas continha também muitas moranças.
Para o Olossato, que pelo menos tinhamos de rondar até ao "campo de aviação", que ficava talvez entre 2 a 3km, também com moranças nos dois lados da estrada.
Havia ainda a estrada para Encheia ou a chamada outra banda, e outra para Norte em direcção a Barro.

Além destas estradas um pouco difíceis, havia a ronda à Central Eléctrica que tinha uma torre com 2 homens, a Agro-Pecuária com sentinelas nativas, algumas residências de funcionários civis e comerciantes, como a Casa Gouveia, Barbosa & Comandita, Casa Alves, Casa Gardete, alguns libanêses como Michel Ajouz, Miguel Heni, etc. e também cabo-verdianos, funcionários dessas casas.

Não era tarefa fácil e isenta deperigo, as rondas foram diversas vezes apanhadas entre dois fogos, do IN e de quem defendia, visto Bissorã, pelo que descrevi, ser uma povoação complicada na sua defesa.

Estrada de Mansoa/Bissorã

Na Cart 643 havia um espírito de confiança muito elevado, não existiam muitas Companhias em que o pessoal fosse tão unido. Posso contar que quando o nosso 1.º Cabo Antonio Melo morreu em combate, no dia 16 de Agosto de 1964, não havia urna e o local indicado para o funeral era Bissorã. Houve mobilização geral, o Soldado Pinheiro construiu a urna e todos nós trouxemos o nosso querido camarada até ao cemitério de Bissau. A Cart643 ultrapassou todas as dificuldades, até do nosso Comando, fizemos a nossa obrigação com muita mágoa.

O espirito de solidariedade era enorme. Uma noite o Capitão Ricardo Silveira vei-nos dizer que tinha de estar no outro dia de manhã em Bissau, porque tinha de embarcar para Lisboa e naquela noite teria de estar em Mansôa. Como e quem iria fazer esse serviço, pois precisava de voluntários? Rápidamente aprontou-se um jeep, eu no volante e 2 homens atrás, entre eles o 1.º Cabo Carlos Alberto, e lá fomos depressa num pé e voltámos no outro.

Rogério Cardoso
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 28 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5718: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (5): Um Guerreiro desdentado

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5718: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (5): Um Guerreiro desdentado

1. Mensagem de Rogério Cardoso (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), com data de 22 de Janeiro de 2010:

Amigo Vinhal,
Aqui vai mais uma pequena historia do ex-Fur Mil Peru Guerreiro, um pequeno algarvio do Carvoeiro.

Do grande amigo
Rogério Cardoso



Um Guerreiro desdentado

O Batalhão navegava a caminho da Guiné no navio "UIGE", e lá para as bandas de Cabo Verde, começou a aparecer uma vaga larga que "atacava" o navio lateralmente, isto em pleno almoço.

Estava a Sargentada comodamente no seu repasto, quando a sopa começou a querer sair do prato, os nossos olhos quanto mais se fixavam na sopa mais o enjôo atacava.
A rapaziada começou a sair de "fininho", a debandar e poucos ficaram, mas um dos que primeiro saiu a bom correr foi o Davd Perú Guerreiro. A meta foi a amurada do navio, começou a vomitar, só que ele usava uma prótese dentária dianteira superior completa e eis que lá vai ela para o mar. Quando ele apareceu na sala foi uma risada completa e nós até por graça dizíamos que nas costas da Guiné iria aparecer um cachucho de dentadura nova.

Continuando a falar sobre o Guerreiro, há uns anos atrás fui ao Carvoeiro à sua procura, pois tenho a mania de não deixar perder a amizade que nos acompanhou durante tanto tempo. Mas o destino muitas vezes prega-nos a partida, e mesmo junto à praia fui perguntar por ele a um sujeito, se sabia onde morava, e como resposta ouvi:

- Olhe, era meu irmão, e faleceu há pouco tempo. As lágrimas quizeram saltar, ele era um moço fora de série, excepcional, amigo do amigo, tanto bom na paz como na acção.

Paz à sua alma é o desejo dos camaradas da Cart 643, e um dia, isto para quem tem Fé, nos havemos de encontrar.

Rogério Cardoso
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5649: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (4): Louvores atribuídos aos Fur Mil Sap Fausto Vaz Santos e 1.º Cabo Manuel Sá Couto

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5649: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (4): Louvores atribuídos aos Fur Mil Sap Fausto Vaz Santos e 1.º Cabo Manuel Sá Couto



1. Mensagem de Rogério Cardoso (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), com data de 11 de Janeiro de 2010:

Amigo Carlos,
Apanhei nos meus arquivos louvores a dois camaradas, sendo o primeiro o amigão da malta toda e que passo a transcrever da O.S. n.º 94 do CTIG de 16/11/65 dado pelo Brigadeiro Comandante Militar:

Fur Mil Sapador Fausto das Neves Vaz dos Santos, do Bart645, porque, tendo tomado parte em muitas Operações de combate, como Comandante da Secção de Sapadores, em reforço de Companhias operacionais, nomeadamente nas Operações de Cã-Quebo, Base, Santambato e Mandigará, sempre se revelou elemento de muita decisão, sangue frio e espírito de sacrifício, qualidades estas que lhe valeram referências muito elogiosas por parte dos Comandos das Companhias que foi reforçar.
É de salientar o seu excepcional espírito de camaradagem, notável boa disposição, poder de organização que tem demonstrado tanto nos trabalhos da sua Especialidade como no desporto, tendo contribuido para o prestígio da sua Unidade.
Colaborou activamente nas obras de fortificação e de melhoramento de Mansabá e na reparação da estrada Bissorã-Olossato, onde com a sua energia física e moral tem contribuido francamente para a rápida reparação das obras, com sensíveis efeitos na actividade operacional.
Profundo conhecedor da sua Especialidade, tem mantido em bom moral a sua Secção e pessoalmente procedeu ao levantamento de uma mina anti-carro na estrada Mansoa-Mansabá, em condições de reconhecido perigo.
Este Furriel merece ser apontado como exemplo e é digno de referência especial.



Também outro amigão, o

1.º Cabo da Cart 643 - Manuel José de Sá Couto, por ter demonstrado em todas as acções de combate em que tem tomado parte, ser um militar possuidor de raro espirito de sacrifício, coragem e sangue frio.
São de salientar estas qualidades, visto quando foi ferido num combate nocturno e suportou o ferimento até o combate terminar, só então dando conhecimento aos seus camaradas para ser socorrido.
Com o seu excepcional procedimento conquistou a estima dos seus camaradas e superiores.
(O.S. n.º 23 de 10/11/65 do Com Agr 16)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5641: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (3): O nosso Cabo Enfermeiro José Botas

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5641: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (3): O nosso Cabo Enfermeiro José Botas

1. Mensagem do nosso camarada Rogério Cardoso (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), com data de 8 de Janeiro de 2010:

Caro amigo e camarada de armas.
A partir de agora, se não virem inconveniente vou enviando uma série de apontamentos, uns mais sérios e outros mais cómicos, no fim o que de real se passou no dia a dia de uma Companhia.

Também tive a oferta de umas folhas de um jornal dos Aguias Negras de 1964, com artigos com interesse e que mais tarde irão seguir.


Notas soltas da CART 643 (3)

O nosso Cabo Enfermeiro José Botas


Um militar que era considerado por todos. Quem não se lembra do 1.º Cabo Enfermeiro José Botas, natural de Coimbra, moço sempre alegre e bem disposto, dando ânimo a todos os que recorriam ao posto de socorros? Infelizmente já não se encontra entre nós, faleceu vai para 15 anos.

O Botas durante a sua comissão, pode-se dizer, foi um mártir, por diversas vezes sofreu ferimentos em emboscadas, sempre com estilhaços de granada de mão, que iam fatalmente ter com ele e sempre nas costas que eram a prova.

Mas a história que vou contar nada tem a ver com o IN.

Em certa altura aterrou um Dornier 27 em Bissorã com um médico dentista, mais a sua cadeira tradicional e o seu ajudante, para passar revista às dentuças do pessoal.

Claro que o Botas, como era o Cabo Enfermeiro e o serviço do Médico seria executado no posto, disse logo em voz alta aos camaradas que já se encontravam em fila:

- Rapaziada eu sou o primeiro, porque ser 1.º Cabo Enfermeiro é um posto.

O Médico mandou avançar e eis que lá vai o Botas, mas como tinha na frente três dentes em avançado estado de cárie, o médico não esteve com meias medidas e sacou-lhe logo os respectivos.

A debandada foi repentina e de tal ordem que a fila desfez-se quase por completo. A risada foi geral e durante bastante tempo os companheiros diziam no gozo:

- Ó Botas como és um posto, não queres ser o primeiro outra vez?

O Botas depois de passar à disponibilidade sofreu bastante, nunca foi reconhecido como deficiente nas diversas Juntas Militares a que recorreu, processo conduzido pelo sempre grande amigo Sargento Bajouco, vivia miseravelmente com a mãe muito velhinha, porque a sua coluna não o deixava trabalhar.
Mais tarde eu e o Bajouco ainda o ajudámos económicamente, e num encontro da Associação de Amizade do Bart 645 todos se prontificaram a ajudá-lo, mas em vão, porque a morte entretanto o levou.

Até um dia grande amigo.
Rogerio Cardoso
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5630: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (2): O César e o Capitão Silveira

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5630: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (2): O César e o Capitão Silveira

1. Mensagem de Rogério Cardoso (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), com data de 8 de Janeiro de 2010:


O César e o Capitão Silveira

O César era o chamado mancebo do mais puro e inocente que a Companhia conheceu.
Quando em Santa Margarida soube que ia para a Guiné, que não fazia a mínima ideia do que seria, quando o comboio parou na Rocha Conde de Óbidos, junto ao Uíge, abriu a boca de espanto dizendo que nunca tinha visto nada igual, julgava que o barco era como no ribeiro da aldeia dele que levava meia duzia de cada vez para o outro lado, que não seria longe no seu pensamento.

Já em Bissorã em meados de Junho, o local não tinha condições para alojar tantos homens, estou a falar em 1964, e para exemplificar nós estivemos 6 ou 7 meses sem um frigorífico, bebia-se água e cerveja quentes, a não ser puxar pelo patacão nas tascas dos civis.

Houve então uma alma caridosa da retaguarda, aquela em que diziam que estava firme que nem uma rocha, enviou um aparelho a petróleo e foi uma festa.
Esse frigorifico, claro que só podia ser aberto 2 vezes por dia, almoço e jantar e para não haver abuso e respeito pela ordem, foi colocado no terraço dos oficiais, assim se houvesse abuso eram só meia duzia.

Numa bela noite de muito calor e depois de jantar, estava o Capitão Silveira, o Tenente Médico Campos, Alf Mil Lourenço, Paulo, Mendes e Cardoso, sentados nas esperguiçadeiras de pernas estendidas conversando, quando aparece o soldado César, passando por cima deles até chegar ao frigorifico, abrindo-o, garrafão à boca bebendo o que lhe deu na vontade.
O Capitão Silveira em voz alta advertiu assim:

- Ó pazinho que confiança é esta, passas aqui por cima de todos nós, abres a porta, garrafão à boca, bebes o que te apetece, como é a confiança e o respeito?

Respondendo de pronto:

- Ó meu Capitão, que eu saiba o frigorifico não é seu mas sim da malta toda.

O Capitão não se conteve, começou a rir, o que era raro, e mandou-o embora, dizendo entre dentes para os oficiais:

- Isto sim é que é pureza, embora a hierarquia não tivesse sido respeitada, com homens assim levo a Companhia para onde quero.

Rogério Cardoso
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Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 9 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5619: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (1): A tasca do Maximiano em dia de bife

sábado, 9 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5619: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (1): A tasca do Maximiano em dia de bife

1. Mensagem do nosso camarada Rogério Cardoso (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), com data de 8 de Janeiro de 2010, contendo a primeira nota solta da sua CompanhIa:


A TASCA DO MAXIMIANO

As tropas actuais podem ter dificuldade em acreditarem nestas histórias, tão bem equipadas e alimentadas que são actualmente, mas quem andou como nós, no duro, sabe que são verdadeiras, eles concerteza não estariam dispostos a passar situações como a que vou contar.

A D. Maria, esposa do senhor Maximiano tinha dificuldade em alimentar a sargentada da Cart 643 e mais alguns que iam sempre aparecendo. Ela recebia géneros da Manutenção Militar no valor de vinte e sete escudos/dia/homem e em troca dava refeições confeccionadas com alguns frescos, como carne, etc..

A casinha só tinha duas pequenas salas e a malta comia à vez. A sala principal dava para a cozinha(?), tudo a lenha, chão de terra batida, louça de alumínio e ferro da cor dos naturais, mosquitos, formigas de asa, borboletas e por vezes, à noite, uns morcegos pendurados no tecto de palha, também tendo direito à refeição. Claro que isto para nós não é novidade nenhuma, mas quem não passou por estas situações também gosta de saber. Aconselho os voluntários dos Líbanos, Afeganistãos e outros que tais a meditarem nisto.

Eu e o João Graça estávamos encostados à ombreira da porta da chamada cozinha, o menu era composto por bifes fritos que estavam a ser confeccionados. Entretanto uma ajudante da D. Maria tinha uma criança nua a gatinhar no chão de terra. Por qualquer razão fisiológica, o bébé começou a desintegrar-se abundantemente, e nós com um apetite devorador a ver a cena. Então a mãe limpou diversas vezes o menino com a mão, que por sua vez limpou a um pano da cozinha. Claro o seu trabalho de por os bifes no tabuleiro para ir à mesa continuou.

Os colegas que não assistiram à cena comentaram: - É pá vocês hoje estão com fastio?

Rogerio Cardoso

Furriéis Guerreiro (Falecido), Sousa, Graça, Rogério e ?
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 4 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5588: Álbum fotográfico de Rogério Cardoso (3): Relembrando locais e camaradas da CART 643/BART 645

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5515: Notas soltas da CART 643: O grande amigo Sargento Bajouco da CART 642 (Rogério Cardoso)

1. Mensagem de Rogério Cardoso* (ex-Fur Mil Manutenção, CArt 643, Bissorã, 1964/66), com data de 21 de Dezembro de 2009:

Amigo Carlos, aqui vai uma história contada sem ter grandes dotes de escritor.


HOMENAGEM AO GRANDE AMIGO SARGENTO BAJOUCO DA CART 642

O Sargento Bajouco era um bom homem, e continua a ser, amigo de todos sem excepção. Lembro-me de duas situações caricatas.

A primeira foi quando chegámos a Bissau em Março de 1964 e as Cart 642 e 643 foram provisóriamente colocadas num armazém junto ao cais, a Bolola.
As duas Companhias estavam comodamente instaladas num edifício coberto de chapa de Lusalite, sómente com uma porta e duas janelas. O armazém era amplo, com camas em beliche de 3 e 4 sobrepostas, isto para cerca de 200 homens. À entrada havia um pequeno cubículo chamado de Secretaria, onde se guardavam uns garrafões de água que estavam bebaixo de uma secretária. Esses garrafões estavam misturados com outros que continham óleo de limpeza n.º 1.

Aconteceu uma vez que o Bajouco entrou espavorido e gritou:

- É pá, estou a morrer de sede.

Atirou-se a um garrafão e tragou um ou dois goles do óleo n.º 1 para a G3, saindo a correr para a rua aos gritos.

Agora a outra

Sabiam que o Bajouco dormia na caserna com mais 30 ou 40 sargentos, tapado com cobertores, enquanto nós todos nus. Quando às escuras, íamos destapá-lo e ele acordava logo.

Outra particularidade do Bajouco é que os seus pés eram de uma dimensão fora do comum, compridos e muito largos.

Então, numa saida, o seu Pelotão atravessou uma bolanha, e numa breve paragem alguém perguntou:

- Oh Bajouco, que pegada é esta tão grande, que bicho será este?

Ele respondeu que tinha a impressão de ser a de um hipopótamo. Disseram-lhe para pôr a sua bota no lugar e com espanto disse:

- Olha, é o meu pé!!!

Enfim são algumas cenas para recordar com alegria que todos os anos no nosso encontro voltamos a contar.

Por falar en Encintros, os Águias Negras vão-se encontrar no dia 10 de Abril de 2010 em Fátima - Boleiros, no Restaurante D. Nuno. Será o 30.º Encontro. Programem a vossa vida e não faltem.

Um abraço amigo do ex-Fur Mil da Cart 643
Rogério Cardoso
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 20 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5509: Álbum fotográfico de Rogério Cardoso (1): A Paulucha e material apreendido ao IN (Rogério Cardoso / Carlos Brito)

Vd. último poste da série de 17 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5481: Estórias avulsas (65): Ainda o Fiolifioli (Armandino Alves)