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domingo, 23 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20677: Blogues da nossa blogosfera (123): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (38): Palavras e poesia


Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.

TU VENS

ADÃO CRUZ


© ADÃO CRUZ


Tu vens
eu acredito que vens
neste céu de cabelos soltos e seios ao vento
nesta fome de corpo e pensamento.
Tu vens
eu sei que vens
é hora de vires
nesta vespertina voragem de felicidade
neste céu da cor da angústia.
Tu vens construir a Primavera
em teu vestido branco de espuma
dominar meu indómito cabelo
com jogos simples dos teus dedos.
Eu quero acreditar que tu vens
pegar docemente nas minhas mãos cegas
e delas fazer uma flor de acácia
com que amacias os lábios
e abres o cofre dos teus seios de fogo.
Tu vens
eu sei
por isso sou feliz no meu silêncio
____________

Nota do editor

Último poste da série de 16 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20657: Blogues da nossa blogosfera (121): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (37): Palavras e poesia

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20657: Blogues da nossa blogosfera (122): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (37): Palavras e poesia


Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.

NO CORAÇÃO DA MANHÃ

ADÃO CRUZ

© ADÃO CRUZ


Abro a janela de par em par
para entrar o rio
e o cio do amanhecer.
O sol desnuda as telas
e as cores que fizeram a noite
mergulham no frio
das águas fundas do rio.
Pelos tectos de penumbra
das vidas que vivem na sombra
às escondidas da madrugada
voam pedaços de nevoeiro
e gaivotas bailando.
Sobem no ar gemidos e dores
Vapores, desejos e cores
das gargantas secas da noite acabada.
Retomo os pincéis
e a tortura das tintas sem cor
e a dor de não conceber a textura
onde pintei o amor.
Nada mais quero além do sol e do rio
e a fecunda sensação de não ter frio.
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20634: Blogues da nossa blogosfera (120): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (36): Palavras e poesia

domingo, 9 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20634: Blogues da nossa blogosfera (121): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (36): Palavras e poesia


Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.

DAQUI TE ESCREVO

ADÃO CRUZ


© ADÃO CRUZ

Daqui te escrevo
onde o mar não existe
onde as mãos do silêncio
não tardam a entrar
no silêncio da tarde.
Daqui te escrevo
nesta tarde de silêncio
onde a memória da tarde
arde em silêncio
no mar das tuas mãos.
Daqui te escrevo
onde o deserto é imenso
e a sede do mar cresce em silêncio
no silêncio da tarde.
Daqui te escrevo
onde o mar não existe
e o deserto é imenso.
Daqui te escrevo
desta tarde sem fim
onde arde a cidade sem mar.
e o deserto sem cidade.
Daqui te escrevo
onde arde em silêncio
na tarde das tuas mãos
todo o silêncio da tarde.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 2 de Fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20617: Blogues da nossa blogosfera (119): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (35): Palavras e poesia

domingo, 2 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20617: Blogues da nossa blogosfera (120): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (35): Palavras e poesia


Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.

NA PALMA DA MÃO

ADÃO CRUZ

© ADÃO CRUZ


Na palma da mão tenho sonhos de liberdade e silêncio
para enfrentar a morte.
A música treme na palma da mão
como incerteza de futuro e paisagem.
Quem dera adivinhar a cor desta canção cinzenta
que se dissolve no ar que respiro.
Neste verão diferente do outro
eu quero vestir a primavera
sem medo dos tiranos e da moral burguesa.
Quero escolher as palavras do poema
que faz chorar os olhos azuis
e abrir o sonho à luz do meio-dia.
Quero renascer dos versos
que dentro de mim acendem as estrelas
e clamam por outros seres e outros mundos.
Quero seguir quem me chama para outros mares
onde o sol sempre nasce e ilumina.
Creio que a terra ainda é minha
e de espirais de estrelas o meu regresso.
O sol arde nas nuvens
e o mar verde leva-me para habitar contigo
onde quer que estejas.
Não sei aprender a morrer
fora das linhas desta mão incerta
onde as flores de verão deixaram raízes no inverno
que hão-de desabrochar na manhã de sol em que partirei.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 26 de Janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20596: Blogues da nossa blogosfera (118): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (34): Palavras e poesia

domingo, 26 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20596: Blogues da nossa blogosfera (119): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (34): Palavras e poesia


Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.

MÃOS DE HOJE QUE FORAM DE SEMPRE

ADÃO CRUZ

 © ADÃO CRUZ



Na noite que já não é noite de madrugadas
perpassa em doce silêncio por entre os dedos dormentes
uma brisa dolente
esquecendo as mãos na paz adormecida.
Por entre os frágeis dedos da quietude e do silêncio
vagueia agora em suave melancolia
o magro regato da secura da vida
arrastando em seu leito rugoso
a triste canção de um tempo sem cor nem movimento.
O lento gesto do abrir destas mãos de tantos anos vividas cai agora em pesado silêncio por entre as malhas da sombra
no impiedoso vazio das mãos cheias de nada.
Foi-se embora a madrugada das manhãs perdidas
no tempo em que o sol sorria entre os sonhos
e as mãos cantavam a força da vida
com ondas do mar por entre os dedos frementes.
No penoso abrir e fechar de mãos
deste plangente gesto do fim do dia
feito canção de tão gélido silêncio
apenas a saudade se aninha em negro fundo
para morrer sozinha.
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20550: Blogues da nossa blogosfera (117): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (33): Palavras e poesia

domingo, 12 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20550: Blogues da nossa blogosfera (118): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (33): Palavras e poesia


Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.

A TUA MÃO

ADÃO CRUZ

© ADÃO CRUZ



Como simples aves
damos as asas a caminho do sol
para fugir às lágrimas que a terra espreme.
A luz incendeia a vontade de fugir
mas a mão serena abre o coração à esperança
onde a angústia cresce
por entre músicas perdidas e restos de flores.
Eu continuo o caminho dos lábios que deixaram de suspirar
e dos olhos que pararam de girar
confundidos entre lágrimas e risos.
Eu sigo o longo caminho das sombras
onde as plantas não falam
nem as fontes nem os pássaros.
Mas a mão apertada
mesmo que incrédula
murmura baixinho
que os prados se estendem a nossos pés.
As brandas ondas do mar
deslizam suavemente sobre a areia
cobrindo de espuma o teu corpo sonâmbulo
que à noite desperta
por entre o labirinto dos meus sonhos.
E pelos claustros do vento impaciente
os cabelos de fogo vencem a idade
em que o coração treme sem casa para morar.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 29 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20511: Blogues da nossa blogosfera (116): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (32): Palavras e poesia

domingo, 29 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20511: Blogues da nossa blogosfera (117): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (32): Palavras e poesia


Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.

ENTRE AS MÃOS E O SONHO


ADÃO CRUZ

©: ADÃO CRUZ


Entre as mãos e o sonho
nascem as coisas
e as coisas são de pedra e água
dor e alegria
cor e sombra
realidade e fantasia.
E também são de poesia
as coisas que nascem
entre as mãos e o sonho.
A criação não precisa de donos
mas de sentimentos
de encontros e desencontros
no desenrolar de cada dia.
As coisas não nascem por destino
mas de acasos
nascem das horas sem tempo
dos dias vividos
entre o ontem e o amanhã
entre a realidade e absurdo
do hoje e agora.
A eterna beleza permanece
entre as mãos e o sonho
a sua luz incendeia a esperança
onde vive a angústia
e o que somos por dentro
desnuda a forma das coisas.
Entre as mãos e o sonho
um vale profundo
uma montanha mágica de silêncio
uma calma harmonia do mar
que nos fazem emigrar
para fora do mundo.
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20378: Blogues da nossa blogosfera (115): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (31): Palavras e poesia

domingo, 24 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20378: Blogues da nossa blogosfera (116): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (31): Palavras e poesia


Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.

SE EU FOSSE UM AVIÃO

ADÃO CRUZ

© ADÃO CRUZ


Se eu fosse um avião
tinha um motor em cada mão
e voava…
Não sei para onde
mas voava para fora deste mundo…
Não há nada como um cabritinho assado
à beira da pista
com dois copos de tinto ali à mão
a força que levanta do solo
a alma de qualquer artista.
Ah! Ah! Ah!
Aquele avião amarelo
do lado de lá
mesmo á vista de quem está
do lado de cá…
Ai se eu fosse um avião
com um copo em cada mão
não esperava por malinhas de rodas
e voava…
não sei para onde
mas voava…
para fora da ilusão.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 17 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20357: Blogues da nossa blogosfera (114): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (30): Palavras e poesia

domingo, 17 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20357: Blogues da nossa blogosfera (114): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (30): Palavras e poesia


Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.

A MARIA

ADÃO CRUZ

© ADÃO CRUZ


Os olhos vindos do outro lado do mundo, fundos de ausência, casavam o branco e o negro para dizerem o que a boca não conseguia.
O nariz afilava de um só traço o rosto magro, e os cabelos errantes fugiam da testa cada pedaço para seu lado.
A pele transluzia uma imagem por detrás dos vidros, imagem baça do avesso da vida.
Uma dor subtil desenhava os lábios maduros, finamente trémulos, como se estivessem prestes a chorar.
Nunca alguma lágrima por eles correu ou voou algum beijo, apenas o cigarro acendia e consumia a sua virgindade.
A Maria olhava-me sempre fixamente, olhos cravados nos meus, como que a dizer: tu entendes-me tu és capaz de me compreender.
Ela percebia o sim do meu silêncio por baixo dos olhos vencidos.
Conheci duas mulheres iguais à Maria, fotocópias da Maria, ambas se chamavam Maria, uma brasileira e outra francesa, uma pisava o teatro outra o anfiteatro.
Inquilina de soleiras e vãos, a Maria pisava a grande cidade da noite.
As mulheres da fama e da ciência derivavam a vida por entre a lanugem dos cardos e a tangência do sentimento, a mulher da vida era vertical e secante como folha de piteira.
A Maria mijona não tinha idade nem tempo, nem antes nem depois, era apenas instante.
Nunca se sentara na mesa do canto fugindo de si mesma, escolhia sempre a mesa central, desafiando os olhares e vidrando o espaço em seu redor.
Comia a sopa, o prato de sempre, como quem tocava violino.
Apesar da mão trémula, nem um pingo deixava cair no desbotado regaço, sumido de cores pelo uso e abuso.
Se moedas cresciam da sopa, não dispensava o brande, sua única bebida.
Por detrás do corpo sujo de Maria mordiscava uma beleza intrigante, tivesse ela banheira e emergiria da espuma como sereia das águas.
Penso que nunca vi a Maria fora deste retrato, para cá da sombra.
Por outro lado, tenho a certeza de que já dormi com ela... ou terá sido um sonho?
A Maria nunca mais apareceu.
A última vez que a vi não tinha olhos nem boca nem cigarro, não tinha sopa nem brande, apenas falta de ar. Engolira o violino, e a música era uma dispneia sibilante, cântico fúnebre gemido pelas entranhas.
Toquei-lhe no ombro e ela percebeu que eu queria levá-la.
Levantou a ponta de um sorriso e esboçou um gesto negativo com a mão.
Afastei-me, com a sensação de que tinha profanado um sacrário.
A Maria nunca mais apareceu.
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20308: Blogues da nossa blogosfera (113): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (29): Palavras e poesia

domingo, 3 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20308: Blogues da nossa blogosfera (113): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (29): Palavras e poesia


Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.

A VOZ AO LONGE

ADÃO CRUZ

© ADÃO CRUZ


Quase diríamos que as paredes brancas nascem da terra.
Quase diríamos que o sol vermelho e quente
é um beijo ardente
na misteriosa face da planície inocente.
Quase diríamos que a vida não se inscreve
nas copas dos chaparros quietos e mudos
antes se deita na sombra doce.
Quase diríamos que o chão se veste e reveste de cores
cheiros e sentidos
que dão à vida algum sentido.
Quase diríamos que a vida não se aninha na erva daninha
antes baloiça de alegria no ondular da seara
como navio de esperança num mar de trigo.
Quase diríamos que a voz ao longe
não é do vento nem do tempo
nem da descrença de um outro amanhã.
Quase diríamos que a voz ao longe
é o voar sereno de uma pomba branca
trazendo no bico um livro enorme
e um ramo de paz para o ninho dos homens.
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20280: Blogues da nossa blogosfera (112): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (28): Palavras e poesia

domingo, 27 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20280: Blogues da nossa blogosfera (112): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (28): Palavras e poesia


Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.

DEPOIS VEM A LUA

ADÃO CRUZ

© ADÃO CRUZ


Depois vem a lua
e os braços do luar
como algas de luz.
Depois vem o pensamento
recuperar os segredos
do fundo do mar.
Depois a terra
toma a forma de búzio
e os cabelos são algas
e o mar e as algas
cantam a mesma canção.
Na praia despida
ao lado do meu corpo
estendes teu corpo
de pedaços de céu
azul e luar.
Mas o mar leva-te
num lençol de espuma
e fica na areia
o meu corpo a chorar.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 6 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20210: Blogues da nossa blogosfera (111): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (27): Palavras e poesia

domingo, 6 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20210: Blogues da nossa blogosfera (111): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (27): Palavras e poesia


Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.

UMA ANDORINHA DO ÁRCTICO

ADÃO CRUZ

© ADÃO CRUZ


Abri as janelas do meu peito
a uma andorinha do Árctico
trazia um sonho no bico
sonho que eu perdi não sei onde nem quando
não sei se na vida errando
não sei se dentro de ti.
Vinda das auroras de frescura
trazia em cada asa um poema
e um abraço de ternura
no cortante gume de um dilema.
Abri o peito a uma andorinha do Árctico
e com abraços quentes como tâmaras
fundimos nosso enlace num poema.
____________

Nota do editor

Poste anterior de 10 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19570: Blogues da nossa blogosfera (109): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (26): Palavras e poesia

Último poste da série de 7 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19756: Blogues da nossa blogosfera (110): O livro "Imagens e Quadras Soltas", de JERO e Manuel Maia, no Blogue da Tabanca do Centro (José Eduardo Reis Oliveira)

domingo, 10 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19570: Blogues da nossa blogosfera (109): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (26): Palavras e poesia


Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.

OS VAMPIROS

ADÃO CRUZ

© ADÃO CRUZ


A cidade está comida por enormes vampiros
varrida de poesia flores e frutos
e canções quentes dos filhos da cidade.
Ainda que os dentes sejam de cifrões
os vampiros matam com bombas tiros e orações.
Já não regressam as manhãs na cidade exterminada
coberta pela nuvem de vampiros devoradores
que tudo comem e não deixam nada.
A cidade dos pobres está comida por vampiros
vindos das cavernas podres da cidade civilizada
guiados por deuses e generais
benzidos por papas e cardeais
que tudo comem e não deixam nada.
E os pobres arrastam a vida muito aquém da vida
onde um mar de nada definha o pensamento
e um rio de cinza cobre a alegria de viver.
Eis que os pobres se dão conta de um futuro em liberdade
onde um mar de sonho e utopia
restitui a vida ao pensamento e à razão.
Mas os vampiros conhecem bem os buracos da prisão
e tudo fazem para os fechar
com grades de fé e religião.
A cidade está comida por enormes vampiros
vindos do céu e do inferno
devorando a mente e abandonando o corpo no deserto
como criança sem asas.
____________

Nota do editor

Último poste da série de13 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19401: Blogues da nossa blogosfera (108): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (25): Palavras e poesia

domingo, 13 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19401: Blogues da nossa blogosfera (108): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (25): Palavras e poesia


Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.

PARAÍSO

ADÃO CRUZ

© ADÃO CRUZ


Não há portas do paraíso
Nem caminhos para lá chegar
Mas entre lágrimas e riso
Ninguém quer acreditar.
No fim sobram os passos
Sem mais caminho para andar.
____________

Nota do editor

Último poste da série de6 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19372: Blogues da nossa blogosfera (107): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (24): Palavras e poesia

domingo, 6 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19372: Blogues da nossa blogosfera (107): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (24): Palavras e poesia


Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.

OUARZAZATE (Secreta ironia)

ADÃO CRUZ

© Adão Cruz

As franjas da memória abrem-se na manhã fria da solidão
como torvelinho de água nas despojadas pedras do tempo.
Eis que nos damos conta de uma longa viagem
a qualquer cidade para lá do horizonte
quando um mar de cal viva queima os sentimentos
no estribo de um velho comboio sem princípio nem fim.
Eis que nos damos conta das lágrimas contidas num mar de cinza
cobrindo a alegria de viver
quando se apaga o sol que brilha entre as mãos.
Eis que no crescer da angústia uma infinda tristeza afoga a razão
entranhando no sangue a sombra espessa da desilusão.
O coração tomba perdido na poeira da cidade
preso à orla do deserto de Ouarzazate como criança sem asas.
Na terra sem trilhos e sem regresso aos olhos
onde se abre o sorriso de todas as manhãs
eis que nos damos conta de não fazermos parte do mundo.
E cai o sofrimento
no profundo silêncio das noites sem nome suspensas das estrelas.
E resta a saudade
ardendo em fogo lento como ramo seco da primeira folha verde.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 25 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19231: Blogues da nossa blogosfera (106): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (23): Palavras e poesia

domingo, 25 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19231: Blogues da nossa blogosfera (106): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (23): Palavras e poesia


Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.

MORREU A ESPERANÇA

ADÃO CRUZ


© ADÃO CRUZ


Não tem sonhos nem lhe bate o coração
não a beija o sol nem a paz da lua.
Batida pela chuva e varrida pelo vento agreste
senta-se nos bancos vazios dos jardins
a ver passar os homens que procuram encontrar-se
a ver mulheres que descarnam outros fins.
Já não chega ser gente de cansaço e solidão
sem manhãs de luz nem flores brancas nascendo da erva mansa
nem o despertar das sombras adormecidas
nem um raio de sonhadora esperança.
Na noite pegada ao corpo de tantos rostos saqueados
de tantas mãos caídas de tantos sonhos amputados
o punho cerrado não vive aqui.
Morreu a esperança despojada e nua
invernosa e fria.
Deixou-a a primavera e o gume quente do verão
perdida nos escuros recantos do fim do dia.
____________

Notas do editor

Poste anterior de 9 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19000: Blogues da nossa blogosfera (104): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (22): Palavras e poesia

Último poste da série de 22 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19036: Blogues da nossa blogosfera (105): Panhard, Esquadrão de Bula, Guiné 1963-1974, criado e editado por José Ramos, ex-1º cabo cav, EREC 3432 (1972/74)

domingo, 9 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19000: Blogues da nossa blogosfera (104): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (22): Palavras e poesia



Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.


O MENINO DE BRILHO NOS OLHOS

ADÃO CRUZ

© ADÃO CRUZ


O menino corria
corria atrás do sol no correr de cada dia
e no doce brilho dos olhos toda a alma se lhe via.
O menino corria
corria atrás da lua que se erguia entre estrelas e magia
e no brilho dos olhos toda a alma luzia.
O menino corria
corria atrás do vento que fugia para lá do tempo
e nos olhos do menino o vento se perdia.
O menino corria
corria atrás da chuva
e quanto mais água caía
mais o brilho dos olhos se acendia.
O menino dormia
dormia no reino dos sonhos e da fantasia
e nos olhitos dormidos o brilho se escondia.
O menino acordava
acordava no alvor de cada dia
e a vida renascia no abrir dos olhos
onde a alma luzia.
Até que um dia…
Uma nuvem negra
muito negra
tombou do céu e se fez gigante
de longas barbas e olhar perfurante
com um relâmpago em cada mão.
Roubava o brilho dos olhos
e nas entranhas do trovão se desfazia.
O menino tremia
tremia sem saber o que acontecia.
O menino chorava
chorava sem saber a razão.
O menino fugia
fugia
mas algo lhe dizia que de nada valia.
Chamou as pombas rouxinóis e cotovias
sardões caracóis e libelinhas
enlaçou-se de gavinhas
abraçou as árvores beijou a terra
e tudo o que nele vivia.
Mas ninguém lhe respondia
todos o olhavam com tristeza e melancolia.
Perdera o menino o brilho dos olhos
porque neles a inocência morria.
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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE SETEMBRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18974: Blogues da nossa blogosfera (102): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (21): Palavras e poesia

domingo, 2 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P18974: Blogues da nossa blogosfera (102): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (21): Palavras e poesia



Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.


O SEGREDO

ADÃO CRUZ

© ADÃO CRUZ


O mais belo segredo da minha vida
Onde o horizonte foge contra o tempo
É só nosso e de mais ninguém
Onde as sombras negras desaparecem
Ele procura ver-me na janela dos teus olhos
E tenta falar-me no silêncio falso do desdém.

Mais além veste-se de negro
De sol enorme e de pão quente
Do eco de tudo à volta do teu ninho
De purpúreos reflexos de sol poente
Do vermelho de sangue em coração de gente.

Não consigo ver-te tão ausente
Sem calor no descampado que aqui mora
Sem o dilúvio do desejo permanente
Que adormece nos verdes rios do meu segredo
E acorda sempre ao romper da aurora.

Tudo me encaminha para os teus olhos
Quando te sentas à porta da minha idade
Nesta entrada iluminada de enganos e algemas
Mas o segredo que devora a vida
Presa entre as mãos abandonadas e serenas
Veste de mentira a beleza da verdade.

Como criança quase me obriga a pedir ao vento
Uma lufada de Primavera amor e sentimento
Mas as palavras fazem ninho
No mais doce recanto de um beijo de sofrimento
E adormecem de mansinho.

Vou embora…
São horas de saber se a vida vale a pena
No dobrar de avessos e gargalhadas
Junto ao rio que os dedos fazem e desfazem
Vou correr as margens no sentido da nascente
Sabendo que o rio me arrasta para o fim da tarde
Na implacável força da corrente.

Ainda bem que esta margem é clara e amena
E do outro lado é tudo escuro quase negro
Mas quando o fogo queima o pensamento e a razão
Até o segredo azul de um pálido coração
Escondido desde há muito no ventre dos pinheiros
Parece verde como o verde da ilusão.
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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE AGOSTO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18956: Blogues da nossa blogosfera (101): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (20): Palavras e poesia

domingo, 26 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18956: Blogues da nossa blogosfera (101): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (20): Palavras e poesia


Do Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.


VENHO DE UM JARDIM DISTANTE

ADÃO CRUZ

©ADÃO CRUZ


Venho de um jardim distante florido de memórias
ou de um sonho qualquer
entre risos e lágrimas caindo de um céu de chumbo
ou de um céu de magnólias.
Venho do seio do orvalho da madrugada
num punhado de vida libertada
em qualquer rumor de passos
brincando nos telhados acesos pela luz do dia.
Venho de um jardim distante
onde grinaldas de flores abrilhantam a festa do azul dos tempos
no incêndio do crepúsculo ou no ardor da manhã
do meu berço de mistério e universo.
Venho das esquinas do tempo
em recordações avulsas ao sabor das pontes da vida
cavalgando o vento que assobia nas ruas estreitas
ou mordendo as pedras com punhais de silêncio.
De onde venho ninguém sabe.
Venho talvez da intimidade salgada do mar
ou de um jardim distante com um rio de passos e palavras
e pedaços de sol num rosário de pérolas
abrindo a neblina do nascer da vida.
Venho… quem sabe…
da nudez adormecida no silêncio do tempo
destinado à simplicidade da morte
pelo sinuoso caminho das recordações perdidas
no chão fundo das angústias ou nos retalhos da esperança.
Venho talvez das sombrias entranhas
prenhes de fulvos e ilusórios tesouros
que emergem do fundo do mar
sublimados de cor e luz
à superfície traiçoeira das águas bordadas de espuma.
Ou então…
Ou então serei filho de um mundo sem resposta
sujeito a ventos e marés que enrugam o latejar das veias
e quebram o voo das artérias com lugar no corpo
rompendo o fluir da vida no interior do sonho.
Não.
Eu não venho de lugar algum fora da mente
nem trago comigo a erva daninha.
Eu venho de um jardim distante entre o sonho e a razão
onde o pensamento se agiganta contra as trevas da ilusão.
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE AGOSTO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18937: Blogues da nossa blogosfera (100): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (19): Palavras e poesia

domingo, 19 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18937: Blogues da nossa blogosfera (100): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (19): Palavras e poesia


Do Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.


CANÇÕES ANTIGAS

ADÃO CRUZ

© ADÃO CRUZ


Na recordação das canções antigas
veste-se meu coração
das verdes folhas do desejo
e entoa na fragrância dos campos
a melodia dos olhos pendurados na profundidade do céu.

Na sombra da figueira diz-me adeus o sol
em acenos de azul e violeta
por entre os ramos e os sons de uma flauta de lábios doces
que por ali poisou entre sonhos infinitos do lusco-fusco.

As primeiras chuvas do verão humedecem como lágrimas
as palavras ditas e não ditas
no silêncio dos caminhos perfumados
de terra e folhas molhadas.

E nada se reconhece na lembrança muda das tardes
que para sempre morreram
mas os passos ecoam em silêncio
por entre os pés das oliveiras
onde outrora floriram mil risos de criança.

Que fez de mim este crepúsculo azul
como flecha espetada no vento
ferindo de morte toda a vida de meu sonho-menino.

Onde está a pedra que se fez montanha
o regato que se fez rio
a tripla chama infinita da vida luz e verdade
que se apagou na alma nua
quando sagradas selvas
e misteriosas crenças de punhal à cinta
quiseram que fosse santa.

Meu coração peregrino de seu perdido tesouro
entre o sol e as desgarradas nuvens de infinitos céus
ainda hoje se arrasta entre a razão e o abismo
em pálido reflexo de ouro para ser criança na hora de partir.
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Nota do editor

Último poste da série de12 DE AGOSTO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18917: Blogues da nossa blogosfera (99): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (18): Palavras e poesia