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sexta-feira, 5 de março de 2021

Guiné 61/74 - P21971: Álbum fotográfico de António Marreiros, ex-alf mil, CCaç 3544, "Os Roncos", Buruntuma, 1972, e CCaç 3, Bigene e Guidage, 1973/74 - Parte V: O Ramadão (1)



Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5

Guiné > Região de Gabu > Buruntuma > CCAÇ 3544, "Os Roncos de Buruntuma" > 1972 >
O Ramadão (1)





1. Mensagem de camarada António Marreiros [ a viver há quase meio século no Canadá (Victoria, BC, British Columbia), ex- alferes miliciano em rendição individual na Companhia CCaç 3544, "Os Roncos", Buruntuma, 1972, e, meses depois, transferido para Bigene, CCaç 3, até Agosto 1974]:


Data - 23/02/2021, 18:29
Assunto - Álbum fotográfico. Buruntuma (1)

Amigos,

Todos os dias dou uma olhadela ao blog e também dei uma gargalhada com a história do frango que voou e a vida no hospital de Bissau...Ainda bem que nunca tive de lá ficar.Visitei amigos hospitalizados e na altura deixou-me pouco desejo de lá voltar...

Tenho um grupo que fotos que o Cherno Baldé talvez possa acrescentar mais importantes detalhes sobre os trajes e cerimónias do Ramadão. Na altura não sabia nada sobre os costumes muçulmanos!

Aqui os dias de inverno vão dando lugar a sinais de primavera mas muito devagar. Para usar o tempo vou aprendendo e conversando italiano com outros “estudantes” espalhados pelo mundo graças ao Zoom e outras plataformas e assim não me sinto tão isolado.

Que continuem todos bem!
Um abraço
Antonio Marreiros (Canada)
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Nota do editor:

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Guiné 61/74: P21559: Arte guineense, fula e mandinga (Luís Dias, ex-alf mil inf, CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74)


Foto nº 1 > Guiné > Região de Bafatá > Setor de Galomaro > Dulombi > 1972 > O chefe da tabanca, com o traje usado durante o período do Ramadão [detalhe: usa ao peito um colar de prata, trabalho que só podia ser de ourives mandinga, vd. foto nº 8]


 Foto nº 2 > Guiné > Região de Bafatá > Setor de Galomaro > Dulombi > 1972 > Cerimónia do Ramadão


Foto nº 3 > Guiné > Região de Bafatá > Setor de Galomaro > Dulombi >  s/d [c. 1972/74] > Arte fula; alfange  e punhais, com bainha de couro




Foto nº 4 Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > s/d , c. 1972/74]  > Arte mandinga, pulseira em prata do ourives de Bafatá


Foto nº 6 Guiné > Região de Bafatá > Setor de Galomaro > Dulombi > 1972 > Arte fula; machados da fertilidade: o masculino, à esquerda;o feminino, à direita.


Foto nº 6 Guiné > Região de Bafatá > Setor de Galomaro > Dulombi > 1972 > Arte fula  [?} > O alf mil Luís Dias empunhando um canhangulo de caça grossa


Foto nº 7  Guiné > Região de Bafatá > Bafatá >> 1972 > Arte mandinga:trabalho do ourives de Bafatá, o Tchame, já falecido.

Fotos (e legendas): © Luís Dias (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Foto nº 8 > Guiné-Bissau > s/l > s/d > Arte mandinga: colares de prata



1. Mensagem de Luís Dias [, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872 (Dulombi e Galomaro, 1971/74), o nosso especialista em armamento; tem mais de 8 dezenas de referências no nosso blogue]:


Data - sexta, 6/11, 12:10
Assunto - mais fotos agora de material de arte fula 


Seguem mais fotos, agora de arte fula e algumas de arte mandinga:.

(i) Arte fula: machados da fertilidade (representado à esquerda, o macho, e à direita a fêmea) [Foto nº 6];

(ii) Arte guerreira fula: alfange com com bainha de  couro  [, Foto nº 3];

(iii) Trabalhos em prata do famoso ourives de Bafatá [, de seu nome Tchame] [Fotos nºs 4 e 7];

(iv) Traje de cerimónia do Chefe da Tabanca do Dulombi, no período do Ramadão [Foto nº 1] e o Ramadão na Tabanca do Dulombi, ambas de 1972 [Foto nº 2];

7ª Um canhangulo usado pela população do Dulombi para abater animais de maior porte.



Foto nº 9 > Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1968/70 > O Tchame, o famoso ourives de Bafatá, em dia de Ramadão frente à Mesquita, com os seus dentes de ouro.


Foto nº 10 > Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1968/70 > Uma pulseira, executada pelo ourives de Bafatá, , que a minha amiga Regina Gouveia, esposa do nosso camarada Fernando Gouveia.


(...) De seu nome Chame (não sei se é assim que se escreve o nome), era conhecido em toda a Guiné pelo seu trabalho de ourives. Executava peças de prata e de ouro como qualquer oficina de ourivesaria de Gondomar e digo isto porque o género de trabalho mais praticado por ele era muito semelhante à nossa filigrana. 

Por mais que uma vez estive na sua oficina, uma pequena palhota na tabanca da Ponte Nova. No chão uma pequena fogueira ladeada por duas pedras onde eram colocados os cadinhos para derreter os metais e onde, soprando com o auxílio de um maçarico de boca, se iam soldando os fios dos metais preciosos. Completava a oficina, uma pequena mesa com ferramentas rudimentares. 

Lamento não ter tirado uma foto das instalações, mas não tinha flash. Numa das vezes fui lá com a minha mulher e comprámos-lhe uma pulseira (ver foto). Mas talvez o mais espectacular é que era o artífice das coroas de ouro dos seus próprios dentes, serviço que não fazia a mais ninguém. (...)

Fotos (e legendas): © Fernando Gouveia (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Nota do editor:

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18338: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulos 28 (O Ramadão) e 29 (A PPSH de tambor)... Ou um "estúpido" na guerra...


Guiné > PAIGC > Novembro de 1970 > Um guerrilheiro (ou elemento da milícia popular...) empunhando uma PPSH, de tambor (a irritante "costureirinha", uma arma temível sobretudo em emboscadas)... Foi muito usada na II Guerra Mundial, pelo exército soviético: era a Shpagin PPSH 41, de calibre 7,62 mm Tokarev. com tambor de 81 munições...

Fonte: © Nordic Africa Institute (NAI)  (2010) / Foto: Knut Andreasson (com a devida vénia... e a autorização do NAI) [Edição e legendagem complementar


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CCAÇ / BART 6520/72 (1972/74) > O 1º cabo condutor auto José Claudino da Silva, junto a um memorial de uma companhia que passou por ali em 1966/68, a  CCAÇ 1624 / BART 1896, que, segundo a ficha da unidade, esteve em Fulacunda, Catió, Fulacunda, Bolama, Mejo, Porto Gole, Fulacunda, entre novembro de 1966 e agosto de 1968.

Foto: © José Claudino da Silva (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


José Claduino da Silva, mora na Lixa, Felgueiras
1. Continuação da pré-publicação do próximo livro (na versão manuscrita, "Em Nome da Pátria") do nosso camarada José Claudino Silva [foto atual à direita]

Nasceu em Penafiel, em 1950, foi criado pela avó materna, reside hoje na Lixa, Felgueiras. Tem orgulho na sua profissão: bate-chapas, agora reformado. Tem o 12.º ano de escolaridade.

Foi um "homem que se fez a si próprio", sendo já autor de dois livros, publicados (um de poesia e outro de ficção). Tem página no Facebook: é avô e está a animar o projeto "Bosque dos Avós", na Serra do Marão, em Amarante. É membro n.º 756 da nossa Tabanca Grande.

Sinopse:

(i) foi à inspeção em 27 de junho de 1970, e começou a fazer a recruta, no dia 3 de janeiro de 1972, no CICA 1 [Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas], no Porto, junto ao palácio de Cristal;
(ii) escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, da Via Norte à Rua Escura.

(iii) passou pelo Regimento de Cavalaria 6, depois da recruta; promovido a 1.º cabo condutor autorrodas, será colocado em Penafiel, e daqui é mobilizado para a Guiné, fazendo parte da 3.ª CART / BART 6250 (Fulacunda, 1972/74);

(iv) chegada à Bissalanca, em 26/6/1972, a bordo de um Boeing dos TAM - Transportes Aéreos Militares; faz a IAO no quartel do Cumeré;

(v) no dia 2 de julho de 1972, domingo, tem licença para ir visitar Bissau,

(vi) fica mais uns tempos em Bissau para um tirar um curso de especialista em Berliet;

(vii) um mês depois, parte para Bolama onde se junta aos seus camaradas companhia; partida em duas LDM parea Fulacunda; são "praxados" pelos 'velhinhos', os 'Capicuas", da CART 2772;

(viii) faz a primeira coluna auto até à foz do Rio Fulacunda, onde de 15 em 15 dias a companhia era abastecida por LDM ou LDP; escreve e lê as cartas e os aerogramas de muitos dos seus camaradas analfabetos;

(ix) é "promovido" pelo 1.º sargento a cabo dos reabastecimentos, o que lhe dá alguns pequenos privilégio como o de aprender a datilografar... e a "ter jipe";

(x) a 'herança' dos 'velhinhos' da CART 2772, "Os Capicuas", que deixam Fulacunda; o Dino partilha um quarto de 3 x 2 m, com mais 3 camaradas, "Os Mórmones de Fulacunda";

(xi) Dino, o "cabo de reabastecimentos", o "dono da loja", tem que aprender a lidar com as "diferenças de estatuto", resultantes da hierarquia militar: todos eram clientes da "loja", e todos eram iguais, mas uns mais iguais do que outros, por causa das "divisas"... e dos "galões"...

(xii) faz contas à vida e ao "patacão", de modo a poder casar-se logo que passe à peluda;

(xiii) ao fim de três meses, está a escrever 30/40 cartas e aerogram as por mês; inicialmente eram 80/100; e descobre o sentido (e a importância) da camaradagem em tempo de guerra.

(xiv) como "responsável" pelo reabastecimento não quer que falte a cerveja ao pessoal: em outubro de 1972, o consumo (quinzenal) era já de 6 mil garrafas; ouve dizer, pela primeira vez, na rádio clandestina, que éramos todos colonialistas e que o governo português era fascista; sente-se chocado;

(xv) fica revoltado por o seu camarada responsável pela cantina, e como ele 1º cabo condutor auto, ter apanhado 10 dias de detenção por uma questão de "lana caprina": é o primeiro castigo no mato...; por outro lado, apanha o paludismo, perde 7 quilos, tem 41 graus de febre, conhece a solidariedade dos camaradas e está grato à competência e desvelo do pessoal de saúde da companhia.

(xvi) em 8/11/1972 festejava-se o Ramadão em Fulacunda e no resto do mundo muçulmano; entretanto, a companhia apanha a primeira arma ao IN, uma PPSH, a famosa "costureirinha" (, o seu matraquear fazia lembrar uma máquina de costura).


2. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 28 e 29

[O autor faz questão de não corrigir os excertos que transcreve, das cartas e aerogramas que começou a escrever na tropa e depois no CTIG à sua futura esposa. Esses excertos vêm a negrito. O livro, que tinha originalmente como título "Em Nome da Pátria", passa a chamar-se "Ai, Dino, o que te fizeram!", frase dita pela avó materna do autor, quando o viu fardado pela primeira vez. Foi ela, de resto, quem o criou. ]


28º Capítulo  > O RAMADÃO

O estúpido ignorante 1º cabo 158532/71 só conhecia um Deus. O eterno e todo-poderoso Deus do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis,  por isso ficou surpreendido quando soube que Alá também é um Deus e ficou a saber isso na festa do Ramadão.

Descrevia por carta, aquele estúpido imbecil de 22 anos (pelos vistos era eu), no dia 8/11/1972:

“Hoje há aqui uma festa que é feita pelos pretos e eu vou até às tabancas para me divertir um pouco. Vê-los dançar o batuque e ouvi-los cantar aquelas canções ininteligíveis a Alá. O Alá é o Deus deles. Andaram um mês a fazer jejum e agora que o jejum terminou fazem uma festa fora de série. É engraçada a maneira como se divertem. Têm uma “capela” que não tem nada lá dentro eles vão para lá e põem-se a beijar o chão mas só os homens, as mulheres ficam cá fora pois não tem direito de entrar onde os homens entram. Elas é que trabalham e eles só comem e dormem pois cada um tem quatro ou cinco mulheres e eles não trabalham precisamente porque em cada noite dormem com uma diferente e precisam de ter forças para… Parece que não é preciso explicar melhor. No entanto há muitos a quem as mulheres não são fiéis, eles não tem forças e elas arranjam outros, principalmente brancos. Há aqui mais de uma dezena de bebés mulatos filhos de alguns soldados que viemos render ou de outras companhias anteriores.” 

Não admito que me gozem. Fiquei a saber, naquela época, que estes rituais são seguidos por milhões de muçulmanos em quase todo o mundo. Usam várias religiões para atingirem a vida eterna como nós fazemos na religião católica, onde há várias, mas só um Deus. Com eles, passa-se o mesmo.

Nós, para nos salvarmos, recorríamos a todos os santos consagrados pela Santa Sé. Rezávamos o terço e ouvíamos o capelão, fazíamos promessas à Nossa Senhora de Fátima, rogávamos a Deus e agora até a Alá, que passara a ter a dupla obrigação de nos salvar a nós e ao inimigo que também a ele recorria.

Alguns de nós tínhamos ainda vários amuletos e outros feitiços que garantidamente nos protegiam de todos os males, mais uns quantos pós e algumas mezinhas que entretanto descobríramos em África. Não fazíamos jejum 30 dias como os pretos, a quem eu me referia quase pejorativamente. Jejum, só fazíamos na quaresma, e só à sexta-feira. Éramos muito diferentes; a nossa religião melhor, achava eu!

Desde já garanto: O nosso salvador foi outro. Penso que existiu um em cada companhia. Na minha, foi o ANIBAL. Falarei dele no tempo da fome e no local onde ele merece estar. No cimo de todos
nós.

29º Capítulo  > A PPSH DE TAMBOR




Com a minha estranha maneira de ver a guerra, só em Novembro me referi levemente a algo com ela relacionada e envolvendo directamente, apenas os nossos grupos de combate. Foi num domingo, depois de ouvir o relato que dava em cadeia com a Emissora Nacional.

“Mais um Domingo triste e monótono que passei a 4000 quilómetros de distância. Até te vou contar uma coisa só para hoje ser diferente.

Os nossos pelotões de combate detectaram um elemento inimigo, feriram-no e embora ele conseguisse fugir apanharam-lhe a arma. (Uma PPSH de tambor) Menciono este facto porque normalmente quando uma companhia apanha armamento ao inimigo como prémio só está 16 a 18 meses no mato, por isso nós com um pouco de compreensão do General Spínola que é o Comandante-chefe do Comando Territorial Independente da Guiné. Diz-se C.T.I.G. só estaremos aqui 18 mesitos e depois vamos para Bissau. Bem bom.”


Acreditam nisto? Vejam bem como este parvo escrevia, num cenário de guerra, onde morriam pessoas. Ouvia monotonamente o relato como se estivesse numa colónia de férias.

No alto dos meus medíocres privilégios, estava-me nas tintas para o que os meus camaradas passavam nas perigosas operações militares a que estavam sujeitos. Pelos vistos, pouco me importava, quando percorriam por entre árvores e capim, debaixo dum sol abrasador, as matas e bolanhas pantanosas, com a água a chegar-lhes, muitas vezes, à cintura, aumentando imenso a dificuldade de caminharem, para que eu pudesse estar seguro no quartel.

Apenas posso afirmar, a meu favor, que quando regressavam ao quartel, nunca lhes faltaram bebidas frescas. Mas o que me preocupava mesmo era ouvir o relato de futebol e arranjar um gravador de cassetes.

[Continua]
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Nota do editor:

Último poste da série > 12 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18312: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulos 26 (O primeiro castigo no mato) e 27 (O paludismo)

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16981: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (10): 28 de outubro de 1973, dia de festa ecuménica, a festa do fim do Ramadão (Eid-ul-Fitr) no... Mato Cão


Foto nº 1 


Foto nº 1 A


Foto nº 1 B


Foto nº 2 A


Foto nº 2

Guiné >Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 (1973/74) >   Dia de festa: festa o fim do Ramadão (Eid-ul-Fitr) : convívio com os familiares dos militares guineenes do pelotão. Nesse ano deve ter sido a 28 de outubro. Estamos ainda na época das chuvas, o capim ainda está verde... Nessa época, a guerra israelo-árabe do Yom Kippur punha a paz mundial em perigo (de 2 a 26 de outubro de 1973)... No Mato Cão, um pequeno grupo de portugueses e guineenses  faziam uma pequena festa ecuménica...

Lê-se no sítio português Al-Islam

"Eid-ul-Fitr é uma festa religiosa que assinala o fim do mês Sagrado do Ramadão. Este dia festivo é comemorado para dar graças a Deus pelas bênçãos do Ramadão. Os Muçulmanos assistem oração de Eid numa congregação, que se realiza de manhã. Eles vestem roupas novas, cozinham comida deliciosa e convidam amigos e vizinhos para comemorar com eles. O jejum durante o Ramadão inspira simpatia para os famintos e os necessitados, e incentiva os Muçulmanos a doarem generosamente aos pobres." 

Fotos (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Continuação da publicação do vasto e rico álbum fotográfico do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro, que foi alf mil da CCAÇ 4740 (Cufar, 1972/73) e do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74). (*)

Lisboeta, com família do lado materno na Lourinhã (Miragaia e Marteleira), hoje bancário aposentado, cicloturista, o Luís Mourato Oliveira esteve na Guiné, em rendição individual de 1972 1974... Foi o último comandante do Pel Caç Nat 52. Ele irá terminar a sua comissão em Missirá e extinguir o pelotão, em agosto de 1974. Também visitava Bambadinca e Fá Mandinga e dava a devida importância aos convívios (entre militares e entre estes e a população).

Em meados de 1973 (por volta de julho), veio de Cufar, no sul, região de Tombali, para o CIM de Bolama, para fazer formação específica antes de ir comandar, em agosto, o Pel Caç Nat 52, no setor L1, zona leste (Bambadinca), região de Bafatá, subunidade que era composto maioritariamente por fulas.

Publicam-se mais algumas fotos do tempo em que o alf mil Luís Mourato Oliveira passou no destacamento de Mato Cão, neste caso a festa do fim do Ramadão. Os seus soldados, fulas, eram muçulmnos.

Recorde-se, mais uma vez, que a missão principal do destacamento do Mato Cão era proteger as embarcações que circulavam no Rio Geba Estreito, entre o Xime e Bambadinca. As condições de alojamento e segurança eram precárias.

Sobre o Mato Cão, que era um lugar mítico, temos já mais de 70 referências... Pertencia ao subsetor do Xime. Por lá passaram diversos camaradas nossos, membros da Tabanca Grande...
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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15758: Efemérides (215): Canquelifá, 9 de fevereiro de 1970: o burro, as carraceiras e o tiro ao alvo com uma Mannlicker... Ou quando um burro valia mais do que um Unimog... (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)


Foto n.º 1
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) Canquelifá > 1970 > Uns dias antes, da chegada do 3.º pelotão da CART 11, Canquelifá tinha sofrido um violento ataque... Um outro grupo de combate da CART 11, que foi rendido pelo 3.º,  "aguentou os cavalos"... quando as tropas do Amílcar Cabral fizeram uma tentativa de assalto, junto ao arame farpado (*)... Na foto, o Valdemar Queiroz parece estar junto à carcaça de uma aeronave (?)...


Foto n.º 2 
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > Canquelifá > 1970 > O Valdemar Queiroz, inspecionando os estragos nas instalações civis e militares...


Foto n.º 3
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) Canquelifá > 1970 >  "Com armas, bagagens, mulheres e crianças, o 3.º Pelotão da CART 11, "Os Lacraus", chega a Canquelifá!,,,


Foto n.º 4 
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > Canquelifá > 1970 > Furriéis (à esquerda, o Valdemar Queiroz)..."Conversas... entre Lisboa e Porto"... O mesmo é dizer: o ócio é a mãe de todos os vícios ou tentações...


Foto nº 5
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > Canquelifá > 1970 >  Festas do fim do Ramadão (c.  O Cap Pinto é o terceiro, na primeira fila, a contar da direita para a esquerda... E o Valdemar Queiroz é o quinto depois da "mulher grande com criança ao colo"...


Foto nº 6 
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) Canquelifá > 1970 > Festas do fim do Ramadão > Lutas (fulas), corpo a corpo... Repare-se no risco, dividindo os dois campos...

Fotos: © Valdemar Queiroz (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1. Texto enviado na segunda feira de Carnaval, pelo  Valdemar Queiroz [ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]

Data: 9 de fevereiro de 2016 às 03:10

Assunto: Quando um burro vale mais que um Unimog

9 de Fevereiro de 1970 [, segunda feira de Carnaval]

Faz agora 46 anos.

Com armas, bagagens, mulheres e crianças, o 3.º Pelotão da CART 11, "Os Lacraus", chegou a Canquelifá (*). Lá no alto. O nosso Capitão Pinto também foi connosco.

'BEM-VINDOS ÀS TERMAS DE CANQUELIFÁ', dizia o cartaz à entrada da tabanca.

Tinha sido violentamente atacada dias antes, com a destruição de instalações militares e civis e com tentativa de assalto pelo arame farpado, com um nosso Pelotão da CART 11, "Os Lacraus", que já lá estava, a aguentar o assalto no cavalo de frisa da entrada, sendo o nosso 1.º Cabo Paiva ferido no peito com o sopro dum rebentamento.

As coisas acalmaram com a nossa presença, ou se calhar não, mas nunca mais houve ataques naqueles tempos em que estivemos em Canquelifá.

Coincidiu com o mês de Ramadão. Houve festa em Canquelifá, rezas e batucadas. E foi, por essa altura, que apareceu um burro, com umas aves carraceiras de bico vermelho na sua barriga.

Estávamos uns quantos furriéis milicianos,  num "descanso do guerreiro", se calhar a falar do Porto e de Lisboa, quando um de nós se lembrou de...
– Quem é capaz de acertar naquele 'carraceiro' na barriga do burro?

E foram buscar uma Mannlicher [, calibre 5,6, ]. (**) O primeiro tiro abateu o 'carraceiro' da barriga do burro e o segundo também, depois, quando apareceu outro pássaro de bico vermelho, voltamos a atirar ao bicho, voltou outro e outro tiro se atirou e parece que alguém começou a falhar tiros e acabamos por aí.

Passados dois dias, apareceu um homem-grande no Comando a queixar-se da morte dum burro que a tropa esburacou na barriga e que servia para transportar tudo e mais alguma coisa.

Fomos todos chamados à pedra e para resolvermos o assunto com o homem-grande. 
– Então quanto é que o homem quer pelo burro?  – perguntamos nós com a intenção de pagar o dano causado.
– Sei lá – respondeu Capitão – , mas parece que o burro vale mais que um Unimog.

Já não me lembro quanto valeu um tiro ao 'carraceiro', mas a brincadeira ficou cara.(***)

Valdemar Queiroz



"Caminho de Bafatá", pintura (fresco?)  de Augusto Trigo (n. 1938) (pormenor)... Havia "burros" na Guiné, no nosso tempo, nomeadamente na zona leste.... Referimo-nos ao "Equus africanus asinus" e não ao "burro humano" ("Homo sapiens sapiens")...

Em exposição no hall de um banco, em Bissau, o BCAO. Com a devida vénia ao pintor, casapiano, (que vive atualmente em Portugal), ao Rui Fernandes (autor da foto) e à AD - Acção para o Desenvolvimento (que detém os direitos da imagem no seu sítio Guiné-Bissau). Ver também aqui na página do Didinho.org uma nota biográfica.
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(**) 23 de janeiro de  2010 > Guiné 63/74 – P5690: Armamento (2): Pistolas, Pistolas-Metralhadoras, Espingardas, Espingardas Automáticas e Metralhadoras Ligeiras (Luís Dias)

(...) No final do século XIX, princípio do século XX, Portugal adquire a espingarda Mannlicher, de origem austríaca, no calibre 6,5 mm, por ser mais rápida no carregamento (recurso a lâmina de recarregamento), que a anterior [, a Kropatschek, espingarda de repetição, ]  que virá a transformar em 1946, na Fábrica de Braço de Prata, para o calibre 5,6 mm e serão usadas para instrução de tiro. (...)

(***) Último poste da série > 13 de fevereiro de  2016 > Guiné 63/74 - P15741: Efemérides (214): Dia 8 de Novembro de 1967, data do falecimento do primeiro militar da CART 1742, numa acção de reconhecimento na Tabanca de Ganguiró (Abel Santos, ex-Soldado At Art)

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13399: Efemérides (164): O Ramadão de 1970 em Paunca (Abílio Duarte, ex-fur mil art, CART 2479 / CART 11, Os Lacraus, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70)









Guiné > Zona Leste > Setor L6 (Pirada) > Paunca >  CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/71) > Cerimónia do Ramadão de 1970 em Paunca. Nesse ano o Ramadão começou a 31 de outubro e terminou a 30 de novembro.

Fotos: © Abílio Duarte (2014). Todos os direitos reservados. (Edição:  L.G.)

1. Está a decorrer desde 29 de junho e vai  até 28 de julho, no mundo ilsâmico, a festa do Ramadão, o  nono mês do calendário muçulmano, durante  o qual os crentes praticam o seu jejum ritual,   um dos cinco pilares do Islão.

A palavra Ramadão vem do árabe "ramida", “ser ardente”,  palavra talvez associada ao facto de o Islão ter celebrado este jejum pela primeira vez no período mais quente do ano. Em termos simples, para um crente é um tempo cracterizado por : (i)  renovação da fé; (ii) prática mais intensa da caridade; (iii) vivência profunda da fraternidade; (iv) reforço  dos valores da vida familiar; (v) aior proximidade aos valores sagrados; (vi) leitura mais assídua do Alcorão; (vii)  freqüência da mesquita; (viii) correção pessoal e autodomínio.

No Alcorão, é  o único mês  que vem mencionado pelo nome. É o  mês em que foi revelado o Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos.

Durante a guerra colonial, os preceitos deste mês (e nomeadamente o jejum durante o dia)  era escrupulosamente respeitado pelos nossos soldados muçulmanos do recrutamente local, e pelas milícias, e muito possivelmente pelos guerrilheiros do PAIGC que eram islamizados (caso dos beafadas, mandingas, fulas, nalus, balantas manés...). Mas em geral os nossos graduados (a começar pelos oficiais) não tinham grande sensibilidade para o problema, e sobretudo para o potencial conflito entre a exigências da atividade operacional e as restrições alimentares impostas pelo  Ramadão.

Na CCAÇ 12, o jejum era respeitado, tanto quanto me lembro pelos nossos soldados. Ainda este ano, durante o Campeonato Mundial de Futebol, se levantou de novo a polémica sobre a religião e o futebol, a propósito da seleção nacional argelina de futebol, por causa da imposição do jejum durante o Ramadão, incompatível, em princípio, com a prática da alta competição desportiva.

2. Publicam-se em cima fotos do Ramadão de 1970,  em Paunca, na zona leste,, uma ceriomónia que era seguida à distância, com respeito e curiosidade, pelos militares portugueses metropolitanos.

As fotos são do Abilio Duarte [ex-fur mil art, CART 2479 (que em janeiro de 1970 deu origem à CART 11, Os Lacraus, que por sua vez em junho de 1972 passou a designar-se CCAÇ 11), Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70; bancário reformado). Foram enviadas em 12 do corrente com a seguinte nota:

(...) "Nesta época de Ramadão, junto te envio umas fotos que tirei em Paunca no Ramadão de 1970. Nestas cerimónias esteve presente um alto dignitário, e que,  segundo me disseram, viera da Mauritânia, e andou naquele períoao do, pelo Senegal e terras do Leste da Guiné, em actividade religiosa.

"Não te incomodo mais, e mais uma vez os meus agradecimentos pela existência do Blog."

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Nota do editior:

Último poste da série > 12 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13273: Efemérides (163): O 10 de junho de 2014 em Belém, Lisboa... Um dos fotógrafos da Tabanca Grande estava lá (Jorge Canhão)

sábado, 15 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12839: Memórias de um Lacrau (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) (Parte VIII): fotos de Canquelifá, na fronteira nordeste: bajudas, final da festa do Ramadão, descanso dos guerreiros...


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70)  > Bajudas (1)


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70)  > Bajudas (2)


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) >    Festa do final do Ramadão (1)


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) >  Festa do final do Ramadão (2)... O Valdemar em tronco...


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70)  >  Festa do final do Ramadão  com o cap mil Pinto a assistir (1)... A meio, sentado, fardado...


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) >   Festa do final do Ramadão  com o cap mil Pinto a assistir (2)


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) >   Festa do final do Ramadão  com o cap mil Pinto a assistir (3)´


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70)  >     Conversas entre o Porto e Lisboa... Vários graduados...


Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]



1. Continuação da publicação das Memórias de um Lacrau ... Texto e fotos enviadas, em 9 de fevereiro último, pelo Valdemar Queiroz {, foto atual à esquerda] (*)

Diz a última parte do texto, muito laconicamente:

"Depois, a partir de Nova Lamego, andámos em intervenção na zona leste, a nível de dois pelotões, por Cabuca, Cancissé, Madina Mandinga, Dara, Piche, Ponte Caium, Dunane, com permanência perlongada em Canquelifá, até nos fixarmos em Paunca e Guiro Iero Bocari."

Vamos apresentar fotos, com legendas destes vários lugares por onde passou o nosso camarada Valdemar Queiroz, esperando que ele e outros "lacraus" complementam esta informação.

Hoje são fotos da estadia em Canquelifá, junto à fronteira, a nordeste:  bajudas, final da festa do Ramadão, descanso dos guerreiros...

Sobre Canquelifá temos cerca de 8 dezenas de referências no nosso blogue. Nesta altura (1968/70), estava sediado em Piche o BART 2857, com a CCS em Piche e as subunidades de quadrícula em Bajocunda (CART 2438), Canquelifá (CART 2439) e Piche (CART 2440). Ver aqui o respetivo sítio.

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Nota do editor:

(*) Último poste da série  > 12 de março de  2014 > Guiné 63/74 - P12827: Memórias de um Lacrau (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) (Parte VII): Fotos de estrada, onde a velocidade máxima era de 40 km (e nas povoações, 35 km)