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domingo, 29 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2996: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (Luís Graça) (18): Cacine, a voz dos abandonados (II)


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Cacine > Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) > Visita dos participantes ao sul > Depoimento de Armando Abasse Camará, um antigo militar das NT (1966/74), natural de (e residente em) Cacine.

Com uma comissão em Angola em 1972, voltou para Cacine onde foi escolhido como elemento de contacto das NT com o PAIGC em 25 de Abril de 1974. Como muitos outros guineenses, depois de servir Portugal e os portugueses, foi abandonado por nós. Uma história que ainda hoje nos envergonha... Poderias ter escrito a história de outra maneira ? Poderíamos, ao menos, ter feito alguma justiça a estes e outros combatentes ?

Hoje estes antigos combatentes guineenses, que serviram Portugal, nem uma mísera pensão de vinte e poucos euros recebecem, o equivalente ao salário mínimo do país (!), o suficiente até há pouco tempo para se comprar um saco de arroz de 50 quilos e alimentar (mal) a família.
O saco estava até há pouco a 12500 francos CFA (cerca de 19 euros). Devido è escassez no mercado local do alimento base, que é o arroz, resultante da conjugação de múltiplos factores (subida exponencial do preço do petróleo, escassez de combustíveis, crise cerealífera local, regional e mundial, especulação, açambarcamento, corrupção, desastre da política agrícola do FMI que impõe a ditadura do cajú aos guineenses, abandono das bolanhas, etc.), o preço do arroz não pára de aumentar... No princípio de Junho, o arroz já estava a 15 mil francos CFA o saco de 50 quilos, até desaparecer do mercado e obrigar o Goberno a intervir no mercado.

Cito o portal Notícias Lusófonas, com notícias de 24 de Junho do corrente, sobre o recente aumento de preços na Guiné-Bissau:

"O peixe e o arroz foram os principais produtos alimentares que registaram aumentos na Guiné-Bissau após a revisão dos preços dos combustíveis anunciada sábado pelo governo, mas os transportes públicos devem subir as tarifas ainda esta semana.

"Os pescadores aumentaram e nós tivemos de aumentar também, afirmou hoje à Agência Lusa o peixeiro Issiaca Nanqui, com banca no mercado central de Bissau. Segundo Issiaca Nanqui, os aumentos do preço do quilograma de peixe variam entre 250 francos cfa (0,38 euros) e 500 francos cfa (0,76 euros), dependendo do peixe. Já no mercado do Bandim, o preço do saco de 50 quilogramas de arroz varia entre os 17.500 francos cfa (26,71 euros), fixado pelo governo sábado juntamente com o preço dos combustíveis, e os 21.000 francos cfa (32 euros).

"Questionada pela agência Lusa sobre as razões para a variação do preço do arroz, uma comerciante explicou que o saco de 17.500 francos cfa é de segunda qualidade e o mais caro de primeira qualidade. Sobre as reclamações dos consumidores, Márcio Santos Cá, um outro comerciante de arroz, afirmou que 'as pessoas queixam-se do preço, mas compram'...'Os que têm dinheiro compram e os que não têm compram de segunda qualidade', disse, sublinhando que as vendas não diminuíram. Os legumes, a fruta e o óleo, muito consumido pelos guineenses, não registaram aumentos, ao contrário da carne, que aumentou nas últimas duas semanas.

" 'A carne aumentou porque neste momento as vacas são difíceis (escassas) e o preço subiu, afirmou Roberto Mendes, vendedor de carne de vaca no mercado do Bandim. Enquanto os produtos base da alimentação dos guineenses, peixe e arroz, aumentaram imediatamente, os transportes públicos aguardam as directivas do governo para procederam à regularização das tabelas. 'Os aumentos devem ser esta semana, estamos à espera que o governo decida', afirmou Miguel Binhancarem, condutor de um toca-toca (transporte público). Para já, o preço de um bilhete custa 150 francos cfa (0,22 euros). Nos táxis, a corrida varia entre 250 francos cfa (0,38 euros) e 350 francos cfa (0,53 euros) e os aumentos são esperados ainda semana.
" 'Vamos aumentar porque a situação está difícil com a subida do preço do gasóleo', afirmou o taxista Bubacar Baldé. O executivo guineense decidiu sábado aumentar o litro do gasóleo para 729 francos cfa (1,11 euros), mais 25 cêntimos, enquanto a gasolina subiu para 801 francos cfa (1,22 euros), contra os 1,02 cobrados a semana passada.

"O aumento dos combustíveis ocorreu depois de duas semanas de um braço-de-ferro entre o governo e as distribuidoras do país, que deixaram de importar combustível por estarem a perder dinheiro já que o preço dos carburantes não acompanhava o estabelecido no mercado internacional. O aumento do preço do gasóleo tem consequências directas nas condições de vida dos guineenses, porque apesar de este combustível não ser utilizado pela maior parte da população, é garante do funcionamento do país. Um guineense ganha em média o equivalente a 45,80 euros por mês. O ordenado mínimo ronda os 22,90 euros mensais. Actualmente, um guineense que ganhe um ordenado mínimo não consegue comprar um saco de 50 quilogramas de arroz, base da sua alimentação" .

Vídeo (5' 26''): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo alojado em: You Tube >Nhabijoes
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Nota de L.G.:

(1) Vd. poste de 29 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2994: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (Luís Graça) (17): Cacine, a voz dos abandonados (I)

Guiné 63/74 - P2994: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (Luís Graça) (17): Cacine, a voz dos abandonados (I)

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Cacine > Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) > Visita ao Cantanhez dos participantes do Simpósio > Rio Cacine, perto do cais de Cacine: Tarrafo...

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Cacine > Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) > Visita dos participantes ao sul > Depois de um belíssimo almoço em praia fluvial e porto piscatório de Cananima, na margem direita do Rio Cacine, houve um grupo de cerca de 30 valentões (e valentonas) que se meteram numa canoa senegalesa, motorizada, de um pescador local, e aproveitaram a tarde para visitar a mítica Cacine. A distância entre as as duas margens ainda é grande... A canoa a motor, carregada de pessoal, terá levado meia hora a fazer a travessia...

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima, frente a Cacine > 2 de Março de 2008 > Em primeiro plano, o Pepito observa a partida da canoa rumo a Cacine, tendo à sua direita o Zé Teixeira e, à esquerda, o Domingos Fonseca (que técnico da AD, do Programa Integrado de Cubucaré, ocupando-se me preferencialmente das acções ambientais em Cantanhez, nos domínios de ecoturismo, formação de professores de verificação ambiental, colecta de plantas medicinais e identificação de percursos naturais). O Domingos foi um dos elementos-chave da organização (excepcional, impecável) que permitiu levar uma enorme caravana de jipes, de Bissau até ao Bissau, cerca de 600 quilómetros ida e volta, e largas dezenas de pessoas... Fomos a um sábado, dia 1 de Março, com várias paragens (Saltinho, Ponte Balana, Gandembel, Guileje), pernoita em Iemberém (sábado); no dia 2, domingo, visita a Iemberém, Madina do Cantanhez - Acampamento Osvaldo Vieira, almoço em Canima e visita a Cacine, e de novo pernoita em Iemberém... Segunda feira livre, com regresso a Bissau, antes das 17 horas, início do Simpósio, no Hotel Palace de Bissau (*)...

Sobre a nossa viagem à Guiné, por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje, vd. também a excelente cobertura fotográfica feita pelo Carlos Silva, hoje advogado, feita na sua página na Net, Guerra da Guiné 63/74, de Carlos Silva, BCAÇ 2879 > Viagens 2008.


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Cacine > Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) > Visita dos participantes ao sul > O nosso amigo Leopoldo Amado, historiador, organizador do Simpósio e conferencista, veio encontrar aqui um antigo condiscípulo de liceu, hoje administrador de Cacine.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Cacine > Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) > Visita dos participantes ao sul > Por aqui passou a CART 1692... Esta tosca placa, em cimento, diz-nos que em dois dias, de 16 a 18 de Abril de 1968, foi construído este abrigo, em tempo seguramente recorde, a avaliar pelas "60 bebedeiras neste 'priúdo'... TRABALHO RÁPIDO".


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Cacine > Simpósio Internacional de Guileje > Visita dos participantes ao Cantanhez > 2 de Março de 2008 > Cacine ainda tem hoje muitos restos da presença portuguesa, desde os edifícios de traça colonial aos abrigos militares... Por aqui passaram importantes contingentes das tropas portugueses, e nomeadamente tropas especiais, como os fuzileiros e os pára-quedistas, nomeadamente em Maio, Junho e Julho de 1973, quando o PAIGC lançou uma grande ofensiva contra as nossas posições no sul, em especial no corredor de Guileje: Iemberém, Guileje, Gadamael...

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Cacine > Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) > Visita ao Cantanhez dos participantes do Simpósio > Restos do espaldão do morteiro...


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Cacine > Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) > Visita dos participantes ao sul > O Silvério Lobo, de Matosinhos, e que esteve em Aldeia Formosa, no tempo da guerra... Aqui em frente a um dos bunkers de Cacine que, ao fim destes anos todos, ainda conseguem resistir, embora mal, à força avassaladora da natureza... Eu, o Silvério e outros camaradas ainda andámos, em vão, à procura de sepulturas de antigos militares portugueses... Não conseguimos localizá-las, apesar dos palpites dos residentes locais... Alguns deles são estrangeiros, cidadãos da República da Guiné-Conacri, que se dedicam à pesca e que não falam português... Dialogámos em francês... Por serem jovens (e estrangeiros), não sabem o que se passou na guerra colonial... No cemitério de Cacine, ficou pelo menos o Jeremias Barcelos Cosme Damião, Soldado da CCaç 273, morto em 14.07.63, em Cacine, vítima de acidente com arma de fogo. Era natural da raia da Vitória, Praia da Vitória.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Cacine > Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) > Visita ao Cantanhez dos participantes do Simpósio > Uma das portentosas cabaceiras que se erguem na vila de Cacine... O seu fruto é muito apreciado para a produção de sumo...

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Cacine > Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) > Visita dos participantes ao sul > Cacine... O ex -1º Cabo de Artilharia Pesada Armando Abasse Camará, natural e residente de Cacine... Esteve ao serviço das NT desde 1966. Pelo que percebi foi apontador de obus 14. Em Cufar, por exemplo. Tem uma comissão em Angola, em 1972. De regresso a Cacine, foi elemento de contacto das NT com o PAIGC em 25 de Abril de 1974, ao serviço do COP 5, na altura chefiada por um oficial superior da Marinha.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Cacine > Simpósio Internacional de Guileje > Visita dos participantes ao Cantanhez > 2 de Março de 2008 > Cais de Cacine, ao fim da tarde... No cais, um pescador remenda as suas redes... Provavelmente é um estrangeiro, da vizinha Guiné-Conacri...

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Cacine > Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) > Visita dos participantes ao sul > Está na hora do regresso a Cananima... O pessoal deixa Cacine, já ao fim da tarde, de sapatos na mão, para tomar o seu lugar na canoa... Em primeiro plano, a Maria Alice e o antigo embaixador cubano, na Guiné-Conacri, Oscar Oramas (estava lá, quando foi assassinado, em 1973, o fundador e dirigente histórico do PAIGC)...

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Cacine > Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) > Visita dos participantes ao sul > De regresso à canoa... Em primeiro plano, o único jornalista português que nos acompanhou, o José Marques, do Correio da Manhã...

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima, frente a Cacine > 2 de Março de 2008 > Chegado do pessoal a Cananima, com a canoa ao fundo... O Carlos Silva está em primeiro plano...


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima, frente a Cacine > 2 de Março de 2008 > Em primeiro plano, de costas ou de perfil, a Alice e o Paulo Santiago... Ao meio, o Pepito falando com o régulo local, um fula, que foi tropa durante a guerra colonial...

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima, frente a Cacine > 2 de Março de 2008 > Actual régulo de Cananima. Apontei o seu nome, num dos meus caderninhos que agora não encontro. Foi fuzileiro, pertenceu ao Destacamento de Fuzileiros Especiais 21... No período a seguir à independência, fez uma retirada estratégica, andou fugido pelo mato (ou por um dos países vizinhos, já não posso precisar qual). Depois as coisas acalmaram e os fulas souberam usar alguns dos seus trunfos, incluindo a habilidade política... Hoje é régulo, quem diria!

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2846: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (Luís Graça) (16): Salvemos o Cantanhez (II)


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Rio Cacine > Cananima > 2 de Março de 2008 > Concentração dos participantes do Simpósio Internacional de Guileje na praia e porto fluvial de Cananima, frente a Cacine, na margem direita do Rio Cacine (1).

O Cantanhez é delimitado pelos dois rios principais, o Cumbijã e o Cacine. As margens destes rios são constituídas por uma vasto e rico mangal. A bacia do Cumbijã é conhecida por ser (ainda) um dos celeiros de arroz do país (cerca de 13 mil hectares de bolanhas cultivadas em finais da décad de 1990). A actual crise alimentar no mundo está também a afectar a Guiné-Bissau, cujos dirigentes políticos e agentes económicos têm apostado na monocultura do caju, para exportação (seguindo, desgraçadamente, o mau exemplo colonial, da o da monocultura do amendoím), e na importação de arroz estrangeiro que, devido aos preços mais baixos particados pelos grandes produtores mundiais, acaba por ter uma vantagem decisiva em relação ao arroz nacional. É preciso que os guineenses aprendam as sábias lições do Cantanhez. Hoje, mais do que nunca... É preciso salvar as bolanhas. É preciso lutar contra a erosão e a salinização das melhores terras de cultura do arroz... É preciso evitar a sangria dos jovens, atraídos pela miragem da grande cidade... É preciso dar sentido ao futuro, é perciso dar esperança aos guineenses...

O Rio Cacine, por sua vez, é rico em peixe e moluscos. É muito procurado por pescadores da vizinha Guiné-Conacri, concentrados sobretudo na Ilha de Melo, na foz do Rio Cumbijã. As espécies piscícolas mais procuradas são o Djafal, o Bagre e o Tubarão (este apanhado sobretudo como juvenil, o que vem compromter o equilíbrio da fauna marinha, já que é uma espécie que está no topo da cadeia alimentar). Há uma crescente consciente ecológica entre as gentes do Cantanhez, que representa, pela sua biodiversidade, um património riquíssimo que é preciso preservar, proteger e utilizar, numa óptica de custo-benefício, de maneira a tirar partido de todas as suas potencialidades, hoje e sobretudo amanhã.

Segundo a ONG Tiniguena - Esta Terra É Nossa que lançou um belíssimo calendário para 2008 - Matas de Cantanhez: Biodiversidade ao serviço da soberania, com magníficas fotos de Augusta Henriques (sua secretária-geral), Emanuel Ramos, Pierre Campedron, André Barata e Cristina Silva - , um estudo feito junto dos Nalus mostrou que mais de 200 espécies vegetais selvagens são utilizadas regularmente pelas famílias, mais de metade das quais na farmacopeia (produtos medicinais tradicionais) e cerca de 20% na alimentação. "Estes recursos e saberes da biodiversaidade são um valioso património a proteger contra a biopirataria e a preservar para o futuro", diz a Tiniguena.

A floresta também satisfaz a quase totalidade das necessidades da população local, em matéria de energia. A recolha de lenha não é vista como um perigo. Duas das ameaças que pairam sobre o Cantanhez, levando à degradação das suas florestas (que os Nalus consideram sagradas), são a produção de carvão com fins comerciais e as queimadas para fins agrícolas. Por razões históricas e culturais, mas também económicas e sociais, logo, de sobrevivência das gerações futuras, é fundamental salvar o Cantanhez, verdadeiro ex-libris da Guiné-Bissau.


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > A simpatiquíssima Cadidjatu Candé, da comissão organizadora do Simpósio Internacional de Guileje e colaborada da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, servindo um fabuloso arroz com filetes de peixe do Cacine e óleo de palma local, que tem fama de ser o mais saboroso do país, devido à qualidade da matéria-prima e às técnicas e condições de produção (artesanal). Na imagem, um diplomata português, o nº 2 da Embaixada Portuguesa, que integrou a nossa caravana (e cujo nome, por lapso, não registei, lapso de que peço desculpa).



Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Um dos pratos que foi servido no almoço de domingo, aos participantes do Simpósio Internacional de Guileje, foi peixe de chabéu, do Rio Cacine, do melhor que comi em África... Durante a guerra colonial, na zona leste, em Bambadinca, só conheci conhecíamos o desgraçado peixe da bolanha....


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > O nosso camarada Cor Art Nuno Rubim passando revista à logística do Comes & Bebes, da comissão organizadora do Simpósio, e que nos acompanhou desde Iemberém... É obra, isso dar de comer e beber a tanta gente, esfomeada e sedenta...

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Um outro aspecto da improvisada cozinha que foi montada em Canamima, logo de manhã, e onde se fez o almoço (um prato de carne e outro de peixe) para as dezenas de participantes do Simpósio.



Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > A Francisca Quessangue, uma das mulheres que fez a guerrilha e esteve no ataque a Guileje, como enfermeira.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > O Luís Graça entre a Francisca , enfermeira, e a senhora Ministra dos Antigos Combatentes da Liberdade da Pátria, Isabel Buscardini.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > A Catarina Silva, filha do Pepito e da Isabel, que é portuguesa. É formada em psicologia social, pelo ISCTE - Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, Lisboa. Integrou a nossa caravana e foi sempre uma simpatiquíssima companhia durante este fabuloso fim-de-semana. É também, como o pai e a mãe, uma entusiástica defensora do Cantanhez, da sua fauna, da sua flora, das suas gentes.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > A Catarina Santos que, juntamente com o Vitor Ramos e o Alfredo Caldeira, representaram (e muito bem!) a Fundação Mário Soares no Simpósio Internacional de Guileje.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > O famoso óleo de palma do Cantanhez. A sua cor vermelha intensa deve-se às características da variedade do chabéu (termo científico, Elaeis guineenses), que é rico em caroteno.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Um médico cubano, ortopedista, cooperante em Bissau, o Dr. Mário. Pelo pouco que conversei com ele, soube que trabalha no Hospital Nacional Simão Mendes é também professor da Faculdade de Medicina de Bissau, criada em 1977 e desactivada no início dos anos 90, tendo o projecto sido relançado mais recentemente com o apoio da cooperação cubana. Cuba é dos países mais activos na cooperação com da Guiné-Bissau, no campo da saúde e da educação.


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Em primeiro plano, da direita para a esquerda, a Isabel, a Alice e o Álvaro. De perfil o Pepito, em segundo plano, mais o Sérgio Sousa, um Gringo de Guileje.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > A Diana Andringa, que registou em vídeo todas ou quase todas as actividdades destes oito dias, com destaque para as comnunicações ao Simpósio. Em segundo plano, a Júlia.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > A Diana Andringa e o marido, Alfredo Caldeira; em segundo plano, a Júlia e o marido, Nuno Rubim.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > O Dr. Alfredo Caldeira, chefe da delegação da Fundação Mário Soares...

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > O nosso amigo catalão, Josep Sánchez Cervelló, professor universitário em Tarragona, especialista em história sobre o 25 de Abril e a descolonização portuguesa... Esteve encantado estes dias todos com os tugas...
Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Uma jovem, da região, que estava grávida, e que tinha o marido em Bissau (se não me engano). Caíu nas boas graças das nossas senhoras, sempre muito maternais: a Júlia, a Alice, a Isabel... Seu nome: Cadi, filha de um antigo guerrilheiro, nalu, da região...

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Um amostra de conchas do Rio Cacine, reveladoras da riqueza, em moluscos, marisco peixe, deste belíssimo rio do sul da Guiné...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.



II. O Turismo na região de Tombali (2) (Continuação)
por Brígida Rocha Brito


(...) 1.2. Os elementos culturais

A população residente na região de Tombali estava estimada em 91.930 habitantes, por referência a 2004 (…), representando 7,1% do total. Do ponto de vista étnico, os grupos principais são Nalu, Fula, Balanta, Tanda e Sosso, encontrando-se grupos secundários como Manjaco, Djakanka, Papel, Bijagó e Mandinga.

Tradicionalmente esta era uma área identificada com os Nalu, etnia caracteristicamente animista, com hábitos enraizados, desenvolvendo práticas culturais ancestrais perpetuadas ao longo do tempo através do costume e da tradição oral, entre as quais os ritos de iniciação e de passagem. Uma parte do território, identificada como as Florestas de Cantanhez, é tradicionalmente conhecida como o Tchon di Nalu (…) ou Terra dos Nalu, apesar de actualmente, e depois de se terem efectuado deslocações internas, se encontrar uma multiplicidade de comunidades com origens étnicas diversas.

Cada grupo étnico apresenta particularidades próprias no que respeita à forma e ao tipo de produção principal, à organização do espaço e materiais utilizados na construção, às práticas rituais e às formas de culto. Apesar da paisagem florestal ser dominante, a influência da diversidade étnica na forma de produzir a terra e de relacionamento com o meio confere à região uma imagem de mosaico marcado pela heterogeneidade.

Dadas as características de toda a zona costeira e fluvial, e tendo presente a importância e a dimensão dos rios e cursos de água, as áreas de mangrove, mangal ou tarrafes, adquirem grande importância, principalmente para os Balanta que aproveitam o solo salinizado para a produção de arroz M'pampam.

A fertilidade do solo, natural ou provocada através da prática de queimadas, tem permitido incrementar a produção frutícola, com destaque para os citrinos e o caju, que tem vindo a ser fortemente explorado pelas potencialidades (*) que o caracterizam. Este tipo de produção, conseguido a partir da desflorestação e das queimadas, é fortemente desenvolvido pelas comunidades de origem Fula, que eram tradicionalmente pastores.

Em maioria, os Nalu são pescadores, agrupando-se muitas vezes em acampamentos temporários e itinerantes, e dedicando-se também à extracção de óleo e vinho de palma ou à produção de culturas agrícolas para consumo directo.

Além da produção para subsistência, as comunidades locais produzem peças de artesanato e utensílios vários, que utilizam no dia-a-dia ou que vendem em mercados locais e lumus (**) . São objectos típicos e fáceis de encontrar para observação aquando das visitas às tabancas, se bem que ainda não se verifique a disponibilidade para aquisição: esculturas e máscaras de madeira produzidas pelos homens Nalu; esteiras e cestos trabalhados pelas mulheres Nalu; potes e recipientes de barro produzidos pelas mulheres Balanta; panos confeccionados pelos homens Manjaco.

Uma grande parte do artesanato produzido, nomeadamente pelos animistas Nalu, tem significado simbólico representando as forças sobrenaturais, havendo a crença de que conferem poderes a quem os usa ou detém. Estes são os caso do Banda, uma máscara que reproduz uma imagem de associação entre o Homem e os animais, como a ave, a cobra, o peixe e o crocodilo, utilizada em momentos festivos; ou do Ninte-Kamatchol [ou Nhinte-Camatchol] (3), uma cabeça de ave com rosto humano, utilizada em ritos de iniciação.

Todas as peças artesanais são susceptíveis de adquirirem interesse turístico, sendo necessária a disponibilização de originais para mostra, exposição e comercialização.

No que respeita às comunidades animistas, é possível encontrar junto de áreas residenciais elementos e locais de culto, nomeadamente pequenos recipientes contendo água para o irã, onde são realizadas práticas de veneração. Além da importância das crenças animistas, na região sul da Guiné-Bissau, o islamismo tem adquirido importância sendo hoje predominante, de tal forma que existem escolas islâmicas com professor próprio, organização e funcionamento autónomo do ensino formal.

A religião e as crenças influenciam ainda os modos de vida das comunidades, no que respeita por exemplo a horários, gastronomia e vestuário: nas tabancas muçulmanas, é habitual o dia iniciar com as orações cantadas pelos homens, que se levantam de madrugada, sendo cuscus marroquino a primeira refeição.

Qualquer uma das práticas exemplificadas reveste interesse turístico no sentido da divulgação e do aprofundamento dos conhecimentos sobre os modos de vida e de organização social das populações autóctones, por serem elementos diferenciadores e conotados com exotismo.


1.3. Os Factores Históricos e Nacionalistas

A região de Tombali, em particular os sectores de Bedanda e de Cacine, fortemente envolvidos pelas Floresta de Cantanhez, é entendida para a maioria do povo guineense como o berço da independência. Esta foi a zona de excelência da luta armada contra a colonização portuguesae o ícone da libertação, tendo albergado alguns dos principais aquartelamentos de tropas portuguesas, como Guiledje, Bedanda, Cacine e Cameconde, mas também os acampamentos da guerrilha, protegidos e apoiados pelas comunidades animistas Balanta e Nalu.

Os Matos de Cantanhez reúnem dois traços que são entendidos como fundamentais para o sucesso das tropas do PAIGC: por um lado, a riqueza dos recursos florestais e as difíceis condições físicas impostas pelo meio denso e fechado, que favoreceram as comunidades locais que detinham conhecimentos únicos propiciados pela vivência directa, adquiridos atravésda experiência ancestral. Por outro lado, a crença no apoio espiritual e na protecção das forças superiores da floresta, o irã, reforçaram a auto-estima e a identidade comunitária, resultando em catalisadores para a concretização da luta.

Os momentos chave da longa guerra colonial foram assim enquadrados pela densidade florestal, desde a fase de organização até às disputas armadas propriamente ditas. Ao longo dos sectores de Bedanda e de Cacine são vários os locais de valor histórico e que representam marcos na História nacional, onde ainda existem partes de aquartelamentos, antigos abrigos, material de guerra, como obuses que se encontram ora espalhados pelo parque florestal, ora amontoados após ter sido efectuada uma primeira recolha, e objectos vários, como pratos e materialde cozinha. Da mesma forma, nas proximidades da tabanca Cassacá, existe um marco de importância extrema para a História da República da Guiné-Bissau: o local onde foi realizado, em 1964, o 1º Congresso do PAIGC, local que Luís Cabral tinha intenção de transformar em cidade pelo simbolismo que representa.

Paralelamente, vivem na região testemunhas vivas da guerra colonial, ex-combatentes que, em maioria, demonstram receptividade para contar e descrever vivências pessoais relacionadas com os momentos mais marcantes, sejam dificuldades ou sucessos, experiências que se transformaram em histórias de vida de uma época que é definida como um dos períodos mais importantes para a Guiné-Bissau e para Portugal.

pp. 35/37
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Notas da autora:

(*) O caju é aproveitado como fruta fresca, secando-se a castanha para comercialização, produzido sumo, vinho e aguardente.

(**) O lumu é um mercado local de dimensão alargada e sujeito a uma determinada organização que funciona com uma periodicidade semanal, reunindo comerciantes que se deslocam a partir das diferentes localidades da região.
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Notas de L.G.:

(1) Vd. último poste desta série: 24 de Abril de 2008 >
Guiné 63/4 - P2793: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (Luís Graça) (15): Salvemos o Cantanhez (I)

(2) Vd. publicação disponível, em formato pdf, no sítio do Instituto Marquês de Valle Flôr :Estudo das Potencialidades e dos Constrangimentos do Ecoturismo na Região de Tombali

(3) Vd. poste de 31 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2704: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (Luís Graça) (12): Que o Nhinte-Camatchol te proteja, Guiné-Bissau

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2793: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (Luís Graça) (15): Salvemos o Cantanhez (I)

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Era domingo, para nós, participantes do Simpósio Internacional de Guiledje, de visita ao sul do país... mas não para o pescador, que precisa de remendar as redes e ir à pesca... A região de Tombali, com pouco mais de 3700 km2 (o que representa cerca de 10,3% do território da Guiné) e pouco mais de 90 mil habitantes (7,1% do total) tem grandes potencialidades, devido ao seu património ambiental e cultural, ainda insuficientemente conhecido e valorizado pelos próprios guineenses. A jóia da coroa é o massiço florestal do Cantanhez e os dois rios principais que o atravessam, o Cumbijã e o Cacine.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Aqui não há praias de areia fina... Cananima é uma praia fluvial e um aldeia piscatória. Gente de vários pontos, desde os Bijagós até à Guiné-Conacri, vêm para aqui trabalhar na actividade piscatória. No entanto, é preciso saber gerir os recursos do rio e do mar com sabedoria... A sobre-exploração de certas espécies pode ser um desastre... Por outro aldo, as infra-estrututuras de apoio à pesca são precárias ou inexistentes.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > No estaleiro naval artesanal, de Cananima, também se constroem barcos, segundo os modelos tradicionais. A matéria-prima, a madeira, é abundante. Abate-se uma árvore centenária para fazer uma piroga. Felizmente, as pirogas não são feitas em série. E hoje há, também felizmente, restrições ao abate de árvores no Cantanhez. O problema são, muitas vezes, os projectos megalómanos e inconsistentes, que acabam por morrer na praia, como estas embarcações.
Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Uma típica paisagem de tarrafe, na margem dierita do Rio Cacine, onde almoçámos, numa tarde domingueira, antes do início dos trabalhos do Simpósio Internacional de Guileje, cuja inauguração oficial seria no dia seguinte à tarde, em Bissau, no Hotel Palace, um hotel moderníssimo, de cinco estrelas... Mas eu preferi as cinco estrelas de Iemberém e de Cananima...

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Do outro aldo do rio, fica Cacine, que tem muito que contar, aos nossos camaradas do exército e da marinha... Alguns deles ficaram por aqui, enterrados e abandonados... A guerra e as suas memórias estão por todo o lado, não nos largam.


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Antes de nós, no tempo da guerra, poucos tugas se poderão ter gabado de ter feito um piquenique tão agradável, tão calmo, tão saboroso, tão fraterno como o nosso... Aqui, nesta praia fluvial, frente a Cacine...


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > A areia não é fina, as águas não são azuis, nem a paisagem é a mais bela do mundo, mas tudo depende dos olhos com que se olha, dos ouvidos com que se ouvem, das emoções com que se capta o instante, o eféremo, o diferente...

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > É preciso salvar o Cantanhez, dando uma chance às crianças de Tombali. Projectos como o ecoturismo, ou o turismo de natureza, podem vir a ser um factor dinamizador de mudanças, a nível local e regional.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Esta criança, felizmente, já não conheceu a guerra, e sobreviveu com sucesso ao 365º dia... Uma em cada crianças na Guiné morre antes de antingir um ano. O sorriso tímido (e ao mesmo desafiador) desta criança desarma-nos, perturba-nos, interpela-nos: o que é que fizeste hoje por mim ?
Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > A diversidade étnico-linguístico e cultural da Guiné-Bissau, em geral, e do Tombai, em particular, não deve ser vista como uma obstáculo, mas sim como um factor potenciador da cidadania e do desenvolvimento... Os demónios étnicos não podem é dormir descansados na Caixinha de Pandora... Combatem-se com as armas da saúde, da educação, da democracia, da integração, do desenvolvimento económico, social e cultural... Esta criança tem de ter sentir orgulho na terra onde nasceu, e onde vive...

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > O inconfundível barrete vermelho, tradicional, dos balantas. Com Kumba Ialá, tornou-se um ícone. Os balanta foram a principal base de apoio do PAIGC. Têm também hoje um peso considerável (excessivo, para alguns analistas e observadores da situação político-militar) na estrutura das Forças Armadas. Amílcar Cabral falava, com particular simpatia, da sociedade balanta, horizontal, sem classes... Alguns mitos ou estereótipos foram-se construíndo, à volta do grupo étnico e social dos balantas, uns pela etnografia colonial, outros pela análise marxista. Como se o balanta fosse aqui o representante do bom selvagem do Rousseau...



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cananime > 2 de Março de 2008 > Dança de boas vindas aos participantes do Simpósio Internacional de Guileje. Se os meus rudimentares conhecimentos etnográficos da Guiné não me atraiçoam, trata-se de um grupo de dançarinos balantas, misto, composto por rapazes e raparigas. Há uma energia telúrica e uma alegria vital nos seus cantares e nas suas danças, que eu nunca encontrei, no tempo da guerra, por exemplo, em Nhabijões, , que era um um importante aglomerado populacional balanta (e com alguns mandingas), junto ao Rio Geba, entre Bambadinca e Xime. Os balantas de Nhabijões nunca poderiam sentir-se felizes e livres, sob a dupla tutela dos fulas e dos tugas...
Fostos e vídeo (1' 21''): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo alojado em: You Tube >Nhabijoes



Guiné-Bissau > Mapa do sector de Bedanda que, juntamente com o sector de Cacine, alberga as matas do Cantanhez, um espaço que é urgente preservar, salvaguardar, proteger e potenciar, numa perspectiva de desenvolvimento integrado e sustentado... A verde assinala-se o trajecto que os participantes do Simpósio Internacional de Guileje fizeram no fim de semana de 1 e 2 de Março de 2008, na sua visita ao Cantanhez... A vermelho assinalam-se algumas das localidades por onde passámos e onde parámos: Balana, Guileje, Mejo, Imberem (passámos aqui duas noites)...

Vindos do Acampamento de Osvaldo Vieira (1), onde passámos uam parte da manhã de domingo, fomos almoçar a uma praia piscatória, deslumbrante... Do almoço (de peixe galo - gato ? - pescado nas águas do Rio Cacine (que em rigor é um braço de mar, como todos os outros, com a excepção do Rio Corubal - falarei em próxima crónica. Agora, deixem-me saborear este pedaço de paraíso que ainda existe na terra e na Guiné: O Cantanhez...Tenho pudor em falar de paraíso, num terra que as estatísticas dizem ser um dos mais pobres do mundo... O paraíso não existe, é uma utopia que os homens criaram. Falemos então de um sítio, na crosta terrestre, que ainda é capaz de nos encantar, em que nos sentimos em harmomia com os homens, com os bichos, com a floresta, com a água, com o ar...


Fonte: Brito (2007) (com a devida vénia...)




22 de Abril, Dia Mundial da Terra

(...) Em Abril, tomem por favor boa nota do sete,
na vossa agenda-planning de executivos,
porque é Dia Mundial da Saúde.
E um semana depois
o Dia da Conservação do Solo (15),
bem como do pobre Índio (19)
e do paupérrimo ou depauperado Planeta Terra (22),
finalizando a maratona das comemorações
no Dia da Educação (28),
tão pouco ou nada ambiental…

Não sei explicar se o Índio
é o que está em vias de extinção
ou o Índio, escalpelizado, morto e enterrado,
depois da chegada ao Novo Mundo
do idiota que acreditava ter chegado à Índia
e que hoje tem nome de praças
e estatuária pomposa
por tudo o que são cidades hispânicas.(...)

Luís Graça > Blogue Fora Nada... e Vão Dois

5 de Novembro de 2007 > Blogantologia(s) II - (59): Hoje é dia mundial de qualquer coisa...


O nosso camarada Juvenal Amado veio, gentilmente, (re)lembrar-nos que ontem foi o Dia Mundial da Terra, criado em 1970 a partir da ideia do norte-americano John McConnell, que a apresentou, na conferência da UNESCO sobre o Ambiente. «Só temos esta Terra para vivermos e sermos felizes»...

E mais: só há uma terra, só um mar, só há uma floresta, só há uma espécie humana, só há uma raça, o Homo Sapiens Sapiens. Talvez por isso valha a pena evocar aqui a nossa (sem paternalismos, saudosismos...) Guiné-Bissau, um pequeno país da África Ocidental, com o qual temos particulares afinidades, pela história, pela língua ... Mesmo se apenas 70 e poucos mil falam e escrevem o português que nos une e às vezes nos separa...

Falemos, pois, dessa terra (vermelha, verde, negra...) que se chama Guiné-Bissau. E duma parcela dessa terra que se chama Tombali, Região de Tombali, onde outrora travámos feros e feios combates... Voltámos lá, em missão de paz e de amizade, nos princípios de Março de 2008. E vimos coisas bonitas, até promessas de futuro.

Pessoalmente, descobri (ou entrevi) o Cantanhez, que era no meu tempo de soldado um topónimo que se pronunciava com um misto de respeito e de temor. Tomei conhecimento de projectos de desenvolvimento para a rehgião do Tombali, e que passariam também por essa coisa nova que se chama ecoturismo, e que se calhar para os guineenses é mais um palavrão que entra por um ouvido e sai por outro. Conversa de e para as elites. Enfim, li - se bem que ainda por alto - uma brochura de Brígida Rocha Brito (40 anos de idade, especialista em estudos africanos, socióloga, doutorada pelo ISCTE) e em que ela apresenta o seu estudo das potencialidades e dos constrangimentos do ecoturismo na Região de Tomnbali.

É um trabalho que me despertou a atenção e o interesse, elaborada no âmbito do projecto U' Anan (Construir o Desenvolvimento Comunitário Sustentável na Região de Tombali: Ecoturismmo e Cidadania, ONG - PVD/2004/095-097). E edição, em Abril de 2007, é da responsabilidade da ONG portuguesa, Instituto Valle Flor, um dos parceiros privilegiados da AD - Acção para o Desenvolvimento.

Independentemente de uma leitura mais aprofundada e mais crítica deste relatório, e das suas principais conclusões e recomendações (2), apetece-me hoje transcrever apenas - com a devida vénia à editora e à autora, que é uma apaixonada de África (veja-se o seu blogue África de Todos os Sonhos) - alguns excertos. Por razões de economia e de legibilidade bloguísticas, cortei as referências bibliográficas e adaptei as notas de pé de página. Nalguns casos cortei um ou outro páragrafo. Eliminei também quadros e figuras. Espero que a autora me perdoe a ousadia. Em nome do comum paixão pelo Cantanhez. Não tenho o prazer de conhecer, pessoalmente, a minha colega de academia (é professora e investigadora no ISCTE, onde também eume licenciei em sociologia). Mas aproveito para a cumprimentar, dar-lhe os parabéns e oferecer este espaço para... blogar connosco. L.G.


II. O Turismo na região de Tombali
por Brígida Rocha Brito


A região de Tombali dista de Bissau em cerca de 250 Km, localizando-se a sul da Guiné-Bissau, concretamente a sul e sudoeste, fazendo fronteira com o norte da Guiné Conacri e sendo parcialmente rodeada pelo oceano atlântico (...). A região é constituída por 3.736,5 Km2, correspondendo a 10,3% do total do território nacional, destacando-se por ser uma zona fronteiriça dominada, do ponto de vista ambiental, por uma área florestal de grande densidade (…), rica em biodiversidade de fauna e de flora, definida como uma das últimas florestas primárias a nível mundial e considerada o ícone da luta pela independência.

Administrativamente, a região subdivide-se em sectores, sendo privilegiados no Estudo os de Bedanda e Cacine, já que são os que estão mais directamente relacionados com o Projecto Ecoturístico (…). Os dois sectores destacam-se devido ao enquadramento pelo conjunto dos Matos que constituem as Floresta de Cantanhez, sendo limitados por dois grandes rios, Cacine e Cumbidjan, fazendo fronteira com o Oceano Atlântico, e sendo dotados de diversidade étnica e cultural.

As características ambientais da região evidenciam especificidades únicas resultantes da densidade florestal e do estado de preservação dos espaços naturais, que em parte têm beneficiado da distância e do isolamento em relação aos principais centros urbanos, nomeadamente da capital.

Do ponto de vista turístico, a região apresenta um conjunto alargado de potencialidades que, no decorrer da missão, foram identificadas, estando contudo em “estado bruto”, requerendo uma acção planeada e concertada no sentido da valorização dos aspectos chave para o ecoturismo, nomeadamente relativos à preservação ambiental, à protecção de espécies ameaçadas e à dinamização das práticas e dos traços culturais característicos das comunidades residentes.

Contudo, em Tombali, evidenciam-se alguns constrangimentos que, se não forem controlados e minimizados, podem ser condicionantes, limitando a implementação do Projecto. Neste contexto, destacam-se factores estruturais, que são comuns a todo o País e que requerem uma intervenção global de âmbito nacional por ultrapassarem a acção do Projecto U'Anan, e factores conjunturais, que podem ser minimizados através da adopção de medidas estratégicas sectoriais direccionadas e enquadradas por um planeamento adequado.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Em pleno coração do Cantanhez > 2 de Março de 2008 > Um dos jovens guias ecoturísticos, recentemente formados, no âmbito do projecto U'Anan.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > No coração do Cantanhez > 2 de Março de 2008 > Logótipo do projecto U'Anan, estampado na T-shirt de um dos jovens guias ecoturísticos. O dari (chimpanzé), espécie em vias de extinção em África, é o ex-libris do Cantanhez.


Fotos: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados.


1. Identificação das principais potencialidades

Apesar da relativa instabilidade político-governativa que pode naturalmente influenciar a dinamização do sector do turismo, as relações entre as Organizações promotoras do Projecto e as Instituições, nacionais e internacionais, vocacionadas para o planeamento ambiental, preservação de áreas protegidas e conservação de espécies, são de grande entendimento, havendo lugar para o estabelecimento de parcerias. Estes são os casos do Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP) e da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

No contexto das potencialidades regionais e locais, ou factores perspectivados como positivos, foram identificados três tipos principais: as especificidades ambientais; os elementos culturais; os factores históricos e de pendor nacionalista.

Por um lado, os factores tipológicos, entendidos isoladamente ou de forma conjugada, são considerados como determinantes na construção e no reforço das identidades comunitárias; por outro, para a prática do turismo, são elementos apelativos e dinamizadores de diferentes segmentos: Turismo de Natureza ou Ecoturismo; Turismo Étnico; Turismo Cultural e Turismo Científico.

1.1. As particularidades ambientais

Tal como acontece na maioria do território guineense, na região de Tombali o clima é caracteristicamente tropical húmido, evidenciando-se duas estações principais, a seca (entre Novembro e Maio) e a estação das chuvas (entre Junho e Outubro). O principal factor diferenciador no que respeita ao clima é que no sul a intensidade das chuvas é maior do que em qualquer outra região, podendo atingir níveis de precipitação na ordem dos 2.000 a 2.500 mm anuais, com temperaturas médias entre os 28º e os 31º (…).

Se a acção humana de exploração e utilização de recursos for planeada e controlada, verifica-se uma tendência para a renovação do manto florestal com carácter espontâneo, em resultado das condições climatéricas, traduzidas na intensidade e nos elevados níveis pluviométricos anuais associados ao calor.

A região de Tombali é caracterizada por uma mancha florestal de grandes dimensões, com cerca de 650 Km2 (…) denominada de Floresta de Cantanhez (a), que consiste num agrupamento de catorze áreas florestais densas e húmidas, habitualmente referenciadas como Matos.

Actualmente existe a proposta de alteração do estatuto para área protegida, com a criação de um Parque Natural, envolvendo três sectores da região, Bedanda, Cacine e Quebo, perfazendo um total de 1.067 Km2 (…).

Os matos são caracterizados pela densidade típica da floresta tropical, sendo considerada como uma das últimas florestas primárias pelo estado de preservação e de manutenção do ecossistema, resultado da fraca penetração humana, tornando-a num habitat privilegiado para a vida de numerosas espécies de flora e de fauna.

No que respeita à flora, destacam-se as árvores de grande porte, centenárias, muitas vezes identificadas como sagradas e locais de culto, de inspiração e de aconselhamento junto do “irã”, a entidade sobrenatural, tanto venerada como temida. Entre a multiplicidade de espécies arbóreas (b) existentes, referenciam-se como observáveis a Tagara, o Manpataz e o Poilão. O interesse turístico da Floresta de Cantanhez consiste na possibilidade de, no decurso das actividades e das visitas, observar a diversidade biológica que coexiste de forma equilibrada: árvores de grandes dimensões; árvores de médio porte; arbustos .

Também no que respeita à fauna, a região é rica em diversidade, encontrando-se diferentes espécies de grandes mamíferos (c), cefalofos, ungulados, primatas (d), aves (e), répteis (f), peixes e insectos (g), de entre os quais algumas estão ameaçadas ou em risco, pelo que têm estatuto reconhecido de espécie protegida. A maioria destes animais reveste interesse turístico, existindo, a nível internacional, mercado potencial por segmentos. Contudo, a observação nem sempre é facilitada visto que os animais a viverem em habitat natural são fugidios, o que também evidencia o estado ainda virgem do parque florestal.

Paralelamente, a acção conjugada do IBAP, da IUCN e da AD tem viabilizado a demarcação das áreas através da colocação de placas indicativas em algumas áreas, com classificação de “corredores de animais” (…), de forma a facilitar a identificação tanto das zonas como das espécies mais importantes. Nos Matos de Cantanhez, existem sete corredores, dos quais dois são transfronteiriços, cruzando o sul da Guiné-Bissau com o norte da Guiné Conacri, e delimitam áreas prioritárias de passagem de grandes mamíferos, como o elefante africano, o búfalo da floresta e a gazela pintada. Estas são acções que, do ponto de vista ecoturístico, representam uma mais-valia importante por evidenciarem preocupação com a preservação espacial e com a conservação de espécies ameaçadas.

Por outro lado, todos os Matos estão também identificados com placas indicativas do início e do fim de cada área, o que permite ao turista um acompanhamento dos percursos, a distinção dos Matos a partir da identificação das características florestais e a valorização do conhecimento sobre os locais de passagem e de visita. Além de ser fundamental para a prossecução das actividades do ecoturismo, esta sinalética representa um esforço na sensibilização das comunidades no sentido da identificação de locais “intocáveis” porque protegidos, ou seja onde é proibido desflorestar, provocar o abate de árvores, proceder a queimadas ou capturar os animais referenciados como protegidos.

As Floresta de Cantanhez são caracteristicamente fechadas e de difícil penetração, mas não representam o único tipo de paisagem ambiental que caracteriza a região, já que se encontram, de forma intercalada, áreas de savana arbórea e herbácea, e com maior importância mangal ou tarrafes, rios, estuários e paisagem fluvial, costa marítima e, com menor destaque, praias.

Toda a região é caracterizada pela existência de cursos de água, sob a forma de grandes e pequenos rios, afluentes e braços fluviais que penetram para o interior das áreas florestadas (…). Os principais rios são o Cacine e o Cumbidjan, qualquer um navegável em pequenas embarcações, desde que pouco fundas, devido à existência de grandes flutuações na quantidade de água em resultado da variação das marés e à existência de bancos de areia que conferem pouca profundidade aos cursos fluviais. Proliferam ainda os pequenos rios afluentes dos principais, como o Balana e o Balanazinho, o Gadamael, o Bendungo, o Cachadeba e o Gaduar, revestindo contudo menor importância.

O meio fluvial é particular do ponto de vista paisagístico já que apresenta uma estrutura diferenciada da que caracteriza a floresta, mas também por ser rico em flora e fauna. Do ponto de vista turístico, este é um meio de grande valor porque, além de propiciar a realização de actividades diferenciadas e complementares às florestais, de observação de animais e de contemplação, representa uma possibilidade alternativa e acrescida de acesso e de transporte, estabelecendo a ponte com outras localidades.

Contudo, não é aconselhada a utilização das águas dos rios para banhos ou natação, devido à existência de crocodilos, que mesmo que não visíveis se tornam perigosos pondo em risco a segurança. As águas dos rios sendo turvas e barrentas, e as areias lodosas, não favorecem a prática balnear em meio fluvial, mas proporcionam o desenvolvimento de práticas ecoturísticas.

Os rios são assim uma forte potencialidade para o turismo de contemplação de paisagens e de observação de animais como aves, nomeadamente grupos de pelicanos, e espécies migratórias, dada a proximidade e a facilidade de acesso para a Ilha de Melo e Ilha dos Pássaros, situados na foz do rio Cacine.

Por fim, a região de Tombali, em particular na zona oeste dos sectores de Bedanda e de Cacine, pelo contacto com o Oceano Atlântico, é marcada pela proximidade em relação ao sul do arquipélago dos Bijagós, nomeadamente no que respeita ao Parque Natural Marinho de João Vieira e Poilão.

Esta coincidência geográfica de elementos naturais de reconhecida importância, e que revestem interesse turístico, evidencia a possibilidade de estabelecer ligações entre o meio florestal, propiciada pelos Matos de Cantanhez, o meio fluvial, favorecida pelos rios e inúmeros cursos de água, e o meio marinho, em que se destacam espécies diferenciadas, tais como os cetáceos e as tartarugas marinhas. Por outro lado, está favorecida a complementaridade entre meio continental e insular, viabilizando o desenvolvimento de actividades diferenciadas tendentes à preservação ambiental e à conservação de espécies. (...)

pp. 31-35

(Continua)

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Notas da autora, BRB:

(a) É comum entender estas áreas como florestas sagradas, dotadas de pontos específicos e identificáveis por guias locais, como fontes sagradas, árvores sagradas ou simplesmente zonas referenciadas e que os animistas acreditam que têm poderes, realizando práticas de veneração.

(b) Podem ainda referir-se outras espécies como pau veludo, pau miséria, malagueta preta, lianas lenhosas, figueira estranguladora, líquenes.

(c) Os grandes mamíferos que podem ser observados são os elefantes, os búfalos da floresta, as gazelas, e mais raros os felinos como a onça pintada, vulgarmente conhecida como leopardo.

(d) Os primatas são comuns e apresentam diversidade: chimpanzé, babuíno ou macaco cão e colobus ou macaco fidalgo e preto.

(e) As aves apresentam grande diversidade: garças, picanço, abelharuco, pica-peixe, calao grande, pica-pau, cotovia, andorinha, melro, pardal, entre outras.

(f) Os principais répteis terrestres são a cobra preta, cuspideira ou bida, a cobra tutu, a cobra verde, da palmeira ou kakuba, a cobra vermelha e a jibóia ou irã seco. Nos rios pode encontrar-se crocodilo ou lagarto preto e no mar tartarugas marinhas.

(g) Os insectos com maior interesse turístico e que podem ser enquadrados nas potencialidades ambientais são a borboleta, que existe na região em quantidade, destacando-se pelas cores, e as térmites ou baga baga, devido às construções de terra. Por outro lado, existem abelhas associadas à actividade da apicultura.


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Notas de L.G.

(1) Vd. poste de 12 de Abril de 2008 >
Guiné 63/74 - P2752: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (Luís Graça) (14): Acampamento Osvaldo Vieira (II)

(2) Esta publicação está disponível, em formato.pdf, no sítio do Instituto Marquês de Valle Flôr :
ESTUDO DAS POTENCIALIDADES E DOS CONSTRANGIMENTOS DO ECOTURISMO NA REGIÃO DE TOMBALI

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2744: Fórum Guileje (14): Folclore (Cap Inf José Belo) ou Gratidão (Cor Art Coutinho e Lima) ? A homenagem da população local

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008)> Um excerto da comunicação do Cor Art Ref Coutinho e Lima sobre a sua missão, enquanto comandante do COP 5, e a sua decisão de retirar Guileje, em 22 de Maio de 1973. Na apresentação da comunicação, o militar português, agora na situação de reforma, apresentou-se com o traje que lhe ofertado pelo régulo e população de Guileje (que hoje vive em Mejo), em gesto de homenagem e de gratidão (LG).

Vídeo (1' 38''): ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo alojados em: You Tube >Nhabijoes


1. Mensagem do José Belo (ou Joseph Belo)com data de 6 de Abril último. O nosso camarada, antigo Cap Inf, vive hije na Suécia, há mais de 30 anos. Foi Alf Mil na CCAÇ 2381, Os Maiorais ( Buba, Quebo, Mampatá, Empada, 1968/70).

Assunto - Folclore

Li, com muito interesse, tudo o surgido no blogue quanto ao encontro do Guileje. Os seus organizadores estão, sem dúvida, de parabéns.

De entre as variadas fotos,surpreendeu-me uma. Um dos participantes,o Sr. Coronel de Artilharia, do Exército de Portugal, na situação de Reforma, envergando um bonito trajo típico local (1) . Ideia original e, por certo, com simpáticas intenções para com os Guinéus.

A ser,em futuro próximo,organizado em Portugal um encontro semelhante,e não propunha Aljubarrota,porque aí,frente a inimigo também mais numeroso,e por certo "melhor municiado",as nossas gentes mantiveram-se no terreno (talvez, porque como os Guinéus do Guileje,lutámos no nosso "chão",e pela nossa independencia)..

Mas, e de qualquer modo, a realizar-se tal encontro na nossa terra,será que os antigos Oficiais do PAIGC, participantes, nos irão aparecer vestidos de Campinos, Pescadores da Nazaré ou Pauliteiros de Miranda, em retribuição do gesto simpático do Sr. Coronel?

Estocolmo 6 de Abril 2008. José Belo(Capitão de Infantaria na situção de Reforma).

2. Dei conhecimento prévio do teor desta menagem ao Cor Art Ref Coutinho e Lima, que é também membro (recente) da nossa tertúlia, e com quem privei recentemente na Guiné-Bissau, por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje (29 de Fevereiro a 7 de Março de 2008):

Meu caro amigo:

Aqui tem o comentário (bem humorado...) do José Belo, que foi Alf Mil da CCAÇ 2381 (Empada, Buba, Quebo, Mampatá, 1968/70) e que, depois do 25 de Novembro de 1975, foi para a Suécia, onde vive... Mande-me o que entender, como reposta...

Aqui tem alguns textos anteriores do José Belo:

26 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2068: Da Suécia com saudade (José Belo, ex-Alf Mil, CCAÇ 2381, 1968/70) (6): Milícias e Soldados guineenses ao serviço do colonialismo

19 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2062: Da Suécia com saudade (José Belo, ex-Alf Mil, CCAÇ 2381, 1968/70) (5): O General que não gostava de bigodes

11 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2041: Da Suécia com saudade (José Belo, ex-Alf Mil, CCAÇ 2381, 1968/70) (4): Aventuras de Maiorais

5 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74-P2029: Da Suécia com saudade (José Belo, ex-Alf Mil, CCAÇ 2381, 1968/70) (3): Soldado Salvaterra ou mais uma peça de carne para canhão

26 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 – P1883: Da Suécia com saudade (José Belo, ex-Alf Mil, CCAÇ 2381, 1968/70 (2): Periquitos, no Rio Cacheu, sem munições

6 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1818: Da Suécia com saudade (José Belo, ex-Alf Mil, CCAÇ 2381, 1968/70) (1): Hino à Guiné que nós conhecemos


PS- Há dias estive a falar com o seu camarada de curso, o Cor Jales Moreira, que esteve em Bambadinca (1972/74)... O seu Batalhão, o BART 3873, vai reunir-se e queriam convidar-me... Eu estive em Bambinca mas foi em 1969/71...

Um abraço.

Luís Graça

3. Resposta do Coutinho e Lima:


Caro amigo Luís Graça

Recebi o mail do José Belo, que agradeço.

Relativamente ao comentário, o meu amigo sabe tão bem como eu, que a população que estava em GUILEDJE em Maio de 1973 e que agora ocupa MEJO, resolveu oferecer-me a túnica branca dos velhos e dos sábios, em reconhecimento da decisão que tomei naquela data, retirando toda a tropa, milícia e população para GADAMAEL.

Não posso deixar de referir que da MISSÃO atribuida ao COP 5, com sede em GUILEDJE e de que eu era o Comandante, constava, no que diz respeito à população: " Assegura a defesa eficiente dos aglomerados populacionais ocupados pelas NT...".

Porque, na situação concreta vivida em GUILEDJE, em 21 de Maio de 1973,não podia garantir a defesa eficiente da população, foi esse factor, além de outros, que me levaram a tomar a decisão de efectuar a operação de retirada, em 22 de Maio de 1973;
a retirada foi uma surpresa para o PAIGC, que não só não se apercebeu dela, como só entrou em GUILEDJE em 25 de Maio de 1973, isto é, 3 dias depois.

A distinção que a população resolveu atribuir-me, em 1 de Março de 2008, foi para mim totalmente inesperada, porquanto, no depoimento que o Cipaio, representante da população (na ausência do Régulo), prestou no processo que me foi instaurado, declarou que a população não queria sair de GUILEDJE.

Ao fim de quase 35 anos, o Régulo UMARU DJALÓ [, filho mais novo do velho régulo Suleimane Djaló,]foi intérprete da gratidão das suas gentes, concluindo que a decisão que tomei em 21 de Maio de 1973, foi adequada à situação e permitiu que não houvesse nenhuma baixa. Recusar a atitude da população era uma grande indelicadeza da minha parte. A última parte do texto não me merece qualquer comentário, por considerar a comparação sem pés nem cabeça.

O meu amigo, em função do que eu escrevi, dará ao José Belo a resposta que entender.

Saudações amigas do
Coutinho e Lima

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Nota de L.G.:

(1) Vd. poste de 23 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2673: Uma semana memorável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (10): Guiledje: Homenagem ao Coronel Coutinho e Lima

sábado, 5 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2722: Fórum Guileje (12): Bombas de napalm e outras curiosidades da nossa visita ao Cantanhez (Nuno Rubim)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez , algures no sector de Bendanda, no triângulo Iemberém, Cadique e Cananime, na margem direita do Rio Cacine > Simpósio Internacional de Guiledje > Domingo, de manhã, 2 de Março de 2008 > Visita ao Acampamento Osvaldo Vieira (1)... O Nuno Rubim, com a esposa, Júlia, e um antigo guerrilheiro do PAIGC que lhe mostra umas fotos de aviões, de um velho recorte de um magazine...

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

O antigo guerrilheiro do PAIGC faz a sua prelecção sobre a organização militar no PAIGC, exibindo um artigo de um revista com fotos de alegados aviões da FAP...

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.


Ó nosso homem... Segundo percebi, e se a memória me não falha, era mandinga, natural de Cacine... Estava em Conacri quando Cabral foi assassinado. Foi ferido em combate e terá estado na União Soviética....

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Acampamento Osvaldo Vieira, 2 de Março de 2008 > Pretensos restos de bombas de napalm, expostos num baga-baga, largadas pelas NT no Cantanhez...

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.


Foto do Nuno Rubim, mostrando em mais pormenor os restos de bombas (de napalm ?) da nossa Força Aérea.

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Júlia e Nuno Rubim, excelentes companheiros desta maravilhosa jornada que eu e a Alice fizemos à Guiné e em especial à Região de Tombali, no âmbito do Simpósio Internacional de Guileje.... O casal fotografado por mim no Acampamento Osvaldo Silva.

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

1. Mensagem de ontem, do nosso amigo e camarada Nuno Rubim, Cor Art ref, com duas comissões na Guiné (1965/66; 1972/74):

Caro Luís:

Hoje, 4 Abril, fui ao blogue e encontrei uma curiosa foto que tu tiraste: um antigo guerrilheiro com vária documentação ma mão (1).

Ora minutos depois dessa cena pedi-lhe que me mostrasse esse material. Ao mesmo tempo que mo entregava ia-me explicando que uma das imagens se referia aos aviões portugueses que atacavam a zona.

Qual não é o meu espanto quando ele me mostra um recorte de jornal (?) com ... a publicidade a um modelo de plástico de construção ! (ver foto, ao lado, de Nuno Rubim). Tratava-se do P-51D Mustang, um caça americano da 2ª Guerra Mundial !!!

Ora este tipo de aparelho, que Portugal nunca recebeu, era um caça monomotor ( considerado um dos melhores) que nada tem a ver nem com o Fiat G-91, nem com o T-6 !


Foi-me impossível na altura destrinçar este mistério! Tenho pensado sobre este assunto sem ter chegado a qualquer conclusão ... Ter-se-ia perdido o original, que de facto mostraria um dos dois tipos acima referidos e posteriormente alguém tratou de arranjar um substituto?

Há outro mistério que ficou sem resposta. No meio da clareira do acampamento estavam os restos de duas bombas de Napalm. (ver foto). Podiam, naturalmente, ter sido trazidos de outro local, e colocados nos montes de baga-baga, mas eu procedi a uma pequena escavação e notei que parte delas estava parcialmente embebida no terreno. Mas ~isto também pode ser um sinal dos tempos, numa zona onde há grande precipitação.

O facto é que, se as bombas caíram lá (ou onde quer que fosse), os estragos teriam sido consideráveis.

Também não tive tempo de aclarar o assunto.

Muita coisa ficou-me por averiguar! Teria sido necessário lá ter estado o dobro
ou o triplo do tempo que aquele que se verificou. Paciência (2) ...

Um abraço

Nuno Rubim

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Notas de L.G.:

(1) Vd. poste de 5 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2721: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (Luís Graça) (13): Visita ao Acampamento Osvaldo Vieira (I)
(2) Vd último poste desta série Fórum Guileje: 4 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2718: Fórum Guileje (11): Relembrando a velha Guileje do Zé Neto e do Eurico Corvacho, onde perdi 2 soldados em combate (Idálio Reis)