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quinta-feira, 19 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13307: Notas de leitura (602): "Onde se fala de Bissau", do princípio dos anos 50, da UDIB... Um excerto do próximo livro de Lucinda Aranha dedicado a seu pai Manuel Joaquim, empresário e caçador em Cabo Verde e Guiné (Lucinda Aranha)

1. Mensagem da nossa amiga tertuliana Lucinda Aranha, filha de Manuel Joaquim, empresário e caçador em Cabo Verde (1929/1943) e Guiné (1943/1973), com data de 20 de Maio de 2014:

Caros amigos:
Envio-lhes para publicação, caso estejam interessados, um texto composto a partir de um excerto do meu próximo livro.

Os meus cumprimentos,
Lucinda


Onde se fala de Bissau

Ao avistar Bissau, vindo de Bolama, já no estuário de águas lodosas do Geba, Manuel Joaquim, o homem do cinema, pensava em como fizera bem em optar pelo mato ao invés de se ficar por Bissau onde a vida era mais cosmopolita mas onde por isso mesmo a concorrência era maior a começar pela UDIB, ponto de encontro da elite de Bissau, que era preciso ter estatuto social para lá entrar. Tudo o que era político, músico, comerciante de nota, futebolista, senhora respeitável desfilava pelo clube.

Sucediam-se os torneios desportivos, os bailes, os filmes ao fim de semana, até os chás dançantes como o que a mulher do governador organizara, em 52, com fins beneficentes. Apesar dos 25 pesos da entrada fora muito concorrido e animado com verbenas e sorteios no terraço.

É certo que tinha boas relações com o clube e até colaborara, no primeiro de Janeiro de 46, na sessão cinematográfica que a UDIB realizara. Enfim, como o não havia de fazer se se tratava das comemorações dos quinhentos anos da Guiné as quais tinham culminado, no final do ano, na Exposição de Bissau que condensara em 20 salas toda a vida e a história da Guiné? A finalizar essa sessão solene de abertura houvera, ainda retinha com nitidez na memória, desfile das forças militares, corporações, colectividades e numerosos indígenas, com uma marcha luminosa bem pitoresca e surpreendente a que se sucedera um grande batuque no Cupilon.

Guiné-Bissau > Bissau > UDIB  (...Com a devida vénia a Bissau Architecture )


Guiné-Bissau > Bissau > s/d > O emblemático edifício da sede da UDIB - União Desportiva Internacional de Bissau onde jogou à bola o pai do Nelson Herbert, Armando Duarte Lopes, de origem cabo-verdiana, nascido em 1920, e que fez parte da seleção de futebol da Guiné Portuguesa.  Imagem: Cortesia de Nelson Herbert (2009)., jornalista da VOA - Voz da América.

Foto: ©  Nelson Herbert  / Blogue Luís Graça &  Camaradas da Guiné (2009). Todos os direitos reservados.


Guiné > Bissau > UDIB  > c. 1962/64,  foto  do nosso camarada açoriano Durval Faria (ex-fur mil da CCAÇ 274, Fulacunda,  jan 1962/ jan 64)

Foto: © Durval Faria / Blogue Luís Graça > Camaradas da Guiné (2011). Todos os direitos reservados.

Lembrava-se dos concertos do 1º e 3º domingos de cada mês que no coreto dos Combatentes da Grande Guerra a Banda da Câmara Municipal animava, nos anos 50, com música.

Recordava os Salões de Arte que as senhoras organizavam, as exposições de bordados e trabalhos manuais das educandas de Bór, as palestras com sessões de poesia e morna e as conferências que os cabo-verdianos e a Casa dos Estudantes do Império dinamizavam.

Muitas eram festas de beneficência que se sucediam ao longo do ano, ora auxiliando o Asilo-Escola de Bór ora os velhos e inválidos da colónia. Mas a beneficência não se ficava por aí que também organizavam rifas a favor da Liga Portuguesa contra o Cancro com prémios chorudos, um carro, uma motocicleta como a que saíra ao irmão de um seu rapaz, o Calabouça que ganhou o 2º prémio em 53.

Voltava atrás, ao ano anterior, e sorria. A loucura que fora o torneio de futebol da África Ocidental. Até o Conselho de Desporto aprovara o fretamento de um avião da Air France para a deslocação a Dacar dos apoiantes da Selecção de Bissau. Só que os 1.100$00 do bilhete inviabilizaram o projecto.


A raiva enfurecia-o quando recordava a barbárie que chegara a Bissau: a festa brava. Tardara mais dez anos a chegar que na Praia mas não havia como fugir-lhe. Em 43, ano da sua ida para Bolama ainda tivera tempo de assistir ao seu triunfo na Praia e agora lá tinha na cidade capital ao mesmo triste espectáculo. Onde estava a festa, perguntava-se. Matar animais com tortura e por simples diversão alguma vez pode ser festa? Pensar que se construiu uma praça, se mandaram vir bandarilheiros e mesmo touros bravos da metrópole e se foram buscar animais bravios às manadas bravas dos Bijagós fazia-lhe crescer instintos justiceiros e simultaneamente assassinos.

Lucinda
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Nota do editor

Último poste da série de 9 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13120: Notas de leitura (588): "Julinha", um excerto do próximo livro de Lucinda Aranha dedicado a seu pai Manuel Joaquim, empresário e caçador em Cabo Verde e Guiné (Lucinda Aranha)

domingo, 13 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12975: Memórias dos últimos soldados do império (2): A aventura do "Caderno de Poesia Poilão", de que se fizeram 700 exemplares, a stencil, em fevereiro de 1974, em edição do Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do BNU (Albano Mendes de Matos)



Foto nº 1 > Bissau > 1974 > Albano Mendes de Matos, a preparar o Caderno de Poesias «Poilão», no Clube Militar de Oficiais.


Foto nº 2 > Bissau > 1974 > Alguns membros do grupo «Poilão». Ao centro, à esquerda, o capelão da Leprosaria da Cumura, à direita, Aguinaldo de Almeida, do Banco Nacional Ultramarino, no dia do lançamento do Caderno de Poesias «Poilão». O Albano de Matos está à dierita do capelão.



Foto nº 3 > Bissau > 1974  > Capa do documento  policopiado do Caderno de Poesia Poilão", editada pelo Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino



Foto nº 4 > Bissau > 1974 >  Cartão de sócio da UDIB - União Desportiva Internacional de Bissau

Fotos (e legendas): © Albano Mendes de Matos  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]

1. Mensagem enviada, a 2 do corrente, pelo nosso Albano Mendes de Matos, ten cor art ref, que vive no Fundão [, ex-2 ten art, GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74], enviou-nos a seguinte mensagem.


Luís,

Envio em anexos um texto sobre o Caderno de Poesias «Poilão» e 3 fotos: uma minha a fazer o «Poilã», outra do grupo «Poilão», onde estão o capelão da Leprosaria da Cumura e o Aguinaldo de Almeida do BNU, uma terceira com a capa da brochura, e uma quarta. do meu cartão de sócio da UDIB. Mando também duas fotos minhas, atuais.

Abraço, Albano.


2. Albano Mendes de Matos na Guerra Colonial > O Caderno de Poesias "Poilão"

[O autor, foto atual, à esquerda]

Como militar de carreira, durante 36 anos, tive, sempre que pude, uma actividade paralela: colaboração em revistas e jornais, explicador de algumas disciplinas liceais, fotógrafo amador, frequência de cursos e pesquisa de campo sobre Literatura Tradicional Popular e Antropologia.

Mobilizado para a Guerra Colonial, fiz duas comissões de serviço em Angola, de 1961 a 1963 e de 1965 a 1968, e uma na Guiné, de 1972 a 1974.

Posso dizer que fui o último militar português a vaguear pelas ruas de Bissau, de onde saí, na noite de 13 de Outubro, para o aeroporto de Bissalanca, para regressar a Portugal, no último avião da Guiné, na madrugada do dia 14 de Outubro de 1974.

Em Angola, tentei perceber o sistema de relações entre o colonizador e o colonizado, ou, antes, as relações entre o branco e o negro, e também as vivências de alguns povos angolanos, com relevo para Povo Quioco, da Lunda-Norte, sobre o qual fiz alguns trabalhos.

Na Guiné, foi diferente. Colocado em Bissau, sujeito a horários, não tive condições, nem disponibilidade para contactos com os povos negros. Em Bissau, passei a frequentar a UDIB - União Desportiva Internacional de Bissau, da qual fui sócio [, vd. foto nº 4, acima], o Grupo Desportivo e Cultural do Banco Nacional Ultramarino e a Associação Comercial. Na UDIB e no Grupo Desportivo e Cultural do BNU, colaborei na organização eventos culturais, como, concursos literários e sessões de teatro


Nos inícios do mês de Dezembro de 1973, ao ler o jornal «Voz da Guiné», deparei com um escrito de Agostinho de Azevedo, alferes miliciano, creio que chefe de redacção do jornal, insinuando que não havia poesia na Guiné. Respondi com um escrito, «O Despertar da Guiné», dizendo que havia poesia na Guiné e que, em breve, iríamos ter um Caderno de Poesias, com o título de «Poilão», a designação de uma árvore sagrada na Guiné. Depois da publicação do primeiro número, seriam publicados cadernos de poesia de um só autor.

No Grupo Desportivo de Cultural do BNU, conheci guineenses e cabo-verdianos que faziam poesias e pedi originais para colaboração em «Poilão», que ainda guardo no meu arquivo. Juntei 24 poemas de 4 poetas da Guiné, 3 de Cabo Verde e 4 de Portugal.

De modo artesanal, fiz 300 exemplares do caderno. Dactilografei os poemas, imprimi-os em duplicador, dobrei as folhas e agrafei-as em capa de cartolina, esta impressa em tipografia, com desenho do poilão da autoria de um alferes miliciano, do Batalhão de Transmissões.



Os 300 exemplares do Caderno de Poesias «Poilão», editado pelo Grupo Desportivo e Cultural do Banco Nacional Ultramarino, esgotaram-se na noite do lançamento. Sem preço de capa, cada pessoa dava a importância que queria. O preço por unidade foi de 20$00 a 100$00.

Por minha proposta, o dinheiro angariado foi doado à Leprosaria da Cumura, nas proximidades de Bissau. Preparei, então, mais 400 exemplares que se esgotaram num dia. Havia apetência para a Poesia na Guiné. Eu apercebi-me desse facto.

No jornal «Voz da Guiné», de 28-02-1974, Agostinho de Azevedo refere o lançamento de «Poilão":

«De uma assentada, dois livros com poemas vieram parar em cima da nossa secretária. Um, impresso, provinha de Angola, o outro, policopiado, é um caderno nado e criado na Guiné. É claro que neste apontamento, em que falamos de Bissau, com amor, nos interessa, sobremaneira, aquele que viu surgir a luz do dia aqui, ao nosso lado. Além do mais, nós pugnámos para que isso acontecesse. Não tivemos interferência na sua elaboração, mas sentimo-nos irmandos num mesmo sentimento. Aplausos para os seus dirigentes e os seus colaboradores. Não havendo outra forma de manifestarem as suas preocupações culturais, este caderno é um exemplo que pode dar bons frutos.»

Com um mês de licença, em Portugal, e com as antevisões do 25 de Abril, não foram publicados mais cadernos.


O Caderno de Poesias «Poilão» está referenciado, praticamente, em todas as Bibliografias, Dicionários, Histórias e Estudos da Literatura Africana de Expressão Portuguesa, sendo considerado como a primeira Antologia de Poesia na Guiné-Bissau. Tem sido referido em tertúlias, seminários e encontros culturais.



Em «Poilão», colaborou Pascoal D’Artagnam Aurigema, falecido em 1991, que foi um dos principais poetas da Guiné-Bissau. Um poema deste autor publicado em «Poilão»:

MÃOS

magras
desmazeladas
negras

mãos
entregues à bolanha
o pau de pilão

mãos
de canseira
abandonadas
na eterna lenga-lenga
do duro labor

mãos
de inferno
condenadas
fuliadas
p’ra lá
p’ra aquele espaço
longe
onde basbaco
e canseira
e pobreza
formam sociedade

mãos pendidas no vácuo
mãos porcas
ah! desprezadas mãos!

Pascoal D’Artagnam Aurigema
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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12974: Memórias dos últimos soldados do império (1): “Bate estradas” histórico, escrito à minha filha em 1973, e uma redacção da minha neta,  vinte anos depois (Albano Mendes de Matos)

segunda-feira, 26 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9666: O PIFAS, de saudosa memória (11): Também havia relatos da bola, em março de 1970... (Arménio Estorninho)


Guiné > Bissau > Março de 1970 > Estádio Sarmento Rodrigues (hoje, Estádio Lino Correia) > Jogo de futebol entre o Sporting de Bissau e a UDIB, com transmissão radiofónica. Se a memória não me falha, quem fazia o relato era o Carlos Soares (está numa mesa). Vemos à esquerda, a zona onde se localizava a Verbena e o Cinema UDIB.

Foto: © Arménio Estorninho (2010). Todos os direitos reservados.


1. Comentário  ao poste P9663 (*),  aposto por  de Arménio Estorninho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Os Maiorais, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70) [ foto atual, à esquerda]

Mais uma fotografia para juntar à pretensão de agregar material sobre as emissões da Rádio do PIFAS.

Encontra-se no meu Poste P6373, em Foto-10, a imagem de um Jogo de Futebol entre o Sporting de Bissau contra o  UDIB, e que efectuara-se em Março de 1970;

Numa mesa apresenta-se instalado o Sargento Carlos Soares, com o fim de efectuar o relato radiofónico do jogo de futebol que estava ali a decorrer.

Saudações Tabanquenhas (**)

Arménio Estorninho

2. Comentário de L.G.:


2.1. Recorde-se que havia dois clubes de futebol rivais em Bissau, o Sport Bissau e Benfica, e o UDIB (União Desportiva Internacional de Bissau). Os seus jogadores formavam, no incío dos anos 60,  a base ou a quase totalidade da seleção de futebol da província da Guiné. Um terceiro clube era o Sporting Club de Bissau. E, fora de Bissau, destacava-se o Clube de Futebol Os Balantas de Mansoa, e ainda o Sporting Clube de Bafatá (já aqui referido várias vezes no nosso blogue, e que já existia pelo menos desde o tempo do Governador Sarmento Rodrigues).

O nosso amigo Nelson Herbert foi júnior no Sporting, embora a sua paixão clubística fosse o UDIB, o clube da elite de Bissau (onde o seu pai, Armando Lopes, Búfalo Bill, foi craque na segunda metade da década de 1940 e depois nos anos 50, ainda antes de se mudar para o Sport Bissau e Benfica).

Aliás, o Nelson Herbert já nos prometou publicar aqui mais informação sobre a história do futebol na Guiné-Bissau, até porque o futebol  forneceu ao PAIGC alguns dos seus destacados dirigentes e militantes  (por ex.,  Júlio Almeida, Júlio Semedo, Bobo Keita, Lino Correia). Parece que o 'Nino' Vieira também chegou a jogar na UDIB. Mas os futebolistas mais antigos, de origem caboverdiana, como Armando Lopes e Joãozinho Burgo, nunca enveredaram pela via do nacionalismo independentista, pelo contrário consideraram-se sempre portugueses... De qualquer modo, tanto a PIDE como o PAIGC tinham "olheiros"  na seleção nacional guineense... Infelizmente, a guerra e a independência terão matado o futebol guineense (**)...



Guiné > Região do Oio > Mansoa >  Sede do Clube de Futebol Os Balantas > Foto do nosso camarada, membro do nosso blopue, Henrique Cabral,  ex-Fur Mil da CCAÇ 1420 (1965/67), autor do blogue Rumo a Fulacunda.


Foto: © Henrique Cabral  (2010). Todos os direitos reservados.




Apesar disso, o futebol continua a ser ronco, na Guiné-Bissau. Aliás, como em outros lados em África, parece ser o desporo dos pobres... Hoje há clubes novos, mesmo fora de Bissau, o que não deixa de ser interesssante. Por exemplo, o Campeonato de Futebol da Guiné-Bissau,  1ª Divisão, foi  criado em 1975, e na época de 2011/12, está a ser disputado pelos 10 clubes, sendo 6 de Bissau:


Académica de Ingoré (Ingoré) [ Região do Cacheu]
Atlético Clube de Bissorã (Bissorã) (Região do Oio)
Clube de Futebol Os Balantas de Mansoa (Mansoa) [Região do Oio]
Futebol Clube de Cuntum (Bissau)
Mavegro Futebol Clube (Bissau)
Sport Bissau e Benfica (Bissau)
Sport Clube dos Portos de Bissau (Bissau)
Sporting Clube de Bafatá (Bafatá) [Região de Bafatá]
Sporting Clube da Guiné-Bissau (Bissau)
União Desportiva Internacional Bissau  (Bissau)

Mas também há outros clubes de futebol, da II e III Divisões, representando localidades por onde pássamos ou onde estivemso (Binar, Bolama, Canchungo, Farim, Gabu, Mansabá, Nhacra, São Domingos e outros).

Já agora, e como mera curiosidade, aqui ficam mais alguns dados sobre o futebol de hoje, na Guiné-Bissau:

(i) O clube com mais títulos de Campeão Nacional, 14,  é o Sporting Clube de Bissau [, ou Sporting de Bissau];


(ii) Vem a seguir o Sport Bissau e Benfica [ou Benfica de Bissau], com 8 títulos;
(iii) Em terceiro lugar, ex-aequo,  vem a  UDIB (Bissau) e Os Balantas de Mansoa, com 3 títulos cada.


2.2. Voltando ao PIFAS, e aos nossos tempos... Não nos parece, entretanto,  que o PIFAS fizesse relatos de futebol em direto, até pelo seu  horário de emissão (3 horas diárias, em 3 segmentos de hora: ). Em todo o caso, é natural que noticiasse os resultados e desse até  resumos das partidas mais importantes, a partir de relatos pré-gravados.  Presumimos que o srgt Carlos Santos fosse, na época, locutor do PIFAS.

O futebol guineense, praticamente confinado a Bissau,  era desconhecido da maior parte da malta que estava no mato. Os resultados dos jogos poderiam apenas interessar alguma população civil, concentrada em Bissau. É possível que alguns militares metropolitanos jogassem, na época, em alguns clubes locais. É natural, por outro lado,  que a emissora oficial da província fizesse relatos em direto, até porque os relatos da bola eram populares na época. Conviria, entretanto,  esclarecer se o srgt Carlos Santos está aqui a representar o PIFAS ou a emissora oficial, um e outra com  estúdios próprios.
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Notas do editor:

(*) 24 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9653: O nosso Blogue na Antena 1 pela voz de Luís Graça, no programa Emoções de João Paulo Diniz (Carlos Filipe Coelho)

(**) Vd. Ludopedio >   Futebol e guerra - Bissau, Guiné-Bissau, por Tiago Carrasco, João Henriques e João Fontes, 3.03.2010

(**) Último poste da série >  23 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9645: O PIFAS, de saudosa memória (10): A mascote, um caso sério de popularidade (José Romão)... E até o 'Nino' Vieira ouvia o programa! (João Paulo Diniz)

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 – P9401: Memória dos lugares (171): A minha Bissau, nas vésperas do 25 de Abril de 1974 (Nelson Herbert)



Guiné > Bissau > s/d  > "Praça Honório Barreto e Hotel Portugal"... Bilhete-postal, nº 130, Edição "Foto Serra" (Colecção "Guiné Portuguesa")  

Colecção: Agostinho Gaspar / Digitalização: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).



1.   Comentário de Nelson Herbert, nosso amigo e jornalista da VOA (Voz da América), ao poste P9388 (*)

Caro Luís e Nuno:

Essa "história", pelos episódios descritos, é-me igualmente familiar!

Primeiro por sermos praticamente da mesma geração... eu na altura, [o 25 de Abril de 1974,] a uns 5 meses de completar os 12 anos e no último ano do Ciclo Preparatório (seria Marechal Carmona?), na mesma rua do Liceu Honório Barreto, da Escola Técnica e do estádio escolar... Junto ao Liceu havia igualmente uma messe... será?

Recordo-me perfeitamente desses momentos de exaltação pelas bandas do Liceu, da Escola Técnica e do Ciclo Preparatório...

Tive vários colegas portugueses, grandes amigos de infância que gostaria um dia poder rever (**). Alguns da mesma idade, outros ligeiramente mais velhos, mas unidos pelas partidas de futebol... no estádio municipal, no estádio escolar, no quintal (por detrás) da Sé Catedral, no próprio quintal da Câmara Municipal...

Entre esses amigos, recordo-me perfeitamente do Zé (ligeiramente mais velho, 1 a 2 anos pelo menos), do Becas, seu mano mais novo, da minha idade... colega das pescarias no lodoçal das bolanhas, junto ao quartel da Marinha!

O pai era militar... habitavam uma residência, mesmo em frente à messe dos sargentos da Força Aérea, por sinal meus vizinhos. Hoje calculo que o pai fizesse parte da "psico", contavam ingenuamente os filhos, ante a inocência geral...

Pelos meus parcos conhecimentos da época, na matéria, calculava ser um major do exército (um galão ou divisa da largura de dois dedos, com uma faixa dourada no meio...). Seria isso?

Foi pois em casa desses amiguinhos que vi pela primeira vez o capitão dos comandos João Bacar Djaló, que vim mais tarde a saber, por esses mesmos amigos, nas conversas de catraios, ter sido morto em combate!

Era precisamente, no muro frontal dessa residência, que o pessoal da Forca Aérea aguardava pelo autocarro azul que os levava às sessões nocturnas de cinema na base aérea de Bissalanca... E mais seria esse mesmo murro frontal da residência em questão, a escassos 100 metros da minha casa, o alvo de um dos atentados a bomba relógio registado durante a guerra em Bissau... (entre 73 a 74, por aí) (***).

Armadilhado pelas células clandestinas do PAIGC, numa bela noite, o murro foi-se pelos ares… Isto, minutos depois do autocarro azul ter partido do local para a viagem do costume! Nesse dia felizmente bem mais cedo que o habitual!

Não houve vítimas, nem entre o pessoal da Forca Aérea nem entre a "meninada" que nas redondezas costumava brincar ao cair da noite!!!

Um outro amigo da mesma rua responde pelo nome de Joaquim Vicente (para não variar, o Quim)... O pai ficou conhecido por Mestre Vicente, era da Marinha e das Oficinas Navais.

Mestre Vicente, um "mais velho" de trato fácil, do qual lembro-me (eu e o filho) termos recebido, por presente o nosso primeiro carro de rolamentos, feito à maneira, com requisitos de segurança, já avançados para a época.

O brinquedo fazia pois a delícia da meninada no declive que ia dos serviços metereológicos/Boite Cabaret Chez Toi... no cimo da então nossa rua, Engenheiro Sá Carneiro (a mesma da Praça Honório Barreto, do Hotel Portugal, do Café Universal, do Restaurante ou Pensão Ronda... já agora que ia dar ao cemitério, passando lateralmente pelo hospital) à messe dos Sargentos...

Terão porventura fotos dessa época? Da vossa rua? (****)

Mantenhas
Nelson Herbert
Washington DC,USA

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Notas de MR: 

(*) Vd. poste de 23 janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9388: No 25 de Abril de 1974 eu estava em... (12): Bissau, Liceu Honório Barreto (Nuno Rodrigues / Luís Gonçalves Vaz) 

(**) Vd. poste de 8 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6345: Em busca de ... (130): Três militares, três velhos amigos do meu tempo de infância, em Bissau: os gémeos Mário e Chico e o futebolista Lino (Nelson Herbert, filho de Armando Duarte Lopes, atleta da UDIB)

 (...) Já que nisso de "perdidos e achados", no bom sentido é claro, o blogue tem sido profícuo, a vez desta é minha! E o propósito é o de tentar localizar três velhos amigos, referências da minha infância na Guiné.

Quanto aos dois primeiros, ignoro pois a respectiva graduação na altura. São gémeos,  de nome de baptismo Mário e Chico (Francisco, obviamente). Foram meus vizinhos na antiga Rua Engenheiro Sá Carneiro, a mesma da messe dos sargentos da Força Aérea e do famoso Cabaret ou Boite Chez Toi... Também a rua dos Serviços Metereológicos !

(...) A terceira figura de referência incontornável da minha infância foi, por sinal, um dos meus ídolos da arte de jogar a bola. Militar e futebolista da UDIB, destacou-se na arte da marcação de cantos directos... ao golo ! Era quase que infalível, quando Lino (assim o ficámos a conhecer) era chamado a bater tais lances de bola parada, como soi hoje dizer-se na gíria desportiva !

(***) Mais provavelmente, 21 de janeiro de 1974:

 (...) "Primeira acção do PAIGC na cidade de Bissau, com lançamento de engenhos explosivos contra autocarros da Força Aérea, seguidos, uma semana depois, de dois outros engenhos do mesmo tipo num café da mesma cidade, frequentado por militares portugueses" (José Brandão - Cronologia da Guerra Colonial: Angola, Guiné, Moçambique, 1961-1974. Lisboa: Prefácio, 2008, p. 433).

(****) Último poste da série > 4 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9309: Memória dos lugares (170): Regresso a Missirá em Janeiro de 1990 (Mário Beja Santos) 

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8947: Notas de leitura (292): De campo em campo: conversas com o comandante Bobo Keita, de Norberto Tavares de Carvalho (Parte II): Futebol e Nacionalismo (Nelson Herbert / Luís Graça)





Gâmbia > Bathurst > 1953  > Comemorações da entronização da Rainha Isabel II, de Inglaterra >  Foto da seleção de futebol da Província Portuguesa da Guiné > De pé, da esquerda para a direita,  Antero Bubu (Sport Bissau e Benfica; capitão), Douglas (SB Benfica), Armando Lopes (UDIB),  Theca (SB Benfica), Epifânio (UDIB) e Nanduco (UDIB);  de joelhos, também da esquerda para a direita:  Mário Silva (SB Benfica),  Miguel Pérola (Sporting Club de Bissau), Júlio Almeida (UDIB),  Emílio Sinais (SB Benfica), Joãozinho Burgo (SB Benfica) e João Coronel (SB Benfica)...

No 1º jogo, a seleção da Guiné ganhou à seleção da Gâmbia por 2-0, com golos de Joãozinho Burgo; no 2º jogo,  as duas seleções empataram 2-2 (com golos,  pela Guiné, de Mário Silva e Joãozinho Burgo). Antiga colónia inglesa, a Gâmbia acedeu à independência em 1965.

Foto: ©  Armando Lopes / Nelson Herbert  (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


Legenda de João Burgo Correia Tavares (vd. De campo a campo: conversas com o comandante Bobo Keita, 2011, p. 41).


1.  E a propósito (e na continuação da leitura do livro) das memórias do Bobo Keita (*)... Fomos encontrar, no livro do Norberto Tavares de Carvalho, uma foto já nossa conhecida, da seleção de futebol da província portuguesa da Guiné, onde figura o  Armando Lopes (jogador da UDIB, pai do nosso amigo Nelson Herbert, e que também era conhecido como Búfalo Bill; fez o seu serviço militar no Mindelo, em 1943, na altura em que também lá estava, como expedicionário, o meu pai, meu velho e meu camarada, Luís Henriques; ambos nasceram em 1920 e, felizmente, continuam vivos; ambos tinham igualmente uma paixão pelo futebol).

A foto, que vem na página 41,  é do arquivo pessoal do João Nascimento Burgo Correia Tavares, o Joãozinho Burgo, do Sport Bissau e Benfica... (Mas o nosso blogue já tinha publicada uma igual, em 15 de Agosto de 2010, do arquivo do Armando Lopes) (***).

Caboverdiano, da Ilha do Fogo, onde nasceu em 1929,  Joãozinho Burgo era mais novo do que o Armando Lopes (n. 1929) mas mais velho que o Bobo Keita (n. 1939). O auge da sua carreira é em 1960,  com o apuramento da seleção de futebol da Guiné para a fase de qualificação para a disputa da taça Kwame  Nkrumah.


Vencedora da Série D, a seleção guineense foi disputar a final em Acra, capital do Gana: além de Joãozinho Burgo, fizeram parte dessa equipa Bobo Keita,  Júlio Semedo (Swift, guarda-redes), Antero 'Bubu', Vitor Mendes ('Penicilina'),  'Djinha', João de Deus,  'Chito', Luís 'Djató', 'Nhartanga' (que jogará depois em Portugal), entre outros...

O Joãozinho Burgo deixou de jogar na época de 1966/67, para de seguida ir tirar o curso de treinador, ainda em 1967, em Setúbal (onde teve como colegas de curso o José Augusto, o Coluna e o Cavém) (p. 36).

O Bobo Keita, mais novo (1939-2009), embora sportinguista de coração, assinou e jogou pelo Sport Bissau e Benfica (**),  clube do seu pai, alfaiate... O mais interessante era verificar a grande popularidade que tinha o futebol nessa época, nomeadamente em Bissau, mas também no interior (Mansoa e Bafatá, por ex.).


O futebol também foi um viveiro de   militantes, combatentes e dirigentes ao PAIGC (Júlio Almeida, Júlio Semedo, Bobo Keita, Lino Correia...). Era interessante saber porquê... 

Recorde-se que o Júlio Almeida, antigo funcionário da granja de Pessubé que trabalhou com Amilcar Cabral, é referenciado como um dos fundadores, em 1956,  do PAIGC, ou melhor do PAI, mais tarde  PAIGC (**).

Bobo Keita, que nasceu no Cupelom [ ou Pilão] de Baixo, em Bissau, jogava na equipa do bairro, o Estrela Negra'... Dela faziam parte futuros militantes nacionalistas como o Umaro Djaló, Julião Lopes, Coronoa, Ansumane Mané (outro que não o brigadeiro), Lino Correia (que era de Mansoa)... Keita, miúdo de rua, não tinha botas. As primeiras que teve foram-lhe emprestadas (e depois dadas) pelo SB Benfica. Jogou com elas em Mansoa. Jogará depois nos júniores do Benfica e, dada o seu talento, chega rapidamente à seleção provincial.


Tinha então 17 anos. Como a idade mínima legal eram os 18, à face das normas internacionais do futebol, tiveram que lhe fazer uma "nova" certidão de nascimento (sic)... "A partir daí, segundo as circunstâncias, passei a exibir dois bilhetes de identidade, um com dezasste anos e outro comn dezoito anos", confidencia o Bobo keita ao seu biógrafo (p. 31).


Acabou por jogar a defesa direito no Benfica. Dos júniores passa às reservas e depois à equipa principal. Para além de ser o orgulho do seu pai, tornou-se muito popular entre os adeptos. O grande dérbi, em Bissau, eram o jogo Benfica-Sporting. Na época, o Benfica era de longe a melhor equipa de futebol da província, recheada de estrelas (que integravam por sua vez a seleção da província)


Foi o Victor Mendes, um treinador português, que levou Bobo Keita para a seleção e que o pôs a jogar como defesa lateral esquerdo, depois de muito trabalho... Ao que parece, ainda estará vivo. Outro clube cotado localmente era o UDIB - União Desportiva e Internacional de Bissau, onde jogava o seu primo João de Deus.


Nas conversas com Noberto Tavares de Carvalho (*), Bobo keita recorda o Torneio da África Ocidental, que começou na Ilha de São Vicente, Cabo Verde, em 1958, e que juntou outras as seleções (Cabo Verde, Senegal, Gâmbia e Guiné-Conacri) (pp. 39-40). Também, jogou na Gâmbia, onde a seleção guineense era, de há muito, temida, desde o tempo do Armando Lopes.


Na fase final, foram jogar a Acra, capital do Gana, em 1959. O encontro com o presidente Kwame Nkrumah terá sido decisivo na vida de Bobo Keita. Recorde-se que a antiga colónia inglesa, Golden Coast, a Costa do Ouro, proclama oficialmente a sua independência em 6 de Março de 1957. Nkrumah, num cerimónia de receção nos jardins do seu palácio,  incentivou então os jovens futebolistas a lutarem pela independência dos seus países. 


Em 1 de Outubro de 1960, Keita está em Lagos, capital da Nigéria, outra vez num torneio de futebol, por ocasião das festas da independência de mais um grande país africano (p. 44-46). Que memórias guarda desse tempo ?


 "Como acontecera com o discurso do Nkrumah, fui de novo sacudido por um mar de interrogações, sempre falando com os meus botões e acabando por concluir que tudo aquilo era bonito, mas completamente impensável na Guiné.  No entanto, pela segunda vez,  o acaso punha-me de caras  com os pensamentos  revolucionários daquele tempo. Só que desta vez senti algo a despertar em mim" (p. 45)...


E mais à frente acrescenta, na entrevista com Norberto Tavares de Carvalho (*): 


"Fiquei com aquela imagem de um  povo confiante, independente e livre. Esse quadro ficou gravado em mim como o segundo factor de formação da minha consciência nacionalista" (p. 46).


Três meses depois, em 26 de Dezembro desse ano, Bobo Keita, que tinha apenas a 4ª classe da instrução primária,  "vai no mato", isto é, entra na clandestinidade, mais exatamente segue em viagem para o sul, disfarçado de alfaiate, mas com destino certo: Conacri. Em 12 de Janeiro de 1961 tem à sua frente Amílcar Cabral, o homem que lhe tinha dado um bola, quando "djubi" do Cupelom, seu bairro natal...


Como é que um jovem e promissor jogador de futebol chega até aqui, ou seja, entra em ruptura com a sociedade onde, mal ou bem, está integrado ? Antes de mais, é de referir o sentimento de  injustiça e de revolta que começa a apoderar-se dos jovens jogadores da seleção da Guiné. Na Nigéria não recebem os prometidos e ansiados prémios de jogos. Sentem-se explorados e inferiorizados quando comparados com os jogadores das outras seleções africanas, em particular os nigerianos. Na capital da Gâmbia, Bathurst, o conflito, latente, estala, passando a conflito aberto, manifesto... Recusam-se a jogar... Acabam por ceder para "não ficarmos mal vistos" (p. 48), mas recebem no final o dinheiro prometido...

Os dirigentes da seleção estranharam o comportamento jogadores e não gostaram... No regresso a Bissau, entra a PIDE em ação. O ambiente é de crispação, dentro e fora do balneário. Chegou-se a pensar prender toda a selecção, mas acabou por imperar o bom senso... Os jogadores, incluindo Bobo Keita, foram discretamente interrogados, um a um, pela PIDE nas instalações dos Bombeiros Voluntários de Bissau (pp. 52 e ss.). Dada a sua popularidade, os jogadores da seleção, envolvidos no conflito passado na Gâmbia, acabaram por se safar... Acrescenta o Bobo Keita, que até o próprio Governador, na altura o Peixoto Correia, "uma ardente adepto do futebol", não terá apreciado a ação da PIDE (p. 53)...

Iremos continuar a respigar e comentar algumas notas de leitura (****) da 'longa conversa' que o Bobo Keita teve como Norberto Tavares de Carvalho, antes de morrer, em Portugal, em 2009. Era senhor de uma notável memória, era uma homem frontal, mas também de grande cordialiade.  Por sua vez, o autor do livro, com formação em ciências sociais, dá provas de honestidade intelectual e de preocupações com o rigor metodológico.

Leia-se o que diz o próprio Norberto Tavares de Carvalho:


"O trabalho de recolha, de entrevista e de releitura, durou mais de dois anos. Até que  no dia 19 de Dezembro de 2008 me desloquei a Lisboa para tratar com o comandante Bobo Keita os últimos trechos do livro. Fui visitá-lo ao hospital [, presume-se que o Amadora-Sintra,] onde estava internado. Ao ouvir a voz que o saudava, perguntou imediatamente: 'Quando é que chegaste ?'. Fiquei perplexo pois os rumores diziam que o velho combatente tinha perdido a memória. Animei-me de esperança. Tinha ainda mais perguntas a fazer-lhe para o aprofundamento de certos dados importantes. E devia ler-lhe a última parte do manuscrito" (p. 16).

O livro (brochado, 303 pp.,  incluindo fotos), edição de autor, está à venda no Porto, na UNICEPE - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, CRL, sita na Praça Carlos Alberto, 128-A, 4050-159 PORTO >  Email: Unicepe@net.novis.pt; Telefone: + 351 222 056 660. Preço: 15 € (12 €, para associados da Unicepe).


2. Sobre este tema reproduzimos aqui uma mensagem recente do Nelson Herbert, que vive em Washington onde é editor da Voz da América:

Data: 20 de Outubro de 2011 21:05
Assunto: Futebol e Nacionalismo


Caro Luis


"As equipas de futebol deram bastantes militantes ao PAIGC... Era interessante saber porquê...No caso do Bobo Keita, foram decisivas as viagens ao estrangeiro (Ghana, Nigéria...) com a seleção nacional, até 1960, ano em que ele passou à clandestinidade"...
E eis (mais) um capítulo da história da Guiné ainda por aprofundar !!!


Repare que a seleção de que Bobo Keita fazia parte, contava igualmente com um dos elementos fundadores do PAIGC, refiro-me pois ao caboverdiano Júlio Almeida (guarda redes, que deduzo estar na foto a que fez referência) , então técnico agrário da Granja de Pessubé, [onde trabalhou com] Amílcar Cabral !!!


A indicação e a consequente  transferência  de Júlio Almeida do futebol mindelense para a UDIB de Bissau foi iniciada, a pedido do clube guineense - creio que [no ínício dos] anos 50-   pelo meu pai [ Armadndo Lopes],  na altura de férias em S. Vicente, a ilha de natal de ambos.


Convém não perder de vista que ante a então apertada vigilância da PIDE, a "bola" foi  por sinal a via encontrada por Amílcar Cabral para a conglomeração, na periferia de Bissau, de guineenses e caboverdianos  em redor de ideais nacionalistas.

E falando ainda de futebol, recordo ter lido em tempos no blogue um poste que fazia referência ao papel dos soldados portugueses na Guiné, na "massificação" do futebol naquela antiga província ultramarina.


Obrigado por partilhar !

Mantenhas
Nelson Herbert



______________




Notas do editor:

(*) Vd. poste de 24 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8941: Notas de leitura (290): De campo em campo: conversas com o comandante Bobo Keita, de Norberto Tavares de Carvalho

(**) Comentário de Nelson Herbert ao poste de 2 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6815: Memórias de um Combatente da Liberdade da Pátria, Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai (2): A elite guineense, nos anos 50


(...) "Apareceram também clubes de futebol como o Sport Lisboa e Benfica, 'por iniciativa de alguns nomes conhecidos da sociedade portuguesa, Gama das Construções [Gama] Lda, Pimenta do Cadastro, Casqueiro, etc.', e o Sporting Club de Bissau, 'sob a égide de Eugénio Paralta, irmão Zé Paralta, Chico Correia'...

"A UDIB já existia, diz-nos Cadogo Pai. No entanto, o desenvolvimento do futebol, 'trouxe mais um bafo de rivalidades, olhando a situação dos jogadores cabo-verdianos, importados pelo Benfica, que, para os atrair, os adeptos bem colocados, tinham que lhes oferecer bons empregos. Bons rapazes, no fundo, Antero, os sinais [?] Tcheca, Marcelino Ferreira (Tchalino), etc." (1ª Parte, p. 6).

(...) A origem das equipas de futebol da Guiné é, por sinal, uma das temáticas que há meses vinha eu já ensaiando propor a 'debate' a (e como contribuição para) o blogue ...Sobre esta temática tenho eu recolhido alguns testemunhos, por incentivo do meu próprio progenitor...por sinal, da leva dos futebolistas cabo-verdianos que povoaram o meio desportivo guineense da época. Aliás, modalidade-rei, com a qual os cabo-verdianos estavam em certa medida familiarizados, através dos ingleses que, pelas passagens pelo Porto Grande da Ilha de São Vicente, introduziram o futebol e o 'cricket'...Quanto a este último. facto curioso, nos demais territórios 'ultramarinos' de Portugal, foi o único onde a modalidade pegou e conserva ainda alguns resquícios da sua prática.

Dessa 'hegemonia' de futebolistas cabo-verdianos...Antero, Marcelino (Gazela), Armando Lopes (Búfalo Bill , meu pai), Tcheca, Júlio Almeida (referenciado como um dos fundadores do PAIGC), na sua maioria atletas do Sport Bissau e Benfica e da UDIB (caso do meu pai que, 'importado' de Cabo Verde, inicia a sua carreira na UDIB,transferindo-se anos mais tarde para o Benfica de Bissau), houve na época a necessidade de se contrabalançar essa então 'primazia' de futebolistas das ilhas, pelas razões já expostas acima...

E seria pois com base nesse pressuposto que nasceria o Sporting Club de Bissau (clube de que fui futebolista júnior, apesar da minha paixão clubística pela UDIB), outrora Império, e no qual militaram numa primeira fase da sua fundação, e na sua quase totalidade , futebolistas originários da Guiné. 'Cabo-verdianos' do Sporting viriam depois... e entre os nomes sonantes dessa época, cito aqui o nome de 'Djinha.'" Almeida...

Por iniciativa dos irmãos Paralta, e de mais um lote de futebolistas, de novo, na sua maioria cabo-verdianos que, na época do defeso do campeonato provincial, praticavam o ténis nos adstritos 'courts' do então estádio Sarmento Rodrigues, nasceria a ideia de fundação do Tenis Club de Bissau...

Eis pois aqui uma proposta de 'debate' e de recolha de testemunhos de que o Blogue tem sido profícuo...

Por exemplo, que papel teve a 'tropa'.  na sustentabilidade do futebol na Guiné, pelo menos a nível das equipas do interior do país, alguns, que com início da guerra deixaram de ser parte do campeonato provincial da Guiné.

Entretanto, relativamente à participação das equipas do futebol guineense, incluindo a própria seleção provincial, nas competições regionais africanas da época...Bobo Keita, um histórico comandante da guerrilha e talentoso futebolista guineense, entretanto já falecido, recordou em tempos, em entrevista por mim conduzida, o seu primeiro contacto com a ideia da necessidade da emancipação do homem africano...Aconteceu pois aquando de uma digressão da seleção provincial da Guiné ao Gana de Kwame Nkrumah (...)

(***) Vd. poste de 15 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6853: Futebol e nacionalismo na década de 1950 (Nelson Herbert, filho do jogador da selecção da província, Armando Lopes ou Búfalo Bill)

(****) Último poste da série > 24 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8942: Notas de leitura (291): Arquitectura Tradicional da Guiné-Bissau (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Guiné 63/74 – P8354: Páginas Negras com Salpicos Cor-de-Rosa (Rui Silva) (12): Baile de Fim de Ano na Associação Comercial, mesmo ao lado do Palácio do Governador

1. Mensagem de Rui Silva* (ex-Fur Mil da CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67), com data de 26 de Maio de 2011:

Caríssimos Luís e Vinhal:
Recebam as maiores saudações, extensivas ao amigo Magalhães Ribeiro e outros co-editores e colaboradores deste extraordinário e insuperável Blogue.

Destas vez vai um “salpico cor-de-rosa” das minhas memórias.

Um abração
Rui Silva

Como sempre as minhas primeiras palavras são de saudação para todos os camaradas ex-Combatentes da Guiné, mais ainda para aqueles que de algum modo ainda sofrem de sequelas daquela maldita guerra.

- Uma história de “Guiné minha”-

-Dos tais Salpicos cor-de-rosa das minhas memórias “Páginas Negras com Salpicos cor-de-rosa”-

Baile de fim d’Ano (1966/67) na Associação Comercial em Bissau, ali na Praça do Império mesmo ao lado do Palácio do Governador.

Eu e um amigo meu do Porto, militar também, bem enfarpelados, entramos logo atrás do Schultz, pois então!

Estávamos em 31 de Dezembro de 1966 e havia passagem de Ano na UDIB e na Associação Comercial, pelo menos; também no Benfica e no Sporting. Deste ficaram as saudades das Verbenas e o “Penalty” na barraca, ao altifalante, sempre a dizer e a malhar no mesmo, até dizer chega: “Gatão é um gato com uma bengala na mão”. Vendia ou sorteava o vinho Gatão. Sala para um pezinho de dança também, e bem frequentada. A loira do Taufik Saad também.

O edifício da Associação Comercial, era um edifício de linhas modernas com um bom salão de jogos no rés-do-chão, do lado direito, e, atrás, virados para a estrada que ligava o Quartel da Amura cá em baixo junto da marginal para Santa Luzia lá em cima, onde estava o Quartel General, serviço SPM e outras instalações militares, estrada alcatroada e marginada de mangueiros, havia 1 ou 2 bons campos de ténis.

Fachada principal da Associação Comercial, vista do lado da Praça do Império e de junto ao Palácio do Governador
Foto reproduzida do ACTD (Arquivo Científico Tropical Digital, com a devida vénia

Vista da Associação Comercial do lado de trás, isto é, do lado da estrada que ligava o quartel da Amura, cá em baixo, até Santa Luzia onde estava o Quartel General e outras instalações militares. Campo de ténis em primeiro plano.
Foto reproduzida do ACTD (Arquivo Científico Tropical Digital, com a devida vénia

Quando se passava lá era olhar e andar. Aquilo era tabu para nós. A nossa vida era no mato aos tiros.
Só que na passagem de ano eu e o meu conhecido há pouco, armamo-nos em finos e apostamos no baile na Associação.
Boas instalações. Vida boa para o colono e militares de patente super. Também se viam lá negros, mas… a servir à mesa.

Então eu e o meu amigo do Porto, como já disse, conhecido (há pouco), do Hospital Militar de Bissau, onde estávamos internados, eu por uma lesão no joelho, vestidos a rigor, camisa branca “casca d‘ovo” que muito se via por lá, brancas e azuis clarinhas, diziam que vinham de Macau, gravata à maneira e fato tirado do fundo da mala, com vincos saturados nas dobras, agora bem disfarçados com a ajuda dos joelhos, e então escolhemos tentar a sorte na Associação. Era mais chique.

Tanto eu como o meu amigo apostamos com parada alta.

Cerca das 23 horas aproximamo-nos da entrada, um pouco timidamente e era só saber como é que havíamos de entrar, o que se antevia difícil. Fardados bem à civil estávamos nós, mas isso podia não chegar.

Até que chega de automóvel o dono da Ancar. Estabelecimento e fabricante (?) de artigos de livraria ali em Bissau, julgo que nas imediações do mercado. Parecia-me ser cabo-verdiano e como era empresário… devia ser mesmo.

“Alto (!)” é agora, pensei. Eu quando vinha a Bissau defendia as cores da Ancar em Andebol de Sete e portanto era aqui a grande chance. E ali o meu presidente mesmo à mão.

Dirigi-me a ele a dizer que era uma atleta da Ancar o “grande” guarda-redes de andebol e ele, sim, disse que me conhecia bem, mas, mais palavra menos argumento, “mandou-me prá bicha”, que não era ele que mandava, etc. e tal, que tivesse paciência, que era afinal o que nós tínhamos menos na altura, digo eu.

As equipas da Ancar e do Benfica antes de um jogo. Sou o 2.º em pé e a contar da esquerda. Ringue nas instalações do complexo desportivo Sarmento Rodrigues em Bissau, onde também se jogava o basquetebol. E ao lado o campo de Futebol, onde os Fuzileiros e os Páras eram assistentes com muita rivalidade. Não raras vezes havia refrega…

Recorte de um jornal, julgo que trissemanário, na época (1966) na Guiné. Este recorte jornalístico é posto à evidência, apenas para que algum nome nas equipas recorde com saudade o evento.

Pronto, gorada aquela que me parecia ser uma grande hipótese!

Passa-se mais alguns minutos e já pertinho da meia-noite eis que chega um grande carro (Mercedes?) preto e sai de lá Arnaldo Schultz, o Governador, com comitiva e com grande pompa.

Entrou com as devidas honras. Recebido, julgo, por elementos da Comissão organizadora, um casal de brancos, muito elegante, meia-idade. Subiram os degraus para o piso superior (Salão de Festas) e tudo voltou ao normal, isto é, o porteiro indígena, de luvas brancas e uma secretária (mesa) à sua frente e ali perto dois maduros desenfiados do HM 241, que não desarmavam.

- Vamos dar qualquer coisa ao preto e ele deixa-nos entrar.

- Não, isso pode ser pior - respondeu o outro.

- Carago, o que havemos de fazer?

Estávamos ali a cogitar quando nos saiu a taluda!

O porteiro dirige-nos e pergunta se nós éramos os convidados do Sr. Virgílio.

- Somos, somos - dissemos a uma só voz.

- Já podiam ter dito. Façam o favor de entrar.

Antes que houvesse alguma dúvida galgamos os degraus de acesso ao salão sem antes termos esbarrado no porteiro que queria a nota, e entramos no Salão de Festas com aparente calmaria e de peito inchado.

Caiu a meia-noite!

Ainda hoje estou por saber quem era esse Sr. Virgílio, ou se foi uma bela jogada do preto que viu ali uma rara oportunidade para ganhar algum, pois mal ele nos abordou e ao ver-nos passar por ele como flechas teve tempo de estender a mão e não era para nos cumprimentar, sabíamos nós. Lá que ficamos os três bem na fotografia lá isso foi verdade e ninguém saiu a perder.

Olha que dois! Ou que três!

Passado o reconhecimento do terreno já estávamos a dançar, cada um com o seu par, claro.

No salão, encostada a uma das paredes laterais, estava um mesa bem decorada com leitão, cabrito e mariscos variados com a lagosta a sobressair de diversos comes bem apetitosos.

Era para nós o segundo golpe de mão!

Vista do Salão, no 1.º andar, na Associação Comercial. Ao fundo o palco aonde actuou um conjunto jovem cabo-verdiano cujo nome (sugestivo) me escapa, na dita Pasagem d’Ano (1966/67)
Foto reproduzida do ACTD (Arquivo Científico Tropical Digital, com a devida vénia

À hora da mesa, aproximamo-nos e um pouco timidamente comecei então a puxar pelas barbas de um camarão fazendo-o aproximar da minha zona, e para dentro do arame farpado, a que ele logo gentilmente acedeu. O meu amigo, noutro ponto estratégico, fazia-se rogado, mas por pouco tempo. Vencidas as “sentinelas” comemos bem a nossa parte. Lá no hospital o rancho era bem diferente.

Bela noite. Um sonho realizado em palco de guerra.

Saímos já madrugada alta e viemos por a Avenida abaixo. Passamos por a UDIB e o baile também estava a terminar. Ainda deu para ver porrada à porta. Afinal a porrada estava na moda por toda a Guiné.

E pronto, foi regressar ao HM e tudo voltou à normalidade. Aí, farda branca, de algodão fininho, e havaianas. Rancho do hospital, servido à mesa, mãos no pão, na fruta, e todo o mais, (não me esqueço que na altura que o soube andei com náuseas uns dias) nada mais nada menos que servido pelo Cabo que na morgue, atrás do Hospital, lavava os mortos e os punha nas urnas. E esta!

No HM241 um grupo de camaradas (Furrieis) de ocasião, ali internados por várias razões - cada um com o seu problema -, no terraço no 1.º andar daquela unidade hospitalar. Eu estou sentado no muro.
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Notas de CV:

(*) Vd. último poste de 11 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8257: Convívios (329): Convívio da CCAÇ 816, dia 7 de Maio de 2011, em Barcelos (Rui Silva)

Vd. último poste da série de 2 de Março de 2011 > Guiné 63/74 – P7887: Páginas Negras com Salpicos Cor-de-Rosa (Rui Silva) (11): Operação Gamo à base inimiga do Biambe

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7774: Memória dos lugares (137) : Do Mindelo a Bissau, aos bailes da UDIB, do Benfica e da Associação Comercial... Sonsene un vex era sabe (António Estácio)

1. Gentilleza do nosso camigo (e camarada) António Estácio, nascido em Bissau, no tchom de papel, engenheiro técnico agrícola,  escritor, autor de Nha Carlota, sinólogo, amigo do Zé Neto, do Mário Dias, do Pepito, da Dra. Clara Schwarz (sua professora, em Bissau, que faz amanhã 96 anos!), e ainda do Paulo Santiago e do Graça de Abreu, 

Data: 4 de Fevereiro de 2011 00:14

Assunto:   SONSENE UN VEX ERA SABE

 Amigas e Amigos:

Convosco tenho o prazer de partilhar trechos musicais de Cabo Verde, que talvez vos tragam à memória saudosas lembranças dos bailes, da nossa juventude, que tiveram lugar na UDIB, no Benfica de Bissau ou até da Associação Comercial.


Bons tempos em que eu saí do baile aí pelas 06H30, ia ouvir a missa das 07H00, à capelinha da irmãs no Hospital e seguia para casa a fim de me recompor da noitada.

Mesmo os que lá não estiveram não poderão ficar indiferentes.

É que isto, é música...

António J. Estácio

http://www.youtube.com/watch?v=R7Xg_buQ5vE&feature=email

[Vídeo de tchapsu, que vive nos EUA, colocado no You Tube em 18 de Outubro de 2010... Tem já mais de 3100 visualizações...  "Um video com imagens e vivências antigas da Cidade do Mindelo, São Vicente, acompanhado com a morna 'Tempe De Caniquinha' de Sergio Frusoni, interpretada por Bana"]

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Nota de L.G.:

  

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6840: (Ex)citações (90): O nível das modalidades desportivas amadoras de Bissau tinha baixo nível e recorria aos militares ali estacionados (Rogério Cardoso)

1. Mensagem de Rogério Cardoso* (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), com data de 8 de Agosto de 2010:

Amigo Carlos
Depois de ler o P6831**, lembro o pequeno período de outras actividades desportivas.

Assim, depois de ler com atenção o referido poste de Nelson Herbert-USA sobre o futebol na época de 50/60 na Guiné, fez-me lembrar os anos 64/65, mais propriamente os meses de Março a Junho, curto período em que o BART 645-ÁGUIAS NEGRAS, permaneceu em Bissau com o "estatuto" de intervenção ao norte.

Nesse pequeno período, os nossos militares eram assediados diariamente para fazerem parte de diversas modalidades desportivas, mais propriamente para o SPORTING CLUB DE BISSAU, SPORT BISSAU E BENFICA, UDIB, etc.

Para os que estiveram em Bissau nessa altura, recordam-se que o nível desportivo era muito baixo, mais precisamente nas modalidades chamadas pequenas, como andebol, basquetebol e hóquei em patins.

Como exemplo posso contar da minha participação no andebol sportinguista, não sendo eu um praticante de valor, assim como outros elementos da Cart 643, em que com alguma facilidade num jogo de carácter particular, claro pelo Sporting, vencemos o Benfica que tinha sido no ano transacto campeão da Província da Guiné.

Outra modalidade em que elementos dos Águias Negras participaram, foi a de hóquei em patins, não me lembro por qual dos clubes.

Claro que os clubes "viviam" à custa dos militares estacionados em Bissau, hoje eram boas equipas ganhadoras, amanhã eram vencidas com facilidade.

Houve momentos em que os jogadores convocados, eram à ultima da hora substituídos, quando haviam, por terem sido chamados para uma eventual saída, claro que o desequilíbrio provinha desse facto.

E para finalizar, lembrei-me agora de um jogador de basquete, que salvo erro jogava na UDIB, de nome Canhão, era um excelente jogador e marcador, tinha sido no ano anterior o melhor marcador do campeonato, em que era o de menor altura, talvez 1,65m.

Um grande abraço a todos os camaradas da Guiné.
Rogério Cardoso
ex-Fur Mil
Cart 643-Águias Negras

Guiné-Bissau > Bissau > s/d (pós-independência > Campo de jogos de Bissau (antigo estádio Sarmento Rodrigues) > Um jogo de futebol, sob a bandeira da nova República, duas equipas locais, com equipamentos de clubes portugueses (Benfica e Sporting). Foto de autor desconhecimento.
Imagem: Gentilmente cedida por Nelson Herbert / Maria da Conceição Silva Évora
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 5 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6830: Em busca de... (138): Procuro o ex-Fur Mil Carvalho ferido numa emboscada, em meados de 1965 no Gabú (Rogério Cardoso)

(**) Vd. poste de 6 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6831: (Ex)citações (71): Futebol e nacionalismo nos anos 50/60 (Nelson Herbert)

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6831: (Ex)citações (88): Futebol e nacionalismo nos anos 50/60 (Nelson Herbert)


Guiné-Bissau > Bissau > s/d (pós-independência > Campo de jogos de Bissau (antigo estádio Sarmento Rodrigues) > Um jogo de futebol, sob a bandeira da nova República, duas equipas locais, com equipamentos de clubes portugueses (Benfica e Sporting). Foto de autor desconhecimento.

Imagem: Gentilmente cedida por Nelson Herbert / Maria da Conceição Silva Évora


1. Comentário, com data 2 do corrente,  do Nelson Herbert,  ao poste P6815 (*):

"Apareceram também clubes de futebol como o Sport Lisboa e Benfica, 'por iniciativa de alguns nomes conhecidos da sociedade portuguesa, Gama das Construções [Gama] Lda, Pimenta do Cadastro, Casqueiro, etc.' e o Sporting Club de Bissau, 'sob a égide de Eugénio Paralta, irmão Zé Paralta, Chico Correia'... A UDIB já existia, diz-nos Cadogo Pai. No entanto, o desemvolvimento do futebol, 'trouxe mais um bafo de rivalidades, olhando a situação dos jogadores caboverdianos , importados pelo Benfica, que, para os atrair, os adeptos bem colocados, tinham que lhes oferecere bons empreegos. Bons rapazes, no fundo, Antero, os sinais [?] Tcheca, Marcelino Ferreira (Tchalino), etc." (1ª Parte, p. 6).

Caro Luis

A origem das equipas de futebol da Guiné é, por sinal,  uma das tematicas que há meses vinha eu já ensaiando propor a "debate" e [pedir] contribuições ao blogue...Sobre esta temática tenho eu recolhido alguns testemunhos, por incentivo do meu próprio progenitor... por sinal da leva dos futebolistas caboverdianos que povoaram o meio desportivo guineense da época. Alias, modalidade-rei, com a qual os caboverdianos estavam em certa medida familiarizados, através dos ingleses, que pelas passagens pelo Porto Grande da Ilha de São Vicente, introduziram o futebol e o "cricket"...Quanto a este último facto curioso, nos demais territorios "ultramarinos" de Portugal, foi o único onde a modalidade pegou e conserva ainda alguns resquícios da sua práctica.

Dessa "hegemonia" de futebolistas caboverdianos - Antero, Marcelino (Gazela),  Armando Lopes (Búfalo Bill , meu pai), Tcheca, Júlio Almeida (referenciado como um dos fundadores do PAIGC), na sua maioria atletas do Sport BISSAU e Benfica e da UDIB (caso do meu pai que,  "importado" de Cabo Verde, inicia a sua carreira na UDIB,transferindo-se anos mais tarde para o Benfica de Bissau), houve na época a necessidade de se contrabalançar...essa então "primazia" de futebolistas das ilhas, pelas razões  já expostas acima... 

E seria pois com base nesse pressuposto que nasceria o Sporting Club de Bissau (clube de que fui futebolista junior, apesar da minha paixão clubística pela UDIB)...outrora Império... e na qual militaram numa primeira fase da sua fundação, e na sua quase totalidade, futebolistas originários da Guiné. 

"Caboverdianos" do Sporting viriam depois... e entre os nomes sonantes dessa época, cito aqui o nome de "Djinha" Almeida...

Por iniciativa dos irmãos Paralta,e de mais um lote de futebolistas, de novo, na sua maioria caboverdianos, que,  na época do defeso do campeonato provincial, praticavam o ténis nos adstritos courts do então estádio Sarmento Rodrigues, nasceria a ideia de fundação estariam envolvidos do Tenis Club de Bissau...

Eis pois aqui uma proposta de "debate" e de recolha de testemunhos de que o Blog...tem sido proficuo...
Por exemplo, que papel teve a "tropa" na sustentabilidade do futebol na Guiné, pelo menos a nivel das equipas do interior do pais, algumas que com inicio da guerra deixaram de ser parte do campeonato provincial da Guiné.

Entretanto, relativamente à participação das equipas do futebol guineense, incluindo a própria selecção provincial, nas competições regionais africanas da época... Bobo Keita, um hist+rico comandante da guerrilha e talentoso futebolista guineense, entretanto ja falecido, recordou em tempos,  em entrevista por mim conduzida, o seu primeiro contacto com a ideia da necessidade da emancipação do homem africano...Aconteceu pois aquando de uma digressão da selecção provincial da Guiné ao Ghana de Kwame Nkrumah...

Mantenhas
Nelson Herbert
USA 

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(**) 4 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6827: (Ex)citações (70): O direito de um velho colon a ter um ponto de vista um tanto reaccionário (António Rosinha)