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sexta-feira, 23 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2874: Um dia na Ilha do Como: Operação Tridente, Fevereiro de 1964 (Valentim Oliveira)

Um dia passado na ilha do Como

Texto e fotos do Valentim Oliveira, Soldado Condutor da CCav 489/BCav 490:



Mensagem do Valentim Oliveira, de 1 de Maio

Caro amigo Virgínio,


Conforme o prometido mais uma vez me dirijo à nossa casa virtual, a Tabanca Grande, para que através desta majestosa camaradagem possa dar mais algumas notícias minhas.

Hoje vou escrever um pequeno comentário de uma passagem ocorrida na Operação Tridente, na Ilha do Como.

Estávamos no mês de Fevereiro de 1964, o dia não o tenho memorizado, mas tenho a convicção certa que o mês era Fevereiro. Estive antes acampado junto ao mar, onde se encontrava o comando principal e a artilharia, ou seja, os obuses (canhões). De seguida eu e muitos mais seguimos para um acampamento distanciado mais acima; isto em Caiar.

O Valentim com um Camarada na praia de Caiar, ao Sol, no intervalo da Guerra do Como (ou Komo), em Janeiro ou Fevereiro de 1964.

Aí nos entrincheirámos nos abrigos subterrâneos em grupos de três, num descampado, lugar esse que eram terrenos de cultivação de arroz, junto à orla da mata. É claro que havia festa quase todos os dias, mas como as costureirinhas cantavam um pouco longe, nós até nem ligávamos muito aos zumbidos que passavam muito por cima de nós, e também se calavam logo assim que as granadas dos obuses começavam a cair em cima.

Mas houve um belo dia em que a sopa se entornou...As costureiras começaram a cantar e nós apenas nos limitámos a ouvir, quando de repente começamos a ser atingidos por granadas de morteiro. Felizmente nenhuma fez estragos em cima de nós, mas nos primeiros momentos deu para assustar. O tiroteio não foi longo, porque nós ripostámos de imediato, assim como a artilharia que se encontrava uns quilómetros atrás, junto ao mar.

Também estive nesse local quase a passar para o outro lado, com o paludismo. Valeu um heli, que três dias depois apareceu com medicamentos. Pronto, assim dito mais uma versão de um acontecimento passado na Guiné.

Um abraço para o comandante Luís, para ti e para o Vinhal e para todos os camaradas e amigos tertulianos.

PS: Junto envio duas fotos uma fardado e uma a civil para que se possível sejam inseridas na Tertúlia.

Valentim Oliveira
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Nota de vb:

artigos relacionados em

13 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2756: Tabanca Grande (62): 14 de Abril de 1965, domingo de Páscoa em Farim (Valentim Oliveira, CCAV 489 / BCAV 490, 1963/65)

10 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2745: Tabanca Grande (61): Apresenta-se o Valentim Oliveira da CCAV 489 / BCAV 490 (1963/65)

domingo, 13 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2756: Dia 14 de Abril de 1965, Domingo de Páscoa em Farim (Valentim Oliveira)

Mensagem do Valentim Oliveira, Soldado Condutor da CCav 489/BCav 490:

Caro amigo Virgínio


Hoje, dia 13 de Abril, e amanhã, dia 14, se a memória não me falha, vai fazer 43 anos que foi Domingo de Páscoa do ano 1965.

Foi um Domingo cheio de sol e também de rancho melhorado. Tenho a lembrança firme de que foi batata frita com BIFES EM LETRA GRANDE. Porque era muito raro aparecer uma coisa destas.
Estava nesta época em Farim, precisamente no local que servia de base à CCav 487 onde me instalei num canto da caserna juntamente com os meus colegas, Horácio, condutor 777, e o 783, o Pacheco.

Tudo correu na normalidade durante o dia. Claro que á noite não houve distribuição de rancho, mas como no rancho do meio-dia tudo foi avantajado, todos levaram um pouco mais para á noite continuar a festa. E a festa continuou.

Só de uma maneira diferente daquela que esperávamos. Precisamente já com o sol escondido a algumas horas, estávamos nós a saborear o resto dos bifes, quando fomos sobressaltados com explosões de granadas de morteiro 82, que neste caso o IN estava mais avançado, porque nós só tínhamos o 81.

O IN estava na outra margem do rio Cacheu. Felizmente as granadas começaram a cair uns 50 m à frente da caserna, mas houve duas que com a apontaria afinada rebentaram, uma em cima do posto de socorros e outra precisamente no canto esquerdo onde eu me encontrava, junto dos meus colegas Horácio e Pacheco.

Claro, todas as telhas a caírem e um grande estilhaço a passar entre nós e a fazer um grande furo numa mala que se encontrava encostada à parede. A que caiu no posto de socorros feriu um Furriel que agora não me lembra o nome e foi evacuado no outro dia para Bissau.

Responderam ao ataque o pelotão de morteiros que estava sediado a alguns 100m da margem do rio, juntamente com uma fragata de guerra estacionada no mesmo local.



Farim, edifício do comando do BCaç 2879 e anteriormente, entre outros, do BArt 733 e do BCav 490.
Fotos: © Carlos Silva (2008). Direitos reservados.

Antes da reacção das nossas tropas diversos locais foram atingidos, um deles o local onde estava instalado o comando do Comandante Ten Cor Fernando Cavaleiro. Valeu-lhe uma grande mangueira, que estava na frente do edifício onde rebentaram as granadas.
Esta é uma das passagens tristes que vivi na Guiné, mas muitas outras tenho para escrever.

Também quero dizer ao nosso amigo e camarada Teixeira, que a parte romanesca como ele terminou com a Fanta Baldé é de louvar, porque só pessoas com civismo e respeito pelos Valores Humanos, assim o fazem. UM ABRAÇO, TEIXEIRA!

Virgínio, já me pronunciei, que não estive em Cuntima, mas passei por diversos lugares da região de Farim.

Eu era soldado condutor 784/63 da CCav 489/BCav 490 e passei para a CCS, para condutor do Oficial de transmissões, Alferes Pires. Se alguém souber o contacto deste camarada, agradecia que mo dessem.

Um abraço para o comandante Luís, para ti e para o Vinhal e todos os que fazem parte da TABANCA GRANDE.

Até breve,

Valentim Oliveira

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Nota de vb: artigo relacionado em
10 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2745: Tabanca Grande (61): Apresenta-se o Valentim Oliveira da CCAV 489 / BCAV 490 (1963/65)

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2745: Tabanca Grande (61): Valentim Oliveira da CCAV 489 / BCAV 490 (1963/65)

1. Mensagem do Valentim Oliveira, de 8 de Abril de 2008


Camarada Luís Graça:

É com muita admiração que leio todas as Histórias escritas por ti e por todos os outros camaradas que participaram na GUERRA DA GUINÉ.

Também sou veterano da mesma Odisseia: era da CCAV 489 do BCAV 490. Participei na grande Operação Tridente, na Ilha do Como.

Segui para Farim, onde por toda aquela zona muitas coisas boas e más se passaram. Também passei no inferno de Guidaje. Como tal também tenho muitas Histórias boas e más para escrever.

Peço permissão para entrar como membro da equipa dos Camaradas da Guiné.

Um grande abraço,
Valentim Flor Oliveira

PS - Por favor coloca esta minha mensagem no blogue.


2. Comentário do co-editor Virgínio Briote:

Caro Valentim,

Chamo-me Briote e fui Alf Mil da CCAV 489. Fui substituir um Camarada (do 3º Pel?) que foi evacuado para Lisboa.

O Cmdt da CCAV 489 era o Cap Pato Anselmo até ser substituído pelo Cap Mil Tavares Martins, que esteve convosco até ao fim da vossa comissão.

Estive poucos meses em Cuntima. Cheguei lá em finais de Janeiro de 1965 e saí em Maio.

Infelizmente muitas das minhas fotos de Cuntima extraviaram-se, restam-me pouco mais de meia dúzia. Envio-te uma dos alferes da Companhia. O único que não está na foto é o Ferreira (o que tinha aspecto de indiano), que talvez estivesse de férias.



Na estrada que vinha do Senegal e atravessava a povoação de Cuntima (mais tarde conhecida pela Avenida do Senegal), a fotografia dos oficiais da CCAV 489. Da esq para a dir, o Adilson, o médico Dr. Lourenço (açoreano da Terceira), o Cap Pato Anselmo (mais tarde tornado famoso por se ter rendido em 25/4 ao Cap Salgueiro Maia, com os carros na Baixa lisboeta), eu e o outro alferes maçarico (que era assim que se chamavam na altura os recém-chegados), chamado Carvalho.
Foto: © Tantas Vidas, Blogue de Virgínio Briote, Lisboa (2008). Direitos reservados.


Há distância de 43 anos, alguma destas figuras não te devem dizer muito. Eu e o meu pelotão dormíamos no celeiro, em frente à casa do capitão, do rádio e do posto de socorros.

Ficamos à espera das tuas histórias, das boas e más e das fotos que talvez ainda guardes. Sê bem vindo a à nossa tertúlia, em meu nome e dos restantes editores, Luís Graça e Carlos Vinhal, e dos demais amigos e camaradas da Guiné que formam este blogue.

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Notas de vb:

1. Estive há duas semanas com o Cor Cavaleiro, está com 91 ou 92 anos e com a cabeça em muito bom estado.

2. Batalhão de Cavalaria nº 490:

Sob o comando do Ten Cor Fernando Cavaleiro, o Batalhão integrava a CCS e as CCAV 487, 488 e 489. Arrancou de Estremoz, do RC 3, com a divisa "Sempre em Frente".

A estadia na Guiné iniciou-se em Julho de 1963 e a comissão foi dada como finda em Agosto de 1965.

Da actividade operacional, destaca-se a participação na Op Tridente (Ilha do Como/Komo), uma das maiores operações militares efectuadas pelas tropas portuguesas em territórios então designados como ultramarinos.

Mas a acção do Batalhão não se resumiu a essa operação. Após o desembarque, com base em Bissau, desenvolveu várias acções na zona do Oio. Partiu para as Ilhas do Como, Caiar e Catunco em 14 de Janeiro de 1964 e só de lá saiu quando a acção foi dada por terminada, em 24 de Março de 1964.

Passou então à quadrícula. Em 31 de Maio do mesmo ano assumiu a responsabilidade do sector de Farim, que compreendia os subsectores de Cuntima, Jumbembem, Bigene e Farim e a partir de 29 de Junho o de Binta.

Em 25 de Março de 1965 preparou-se para ocupar Canjambari (que estava dentro do sector à sua responsabilidade e que na altura estava totalmente nas mãos da guerrilha). Foi uma acção violenta, com flagelações contínuas e a ocupação, apesar da vasta experiência das tropas do Batalhão, só se deu por concluída em 31 de Maio de 1964.

Entre outras, nas operações Jocoso, Vouga e Invento foram capturados não só guerrilheiros e subtraída população ao IN, como também apreendidas significativas (na altura) quantidades de material de guerra (1 ML, 19 PMs, 36 Espingardas Simonov e outras, 10 minas e cerca de 10.000 munições), numa época em que o PAIGC estava a fazer todos os esforços para o introduzir na zona Norte, em particular o Oio, utilizando para isso todo o chamado corredor de Sitató, que partia do Senegal, atravessava Canjambari e ia até Morés, donde irradiava para toda a zona limítrofe.

Em 15 de Junho foi substituído no sector pelo BART 733 (Cmdt Ten Cor Glória Alves), tendo recolhido a Brá, onde ficou alojado até à data de regresso à metrópole.

Fonte: Extracto da História do Batalhão de Cavalaria 490