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quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13819: Tabanca Grande (450): Jéssica Nascimento, neta do nosso camarada Luís Nascimento, nossa novel Grã-Tabanqueira 670

1. Convite do nosso editor Luís Graça, feito no Poste 13752 à Jessica para fazer parte da nossa tertúlia:

A Jessica Nascimento, que vive em Viseu,  é neta do Luís Nascimento (ex-1.º Cabo Cripto na CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71) e sua "secretária particular" (, é ela que nos manda, através do seu email,  a correspondência do avô). Veio ontem, na 23.ª  hora, perguntar-nos se podia utilizar o blogue para fazer uma surpresa ao "melhor avô do mundo"...

Claro que pode, e deve, já que ela é também seguramente a "melhor neta do mundo"... E como os netos dos nossos camaradas nossos netos são, a Jessica já há muito conquistou o direito de se sentar à sombra do poilão da nossa Tabanca Grande... Ela é um exemplo para os filhos e netos dos nossos camaradas, antigos combatentes.

Basta mandar-nos uma foto sua (, que a gente não a conhece de vista nem de foto) , e dizer que aceita o o nosso convite.

Peço-lhe, à Jéssica, que mande, em meu nome pessoal, um alfabravo fraterno para o seu avô... que foi comigo para o TO da Guiné, no T/T Niassa, em 24/5/1969, e voltou para casa, também comigo, no T/T Uíge,  em 17/3/1971... fomos os dois, integrados nas respetivas companhias. Mas... nunca nos "encontrámos", até à data... (Quando um dia destes passar por Viseu, irei bater-lhe à porta...). Que tenha um grande dia, com saúde e alegria. (LG).


2. Mensagem da nossa nova amiga Grã-Tabanqueira Jessica Nascimento, com data de 20 de Outubro de 2014:

Boa noite,
Junto envio fotografia de Jéssica Nascimento para fazer parte da família do blogue de Luís Graça & Camaradas da Guiné, neta de Luis Nascimento.

Obrigada pelo convite :)
Um alfa bravo do meu avô.
Jessica Nascimento




3. Comentário do editor

Caríssima amiga Jéssica, muito bem-vinda a este grupo de ex-combatentes, e amigos tertulianos, na esmagadora maioria avôs.
Há muito que está famialiarizada com o funcionamento do nosso Blogue, não fosse o meio de contacto do seu avô Luís connosco. Tive o prazer de o conhecer, não há muito tempo, pessoalmente em Viseu. Na foto abaixo está o avô Luís, literalmente, no meio de uns quantos rapazes do seu tempo.

Viseu, RI 14, 21 de Junho de 2014 - Apresentação do livro "Quebo - Nos Confins da Guiné" de Rui A. Ferreira

Resta-me agradecer a sua disponibilidade pela missão de mensageira do avô Luís, e enviar-lhe muitos beijinhos de boas-vindas em nome de todos estes avôs, e algumas avós, com os votos de muitas venturas para a sua vida.

Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13764: Tabanca Grande (449): Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), tertuliano do nosso Blogue desde 8 de Junho de 2006, atingiu as 1000 entradas na nossa página (Luís Graça / Carlos Vinhal)

terça-feira, 24 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13327: Agenda cultural (326): Dia 21 de Junho de 2014, RI 14, Viseu; lançamento de "QUEBO - Nos confins da Guiné", livro de autoria de Rui A. Ferreira, TCor Ref (Carlos Vinhal)

1. No passado sábado dia 21 de Junho de 2014, no Regimento de Infantaria 14 de Viseu, pelas 10 horas da manhã, já muitos ex-combatentes da CCAÇ 1420, CCAÇ 18 e ex-militares que passaram pelo RI 14, assim como muitos dos seu familiares, se concentravam na Parada para assistirem ao lançamento do livro de Rui Alexandrino Ferreira, Quebo - Nos confins da Guiné.

Na Parada do RI 14, entre os presentes alguns elementos da CCAÇ 18 comandada pelo ex-Capitão Rui Ferreira. Do nosso Blogue, na foto vêem-se: Carlos Vinhal Leça da Palmeira), Vasco da Gama (Buarcos), Antero Santos (Avintes) e António Pimentel (Figueira da Foz)

RI 14 - Viseu - 21 de Junho de 2014: Neves Ferreira, Vasco da Gama, Carlos Vinhal, Luís Nascimento, Lima Santos, Miguel Pessoa e Belarmino Sardinha


RI 14 - Viseu - 21 de Junho de 2014 - O Antero Santos reencontrou dois camaradas da CCAÇ 18. Ao lado Luís Nascimento e Carlos Vinhal

O tempo que mediou até à abertura da sessão serviu para um convívio informal, cujo tema de conversa era o nosso Rui, como é tratado pela totalidade das pessoas que com ele se cruzaram na Guiné ou naquele Quartel.

Já muito perto das 11 horas surge o Rui, acompanhado por duas pessoas que o ajudavam a caminhar entre os presentes que de algum modo se queriam aproximar dele. Qual Cristiano Ronaldo, foi a custo que chegou à Mesa de Honra, sem que pelo meio tivesse que parar para abraçar quem dele se conseguia aproximar...


...como foi o caso do co-editor do Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, ali presente

O reconhecimento...

...e o abraço

Esperando não esquecer ninguém, o nosso Blogue estava representado pelos seguintes tertulianos: Antero Santos e esposa; António Pimentel; Belarmino Sardinha e esposa; Carlos Vinhal e esposa; Luís Nascimento; Manuel Lima Santos; Marques Almeida; Miguel e Giselda Pessoa; Valentim Oliveira; Vasco da Gama; Victor Barata e Xico Allen.

A sala estava repleta de assistentes que foram ouvindo atentamente os diversos intervenientes.

RI 14 - Viseu - 21 de Junho de 2014 - Vista parcial da sala completamente cheia

RI 14 - Viseu - 21 de Junho de 2014 - Miguel e Giselda Pessoa, e mais à direita, Antonieta e Belarmino Sardinha

RI 14 - Viseu - 21 de Junho de 2014 - Na assistência Dina Vinhal e Fernanda, esposa do Antero Santos

RI 14 - Viseu - 21 de Junho de 2014 - Em primeiro plano o nosso tertuliano Luís Nascimento

RI 14 - Viseu - 21 de Junho de 2014 - O camarada Vasco da Gama espreita o livro acabado de comprar. A seu lado o Antero Santos e o Xico Allen. Ainda perceptíveis, atrás, Belarmino Sardinha e esposa. 

RI 14 - Viseu - 21 de Junho de 2014 - Dois resistentes ex-combatentes da Guiné: TCor Rui Ferreira e Cor Pilav da FAP Miguel Pessoa

RI 14 - Viseu - 21 de Junho de 2014 - A Mesa era composta pelo representante do Comandante do RI 14; Major-Gen Pezarat Correia, amigo pessoal do Rui, que também apresentou o livro; Rui Ferreira, o autor, e pelo representante da Palimage, editora do livro

A sessão abriu com as palavras de boas-vindas em nome do Comandante do RI 14.

RI 14 - Viseu - 21 de Junho de 2014 - O representante da Pamilage salientou, na sua intervenção, que o TCor Rui Ferreira é um autor querido desta Editora, e que este seu segundo livro vai ser também um êxito. 

 RI 14 - Viseu - 21 de Junho de 2014 -  O Major-General Pezarat Correia durante a sua intervenção

O Major-General Pezarat Correia, que na Guiné foi superior hierárquico do agora TCor Rui Ferreira, na sua intervenção salientou a amizade que os une de há longos anos. Tinha sido convidado só uns dias antes, mas não podia recusar este pedido para falar do livro. Recordou momentos hilariantes, já que o Rui é um homem com um sentido de humor apurado, sempre pronto para pregar partidas a superiores e inferiores. Salientou as suas qualidades de combatente, aliadas a uma capacidade inata para o comando de homens, levando-os a cumprir com êxito as missões mais perigosas.

Do livro, disse sem rodeios que o que está escrito, tirando as possíveis e inevitáveis imprecisões próprias do tempo já passado, é o retrato de uma comissão de serviço, à frente da CCAÇ 18, numa zona difícil (Quebo / Aldeia Formosa), numa altura em que a guerra da Guiné começava a agudizar-se.

Seguiram-se diversas intervenções a cargo de ex-militares da CCAÇ 1420, onde o Rui serviu como Alferes, nos anos de 1965 a 1967; da CCAÇ 18, comandada pelo Rui, então Capitão, nos anos de 1970 a 1972, e do RI 14, onde o Rui serviu como Tenente-Coronel.

Houve momentos de grande emoção quando se lembrava as qualidades humanas do autor do livro, e de boa disposição quando eram lembradas as patifarias que este homem protagonizava. No desporto, no aspecto social, na dedicação aos homens que comandava, a ponto de ser padrinho de casamento de não se sabe de quantos. Relataram-se factos que dignificaram o combatente, o comandante, o camarada e o homem que foi e é o Rui.

RI 14 - Viseu - 21 de Junho de 2014 -  O Rui quando agradecia as palavras que lhe foram dedicadas

Por último falou o Rui. Uma intervenção cheia de humor e emoção.
Estranhou que entre tantos amigos que tomaram a palavra, só lhe tivessem dedicado elogios, e embora ele tivesse pedido para não dizerem muito mal dele, nem um lhe descobriu um defeito, só qualidades.

Agradeceu as palavras a ele dedicadas, ressalvando ter sido esta a derradeira manifestação pública a que se submete, já que a sua debilitada saúde não permite tantas emoções. As pessoas ali reunidas por sua causa deram-lhe uma alegria enorme. Camaradas de todas as patentes e classes, de todos os tempos e locais por onde passou, estiveram a seu lado no lançamento do seu segundo livro.
Salientou que o RI 14, onde estávamos reunidos, será para sempre a sua Unidade, a sua segunda casa, onde cada camarada é pelo menos um amigo, senão mesmo um membro da família.

Por que a saúde do Rui não permitiria o esforço suplementar de uma sessão de autógrafos, o livro tem uma dedicatória e a assinatura impressa.

Assim, passou-se para a sala de jantar onde nos esperava um excelente almoço.
Entradas variadas, sopa, Rancho (muito bem confeccionado), fruta e doce, acompanhado de bom vinho.

Havia muita animação ao fundo da sala porque o rei da festa estava bem disposto. Não há fotos do almoço porque tendo sido servido de pé, não dava muito jeito fazê-las.

Cerca das 15 horas foi o convívio dado por terminado.
Não temos dúvidas de que foi um dia memorável para o nosso Rui.

Texto de Carlos Vinhal
Fotos: Dina e Carlos Vinhal

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"QUEBO - Nos confins da Guiné"

Detalhes:
Autor: Rui Alexandrino Ferreira
Coleção: Imagens de Hoje
Género: Crónica de guerra (colonial)
Ano: 2014
ISBN 978-989-703-110-6
Idioma: Português
Formato: brochura | 368 páginas | 16 x 23 cm
PVP: 19 Euros


Descrição
“Há uma característica da liderança que considero o tempero decisivo capaz de conferir virtude a determinados atributos de comando que, sem ela, podem tornar-se excessivos e transformar-se em defeitos perversos. Refiro-me ao bom senso, o equilíbrio moderador que impede que a coragem resvale para temeridade gratuita empurrando os seus homens para riscos desnecessários, que evita que o culto da disciplina dê lugar ao autoritarismo desumano, que a tolerância resvale para o laxismo, que o gosto pela decisão rápida caia na precipitação, que o excesso de ponderação conduza à hesitação. O bom senso confere sangue frio nas situações de pressão emocional, presença de espírito quando à volta se instala a ansiedade. É uma virtude que, normalmente se adquire com a idade, com a experiência, com a dimensão da responsabilidade. Mas, apesar da sua juventude, o Capitão Rui Alexandrino Ferreira aliava ao seu entusiasmo contagiante uma notável dose de bom senso, o que lhe permitiu aplicar a sua coragem, o seu sentido de disciplina, o seu gosto pela decisão, na medida e no sentido convenientes. Não estou a fazer um elogio fácil. Não devemos nada um ao outro nem pretendemos nada um do outro. Estou apenas a registar uma opinião madura e consolidada, que é a minha”.
Pedro Pezarat Correia


Autor
Rui Alexandrino Ferreira nasceu no Lubango, Angola, em 1943. 1964 - Integra o último curso de oficiais milicianos que reuniu em Mafra a juventude do Império.
1965 - Rende, na Guiné-Bissau, um desaparecido em combate.
1970 - Frequenta o curso para capitão em Mafra, seguindo em nova comissão para a Guiné-Bissau.
1973 - Regressa a Angola em outra comissão.
1975 - Retorna a Portugal. 1976 - Estabiliza em Viseu, onde continua a residir.
É, ainda, autor do livro Rumo a Fulacunda, sobre a temática da Guerra Colonial, na Guiné, editado pela Palimage em 2000

(Com a devida vénia a Palimage)
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Nota do editor

Último poste da série de 18 DE JUNHO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13303: Agenda cultural (325): JERO e o "Verão Total" da RTP 1, amanhã, 19 de Junho de 2014, em Alcobaça (Miguel Pessoa)

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13306: Lembrete (4): Lançamento do livro "QUEBO - Nos confins da Guiné", de Rui Alexandrino Ferreira, dia 21 de Junho de 2014, pelas 10h30, nas instalações do Regimento de Infantaria 14, em Viseu

1. Convite do nosso camarada Rui Alexandrino Ferreira, TCor Reformado (ex-Alf Mil na CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67 e ex-Cap Mil, CMDT da CCAÇ 18, Aldeia Formosa, 1970/72), para assistir ao lançamento do seu livro "QUEBO - Nos confins da Guiné", que se reporta à comissão de serviço por si cumprida na naquela ex-Província Ultramarina como Capitão Miliciano e Comandante da CCAÇ 18.

O evento realiza-se no próximo dia 21 de Junho de 2014, sábado, às 10h30, nas instalações do Regimento de Infantaria 14, em Viseu, seguido de almoço para quem se inscreveu previamente.

Aqui fica a notícia, especialmente para aqueles que morando na zona centro do país e se possam deslocar a Viseu, o façam para abrilhantar este momento de alegria do nosso camarada e amigo Rui e para lhe dar um abraço. Como ele próprio afirma na sua carta aberta, está a atravessar um período menos bom da sua saúde pelo que a presença dos amigos será algo que o reconfortará. 



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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13175: Lembrete (3): Lançamento do livro "O Corredor da Morte", de Mário Vitorino Gaspar, 22 de maio, às 17h30, no Forte do Bom Sucesso, Belém, Lisboa, com apoio da Liga dos Combatentes e da associação APOIAR

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13211: Agenda cultural (319): Lançamento do livro "QUEBO - Nos confins da Guiné", pelo TCor Rui Alexandrino Ferreira, dia 21 de Junho de 2014, pelas 10h30, no Regimento de Infantaria 14 de Viseu

1. Pelo correio tradicional, em papel, recebi hoje, do nosso camarada Rui Alexandrino Ferreira, TCor Reformado (ex-Alf Mil na CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67 e ex-Cap Mil, CMDT da CCAÇ 18, Aldeia Formosa, 1970/72), uma "Carta aberta aos amigos", que se reproduz abaixo, assim como um convite para assistir ao lançamento do seu livro "QUEBO - Nos confins da Guiné", que se reporta à comissão de serviço por si cumprida na naquela ex-Província Ultramarina como Capitão Miliciano e Comandante da CCAÇ 18.

O evento realiza-se no próximo dia 21 de Junho de 2014, sábado, às 10h30, nas instalações do Regimento de Infantaria 14, em Viseu, seguido de almoço para quem se inscrever previamente.

Aqui fica a notícia, especialmente para aqueles que morando na zona centro do país e se possam deslocar a Viseu, o façam para abrilhantar este momento de alegria do nosso camarada e amigo Rui e para lhe dar um abraço. Como ele próprio afirma na sua carta aberta, está a atravessar um período menos bom da sua saúde pelo que a presença dos amigos será algo que o reconfortará. 





2. Em Agosto de 2013 foram publicados três postes referentes ao depoimento do Major-General Pezarat Correia* insertos no I Capítulo do livro "QUEBO -  Nos confins da Guiné"
Como consta no Convite, o livro vai ser apresentado por este Oficial General.

(*) Vd. postes de:

10 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10249: Bibliografia de uma guerra (60): Primeiro Capítulo do próximo livro "Quebo", de Rui Alexandrino Ferreira (1): Mais que um superior hierárquico um amigo de eleição - Pezarat Correia

11 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10253: Bibliografia de uma guerra (61): Primeiro Capítulo do próximo livro "Quebo", de Rui Alexandrino Ferreira (2): Primeira parte do depoimento do Major General Pezarat Correia (1)
e
12 DE AGOSTO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10255: Bibliografia de uma guerra (62): Primeiro Capítulo do próximo livro "Quebo", de Rui Alexandrino Ferreira (3): Primeira parte do depoimento do Major General Pezarat Correia (2)
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Nota do editor

Último poste da série de 27 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13198: Agenda cultural (318): Lançamento do livro "Militares e política: o 25 de Abril" (organizado por Luísa Tiago de Oliveira) - 28 de Maio, 18h, ISCTE-IUL, Edifício II, Auditório B203

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13015: 10º aniversário do nosso blogue (15): Manuscrito(s) (Luís Graça): O país que via passar os comboios (Ilustração de Joana Graça)

O país que via passar os comboios

por Luís Graça


14:13h. Coimbra B.
Estação da CP.
Deprimente.
Como todas as estações B do mundo.
Como todas as estações da CP.
B, de 2ª classe.
B, segunda letra do alfabeto.
Como todas as estações da CP 

urbanas, suburbanas e rurais.
Deprimentes.
Todas as estações de caminho de ferro do mundo 

são deprimentes.
Abro talvez uma exceção para os apeadeiros.
São bonitos, os apeadeiros.
Ou eram bonitos os apeadeiros da CP,
quando havia o cavador, 

o burro, 
o boi, 
a charrua,
o camponês, 

o zé povinho, camponês e burro,
besta de carga, carrejão.
A horta, a saída direta para os campos.
As hortas.
Ah!, e os azulejos azuis e amarelos Viúva Lamego
nas quatro estações do ano!
O termo apeadeiro enternece-me,
faz-me lembrar os tempos em que se ia às hortas.
Eu já não sou desse tempo.
Mas os alfacinhas iam às hortas dos saloios:
Benfica, Porcalhota, Pontinha, Sintra, Caneças, Colares ...
Faziam piqueniques,
cantavam o fado da desgraçadinha

e no fundo eram felizes.
Gosto do termo apeadeiro.
E da ideia de ir passear às hortas.
Em família, aos domingos, de comboio.
Ronceiro, o comboio.
Ronceira, a vida da gente.
Li isso algures numa história qualquer sobre os comboios
que unificaram o país de norte a sul.
Há uma dívida de gratidão 

que é devida aos comboios.
E aos homens dos comboios.
E aos engenheiros das estradas e pontes.
E aos operários que as construíram.
Ao zé povinho da cidade e dos campos.
Ao engenho e à obra.
Ao Fontes.
Ao Pereira.
Ao Melo.
Ao fontismo.
Ao positivismo.
Ao génio organizativo.
Mesmo que a minha professora
de Sociologia Histórica das Classes Laboriosas,
discípula do E.P. Thompson,
só gostasse dos corticeiros.
Que eram anarcossindicalistas.
Sempre suspeitei que ela não gostasse dos cavadores.
Nem de comboios.
Nem de hortas.
Nem do Fontes.
Nem dos ferroviários,
Nem dos camponeses e dos burros e dos bois.
Naquele tempo parava-se em todas estações e apeadeiros.
E havia tempo, 

não havia pressa.
Não havia stresse naquele tempo.
Colhiam-se papoilas vermelhas no meio do trigo.
Não havia tempo para se ter stresse.
Morria-se cedo.
Ou nascia-se tarde,
sem tempo de ver crescer filhos e netos.
O stresse é uma construção social do meu tempo.
E não havia bombas nos comboios.
Ao alcance de um qualquer toque de telemóvel,
da Nokia, da Samsung ou da Siemens, tanto faz,
que as novas tecnologias quando nascem 

(não) são para todos!
Ou talvez houvesse stresse
mas chamavam-lhe outra coisa.
Afinal, essa coisa é tão velha como a vida.
E morria-se cedo naquele tempo.
A esperança média de vida é um artefacto estatístico.
E há sessenta e tal anos, na França ocupada,
os ferroviários também punham bombas.
Nas linhas de caminhos de ferro.
Matavam os seus postos de trabalho
em nome da liberdade.
Punham bombas para fazer descarrilar os comboios.
Sabotagem. 

Resistência ao ocupante nazi.
Hoje seriam caçados como terroristas internacionais.
Não sou ferroviário 

nem resistente 
nem terrorista.
Nem sequer anarcossindicalista.
Estou numa estação deprimente.
Coimbra B.
Coimbra merecia, pelo menos, uma estação A.
Este país, bom aluno da Europa, 

devia merecer uma letra A.
Nem que fosse Coimbra A.
Ouço uma voz gritante.
Alfarelos. 

Com paragem não sei onde.
Nunca soube, ao certo, onde fica Alfarelos.
É algures no meu país profundo.
Assim como Freixo de Espada à Cinta 
que ninguém conhece.
Não, vim de boleia.
Muito obrigado.
De Viseu.
Aguardo o Alfa Pendular para Lisboa.
Aliás, Lisboa SA.
Deve chegar às 15:16h.

── Lisboa, Santa Apolónia ?
── Não, Lisboa, Sociedade Anónima! 
──
corrijo o portuga por detrás do guiché.
── Não, não quero Santa Apolónia.
Quero a Estação de Lisboa Oriente.
E depois... o que diria o Zé (Cardoso Pires)!
── Lisboa, SA!
Pergunta o portuga, caixa de óculos,
por detrás do bunker envidraçado,
que fala em nome da CP de todos nós.
── Conforto ou turística ? ──
olhando para mim, 
como se quisesse me tirar as medidas.
Ou adivinhar a minha secreta conta bancária.
── 2ª classe, se faz favor!
── Turística.... 2ª classe, por defeito.
Para quem não ostenta sinais exteriores de riqueza.
Classe B.
E eu a pensar ingenuamente que já não havia 2ª classe.
Comboios de 2ª classe.
Gente de 2ª classe.
País de 2ª classe no desconcerto das nações.
(Ah!, meu velho José Rodrigues Miguéis,
e a tua, nossa, gente de 3ª classe
nos porões nauseabundos dos cargueiros
que rumavam às Américas da Liberdade!).
Devo ter percebido mal.
Os comboios e a CP também se democratizaram.
Agora só há conforto e turística,
no Alfa Pendular de todas as emoções e condições.
O Portugal SA já não é mais classista.
Para ter classe basta ter dinheiro no multibanco,
minha querida professora.
Mas, mais seguro, é no cofre forte da Suiça 
ou num off shore qualquer.
É o que se chama mobilidade social total.
Fugir à condição de besta de carga.
── Vê-se mesmo que o senhor 
é um utente acidental da CP,
já não há 2ª classe.
── Sou um mau utilizador do comboio, 
peço desculpa ──
Comprei um bilhete de 2ª classe.
17 euros, IVA incluído à taxa de 5%.

Apeteceu-me dizer-lhe:
── O senhor, desculpe, 
mas eu sou fã dos comboios.
Tenho uma dívida histórica 
para com os comboios,
que unificaram o meu país.
Pode não ser seu, mas é meu.
Tenho orgulho nele, o meu país.
E tinha que lhe dizer isto.
Vou para Lisboa, SA, 

capital do reino que já foi império,
desço na Gare do Oriente...

Tenho tempo.
Ou penso que tenho tempo.
Nada como esperar um comboio
numa estação de tipo B, Coimbra B
para saber o que é isso de ter tempo.
É bom ter tempo.
Uma hora de avanço.
Nada de stresse.
Não penses na morte.
Que o stresse mata, 
como uma bala de Kalash.
Peço uma sandes manhosa no bar da esquina.
Bebo uma topázio que é uma cerveja local.
Compro o Zé Cardoso Pires no quiosque.
A república dos corvos.
Um livro de contos.
Jornal Público.
Colecção Mil Folhas, ao preço de hipermercado.
Redescubro o meu velho Dinossauro Excelentíssimo,
que li na revista Almanaque, se bem me lembro.
Deambulo no cais de embarque
como o prisioneiro no pátio da prisão.
E leio a única coisa interessante
que está afixada numa das paredes da estação de Coimbra B.
Alguém ali mandou afixar,
creio que em bronze (sou mau em metais),
o seguinte:
"Neste cais da estação de Coimbra, embarcou,
no dia 15 de Maio de 1982, Sua Santidade,
o Papa João Paulo II".

O artista não quis desqualificar a estação nem a cidade.
Coimbra B ?,
O que diria a corte papal! 
Os grandes deste mundo!
E os turistas que visitam a cidade dos doutores!
E os vindouros!

Que mais vale um ano de tarimba
do que dez de Cloimbra ?!
Nem pensar.
Por isso lá fica a tabuleta. 
Para a história.
Para o viajante distraído, apressado ou deprimido como eu.
Ou se calhar para ninguém.
Só para a História.
Afinal, quem lê neste país placas de bronze
afixadas em estações B da CP ?
Aliás, quem lê neste país, 
perguntaria a minha querida professora ?
Histórias aos quadradinhos
mas não a História com H grande.
Um dia um arqueólogo, um historiador ou um antiquário
desaparafusa a placa 

e leva-a para casa,
para o museu 

ou para a loja de antiguidades.
Não, nada acontece em Coimbra B.
Mas por aqui passou um peregrino.
João Paulo II. 
Um dia, em 1982.
Por aqui passou Jesus Cristo,
na pessoa do seu representante na terra.
Sou mau em metais e em teologia,
mas esta é a minha leitura.
Que me desculpem os escribas mais doutos do que eu.
Que me desculpem os lentes de Coimbra.
Chega o Alfa, just in time, à tabela,
como na linha de montagem automóvel pós-taylorista 

da Auto Europa.
Entro no Alfa e sinto-me quase europeu
na ponta mais acidental da Europa ocidental.
Com o lusitano Mondego aqui ao lado.
Admiro a eficiência das sociedades pós-tayloristas e cosmopolitas.
A nossa nunca chegou a conhecer o sr. Taylor
nem os seus principles of scientific management.
Nem a ética protestante nem o alemã Max Weber.
Provinciana e ronceira, a tua terra,
lá diriam o Eça e a minha professora,
que é queirosiana e estrangeirada.
Acelera o Alfa

E bate o meu coração.
Tenho um secreta vertigem suicidária pela alta velocidade.
Dou por bem empregues os meus 17 euros,
IVA incluído à taxa de 5%.
Isto faz bem à minha autoestima.
Sobretudo depois da sandocha manhosa e da topázio morna
que engoli, de pé, 

ao balcão do bar manhoso
da estação deprimente de Coimbra B.
── Quanto vai dar ?
── Chega aos 200 ou mais! ──
diz-me um puto de brinco na orelha...
Não apostei. 
Nem gosto de apostas mútuas.
Deixei de ser solidário, 
que me desculpe a Santa Casa da Misericórdia.
── Umas cartas para passar o tempo ?
── Não, obrigado, não jogo, não aposto, não fumo.
Tenho livros para ler. 
──
Abranda o Alfa,
lá para os lados da Albergaria dos Doze.
Regresso à idade média da minha memória coletiva.
O caminho de Santiago. 
As albergarias.
Já em terra dos mouros.
La folie meutrière de la réligion.
A tua, a minha.
Deus é grande e tem muitos profetas.
São bons hortelãos, os mouros e os moçárabes.
── Chega à tabela. 
Dezassete e seis na Estação do Oriente ──
diz-me o pica, orgulhoso.
── Até que enfim que os comboios partem 
e chegam à tabela,
na nossa terra.
Fico sempre com inveja 
quando vou a Amesterdão e a Leiden.
Quando ia à Holanda, que agora já não vou.
Quero dizer, ao estrangeiro de fora.
── Já não te calha na rifa, ó Ramalho!,
agora são vinte e cinco cães a um osso, 
ó Ortigão!
── Vai desejar tomar alguma coisa ? ──
pergunta no futuro próximo o homem-do-chá-café-laranjada...
── Um Prozac, por favor.
── Lamento, mas já não temos. Esgotou-se.
── Sim ?
── Esgotou-se na última viagem que fizemos ao inferno.
11 de Março último. Estação de Atocha.

── Atocha ?
── Sim, Atocha, Madrid...Não lê os jornais ?
── Não, acabo de chegar doutro planeta.
── En Madrid existen dos estaciones principales de tren:
Chamartín y Atocha.
Ambas son estaciones de trenes 
de largo recorrido y de cercanías...
── Muchas gracias!, não sabia.
Não vou a Madrid há anos. 
Estou de costas viradas para a Europa.
── Atocha está situada en la zona sur de la ciudad,
muy cercana al centro.
Desde ella salen todos los trenes de largo recorrido
que van a levante y al sur de España.
También algunos trenes de los que pasan por la estación
se dirigen luego a Chamartín
y luego a destinos en la mitad norte de la península.
Dentro de la estación hay otra estación,
llamada Puerta de Atocha
desde donde sale el tren de alta velocidad (AVE)
que va a Andalucía.
..
── Muchas gracias! Vejo que é um homem lido e viajado.
── Só faço a península ibérica.
── Ah!, a jangada de pedra...
── Perdão ?!... 

Sabe, nasci no Entroncamento,
Filho e neto de ferroviários.
Os comboios estão-me na massa do sangue...
Mas a Espanha para mim é pura emoção.
Uma tragédia horrível, aquela..
.
── E não tem medo do futuro dos comboios ?
── Não... Sabe, com os aviões passou-se o mesmo.
Enfim, um homem tem que ganhar a vida. 
De qualquer jeito.
── Deixe, a vida continua... 
As bombas explodem...
As guerras passam.
Olhe, já agora dê-me um compal de maçã.

Fico sempre deprimido quando tomo o comboio.
Ou quando parto.
Ou penso em bombas nas casas de banho
das carruagens dos comboios.
Ou quando bebo compal de maçã.
Não sei por que pedi o raio do compal.
Reflexo condicionado. 
Empatia. 
Compaixão.
Que é coisa rara, tomar o comboio.
E pensar em bombas.
E ter empatia.
E beber compal.
Houve um tempo em que pensava em minas.
Anticarro. 
Antipessoais.
Minas. 
Bailarinas. 
O ballet da morte.
Nasci numa terra onde não passavam comboios.
É um estranho sentimento, esse,
que me acompanha desde pequeno.
Mas o compal de maçã até é bom.
É português, é nosso.
E dizem que vale mais do que uma chávena de café.
Para te tirar o sono.
Antes de partires às 3 da manhã,
para a Ponta do Inglês.
── Ponta do Inglês ?!... 

Já sei, saíste cedo da casa de teus pais,
Ainda menino e moço!
── É a voz do sangue,
o meu lado de marinheiro que nunca fui.
Em boa verdade, detesto os entroncamentos.
Rodo ou ferroviários.
As picadas. 
Os trilhos.
Detesto o Entroncamento.
Da primeira vez que lá passei.
Meia de dúzia de casas mal caiadas,
uma feixe de linhas,
cheiro a óleo, a mijo e a sucata.
Mas tenho a nostalgia dos cais de embarque.
A nostalgia do mar e da maresia.
Uma palavra que mexe comigo.
Cais. 
Cais de embarque.
Cais de partida.
Niassa. 
Rocha Conde de Óbidos.
Num comboio que veio da noite, silencioso e triste.
Do Campo Militar de Santa Margarida.
Destino: Lisboa.
Com carga para outro destino: Bissau.
Mercadoria=carne para canhão,
alguém escreveu, a spray,
um grafito na última carruagem.
na primavera de 1969.
Numa outra primavera que não chegou a haver.
── Política, meu estúpido!,
a primavera política do Marcelo Caetano.

── Sim, eras jovem.
E não vias a luz ao fundo do túnel.
Nem muito menos as luzes da cidade-luz.
Paris. 
Perdeste o último comboio para Paris.
Com o teu amigo que queria ser pintor,
Fernando Nobis.
Com paragem, talvez em Atocha,
para visitar o Greco, o Velasquez, o Goya,
os grandes de Espanha que estão no Prado...
── Paris, es doido, ou quê ?! 
Com a pide à perna,
mais os carabineiros da guardia civil!



Fazia sol e frio em Viseu.
O país profundo. 
O país que mexe, dizem-te.
Gosto sempre de ler os jornais da terra
quando estou no hotel.
Duas estrelas, o hotel. 
Novo, a cheirar a tinta.
Bom serviço. 
Comida caseira. 
Faces rosadas.
E duas mamocas que cabem na palma da mão.
Mas faz frio à noite.
── Voyeurismo! ── pensa ela,
a rapariguinha do bar. 
Oito páginas,
Entre notícias locais 
e os pequenos anúncios desclassificados.
Duas páginas de anúncios pessoais.
"A brasileira do bumbum"...
"A universitária que faz oral"...
"A mulatchinha dengosa"...

Linguagem de código.
A semiótica da solidão. 
Do sexo triste e solitário.
── Meu bem, ligue para o meu telemóvel,
que a crise bate a todas as portas,
sem distinção de género, 

etnia, 
cor, 
condição 
ou religião.
── A crise também chegou ao teu país profundo, baby.
── Ah!, mas Viseu, como cresceu, meu Deus!
── Não sei se cresceu bem... 
Não sou de cá.
O Politécnico. 
O túnel de Viriato.
Os colóquios. 
Os debates.
As ideias. 
Os intelectuais e artistas que vêm de fora.
O génio do Grão Vasco.
O comércio. 
O fórum, que há-de vir.
A Grande Área Metropolitana de Viseu.
Quase 400 mil.
O orgulho de se ser do Kavaquistão.
O que é feito do RI 14 ?
Não sei, a guerra acabou.
Foi bom para cidade,
A tropa, a guerra, o regimento.
── Ruas, estás de granito! ── 
diz o grafito.
(Ruas é o chefe da tribo, presumo.
Nada como um bom grafito na terra do Grão Vasco).
── Apreciem o lado empreendedor dos beirões.
── Só falta a Universidade,
que mais de 10 mil estudantes do politécnico já cá temos.
── Tiraram-nos a Faculdade de Medicina,
os sacanas da Covilhã.
──
(Outro lóbi beirão, o da Covilhã).
Registo o orgulho dos miúdos e miúdas
da Associação de Estudantes
da Escola Superior de Enfermagem de Viseu
que realizam anualmente as suas jornadas.
O país mexe. 
Viseu mexe.
O país profundo mexe. 
O Kavaquistão.
Os jovens deste país mexem.
Mesmo com capa e batina,
vestidos de preto,

como o corvo do Zé (Cardoso Pires).

16:30h. 
Passei o corpo pelas brasas.
Perdi um pedaço de mundo.
Revisitei outros infernos.
── O Alfa vai a 140, ó puto.
──
Temperatura: 19º interior. 20º exterior,
leio no tableau de bord.
── Mas agora abranda. 129, 101, 74, 52...
Está parado.
── Porquê ?
Uma placa com um S, outra com um M.
Não percebo nada da sinalética dos comboios.
Obras. 
Modernização da linha.
Tenho um pensamento piedoso e nobre
para com os trabalhadores anónimos
que constroem as novas linhas 
dos caminhos de ferro do futuro.
Ucranianos ? 
Africanos ?
Guineenses ? 
Ex-camaradas teus ?
Imigras ? 
Clandestinos ?
── Não lhes vejo nem a cara nem o passaporte.
── Podiam estar a trabalhar na estufas de Almeria,
O inferno na terra. 
Mas aí são magrebinos.
── O novo proletariado do Século XXI...
── Desço na Oriente.
Mandem alguém da empresa buscar-me.
── Dá o Benfica na esporte tê vê.
── 
E de novo o Alfa em marcha...
A paisagem muda.
A paisagem industrial da bacia do Tejo.
A ocupação selvagem da lezíria.
Mataram os campinos e o gado bravo.
E os flamingos. 
E as ostras,
Les petites portugaises,
acompanhadas com Champagne.
Em Paris.
Comment ils sont toujours gais, les portugais!
O branqueamento de dinheiro
que vai por essa nova Lisboa 
do Próximo Oriente.
A luxuriante estação do Oriente,
desenhada pelo Calatrava.
A ostentação dos ricos.
Just in time
17:06h. 
Cheguei.
Balanço do cliente:
── Pensei que já fosse o TGV. 
O TGV é que é.
── Não é o TGV, 
mas por mim não desgostei.
De viajar no Alfa Pendular. 
Turística, claro.
Que é como quem diz, 2ª classe.
De Coimbra B a Lisboa SA.
17 euros, IVA incluído à taxa de 5%.
Mais 10% de desconto nos Hotéis Tal &Tal.
Tive tempo para (des)arrumar algumas ideias.
── Ah!,o  país que via passar os comboios!...
E o puto tinha razão:
── Na ponta final, o Alfa Pendular dá mesmo os 210.

Um dia ainda vou ter orgulho na CP.
E na terra onde nasci, ao pé do mar.
E onde nunca vi sequer passar os comboios.
Os comboios não passam na minha terra.
onde só há moinhos de vento
com búzios do mar
que falam de mouras encantadas.
Nem os comboios chegam a Viseu.
Um abraço aos Viriatos.
Até para o ano.
Voltarei, se me convidarem,
de Expresso, por esses ipês acima.

Com regresso de comboio,
se não sabotarem o comboio 
que pára em Coimbra B.
E prometo ao barman 
que não me esquecerei de Atocha.
Sobretudo não esquecerei Atocha,
quando voltar a Coimbra B,
outra vez.
Não esquecerei as bombas de Atocha,
nem as minas e armadilhas 
da Ponta do Inglês.

Coimbra-Lisboa, Alfa Pendular, 25/3/2004. 
Revisto, Alfragide, 21 de abril de 2014

© Luís Graça  (2004). Todos os direitos reservados



Joana Graça (2014) - S/ título. Técnica mista 100 cm X 80 cm

Cortesia de © Joana Graça (2014). Todos os direitos reservados


_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 20 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13014: 10º aniversário do nosso blogue (14): Manhã de Páscoa, ao som da Sonata Moonligth, de Beethoven (J. L. Mendes Gomes)

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12697: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (10): Monitor na instrução de recrutas no RI 14, em Viseu



Viseu > RI 14 >  1966 > Instrutores, Monitores e Soldados duma Recruta  na semana de campo  > Eu estou no centro à frente, com a mão direita no queixo.



Viseu > RI 14 > 1966 > Preparar Homens para a Guerra:  Pelotão de Recrutas no Dia do Juramento de Bandeira. Eram cerca de 8 dezenas!... o Mário Gaspar éo "12.º de cima, a contar da esquerda"...


Fotos (e legendas): © Mário Gaspar (2014). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do Mário Gaspar [foo à direita], enviado 
em 26 de janeiro último:


Camaradas e Amigos: Encontrei estas fotos muito velhas, e escrevi algo que tem a ver com as mesmas. O assunto apresentado não é novo, mas como podem existir dúvidas sobre o número exagerado de elementos que compunham um Pelotão, podem contá-los. Como é o Dia do Juramento de Bandeira, estão também elementos da fanfarra. Mas devem rondar os 77/78 jovens militares. E qualquer Pelotão tinha mais ou menos o mesmo número.

Um abraço, Mário Vitorino Gaspar


2. Monitor na instrução de recrutas no RI 14,  em Viseu

Eu Mário Vitorino Gaspar, ex Furriel Miliciano de Artilharia n.º 03163264 com o Curso de Explosivos de Minas e Armadilhas.

Em 3 de Janeiro de 1966, fui chamado a frequentar o 2.º Ciclo do CSM,  na Escola Prática de Artilharia (EOA), em Vendas Novas, e terminei o Curso de Atiradores de Artilharia, em 2 de Abril, do mesmo ano. Promovido ao posto de 1.º Cabo Miliciano em 3 de Abril de 1966.

Após 10 dias de licença – no dia 13 de Abril de 1966 – mandaram-me apresentar no Regimento de Infantaria n.º 14 (RI 14), em Viseu, ficando como Monitor na Instrução de Recrutas.


Coronel Carlos Faustino da Silva Duarte
Comandante do RI 14, Viseu (1965/68)

O  Comandante do RI 14 em Viseu (1965/68) era  o Coronel Carlos Faustino da Silva Duarte [, foto à esquerda], que fazia parte da equipa da Académica de Coimbra que ganhou a Taça de Portugal em Futebol em 1939.

O Comandante da Companhia era – se a memória não me falha – o Capitão Amaral.

O Comandante de Pelotão era o Alferes Miliciano Antunes (que ficara deficiente em Moçambique, e que aguardava ser operado na Alemanha) – que julgo ter ido para a Brigada de Trânsito da GNR – depois eu, um outro Cabo Miliciano, e um 1.º Cabo Readmitido (PCAB/RD). Formámos os quatro a equipa.

Como já afirmei, dei algumas recrutas, desde Abril a Agosto (a restante equipa ainda ficou em Viseu depois sair), e os Pelotões de Instrução eram constituídos por 77/78 jovens, oriundos de diversas terras, alguns e muitos, nunca tinham visto sequer o mar. E não foi em Viseu que tiveram essa oportunidade. Não era de modo algum possível preparar homens para a guerra – com Pelotões tão numerosos e em condições.

A higiene não fazia parte das suas vidas. Assisti a casos caricatos de pouca ou nula higiene, principalmente quando era destacado para receber os mancebos, 50 cada vez em formatura – mas ainda à civil - para irem ao Médico e à vacina; fazerem os Testes Psicotécnicos; irem ao barbeiro; receberem o fardamento e tomarem  banho.

Pois o curioso era mesmo o banho. Moços existiam que nunca tinham tomado banho, alguns deles, até com crostas na cabeça, tornavam-se os mais interessados numa higiene normal. Outros com enormes cabeleiras. Por fim, alguns deles, vinham-me contar, e orgulhosos,  que já haviam tomado mais de um duche.

Mas toda esta conversa porquê ? Tudo tem a ver com o número exagerado de futuros militares do Exército Português, nos Pelotões, com tão pouco tempo de instrução pela frente. E tratava-se de preparar homens para a guerra.

E como é difícil acreditar que o Exército Português, preparava homens para uma guerra nestas circunstâncias, envio uma foto no Dia do Juramento de Bandeira – de uma das algumas recrutas que dei como Monitor de um Pelotão – no RI 14, em Viseu, no ano de 1966. Sou o 12.º de cima, a contar da esquerda.

No dia 6 de Agosto marchei para a Escola Prática de Engenharia (EOE) em Tancos para frequentar e completar o XX Curso de Minas e Armadilhas, iniciado a 8 de Agosto de 1966 e terminado a 17 de Setembro de 1966.

Estava encontrado o meu destino: - Guiné!
_________________

Nota do editor:

Último poste da série > 6 de fevereiro de  2014 > Guiné 63/74 - P12682: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (9): SOS, procuro os meus camaradas 'Zorbas', José Paulo Oliveira de Sousa Teles (alf mil), Luís Alberto Alves de Gouveia (alf mil), José Fernandes Durães (fur mil enf), José Norberto Rodrigues Vieira (fur mil), Carlos Alberto Monteiro Leite (fur mil), Rui Filipe Alves Ribeiro (fur mil)

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12611: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (5): Quartéis, Cidades e Vilas por onde passei: Coimbra, Leiria, Trafaria, Tomar, Chaves, Viana do Castelo e Porto (Luís Nascimento)

1. Mensagem do nosso camarada Luís Nascimento, (ex-1º Cabo Op Cripto da CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71), através da sua neta Jéssica, com data de 17 de Janeiro de 2014:


Quartéis, Cidades e Vilas por onde passei durante a vida militar

VISEU - Assentei praça no RI 14
No primeiro dia entrei na porta de armas e passado meia hora saí pela porta do Cavalo, o Cabo de Dia (João dos Remédios), era meu amigo, mandou-me apresentar no outro dia pela manhã.

COIMBRA - Destacado durante a recruta para o RSS - Regimento de Serviços de Saúde, durante os campeonatos de atletismo da 2.ª Região Militar (à noite, estágio na Rua Direita).

LEIRIA - RAL 4 - Regimento de Artilharia Ligeira, para formação de escriturário, secretariado amanuense e Serviço Postal Militar (gato preto).

TRAFARIA - BRT - Batalhão de Reconhecimento das Transmissões, especialidade de Operador Cripto, fadista (com João Braga), com tirocínio no Arroz Doce, Gingão no Bairro Alto (onde fui de cana pela PM sob o comando do Furriel ou Aspirante(?) Encarnação, jogador de basquetebol do meu SCP.

TOMAR - RI 15 - Regimento de Infantaria 15 - Quartel dos Desenfianços, de uma vez estive 31 dias em casa, só me apresentei para receber o pré.

CHAVES - BC 10 - Batalhão de Caçadores 10 - Recebi a mensagem, em Tomar, para me apresentar lá, bebi uns copos com o pai do falecido Pavão do FCP.

VIANA DO CASTELO - BC 9 - Batalhão de Caçadores 9, o inferno no Forte da Barra, paredes-meias com os estaleiros, pior que o porão do Niassa.

PORTO - Quartel General - De dia formação de Criptologia à noite (DERBY), onde as meninas fumavam e tratavam os militares por “TU” (mais uma vez com acompanhamento da PM até ao QG, com o prémio de mais uma carecada.

De seguida CP até Alcântara-Mar onde me esperava o pasteleiro do Niassa.


____________

Nota do editor

Último poste da série de 19 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12604: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (4): Sexo, História, muita fruta das Caldas da Rainha, e dois poemas do clássico do erotismo chinês Jin Pin Mei (António Graça de Abreu)

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Guiné 63/71 - P12593: Museu Etnográfico de Passos de Silgueiros, em Viseu, onde se podem encontrar objectos relacionados com a guerra na Guiné (Manuel Traquina)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Traquina (ex-Fur Mil da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70), com data de 28 de Novembro de 2013:

Visitei um museu na povoação de Silgueiros nos arredores de Viseu, e surpreendido fiquei ao encontrar ali varias coisas relacionadas com a guerra na Guiné, que terão sido oferecidas pelo padre Manuel Antunes Santos Barranha que foi Capelão Militar na região de Aleia Formosa.

Uma das fotos é de um monóculo do General Spínola, que terá sido oferecido por ele, junto também um cartão de visita do mesmo.
Outra foto trata-se de um crucifixo que executado em Aldeia Formosa onde foram soldados vários estilhaços de granada que ele próprio recolheu após ataques aquele aquartelamento no ano de 1971.

Existem ainda naquele museu vários crachás de companhias e pelotões de morteiros.

Um abraço
Traquina


Objectos que se podem ver no Museu Etnográfico de Passos de Silgueiros



segunda-feira, 20 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11599: Manuscrito(s) (Luís Graça) (3): O país que via passar os comboios



Lisboa > Museu da Electricidade > 2006

Foto: © Luís Graça (2006). Todos os direitos reservados.


O país que via passar os comboios

14:13h.
Coimbra B.
Estação da CP.
Deprimente.
Como todas as estações B do mundo.
Como todas as estações da CP.
B de 2ª classe.
B, segunda letra do alfabeto.
Como todas as estações da CP urbanas, suburbanas e rurais.
Deprimentes.
Todas as estações de caminho de ferro do mundo são deprimentes.
Abro talvez uma excepção para os apeadeiros.
São bonitos, os apeadeiros.
Ou eram bonitos os apeadeiros da CP,
Quando havia o cavador, o burro, o boi, a charrua,
O camponês, o zé povinho, camponês e burro,

Besta de carga.
A horta, a saída direta para os campos.
As hortas.

Os azulejos azuis  e amarelos Viúva Lamego 
Nas quatro estações do ano.
O termo apeadeiro eternece-me,

Faz-me lembrar os tempos
Em que se ia às hortas.
Eu já não sou desse tempo.
Mas os alfacinhas iam às hortas dos saloios.
Benfica, Porcalhota, Pontinha, 
Sintra, Caneças, Colares ...
Faziam piqueniques, cantavam o fado.
Gosto do termo apeadeiro.
E da ideia de ir passear às hortas.
Em família, aos domingos, de comboio.
Ronceiro, o comboio.
Ronceira, a vida da gente.
Li isso algures numa história qualquer sobre os comboios
Que unificaram o país de norte a sul.
Há uma dívida de gratidão que é devida aos comboios.
E aos homens dos comboios.
E aos engenheiros das estradas e pontes.

E aos operários que as construíram.
Ao zé povinho da cidade e dos campos.
Ao engenho e à obra.
Ao Fontes.

Ao Pereira.
Ao Melo.
Ao fontismo.

Ao positivismo.
Ao génio organizativo.
Mesmo que a minha professora 
De Sociologia Histórica das Classes Laboriosas,
Discípula do E.P. Thompson,
Só gostasse dos corticeiros
Que eram anarcossindicalistas.
Sempre suspeitei que ela não gostasse dos cavadores.
Nem de comboios.
Nem de hortas.
Nem do Fontes.
Nem dos ferroviários,
Nem dos camponeses e dos burros e dos bois.
Naquele tempo parava-se em todas estações e apeadeiros.
E havia tempo, não havia pressa.
Não havia stresse naquele tempo.

Colhiam-se papoilas vermelhas no meio do trigo.
Não havia tempo para se ter stresse.
Morria-se cedo. 
Ou nascia-se tarde.
Sem tempo de ver crescer filhos e netos.
O stresse é uma construção social do meu tempo.
E não havia bombas nos comboios.

Ao alcance de um qualquer toque de telemóvel,
Da Nokia, da Samsung ou da Siemens, tanto faz.
Que as novas tecnologias quando nascem 
(não) são para todos.
Ou talvez houvesse stresse
Mas chamavam-lhe outra coisa.
Afinal, essa coisa é tão velha como a vida.
E morria-se cedo naquele tempo.

A esperança média de vida é um artefacto estatístico.
E há sessenta e tal anos, na França ocupada,
Os ferroviários também punham bombas. 

Nas linhas de caminhos de ferro.
Matavam os seus postos de trabalho em nome da liberdade.
Punham bombas para fazer descarrilar os comboios.
Sabotagem.
Resistência ao ocupante nazi.
Hoje seriam caçados como terroristas internacionais.
Não sou ferroviário nem resistente nem terrorista.
Nem anarcossindicalista.
Estou numa estação deprimente.
Coimbra B.
Coimbra merecia, pelo menos, uma estação A.

Este país, bom aluno da Europa,
Devia merecer uma letra A.
Nem que fosse Coimbra A.
Ouço uma voz gritante.
Alfarelos.
Com paragem não sei onde.
Nunca soube, ao certo, onde fica Alfarelos.

É algures no país profundo.
Assim como Freixo de Espada à Cinta
Que ninguém conhece.
Não, vim de boleia.

Muito obrigado.
De Viseu.
Aguardo o Alfa Pendular para Lisboa.
Aliás, Lisboa SA.
Deve chegar às 15:16h.

── Lisboa, Santa Apolónia ?
── Não, Lisboa, Sociedade Anónima!
 Corrijo o portuga por detrás do guiché.
── Não, não quero Santa Apolónia.
Quero a Estação de Lisboa Oriente.
E depois... o que diria o Zé (Cardoso Pires)!

── Lisboa, SA!

Pergunta o portuga, 
Caixa de óculos, por detrás do bunker, 
Que fala em nome da CP.
── Conforto ou turística ?
Olha para mim, como se quisesse me tirar as medidas.
Ou adivinhar a minha secreta conta bancária.
──  2ª classe, se faz favor!
──  Turística...
... 2ª classe, por defeito.
Para quem não ostenta sinais exteriores de riqueza.
Classe B.
E eu a pensar ingenuamente que já não havia 2ª classe.
Comboios de 2ª classe. 

Gente de 2ª classe.
País de 2ª classe no desconcerto das nações.
(Ah!, meu velho José Rodrigues Miguéis,
E a tua gente de 3ª classe
Nos porões nauseabundos dos cargueiros
Que rumavam às Américas!).

Devo ter percebido mal.
Os comboios e a CP também se democratizaram.
Agora só há conforto e turística.
No alfa pendular de todas as emoções e condições.
O Portugal SA já não é mais classista.
Para ter classe basta ter dinheiro no multibanco,
Minha querida professora.

Mas, mais seguro, é na Suiça ou num off shore qualquer.
É o que se chama mobilidade social.
Fugir à condição de besta de carga.
── Vê-se mesmo que o senhor é um utente acidental da CP,
Já não há 2ª classe.

── Sou um mau utilizador do comboio, peço desculpa ──.
Comprei um bilhete de 2ª classe.
17 euros, IVA incluído à taxa de 5%.
── O senhor, desculpe, mas eu sou fã dos comboios.
Tenho uma dívida histórica para com os comboios,
Que unificaram o meu país.
Pode não ser seu, mas é meu.
Tenho orgulho nele.
E tinha que lhe dizer isto.
Vou para Lisboa, SA,

Capital do reino,
Desço na Gare do Oriente...





Lisboa > Museu da Água > Aqueduto das Águas Livres  > 18 de abril de 2013

Foto: © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.

Tenho tempo.

Ou penso que tenho tempo.
Nada como esperar um comboio 

Numa estação de tipo B, Coimbra B
Para saber o que é isso de ter tempo.
É bom ter tempo.

Uma hora de avanço.
Nada de stresse.
Não penses na morte.
Que o stresse mata
Como uma bala de Kalash.
Peço uma sandes manhosa no bar da esquina.
Bebo uma topázio que é uma cerveja local.
Compro o Zé Cardoso Pires no quiosque.
A república dos corvos.
Um livro de contos.
Jornal Público.
Colecção Mil Folhas, ao preço de hipermercado.
Redescubro o meu velho Dinossauro Excelentíssimo.
Que li na revista Almanaque, se bem me lembro.
Deambulo no cais de embarque 

Como o prisioneiro no pátio da prisão.
E leio a única coisa interessante
Que está afixada na parede da estação de Coimbra B.
Alguém mandou afixar.
Creio que em bronze (sou mau em metais):

"Neste cais da estação de Coimbra, embarcou,
No dia 15 de Maio de 1982, Sua Santidade,
O Papa João Paulo II"
.
O artista não quis desqualificar a estação nem a cidade.
Coimbra B ?, 

O que diria a corte papal!
Os grandes deste mundo!
E os turistas que visitam a cidade dos doutores!
E os vindouros!
Mas lá fica a tabuleta.
Para a história.
Para o viajante distraído, apressado ou deprimido como eu.

Ou se calhar para ninguém.
Só para a História.
Afinal, quem lê neste país placas de bronze 
Afixadas em estações B da CP ?
Aliás, quem lê neste país, perguntaria a minha professora ?

Histórias aos quadradinhos 
Mas não a História com H grande.
Um dia um arqueólogo, um historiador ou um antiquário
Desaparafusa a placa e leva-a para casa,
Para o museu ou para a loja de antiguidades.
Não, nada acontece em Coimbra B.
Mas por aqui passou um peregrino.
João Paulo II.

Um dia,  em 1982.
Por aqui passou Jesus Cristo,
Na pessoa do seu representante na terra.
Sou mau em metais e em teologia.
Mas esta é a minha leitura.
Peço desculpa aos poetas mais doutos  do que eu.
Peço desculpa aos lentes de Coimbra.

Chega o Alfa.
Just in time,
Como na linha de montagem automóvel pós-taylorista da AutoEuropa.
Entro no Alfa e sinto-me quase europeu
Na ponta mais ocidental da Europa acidental.
Com o lusitano Mondego aqui ao lado.
Admiro a eficiência
Das sociedades pós-tayloristas e cosmopolitas.
A nossa nunca chegou a conhecer o Sr. Taylor,

Nem os seus principles of scientific management.
Nem a ética protestante nem o Max Weber.
Provinciana e ronceira, a tua terra,

Lá diriam o Eça e a minha professora, 
Que é queirosiana e estrangeirada.
Acelera o Alfa.
Tenho um secreta vertigem suicidária pela alta velocidade.
Dou por bem empregues os meus 17 euros,

IVA incluído à taxa de 5%.
Isto faz bem à minha autoestima.
Sobretudo depois da sandocha manhosa e da topázio morna
Que engoli, de pé, ao balcão, do bar manhoso
Da estação deprimente de Coimbra B.

── Quanto vai dar ?
──  Chega aos 200 ou mais!, ──
Diz-me um puto de brinco na orelha...
Não apostei.
Nem gosto de apostas.
Deixei de ser solidário, que me desculpe a Santa Casa

Da Misericórdia.
── Umas cartas para passar o tempo ?
── Não, obrigado, não jogo, não aposto, não fumo. 
Tenho livros para ler. 
Abranda o Alfa lá para os lados da Albergaria dos Doze.
Regresso à idade média da minha memória coletiva.
O caminho de Santiago.
As albergarias.
Já em terra dos mouros.
La folie meutrière de la réligion.
A tua, a minha.
Deus é grande e tem muitos profetas.
São bons hortelãos, os mouros e os moçárabes.

── Chega à tabela.
Dezassete e seis na Estação do Oriente,
Diz-me o pica, orgulhoso.

── Até que enfim que os comboios partem e chegam à tabela,
Na nossa terra.
Fico sempre com inveja
Quando vou a Amesterdão e a Leiden.
Quando ia à Holanda, que agora já não vou.
Quero dizer, ao estrangeiro de fora.

── Já não te calha na rifa, ó Ramalho!,
Agora são vinte e cinco cães a um osso, ó Ortigão!

── Vai desejar tomar alguma coisa ?,
Pergunta no futuro próximo o homem-do-chá-café-laranjada...

── Um Prozac, por favor.
── Lamento, mas já não temos. Esgotou-se.
── Sim ?
── Esgotou-se na última viagem que fizemos ao inferno.
11 de Março último.
Estação de Atocha.
Madrid.

── Atocha ?
── Sim, Atocha...Não lê os jornais ? 
── Não, acabo de chegar doutro planeta.
── En Madrid existen dos estaciones principales de tren:
Chamartín y Atocha.
Ambas son estaciones de trenes de largo recorrido y de cercanías
...

── Muchas gracias!, não sabia.
Não vou a Madrid há anos.

Estou de costas para a Europa.
── Atocha está situada en la zona sur de la ciudad,
Muy cercana al centro.
Desde ella salen todos los trenes de largo recorrido
Que van a levante y al sur de España.
También algunos trenes de los que pasan por la estación
Se dirigen luego a Chamartín
Y luego a destinos en la mitad norte de la península.
Dentro de la estación hay otra estación llamada Puerta de Atocha
Desde donde sale el tren de alta velocidad (AVE)
Que va a Andalucía
...

── Muchas gracias! Vejo que é um homem viajado.
── Só faço a península ibérica.
── Ah!, a jangada de pedra...
── Perdão ?!... Sabe, nasci no Entroncamento,
Filho e neto de ferroviários.
Os comboios estão-me na massa do sangue...
Mas a Espanha para mim é pura emoção.
Uma tragédia horrível, aquela...

── E não tem medo do futuro dos comboios ?
── Não... Com os aviões passou-se o mesmo.
Enfim, um homem tem que ganhar a vida.
De qualquer jeito.

── Deixe, a vida continua... As guerras passam.
Olhe, já agora dê-me um compal de maçã.
Fico sempre deprimido quando tomo o comboio.
Ou quando parto. 

Ou penso em bombas nas casas de banho
Das carruagens dos comboios.
Ou quando bebo compal de maçã.
Não sei por que pedi o raio do compal.
Reflexo condicionado.

Empatia.
Compaixão.
Que é coisa rara, tomar o comboio.

E pensar em bombas.
Houve um tempo em que pensava em minas.
Anticarro. Antipessoais.
Minas. Bailarinas. O ballet da morte.
Nasci numa terra onde não passavam comboios.
É um estranho sentimento, esse,
Que me acompanha desde pequeno.
Mas o compal de maçã até é bom.
E dizem que vale mais do que uma chávena de café 
Para te tirar o sono.
Antes de partires às 3 da manhã,
Para a Ponta do Inglês.
── Ponta do Inglês ?!...
Já sei, saíste cedo da casa de teus pais, 
Ainda menino e moço!
── É a voz do sangue, 
O meu lado de marinheiro que nunca fui.
Em boa verdade, detesto os entroncamentos.
Rodo ou ferroviários.

As picadas. Os trilhos.
Detesto o Entroncamento.
Da primeira vez que lá passei.
Meia de dúzia de casas mal caiadas, 
Uma feixe de linhas e cheiro a óleo e a sucata.
Mas tenho a nostalgia dos cais de embarque.
A nostalgia do mar e da maresia.
Uma palavra que mexe comigo.
Cais.
Cais de embarque.
Cais de partida.
Niassa.
Rocha Conde de Óbidos.
Num comboio que veio da noite, silencioso e triste.
Do Campo Militar de Santa Margarida.
Destino: Lisboa.
Com carga para outro destino: Bissau.

Mercadoria=carne para canhão,
Alguém escreveu, a spray,  
Um grafito na última carruagem.
Na primavera de 1969.
Numa outra primavera que não chegou a haver.

── Política, meu estúpido!,
A primavera política do Marcelo Caetano.
Eras jovem
E não vias a luz ao fundo do túnel.
Nem muito menos as luzes da cidade-luz.
Paris.
Perdeste o último comboio para Paris.
Com o teu amigo que queria ser pintor.
Fernando Nobis.
Com paragem, talvez em Atocha,
Para visitar o Greco, o Velasquez, o Goya,
Os grandes de Espanha que estão no Prado...

── És doido, ou quê ?!
Com a pide à perna,
Mais os carabineiros da guardia civil!



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Foto: © Luís Graça (201o). Todos os direitos reservados.


Fazia sol e frio em Viseu.
O país profundo.
O país que mexe, dizem-te.
Gosto sempre de ler os jornais da terra
Quando estou no hotel.
Duas estrelas, o hotel. Novo, a cheirar a tinta.
Bom serviço. Comida caseira. Faces rosadas.
Mas faz frio à noite.

── Voyeurismo!  ── pensa ela.
A rapariguinha do bar.
Oito páginas,
Entre notícias locais e os pequenos anúncios classificados.
Duas páginas de anúncios pessoais.
"A brasileira do bumbum"...
"A universitária que faz oral"...
"A mulatchinha dengosa"...

Linguagem de código.
A semiótica da solidão.
Do sexo triste e solitário.

── Mue bem, ligue para o meu telemóvel,
Que a crise bate a todas as portas,
Sem distinção de género, etnia, cor, condição ou religião.

── A crise também chegou ao teu país profundo, baby.
── Ah!, mas Viseu, como cresceu, meu Deus!
── Não sei se cresceu bem...
Não sou de cá.
O Politécnico. 
O túnel de Viriato.
Os colóquios. 
Os debates. 
As ideias.
Os intelectuais e artistas que vêm de fora.
O comércio.
O fórum, que há-de vir.
A Grande Área Metropolitana de Viseu.
Quase 400 mil.
O orgulho de se ser do Kavaquistão.

O que é feito do RI 14 ?
Não sei, a guerra acabou. 
Foi bom para cidade,
A tropa,
O regimento.
── Ruas, estás de granito!,
Diz o grafito.
(Ruas é o chefe da tribo, presumo).
Nada como um bom grafito na terra do Grão Vasco:

── Apreciem o lado empreendedor dos beirões. 
── Só falta a Universidade,
Que mais de 10 mil estudantes do politécnico  já cá temos.

── Tiraram-nos a Faculdade de Medicina,
Os gajos da Covilhã.
Outro lóbi beirão, o da Covilhã.
Registo o orgulho dos  miúdos e miúdas
Da Associação de Estudantes 
Da Escola Superior de Enfermagem de Viseu
Que realizam anualmente as suas jornadas.

O país mexe.
Viseu mexe.
O país profundo mexe.

O Kavaquistão.
Os jovens deste país mexem.
Mesmo com capa e batina,
Vestidos de preto como o corvo do Zé (Cardoso Pires).

16:30h. Passei o corpo pelas brasas.
Perdi um pedaço de mundo.

Revisitei outros infernos.
── O Alfa vai a 140, ó puto.
Temperatura: 19º interior. 20º exterior,
Leio no tabelau de bord.

── Mas agora abranda. 129, 101, 74, 52...
Está parado.

── Porquê ?
Uma placa com um S, outra com um M.
Não percebo nada da sinalética dos comboios.
Obras.
Modernização da linha.
Tenho um pensamento piedoso e nobre 

Para com os trabalhadores anónimos
Que constroem as novas linhas dos caminhos de ferro do futuro.
Ucranianos ? Africanos ? 
Guineenses ? Ex-camaradas teus ? 
Imigras ? Clandestinos ?
── Não lhes vejo nem a cara nem o passaporte.
── Podiam estar a trabalhar na estufas de Almeria, 
O inferno na terra.
Mas aí são magrebinos.

── O novo proletariado do Século XXI.
── Desço na Oriente.
Mandem alguém da empresa buscar-me.

── Dá o Benfica na esporte tê vê.
E de novo o Alfa em marcha...
A paisagem muda.
A paisagem industrial da bacia do Tejo.
A ocupação selvagem da lezíria.
Mataram os campinos e o gado bravo.

E os flamingos. E as ostras,
Les petites portugaises.
O branqueamento de dinheiro
Que vai por essa nova Lisboa do Póximo Oriente.
A luxuriante estação do Oriente.

A ostentação dos ricos.
Just in time.
17:06h.
Cheguei.
Balanço do cliente:

── Pensei que já fosse o TGV.
O TGV é que é.

── Não é o TGV,
Mas por mim não desgostei.
De viajar no Alfa Pendular.
Turística, claro.

Que é como quem diz, 2ª classe.
De Coimbra B a Lisboa SA.
17 euros, IVA incluído à taxa de 5%.
Mais 10% de desconto nos Hotéis Tal &Tal.
Tive tempo para (des)arrumar algumas ideias.

── O país que via passar os comboios...
E o puto tinha razão:

── Na ponta final, o Alfa Pendular dá mesmo
Os 210.
Um dia ainda vou ter orgulho na CP.
E na terra onde nasci
E onde nunca vi sequer passar os comboios.
Os comboios não passam na minha terra.
Nem chegam a Viseu.
Um abraço aos Viriatos.
Até para o ano.
Voltarei, se me convidarem,
De Expresso, por esses ipês acima.
Com regresso de comboio.

Se não sabotarem o comboio que pára em Coimbra B.
E prometo ao barman

Que não me esquecerei de Atocha.
Sobretudo não esquecerei Atocha.
Quando voltar a Coimbra B.

Outra vez.
Não esquecerei as bombas de Atocha.
Nem as minas e armadilhas da Ponta do Inglês.

25/3/2004. Revisto nesta data.


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Nota do editor:


Último poste da série > 14 de maio de 2013 >Guiné 63/74 - P11566: Manuscrito(s) (Luís Graça) (2): Humor com humor se (a)paga: RIP... Requiescat In Pace... Lápides funerárias da minha coleção!