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sexta-feira, 2 de março de 2007

Guiné 63/74 - P1559: Ex-Alf Mil Avilez, da CCAV 1484, hoje professor de arte, foi o autor do mural de Catió (Benito Neves)

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Guiné > Região de Tombali > Catió > 1967 > Pintura mural, da autoria do ex-Alf Mil Avilez, da CCAV 1484, segundo informação do ex-Fur Mil Benito Neves. Em latim pode ler-se "Cationis civitatis modernissma charta" (carta recentíssima da cidade de Catió), frase da autoria do capelão do batalhão.

Foto: © Vítor Condeço (2006). Direitos reservados.


Foto alojada no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.

Mensagem de Benito Neves, com data de 17 de Janeiro último:


Caro Luis Graça, os meus cumprimentos e felicitações pelo excelente blogue que visito diariamente.

Subordinado ao título Catió: Autor de pintura mural, procura-se (P 1336), foi publicado em 3 de Dezembro de 2006 um artigo da autoria de Victor Condeço (1), que reportava a uma pintura mural que em 1967 existia na antiga messe de oficiais do quartel de Catió.

Li o artigo com bastante interesse, admirei os pormenores representados e a forma como o Victor Condeço descreveu o desenho e a quem endereço os meus parabéns.

Fui furriel miliciano da Companhia de Cavalaria 1484 que fez intervenção ao Sector de Catió em 1966 e até Julho de 1967, com passagem por Cachil, Cufar e Bedanda. Não obstante a memória não ajude, ainda estive com o Victor Condeço em Catió pelo menos durante 2 meses.

Desconheci completamente o ter existido aquela pintura mural mas, pela data nela inscrita, concluí que deveria ter sido feita durante a permanência da CCAV 1484 em Catió. Sobre o assunto questionei os ex-alferes Gavinhos e Miguel daquela CCAV, que, de imediato, me informaram de que o autor da pintura foi o ex-alferes Avilez da mesma [CCAV 1484].

Mais me foi dito que a pintura original consistia num painel pintado a aguarela e tinta da china que esteve exposto no bar de oficiais e que ficou, depois, na posse do ex-alferes Miguel que me confirmou tê-lo exposto no hall de entrada de sua casa, em Lisboa. Posteriormente a dita pintura foi transposta, a preto e branco, para a parede que o Victor Condeço fotografou. Os termos em latim foram dicas do capelão do Batalhão.

Relembro, com muita saudade, o ex-alferes Avilez que, segundo informação do tertuliano Hugo M. Ferreira, foi professor de arte na Universidade de New York (1997) e que, actualmente, se encontra em Lisboa.

Este eclarecimento já o transmiti directamente ao Victor Condeço (moramos perto, ele no Entroncamento e eu em Abrantes), que me obrigou a dar a resposta através do blogue.

Meu caro Luis, deixo, agora, o assunto ao seu critério mas prometo que, através do blogue, continuarei a respirar aquele ar, a sentir aqueles cheiros e a admirar aquela terra e aquelas gentes.

Um abraço.

Benito Neves

Comentário: Camarada Benito, obrigado pela tua preciosa informação! Esperemos agora que o Avilez possa aparecer e nos conte algo mais sobre esta notável pintura mural de Catió.

__________

Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 3 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1336: Catió: Autor de pintura mural, procura-se (Victor Condeço)

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Guiné 63/74 - P1516: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (3): Combatentes, trolhas e formigas bagabaga

Guiné > Região do Cacheu > Pelundo > Có > CCAÇ 2402 (1968/70) > Construção a todo o redor do aquartelamento, de uma paliçada em blocos, bermas de terra e encimada por bidões cheios de terra.

Guiné > Região do Cacheu > Pelundo > Có > CCAÇ 2402 (1968/70) > Um secular poilão...

Guiné > Região do Cacheu > Pelundo > Có > CCAÇ 2402 (1968/70) > Um das famosas construções das formigas bagabaga .


Guiné > Região do Cacheu > Pelundo > Có > CCAÇ 2402 (1968/70)> Nova escola para os nativos, criada durante aquele período alto das construções.

Texto e fotos: © Raul Albino (2006). Direitos reservados.

Terceira parte das memórias de campanha de Raul Albino, ex-alf mil da CCAÇ 2402, pertencente ao BCAÇ 2851 (, Mansabá, Olossato, 1968/70), que embarcou no Uíge, em finais de Julho, juntamente com o BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) (1). Por lapso, este texto só agora chegou ao conhecimento do editor do blogue. As nossas desculpas ao seu autor e aos demais tertulianos. (LG)


Obras no Quartel de Có


Texto adequado à recente promoção, feita pelos nossos tertulianos, do Bagabaga, ao estatuto de monumento nacional na Guiné.

Uma das nossas muitas actividades, quando se estava de serviço ao aquartelamento, consistia em efectuar a construção de novas instalações ou reparação das já existentes. Pode-se dizer que a meio da nossa estadia em Có, o aquartelamento já estava irreconhecível pela quantidade de melhoramentos que era visível. Em termos de segurança, a nova imagem do quartel não tinha nada a ver com as pobres instalações que tínhamos à chegada. É evidente que todo o esforço que aí desenvolvemos saiu do corpo dos bravos rapazes que compunham a nossa companhia.

Consegui seleccionar algumas fotos desse período obreiro, mas a grande maioria das obras não foram fotografadas ou eu não consegui encontrar essas fotografias no caso de existirem.

Temos de reconhecer que o Capitão Vargas Cardoso [, comandante da CCAÇ 2402,], na sua capacidade e afã de construir e reconstruir, se assemelhava em muito às formigas obreiras que abundavam por toda a Guiné. Dado que na Guiné, pelo menos nas zonas por onde a companhia passou, praticamente não existia pedra, as construções eram basicamente feitas de blocos feitos de barro e palha.

O mais alto expoente deste tipo de construção estava precisamente na enorme capacidade construtiva das curiosas formigas que por lá abundavam, conhecidas pelo nome de Bagabaga.

As poucas verdadeiras protecções que os militares tinham no mato para se protegerem do tiroteio, eram as enormes árvores de troncos largos de madeira rija como podem verificar na figura em cima . Nessa fotografia, o tronco da árvore - um poilão - não é completamente visível, mas dá para ver a proporção do tronco em relação ao tamanho do militar, neste caso o Cabo Oliveira que brinca com um macaquinho que retirou da gaiola que está por cima da sua cabeça.

A outra protecção era precisamente os morros de bagabaga construídos habilmente pelas formigas do mesmo nome, que chegavam a atingir mais de três metros de altura. A figura, em cima, é, também neste caso, bastante elucidativa. Creio que este exemplar já ultrapassa os três metros, mas os nativos contavam da existência de morros de altura superior ao da fotografia.

Não se conseguia destruir facilmente aquelas estruturas, nem mesmo com uma granada de lança-roquetes. Por várias vezes se tentou destrui-las com petardos de trotil, mas as mossas eram sempre periféricas, a estrutura principal mantinha-se de pé. Só introduzindo os petardos no seu interior se obtinham resultados aceitáveis, no entanto como não existiam normalmente brocas perfuradoras no local, podem imaginar o problema que não era tentar semelhante façanha.

As formigas possuíam uma cabeça enorme comparada com o resto do corpo. Com a boca amassavam o barro vermelho, que abundava por todo o lado, qual autêntica betoneira de argamassa, começando a levantar os montes que constituíam a habitação para as suas colónias, percorridos por infindáveis túneis até ao seu interior. Como viram no meu texto, chamei-lhes curiosas formigas e não simpáticas formigas por uma razão muito simples.

Cheguei a perder a paciência com elas, porque em dado momento apercebemo-nos de que elas estavam a minar as nossas instalações feitas à base de barro. Começavam por construir os seus célebres túneis e a partir daí a degradação das paredes era rapidíssima. Pensei então, armado em esperto, que tinha descoberto a solução para o seu aniquilamento. Injectava gasolina para o interior dos túneis e lançava-lhe um fósforo.

Qual não foi o meu espanto quando, tentando analisar a resultado da operação, verifiquei que, mais rapidamente que a propagação do fogo no interior dos túneis, elas conseguiam selar as ramificações só sendo afectados pelo fogo pequenos ramais da superfície. É claro que desisti, reconhecendo a superioridade das formigas na sua capacidade de sobrevivência.

___________

Notas de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores >

6 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1343: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (2): O primeiro ataque ao quartel de Có, os primeiros revezes do IN

15 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1282: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (1): duas baixas de vulto, Beja Santos e Medeiros Ferreira

(2) Sobre o bagabaga, vd. os posts:

7 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1347: Concurso O Melhor Bagabaga (1): Bambadinca (Humberto Reis / Luís Graça)

7 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1348: Concurso O Melhor Bagabaga (2): Bissau (David Guimarães)

14 de Dezembro de 2006> Guiné 63/74 - P1367: Concurso O Melhor Bagabaga (3): Fajonquito (1964) (Tino Neves)

14 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1368: Concurso O Melhor Bagabaga (4): Có (1969) (João Varanda)

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Guiné 63/74 - P1499: A guerra em directo em Cufar: 'Porra, estamos a embrulhar' (António Graça de Abreu)

Capa do Livro Diário da Guiné - Lama, Sangue e Água Pura. Lisboa: Guerra e Paz, Editores. 2007. ISBN: 9789898014344. Preço: € 22.

Foto: Guerra e Paz Editores, SA (2007) (com a devida vénia...)

1. Mensagem do António Graça de Abreu, novo membro da nossa tertúlia:


Meu caro Luís Graça e tantos, tantos companheiros dos anos de Guiné:

Após ter enviado o pedido de inscrição no blogue (1), aqui fica uma contribuição para o nosso mundo da Guiné.

Chamo-me António Graça de Abreu, fui alferes miliciano no CAOP 1 em Teixeira Pinto (Canchungo), Mansoa e Cufar entre Junho de 1972 e Abril de 1974.

Desses anos escrevi na altura um Diário Secreto que se manteve secreto até meados de 2006. Decidi então dar-lhe a forma de livro e ele aí está, acabado de sair, com o título Diário da Guiné, Lama, Sangue e Água Pura publicado pela Guerra e Paz Editores (2).

Para o site dos companheiros e camaradas da Guiné deixo alguns excertos do livro, com as nossas vidas lá dentro.

Contem comigo, somos uma grande família unida por um tronco comum, sólido, carcomido, torto, imponente e altivo, os anos da Guiné.

António Graça de Abreu

2. Aqui ficam alguns excertos do Diário da Guiné (2):

Canchungo, 6 de Agosto de 1972

Depois de jantar, estava no bar de oficiais com o Bagulho, o alferes médico, e chamaram-no de urgência ao hospital. Peguei no jipe e fui lá levá-lo. Havia uma criança a nascer.

A primeira vez que entrei numa maternidade foi na barriga da minha mãe, a segunda vez foi hoje. Entrei curioso na pequena sala do hospital que funciona como maternidade no momento exacto em que o bebé nascia, saía com a placenta, ensanguentado do ventre da mãe, a pele quase branca. O Bagulho fez rapidamente o seu trabalho de médico e deixou o recém-nascido ao cuidado da enfermeira negra. Pediu-me que o acompanhasse até uma sala mais pequena, do outro lado da parede. Havia uma criança a morrer.

Um bebé de quatro meses agonizava. A mesma enfermeira que cuidava agora do recém-nascido, há umas horas atrás exagerara na distribuição do soro à criança doente cuja vida se extinguia diante dos nossos olhos. O Bagulho pediu-me para eu ir buscar uma botija de oxigénio. Mas a válvula da botija estava avariada, não regulava a distribuição do gás. O médico suava, eu também. Nada se podia fazer. Extinguia-se uma vida por doença, incompetência, falta de meios. O miúdo morria.

Sempre o supremo milagre: entre nascimento e morte, caminharmos sobre a terra.

Canchungo, 7 de Agosto de 1972

Tenho de descobrir mais palavras carregadas de chuva, vento, electricidade, faíscas –é influência da tempestade tropical que neste momento assobia, ruge lá fora! – e também de encontrar palavras iguais a bonança, serenidade, paz.

A poesia é maleita boa que só me dá de vez em quando, tenho porém a consciência de que a minha prosa, os meus poemas são fracos. Disperso-me muito, agarro-me à vida, navego pela dor no espanto do calor dos dias. Escrever. Eu tento, mas não tomo todo o fôlego, não sei ainda atirar a baforada de vento capaz de enfunar as velas do galeão das palavras.

Ficheiro áudio com ataque a Cufar, 20 de Janeiro de 1974

Junto envio também uma transcrição de um ataque no dia 20 de Janeiro de 1974 e também um link com o ficheiro audio com o respectivo ataque.

http://pwp.netcabo.pt/0240632001/ataqueguine.mp3

Gostava muito de ver estes meus (nossos) textos no seu blogue da Guiné.
Abraço, António.

Cufar, 20 de Janeiro de 1974
(…)
Boum, boum, pum, catrapum, pum.
- Aíestá, um ataque!...Caralho! Um ataque, foda-se!
Tá, tá, tá, tá, tá.
-Um ataque, caralho! Venham mais. Aí vêm elas!...
Boum, boum…
-Tumba, um foguetão, caralho!...
Boum, boum, tá, tá, tá, tá, tá, tá, tá, pum.
- Dá mais, Manel! Estamos a levar no coco, estamos a “embrulhar”, caralho!
Pum, catrapum, tá, tá, tá, tá, tá, tá…
-Espera aí um bocadinho!
Boum…
-Espera aí que me eu vou-me já vestir, espera aí um bocadinho!
-Tumba, aí vem outra… Toma lá mais!...Espera aí um bocadinho, João…
Boum, boum…
-Estou-me a vestir, é preciso é calma!
Boum, pum, pum…
-Espera aí um bocadinho, estou-me a vestir, é preciso é calma.
Boum, boum…
-Estamos a embrulhar, caralho! É preciso ter calma. Estou no meu quarto. Hoje é o dia…
Boum, boum…
-Tumba, tumba, tumba!...
Boum, boum, tá, tá, tá, tá, tá, tá, tá, tá, tá, tá tá, tá, tá, tá, tá, pum, catrapum, pum...
-Espera aí. Eh, com um filha da mãe!
Boum, boum…
-Ah, grande embrulhanço! Manda mais, João!
Boum, boum…
-Toma lá mais!...
Tá, tá, tá, tá, tá, tá, tá tá, tá, tá, tá, tá, tá, tá, catrapum, pum, pum, boum, boum...
-Isto é a sério, isto não é a brincar.
Boum, boum, tá, tá, tá, tá, tá, tá, tá tá, tá, tá, tá, tá, tá, tá, pum, pum…
-Olha p’rá aquilo! Porra, estamos a embrulhar, o que é preciso é calma!... Estou-me a vestir…
Boum, boum, tá, tá, tá, tá, pum, pum…
-Já estou vestido.
Boum, boum…
-Porra! Tumba, tumba, aí vem outra, aí vai outra!...
Pum, pum, pum, pum, boum, boum…
-Caralho!
Boum, boum, pum, catrapum, pum, pum, tá, tá, tá, tá, tá, tá, tá tá, tá, tá, tá, tá, tá, tá, boum, boum…
-Porra, estão todas a cair p’ra ali, caralho!...
Tá, tá, tá, tá, tá tá, tá, tá, tá, tá…
-Aí vêm outras. Eh, eh, eh! Já estou vestido.
Boum, pum, pum, tá, tá, tá, tá, tá, tá, tá, boum, boum…
-Aí vem outra!
Pum, pum…
- Tumba! Devem vir mais.
Boum, boum…
- A lógica da guerra, pá, é impressionante! Eu estava aqui sossegadinho, pá, elas começaram a cair… Aí vêm mais, aí vêm mais!...
Boum, boum, tá, tá, tá, tá, tá tá, tá, tá, tá, tá, pum, pum, catrapum, pum, pum…
- Deixei-me estar sozinho aqui no quarto, mas estou nervoso! Os nossos amigos estão a lembrar-se de nós!
Pum, pum…
- Tumba, tumba!
Boum…
- Ah, Cufar de um caraças!... Eh, eh! Guiné, Guiné, 20 de Janeiro de 1974!.. Ah, caraças!...
Boum…
- Isto é morteirada! Ora bem, deixa lá apagar a ventoinha. Só mandaram estas?...
Boum, pum…
- Aí vai outra! Aí vem mais! Isto agora são morteiradas nossas. Aí vai outra!
Boum…
- Já acabou o ataque?... Vamos embora, já estou cá fora!
(Meti o gravador ligado a gravar no bolso da perna direita do camuflado e fui ter com os meus soldados.)
Boum, pum, pum…
- Toma, toma, porra! Aí está!...
Estão bem?...
Boum, pum, pum…
(Voz de soldado):
- Se calhar a minha tabanca deve estar mas é toda fodida!
Boum…
(Confusão de vozes).
- Foda-se. São nossas ou são deles, caralho? Já acabou, os gajos?...
(Voz):
- São nossas.
Boum…
(Voz de soldado)
- Não gravou isto, meu alferes?
- Está a gravar, oh, homem, está a gravar esta merda!
Boum…
- Já acabou. Aí vai mais, caralho! Quem é que está aí metido na vala, deitado no buraco?
Boum…
(Confusão de vozes)
- Aí vai mais uma, toma lá mais fartura!
(Voz de soldado):
- Isto é RPG que rebenta no ar e rebentou uma canhoada.
Boum…
(Voz de soldado):
- A minha chinela, perdi a puta da sapatilha.
(…)
- Os gajos já pararam. Agora são só nossas. Os gajos já não estão a mandar nada, agora é o obus de Catió.
(Voz de soldado):
- Carrega-lhe, é o primeiro ataque do ano. Os cabrões atacam até acabarem as munições. Mas cuidado com os gajos no fim do ataque…
(…)
(Confusão de vozes)
(Voz de soldado):
- Vê se encontram a minha sapatilha.
Boum…
- Oh, Loureiro (soldado condutor do nosso CAOP1), o que é que você está a fazer deitado no buraco?
(Soldado Loureiro):
- Estava entretido…
(Voz de soldado):
- Agora já acabou, mas pode vir ainda uma retardada, mas isso é pouca coisa.
(Voz de soldado):
- Eu vi o very-light no ar e depois, foda-se, foi sempre fogachal.
(Confusão de vozes)
(Voz de soldado ):
- Olha se eu estivesse na minha tabanca lá em baixo, deve estar toda fodida…
(…)
(Voz de soldado):
- Alguém viu a minha sapatilha?...
Boum…
(…)
- Espera aí que eu vou mijar, estou a precisar!
(Voz de soldado)
- Oh, meu alferes, não mije para dentro da vala, caralho!
- Oh, pá, não faz mal.
(Voz de outro soldado):
- Ora, um gajo, num ataque, mesmo com merda e mijo, e tudo, vai!
Boum…
(Voz de soldado):
- Eu perdi a minha sapatilha, isso é que foi o caralho!

___________


Notas de L.G.


(1) Vd. post de 5 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1498: Novo membro da nossa tertúlia: António Graça de Abreu... Da China com Amor

(2) Segundo a agência Lusa, em notícia de 30 de Janeiro de 2007, "o livro abrange o período final da guerra naquela ex-colónia, com a experiência do autor, fotografias, documentos da época e excertos de aerogramas enviados a familiares em Portugal.

"António Graça de Abreu, nesse período oficial num Comando Operacional na Guiné, decidiu, 'depois de ter lido as cartas de António Lobo Antunes', que era tempo de relatar também a sua experiência. 'Passaram-se 35 anos desde o fim destes conflitos e ainda vive muita gente desse tempo que também guarda estas memórias. Cerca de um milhão de homens passou pela África e teve experiências muito fortes na guerra», declarou o autor à Agência Lusa.' " (...)

António Graça de Abreu nasceu no Porto, em 1947. É licenciado em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa e mestre em História pela mesma Faculdade.

Viveu na Alemanha (1966/1967) e foi um dos muitos militares que participaram na fase final (1972-1974) do conflito militar que então dilacerava portugueses, guinéus e a terra mártir da Guiné-Bissau.

Entre 1977 e 1983 trabalhou em Pequim, República Popular da China, onde foi tradutor nas Edições de Pequim. Leccionou Língua e Cultura Portuguesa nas faculdades de Línguas Estrangeiras de Pequim e Xangai.

Muito ligado ao mundo chinês, tem onze livros publicados na área da Sinologia, da poesia e dos estudos luso-chineses, com destaque para a sua tradução Poemas de Li Bai, Grande Prémio Nacional de Tradução do Pen Clube Português e da Associação Portuguesa de Tradutores (1990). Professor do ensino secundário, leccionou Sinologia na Universidade Nova de Lisboa (1986/88) e no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (1997/99).

Fonte: Guerra e Paz Editores, SA (2007)

sábado, 14 de outubro de 2006

Guiné 63/74 - P1173: A fortificação de Guileje (Nuno Rubim, Teco e Guedes, CCAÇ 726)

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Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 > 1964/65 > Aspectos dos trabalhos de fortificação do aquartelamento e tabanca. Fotos do Teco, que chegaram às mãos do Nuno Rubim, via Guedes, militares da CCAÇ 726...
Fotos: © Nuno Rubim (2006)

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Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 2006 > Planta do quartel em 1966. Reconstituição de Nuno Rubim, coronel de artilharia, na reforma (1). Realização plástica de Carlos Guedes. UM e outro fizeram parte da CCAÇ 726 (Guileje,1964/66).

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2006). Direitos reservados (com a devida vénia...).

Foto alojada no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.


1. Mensagem de 20 Julho de 2006, enviada por Nuno Rubim (ex-capitão da CCAÇ 726, Guileje, 1964/66, hoje coronel, na reforma, e conceituado investigador na área da história militar) (1) .


(...) Junto te envio duas fotos (há mais) que vieram do Teco, via Guedes . Trabalhos na construção de abrigos, Guileje 1964/65. CCAÇ 726. Podem ir para o blogue.

Para mim são importantes para o estudo comparativo da fortificação em Guileje, que estou a desenvolver.

Portanto só te pedia, quanto tiveres tempo, que colocasses no blogue as perguntas e questões que abaixo menciono.

Um abraço

Nuno Rubim

2. Nova mensagem, enviada pela mesma altura (que coincidiu com as férias de Verão, em Portugal, do Pepito, o fundador e director executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento) (2):

Caro amigo:

Ontem tive um encontro, de várias horas, com o Pepito, altamente produtivo. E vai haver mais... Só hoje é que ele vai para os Gringos dos Açores (3).

Assuntos mais importantes debatidos:

- A questão dos abrigos enterrados de Guileje. Os de 1966 estão já numa fase adiantada de desenho (tenho trabalhado com o Guedes e o Teco), bem como numa planta do interior do edifício de comando... Pensamos avançar com outros. Afinal a memória de pessoal ainda está, felizmente, muito aproveitável ! E as fotografias estão a aparecer !

- Os de 1971, graças às fotografias que o Pepito me deu, vão começar a ser tratados. Pela leitura que faço (cimento armado) acho que deve ter havido participação do pessoal do Batalhão de Engenharia (mas em que data, ao certo ?). Por outro lado graças à planta à escala que ele me entregou, vai ser possível elaborar não só desenhos parciais, como os planos das maquetes. Vou começar a tratar disso.

- Torna-se necessário obter informações (e fotografias) de pessoal que tenha estado em Guileje entre o final de 1966 e 1970. O Blogue pode ser precioso nesse domínio. O Pepito desconhece o endereço do Cor Coutinho e Lima com quem preciso muito de falar. Sabes a maneira de o contactar ?

- O Pepito vai-me mandar um CD com a conversa gravada de um dos responsáveis do PAIGC no ataque se 1973. (... ) Está em crioulo (...). Mas, forçosamente, penso que um dia terei de falar pessoalmente com eles, no terreno e com um mapa ( o IGeoE, onde fui hoje de manhã, prometeu-me tudo o possível (e impossível ... ) no âmbito da cartografia... Ah ! grande Artilharia !... e depois dizem que eu sou chauvinista !!! ...

E por agora é tudo.

Um abraço

Nuno Rubim

3. Observações posteriores (N.R.):

Acho que podes referir que as investigações preliminares levam à conclusão de que o aquartelamento sofreu modificações quase constantes ao longo da sua existência e que nesta altura seria importante contactos com malta que estivesse estado lá entre o final de 1966 e o final de 1970 (4). Também se porventura há algum militar da Engenharia que tenha lá estado, porque em data ainda não averiguada, talvez por volta de 1971, foram reforçados ( ou construídos de raiz ? ) alguns abrigos em cimento armado.

E fotografias dessa época também seriam, obviamente, muito benvindas.

Quanto a mim gostaria de contactar o Cor Coutinho e Lima e outros camaradas da altura do ataque de 1973 (5).
E ainda há essa estória do bombardeamento mandado executar pelo Gen Spínola... Deve ser um dos mistérios mais bem guardados até hoje ... Qual o objectivo, que meios foram utilizados, como teria sido encarado, no planeamento, a hipótese da utilização por parte do PAIGC de mísseis Strela, etc.., etc ... ?

Um abraço
Nuno Rubim

4. Comentário de L.G.:

Nuno: Vejo que o projecto Guileje está a avançar, com o entusiasmo e a competências de pessoas fantásticas como o Pepito, tu, o Teco, o Guedes… Parabéns à artilharia!.

________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 12 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P870: Ideias para um diorama do quartel ou quartéis de Guileje (Nuno Rubim)

(2) Vd. post de 6 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1158: AD anuncia para 2008 simpósio internacional 'A memória de Guiledje na luta pela independência da Guiné-Bissau'

(3) Vd. post dde 10 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1162: Guileje: CCAÇ 3477, os Gringos Açorianos (Amaro Munhoz Samúdio)

(4) Vd. post de 11 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P864: Unidades aquarteladas em Guileje até 1973

(5) Vd. post de 2 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - XCI: Antologia (6): A batalha de Guileje e Gadamael